segunda-feira, 1 de abril de 2024

Shamati (127)

  

127. A diferença entre o núcleo central, a essência e a abundância agregada

(Sucot Inter 4, Tav-Shin-Guimel, 30 de setembro de 1942, Jerusalém)

 

 

Sabe-se que a partida dos Mochin e a cessação do Zivug ocorrem somente às adições de Mochin, e que o núcleo do nível em ZON é Vav e uma Nekudá (Ponto). Isso significa que, em essência, Malchut não tem mais que um ponto, um ponto preto sem nada branco nele.

 

Se o indivíduo aceita esse ponto como o núcleo, e não como algo supérfluo do qual deseja se livrar, mas, além disso, o aceita como um adorno, isso é chamado de “Uma bela morada no seu coração”. Isso é porque ele não condena essa servidão, mas a torna essencial para si mesmo. Isso é chamado “Elevar a Shechiná do pó”. Quando o indivíduo mantém a base e a considera essencial, jamais cai do seu nível, pois não há partida alguma nessa essência.

 

E quando alguém assume trabalhar como um ponto preto, inclusive no lugar mais escuro do mundo, a Santa Shechiná diz: “Não há onde se esconder de ti”. Assim, “Estou atado a Ele num único nó”, “e jamais será separado”. Por causa disso, a pessoa não tem interrupção da Dvekut (Adesão).

 

Se alguma Iluminação, chamada “Adição”, vem a ele de Cima, ele a aceita por meio de “Inevitável e não intencional”, pois isso vem do Emanador, sem o despertar do inferior. Esse é o significado de “Eu sou preto, mas lindo”, porque quem puder aceitar a escuridão, verá que “Eu sou lindo”.

 

Esse é o significado de “Aquele que crê, que venha aqui”. Quando o indivíduo se afasta de todos os seus compromissos e quer apenas trabalhar a fim de beneficiar o Criador, e trabalha por meio de “Eu fui uma besta com Você”, então ele é recompensado com a visão da perfeição final. Esse é o significado de “Um indivíduo sem coração, ela lhe disse”. Isso significa que, como não tinha coração, precisava ser imprudente; senão, ele não poderia se aproximar.

 

Mas, às vezes, nos encontramos num estado de “Shechiná no exílio”, quando o ponto descende até o conjunto de BYA (Beriá, Yetzirá e Assyiá) separado. Nesse momento, ele é chamado “Como uma rosa entre espinhos”, pois tem a forma de espinhos e cardos. Nesse estado, ele não pode ser aceito, já que ali dominam as Klipot (Cascas).

 

Isso vem através das ações do homem, já que as ações do homem abaixo afetam a raiz da sua alma acima, na Shechiná. Isso significa que se uma pessoa abaixo é escrava do desejo de receber ela faz a Klipá reinar sobre a Kedushá acima.

 

Esse é o significado do Tikun Chatzot (Correção da meia-noite). Rezamos para elevar a Shechiná do pó, para elevá-la em importância, posto que as noções de “Acima” e “Abaixo” implicam cálculos de importância e de transcendência. E isso é considerado um ponto preto.

 

No Tikun Chatzot o ponto preto prevalece e diz que quer guardar o versículo de “Libni e Shimei”. Libni allude a Lavan (Branco), e não preto, e Shimei alude a Shmi’a (Ouvir), isto é, à razoabilidade, que implica que assumir o “Fardo do Reino dos Céus” é para ele uma questão razoável e aceitável. E o Tikun Chatzot é o Tikun da Mehitza (Divisória), a correção de separar a Kedushá da Klipá, ou seja, corrigir o mau sentimento contido no desejo de receber, e conectá-lo ao desejo de doar.

 

Golah (Exílio) tem as mesmas letras de Ge’ulah (Redenção). Esse é o significado de “Aquele que pode proteger os daninhos deve compensar o prejudicado com o melhor que tiver”. E isso se refere ao versículo que diz: “Quando há julgamento abaixo, não há julgamento Acima”.

 

quarta-feira, 20 de março de 2024

Shamati (126)

  

126. Um sábio vem à cidade

(Ouvi durante a refeição de Shavuot, Tav-Shin-Zayin, Maio de 1947, Tel-Aviv)

 

Um sábio vem à cidade.” O Criador é chamado de “Sábio”. Ele vem à cidade, pois em Shavuot (Festa das Semanas) Ele mostra a Si Mesmo para o mundo.

 

O preguiçoso diz: ‘Há um leão no caminho’, e se o sábio não estiver em casa? E se a porta estiver trancada?” Nossos sábios disseram que a questão é: “Se você trabalhou e não encontrou, não acredite.” Portanto, se ele vê que não encontrou a aproximação do Criador, então lhe é dito que ele não deve ter trabalhado o suficiente. É por isso que o versículo o chama de “preguiçoso”.

 

E qual é a razão de ele não ter trabalhado? Se ele está buscando a aproximação com o Criador, por que ele não quer fazer um esforço? Afinal, mesmo se você quiser obter algo corpóreo, você ainda não pode fazê-lo sem trabalho. Na verdade, é que a pessoa não quer trabalhar. O problema não é aquele que declara que “Há um leão no caminho”, mas que a Sitra Achra seja, de acordo com o que está escrito, “um leão que espreita em lugares secretos”. Isso quer dizer que aquele que começa a andar pela Senda do Criador, acaba se encontrando com o leão no caminho. E aqueles que fracassam nisso não conseguem se recuperar.  

 

É por isso que ele tem medo de começar, pois quem pode derrotar o leão? Então lhe é dito “Não há leão no caminho”, ou seja, “Não há ninguém além Dele”, como está escrito. É assim porque não há outra força além Dele, por meio de “E Deus fez com que Ele seja temido”.

 

Então o indivíduo encontra outra desculpa: “E se o Sábio não estiver em casa?” A Sua casa é a Nukva, a Shekiná (Divindade). Então ele não pode ter certeza se está andando ou não no caminho da Kedushá (Santidade).

 

É por isso que ele diz que talvez o Sábio, ou seja, o Criador, não esteja em Sua casa. Ou seja, isso não é Dele, não é da Kedushá, então como ele pode saber se está avançando na Kedushá? Então lhe é dito: “O Sábio está em Sua casa”, no sentido de “A alma lhe ensinará”, e por fim ele saberá que está avançando na Kedushá.

 

Então ele diz: “E se a porta estiver trancada e for impossível entrar no Palácio, como em ‘Nem todos que desejam ter o Criador virão a tê-lo’?” Então lhe é dito: “A porta não está trancada.” Afinal, vemos que muitas pessoas foram recompensadas com a entrada no Palácio.

 

Então, ele responde: “De qualquer maneira, eu não irei.” Isso significa que, se ele é preguiçoso e não quer se esforçar, ele se torna argumentativo e astuto, e pensa que estão apenas tornando o trabalho mais pesado para ele.

 

Mas, na verdade, aquele que deseja se esforçar vê o contrário. Ele vê que muitos tiveram sucesso. E aqueles que não querem se esforçar vêem que há pessoas que não tiveram sucesso. E mesmo que não tenham tido sucesso é porque descobriram que não queriam se esforçar. Mas como ele é preguiçoso e quer justificar suas ações, ele prega como um homem sábio. Na verdade, o fardo da Torá e das Mitzvot deve ser aceito nem qualquer argumento ou reclamação, e então ele terá sucesso.

 

 

terça-feira, 19 de março de 2024

Shamati (125)

  

125. Aquele que se deleita na Shabat

(Ouvi em 8 de Sivan, Tav-Shin-Tet, 15 de junho de 1949, Tel-Aviv)

 

Qualquer um que se deleite na Shabat recebe um domínio ilimitado, como está dito: ‘Então te deleitarás no Eterno, e Te farei cavalgar sobre as alturas da terra; e Te sustentarei com a herança de teu pai, Jacó’ (Isaías 58:14) etc. Diferentemente de Abraão, sobre quem está escrito: ‘Levanta-te, passeia pela Terra, por seu comprimento’ (Gênesis 13:17) etc. E não como Isaac, como está escrito: ‘Porque toda a terra que tu vês, a ti darei e à tua descendência’ (Gênesis 13:15). Mas como Jacó, sobre quem está escrito: ‘E te fortalecerás ao Oeste, ao Leste, ao Norte e ao Sul’ (Gênesis 28:14).” (Shabat 118).

 

É difícil entender a Guemará assim como ela é. Cada um de Israel deveria receber o mundo inteiro, um domínio ilimitado?

 

Devemos começar com as palavras dos nossos sábios: “No futuro, o Criador irá retirar o Sol da sua funda e o escurecerá. Os perversos são julgados assim, e os justos são curados assim, como está escrito: ‘Pois aproxima-se o dia que se abrasará como um forno, no qual todos os ímpios e malévolos serão como a palha; e neste dia serão queimados a tal ponto, diz o Eterno dos Exércitos, que deles não sobrará nem raiz e nem ramo algum’ (Malaquias 3:19), nem uma raiz neste mundo e nem um ramo no mundo vindouro.” Os justos são curados assim, como está escrito: “‘Mas para aqueles de vós que temem o Meu Nome, levantar-se-á o sol da justiça trazendo saúde (eterna) em seus raios’ (Malaquias 3:20). E, aliás, eles serão refinados assim” (Avodá Zarah 3b).

 

E devemos entender a seguinte interrogação que os nossos sábios fizeram: “O que é um “Sol”, o que é uma “Funda”, e de onde vem essa oposição?” Além disso, o que é “Nem uma raiz neste mundo e nem um ramo no mundo vindouro”? E o que significa  “Aliás, eles são refinados assim”? Ele deveria ter dito “Curados e refinados através disso”, mas o que quer dizer com “E, aliás”?

 

Agora podemos entender as palavras dos nossos sábios: “Israel é contada pela Lua e as nações do mundo, pelo Sol” (Sucá 29). Portanto, a luz do sol é um ditado para o conhecimento mais claro, como está escrito: “É claro como o Sol.” E sobre as nações do mundo, que não receberam a Torá e as Mitzvot, dizem as Escrituras que o Criador as ofereceu a todas as nações e às todas as línguas, mas estas não desejaram deleitar-se na Luz da Torá, considerada como a “Lua”, que recebe a sua Luz do Sol, a Luz regular. Ainda assim, elas têm a aspiração e o desejo de estudar o Nome e de chegar a conhecê-lo também.

 

Israel é contado pela Lua, que é a Torá e as Mitzvot, onde a luz do sol está vestida no seu interior. Portanto, a Torá é a funda do Criador.

 

Está escrito no Zohar que “A Torá e o Criador são um”. Isso significa que a Luz do Criador está vestida na Torá e nas Mitzvot, e Ele e a Sua funda são Um. Assim, Israel é contato pela Lua para complementar a si mesmo na Torá e nas Mitzvot. Portanto, eles são naturalmente premiados também com o Criador. Contudo, como as nações do mundo não guardam a Torá e as Mitzvot, ou seja, a funda, elas não têm nem a Luz do Sol.

 

Esse é o significado de “No futuro, o Criador irá retirar o sol da sua funda”. E eles disseram: “Shechiná nos inferiores; uma necessidade sublime”, no sentido de que o Criador deseja e anseia por isso.

 

Esse é o significado dos “Seis dias de trabalho”, no sentido do trabalho na Torá e nas Mitzvot, pois “Tudo foi criado pelo Eterno para alcançar Seus propósitos” (Provérbios 16:4). E mesmo o trabalho nos dias da semana ainda é o Trabalho do Criador, como está escrito: “E a estabeleceu, não para ser deserta e, sim, para ser habitada” (Isaías 45:18). É por isso que é chamada “Uma funda”.

 

E a Shabat é a Luz do Sol, o dia do descanso na vida eterna. Ou seja, Ele preparou o mundo em dois níveis:

 

1)    Que a Sua Shechiná fosse revelada pela Torá e pelas Mitzvot nos seus dias de trabalho;

 2) Que Ele seja revelado no mundo sem Torá e Mitzvot.

 

Esse é o significado de “Farei isto a seu tempo, ou o apressarei” (Isaías 60:22). Recompensado: Eu o apressarei, no sentido de através da Torá e das Mitzvot. Não recompensado: No seu tempo, pois a evolução da criação com todo o sofrimento traz a correção final e a redenção da humanidade, até que o Criador coloque a Sua Shechiná sobre os inferiores. Isso é chamado “No seu tempo”, através da evolução pelo tempo.

 

terça-feira, 5 de março de 2024

Shamati (124)

  

124. A Shabbat de Bereshit e os seis mil anos
(Eu ouvi)

 

Há dois discernimentos da Shabat:

 

1) Sobre Bereshit (Gênesis, Início);

 

2) Sobre os seis mil anos.

 

A diferença entre eles é: Sabe-se que há uma parada, e há um descanso. Uma parada é onde não há mais nada a adicionar. Um descanso, porém, deriva das palavras: “Ele se levantou e descansou”, no sentido de que o indivíduo está no meio do seu Trabalho, e como não tem força para continuar, ele se levanta e descansa para reviver a si mesmo, e depois continua o seu Trabalho.

 

Uma Shabat de Bereshit é um estado de não ter nada mais a adicionar. Isso é chamado “Uma parada”. Uma Shabat de seis mil anos é considerado descanso, pelo qual o indivíduo recebe força para continuar o seu Trabalho nos dias de semana.

 

Agora podemos entender as palavras dos nossos sábios: “Shabat disse: ‘Deste a todos um parceiro, mas a mim Tu não deste.’” E o Criador respondeu: “Israel será teu parceiro.” Um parceiro significa ZA. Se há uma Nukva, pode haver um Zivug (Acasalemento), e do Zivug vem a prole, ou seja, a “Renovação” e os “Acréscimos”.

 

Nukva é uma deficiência. Se há uma deficiência em algum lugar, há espaço para corrigir a deficiência, e todas as correções são consideradas como tendo sido cumpridas ao atrair a Luz Superior no lugar da falta. Segue-se que não havia deficiência aqui para começar, mas todas as faltas previamente consideradas deficiências vieram em forma de “Correção para começar”, no sentido de que assim a Abundância Superior pudesse fluir de Cima.

 

É como alguém que mergulha em alguma questão e se esforça para entendê-la. Quando obtém o significado, é o contrário: Ele não sente que estava sofrendo anteriormente, quando não entendia a questão. Ao invés disso, ele está feliz porque agora tem alegria. A alegria é medida pela extensão do esforço que ele fez antes de entender a questão.

 

Portanto, o “Tempo de mergulhar” é chamado Nukva, uma deficiência. E quando o indivíduo se une com a deficiência, ele produz a Prole, a Renovação. É isso que a Shabat argumentou, “Como não há trabalho na Shabat, não haverá Prole e Renovações.”

 

sábado, 9 de setembro de 2023

Shamati (1 a 10)

 

1.     Não existe ninguém além Dele

(Eu escutei durante a Parashat Itró, em 1 de fevereiro de 1944)

(Tradução de CK)

 

Está escrito: “Não existe ninguém além Dele”. Isto significa que não existe nenhum outro poder no mundo capaz de se opor ao Criador. E a razão pela qual o homem vê que no mundo existem coisas e poderes que negam Seu Poder Absoluto deve-se, unicamente, a que o Criador assim o deseja. E este modo de correção se chama “a mão esquerda rejeita e a direita aproxima”. Isto é, aquilo que a esquerda rejeita é considerado uma correção. Isto significa que existem, no mundo, coisas que, desde o princípio, têm a finalidade de desviar o homem do caminho correto, por meio das quais ele é rejeitado da Kedushá (Santidade).

 

O benefício dessas rejeições consiste em que, por meio delas, a pessoa recebe uma necessidade e um desejo completo de que o Criador lhe ajude, pois vê que de outra forma estaria perdida. A pessoa não só não progride em seu trabalho, mas regride, isto é, faltam-lhe forças para observar a Torá e as Mitzvot, inclusive em Lo Lishmá (não em benefício Dele). Somente superando todos os obstáculos de maneira genuína, acima da razão, pode-se observar-se a Torá  e as Mitzvot. Porém, nem sempre a pessoa possui a força necessária para elevar-se acima da razão, mas, ao contrário, encontra-se forçada a desviar-se da senda do Criador, Deus não o queira, ainda que em Lo Lishmá.

 

Aquele que sempre sente que os fragmentos são maiores que o todo, isto é, que existem muito mais descensos que ascensos, e que não vê um fim para esses estados, pensa que permanecerá para sempre à margem da Santidade, pois sente que lhe é demasiado difícil observar até mesmo uma vírgula da Torá, a menos que possa transcender acima da razão, mas nem sempre é capaz de consegui-lo.

 

Qual será o propósito de tudo isto?

 

É que, assim, ele chega a um momento em que finalmente compreende que ninguém pode ajudá-lo, exceto o próprio Criador. Isto leva a pessoa a fazer um sincero pedido para que o Criador lhe abra os olhos e o coração, de tal forma que consiga fazer a Dvekut. Disto se deduz que todas as rejeições que havia sentido provinham do próprio Criador. Isto significa que os descensos não foram motivados por falhas suas, ou porque ele não tivesse capacidade de sobrepor-se aos obstáculos. Ao contrário, às pessoas que verdadeiramente desejam acercar-se do Criador, e que não se contentam com ninharias, isto é, não permanecem sempre como crianças ignorantes, lhes será enviada ajuda do Alto, para que não possam dizer: “Graças a Deus, tenho ToráMitzvot e ações bondosas, por isso, o que mais posso necessitar?”

 

Somente a pessoa que possui um desejo sincero receberá ajuda do Alto. E a essa pessoa constantemente se lhe será mostrado o quão deficiente ainda é em seu atual estado. Isto significa que lhe serão enviados pensamentos e opiniões que estão em completa oposição a esse trabalho. A finalidade disso é fazê-la ver que não está unida ao Criador. E na medida em que consegue sobrepor-se a isso, acaba vendo sempre que se encontra ainda mais distante da Santidade que os demais, que se sentem unidos a Hashem.

 

Como sabemos, o ser humano sempre tem queixas e reclamações, e não consegue justificar o comportamento do Criador, e muito menos como Ele se comparta com respeito à própria pessoa. Por que não se sente unido ao Criador? No limite, chega a sentir que não participa da Santidade de forma alguma. Embora, às vezes, em algumas ocasiões, a pessoa receba um despertar do Alto, que a ajuda a reviver momentaneamente. Em seguida, volta a cair ainda mais profundamente. No entanto, isto é o que a leva a descobrir que somente o Criador pode ajudá-la a acercar-se Dele. O homem deve sempre tratar de aferrar-se ao Criador. Isto significa que todos os seus pensamentos devem orientar-se para Ele, e mesmo que se encontre no pior estado, um estado do qual não se pode imaginar descenso maior, não deve abandonar Seu domínio. Isto é, não deve conceber que exista outra autoridade que lhe esteja impedindo de entrar na Santidade, e que seja capaz de causar-lhe benefício ou qualquer dano. Isto significa que não deve pensar que existe a força da Sitra Achra impedindo-o de executar boas ações e seguir a senda de Deus. Ao contrário, tudo é levado a cabo pelo Criador. Baal Shem Tov dizia que aquele que sustenta a existência de outra força no mundo, isto é, as klipot (cascas), encontra-se no estado de “servir a outros deuses”. Não é necessariamente o pensamento herético o responsável pela transgressão. Porém, se ele crê que existe alguma outra autoridade e força além do Criador, desta forma já está cometendo um pecado. Mais ainda, aquele que sustenta que o homem é dono de sua própria autoridade e que afirma que foi ele mesmo quem ontem não desejou seguir a senda do Criador, também ele está cometendo uma heresia. Isto se dá porque ele não acredita que seja somente o Criador quem guia o mundo.

 

Sem dúvida, quando comete um pecado, certamente deve arrepender-se e lamentar-se por havê-lo cometido. Mas também aqui devemos colocar a dor e o sofrimento no lugar que se lhes corresponde, isto é, onde se encontra a causa desse pecado? Porque este é o ponto que se deve lamentar. Então, a pessoa deve arrepender-se e dizer: “Cometi esse pecado porque o Criador me arrojou da Santidade a um lugar de imundície, a uma latrina, a um lugar de sujeira”. Isto significa que o Criador lhe deu um desejo e um anelo para divertir-se e respirar o ar de um lugar pestilento.

 

(Aqui poderia se afirmar, como está escrito nos livros, que, às vezes, a pessoa encarna num porco. Devemos interpretar isto, como ele disse, entendendo que alguém recebe um desejo e um anelo de extrair vida daquelas coisas que considerava previamente como meros dejetos, mas agora deseja nutrir-se por meio delas).

 

Além disso, quando alguém sente que chegou a um estado de ascenso, e percebe bom sabor no trabalho, não deve dizer: “Agora encontro-me num estado no qual compreendo que vale a pena adorar o Criador”. Por outro lado, deve saber que nesse momento foi favorecido pelo Criador, e, portanto, Ele o acercou mais de Dele Mesmo, e esta é a razão pela qual, nesse momento, percebe bom sabor no trabalho. E deve se cuidar de não abandonar o domínio da Santidade, afirmando que exista alguém mais que esteja operando além do próprio Criador.

 

(Isto significa que ser favorecido pelo Criador, ao contrário, não depende da pessoa mesma, senão somente do Criador. E o homem, com sua mente externa, não pode compreender porque razão o Senhor o favoreceu nesse momento e não em outros).

 

Do mesmo modo, quando se lamenta de que o Criador não se acerca dele, também deve cuidar em que sentido lamenta esse distanciamento do Criador. Porque se o faz pensando em seu benefício pessoal, então, estaria se convertendo num receptor para si mesmo, para seu próprio benefício; e quem recebe está separado Dele. Ao contrário, deveria lamentar o exílio da Shekinat, pelo fato de estar causando aflição à Divindade.

 

Vejamos um exemplo. Um pequeno órgão de uma pessoa está dolorido. Certamente, essa dor é percebida, basicamente, na mente e no coração. O coração e a mente representam a totalidade do homem. E, logicamente, a sensação de um só órgão não pode ser equivalente a toda a sensação de dor de uma pessoa, que sente a maior parte da dor. 

 

Assim é a dor que o homem sente por estar afastado do Criador, já que o homem não é mais que um órgão particular da Divina Shekinat, pois esta é a alma de Israel em sua totalidade. Portanto, a dor particular não se assemelha ao grau de dor geral. Isto significa que existe aflição na Shekinat quando os órgãos estão apartados Dela, e quando Ela não pode sustentá-los.

 

(E poderíamos dizer que este é o significado do que disseram nossos sábios: “Quando um homem se arrepende, o que é o que diz a Shekinat? É mais leve do que a minha cabeça).

 

E se o homem não vincula a si mesmo o sofrimento por estar afastado do Criador, salva a si mesmo de cair no engano do desejo de receber “para si mesmo”, que é considerado “separação da Santidade”.

 

O mesmo acontece quando alguém sente certa aproximação do estado de Santidade. Ou seja, quando sente alegria por ter sido favorecido pelo Criador. Também então a pessoa deve afirmar que seu prazer se deve, principalmente, a que agora existe deleite Acima, na Sagrada Shekinat, porque esse pequeno órgão particular conseguiu acercar-se Dela, ao invés de afastar-se de Seu lado. E assim a pessoa obtém alegria do fato de ser recompensada com o poder de deleitar a Divindade. Isto está em concordância com o cálculo superior que diz que quando há deleite para o individual é apenas uma parte do deleite do total. Através desses cálculos, a pessoa perde sua individualidade e evita ser aprisionada pela Sitra Achra, que é o desejo de receber “em benefício próprio”.

 

Sem dúvida, o desejo de receber é necessário, pois dele está composto o homem em sua totalidade. Isto se deve a que qualquer coisa que exista numa pessoa, aparte o desejo de receber, não pertence à criatura, senão que se lhe atribui ao Criador. Porém, o desejo de receber prazer deve ser corrigido, transformando-se em doação. Isto significa que o prazer e o deleite que o desejo de receber consegue devem corresponder à intenção de brindar deleite Acima cada vez que a criatura sinta prazer, posto que este foi o propósito da Criação: beneficiar às Suas criaturas. E a isto se chama “o deleite da Shekinat Acima”.

 

Por essa razão, a pessoa deve encontrar instrução de como causar deleite Acima. E, certamente, se alguém recebe prazer, também Acima se sentirá contentamento e satisfação. Por isso, deseja estar sempre dentro do Palácio do Rei, e ser capaz de brincar com os tesouros do Rei. Isto, também, por suposto, provocará contentamento e satisfação Acima. Disto se depreende que todo o anelo deve estar orientado exclusivamente ao Criador e ao Seu deleite.

 

                                            

2. A Shechinah no Exílio

(Eu escutei em 1942)

(Tradução de Clarissa Porto Alegre Schmidt)

 

 

O Zohar Sagrado diz: “Ele é Shochen (Morador) e Ela é Shechinah (Divindade)”. Assim devemos interpretar essas palavras: É sabido que não há transformação alguma relativamente à Luz Superior (ela não muda). Assim está escrito: “Eu, o Senhor, não mudo”. Todos os nomes e denominações dizem respeito somente aos Kelim (vasos), que consistem no desejo de receber incluído em Malchut, a raiz da Criação. Desde lá, ele desce até nosso mundo, até as criaturas.

 

Todos esses discernimentos, começando com Malchut, que é a raiz da criação dos mundos, até as criaturas, é denominado Shechinah. O Tikkun (correção) geral ocorrerá quando a Luz Superior brilhar nelas, nas criaturas, em plenitude e perfeição.

A Luz que brilha nos vasos se chama Shochen, e os vasos geralmente são chamados Shechinah. Em outras palavras, a Luz reside dentro da Shechinah. Isto quer dizer que a Luz é chamada Shochen, porque está dentro dos vasos; ou seja, que a totalidade (ou o conjunto) dos Kelim se chama Shechinah.

 

O tempo que precede o brilho da Luz nos Kelim em absoluta plenitude se chama "Tempo de Correções". Isto significa que realizamos correções para que a Luz possa brilhar plenamente dentro dos vasos. Antes disto, esse estado é chamado "Divindade no Exílio".

 

Isso significa que ainda não há perfeição nos Mundos Superiores. Abaixo, nesse mundo, deve existir um estado através do qual a Luz Superior se encontra dentro do desejo de receber. Este Tikkun é considerado “receber com o fim de doar”. Entretanto, o desejo de receber é preenchido de discernimentos desprezíveis e inúteis, que não honram aos Céus. Isto significa que o lugar em que o coração deveria ser um Tabernáculo para a Luz de Deus, se converte em um espaço de desperdícios e de sujeira. Em outras palavras, a vilania toma conta de todo o coração.

Isto se chama "Divindade no pó". Significa que ela é rebaixada ao nível do chão, e que todos desprezam tudo o que é relativo à Santidade, e que não existe nenhum desejo de retirá-la do pó. Ao invés disso, eles escolhem coisas desprezíveis, e isto gera tristeza à Shechina, porque a pessoa não constrói um lugar no coração que possa ser convertido em um Tabernáculo para a Luz Divina.

 

 

3. A questão do recebimento espiritual

(Eu escutei)

(Tradução de Charles Kiefer)

 

 

Logramos discernir muitos graus e aspectos diferentes nos Mundos Superiores. Devemos compreender que tudo o que se refere a graus e discernimentos trata apenas dos recebimentos das almas com respeito àquilo que elas recebem desses Mundos. Isto segue a regra de Aquilo que nós não alcançamos, não conhecemos por nome algum. Isto se deve a que a palavra nome indica um attainment, como ocorre com a pessoa que nomeia algum objeto depois de haver discernido sobre ele, de acordo com seu próprio entendimento. Enfim, a realidade em geral divide-se em três discernimentos sobre a questão do recebimento espiritual:

 

1. Atzmuto (Sua Essência)

2. Ein Sof (Infinito)

3. Neshamot (almas)

 

* * *

 

1. De forma alguma discutimos o Atzmuto. Isto porque a raiz e o berço das criaturas começam no Pensamento da Criação, onde elas estão incorporadas, tal como está escrito: “A culminação de um ato se encontra no seu pensamento inicial”.

 

2. Ein Sof está relacionado com o Pensamento da Criação, que é “Seu desejo de fazer o bem as Suas criaturas”. Isto é considerado Ein Sof, e esta é a conexão que existe entre Atzmuto e as almas. Percebemos essa conexão sob a forma de “o Seu desejo de deleitar as suas criaturas”. Ein Sof é o começo. Chama-se “uma Luz sem Kli”. Não obstante, aqui se encontra a raiz das criaturas, que é a conexão entre o Criador e as criaturas, e que chamamos de “Seu desejo de fazer o bem às Suas criaturas”. Este desejo começa no mundo de Ein Sof e estende-se até o mundo de Assiyá, o nosso mundo.

 

3. As Neshamot (almas), que são as receptoras do bem que Ele deseja brindar.

 

***

 

Ele recebe o nome Ein Sof, porque essa é a conexão entre Atzmuto e as almas, a qual percebemos como “Seu desejo de fazer o bem às Suas criaturas”. Não temos expressão alguma para isso, exceto para essa conexão do desejo de desfrutar, e este é o começo desse vínculo chamado “Luz sem Kli”. E assim começa a raiz das criaturas; ou seja, a conexão entre o Criador e as criaturas, e que chamamos de “Seu desejo de fazer o bem as Suas criaturas”. Este desejo nasce no mundo de Ein Sof e se estende até o mundo de Assiyá.

 

Todos os mundos em si são considerados Luz sem Kli. Nesse sentido, não há nome nenhum para eles. São discernidos como Atzmuto, e neles não há recebimento.

 

Não pensemos que ali é possível captar muitos aspectos. Isto se deve a que esses discernimentos se encontram em potência. No entanto, assim que as almas chegam, esses discernimentos se manifestam nas almas que recebem as Luzes Superiores, conforme o que elas tenham arranjado e corrigido. Assim, as almas poderão receber, cada uma conforme a sua própria capacidade e qualificação.

 

Então, esses discernimentos se revelam de fato. Contudo, enquanto as almas não alcancem a Luz Superior os Mundos seguirão sendo considerados Atzmuto. Os Mundos são considerados Ein Sof, com respeito às almas que recebem dos Mundos. A razão disto é que tal conexão entre os Mundos e as almas, isto é, o que os Mundos dão às almas provém do Pensamento da Criação, que vem a ser a correlação entre as almas e Atzmuto. Esta conexão chama-se Ein Sof. Quando rezamos ao Criador, e lhe solicitamos que nos ajude, dando-nos o que desejamos, nos dirigimos ao nível de Ein Sof. Ali se encontra a raiz das criaturas, que busca distribuir-lhes prazer e deleite, o que chamamos de “Seu desejo de fazer o bem as Suas criaturas”.

 

A oração é dirigida ao Criador que nos criou, e Seu Nome é “Seu desejo de fazer o bem as Suas criaturas”. Ele é chamado de Ein Sof porque se refere ao que antecede ao Tzimtzum (restrição). E ainda depois da restrição não ocorre nenhuma mudança Nele, posto que a Luz é imutável e Ele sempre conserva Seu Nome. A proliferação de Nomes se dá somente com respeito a quem recebe. Por isso, o primeiro Nome que se revelou, e que para as criaturas, representa a raiz, foi Ein Sof. E esse Nome permanece inalterado. Todas as restrições e mudanças sucedem unicamente com respeito a quem recebe, e Ele sempre resplandece no primeiro nome, que é Seu desejo infinito de fazer o bem as Suas criaturas.

 

Por tal motivo rezamos ao Criador, chamado Ein Sof, que ilumina sem restrição alguma e sem fim. E o que depois se converte no fim estriba nas correções para os receptores, com o propósito de que possam receber Sua Luz.

 

A Luz Superior consiste em dois discernimentos: a pessoa que recebe e o recebido. Tudo o que dizemos a respeito da Luz Superior se refere somente à forma como a pessoa que recebe se impressiona com o que recebeu. Obviamente, nem a pessoa nem o recebido recebem por si só o nome de Ein Sof. Por outro lado, o recebido se denomina Atzmuto, e o sujeito da recepção se denomina “alma”, sendo esse um novo discernimento que é parte do todo. É novo no que diz respeito a que o desejo de receber está impresso ali. E, nesse sentido, a criação recebe o nome de “existência a partir da ausência”.

 

Todos os Mundos em si são considerados uma unidade simples, e não há alteração na Santidade. Isto é o que significa “Eu, o Senhor, não mudo”.

 

Não há Sefirot nem Bechinot (discernimentos) de nenhuma índole na Santidade. Nem mesmo os Nomes mais puros se referem à Luz em si, já que esta é um discernimento de Atzmuto, onde não há attainment. Por outro lado, todas as Sefirot e todos os discernimentos tratam somente daquilo que a pessoa percebe neles. Isto é assim porque o Criador quis que alcançássemos e que compreendêssemos a abundância como Seu desejo de fazer o bem às Suas criaturas.

 

Para que pudéssemos alcançar aquilo que Ele havia desejado que alcançássemos e que compreendêssemos como é o Seu desejo de fazer o bem às Suas criaturasEle nos criou e nos conferiu os cinco sentidos, e esses sentidos obtém suas impressões da Luz Superior. Em conseqüência disso, recebemos muitos discernimentos, posto que o sentido geral chama-se “o desejo de receber”, e se divide em muitos aspectos, conforme a medida que os receptores sejam capazes de receber. Deste modo, encontramos muitas divisões e detalhes chamados ascensos e descensos, expansão, partida e etc. Devido a que o desejo de receber se denomina “criatura” e um “novo discernimento”, a palavra começa precisamente no lugar onde o desejo de receber começa a receber as impressões. A fala representa discernimentos, partes das impressões, pois aqui já existe uma correlação entre a Luz Superior e o desejo de receber. Isto se chama Luz e Kli. No entanto, não existe definição nem nome a respeito da Luz sem Kli, já que uma Luz que não seja alcançada por um receptor é considerada Atzmuto, sobre o qual é proibida qualquer declaração, posto que é inalcançável. Como poderíamos nomear e definir aquilo que não conseguimos alcançar?

 

Disto aprendemos que quando oramos para que o Criador nos envie salvação, cura e etc. há duas coisas que devemos distinguir:

 

1) O Criador;

2) Aquilo que provém Dele.

 

 

Sobre o primeiro discernimento, considerado Atzmuto, fica proibida toda e qualquer declaração, como acabamos de mencionar. No segundo discernimento, aquilo que provém Dele e que é considerado a Luz que se expande dentro de nossos vasos, isto é, dentro de nosso desejo de receber, é o que chamamos de Ein Sof. Representa a conexão do Criador com as criaturas, o que significa “Seu desejo de fazer o bem às Suas criaturas”. O desejo de receber é considerado como a Luz em expansão que finalmente alcança o desejo de receber. Quando o desejo de receber capta a Luz em expansão, esta adota o nome de Ein Sof. Chega aos receptores através de muitos véus, para que estes possam ser recebidos pelo inferior. Disso resulta que todos os discernimentos e todas as mudanças são levados a cabo especificamente no receptor, segundo o receptor se impressione com elas. Não obstante, devemos entender a matéria sobre a qual estamos falando. Quando falamos de discernimentos nos Mundos, referimo-nos a discernimentos potenciais. E quando o receptor alcança os ditos discernimentos, eles passam a ser discernimentos propriamente ditos.

 

O recebimento espiritual se dá quando o sujeito do recebimento e o alcançado se unem, já que sem um sujeito não pode existir forma para alcançá-lo, dado que não haveria quem obtivesse a forma do recebido. Por isso, este discernimento é considerado Atzmuto, a respeito do qual não é possível declaração alguma. Então, como podemos dizer que o alcançado tem sua própria forma? Só podemos falar se nossos sentidos se impressionam com a Luz em expansão, que é “Seu desejo de fazer o bem a Suas criaturas”, e que chega, de fato, às mãos dos receptores. De forma similar, quando examinamos uma mesa, nosso sentido do tato a percebe como algo duro. Também reconhecemos sua longitude e sua largura graças a nossos sentidos. Sem dúvida, isso implica que a mesa se manifeste dessa mesma forma a alguém que possua diferentes sentidos. Por exemplo: do ponto de vista de um anjo, se ele examinasse a mesa a veria de acordo com seus próprios sentidos. Portanto, não podemos determinar nenhuma forma a respeito do anjo, já que desconhecemos os sentidos que ele possui. Assim, dado que não podemos alcançar o Criador, é-nos impossível dizer que formas possuem os Mundos vistos de Sua perspectiva. Somente podemos alcançar os Mundos de acordo com os nossos próprios sentidos e sensações, já que esta foi Sua vontade para que a alcançássemos dessa maneira. Este é o sentido de “Não existe alteração alguma na Luz”. Por outro lado, todas as transformações ocorrem nos Kelim, isto é, nos nossos sentidos, de onde as medimos segundo a nossa própria imaginação. Nós medimos absolutamente tudo de acordo com nossa própria imaginação. Disto se conclui que se muitas pessoas examinassem um mesmo objeto ou entidade espiritual, cada um o compreenderia segundo a sua própria imaginação e sentidos, percebendo-o, cada um, de um modo diferente. Além disso, numa pessoa, a forma mudará conforme os seus próprios estados de ascensos e descensos, como já explicamos antes, ao dizer que a Luz é Luz Simples, e que todas as transformações e mudanças são levadas a cabo somente dentro de quem as recebe.

 

Oxalá a Luz nos seja concedida e que possamos seguir os caminhos do Criador, e servir-Lhe, já não com o propósito de receber uma recompensa em troca, mas com a finalidade de deleitá-Lo e assim elevar e resgatar a Divindade do pó.

 

Oxalá nos seja concedida essa adesão com o Criador e também a revelação de Sua Santidade às suas criaturas.

 

 

 

 

4. Qual a razão para o peso que a pessoa sente quando se anula perante o Criador durante o trabalho?

(Eu escutei em 12 de Shevat, 6 de fevereiro de 1944)

(Tradução de Clarissa Porto Alegre Schmidt)

 

Devemos saber a razão do peso que se sente quando se deseja trabalhar para anular o “eu” perante o Criador, e a não preocupar-se com interesse próprio. Chega-se a um estado em que é como se o mundo inteiro houvesse parado, e estivéssemos sozinhos; aparentemente fora deste mundo, deixando de lado a família e amigos, com o propósito de anular-se perante o Criador.

 

Há uma razão muito simples para isto, e ela se chama “falta de fé”. Isto significa que não enxergamos frente ao que estamos nos anulando; ou seja, não sentimos a existência do Criador. Isto provoca peso.

 

Não obstante, quando começamos a sentir a existência do Criador, a alma imediatamente deseja anular-se e conectar-se com a raiz, para integrar-se como “uma vela no interior de uma tocha”, sem nenhum discernimento mental ou racional. Mas isto ocorre de forma natural, do mesmo modo que uma vela se anula diante de uma tocha.

 

Deste modo, conclui-se que a essência do trabalho consiste somente em alcançar a sensação da existência do Criador; ou seja, sentir a existência do Criador e que “toda a Terra está repleta de Sua Glória”. Este será todo o trabalho. E que todo o vigor e esforço empenhados sejam somente com o objetivo de alcançar essa sensação e com nenhuma outra finalidade.

 

Não devemos nos confundir pensando que teremos que obter algo. Pelo contrário, só existe uma coisa que é necessária: a fé no Criador. Não se deve pensar em mais nada, o que quer dizer que a única recompensa que se espera pelo trabalho é a fé no Criador.

 

É necessário que saibamos que não existe diferença entre a pequena ou a grande luminosidade que podemos alcançar. Isso se deve a que não ocorrem transformações na Luz. Pelo contrário, todas as transformações ocorrem nos Kelim (vasos) que recebem a abundância, como está escrito em “Eu, o Senhor, não mudo”. Portanto, se conseguirmos aumentar os próprios vasos, na mesma medida aumentará a nossa luminosidade.

 

Ainda assim a questão é: Como é que se aumentam os vasos? A resposta é: Na medida em que se louve e se agradeça ao Criador por nos ter trazido para mais perto de Si Mesmo, onde será possível perceber e pensar na importância de ter sido recompensado com certa conexão com Ele.

 

A luminosidade que cresce dentro de nós será proporcional ao grau de importância com que nos imaginamos. Devemos saber que jamais chegaremos a conhecer a verdadeira medida da importância da conexão entre o homem e o Criador, porque não é possível calcular o seu verdadeiro valor.  Por outro lado, quanto mais a apreciamos, nesta mesma medida captaremos seu valor e sua importância. Há uma força nisto, através da qual se pode conseguir que essa luminosidade permaneça de maneira permanente.

 

5. Lishmá é um despertar de Cima. E por que necessitamos de um despertar de Baixo?

(Eu escutei em 1945)

(Tradução de Charles Kiefer)

 

O recebimento de Lishmá (Em benefício Dele) não é algo que esteja ao alcance de nosso entendimento, já que para a mente humana é inconcebível que algo assim possa existir em nosso mundo. Isto se deve a que a pessoa só tem permissão de entender que se ela observa Torah Mitvot receberá algo. Nisso deve haver alguma recompensa, ela imagina. Do contrário, ela não poderia fazer nada.

 

Por outro lado, Lishmá é uma iluminação que vem do Alto, e somente quem a recebe pode conhecer e compreender esse fenômeno. Sobre isso está escrito: “Prova e vê que o Senhor é bom”.

 

Assim, devemos entender porque uma pessoa deve buscar o conselho de como alcançar Lishmá. E, depois disso, ela deve entender que nenhum conselho será de qualquer utilidade quanto a isso. Se Deus não nos outorga outra natureza chamada de “o desejo de doar” nenhum trabalho poderá nos ajudar a alcançar Lishmá.

 

A explicação, segundo os nossos sábios, é: “Não depende de ti completar o trabalho; e não és livre para fugires dele” (Pirket Avot 2: 21). Isso significa que a pessoa deve produzir o despertar de Baixo, já que isso se discerne como uma oração.

 

A oração representa uma carência e sem uma carência não pode existir preenchimento nenhum. Por fim, quando alguém sente a necessidade de trabalhar em Lishmá, esse preenchimento vem de Cima, e a resposta à oração vem de Cima, e a pessoa recebe o preenchimento da sua necessidade. Então, o trabalho da pessoa é necessário para receber Lishmá do Criador somente sob a forma de uma carência e um Kli (Vaso). Não obstante, a pessoa jamais poderá alcançar esse preenchimento por si mesmo, mas unicamente como um presente que vem do Criador.

 

Por outro lado, a oração deve ser completa, ou seja, desde o mais fundo do coração; e a pessoa deve ter certeza absoluta de que não existe ninguém no mundo que possa ajudá-lo, exceto o Criador-Ele-Mesmo.

 

Ainda assim, como pode a pessoa saber que ninguém mais além do próprio Criador pode ajudá-la? A pessoa pode obter esse discernimento precisamente se já havia empregado todas as forças que tinha ao seu alcance sem conseguir nada. Portanto, a pessoa deve fazer todo o possível no mundo para lograr o nível de trabalho chamado “Em benefício Dele”. Somente então a pessoa consegue elevar uma prece do fundo de seu coração e ser ouvida pelo Criador.

 

Quando a pessoa está trabalhando em favor de Lishmá deve saber que precisa incorporar por completo a vontade de trabalhar unicamente com a intenção de doar, o que equivale a dizer que deve trabalhar somente para doar sem receber nada em troca. Somente nesse momento a pessoa começa a perceber que seus órgãos físicos se opõem a isso. A partir daí, a pessoa começa a ter uma clara noção de que não lhe resta outra alternativa a não ser transferir a sua demanda ao Criador e pedir-Lhe ajuda para que seu corpo aceite escravizar-se de modo incondicional diante Dele, já que a pessoa se dá conta de que não consegue persuadir seu corpo a anular-se por completo. Nesse momento, precisamente quando a pessoa descobre que não há razão para esperar que seu corpo concorde em trabalhar por si mesmo para o Criador, a oração surge do fundo do coração e acaba sendo aceita por Ele.

 

É preciso entender que ao alcançar Lishmá a pessoa mata a sua inclinação ao mal, que é o desejo de receber, e ao adquirir o desejo de doar todo o desejo de receber é cancelado. A isso se chama “Matar o desejo de receber”. Porque foi retirado e porque não tem mais nada a fazer ao não estar mais em uso, quando sua função é revogada, considera-se que o desejo de receber foi morto.

 

Quando alguém analisa “que tipo de recompensa recebe o homem como resultado de todo o seu trabalho durante todo o tempo em que trabalhou sob o Sol”, ela descobre que não é tão difícil assim escravizar-se diante de Seu Nome por duas razões: 1) de qualquer forma, seja voluntária ou involuntariamente, a pessoa precisa realizar todo o tipo esforços neste mundo. E o que é que sobra como resultado de todos esses esforços? 2) No entanto, se a pessoa trabalha em Lishmá ela recebe muito prazer durante e através do trabalho em si.

 

Segundo o versículo “E não me invocaste a Mim, oh Jacó, nem tampouco de Mim te cansaste, oh Israel”, o Maguid de Dubna disse que isso é similar ao caso do homem rico que saiu do trem e que levava consigo uma pequena maleta. Ele a colocou ali onde todos os comerciantes colocavam as suas bagagens. Os carregadores logo carregaram as malas e as levaram ao hotel onde os comerciantes estavam alojados. O carregador de malas pensou que o homem rico havia carregado a sua própria maleta e que não necessitava de seus serviços e por isso carregou somente uma mala grande.

 

O comerciante quis pagar pouco ao carregador, como era de seu costume, mas o homem não quis aceitar, e lhe disse: “Coloquei na entrada do hotel uma mala enorme que me deixou exausto, e foi a única que consegui carregar, e agora você quer me pagar com essa ninharia?”

 

A lição é que quando uma pessoa vem e diz que trabalhou de maneira exaustiva em observar Torah e Mitvot, o Criador retruca: “Tu não me invocaste, oh Jacó”. Noutras palavras: “A maleta que tu carregaste não foi a Minha, mas a de outra pessoa. Porque disseste que observar Torah e Mitzvot te custou muito esforço deves ter trabalhado para outro patrão. Por isso, procure-o, para que ele te pague”. Esse é o significado de “Nem tampouco de Mim te cansastes, oh Israel”. Isso quer dizer que quem trabalha para o Criador não sente este trabalho como uma carga para si mesmo. Pelo contrário, esse trabalho lhe proporciona prazer e exaltação espiritual.

 

Por outro lado, quem trabalha com diferentes propósitos, não pode se dirigir ao Criador se queixando e Lhe exigindo que lhe proporcione vitalidade no trabalho, já que não está trabalhando para o Criador; e, portanto, não pode esperar pagamento. Em vez disso, a pessoa pode queixar-se para quem ela esteve trabalhando, para que lhe proporcione prazer e vitalidade.

 

E porque existem tantos propósitos em Lo Lishmá (Não em benefício Dele), a pessoa deve exigir a quem trabalhou que lhe proporcione a devida recompensa, que consiste em prazer e vitalidade. Quanto a isso se diz o seguinte: “Semelhantes a eles são os que o fazem, e qualquer um que confia neles”.

 

É certo que isso nos causa perplexidade. Depois de tudo, vemos que mesmo quando alguém assume para si o Jugo dos Céus sem nenhuma outra intenção, mesmo assim não recebe uma sensação de vitalidade de tal forma que possa dizer que esta a empurra a assumir para si mesmo o Jugo dos Céus. E a única razão porque alguém assume essa carga se dá somente porque ela coloca a fé acima da razão. Noutras palavras, a pessoa faz isso superando a si mesma à força, contra a sua própria vontade. Assim, podemos perguntar o seguinte: “Por que a pessoa sente o esforço desse trabalho, com o corpo constantemente buscando o momento de se livrar disso, como quem não sentisse vitalidade alguma através desse trabalho? De acordo com o que foi dito anteriormente, quando alguém trabalha humildemente e tem somente o propósito de trabalhar com a intenção de doar, por que o Criador não lhe proporciona o sabor e a vitalidade implícitos no trabalho?

 

A resposta é que devemos entender que esse assunto representa uma grande correção. Se não fosse assim, se a Luz e a vitalidade tivessem brilhado de maneira instantânea quando começamos a realizar o trabalho do Reino dos Céus, teríamos recebido vitalidade no trabalho. Noutras palavras, o próprio desejo de receber teria concordado em executar o trabalho. Nesse estado, a pessoa, certamente, estaria de acordo, pois desejaria saciar esse desejo. Ou seja, estaria trabalhando em benefício próprio. E se esse fosse o caso, ela jamais poderia alcançar Lishmá. Isto se deve a que a pessoa estaria obrigada a trabalhar para seu próprio benefício, já que sentiria maior prazer no trabalho de Deus do que nos desejos corporais. Assim, a pessoa seria obrigada a permanecer em Lo Lishmá, já que desse modo poderia obter satisfação em seu trabalho. Ali onde há satisfação não há nada que a pessoa possa fazer, porque não poderia trabalhar sem a expectativa de uma recompensa. Então, se a pessoa recebesse satisfação através desse trabalho em Lo Lishmá teria que permanecer para sempre nesse estado. Isso seria parecido ao que se faz: Quando muitas pessoas estão correndo atrás de um ladrão, ele também corre e grita “Pega, ladrão; pega, ladrão”. Desse modo, é impossível saber quem é o ladrão e é impossível prendê-lo e restituir ao dono o que foi roubado. Mas, quando o ladrão, que representa o desejo de receber, não sente o sabor e a vitalidade implícitos no trabalho de aceitar o Jugo dos Céus, e se nesse mesmo estado ele trabalha com a fé acima da razão, sob coação, e se o seu corpo acaba por se acostumar com esse trabalho contra seu próprio desejo de receber, então ele possui os meios para levar a cabo o trabalho que terá como propósito levar Contentamento ao Fazedor.

 

Isso tudo é assim porque o objetivo principal de uma pessoa é alcançar a Dvekut (Adesão) com o Criador através de seu próprio trabalho, que se discerne como “Equivalência de forma”, que é o estado em que todos os atos estão dirigidos somente à doação, tal como diz o versículo: “Então, te deleitarás no Senhor”. O sentido de “Então” é que, no começo do trabalho, a pessoa não recebe prazer. Muito ao contrário, no começo o trabalho é forçado.

 

No entanto, depois, quando a pessoa já se acostumou a trabalhar com a intenção de doar e a não examinar-se a si mesma para comprovar se está sentindo prazer ou não no trabalho, senão que acredita que está trabalhando para satisfazer o Fazedor, ela deve saber que o Criador aceita o trabalho dos inferiores sem se importar com quanto ou como este seja feito. Em absolutamente tudo, o Criador examina a intenção, e isso Lhe produz satisfação. Em conseqüência, à pessoa lhe é concedido o que diz o versículo: “Então, te deleitarás no Senhor”. Inclusive, sentirá prazer e deleite durante o trabalho de Deus, já que agora trabalha realmente para o Criador, pois o esforço que havia realizado durante o trabalho coagido lhe dá a capacidade de trabalhar para Ele de maneira sincera. Nesse instante, a pessoa descobre que também ali o prazer que ela recebe está vinculado ao Criador, isto é, é doado especificamente para o Criador.

 

6. O que significa “Apoio na Torah” durante o trabalho

(Escutei em 1944)

(Tradução de Clarissa Porto Alegre Schmidt)

 

Quando se estuda a Torah e se deseja que todos os atos sejam praticados com o fim de doar, deve-se obter sempre apoio na Torah. O apoio é considerado como o sustento, que é amor, temor, contentamento, energia etc. E tudo isto deve ser extraído da Torah. Em outras palavras, a Torah deve levar a um determinado resultado.

 

No entanto, quando se estuda a Torah e não se obtém estes resultados, este estudo não é considerado Torah. A razão disto é que a Torah trata da Luz vestida na Torah, conforme disseram nossos sábios: “Eu criei a inclinação ao mal, e Criei a Torah como tempero”. Isto se refere à Luz que está na Torah, já que esta Luz é a que reforma.

 

Também devemos saber que a Torah se divide em dois discernimentos: 1) Torá; 2) Mitzvá. Com efeito, é impossível compreender estes dois discernimentos antes que nos seja concedido caminhar pelo caminho de Deus, conforme a premissa que diz: “O conselho do Senhor é para aqueles que O temem”. Isto é assim porque quando nos encontramos no estado de preparação para entrar no Palácio do Rei é impossível compreender o caminho da verdade.

 

Não obstante, é possível formular um exemplo a respeito do contrário, já que até mesmo uma pessoa que se encontra no período de preparação pode atingir certo grau de entendimento. Pois nossos sábios dizem (TalmudSutá 21): “Rabi Yosef disse: ‘Uma mitzvá protege e salva quando é praticada... A Torah protege e salva tanto quando é praticada como quando não é’”.

 

O fato é que a expressão “quando é praticada” se refere ao momento em que a pessoa tem certa quantidade de Luz. Essa luz que a pessoa obtém pode ser usada somente enquanto se encontra dentro dela, pois neste momento ela sente contentamento por causa dessa Luz que brilha em seu interior. Isto é compreendido como uma Mitzvá, ou seja, ainda que a pessoa não tenha recebido recompensa com a Torah, ela tem como resultado uma vida de Kedushá (Santidade) concedida pela Luz.

 

O mesmo não ocorre com a Torá. Quando a pessoa alcança algum meio para realizar o seu trabalho (estudo), ela pode usar este meio que tenha atingido, inclusive quando não o esteja praticando, ou seja, ainda quando não disponha da Luz. Isto se deve a que somente a Luminescência afastou-se dela, mas ela pode utilizar o meio que alcançou no trabalho mesmo quando a luminosidade tenha lhe abandonado.

 

Porém, deve-se ter claro que uma mitzvá, quando é praticada, é maior que a Torá quando não está sendo praticada. A expressão “Quando é praticada” significa que a pessoa está recebendo a Luz neste momento. É isto que se quer dizer com “praticada”, ou seja, quando a pessoa recebe a Luz em si.

 

Portanto, quando a pessoa já tem a Luz, uma (a prática da) Mitzvá é mais importante que a (o estudo da) Torá quando a pessoa não tem Luz; em outras palavras, quando não há vitalidade na Torá. Por um lado, a Torá é importante porque é possível usar o meio que se tenha atingido através dela. Por outro, ela carece da força chamada “Luz”. Em um tempo de (cumprimento de) Mitzvá a pessoa recebe a vitalidade que chamamos “Luz”. Por isto, neste sentido, uma Mitzvá é mais importante.

 

Assim, quando a pessoa está carente de sustento, é considerada “malvada”. A razão para isto é que em tal estado de carência a pessoa não pode dizer que o Criador dirige o mundo como “Bom e Benfeitor”. E por isto é chamada de “malvada”, já que condena o seu Criador ao sentir que carece de vitalidade e que não tem nada com o que regozijar-se para poder agradecer ao Criador por haver-lhe proporcionado prazer e deleite.

 

A pessoa pode dizer que acredita que o Criador dirige Sua Providência até os demais de maneira benévola, pois sabe que o caminho da Torá é uma sensação que se percebe nas entranhas. Se ela mesma não percebe o prazer e o deleite, como pode convencer-se de que os demais os percebem?

 

Se a pessoa realmente acreditasse que a Providência se revela como benevolente ao próximo, esta certeza deveria proporcionar-lhe prazer e deleite, por entender que o Criador guia o mundo na direção do prazer e do deleite. Se não sentimos vitalidade e regozijo, qual seria o benefício de dizer que Ele vela pelo seu próximo com benevolência?

 

O mais importante é o que a pessoa sente em seu próprio corpo, seja bom ou ruim. Ela desfruta do prazer de seu amigo somente se desfruta do benefício que traz prazer ao amigo. Em outras palavras, aprendemos que com a sensação do corpo, as razões não importam. O único que importa é se a pessoa se sente bem.

 

Neste estado, a pessoa declara que o Criador é “Bom e Benfeitor”. Se a pessoa se sente mal, não pode declarar que o Criador se comporta consigo de uma maneira benevolente. Deste modo, precisamente se a pessoa sente prazer com a felicidade de seu amigo, e se essa sensação exalta o seu espírito e essa alegria a faz torcer pelo bem-estar de seu amigo, somente então pode sustentar que o Criador é um bom mentor.

 

Se a pessoa não tem alegria, se sente mal. Neste caso, como pode dizer que o Criador é benevolente? Por isso, um estado em que a pessoa não possui vitalidade nem regozijo é considerado um estado em que ela não sente amor pelo Criador nem tem a capacidade de justificar-Lhe e de ser feliz, como seria de se esperar de alguém que é honrado por servir a um Rei tão importante e grandioso.

 

É preciso saber que a Luz Superior se encontra em um estado de completo repouso, e toda a expansão dos Nomes Sagrados ocorre através dos inferiores. Em outras palavras, todos os Nomes que a Luz Superior têm provém do alcance dos inferiores. Isto significa que a Luz Superior é nomeada de acordo com a forma com a qual a pessoa a alcança, ou seja, de acordo com sua sensação.

 

Quando a pessoa não sente que o Criador lhe dá algo, que nome pode Lhe dar, se não recebe nada Dele? Ao contrário, quando a pessoa crê no Criador, ela diz que cada um dos estados que sente provém Dele. Neste estado, a pessoa nomeia o Criador de acordo com as suas próprias sensações.

 

Se a pessoa se sente feliz no estado em que se encontra, declara que o Criador é chamado “Benevolente”, já que isso é o que ela sente, que recebe o bem Dele. Neste estado, a pessoa é chamada de tzadik ou tzadika (homem justo ou mulher justa), porque o tzadik justifica o seu Criador.

 

No entanto, não existe um estado intermediário em que a pessoa afirme sentir-se tanto bem quanto mal. A pessoa pode estar feliz ou infeliz, mas não tem ambos os estados ao mesmo tempo.

 

Nossos sábios escreveram (TalmudBerachot 61): “O mundo não foi criado nem para os totalmente maus, nem para os totalmente justos”. A razão para isto é que não existe uma realidade tal em que a pessoa se sinta bem e mal ao mesmo tempo.

 

Quando nossos sábios disseram que há caminhos intermediários, se referiram a respeito das criaturas, que possuem discernimento de tempo, que podem conceber um meio termo entre dois tempos, um depois do outro; e assim temos aprendido que existem ascensos e descensos. Estes são dois momentos: Em um, a pessoa é malvada, e em outro, é justa. Mas não é possível que ela possa sentir-se bem e mal simultaneamente, em um mesmo momento.

 

Disto se depreende que quando os sábios afirmaram que a Torá era mais importante que uma mitzvá se referiam precisamentao momento em que esta não é colocada em prática; ou seja, quando a pessoa não tem vitalidade. Então a Torá é mais importante que uma mitzvá sem vitalidade.

 

A causa disto é que a pessoa não pode obter nada de uma Mitzvá sem vitalidade, mas com a Torá ela ainda conserva um sentido de trabalho, daquilo que havia recebido enquanto a praticava. Ainda que não haja mais vitalidade, essa noção que ela havia recebido permanece na pessoa, e ela pode utilizá-la. Existe um tempo em que uma Mitzvá importa mais que a Torá; ou seja, quando há vitalidade na Mitzvá e não há vitalidade na Torá.

 

Desta forma, quando não está sendo praticada, ou quando a pessoa não obtém vitalidade nem regozijo com o trabalho, não há outro conselho que não o de fazer uma oração. Não obstante, durante a oração a pessoa deve saber que é malvada por não perceber o deleite e o prazer implícitos no mundo, ainda que faça todo tipo de raciocínios para crer que o Criador somente outorga o bem.

 

Apesar disto, nem todos os pensamentos que a pessoa tem são verdadeiros no caminho do trabalho. Durante o trabalho, se o pensamento leva à ação, ou em outras palavras, a uma sensação que vem das entranhas de tal forma que estas sentem que o Criador é Benevolente, os órgãos deveriam obter vitalidade e regozijo disto. Se a pessoa não possui vitalidade, para que servem todos os raciocínios se agora os órgãos não amam o Criador devido a que ele lhes dá Sua Shefa (Abundância)?

 

Assim, a pessoa deve saber que se não obtém vitalidade nem regozijo do trabalho é um sinal de que é malvada, porque é infeliz. Todos os raciocínios que realize serão falsos se não conduzirem a uma ação. Ou seja, a uma sensação nos órgãos sobre o amor que se sente pelo Criador, porque Ele outorga deleite e prazer às criaturas.

 

 

7. O que significa dizer que o hábito se transforma numa segunda natureza?

(Eu escutei em 1943)

(Tradução de Charles Kiefer)

 

Quando nos acostumamos com alguma coisa, essa coisa se nos converte numa segunda natureza. Por isso, não existe nada que o homem possa sentir como não sendo sua própria realidade. Isso quer dizer que, embora alguém não tenha sensação alguma de determinada coisa, ainda assim poderá vir a senti-la se se acostumar com ela.

 

É preciso entender que existe uma diferença entre o Criador e as criaturas no que concerne às sensações. Para as criaturas existe “Aquilo que elas percebem” e “Aquilo que é percebido”, ou, o que é a mesma coisa, aquele que alcança e aquilo que foi alcançado. Isto significa que temos alguém que sente e que está conectado com certa realidade.

 

Sem dúvida, uma realidade sem alguém que a perceba é o Criador em si. Nele “Não existe pensamento nem sensação alguma”. Isto não é assim em relação a uma pessoa. Sua existência como um todo existe somente por meio da sua própria sensação de realidade. Inclusive, a validez da sensação de realidade é comprovada apenas por aqueles que a percebem.

 

Noutras palavras, aquilo que o “perceptor” experimenta ou sente é o que ele próprio considera verdadeiro. Se alguém experimenta algo amargo em determinada circunstância, isto é, que se sente mal na situação em que se encontra e se sofre por causa desse estado, então essa pessoa é onsiderada malvada no que diz respeito ao Trabalho, já que condena o Criador, pois Ele é chamado Bom e Benfeitor porque doa somente bondade ao mundo. No entanto, ainda assim, com respeito às sensações dessa pessoa, ela sente que recebeu o contrário, isto é, que a situação em que ela se encontra é ruim.

 

Por isso devemos compreender o que disseram os nossos Sábios (Talmud, Berachot 61): “O mundo foi criado somente para os totalmente malvados ou para os totalmente justos”. Isto quer dizer que alguém pode, já seja, provar e sentir o bom sabor do mundo, e assim justificar o Criador e dizer que Deus doa somente bondade ao mundo, ou provar e sentir o gosto amargo do mundo, e, então, ser malvado porque está condenando o Criador.

 

Resulta que tudo é medido de acordo com a sensação da pessoa. Não obstante, todas essas sensações não guardam relação alguma com o Criador, tal como está escrito no “Poema da Unificação”: “Assim como ela é tu sempre serás, nem escassez e nem excessos em ti haverá”.

 

Para concluir, todos os mundos e todas as mudanças de estado existem somente no que diz respeito aos receptores, na exata medida em que a pessoa os adquire.

 

8. Qual é a diferença entre “Sombra de Kedushah” e “Sombra de Sitra Achra”?

(Eu escutei em julho de 1944)

(Tradução de Clarissa Porto Alegre Schmidt)

 

Está escrito (Cântico dos Cânticos, 2): “Até que sopre a brisa do dia e se dissipem as sombras”. Devemos compreender o que representam as sombras no trabalho e o que são “duas sombras”. O fato é que quando a pessoa não sente a Sua Providência e que Ele dirige o mundo sendo “Bom e Benfeitor”, isto é considerado como “Uma sombra que oculta o sol”.

 

Em outras palavras, assim como uma sombra produzida sobre o corpo que oculta o sol não o altera de maneira alguma, pois o sol segue brilhando com plena intensidade, do mesmo modo, quem não sente a existência de Sua Providência não provoca nenhuma transformação Acima. E, mais, não existe nenhuma alteração Acima tal como está escrito: “Eu, o Senhor, não mudo”.

 

Ao invés disto, todas as transformações têm lugar nos receptores.

 

Devemos observar dois discernimentos nesta sombra, neste ocultamento:

 

1) Quando a pessoa já tem a capacidade de superar os estados de escuridão e ocultação, e de justificar o Criador, e de orar com o propósito de que seus olhos sejam abertos para que vejam que todos os estados de ocultação que ela sente vêm Dele; ou seja, que Ele é quem executa tudo isto sobre a pessoa para que ela possa encontrar sua oração e desejar aderir-se a Ele.

 

A razão para isto é que somente por meio do sofrimento que a pessoa recebe Dele, e com o desejo de liberar-se das dificuldades e fugir dos tormentos, ela faz tudo o que pode. Então, ao receber estes estados de ocultação e de aflição, com certeza encontrará a conhecida cura, que consiste em orar o quanto possa para que o Criador lhe ajude e lhe livre do estado em que se encontra. Neste estado a pessoa ainda crê em Sua Providência.

 

2) Quando a pessoa chega a um estado em que não pode mais aguentar e diz que todo o sofrimento e dor que sente se deve a que o Criador os enviou com o propósito de fazê-la subir de nível, então ela entra em um estado de heresia. Isto ocorre porque ela não pode crer em Sua Providência, e, portanto, é natural que não possa orar.

 

Assim, há dois tipos de sombras; e este é o sentido da frase “E as sombras se dissipam”, que se refere a que as sombras fugirão do mundo.

 

Por isso é que é necessário discernir entre a sombra de Kedushá (Santidade) e a sombra de Sitra Achra (Outro lado). No Livro do Zohar está escrito que a sombra de Klipá (Casca) se refere a “Outro deus que é estéril e não dá fruto”. Em Kedushá (Santidade), porém, se denomina “Sob a sua sombra me sentei com deleite, e o seu fruto foi doce ao meu paladar”. Em outras palavras, a pessoa diz que todos os estados de ocultação e de sofrimento que sente foram enviados pelo Criador para oportunizar o trabalho acima da razão.

 

Ter força para dizer isto, ou seja, sentir que tudo é provocado pelo Criador, é para o nosso próprio benefício. Dito de outro modo, através disto a pessoa pode chegar a trabalhar com o fim de doar, e não mais para si mesmo. Neste momento, ela chega a descobrir e a crer que o Criador desfruta especificamente deste trabalho, que é feito totalmente acima da razão.

 

Então, a pessoa não ora ao Criador para que as sombras se dissipem do mundo, mas diz: “Vejo que o Criador deseja que eu Lhe sirva deste modo, completamente acima da razão”. Assim, em tudo o que ela faz, declara: “É claro que o Criador desfruta deste trabalho; deste modo, por que eu deveria me importar se trabalho sob um estado de ocultação de Seu Rosto?”.

 

Como a pessoa deseja trabalhar com o fim de doar, ou seja, para transmitir deleite ao Criador, ela não se sente rebaixada pelo seu esforço de nenhum modo. Quer dizer, ela não se sente em estado de ocultação de Seu Rosto, ou que o seu trabalho não leva deleite ao Criador. Pelo contrário, ela está de acordo com a liderança do Criador, ou seja, ela aceitará de coração a maneira que o Criador deseje que ela sinta a Sua existência durante o trabalho. E isto é assim porque a pessoa não tem em conta o que lhe proporciona prazer, mas pensa naquilo que possa levar contentamento ao Criador. E deste modo a sombra lhe dá vida.

 

 

Isto se chama: “Sob sua sombra me deleitei”. Quer dizer que a pessoa deseja atingir um estado em que ela possa sobrepor-se acima da razão. Portanto, se ela não se esforça durante um estado de ocultação, quando ainda estão presentes as condições para orar e pedir que o Criador Se aproxime de si, mas é negligente com essa situação, então lhe é enviado um segundo estado de ocultação em que nem sequer é possível orar. E isto ocorre por ter incorrido no erro de não ter se esforçado ao máximo para orar ao Criador. E a consequência disto leva a tal nível de abatimento.

 

No entanto, depois que a pessoa chega a este estado, obtém compaixão de Cima, de onde lhe é concedido um novo despertar. O mesmo ciclo se repete até que ela finalmente fortalece a sua oração; e assim o Criador a escuta, dela se aproxima, e a corrige. 

 

 

9. Quais são as três coisas que ampliam a mente de alguém durante o Trabalho?

(Escutei em Elul, em agosto de 1942)

(Tradução de Charles Kiefer)

 

 

O Sagrado Zohar interpreta a seguinte frase que nossos sábios escreveram: “Três coisas ampliam nossa mente: uma bela mulher, uma bela morada e belos Kelim (Vasos)”. Quando diz “Uma bela mulher” refere-se à Sagrada Shekiná (Divindade). “Uma bela morada” é o coração, e “Belos Kelim são os órgãos espirituais.

 

Precisamos explicar que a Sagrada Shekiná não pode se manifestar em sua verdadeira forma, que é um estado de graça e de beleza, exceto quando a pessoa possui belos Kelim, que representam os “órgãos” recebidos do coração. Isto significa que a pessoa deve, em primeiro lugar, purificar seu coração para transformá-lo numa bela morada, anulando o desejo de receber para si mesmo, e acostumando-se a trabalhar em ações que em sua totalidade estejam governadas pela finalidade de outorgar. Dessa forma, são obtidos belos Kelim, isto é, que seus desejos, chamados Kelim, foram purificados da recepção para si mesmos. Agora, ao contrário, são puros e discernidos como outorgamento.

 

No entanto, se a morada não é bela, então o Criador declara: “Ele e Eu não podemos habitar embaixo do mesmo teto”. A razão disso é que deve haver Equivalência de Forma entre a Luz e o Kli (vaso). Desse modo, quando alguém assume e aceita a fé na pureza, tanto na mente quanto no coração, é recompensado com uma bela mulher, que se refere à Sagrada Shekiná, manifestando-se diante dele em graça e beleza. E isso amplia a sua mente.

 

Noutras palavras, através do prazer e do regozijo, a Sagrada Shekiná manifesta-se em suas entranhas, enchendo os seus Kelim externos e internos. Isso se obtém através da inveja, da luxúria e da honra que “afastam a pessoa do mundo”. Ao falar de inveja, refere-se à inveja a respeito da Sagrada Shekiná, relacionada com o ciúme, no mesmo sentido da frase “O ciúme do Senhor das Hostes”.  A honra significa que a pessoa deseja incrementar a Glória dos Céus. E a luxúria se diz em virtude de “Haveis escutado o desejo dos humildes”.

 

 

10. O que significa “Apressa-te, Amado Meu, no Trabalho”?

(Eu escutei em julho de 1944)

(Tradução de Charles Kiefer)

 

 

É preciso levar em conta que assim que alguém começa a caminhar pela senda do desejo de conseguir fazer tudo pelo Criador, chega a estados de ascensos e descensos. Às vezes, a pessoa se encontra num descenso tal que chega a pensar em fugir da Torá e das Mitzvot. Isto quer dizer que a pessoa recebe pensamentos tais que já não sente mais o desejo de estar sob o domínio da Kedushá (Santidade).

 

Nesse estado a pessoa deve convencer-se do contrário: de que é a Santidade que foge dele. Isso se deve ao fato de que quando alguém deseja manchar a Santidade, ela se adianta e foge dele. Se alguém crê nisso e se sobrepõe à fuga, então a Brach (Fuga, em hebraico) se converte em Brachá (Benção), tal como está escrito em: “Bendiz, Senhor, o que fazem, e recebe com agrado a obra de suas mãos”.

 

Shamati (127)

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