terça-feira, 16 de julho de 2024

Shamati (130)

 

 

130. Tiberias dos nossos sábios, boa é a sua visão

(Ouvi em 1º de Adar, Tav-Shin-Zayin, 21 de fevereiro de 1947, em uma viagem a Tiberias)

 

Tiberias dos nossos sábios, boa é a sua visão.” Visão significa sabedoria. Boa significa que ele pode ser premiado com a sabedoria lá. E o rabino Shimon Bar Iochai estava purificando os mercados de Tiberias. A Tumá (impureza) dos mortos, ou seja, do desejo de receber, significa “os perversos, em suas vidas, são chamados ‘mortos’”. E todas as impurezas pertencem somente à Chochmá (Sabedoria).

 

Assim, em Tiberias, onde havia a qualidade de Chochmá, o mercado precisava ser purificado.

 

 

 

terça-feira, 2 de julho de 2024

Shamati (1-129)

 

1.     Não existe ninguém além Dele

(Baal Ha Sulam; ouvido e registrado por seu filho Rabash)

(Tradução de CK)

 

Está escrito: “Não existe ninguém além Dele”. Isto significa que não existe nenhum outro poder no mundo capaz de se opor ao Criador. E a razão pela qual o homem vê que no mundo existem coisas e poderes que negam Seu Poder Absoluto deve-se, unicamente, a que o Criador assim o deseja. E este modo de correção se chama “a mão esquerda rejeita e a direita aproxima”. Isto é, aquilo que a esquerda rejeita é considerado uma correção. Isto significa que existem, no mundo, coisas que, desde o princípio, têm a finalidade de desviar o homem do caminho correto, por meio das quais ele é rejeitado da Kedushá (Santidade).

 

O benefício dessas rejeições consiste em que, por meio delas, a pessoa recebe uma necessidade e um desejo completo de que o Criador lhe ajude, pois vê que de outra forma estaria perdida. A pessoa não só não progride em seu trabalho, mas regride, isto é, faltam-lhe forças para observar a Torá e as Mitzvot, inclusive em Lo Lishmá (não em benefício Dele). Somente superando todos os obstáculos de maneira genuína, acima da razão, pode-se observar-se a Torá  e as Mitzvot. Porém, nem sempre a pessoa possui a força necessária para elevar-se acima da razão, mas, ao contrário, encontra-se forçada a desviar-se da senda do Criador, Deus não o queira, ainda que em Lo Lishmá.

 

Aquele que sempre sente que os fragmentos são maiores que o todo, isto é, que existem muito mais descensos que ascensos, e que não vê um fim para esses estados, pensa que permanecerá para sempre à margem da Santidade, pois sente que lhe é demasiado difícil observar até mesmo uma vírgula da Torá, a menos que possa transcender acima da razão, mas nem sempre é capaz de consegui-lo.

 

Qual será o propósito de tudo isto?

 

É que, assim, ele chega a um momento em que finalmente compreende que ninguém pode ajudá-lo, exceto o próprio Criador. Isto leva a pessoa a fazer um sincero pedido para que o Criador lhe abra os olhos e o coração, de tal forma que consiga fazer a Dvekut. Disto se deduz que todas as rejeições que havia sentido provinham do próprio Criador. Isto significa que os descensos não foram motivados por falhas suas, ou porque ele não tivesse capacidade de sobrepor-se aos obstáculos. Ao contrário, às pessoas que verdadeiramente desejam acercar-se do Criador, e que não se contentam com ninharias, isto é, não permanecem sempre como crianças ignorantes, lhes será enviada ajuda do Alto, para que não possam dizer: “Graças a Deus, tenho ToráMitzvot e ações bondosas, por isso, o que mais posso necessitar?”

 

Somente a pessoa que possui um desejo sincero receberá ajuda do Alto. E a essa pessoa constantemente se lhe será mostrado o quão deficiente ainda é em seu atual estado. Isto significa que lhe serão enviados pensamentos e opiniões que estão em completa oposição a esse trabalho. A finalidade disso é fazê-la ver que não está unida ao Criador. E na medida em que consegue sobrepor-se a isso, acaba vendo sempre que se encontra ainda mais distante da Santidade que os demais, que se sentem unidos a Hashem.

 

Como sabemos, o ser humano sempre tem queixas e reclamações, e não consegue justificar o comportamento do Criador, e muito menos como Ele se comparta com respeito à própria pessoa. Por que não se sente unido ao Criador? No limite, chega a sentir que não participa da Santidade de forma alguma. Embora, às vezes, em algumas ocasiões, a pessoa receba um despertar do Alto, que a ajuda a reviver momentaneamente. Em seguida, volta a cair ainda mais profundamente. No entanto, isto é o que a leva a descobrir que somente o Criador pode ajudá-la a acercar-se Dele. O homem deve sempre tratar de aferrar-se ao Criador. Isto significa que todos os seus pensamentos devem orientar-se para Ele, e mesmo que se encontre no pior estado, um estado do qual não se pode imaginar descenso maior, não deve abandonar Seu domínio. Isto é, não deve conceber que exista outra autoridade que lhe esteja impedindo de entrar na Santidade, e que seja capaz de causar-lhe benefício ou qualquer dano. Isto significa que não deve pensar que existe a força da Sitra Achra impedindo-o de executar boas ações e seguir a senda de Deus. Ao contrário, tudo é levado a cabo pelo Criador. Baal Shem Tov dizia que aquele que sustenta a existência de outra força no mundo, isto é, as klipot (cascas), encontra-se no estado de “servir a outros deuses”. Não é necessariamente o pensamento herético o responsável pela transgressão. Porém, se ele crê que existe alguma outra autoridade e força além do Criador, desta forma já está cometendo um pecado. Mais ainda, aquele que sustenta que o homem é dono de sua própria autoridade e que afirma que foi ele mesmo quem ontem não desejou seguir a senda do Criador, também ele está cometendo uma heresia. Isto se dá porque ele não acredita que seja somente o Criador quem guia o mundo.

 

Sem dúvida, quando comete um pecado, certamente deve arrepender-se e lamentar-se por havê-lo cometido. Mas também aqui devemos colocar a dor e o sofrimento no lugar que se lhes corresponde, isto é, onde se encontra a causa desse pecado? Porque este é o ponto que se deve lamentar. Então, a pessoa deve arrepender-se e dizer: “Cometi esse pecado porque o Criador me arrojou da Santidade a um lugar de imundície, a uma latrina, a um lugar de sujeira”. Isto significa que o Criador lhe deu um desejo e um anelo para divertir-se e respirar o ar de um lugar pestilento.

 

(Aqui poderia se afirmar, como está escrito nos livros, que, às vezes, a pessoa encarna num porco. Devemos interpretar isto, como ele disse, entendendo que alguém recebe um desejo e um anelo de extrair vida daquelas coisas que considerava previamente como meros dejetos, mas agora deseja nutrir-se por meio delas).

 

Além disso, quando alguém sente que chegou a um estado de ascenso, e percebe bom sabor no trabalho, não deve dizer: “Agora encontro-me num estado no qual compreendo que vale a pena adorar o Criador”. Por outro lado, deve saber que nesse momento foi favorecido pelo Criador, e, portanto, Ele o acercou mais de Dele Mesmo, e esta é a razão pela qual, nesse momento, percebe bom sabor no trabalho. E deve se cuidar de não abandonar o domínio da Santidade, afirmando que exista alguém mais que esteja operando além do próprio Criador.

 

(Isto significa que ser favorecido pelo Criador, ao contrário, não depende da pessoa mesma, senão somente do Criador. E o homem, com sua mente externa, não pode compreender porque razão o Senhor o favoreceu nesse momento e não em outros).

 

Do mesmo modo, quando se lamenta de que o Criador não se acerca dele, também deve cuidar em que sentido lamenta esse distanciamento do Criador. Porque se o faz pensando em seu benefício pessoal, então, estaria se convertendo num receptor para si mesmo, para seu próprio benefício; e quem recebe está separado Dele. Ao contrário, deveria lamentar o exílio da Shekinat, pelo fato de estar causando aflição à Divindade.

 

Vejamos um exemplo. Um pequeno órgão de uma pessoa está dolorido. Certamente, essa dor é percebida, basicamente, na mente e no coração. O coração e a mente representam a totalidade do homem. E, logicamente, a sensação de um só órgão não pode ser equivalente a toda a sensação de dor de uma pessoa, que sente a maior parte da dor. 

 

Assim é a dor que o homem sente por estar afastado do Criador, já que o homem não é mais que um órgão particular da Divina Shekinat, pois esta é a alma de Israel em sua totalidade. Portanto, a dor particular não se assemelha ao grau de dor geral. Isto significa que existe aflição na Shekinat quando os órgãos estão apartados Dela, e quando Ela não pode sustentá-los.

 

(E poderíamos dizer que este é o significado do que disseram nossos sábios: “Quando um homem se arrepende, o que é o que diz a Shekinat? É mais leve do que a minha cabeça).

 

E se o homem não vincula a si mesmo o sofrimento por estar afastado do Criador, salva a si mesmo de cair no engano do desejo de receber “para si mesmo”, que é considerado “separação da Santidade”.

 

O mesmo acontece quando alguém sente certa aproximação do estado de Santidade. Ou seja, quando sente alegria por ter sido favorecido pelo Criador. Também então a pessoa deve afirmar que seu prazer se deve, principalmente, a que agora existe deleite Acima, na Sagrada Shekinat, porque esse pequeno órgão particular conseguiu acercar-se Dela, ao invés de afastar-se de Seu lado. E assim a pessoa obtém alegria do fato de ser recompensada com o poder de deleitar a Divindade. Isto está em concordância com o cálculo superior que diz que quando há deleite para o individual é apenas uma parte do deleite do total. Através desses cálculos, a pessoa perde sua individualidade e evita ser aprisionada pela Sitra Achra, que é o desejo de receber “em benefício próprio”.

 

Sem dúvida, o desejo de receber é necessário, pois dele está composto o homem em sua totalidade. Isto se deve a que qualquer coisa que exista numa pessoa, aparte o desejo de receber, não pertence à criatura, senão que se lhe atribui ao Criador. Porém, o desejo de receber prazer deve ser corrigido, transformando-se em doação. Isto significa que o prazer e o deleite que o desejo de receber consegue devem corresponder à intenção de brindar deleite Acima cada vez que a criatura sinta prazer, posto que este foi o propósito da Criação: beneficiar às Suas criaturas. E a isto se chama “o deleite da Shekinat Acima”.

 

Por essa razão, a pessoa deve encontrar instrução de como causar deleite Acima. E, certamente, se alguém recebe prazer, também Acima se sentirá contentamento e satisfação. Por isso, deseja estar sempre dentro do Palácio do Rei, e ser capaz de brincar com os tesouros do Rei. Isto, também, por suposto, provocará contentamento e satisfação Acima. Disto se depreende que todo o anelo deve estar orientado exclusivamente ao Criador e ao Seu deleite.

 

                                            

2. A Shechinah no Exílio

(Escutei em 1942)

(Tradução de Clarissa Porto Alegre Schmidt)

 

 

O Zohar Sagrado diz: “Ele é Shochen (Morador) e Ela é Shechinah (Divindade)”. Assim devemos interpretar essas palavras: É sabido que não há transformação alguma relativamente à Luz Superior (ela não muda). Assim está escrito: “Eu, o Senhor, não mudo”. Todos os nomes e denominações dizem respeito somente aos Kelim (vasos), que consistem no desejo de receber incluído em Malchut, a raiz da Criação. Desde lá, ele desce até nosso mundo, até as criaturas.

 

Todos esses discernimentos, começando com Malchut, que é a raiz da criação dos mundos, até as criaturas, é denominado Shechinah. O Tikkun (correção) geral ocorrerá quando a Luz Superior brilhar nelas, nas criaturas, em plenitude e perfeição.

A Luz que brilha nos vasos se chama Shochen, e os vasos geralmente são chamados Shechinah. Em outras palavras, a Luz reside dentro da Shechinah. Isto quer dizer que a Luz é chamada Shochen, porque está dentro dos vasos; ou seja, que a totalidade (ou o conjunto) dos Kelim se chama Shechinah.

 

O tempo que precede o brilho da Luz nos Kelim em absoluta plenitude se chama "Tempo de Correções". Isto significa que realizamos correções para que a Luz possa brilhar plenamente dentro dos vasos. Antes disto, esse estado é chamado "Divindade no Exílio".

 

Isso significa que ainda não há perfeição nos Mundos Superiores. Abaixo, nesse mundo, deve existir um estado através do qual a Luz Superior se encontra dentro do desejo de receber. Este Tikkun é considerado “receber com o fim de doar”. Entretanto, o desejo de receber é preenchido de discernimentos desprezíveis e inúteis, que não honram aos Céus. Isto significa que o lugar em que o coração deveria ser um Tabernáculo para a Luz de Deus, se converte em um espaço de desperdícios e de sujeira. Em outras palavras, a vilania toma conta de todo o coração.

Isto se chama "Divindade no pó". Significa que ela é rebaixada ao nível do chão, e que todos desprezam tudo o que é relativo à Santidade, e que não existe nenhum desejo de retirá-la do pó. Ao invés disso, eles escolhem coisas desprezíveis, e isto gera tristeza à Shechina, porque a pessoa não constrói um lugar no coração que possa ser convertido em um Tabernáculo para a Luz Divina.

 

 

3. A questão do recebimento espiritual

(Tradução de Charles Kiefer)

 

 

Logramos discernir muitos graus e aspectos diferentes nos Mundos Superiores. Devemos compreender que tudo o que se refere a graus e discernimentos trata apenas dos recebimentos das almas com respeito àquilo que elas recebem desses Mundos. Isto segue a regra de Aquilo que nós não alcançamos, não conhecemos por nome algum. Isto se deve a que a palavra nome indica um attainment, como ocorre com a pessoa que nomeia algum objeto depois de haver discernido sobre ele, de acordo com seu próprio entendimento. Enfim, a realidade em geral divide-se em três discernimentos sobre a questão do recebimento espiritual:

 

1. Atzmuto (Sua Essência)

2. Ein Sof (Infinito)

3. Neshamot (almas)

 

* * *

 

1. De forma alguma discutimos o Atzmuto. Isto porque a raiz e o berço das criaturas começam no Pensamento da Criação, onde elas estão incorporadas, tal como está escrito: “A culminação de um ato se encontra no seu pensamento inicial”.

 

2. Ein Sof está relacionado com o Pensamento da Criação, que é “Seu desejo de fazer o bem as Suas criaturas”. Isto é considerado Ein Sof, e esta é a conexão que existe entre Atzmuto e as almas. Percebemos essa conexão sob a forma de “o Seu desejo de deleitar as suas criaturas”. Ein Sof é o começo. Chama-se “uma Luz sem Kli”. Não obstante, aqui se encontra a raiz das criaturas, que é a conexão entre o Criador e as criaturas, e que chamamos de “Seu desejo de fazer o bem às Suas criaturas”. Este desejo começa no mundo de Ein Sof e estende-se até o mundo de Assiyá, o nosso mundo.

 

3. As Neshamot (almas), que são as receptoras do bem que Ele deseja brindar.

 

***

 

Ele recebe o nome Ein Sof, porque essa é a conexão entre Atzmuto e as almas, a qual percebemos como “Seu desejo de fazer o bem às Suas criaturas”. Não temos expressão alguma para isso, exceto para essa conexão do desejo de desfrutar, e este é o começo desse vínculo chamado “Luz sem Kli”. E assim começa a raiz das criaturas; ou seja, a conexão entre o Criador e as criaturas, e que chamamos de “Seu desejo de fazer o bem as Suas criaturas”. Este desejo nasce no mundo de Ein Sof e se estende até o mundo de Assiyá.

 

Todos os mundos em si são considerados Luz sem Kli. Nesse sentido, não há nome nenhum para eles. São discernidos como Atzmuto, e neles não há recebimento.

 

Não pensemos que ali é possível captar muitos aspectos. Isto se deve a que esses discernimentos se encontram em potência. No entanto, assim que as almas chegam, esses discernimentos se manifestam nas almas que recebem as Luzes Superiores, conforme o que elas tenham arranjado e corrigido. Assim, as almas poderão receber, cada uma conforme a sua própria capacidade e qualificação.

 

Então, esses discernimentos se revelam de fato. Contudo, enquanto as almas não alcancem a Luz Superior os Mundos seguirão sendo considerados Atzmuto. Os Mundos são considerados Ein Sof, com respeito às almas que recebem dos Mundos. A razão disto é que tal conexão entre os Mundos e as almas, isto é, o que os Mundos dão às almas provém do Pensamento da Criação, que vem a ser a correlação entre as almas e Atzmuto. Esta conexão chama-se Ein Sof. Quando rezamos ao Criador, e lhe solicitamos que nos ajude, dando-nos o que desejamos, nos dirigimos ao nível de Ein Sof. Ali se encontra a raiz das criaturas, que busca distribuir-lhes prazer e deleite, o que chamamos de “Seu desejo de fazer o bem as Suas criaturas”.

 

A oração é dirigida ao Criador que nos criou, e Seu Nome é “Seu desejo de fazer o bem as Suas criaturas”. Ele é chamado de Ein Sof porque se refere ao que antecede ao Tzimtzum (restrição). E ainda depois da restrição não ocorre nenhuma mudança Nele, posto que a Luz é imutável e Ele sempre conserva Seu Nome. A proliferação de Nomes se dá somente com respeito a quem recebe. Por isso, o primeiro Nome que se revelou, e que para as criaturas, representa a raiz, foi Ein Sof. E esse Nome permanece inalterado. Todas as restrições e mudanças sucedem unicamente com respeito a quem recebe, e Ele sempre resplandece no primeiro nome, que é Seu desejo infinito de fazer o bem as Suas criaturas.

 

Por tal motivo rezamos ao Criador, chamado Ein Sof, que ilumina sem restrição alguma e sem fim. E o que depois se converte no fim estriba nas correções para os receptores, com o propósito de que possam receber Sua Luz.

 

A Luz Superior consiste em dois discernimentos: a pessoa que recebe e o recebido. Tudo o que dizemos a respeito da Luz Superior se refere somente à forma como a pessoa que recebe se impressiona com o que recebeu. Obviamente, nem a pessoa nem o recebido recebem por si só o nome de Ein Sof. Por outro lado, o recebido se denomina Atzmuto, e o sujeito da recepção se denomina “alma”, sendo esse um novo discernimento que é parte do todo. É novo no que diz respeito a que o desejo de receber está impresso ali. E, nesse sentido, a criação recebe o nome de “existência a partir da ausência”.

 

Todos os Mundos em si são considerados uma unidade simples, e não há alteração na Santidade. Isto é o que significa “Eu, o Senhor, não mudo”.

 

Não há Sefirot nem Bechinot (discernimentos) de nenhuma índole na Santidade. Nem mesmo os Nomes mais puros se referem à Luz em si, já que esta é um discernimento de Atzmuto, onde não há attainment. Por outro lado, todas as Sefirot e todos os discernimentos tratam somente daquilo que a pessoa percebe neles. Isto é assim porque o Criador quis que alcançássemos e que compreendêssemos a abundância como Seu desejo de fazer o bem às Suas criaturas.

 

Para que pudéssemos alcançar aquilo que Ele havia desejado que alcançássemos e que compreendêssemos como é o Seu desejo de fazer o bem às Suas criaturasEle nos criou e nos conferiu os cinco sentidos, e esses sentidos obtém suas impressões da Luz Superior. Em conseqüência disso, recebemos muitos discernimentos, posto que o sentido geral chama-se “o desejo de receber”, e se divide em muitos aspectos, conforme a medida que os receptores sejam capazes de receber. Deste modo, encontramos muitas divisões e detalhes chamados ascensos e descensos, expansão, partida e etc. Devido a que o desejo de receber se denomina “criatura” e um “novo discernimento”, a palavra começa precisamente no lugar onde o desejo de receber começa a receber as impressões. A fala representa discernimentos, partes das impressões, pois aqui já existe uma correlação entre a Luz Superior e o desejo de receber. Isto se chama Luz e Kli. No entanto, não existe definição nem nome a respeito da Luz sem Kli, já que uma Luz que não seja alcançada por um receptor é considerada Atzmuto, sobre o qual é proibida qualquer declaração, posto que é inalcançável. Como poderíamos nomear e definir aquilo que não conseguimos alcançar?

 

Disto aprendemos que quando oramos para que o Criador nos envie salvação, cura e etc. há duas coisas que devemos distinguir:

 

1) O Criador;

2) Aquilo que provém Dele.

 

 

Sobre o primeiro discernimento, considerado Atzmuto, fica proibida toda e qualquer declaração, como acabamos de mencionar. No segundo discernimento, aquilo que provém Dele e que é considerado a Luz que se expande dentro de nossos vasos, isto é, dentro de nosso desejo de receber, é o que chamamos de Ein Sof. Representa a conexão do Criador com as criaturas, o que significa “Seu desejo de fazer o bem às Suas criaturas”. O desejo de receber é considerado como a Luz em expansão que finalmente alcança o desejo de receber. Quando o desejo de receber capta a Luz em expansão, esta adota o nome de Ein Sof. Chega aos receptores através de muitos véus, para que estes possam ser recebidos pelo inferior. Disso resulta que todos os discernimentos e todas as mudanças são levados a cabo especificamente no receptor, segundo o receptor se impressione com elas. Não obstante, devemos entender a matéria sobre a qual estamos falando. Quando falamos de discernimentos nos Mundos, referimo-nos a discernimentos potenciais. E quando o receptor alcança os ditos discernimentos, eles passam a ser discernimentos propriamente ditos.

 

O recebimento espiritual se dá quando o sujeito do recebimento e o alcançado se unem, já que sem um sujeito não pode existir forma para alcançá-lo, dado que não haveria quem obtivesse a forma do recebido. Por isso, este discernimento é considerado Atzmuto, a respeito do qual não é possível declaração alguma. Então, como podemos dizer que o alcançado tem sua própria forma? Só podemos falar se nossos sentidos se impressionam com a Luz em expansão, que é “Seu desejo de fazer o bem a Suas criaturas”, e que chega, de fato, às mãos dos receptores. De forma similar, quando examinamos uma mesa, nosso sentido do tato a percebe como algo duro. Também reconhecemos sua longitude e sua largura graças a nossos sentidos. Sem dúvida, isso implica que a mesa se manifeste dessa mesma forma a alguém que possua diferentes sentidos. Por exemplo: do ponto de vista de um anjo, se ele examinasse a mesa a veria de acordo com seus próprios sentidos. Portanto, não podemos determinar nenhuma forma a respeito do anjo, já que desconhecemos os sentidos que ele possui. Assim, dado que não podemos alcançar o Criador, é-nos impossível dizer que formas possuem os Mundos vistos de Sua perspectiva. Somente podemos alcançar os Mundos de acordo com os nossos próprios sentidos e sensações, já que esta foi Sua vontade para que a alcançássemos dessa maneira. Este é o sentido de “Não existe alteração alguma na Luz”. Por outro lado, todas as transformações ocorrem nos Kelim, isto é, nos nossos sentidos, de onde as medimos segundo a nossa própria imaginação. Nós medimos absolutamente tudo de acordo com nossa própria imaginação. Disto se conclui que se muitas pessoas examinassem um mesmo objeto ou entidade espiritual, cada um o compreenderia segundo a sua própria imaginação e sentidos, percebendo-o, cada um, de um modo diferente. Além disso, numa pessoa, a forma mudará conforme os seus próprios estados de ascensos e descensos, como já explicamos antes, ao dizer que a Luz é Luz Simples, e que todas as transformações e mudanças são levadas a cabo somente dentro de quem as recebe.

 

Oxalá a Luz nos seja concedida e que possamos seguir os caminhos do Criador, e servir-Lhe, já não com o propósito de receber uma recompensa em troca, mas com a finalidade de deleitá-Lo e assim elevar e resgatar a Divindade do pó.

 

Oxalá nos seja concedida essa adesão com o Criador e também a revelação de Sua Santidade às suas criaturas.

 

 

 

 

4. Qual a razão para o peso que a pessoa sente quando se anula perante o Criador durante o trabalho?

(Ouvi em 12 de Shevat, 6 de fevereiro de 1944)

(Tradução de Clarissa Porto Alegre Schmidt)

 

Devemos saber a razão do peso que se sente quando se deseja trabalhar para anular o “eu” perante o Criador, e a não preocupar-se com interesse próprio. Chega-se a um estado em que é como se o mundo inteiro houvesse parado, e estivéssemos sozinhos; aparentemente fora deste mundo, deixando de lado a família e amigos, com o propósito de anular-se perante o Criador.

 

Há uma razão muito simples para isto, e ela se chama “falta de fé”. Isto significa que não enxergamos frente ao que estamos nos anulando; ou seja, não sentimos a existência do Criador. Isto provoca peso.

 

Não obstante, quando começamos a sentir a existência do Criador, a alma imediatamente deseja anular-se e conectar-se com a raiz, para integrar-se como “uma vela no interior de uma tocha”, sem nenhum discernimento mental ou racional. Mas isto ocorre de forma natural, do mesmo modo que uma vela se anula diante de uma tocha.

 

Deste modo, conclui-se que a essência do trabalho consiste somente em alcançar a sensação da existência do Criador; ou seja, sentir a existência do Criador e que “toda a Terra está repleta de Sua Glória”. Este será todo o trabalho. E que todo o vigor e esforço empenhados sejam somente com o objetivo de alcançar essa sensação e com nenhuma outra finalidade.

 

Não devemos nos confundir pensando que teremos que obter algo. Pelo contrário, só existe uma coisa que é necessária: a fé no Criador. Não se deve pensar em mais nada, o que quer dizer que a única recompensa que se espera pelo trabalho é a fé no Criador.

 

É necessário que saibamos que não existe diferença entre a pequena ou a grande luminosidade que podemos alcançar. Isso se deve a que não ocorrem transformações na Luz. Pelo contrário, todas as transformações ocorrem nos Kelim (vasos) que recebem a abundância, como está escrito em “Eu, o Senhor, não mudo”. Portanto, se conseguirmos aumentar os próprios vasos, na mesma medida aumentará a nossa luminosidade.

 

Ainda assim a questão é: Como é que se aumentam os vasos? A resposta é: Na medida em que se louve e se agradeça ao Criador por nos ter trazido para mais perto de Si Mesmo, onde será possível perceber e pensar na importância de ter sido recompensado com certa conexão com Ele.

 

A luminosidade que cresce dentro de nós será proporcional ao grau de importância com que nos imaginamos. Devemos saber que jamais chegaremos a conhecer a verdadeira medida da importância da conexão entre o homem e o Criador, porque não é possível calcular o seu verdadeiro valor.  Por outro lado, quanto mais a apreciamos, nesta mesma medida captaremos seu valor e sua importância. Há uma força nisto, através da qual se pode conseguir que essa luminosidade permaneça de maneira permanente.

 

(Revisado até aqui).

 

 

 

 

 

5. Lishmá é um despertar de Cima. E por que necessitamos de um despertar de Baixo?

 

 

 

O recebimento de Lishmá (em benefício Dele) não é algo que esteja ao alcance de nosso entendimento, já que para a mente humana é inconcebível que algo assim possa existir em nosso mundo. Isto se deve a que a pessoa só tem permissão de entender que se ela observa Torah Mitvot receberá algo. Nisso deve haver alguma recompensa, ela imagina; do contrário, ela não poderia fazer nada.

 

 

 

Por outro lado, Lishmá é uma iluminação que vem do Alto, e somente quem a recebe pode conhecer e compreender esse fenômeno. Sobre isso está escrito: “Prova e vê que o Senhor é bom”.

 

 

 

Assim, devemos entender porque uma pessoa deve buscar o conselho de como alcançar Lishmá. E, depois disso, ela deve entender que nenhum conselho será de qualquer utilidade quanto a isso. Se Deus não nos outorga outra natureza chamada de “o desejo de doar” nenhum trabalho poderá nos ajudar a alcançar Lishmá.

 

A explicação, segundo os nossos sábios, é: “Não depende de ti completar o trabalho; e não és livre para fugires dele” (Pirket Avot 2: 21). Isso significa que a pessoa deve produzir o despertar de Baixo, já que isso se discerne como uma oração.

 

 

 

A oração representa uma carência e sem uma carência não pode existir preenchimento nenhum. Por fim, quando alguém sente a necessidade de trabalhar em Lishmá, esse preenchimento vem de Cima, e a resposta à oração vem de Cima, e a pessoa recebe o preenchimento da sua necessidade. Então, o trabalho da pessoa é necessário para receber Lishmá do Criador somente sob a forma de uma carência e um Kli (vaso). Não obstante, a pessoa jamais poderá alcançar esse preenchimento por si mesmo, mas unicamente como um presente que vem do Criador.

 

 

 

Por outro lado, a oração deve ser completa, ou seja, desde o mais fundo do coração; e a pessoa deve ter certeza absoluta de que não existe ninguém no mundo que possa ajudá-lo, exceto o Criador Ele Mesmo.

 

 

 

Ainda assim, como pode a pessoa saber que ninguém mais além do próprio Criador pode ajudá-la? A pessoa pode obter esse discernimento precisamente se já havia empregado todas as forças que tinha ao seu alcance sem conseguir nada. Portanto, a pessoa deve fazer todo o possível no mundo para lograr o nível de trabalho chamado Em benefício Dele. Somente então a pessoa consegue elevar uma prece do fundo de seu coração e ser ouvida pelo Criador.

 

 

 

Quando a pessoa está trabalhando em favor de Lishmá deve saber que precisa incorporar por completo a vontade de trabalhar unicamente com a intenção de doar, o que equivale a dizer que deve trabalhar somente para doar sem receber nada em troca. Somente nesse momento a pessoa começa a perceber que seus órgãos físicos se opõem a isso. A partir daí, a pessoa começa a ter uma clara noção de que não lhe resta outra alternativa a não ser transferir a sua demanda ao Criador e pedir-Lhe ajuda para que seu corpo aceite escravizar-se de modo incondicional diante Dele, já que a pessoa se dá conta de que não consegue persuadir seu corpo a anular-se por completo. Nesse momento, precisamente quando a pessoa descobre que não há razão para esperar que seu corpo concorde a trabalhar por si mesmo para o Criador, a oração surge do fundo do coração e acaba sendo aceita por Ele.

 

 

 

É preciso entender que ao alcançar Lishmá a pessoa mata a sua inclinação ao mal, que é o desejo de receber, e ao adquirir o desejo de doar todo o desejo de receber é cancelado. A isso se chama “matar o desejo de receber”. Porque foi retirado e porque não tem mais nada a fazer ao não estar mais em uso, quando sua função é revogada, considera-se que o desejo de receber foi morto.

 

 

 

Quando alguém analisa “que tipo de recompensa recebe o homem como resultado de todo o seu trabalho durante todo o tempo em que trabalhou sob o Sol”, ela descobre que não é tão difícil assim escravizar-se diante de Seu Nome por duas razões: de qualquer forma, seja voluntária ou involuntariamente, a pessoa precisa realizar todo o tipo esforços neste mundo. E o que é que sobra como resultado de todos esses esforços? No entanto, se a pessoa trabalha em Lishmá ela recebe muito prazer durante e através do trabalho em si.

 

 

 

Segundo o versículo “E não me invocaste a Mim, oh Jacó, nem tampouco de Mim te cansaste, oh Israel”, o maguid de Dubna disse que isso é similar ao caso do homem rico que saiu do trem e que levava consigo uma pequena maleta. Ele a colocou ali onde todos os comerciantes colocavam as suas bagagens. Os carregadores logo carregaram as malas e as levaram ao hotel onde os comerciantes estavam alojados. O carregador de malas pensou que o homem rico havia carregado a sua própria maleta e que não necessitava de seus serviços e por isso carregou somente uma mala grande.

 

 

 

O comerciante quis pagar pouco ao carregador, como era de seu costume, mas o homem não quis aceitar, e lhe disse: “Coloquei na entrada do hotel uma mala enorme que me deixou exausto, e foi a única que consegui carregar, e agora você quer me pagar com essa ninharia?”

 

 

 

A lição é que quando uma pessoa vem e diz que trabalhou de maneira exaustiva em observar Torah e Mitvot, o Criador retruca: “Tu não me invocaste, oh Jacó”. Noutras palavras, “a maleta que carregaste não foi a Minha, mas a de outra pessoa. Porque disseste que observar a Torah e as Mitzvot te custou muito esforço deves ter trabalhado para outro patrão. Por isso, procure-o, para que ele te pague”. Esse é o significado de “nem tampouco de Mim te cansastes, oh Israel”. Isso quer dizer que quem trabalha para o Criador não sente este trabalho como uma carga para si mesmo. Pelo contrário, esse trabalho lhe proporciona prazer e exaltação espiritual.

 

 

 

Por outro lado, quem trabalha com diferentes propósitos, não pode se dirigir ao Criador se queixando e Lhe exigindo que lhe proporcione vitalidade no trabalho, já que não está trabalhando para o Criador; e, portanto, não pode esperar pagamento. Em vez disso, a pessoa pode queixar-se para quem ela esteve trabalhando, para que lhe proporcione prazer e vitalidade.

 

 

 

E porque existem tantos propósitos em Lo Lishmá (não em benefício Dele), a pessoa deve exigir a quem trabalhou que lhe proporcione a devida recompensa, que consiste em prazer e vitalidade. Quanto a isso se diz o seguinte: “Semelhantes a eles são os que o fazem, e qualquer um que confia neles”.

 

 

 

É certo que isso nos causa perplexidade. Depois de tudo, vemos que mesmo quando alguém assume para si o Jugo dos Céus sem nenhuma outra intenção, mesmo assim não recebe uma sensação de vitalidade de tal forma que possa dizer que esta a empurra a assumir para si mesmo o Jugo dos Céus. E a única razão porque alguém assume essa carga se dá somente porque ela coloca a fé acima da razão. Noutras palavras, a pessoa faz isso superando a si mesma à força, contra a sua própria vontade. Assim, podemos perguntar o seguinte: “Por que a pessoa sente o esforço desse trabalho, com o corpo constantemente buscando o momento de se livrar disso, como quem não sentisse vitalidade alguma através desse trabalho? De acordo com o que foi dito anteriormente, quando alguém trabalha humildemente e tem somente o propósito de trabalhar com a intenção de doar, por que o Criador não lhe proporciona o sabor e a vitalidade implícitos no trabalho?

 

 

 

A resposta é que devemos entender que esse assunto representa uma grande correção. Se não fosse assim, se a Luz e a vitalidade tivessem brilhado de maneira instantânea quando começamos a realizar o trabalho do Reino dos Céus, teríamos recebido vitalidade no trabalho. Noutras palavras, o próprio desejo de receber teria concordado em executar o trabalho. Nesse estado, a pessoa, certamente, estaria de acordo, pois desejaria saciar esse desejo. Ou seja, estaria trabalhando em benefício próprio. E se esse fosse o caso, ela jamais poderia alcançar Lishmá. Isto se deve a que a pessoa estaria obrigada a trabalhar para seu próprio benefício, já que sentiria maior prazer no trabalho de Deus do que nos desejos corporais. Assim, a pessoa seria obrigada a permanecer em Lo Lishmá, já que desse modo poderia obter satisfação em seu trabalho. Ali onde há satisfação não há nada que a pessoa possa fazer, porque não poderia trabalhar sem a expectativa de uma recompensa. Então, se a pessoa recebesse satisfação através desse trabalho em Lo Lishmá teria que permanecer para sempre nesse estado. Isso seria parecido ao que se faz: quando muitas pessoas estão correndo atrás de um ladrão, ele também corre e grita “Pega, ladrão; pega, ladrão”. Desse modo, é impossível saber quem é o ladrão e é impossível prendê-lo e restituir ao dono o que foi roubado. Mas, quando o ladrão, que representa o desejo de receber, não sente o sabor e a vitalidade implícitos no trabalho de aceitar o Jugo dos Céus, e se nesse mesmo estado ele trabalha com a fé acima da razão, sob coação, e se o seu corpo acaba por se acostumar com esse trabalho contra seu próprio desejo de receber, então ele possui os meios para levar a cabo o trabalho que terá como propósito levar Contentamento ao Fazedor.

 

 

 

Isso tudo é assim porque o objetivo principal de uma pessoa é alcançar a Dvekut (adesão) com o Criador através de seu próprio trabalho, que se discerne como equivalência de forma, que é o estado em que todos os atos estão dirigidos somente à doação, tal como diz o versículo: “Então, te deleitarás no Senhor”. O sentido de “Então” é que, no começo do trabalho, a pessoa não recebe prazer. Muito ao contrário, no começo o trabalho é forçado.

 

 

 

No entanto, depois, quando a pessoa já se acostumou a trabalhar com a intenção de doar e a não examinar-se a si mesma para comprovar se está sentindo prazer ou não no trabalho, senão que acredita que está trabalhando para satisfazer o Fazedor, ela deve saber que o Criador aceita o trabalho dos inferiores sem se importar com quanto ou como este seja feito. Em absolutamente tudo, o Criador examina a intenção, e isso Lhe produz satisfação. Em conseqüência, à pessoa lhe é concedido o que diz o versículo: “Então, te deleitarás no Senhor”. Inclusive, sentirá prazer e deleite durante o trabalho de Deus, já que agora trabalha realmente para o Criador, pois o esforço que havia realizado durante o trabalho coagido lhe dá a capacidade de trabalhar para Ele de maneira sincera. Nesse instante, a pessoa descobre que também ali o prazer que ela recebe está vinculado ao Criador, isto é, é doado especificamente para o Criador.

 

(Tradução de Charles Kiefer)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

6. O que significa “apoio na Torah” durante o trabalho

(Escutei em 1944)

 

 

Quando se estuda a Torah e se deseja que todos os atos sejam praticados com o fim de doar, deve-se obter sempre apoio na Torah. O apoio é considerado como o sustento, que é amor, temor, contentamento, energia etc. E tudo isto deve ser extraído da Torah. Em outras palavras, a Torah deve levar a um determinado resultado.

 

 

 

No entanto, quando se estuda a Torah e não se obtém estes resultados, este estudo não é considerado Torah. A razão disto é que a Torah trata da Luz vestida na Torah, conforme disseram nossos sábios: “Eu criei a inclinação ao mal, e Criei a Torah como tempero”. Isto se refere à Luz que está na Torah, já que esta Luz é a que reforma.

 

 

 

Também devemos saber que a Torah se divide em dois discernimentos: 

 

 

1) Torah;

 

 

2) Mitzvah.

 

 

 

Com efeito, é impossível compreender estes dois discernimentos antes que nos seja concedido caminhar pelo caminho de Deus, conforme a premissa que diz: “O conselho do Senhor é para aqueles que O temem”. Isto é assim porque quando nos encontramos no estado de preparação para entrar no Palácio do Rei é impossível compreender o caminho da verdade.

 

 

 

Não obstante, é possível formular um exemplo a respeito do contrário, já que até mesmo uma pessoa que se encontra no período de preparação pode atingir certo grau de entendimento. Pois nossos sábios dizem (TalmudSutá 21): “Rabi Yosef disse: ‘Uma mitzvah protege e salva quando é praticada... A Torah protege e salva tanto quando é praticada como quando não é’”.

 

 

 

O fato é que a expressão “quando é praticada” se refere ao momento em que a pessoa tem certa quantidade de luz. Essa luz que a pessoa obtém pode ser usada somente enquanto se encontra dentro dela, pois neste momento ela sente contentamento por causa dessa Luz que brilha em seu interior. Isto é compreendido como uma mitzvah, ou seja, ainda que a pessoa não tenha recebido recompensa com a Torah, ela tem como resultado uma vida de Kedushá (Santidade) concedida pela Luz.

 

 

 

O mesmo não ocorre com a Torah. Quando a pessoa alcança algum meio para realizar o seu trabalho (estudo), ela pode usar este meio que tenha atingido, inclusive quando não o esteja praticando, ou seja, ainda quando não disponha da Luz. Isto se deve a que somente a luminescência afastou-se dela, mas ela pode utilizar o meio que alcançou no trabalho mesmo quando a luminosidade tenha lhe abandonado.

 

 

 

Porém, deve-se ter claro que uma mitzvah, quando é praticada, é maior que a Torah quando não está sendo praticada. A expressão “Quando é praticada” significa que a pessoa está recebendo a Luz neste momento; é isto que se quer dizer com “praticada”; ou seja, quando a pessoa recebe a Luz em si.

 

 

 

Portanto, quando a pessoa já tem a Luz, uma (a prática da) mitzvah é mais importante que a (o estudo da) Torah quando a pessoa não tem Luz; em outras palavras, quando não há vitalidade na Torah. Por um lado, a Torah é importante porque é possível usar o meio que se tenha atingido através dela. Por outro, ela carece da força chamada “Luz”. Em um tempo de (cumprimento de) mitzvah a pessoa recebe a vitalidade que chamamos “Luz”. Por isto, neste sentido, uma mitzvah é mais importante.

 

 

 

Assim, quando a pessoa está carente de sustento, é considerada “malvada”. A razão para isto é que em tal estado de carência a pessoa não pode dizer que o Criador dirige o mundo como “Bom e Benfeitor”. E por isto é chamada de “malvada”, já que condena o seu Criador ao sentir que carece de vitalidade e que não tem nada com o que regozijar-se para poder agradecer ao Criador por haver-lhe proporcionado prazer e deleite.

 

 

 

A pessoa pode dizer que acredita que o Criador dirige Sua Providência até os demais de maneira benévola, pois sabe que o caminho da Torah é uma sensação que se percebe nas entranhas. Se ela mesma não percebe o prazer e o deleite, como pode convencer-se de que os demais os percebem?

 

 

 

Se a pessoa realmente acreditasse que a Providência se revela como benevolente ao próximo, esta certeza deveria proporcionar-lhe prazer e deleite, por entender que o Criador guia o mundo na direção do prazer e do deleite. Se não sentimos vitalidade e regozijo, qual seria o benefício de dizer que Ele vela pelo seu próximo com benevolência?

 

 

 

O mais importante é o que a pessoa sente em seu próprio corpo, seja bom ou ruim. Ela desfruta do prazer de seu amigo somente se desfruta do benefício que traz prazer ao amigo. Em outras palavras, aprendemos que com a sensação do corpo, as razões não importam. O único que importa é se a pessoa se sente bem.

 

 

 

Neste estado, a pessoa declara que o Criador é “Bom e Benfeitor”. Se a pessoa se sente mal, não pode declarar que o Criador se comporta consigo de uma maneira benevolente. Deste modo, precisamente se a pessoa sente prazer com a felicidade de seu amigo, e se essa sensação exalta o seu espírito e essa alegria a faz torcer pelo bem estar de seu amigo, somente então pode sustentar que o Criador é um bom mentor.

 

 

 

Se a pessoa não tem alegria, se sente mal. Neste caso, como pode dizer que o Criador é benevolente? Por isso, um estado em que a pessoa não possui vitalidade nem regozijo é considerado um estado em que ela não sente amor pelo Criador nem tem a capacidade de justificar-Lhe e de ser feliz, como seria de se esperar de alguém que é honrado por servir a um Rei tão importante e grandioso.

 

 

 

É preciso saber que a Luz Superior se encontra em um estado de completo repouso, e toda a expansão dos Nomes Sagrados ocorre através dos inferiores. Em outras palavras, todos os Nomes que a Luz Superior têm provém do alcance dos inferiores. Isto significa que a Luz Superior é nomeada de acordo com a forma com a qual a pessoa a alcança, ou seja, de acordo com sua sensação.

 

 

 

Quando a pessoa não sente que o Criador lhe dá algo, que nome pode Lhe dar, se não recebe nada Dele? Ao contrário, quando a pessoa crê no Criador, ela diz que cada um dos estados que sente provém Dele. Neste estado, a pessoa nomeia o Criador de acordo com as suas próprias sensações.

 

 

 

Se a pessoa se sente feliz no estado em que se encontra, declara que o Criador é chamado “Benevolente”, já que isso é o que ela sente, que recebe o bem Dele. Neste estado, a pessoa é chamada de tzadik ou tzadika (homem justo ou mulher justa), porque o tatzdik justifica o seu Criador.

 

 

 

No entanto, não existe um estado intermediário em que a pessoa afirme sentir-se tanto bem quanto mal. A pessoa pode estar feliz ou infeliz, mas não tem ambos os estados ao mesmo tempo.

 

 

 

Nossos sábios escreveram (TalmudBerachot 61): “O mundo não foi criado nem para os totalmente maus, nem para os totalmente justos”. A razão para isto é que não existe uma realidade tal em que a pessoa se sinta bem e mal ao mesmo tempo.

 

 

 

Quando nossos sábios disseram que há caminhos intermediários, se referiram a respeito das criaturas, que possuem discernimento de tempo, que podem conceber um meio termo entre dois tempos, um depois do outro; e assim temos aprendido que existem ascensos e descensos. Estes são dois momentos: em um, a pessoa é malvada, e em outro, é justa. Mas não é possível que ela possa sentir-se bem e mal simultaneamente, em um mesmo momento.

 

 

 

Disto se depreende que quando os sábios afirmaram que a Torah era mais importante que uma mitzvah se referiam precisamente ao momento em que esta não é colocada em prática; ou seja, quando a pessoa não tem vitalidade. Então a Torah é mais importante que uma mitzvah sem vitalidade.

 

 

 

A causa disto é que a pessoa não pode obter nada de uma mitzvah sem vitalidade, mas com a Torah ela ainda conserva um sentido de trabalho, daquilo que havia recebido enquanto a praticava. Ainda que não haja mais vitalidade, essa noção que ela havia recebido permanece na pessoa, e ela pode utilizá-la. Existe um tempo em que uma mitzvah importa mais que a Torah; ou seja, quando há vitalidade na mitzvah e não há vitalidade na Torah.

 

 

 

Desta forma, quando não está sendo praticada, ou quando a pessoa não obtém vitalidade nem regozijo com o trabalho, não há outro conselho que não o de rezar. Não obstante, durante a reza a pessoa deve saber que é malvada por não perceber o deleite e o prazer implícitos no mundo, ainda que faça todo tipo de raciocínios para crer que o Criador somente outorga o bem.

 

 

 

Apesar disto, nem todos os pensamentos que a pessoa tem são verdadeiros no caminho do trabalho. Durante o trabalho, se o pensamento leva à ação, ou em outras palavras, a uma sensação que vem das entranhas de tal forma que estas sentem que o Criador é Benevolente, os órgãos deveriam obter vitalidade e regozijo disto. Se a pessoa não possui vitalidade, para que servem todos os raciocínios se agora os órgãos não amam o

 

 Criador devido a que ele lhes dá Sua Shefa (abundância)?

 

 

 

Assim, a pessoa deve saber que se não obtém vitalidade nem regozijo do trabalho é um sinal de que é malvada, porque é infeliz. Todos os raciocínios que realize serão falsos se não conduzirem a uma ação; ou seja, a uma sensação nos órgãos sobre o amor que se sente pelo Criador, porque Ele outorga deleite e prazer às criaturas.

 

 

(Tradução de Clarissa Porto Alegre Schmidt) 

 

 

7. O que significa dizer que o hábito se transforma numa segunda natureza?

 

 

Quando nos acostumamos com alguma coisa, essa coisa se nos converte numa segunda natureza. Por isso, não existe nada que o homem possa sentir como não sendo sua própria realidade. Isso quer dizer que, embora alguém não tenha sensação alguma em determinada coisa, ainda assim poderá vir a senti-la se se acostumar com ela.

 

 

 

É preciso entender que existe uma diferença entre o Criador e as criaturas no que concerne às sensações. Para as criaturas existe “aquilo que elas percebem” e “aquilo que é percebido”, ou, o que é a mesma coisa, aquele que alcança e aquilo que foi alcançado. Isto significa que temos alguém que sente e que está conectado com certa realidade.

 

 

 

Sem dúvida, uma realidade sem alguém que a perceba é o Criador em si. Nele “não existe pensamento nem sensação alguma”. Isto não é assim em relação a uma pessoa: sua existência como um todo existe somente por meio da sua própria sensação de realidade. Inclusive, a validez da sensação de realidade é comprovada apenas por aqueles que a percebem.

 

 

 

Noutras palavras, aquilo que o “perceptor” experimenta ou sente é o que ele próprio considera verdadeiro. Se alguém experimenta algo amargo em determinada circunstância, isto é, que se sente mal na situação em que se encontra e se sofre por causa desse estado, então essa pessoa é considerada malvada no que diz respeito ao Trabalho, já que condena o Criador, pois Ele é chamado Bom e Benfeitor porque doa somente bondade ao mundo. No entanto, ainda assim, com respeito às sensações dessa pessoa, ela sente que recebeu o contrário, isto é, que a situação em que ela se encontra é ruim.

 

 

 

Por isso devemos compreender o que disseram os nossos Sábios (Talmud, Berachot 61): “O mundo foi criado somente para os totalmente malvados ou para os totalmente justos”. Isto quer dizer que alguém pode, já seja, provar e sentir o bom sabor do mundo, e assim justificar o Criador e dizer que Deus doa somente bondade ao mundo, ou provar e sentir o gosto amargo do mundo, e, então, ser malvado porque está condenando o Criador.

 

 

 

Resulta que tudo é medido de acordo com a sensação da pessoa. Não obstante, todas essas sensações não guardam relação alguma com o Criador, tal como está escrito no “Poema da Unificação”: “Assim como ela é tu sempre serás, nem escassez e nem excessos em ti haverá”.

 

 

 

Para concluir, todos os mundos e todas as mudanças de estado existem somente no que diz respeito aos receptores, na exata medida em que a pessoa os adquire.

 

 

8. Qual é a diferença entre “Sombra de Kedushah” e “Sombra de Sitra Achra”?

 

 

 

Escutei em julho de 1944

 

 

 

(Tradução de Clarissa Porto Alegre Schmidt)

 

 

 

Está escrito (Cântico dos Cânticos, 2): “Até que sopre a brisa do dia e se dissipem as sombras”. Devemos compreender o que representam as sombras no trabalho e o que são “duas sombras”. O fato é que quando a pessoa não sente a Sua Providência e que Ele dirige o mundo sendo “Bom e Benfeitor”, isto é considerado como “uma sombra que oculta o sol”.

 

 

 

Em outras palavras, assim como uma sombra produzida sobre o corpo que oculta o sol não o altera de maneira alguma, pois o sol segue brilhando com plena intensidade, do mesmo modo, quem não sente a existência de Sua Providência não provoca nenhuma transformação Acima. E mais, não existe nenhuma alteração Acima tal como está escrito: “Eu, o Senhor, não mudo”.

 

 

 

Ao invés disto, todas as transformações têm lugar nos receptores.

 

 

 

Devemos observar dois discernimentos nesta sombra, neste ocultamento:

 

 

 

1) Quando a pessoa já tem a capacidade de superar os estados de escuridão e ocultação, e de justificar o Criador, e de rezar com o propósito de que seus olhos sejam abertos para que vejam que todos os estados de ocultação que ela sente vêm Dele; ou seja, que Ele é quem executa tudo isto sobre a pessoa para que ela possa encontrar sua oração e desejar aderir-se a Ele.

 

 

 

A razão para isto é que somente por meio do sofrimento que a pessoa recebe Dele, e com o desejo de liberar-se das dificuldades e fugir dos tormentos, ela faz tudo o que pode. Então, ao receber estes estados de ocultação e de aflição, com certeza encontrará a conhecida cura, que consiste em rezar tudo o que possa para que o Criador lhe ajude e lhe livre do estado em que se encontra. Neste estado a pessoa ainda crê em Sua Providência.

 

 

 

2) Quando a pessoa chega a um estado em que não pode mais aguentar e diz que todo o sofrimento e dor que sente se deve a que o Criador os enviou com o propósito de fazê-la subir de nível, então ela entra em um estado de heresia. Isto ocorre porque ela não pode crer em Sua Providência, e, portanto, é natural que não possa rezar.

 

Assim, há dois tipos de sombras; e este é o sentido da frase “e as sombras se dissipam”, que se refere a que as sombras fugirão do mundo.

 

 

 

Por isso é que é necessário discernir entre a sombra de Kedushá (Santidade) e a sombra de Sitra Achra. No Livro do Zohar está escrito que a sombra de Klipah (casca) se refere a “outro deus que é estéril e não dá fruto”. Em Kedushah (Santidade), porém, se denomina “sob a sua sombra me sentei com deleite, e o seu fruto foi doce ao meu paladar”. Em outras palavras, a pessoa diz que todos os estados de ocultação e de sofrimento que sente foram enviados pelo Criador para oportunizar o trabalho acima da razão.

 

 

 

Ter força para dizer isto, ou seja, sentir que tudo é provocado pelo Criador, é para o nosso próprio benefício. Dito de outro modo, através disto a pessoa pode chegar a trabalhar com o fim de doar, e não mais para si mesmo. Neste momento, ela chega a descobrir e a crer que o Criador desfruta especificamente deste trabalho, que é feito totalmente acima da razão.

 

 

 

Então, a pessoa não reza ao Criador para que as sombras se dissipem do mundo, mas diz: “Vejo que o Criador deseja que eu Lhe sirva deste modo, completamente acima da razão”. Assim, em tudo o que ela faz, declara: “É claro que o Criador desfruta deste trabalho; deste modo, por que eu deveria me importar se trabalho sob um estado de ocultação de Seu Rosto?”.

 

 

 

Como a pessoa deseja trabalhar com o fim de doar, ou seja, para transmitir deleite ao Criador, ela não se sente rebaixada pelo seu esforço de nenhum modo. Quer dizer, ela não se sente em estado de ocultação de Seu Rosto, ou que o seu trabalho não leva deleite ao Criador. Pelo contrário, ela está de acordo com a liderança do Criador, ou seja, ela aceitará de coração a maneira que o Criador deseje que ela sinta a Sua existência durante o trabalho. E isto é assim porque a pessoa não tem em conta o que lhe proporciona prazer, mas pensa naquilo que possa levar contentamento ao Criador. E deste modo a sombra lhe dá vida.

 

 

 

Isto se chama: “Sob sua sombra me deleitei”. Quer dizer que a pessoa deseja atingir um estado em que ela possa sobrepor-se acima da razão. Portanto, se ela não se esforça durante um estado de ocultação, quando ainda estão presentes as condições para rezar e pedir que o Criador Se aproxime de si, mas é negligente com essa situação, então lhe é enviado um segundo estado de ocultação em que nem sequer é possível rezar. E isto ocorre por ter incorrido no erro de não ter se esforçado ao máximo para rezar ao Criador. E a consequência disto leva a tal nível de abatimento.

 

 

 

No entanto, depois que a pessoa chega a este estado, obtém compaixão de Cima, de onde lhe é concedido um novo despertar. O mesmo ciclo se repete até que ela finalmente fortalece a sua oração; e assim o Criador a escuta, dela se aproxima, e a corrige. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

9. Quais são as três coisas que ampliam a mente de alguém durante o Trabalho?

 

 

 

(Escutei em Elul, em agosto de 1942)

 

 

 

O Sagrado Zohar interpreta a seguinte frase que nossos sábios escreveram: “Três coisas ampliam nossa mente: uma bela mulher, uma bela morada e belos Kelim (vasos)”. Quando diz “uma bela mulher” refere-se à Sagrada Shekiná (Divindade). “Uma bela morada” é o coração, e “belos Kelim são os órgãos.

 

 

 

Precisamos explicar que a Sagrada Shekiná não pode se manifestar em sua verdadeira forma, que é um estado de graça e de beleza, exceto quando a pessoa possui belos Kelim, que representam os “órgãos” recebidos do coração. Isto significa que a pessoa deve, em primeiro lugar, purificar seu coração para transformá-lo numa bela morada, anulando o desejo de receber para si mesmo, e acostumando-se a trabalhar em ações que em sua totalidade estejam governadas pela finalidade de outorgar. Dessa forma, são obtidos belos Kelim, isto é, que seus desejos, chamados Kelim, foram purificados da recepção para si mesmos. Agora, ao contrário, são puros e discernidos como outorgamento.

 

 

 

No entanto, se a morada não é bela, então o Criador declara: “Ele e Eu não podemos habitar embaixo do mesmo teto”. A razão disso é que deve haver equivalência de forma entre a Luz e o Kli (vaso). Desse modo, quando alguém assume e aceita a fé na pureza, tanto na mente quanto no coração, é recompensado com uma bela mulher, que se refere à Sagrada Shekiná, manifestando-se diante dele em graça e beleza. E isso amplia a sua mente.

 

 

 

Noutras palavras, através do prazer e do regozijo, a Sagrada Shekiná manifesta-se em suas entranhas, enchendo os seus Kelim externos e internos. Isso se obtém através da inveja, da luxúria e da honra que “afastam a pessoa do mundo”. Ao falar de inveja, refere-se à inveja a respeito da Sagrada Shekiná, relacionada com o ciúme, no mesmo sentido da frase “O ciúme do Senhor das Hostes”.  A honra significa que a pessoa deseja incrementar a Glória dos Céus. E a luxúria se diz em virtude de “Haveis escutado o desejo dos humildes”.

 

 

10. O que significa “Apressa-te, Amado Meu, no Trabalho”?

 

 

 

É preciso levar em conta que assim que alguém começa a caminhar pela senda do desejo de conseguir fazer tudo pelo Criador, chega a estados de ascensos e descensos. Às vezes, a pessoa se encontra num descenso tal que chega a pensar em fugir da Torá e das Mitzvot (preceitos). Isto quer dizer que a pessoa recebe pensamentos tais que já não sente mais o desejo de estar sob o domínio da Kedushá (Santidade).

 

 

 

Nesse estado a pessoa deve convencer-se do contrário: de que é a Santidade que foge dele. Isso se deve ao fato de que quando alguém deseja manchar a Santidade, ela se adianta e foge dele. Se alguém crê nisso e se sobrepõe à fuga, então a Brach (fuga, em hebraico) se converte em Brachá (benção), tal como está escrito em: “Bendiz, Senhor, o que fazem, e recebe com agrado a obra de suas mãos”. (CK)

 

 

11. Alegria com Tremor (11)

(Ouvi em Tav-Shin-Chet, 1947-1948)

 

A alegria é considerada amor, o qual é existência. É semelhante a quem constrói para si uma casa sem fazer nenhum buraco nas paredes. Você descobre que ele não pode entrar na casa, já que não há nenhum local oco nas paredes da casa pelo qual ele possa entrar. Portanto, um espaço vazio deve ser construído para que ele possa entrar na casa.

 

Assim, onde há amor deve haver também temor, pois o temor é o vazio. Em outras palavras, o indivíduo deve despertar o temor de que ele possa não ser capaz da intenção de doar.

 

Segue-se que, quando há ambos, há completude. Caso contrário, cada um deseja revogar o outro. Por essa razão, devemos tentar ter ambos no mesmo lugar.

 

Esse é o significado da necessidade do amor e do temor. O amor é chamado de existência, enquanto o temor é chamado de deficiência e de vazio. Apenas com os dois juntos é possível haver completude. Isso é chamado “duas pernas” porque, precisamente quando se tem duas pernas, o indivíduo consegue caminhar.

 

(Tradução de Poliana Pasa)

 

 

12. A Essência do Trabalho do Homem

 

(Ouvi durante uma refeição no segundo dia de Rosh Hashaná, Tav-Shin-Chet, 5 de outubro de 1948)

 

A essência do trabalho do homem deveria ser sentir o sabor de doar contentamento ao seu Criador, já que tudo o que o indivíduo faz para si mesmo o afasta Dele, por causa da disparidade de forma. Inversamente, se o indivíduo age de forma a beneficiar o Criador, mesmo com o menor dos atos, isso ainda é considerado uma Mitzvá [mandamento].

 

Portanto, o esforço primário do indivíduo deveria ser adquirir a força para sentir sabor na doação, o que acontece quando o prazer na auto-recepção diminui. Então, o indivíduo lentamente adquire gosto em doar.

 

 

 

 

 

13. Uma Romã

 

(Ouvi durante uma refeição no segundo dia de Rosh Hashaná, Tav-Shin-Chet, 5 de outubro de 1948)

 

Uma romã, ele disse, indica o que os nossos sábios disseram: “Até mesmo os vaidosos entre vocês estão repletos de Mitzvot, como uma romã” (Eruvin 19a:9). Ele disse que Rimon [romã] vem da palavra Romenut [exaltação, sublimidade], a qual está acima da razão. E o significado é que “os vaidosos entre vocês estão repletos de Mitzvot.” A medida do preenchimento é a medida em que o indivíduo consegue subir acima da razão, e isso é chamado de Romenut.

 

Existe apenas o vazio em um lugar onde não há existência, como em “sobre o nada suspendeu a terra” (Jó 26:7). Você percebe qual é a medida do preenchimento do lugar vazio? A resposta é de acordo com a elevação do próprio indivíduo acima de razão.

 

Isso significa que o vazio deveria ser preenchido com exaltação, ou seja, acima da razão, e o indivíduo deveria pedir ao Criador para lhe dar essa força. Isso significa que todo o vazio é criado e enviado para que a pessoa se sinta assim – sentir que está vazia – apenas a fim de preenchê-la com as Romenut do Criador. Em outras palavras, o indivíduo deve levar tudo para o grau “Acima da razão”.

 

Esse é o significado do verso “Deus fez com que Ele seja temido”. Isso significa que esses pensamentos de vazio vêm a fim de que a pessoa tenha uma necessidade de assumir para si mesma a fé acima da razão. E, para isso, precisamos da ajuda do Criador. Segue-se que, nesse momento, o indivíduo deve pedir ao Criador que lhe dê o poder de acreditar acima da razão.

 

Acontece que, precisamente nesse momento, o indivíduo precisa da ajuda do Criador, já que a mente externa lhe permite entender o oposto. Consequentemente, naquele momento, o indivíduo não tem outra opção senão pedir que o Criador o ajude.

 

Sobre isso é dito que “o desejo do indivíduo o derrota todos os dias; e se não fosse pelo Criador, ele não poderia superá-lo.” Apenas então há o estado em que o indivíduo entende que ninguém vai ajudá-lo a não ser o Criador. E isso é “Deus fez com que Ele seja temido”. A questão do medo é discernida como fé, e apenas então o indivíduo tem a necessidade da salvação do Criador.

 

 

 

14. O que é a Exaltação do Criador?

(Ouvi em Tav-Shin-Chet, 1947-1948)

 

As Romenut [exaltação/sublimidade] do Criador significam que o indivíduo deveria pedir ao Criador força para subir acima da razão, pois há duas interpretações sobre as Romenut do Criador:

 

1. Não ser preenchido com conhecimento, que é o intelecto com o qual o indivíduo pode responder as próprias questões. Ao invés disso, ele quer que o Criador responda as suas perguntas. Isso é chamado de Romenut, porque toda a sabedoria vem de cima e não do homem, e assim o homem pode responder suas próprias perguntas. Qualquer coisa que alguém possa responder é considerada uma resposta com a mente externa. Isso significa que o desejo de receber entende que vale a pena observar a Torá e as Mitzvot [mandamentos]. No entanto, se a fé acima da razão obriga o indivíduo a trabalhar, isso é chamado “Contra a opinião do desejo de receber”.

a.           A grandeza do Criador significa que o indivíduo se torna carente do Criador para realizar seus desejos. Portanto: a) O indivíduo deve subir acima da razão. Então, ele vê que está vazio e se torna carente do Criador; b) Apenas o Criador pode lhe dar a força necessária para subir acima da razão. Em outras palavras, o que o Criador concede é chamado “As Romenut do Criador”.

 

 

 

15. O que são “Outros Deuses” no Trabalho?

(Ouvi em 24 de Av, Tav-Shin-Hey, 3 de agosto de 1945)

 

 

Está escrito: “Não terás outros deuses diante de Mim” (Êxodo 20:3). O Zohar interpreta que deve haver pedras para pesar, e pergunta: Como o trabalho é pesado com pedras pelas quais o indivíduo sabe o seu estado nos caminhos do Criador? E responde: É sabido que, quando o indivíduo passa a trabalhar mais do que está acostumado, o corpo começa a tremer e a se opor a esse trabalho com toda a sua força, pois a doação é um peso e um fardo para o corpo. Ele não pode tolerar esse trabalho, e a resistência do corpo aparece na pessoa na forma de pensamentos invasivos. O corpo vem e faz as perguntas: “Quem?” e “O Quê?”.

 

Por meio dessas perguntas, uma pessoa diz que todos esses questionamentos são certamente enviados pela Sitra Achra [o outro lado] a fim de obstruí-lo no trabalho.

 

O Zohar diz que se, nesse momento, o indivíduo diz que as perguntas vêm da Sitra Achra, ele viola o que está escrito: “Não terás outros deuses diante de Mim”. A razão é que o indivíduo deveria acreditar que os questionamentos vêm da Shechiná [Divindidade], já que “não há ninguém além Dele”. No entanto, a Shechiná mostra ao indivíduo o seu verdadeiro estado, a forma como ele está trilhando os caminhos do Criador.

 

Ao lhe enviar essas perguntas, chamadas de “pensamentos invasivos”, a Shechiná vê como o indivíduo responde às questões consideradas “pensamentos invasivos”. E com tudo isso o indivíduo deve conhecer seu verdadeiro estado no trabalho, a fim de saber o que fazer.

 

É como uma alegoria sobre alguém que queria saber o quanto o seu amigo o amava. Certamente, quando estão frente a frente, seu amigo se esconde devido à vergonha. Por isso, ele envia uma pessoa para falar mal do seu amigo. Então ele vê a reação do seu amigo enquanto está longe dele, e daí o indivíduo pode saber a verdadeira medida do amor de seu amigo.

 

A lição é que, quando a Shechiná mostra sua face – ou seja, quando o Criador dá vitalidade e alegria ao indivíduo -, nesse estado a pessoa sente vergonha de dizer o que pensa sobre o trabalho de doação sem receber nada para si mesma. No entanto, quando a Shechiná não está face a face – ou seja, quando a vitalidade e a alegria esfriam, o que é considerado não estar de frente para ela -, então o indivíduo pode ver o seu verdadeiro estado em relação ao objetivo de doar.

Se o indivíduo acredita que não há ninguém além Dele, e acredita que o Criador envia todos os pensamentos invasivos, ou seja, que Ele é o operador, então a pessoa certamente sabe o que fazer e como responder todas as perguntas. Parece que a Shechiná envia mensageiros ao indivíduo, para ver como ele difama o reino dos céus, e assim podemos interpretar a questão acima.

 

O indivíduo pode entender isso, que tudo vem do Criador, pois é sabido que o corpo ataca a pessoa com pensamentos invasivos. E eles não vêm quando a pessoa não está envolvida no trabalho. Pois esses ataques, que vêm para o indivíduo como uma sensação completa, ao ponto de esses pensamentos esmagarem a mente, chegam especificamente após ele se dedicar à Torá e ao trabalho mais do que de costume. Isso é chamado “pedras para pesar”.

 

Isso significa que essas pedras caem na mente do indivíduo quando ele quer entender essas questões. Depois, ele passa a pesar o propósito do seu trabalho, avalia se realmente vale a pena trabalhar a fim de doar, trabalhar com toda sua força e alma, e percebe que todas as suas aspirações se tornarão apenas esperança de que o que há para se adquirir neste mundo é apenas o propósito do seu trabalho, de levar contentamento ao seu Criador, e não qualquer questão corpórea.

 

Neste momento, inicia-se uma discussão amarga, já que o indivíduo vê que há argumentos de ambos os lados. As escrituras advertem sobre isso: “Não terás outros deuses diante de Mim”. Não diga que outro deus lhe deu as pedras com as quais podes pesar o teu trabalho, mas “diante de Mim”.

 

Em vez disso, o indivíduo deve saber que isso é considerado “diante de Mim”. Isso é para que o indivíduo veja a verdadeira forma da base e da fundação sobre as quais é construída a estrutura do seu trabalho.

 

O peso no trabalho existe primariamente porque eles são textos que negam um ao outro. De um lado, o indivíduo deve tentar fazer com que todo o seu trabalho seja para atingir a Dvekut [adesão] ao Criador, que todo o seu desejo seja apenas para doar contentamento ao seu Fazedor, e não, de forma alguma, trabalhar para receber algo para si mesmo.

 

Por outro lado, vemos que esse não é o objetivo original, já que o propósito da Criação não foi que as criaturas doassem ao Criador, pois Ele não tem necessidade que as criaturas lhe doem algo. Ao contrário, o propósito da Criação se deu devido ao Seu desejo de fazer o bem às Suas criações, ou seja, para que as criaturas recebessem deleite e prazer Dele.

 

Essas duas questões se contradizem de ponta a ponta, pois, de um lado, o indivíduo deve doar, e por outro lado, deve receber. Em outras palavras, há a questão da correção da Criação, que é atingir a Dvekut, discernida como equivalência de forma, sendo que todas as ações do indivíduo serão apenas para doar. Depois, é possível atingir o propósito da Criação – receber deleite e prazer do Criador.

 

Consequentemente, quando o indivíduo se acostuma a andar nos caminhos da doação, de qualquer forma ele não tem vasos de recepção. Quando o indivíduo anda nos caminhos da recepção, ele não tem vasos de doação.

 

Portanto, por meio das “pedras para pesar” o indivíduo adquire ambos. Após a negociação durante o trabalho, quando ele supera e assume o jugo dos céus na forma de doação na mente e no coração, então o indivíduo pode atrair a abundância superior, pois ele já tem uma base sólida de que tudo deve ser na forma de doação. Assim, mesmo quando o indivíduo recebe alguma iluminação, ele a recebe a fim de doar. Isso é porque toda a base do seu trabalho é construída somente sobre a doação. Isso é considerado “receber para doar”.

 

 

 

16. O que é o “Dia do Senhor” e a “Noite do Senhor”, no Trabalho?

(Ouvi em Tav-Shin-Alehp, 1940-1941, Jerusalém)

 

Nossos sábios disseram sobre o verso “Ai daquele que deseja o dia do Eterno! Para que desejais o dia do Eterno? Ele é obscuridade, e não luz” (Amós 5:18): “Há uma alegoria sobre um galo e um morcego que estavam esperando a luz. O galo disse para o morcego: ‘Eu estou esperando a luz, pois a luz é minha. Mas e você, por que você precisa dessa luz?’”(Sanhedrin 98b).

 

A interpretação é a seguinte: como o morcego não tem olhos para ver, o que ele ganharia com a luz do sol? Ao contrário, para quem não tem olhos, a luz do sol apenas torna tudo mais escuro.

 

Nós devemos entender essa alegoria em relação a como os olhos estão conectados a contemplar a luz do Criador, o que o texto chama de “o dia do Eterno”. Eles criaram uma alegoria sobre um morcego, no sentido de que aquele que não tem olhos permanece no escuro.

 

Também devemos entender o que é o dia do Eterno, o que é a noite do Eterno e qual a diferença entre eles. Discernimos o dia das pessoas pelo nascer do sol, mas com o dia do Eterno, como fazemos?

 

A resposta é de acordo com a aparência do sol. Em outras palavras, quando o sol brilha no chão, chamamos de “dia”. Quando o sol não brilha, isso é chamado “escuridão”. É o mesmo com o Criador. Um dia é chamado de “Revelação”, e a escuridão é chamada de “Ocultação da face”.

 

Isso significa que, quando há revelação da face, quando está claro como o dia para uma pessoa, isso é chamado “um dia”. É como os nossos sábios disseram sobre o verso “Levanta-se com a luz para assassinar o pobre e o destituído e, ao escurecer, age como um ladrão” (Jó 24:14). Segue-se que luz é dia, pois ele disse “ao escurecer, age como ladrão”. Ali ele diz que, se para você a questão está clara como a luz que cobre as almas, ele é um assassino e é possível salvá-lo na sua alma” (Pesachim 2). Portanto, na questão do “dia”, a Guemará diz que é uma matéria tão clara quanto o dia.

 

O dia do Eterno, então, significa que a orientação com a qual o Criador lidera o mundo é claramente na forma do bem e de fazer o bem. Por exemplo, quando um indivíduo reza, a sua prece é imediatamente atendida e ele recebe aquilo pelo qual rezou, e tem sucesso para onde quer que se volte. Isso é chamado “o dia do Eterno”.

 

Inversamente, a escuridão, que é a noite, significa a ocultação da face. Isso gera dúvidas ao indivíduo sobre a orientação do bem e de fazer o bem, e traz pensamentos invasivos. Em outras palavras, é a ocultação dessa orientação que traz todas essas visões e pensamentos invasivos. Isso é chamado de “noite” e “escuridão”, quando o indivíduo vive um estado em que sente que o mundo se tornou escuro para ele.

 

Agora podemos interpretar o que está escrito: Ai daquele que deseja o dia do Eterno! Para que desejais o dia do Eterno? Ele é obscuridade, e não luz”. Aqueles que esperam o dia do Eterno estão esperando para ter a fé transmitida acima da razão, uma fé que será tão forte como se eles a vissem com seus olhos, com certeza de que é verdade, de que o Criador vigia o mundo de uma maneira boa e fazendo o bem.

 

Em outras palavras, eles não querem ver como o Criador comanda o mundo na forma do Bem que Faz o Bem, já que ver é contraditório à fé. Ou seja, a fé é precisamente contra a razão. E quando o indivíduo faz algo contra a sua razão, isso é chamado “fé acima da razão”.

 

Isso significa que eles acreditam que a orientação do Criador sobre as criaturas é na forma do bem e de fazer o bem. Mesmo que não possam ver com absoluta certeza, eles não dizem ao Criador “queremos ver a qualidade do bem e de fazer o bem dentro da razão”. Em vez disso, eles querem que permaneça neles a fé acima da razão, mas eles pedem ao Criador que lhes dê a força para que a fé seja tão forte como se eles a vissem dentro da razão. Assim, não haverá diferença entre fé e conhecimento da mente. Aqueles que desejam aderir ao Criador se referem a isso como “o dia do Eterno”.

 

Em outras palavras, se eles sentem isso como conhecimento, a luz do Criador, chamada de “abundância superior”, irá para os vasos de recepção, chamados “Kelim [vasos] da separação”. Eles não querem que seja assim, pois a luz irá para o desejo de receber, o qual é o oposto da Kedushá [santidade] – que, por sua vez, é contrária ao desejo de receber para si mesmo. Ao invés disso, eles querem aderir ao Criador e isso só pode ocorrer através da equivalência de forma.

 

Contudo, como é possível atingir o desejo e a súplica por aderir ao Criador se o indivíduo nasce com uma natureza de receber apenas para o próprio benefício? Como é possível atingir algo que é completamente contra essa natureza? Por essa razão, o indivíduo deve fazer grandes esforços até adquirir uma segunda natureza, que é o desejo de doar.

 

Quando é transmitido ao indivíduo o desejo de doar, ele está qualificado para receber a abundância superior sem manchá-la, já que todas as falhas vêm apenas pelo desejo de receber para si mesmo. Ou seja, mesmo quando faz algo a fim de doar, lá no fundo há um pensamento de que ele vai receber algo pelo ato de doação que está realizando.

 

Em uma palavra, o homem é incapaz de fazer qualquer coisa se ele não receber algo em troca pelo ato. Em outras palavras, ele precisa desfrutar. E qualquer prazer que o indivíduo recebe para si mesmo causa separação da Vida das Vidas.

 

Isso o impede de aderir ao Criador, já que a Dvekut [adesão] é medida pela equivalência de forma. É, portanto, impossível ter um desejo puro de doação sem uma mistura de recepção para os próprios poderes. Então, para que o indivíduo tenha poderes de doação, é preciso uma segunda natureza a fim de que ele tenha força para alcançar a equivalência de forma.

 

Em outras palavras, o Criador é o doador e não recebe nada, pois não Lhe falta nada. Tampouco o que Ele doa é devido a uma falta, como se sentisse uma falta caso não tivesse para quem doar.

 

Devemos antes perceber isso como um jogo. Ou seja, quando Ele quer doar, não significa que isso é algo de que Ele precisa. Ao contrário, é tudo como um jogo. É como nossos sábios disseram a respeito da rainha. Ela perguntou: “O que o Criador faz depois de ter criado o mundo?” A resposta foi: “Ele senta e brinca com uma baleia”, como está escrito: “Você criou essa baleia para brincar com ela” (Avodah Zará, p. 3).

 

A questão da baleia se refere a Dvekut e conexão (como está escrito “de acordo com a abertura do homem e das conexões”). Isso significa que o propósito, o qual é a conexão do Criador com as suas criaturas, é apenas um jogo, não é uma questão de desejo e necessidade.

 

A diferença entre um jogo e um desejo é que tudo que vem do desejo é uma necessidade. Se o indivíduo não obtém o seu desejo, ele fica deficiente. Mas, com jogos, mesmo quando ele não obtém a coisa, isso não é considerado uma falta. Como dizem: “Não é tão ruim não ter conseguido o que eu planejei, porque não era tão importante”. Isso é assim porque o desejo que ele tinha pela coisa era apenas um jogo, não era sério.

 

Segue-se que todo o propósito para o trabalho do indivíduo é que este seja inteiramente para doação, e que ele não tenha nenhum desejo ou ânsia por receber prazer pelo seu trabalho.

 

Isso é um nível alto, pois é o que ocorre no Criador. E isso é chamado “o dia do Senhor”. O dia do Senhor é chamado de “completude”, como está escrito: “Deixe que as estrelas da manhã sejam escuras; deixe que elas procurem pela luz, mas não a tenham”, pois a luz é considerada completude.

 

O indivíduo adquire a segunda natureza quando recebe o desejo de doar. Após a primeira natureza, que é o desejo de receber, o Criador lhe concede o desejo de doar, e então o indivíduo está qualificado para servir ao Criador em plenitude. Isso é considerado “o dia do Eterno”.

 

Portanto, alguém que não foi recompensado com a segunda natureza não é capaz de servir ao Criador na forma de doação. O indivíduo aguarda ser recompensado, pois já fez o que podia para obter aquela força. Considera-se que ele está esperando o dia do Eterno – a equivalência de forma com o Criador.

 

Quando o dia do Eterno chega, o indivíduo se exalta. Ele fica feliz, pois emergiu do controle do desejo de receber para si mesmo, o qual o separava do Criador. Agora, ele se agarra ao Criador e considera que subiu ao topo.

 

É o oposto para alguém cujo trabalho se dá apenas na auto-recepção: ele fica feliz apenas enquanto pensa que vai receber alguma recompensa pelo seu trabalho. Quando ele percebe que o desejo de receber não será recompensado pelo seu trabalho, ele se torna triste e ocioso. Às vezes, ele chega a duvidar do começo e diz “eu não jurei sobre isso”.

 

Portanto, o dia do Senhor é atingir o poder para doar. Se alguém fosse avisado que “este será o seu lucro pelo empenho na Torá e nas Mitzvot”, ele diria “eu considero isso escuridão, e não luz”, pois esse conhecimento leva o indivíduo à escuridão.

 

 

17. O que significa que a Sitra Achra seja chamada de “Malchut sem uma Coroa”?

(Ouvi em Tav-Shin-Aleph, 1940-1941, Jerusalém)

 

Coroa significa Keter, e Keter é o Emanador e a Raiz. A Kedushá [santidade] está conectada à raiz, ou seja, a Kedushá é considerada em equivalência de forma com sua raiz. Isso significa que, assim como a nossa Raiz - isto é, o Criador deseja apenas doar, como está escrito “Seu desejo de fazer o bem às criaturas”, também a Kedushá é destinada apenas para doar ao Criador.

 

A Sitra Achra [outro lado], no entanto, não é assim. Ela objetiva apenas receber para si mesma. Por essa razão, ela não está aderida à Raiz, isto é, Keter. É por isso que se faz a referência sobre a Sitra Achra não ter Keter [coroa]. Em outras palavras, ela não tem Keter porque ela está separada de Keter.

 

Agora podemos entender o que os nossos sábios disseram (Sanhedrin 29): “Todos que somam, subtraem”. Isso significa que, se você adiciona à conta, há subtração. Está escrito (Zohar Pekudei, item 249): “Ocorre o mesmo aqui, em relação ao que é interno, como está escrito, ‘Ademais, você deverá construir o tabernáculo com dez cortinas’. Em relação ao que é externo, está escrito ‘onze cortinas’, com adição de letras, ou seja, adicionando o Ayin [a letra hebraica adicionada] ao doze, e subtraindo da conta. Subtrai-se um do número doze devido à adição do Ayin ao doze”.

 

É sabido que o cálculo é implementado apenas em Malchut, o qual calcula a altura do grau (por meio da Ohr Hozer [luz refletida] nela). Além disso, é sabido que Malchut é chamada de “o desejo de receber para si mesmo”.

 

Quando ela anula seu desejo de receber perante a Raiz, e não quer receber, mas apenas doar à Raiz, assim como a Raiz que é o desejo do doar, então Malchut, chamada Ani [Eu], torna-se Ein [nada], com um Aleph. Apenas então ela estende a luz de Keter para construir seu Partzuf e se torna doze Partzufim de Kedushá.

 

Contudo, quando ela quer receber para si mesma, ela se torna o Ayin [olho] maldito. Em outras palavras, onde havia uma combinação de Ein, isto é a anulação perante a raiz, que é Keter, tornou-se Ayin (ou seja, ver e saber dentro da razão).

 

Isso é chamado “adição”. Significa que o indivíduo quer somar conhecimento à fé, e trabalhar dentro da razão. Em outras palavras, ela diz que vale mais a pena trabalhar dentro da razão e, então, o desejo de receber não terá objeção ao seu trabalho.

 

Isso causa uma falha, pois houve a separação de Keter, chamado de “o desejo de doar”, que é a Raiz. Não há mais a questão da equivalência de forma com a Raiz, chamada de Keter. Por essa razão, a Sitra Achra é chamada “Malchut sem coroa”. Isso significa que Malchut da Sitra Achra não tem Dvekut [adesão] com Keter. Por essa razão, eles só têm onze Partzufim, sem o Partzuf Keter.

 

Esse é o significado do que os nossos sábios disseram: “Noventa e nove morreram de mau olhado”. Ou seja, porque eles não têm a qualidade de Keter. Isso significa que a Malchut neles, o desejo de receber, não quer se anular perante a Raiz, chamada Keter. Isso significa que eles não fazem do Ani [Eu], chamado “desejo de receber”, uma qualidade do Ein [nada], que é o anulamento do desejo de receber.

 

Ao invés disso, eles querem somar. E isso é chamado “o Ayin [olho] maldito”. Ou seja, onde deveria haver Ein com Aleph [a primeira letra da palavra Ein], eles inserem o maldito Ayin [olho, a primeira letra da palavra]. Portanto, eles caem do seu nível devido à falta de Dvekut com a Raiz.

 

Esse é o significado do que os nossos sábios disseram: “Qualquer um que seja orgulhoso, diz o Criador, ‘ele e Eu não podemos habitar na mesma morada’”, pois assim o indivíduo cria duas autoridades. No entanto, quando o indivíduo está em um estado de Ein e se anula perante a Raiz, sendo que a sua única intenção é doar, como a Raiz, percebe-se que aqui há apenas uma autoridade – a autoridade do Criador. Então, tudo o que o indivíduo recebe no mundo é somente a fim de doar ao Criador.

 

Esse é o significado do que ele havia dito: “O mundo inteiro foi criado apenas para mim, e eu, para servir ao meu Fazedor.” Por essa razão, eu devo receber todos os níveis no mundo, a fim de que possa dar tudo ao Criador, o que é chamado de “servir ao meu Fazedor”.

 

 

 

18. Minha Alma Deve Chorar em Segredo – 1

(Ouvi em Tav-Shin, 1939-1940, Jerusalém)

 

Quando a ocultação domina uma pessoa ela chega a um estado em que o trabalho se torna insípido, ela não consegue visualizar ou sentir qualquer amor ou temor, e não consegue fazer nada em Kedushá [santidade]. Neste caso, o único conselho é chorar ao Criador para que ele tenha misericórdia da pessoa e remova a tela dos seus olhos e do seu coração.

 

Chorar é muito importante. É como nossos sábios escreveram: “Todos os portões estavam trancados, exceto os portões das lágrimas.” Sobre isso, o mundo pergunta: Se os portões das lágrimas não estão trancados, qual é a necessidade de eles existirem? Ele disse que é como uma pessoa que pede ao seu amigo por um objeto necessário. Esse objeto toca o seu coração, e a pessoa pede e implora com toda maneira de oração e apelo. Porém, seu amigo não presta atenção em nada disso. E quando a pessoa vê que não há mais razão para orações e apelos, então ela levanta sua voz em prantos.

 

Sobre isso, é dito: “Todos os portões estavam trancados, exceto os portões das lágrimas.” Ou seja, quando não estiveram trancados os portões das lágrimas? Precisamente quando todos os portões estavam trancados. É nesse momento que há espaço para os portões das lágrimas, e então vemos que eles não estavam trancados.

 

No entanto, quando os portões da oração estão abertos, os portões das lágrimas e dos prantos são irrelevantes. Esse é o significado de estarem trancados os portões das lágrimas. Portanto, quando não estão trancados os portões das lágrimas? Precisamente quando todos os portões estão trancados, os portões das lágrimas estão abertos, já que a pessoa ainda tem a escolha de orar e implorar.

 

Esse é o significado de “minha alma deve chorar em segredo”. Quando o indivíduo chega a um estado de ocultação, então “minha alma deve chorar”, porque ele não tem outra opção. Esse é o significado de “tudo o que sua mão e sua força puderem fazer, faça.”

 

 

19. O que é “O Criador Odeia os Corpos” no Trabalho?

(Ouvi em Tav-Shin-Guímel, 1942-1943, Jerusalém)

 

O Zohar diz que o Criador odeia os corpos. Ele diz que devemos interpretar isso como uma referência ao desejo de receber, chamado Guf [corpo]. O Criador criou o Seu mundo para a Sua glória, como está escrito: “Todos que são chamados pelo Meu Nome, pela Minha glória, Eu os criei, os formei e também os fiz”.

 

Portanto, isso contradiz o argumento do corpo de que tudo é para ele, apenas para seu próprio benefício. O Criador diz o oposto, que tudo deveria ser em consideração ao Criador. É por isso que os nossos sábios dizem que o Criador disse “ele e Eu não podemos habitar na mesma morada”.

 

Segue-se que a principal fonte de separação que impede a Dvekut [adesão] com o Criador é o desejo de receber. Isso fica aparente quando chega o mal, ou seja, quando o desejo de receber para si mesmo vem e pergunta: “Por que você quer trabalhar pelo Criador?” Nós achamos que esse desejo fala com as pessoas, achamos que ele quer entender com o seu intelecto. No entanto, isso não é verdade, já que ele não pergunta para quem o indivíduo está trabalhando. Certamente, esse é um argumento racional, de forma que esse argumento desperta em uma pessoa sensata.

 

Em vez disso, o argumento do perverso é uma questão corporal. Ou seja, ele pergunta: “O que é esse trabalho?” Em outras palavras, o que você vai ganhar pelo esforço que está fazendo? Isso significa que ele pergunta: “Se você não está trabalhando para o seu próprio benefício, o que o corpo, chamado de ‘desejo de receber para si mesmo’, ganha com isso?”

 

Já que esse é um argumento corporal, a única resposta é uma resposta corporal, que é “Ele cegou os dentes, e se ele não estivesse lá, ele não teria sido redimido”. Por quê? Porque o desejo de receber para si mesmo não tem redenção, mesmo no tempo da redenção, já que a redenção virá quando todos os recebimentos entrarem nos vasos de doação e não nos vasos de recepção.

 

O desejo de receber para si mesmo deve sempre permanecer em déficit, pois satisfazê-lo é a própria morte. A razão é que, como dito acima, a criação foi primariamente para a Sua glória (e essa é uma resposta para o que está escrito, que o Seu desejo é fazer o bem às Suas criatura e não a Si mesmo).

 

A interpretação será de que a essência da Criação é revelar a todos que o propósito da Criação é fazer o bem às Suas criaturas. Isso ocorre especificamente quando o indivíduo diz que ele nasceu para honrar o Criador. Nesse momento, nesses vasos, aparece o propósito da Criação, que é fazer o bem às Suas criaturas.

 

Por essa razão, o indivíduo deve sempre examinar a si mesmo, o propósito do seu trabalho, e averiguar se o Criador recebe contentamento em todas as suas ações, porque busca a equivalência de forma com o Criador. Isso é chamado “todas as suas ações serão pelo Criador”, pois o indivíduo quer que o Criador desfrute de tudo que ele faz, como está escrito “Trazer contentamento ao seu Fazedor”.

 

Além disso, o indivíduo precisa se conduzir com o desejo de receber e se dirigir a ele, dizendo: “Eu já decidi que não quero receber qualquer prazer para que você desfrute, pois com o seu desejo eu sou forçado a me separar do Criador, já que a disparidade de forma causa separação e distância do Criador.”

 

Como não consegue se libertar do poder do desejo de receber, a esperança do indivíduo deveria ser o fato de que ele está em um perpétuo processo de subidas e descidas. Consequentemente, ele espera pelo Criador, espera que Ele o recompense com a abertura dos seus olhos e com a força para superar e trabalhar apenas pelo bem do Criador. É como está escrito: “Uma eu pedi ao Criador; por ela eu vou procurar.” “Ela” significa a Shechiná [Divindade]. E o indivíduo pede “que eu possa habitar na morada do Senhor por todos os dias da minha vida”.

 

A morada do Senhor é a Shechiná. E agora podemos entender o que os nossos sábios disseram sobre o verso “e tomará para você no primeiro dia”, o primeiro a contabilizar as iniquidades. Devemos entender por que há regozijo se há lugar para contabilizar as iniquidades aqui. Devemos saber, ele disse, que há uma questão de importância no trabalho quando há contato entre o indivíduo e o Criador.

 

Isso significa que o indivíduo sente que precisa do Criador, pois, no estado de labor, ele vê que ninguém no mundo pode salvá-lo do estado em que está, exceto o Criador. Então, ele vê que “não há ninguém além Dele” que possa salvá-lo do estado em que está e do qual não consegue escapar.

 

Isso é chamado ter contato próximo com o Criador. Se o indivíduo sabe apreciar esse contato, então acredita que está aderido ao Criador e todos os seus pensamentos são sobre o Criador. Dessa forma, Ele o ajudará, porque senão o indivíduo vê que está perdido.

 

De forma inversa, aquele que é recompensado com Providência Particular e vê que o Criador faz tudo, como está escrito “apenas Ele faz e fará todos os atos”, esse indivíduo não tem nada a adicionar e, de toda forma, não há espaço para orar pela ajuda do Criador, pois ele vê que o Criador faz tudo mesmo sem a sua oração.

 

Portanto, neste momento, não há espaço para realizar bons atos, pois o indivíduo vê que, mesmo sem ele, tudo é feito pelo Criador. Assim, o indivíduo não tem necessidade da ajuda do Criador para nada. Nesse estado, ele não tem contato com o Criador e não necessita Dele na medida de estar perdido sem a Sua ajuda.

 

Assim, o indivíduo não tem o contato que tinha com o Criador durante o trabalho. Ele disse que é como uma pessoa suspensa entre a vida e a morte, que pede para seu amigo salvá-la. Como ele pede para seu amigo? Ele certamente tenta pedir para que seu amigo tenha misericórdia dele e o salve da morte com todo o poder à sua disposição. Ele certamente nunca esquece de pedir ao seu amigo, pois ele vê que, se não fizer isso, perderá a vida.

 

No entanto, aquele que pede luxos ao seu amigo, coisas não necessárias, esse suplicante não está tão ligado ao seu amigo a ponto de que a sua mente não se distraia de pedir o que quer receber. Percebe-se que, com coisas não relacionadas à salvação da vida, o suplicante não se torna tão ligado ao doador.

 

Portanto, quando o indivíduo sente que deve pedir ao Criador que lhe salve da morte, do estado de “os perversos na sua vida são chamados ‘morte’”, o contato entre a pessoa e o Criador é próximo. Por essa razão, para os justos, um lugar de trabalho é necessitar a ajuda do Criador. Caso contrário, ele está perdido. É isso que os justos almejam: um lugar para trabalhar de forma que tenham contato próximo com o Criador.

 

Assim, se o Criador dá espaço para o trabalho, esses justos ficam muito felizes. É por isso que eles disseram “o primeiro a contabilizar as iniquidades”. Para eles, é motivo de alegria ter um lugar para o trabalho, ou seja, tornar-se necessitado do Criador e poder entrar em contato próximo com Ele. Isto é assim porque ninguém pode vir ao Palácio do Rei sem um propósito.

 

Esse é o significado do verso “e tomará para você”. Ele especifica “para você” pois tudo está nas mãos dos céus, com exceção do temor aos céus. Em outras palavras, o Criador pode dar a luz em abundância porque Ele a tem. Mas, na escuridão, no lugar da falta, esse não é Seu domínio.

 

Devido à regra de que o temor aos céus existe apenas a partir de um lugar de falta – e um lugar de falta é chamado “o desejo de receber” –, isso significa que, apenas então, há um lugar para o trabalho. Em quê? No que há resistência.

 

O corpo chega e pergunta: “O que é o trabalho?” E o indivíduo não tem nada a responder a essa questão. Então, ele deve assumir o fardo do reino dos céus acima da razão, como um boi ou um burro aceitam uma carga, sem qualquer argumento. “Em vez disso, Ele disse e Sua vontade foi feita. Isso é chamado “para você”, ou seja, esse trabalho pertence precisamente a você, e não a Mim. É o trabalho que o seu desejo de receber requer”.

 

Contudo, se o Criador fornece alguma iluminação de cima, o desejo de receber se rende e se anula como uma vela perante uma tocha. Então, o indivíduo não tem qualquer trabalho, pois ele não tem mais necessidade de tomar sobre si, coercitivamente, o fardo do reino dos céus – como um boi ou um burro com uma carga, como está escrito: “Você que ama o Senhor, odeia o mal”.

 

Isso significa que o amor do Criador se estende apenas a partir do lugar do mal. Em outras palavras, na medida em que o indivíduo tem ódio pelo mal, quando ele vê o quanto o desejo de receber lhe obstrui de alcançar a completude do objetivo, nessa medida ele necessita que o amor do Criador lhe seja transmitido. Se um indivíduo sente que ele tem mal, ele não pode receber o amor do Criador, pois ele não o necessita, já que tem satisfação no trabalho.

 

Como dissemos, o indivíduo não deve se irar quando tem trabalho com o desejo de receber, no sentido de que isso lhe obstrui no trabalho. O indivíduo certamente ficaria mais satisfeito se o desejo de receber desaparecesse do corpo, pois ele não traria perguntas à pessoa e não a obstruiria no trabalho de observar a Torá e as Mitzvot [mandamentos].

 

Contudo, o indivíduo deve acreditar que as obstruções do desejo de receber são enviadas de cima. É concedida de cima ao indivíduo a força para descobrir o desejo de receber, porque há espaço para o trabalho precisamente quando o desejo de receber desperta.

 

Então, o indivíduo tem contato próximo com o Criador para que lhe ajude a transformar o desejo de receber em trabalho com a intenção de doar. O indivíduo deve acreditar que disso se estende o contentamento ao Criador, da sua oração a Ele a fim de aproximá-lo na forma de Dvekut [adesão], chamada de “equivalência de forma”, discernida da anulação do desejo de receber para que seja com a intenção de doar. Sobre isso, o Criador diz: “Meus filhos me venceram”. Ou seja, Eu lhe dei o desejo de receber e, ao invés disso, você Me pede o desejo de doar.

 

Agora podemos interpretar o que é trazido na Guemará (Hulin p. 7): “O Rabino Pinchás ben Yair estava a caminho para resgatar os prisioneiros. Ele se deparou com o rio Ginai (o nome do rio era Ginai). Ele disse ao Ginai: “Divida sua água e eu passarei através de você.” O rio lhe disse: “Você fará a vontade do seu Criador, e eu farei a vontade do meu Criador. Você talvez faça, e talvez não faça, a vontade do seu Criador, enquanto eu certamente farei.”

 

Sobre o significado disso, o rabino disse que falou ao rio – ou seja, ao desejo de receber –que o deixasse atravessá-lo para alcançar o nível de fazer a vontade do Criador, de fazer tudo a fim de doar contentamento ao seu Fazedor. O rio, o desejo de receber, respondeu que o Criador o criou com essa natureza de querer receber deleite e prazer. E, portanto, ele não quer mudar a natureza com que o Criador o criou.

 

O Rabino Pinchás ben Yair travou guerra contra ele, pois queria invertê-lo para um desejo de doar. Isso é considerado travar guerra contra a criação que o Criador criou na natureza, chamada “desejo de receber” – criado pelo Criador, que é o todo da criação, chamado “existência a partir da ausência”.

 

Devemos saber que, durante o trabalho, quando o desejo de receber chega para uma pessoa com seus argumentos, nenhum argumento ou racionalização vai ajudar. Apesar de a pessoa pensar que são apenas argumentos, isso não a ajudará a derrotar o seu mal.

 

Ao invés disso, como está escrito, “Ele escondeu seus dentes”. Isso significa avançar apenas por meio de ações, e não por argumentos. É considerado que o indivíduo deve adicionar poderes coercitivamente. Esse é o significado do que os nossos sábios disseram: “Ele é coagido até que diga ‘eu quero’”. Em outras palavras, pela persistência, o hábito se torna uma segunda natureza.

 

O indivíduo deve tentar, especialmente, ter um forte desejo por obter o desejo de doar e por superar o desejo de receber. Um forte desejo é medido pelo incremento dos descansos intermediários e das detenções, ou seja, dos intervalos de tempo entre cada superação.

 

Às vezes, o indivíduo recebe uma interrupção no meio, um descenso. Esse descenso pode ser uma interrupção por um minuto, uma hora, um dia ou um mês. Depois, ele retoma o trabalho de superar o desejo de receber e as tentativas de alcançar o desejo de doar. Um forte desejo significa que a interrupção não dura muito tempo e ele é imediatamente despertado de novo para o trabalho.

 

É como uma pessoa que quer quebrar uma grande pedra. Ela pega um grande martelo e bate muitas vezes, o dia inteiro, mas de forma leve. Em outras palavras, ela não martela a pedra com um só golpe, mas baixa o grande martelo lentamente e sem força. Depois, a pessoa reclama que o trabalho de quebrar a pedra não é para ela, que só um homem muito forte para ser capaz de quebrar essa grande rocha. A pessoa diz que não nasceu com poderes tamanhos para ser capaz de quebrar a pedra.

 

No entanto, se o indivíduo levanta o seu martelo e atinge a pedra com um grande golpe – não lentamente, mas com um grande esforço –, a pedra imediatamente se rende a ele e quebra. Esse é o significado de “como um forte martelo que esmaga a pedra”.

 

Da mesma forma, no trabalho sagrado de levar os vasos de recepção à Kedushá [santidade], temos um forte martelo – as palavras da Torá, que nos dão bons conselhos. Porém, se o trabalho não é consistente, se há longos intervalos no meio, o indivíduo escapa da campanha e diz que não feito para isso, que esse trabalho requer alguém nascido com habilidades especiais. Mesmo assim, o indivíduo deveria acreditar que qualquer um pode atingir o objetivo, e deveria sempre tentar aumentar seus esforços para superar, pois então ele pode quebrar a pedra em pouco tempo.

 

Também devemos saber que há uma condição rigorosa para o esforço de fazer contato com o Criador: o esforço deve ser na forma de ornamento. O ornamento simboliza algo que é importante para uma pessoa. A pessoa não pode trabalhar com alegria se o trabalho não lhe é importante. Portanto, a pessoa deve se regozijar por ter agora contato com o Criador.

 

Essa questão é representada pelo Etrog (cidra). Sobre isso, está escrito que é “uma fruta de árvore cítrica”(em hebraico, cítrico é Hadar, proveniente de Hidur, que é beleza). Está escrito que o Etrog deveria estar limpo “acima do seu nariz”. É sabido que há aqui três distinções: a) ornamento, b) perfume, c) sabor.

 

O sabor significa que as Luzes são derramadas de cima para baixo, abaixo do [boca], onde há o palato e o sabor. Isso significa que as Luzes vêm em vasos de recepção.

 

O perfume significa que as Luzes vêm de baixo para cima. Isso significa que as Luzes vêm em vasos de doação, na forma de receber e não de doar abaixo do palato e da garganta. Isso é discernido como “e ele sentirá o cheiro do temor ao Criador”, dito sobre o Messias. É sabido que o perfume é atribuído ao nariz.

 

O ornamento implica beleza e formosura, distinguida como acima do nariz do indivíduo, sem cheiro. Significa que não há sabor ou cheio ali. Portanto, o que há ali para que o indivíduo possa suportar? Há apenas o ornamento nele, e é isso o que o sustenta.

 

Sobre o Etrog, vemos que o ornamento se coloca nele precisamente antes que esteja adequado para comer. Contudo, quando está pronto para comer, o ornamento não está mais lá.

 

Isto se refere ao “trabalho de primeiro contar as iniquidades”. Significa precisamente que, quando o indivíduo trabalha sob a forma de “tomarás”, que é o trabalho durante a aceitação do fardo do Reino dos Céus, e que é quando o corpo resiste, justamente aí há espaço para a alegria do ornamento.

 

Isto significa que o ornamento se faz visível durante o trabalho. Ou seja, se há alegria a partir do trabalho é porque o indivíduo considera esse trabalho um ornamento e não uma vergonha.

 

Em outras palavras, às vezes o indivíduo despreza o trabalho de assumir o fardo do Reino dos Céus, o qual é um tempo de uma sensação de escuridão. É quando ele vê que ninguém além do Criador pode salvá-lo do estado em que está. Então, ele assume para si o Reino dos Céus acima da razão, como um boi aceita o fardo e como um burro aceita a carga.

 

O indivíduo deveria se alegrar, pois agora tem algo a dar para o Criador, e o Criador aprecia isso. Mas nem sempre a pessoa tem a força para dizer que esse é um trabalho belo, chamado de “ornamento”, e assim despreza o trabalho.

 

É uma condição pesada a pessoa se habilitar a dizer que escolhe esse trabalho acima do trabalho de purificação, significando que ela não sente o gosto da escuridão durante o trabalho, mas, de repente, a pessoa sente sim o sabor do trabalho. Significa, então, que o indivíduo não precisa trabalhar com o desejo de receber para concordar em assumir o Reino dos Céus acima da razão.

 

Se ele supera a si mesmo e pode dizer que esse trabalho é prazeroso, pois agora ele observa a Mitz[mandamento] da fé acima da razão e aceita esse trabalho como beleza e ornamento, então isso é chamado “uma alegria da Mitzvá”.

 

Esse é o significado de a oração ser mais importante que a resposta à oração, pois na oração há um lugar para o trabalho e a pessoa que necessita do Criador aguarda a misericórdia dos céus. Nesse momento, o indivíduo tem um verdadeiro contato com o Criador e está no Palácio do Rei. No entanto, quando a oração é atendida, o indivíduo já deixou o Palácio do Rei, pois já recebeu o que havia pedido e então saiu.

 

Portanto, devemos entender o verso: “Seus óleos têm uma boa fragrância; seu nome é como óleo derramado.” Óleo é chamado de “a Luz Superior” quando flui. “Derramado” significa durante a cessação da abundância. Nesse momento, o perfume do óleo permanece. (Perfume significa que, apesar de tudo, um Reshimo [reminiscência] do que ele teve permanece. Ornamento, no entanto, é chamado assim em um lugar onde não há nenhuma firmeza, onde nem o Reshimo brilha.)

 

Esse é o significado de Atik e AA. Durante a expansão, a abundância é chamada AA, que é Chochmá [sabedoria], e significa Providência aberta. Atik vem da palavra [hebraica] VaYe’atek [separação], e significa a saída da Luz. Em outras palavras, Atik não brilha e isso é chamado “ocultação”.

 

Esse é o momento da rejeição às vestimentas, o qual é o tempo da recepção da coroa do Rei, considerada Malchut [reino] das Luzes, o Reino dos Céus.

 

Sobre isso está escrito no Zohar: “A Shechiná [Divindade] disse ao Rabino Shimon, ‘não há lugar para se esconder de você’ (ou seja, não há lugar onde Eu possa Me esconder de você)”. Isso significa que mesmo na maior ocultação, na verdade, ele ainda toma para si o fardo do Reino dos Céus com grande alegria.

 

A razão para isso é que ele segue uma linha de desejo de doar e, portanto, doa o que tem nas mãos. Se o Criador lhe dá mais, ele doa mais. E se ele não tem nada para doar, coloca-se em pé e chora como uma garça para que o Criador lhe salve da água maligna. Por isso, dessa maneira, também, ele tem contato com o Criador.

 

A razão para esse discernimento ser chamado Atik, já que Atik é o nível mais elevado, é que o quanto mais longe se está da vestimenta, mais alto se está. O indivíduo pode sentir na coisa mais abstrata, chamada “o zero absoluto”, pois lá a mão do homem não alcança.

 

Isso significa que o desejo de receber pode agarrar apenas em um lugar onde há alguma expansão da Luz. Antes de purificar os seus Kelim [vasos] para não manchar a Luz, o indivíduo é incapaz de receber a Luz na forma de expansão dos Kelim. Apenas quando o indivíduo marcha no caminho da doação, em um local onde o desejo de receber não está presente, seja na mente ou no coração, ali a Luz pode vir em perfeição absoluta. Então, ele recebe a Luz numa sensação em que ele pode sentir a exaltação da Luz Superior.

 

No entanto, quando o indivíduo não corrigiu os Kelim para trabalhar a fim de doar, a Luz deve ser restrita quando se expande e só deve brilhar de acordo com a pureza dos Kelim. Assim, nesse momento, a Luz parece estar em absoluta pequenez. Portanto, quando a Luz é abstraída das vestimentas dos Kelim, a Luz pode brilhar em absoluta perfeição e clareza, sem quaisquer restrições pelo bem do inferior.

 

Portanto, a importância do trabalho ocorre precisamente quando o indivíduo chega a um estado de zero, quando ele vê que anula toda a sua existência e o seu ser, pois então o desejo de receber não tem nenhum poder. Apenas então o indivíduo entra na Kedushá.

 

Devemos saber que “Deus criou um oposto ao outro”. Isso significa que tanto quanto há revelação na Kedushá, nesta mesma medida a Sitra Achra [outro lado] desperta. Em outras palavras, quando o indivíduo reivindica “é tudo meu”, no sentido de que o seu corpo inteiro pertence à Kedushá, também a Sitra Achra argumenta contra ele, dizendo que o seu corpo inteiro deveria servir à Sitra Achra.

 

 

Assim, o indivíduo deve saber que quando o seu corpo afirma pertencer à Sitra Achra e clama com toda sua força as famosas perguntas de “Quem?” e “O Quê?”, é um sinal de que o indivíduo está andando no caminho da verdade e que a sua única intenção é levar contentamento ao seu Fazedor. Portanto, o trabalho primário se dá precisamente nesse estado.

 

O indivíduo deve saber que isso é um sinal de que seu trabalho atinge o alvo. O sinal é que ele luta e envia suas flechas à cabeça da serpente, pois ela grita e argumenta com “O Quê?” e “Quem?” – ou seja, “O que é esse trabalho para você?”, o que você vai ganhar por trabalhar apenas para o Criador e não por si mesmo? E o argumento de “Quem” significa a reclamação do Faraó, que disse “Quem é o Senhor para que eu obedeça à Sua voz?”.

 

O argumento de “Quem” parece ser racional. Normalmente, quando uma pessoa recebe ordens de trabalhar para alguém, ela pergunta “para quem?”. Assim, quando o corpo reclama “Quem é o Senhor para que eu obedeça à Sua voz?”, este é um argumento racional.

 

Contudo, de acordo com a regra de que o intelecto não é um objeto em si, mas um espelho do que se encontra nos sentidos, assim se parece na mente. Isso é o significado de “Os filhos de Dan: Hushim”. Ou seja, a mente julga apenas de acordo com o que os sentidos lhe permitem escrutinizar, e imagina algumas invenções e táticas para se adequar às demandas dos sentidos.

 

Em outras palavras, o que os sentidos demandam a mente tenta prover. No entanto, a mente em si não tem necessidades para si mesma. Assim, se há demanda por doação nos sentidos, a mente opera de acordo com a linha da doação e não faz perguntas, pois está meramente servindo aos sentidos.

 

A mente é como uma pessoa que se olha no espelho para ver se está suja. E em todos os lugares em que o espelho mostra que está suja, a pessoa se lava e se limpa, pois o espelho mostrou-lhe que há coisas feias a serem limpas no seu rosto.

 

No entanto, o mais difícil é saber o que é considerado feio. É o desejo de receber, a demanda do corpo para que tudo seja para ele mesmo, ou a coisa feia é o desejo de doar, o qual o corpo não tolera? A mente não pode escrutinizar isso, assim como o espelho não pode dizer o que é feio e o que é bonito; em vez disso, tudo depende dos sentidos, e apenas os sentidos determinam isso.

 

Dessa forma, quando o indivíduo se acostume a trabalhar coercitivamente, a trabalhar na doação, a mente também opera pelas linhas da doação. Nesse momento, quando os sentidos já se acostumaram ao trabalho na doação, é impossível que a mente faça a pergunta “Quem?”.

 

Em outras palavras, os sentidos não perguntam mais “O que é esse trabalho?”, pois eles já estão trabalhando a fim de doar e, naturalmente, a mente não faz a pergunta “Quem?”.

 

Você percebe que o trabalho primário está em “O que é esse trabalho para você?”. E o que o indivíduo ouve quando o corpo pergunta “Quem?” é porque o corpo não quer se degradar tanto. É por isso que ele faz a pergunta “Quem?”. Ele parece estar fazendo uma pergunta racional, mas a verdade é que, como dissemos acima, o trabalho primário está em “O Quê?”.

 

 

20. LISHMÁ

 

 

(Escutei de Baal HaSulam em 1945)

 

 

Para que uma pessoa alcance Lishmá (capacidade de receber pelo Criador) é preciso que aja um despertar de Cima, porque isso é uma iluminação vinda de Cima e a mente humana não consegue entender esse processo. Mas quem o experimenta, quem o saboreia, é capaz de entender. Está escrito sobre isso: “Prove e veja como o Senhor é bom”. A pessoa precisa aceitar completamente essa pressão do Reino dos Céus, e somente com o objetivo de doar e jamais com o objetivo de receber. E se a pessoa vê que os seus órgãos físicos não concordam com isso, ela não tem outra saída a não ser orar e permitir que seu coração seja preenchido pelo Criador, para que Ele ajude o corpo a submeter-se à escravidão.[i]

 

 

 

Se Lishmá é um presente do Alto, então que valor há no esforço que a pessoa faz para corrigir a si mesma e alcançá-lo? Se Deus não lhe der outra natureza, chamada de “Desejo de Doar”, não há trabalho que a ajude a conseguir Lishmá. Nossos sábios disseram: “Você não tem liberdade para fugir disso”. Significa que devemos fazer um despertar de baixo. Esse despertar é considerado prece. Mas não pode haver prece verdadeira se a pessoa não compreender que é impossível obter Lishmá sem orar.

 

 

 

Assim, os atos e as correções que a pessoa faz para conseguir Lishmá criarão dentro dela o Kli correto para receber esse dom. Depois de todos esses atos e correções, a pessoa poderá fazer uma oração honesta, desde que ela tenha percebido que todas essas ações não lhe trarão nenhum benefício. Somente então ela conseguirá fazer uma oração do fundo de seu coração. Depois disso, o Criador ouvirá as suas preces e lhe dará o presente de Lishmá.

 

 

 

Precisamos entender ainda que ao obter-se Lishmá, consegue-se matar a inclinação para o mal. Isso é assim porque a inclinação para o mal é chamada “recebendo para o próprio benefício”. Obtendo-se a capacidade da doação, a auto-gratificação é anulada. A morte da inclinação para o mal significa que a pessoa não conseguirá mais usar seus vasos de recepção para si mesma. E desde que se tenha removido a parte da inclinação para o mal ela é considerada morta. 

 

 

 

Quando consideramos que lucro o homem tem em seu trabalho sob o sol, vemos que não é tão difícil escravizar-se ao Criador, por duas razões:

 

 

 

1.    De qualquer maneira, querendo ou não, temos que trabalhar neste mundo, e o que nos resta dos esforços que fazemos?

 

 

 

2.    Entretanto, ao trabalharmos em Lishmá recebemos prazer durante o trabalho em si.

 

 

 

Isso é como Sayer de Dubna disse, a respeito do verso “Jacob, você não Me chamou, e nem Israel se cansou Comigo”. Significa que aquele que trabalha para o Criador não faz esforços, mas, ao contrário, além de sentir prazer, recebe ainda uma elevação de espírito. Mas, aquele que não trabalha para o Criador, mas para outros propósitos, não pode reclamar que o Criador não lhe dá alegria no trabalho, pois se dedica a outras coisas. Alguém só pode se queixar para quem trabalha, exigindo-lhe que lhe dê prazer e alegria durante o seu trabalho.

 

 

 

Não se surpreendam que alguém assuma o fardo do Reino dos Céus e seja compelida a assumir esse fardo coercitivamente, mesmo sabendo que não há nenhum benefício para ela nisso. O motivo para isso é que existe aí uma grande correção. Não fosse por isso, o desejo de receber concordaria com o trabalho, e dessa forma a pessoa não seria digna de receber Lishmá.

 

 

 

É como se diz, que o ladrão corre e grita: “Pega, ladrão; pega, ladrão”. Então, é impossível reconhecer quem é o verdadeiro ladrão, e é impossível pegar o ladrão e recuperar o roubo de suas mãos.

 

 

 

No entanto, quando o ladrão, ou seja, a vontade de receber, não sente qualquer gosto e alegria no trabalho de aceitar o fardo do Reino dos Céus, se neste caso a pessoa trabalha com fé acima da razão, coercivamente, e o corpo se torna habituado a esse trabalho contra a vontade do desejo de receber, então a pessoa tem os meios pelos quais chegar a um trabalho que levará contentamento ao Criador. "Então tu deverás deliciar-te no Senhor." Antes, quando ele trabalhou para o Criador não derivou prazer de seu trabalho; ao contrário, seu trabalho foi feito sob coerção. Mas, depois, quando a pessoa já se acostumou ao trabalho a fim de doar, ela é recompensada com o prazer no Criador, e o trabalho por si só produz prazer e vitalidade. E este prazer é considerado, também, um deleite para o Criador.

 

                                                                  (Tradução de Charles Kiefer)

 

 

 


[i] As muitas e variadas dores físicas que surgem durante os exercícios são fruto dessa luta do corpo em não se submeter ao Criador. As dores mais frequentes aparecem nos ombros, nos quadris, nas pernas. Em alguns casos, a depender do nível de resistência inconsciente, surgem pequenos ferimentos, incremento de doenças auto-imunes, dores “agulhadas” na cabeça e no corpo, enxaquecas, sensação de afogamento, quedas inconscientes, acidentes domésticos, como se o corpo fizesse o possível e o impossível para afastar o iniciante do Caminho. (N.T.) 

 

 

 

21. Quando o indivíduo se sente num estado de ascensão

(Ouvi em 23 de Cheshvan, Tav-Shin-Hey, 9 de novembro de 1944)

 

Quando o indivíduo se sente em um estado de ascensão, sente-se elevado, quando sente que não tem nenhum desejo a não ser pela espiritualidade, então é bom que mergulhe nos Segredos da Torá a fim de internalize-los. Se o indivíduo vê que, apesar de se esforçar para entender algo, ainda não sabe nada, mesmo assim vale a pena mergulhar nos Segredos da Torá, ainda que veja cem vezes numa única coisa.

 

O indivíduo não deve se desesperar, não deve dizer que é inútil por que não entende nada, por duas razões:

 

A) Quando o indivíduo mergulha em algo e anseia por entendê-lo, esse anseio é chamado uma “oração”. Isso é porque uma oração é uma falta, ou seja, ele deseja o que lhe falta, deseja que o Criador satisfaça o seu desejo.

 

O alcance da oração é medido pelo desejo, já que o desejo é maior por aquilo de que ele mais precisa. De acordo com a medida da necessidade também é a medida do anseio.

 

Há uma regra de que naquilo que o indivíduo coloca mais esforço, o empenho aumenta a falta, e ele quer receber o preenchimento por essa deficiência. Além disso, um desejo é chamado de “uma oração”, é considerado “o trabalho do coração”, já que “o Misericordioso quer os corações”.

 

Só então o indivíduo pode oferecer uma oração verdadeira. Porque, quando ele mergulha nas palavras da Torá, o coração deve estar livre de outros desejos e dar à mente a força para poder pensar e escrutinizar. Se não há nenhum desejo no coração, a mente não consegue fazer o escrutínio, como disseram nossos sábios: “Sempre há aprendizado onde há desejo do coração” (Avodá Zará 19a).

 

Para que a oração do indivíduo seja aceita, deve ser uma oração completa. Por isso, quando faz um escrutínio de forma completa, o indivíduo extrai dele uma oração completa, e então sua oração pode ser aceita, porque o Criador ouve uma oração. Mas há uma condição: a oração deve ser completa e não pode ter outras coisas misturadas no meio dela.

 

B) A segunda razão é que, nesse momento, como o indivíduo está separado em alguma medida da corporeidade e está mais perto da qualidade da doação, é um tempo melhor para se conectar com a internalidade da Torá, a qual é revelada àqueles que tem Equivalência de Forma com o Criador. Isso é porque a Torá, o Criador e Israel são um. Contudo, quando o indivíduo está num estado de auto-recepção, ele pertence à externalidade e não à internalidade.

 

 

 

 

22. Torá Lishmá

 

(Ouvi em 9 de Shevat, Tav-Shin-Aleph, 06 de fevereiro de 1941)

 

A Torá é chamada de Lishmá [eu Seu nome], principalmente quando o indivíduo aprende para saber com certeza absoluta, dentro da razão, sem qualquer dúvida sobre a clareza da verdade, que há um juiz e há um julgamento. Há um julgamento significa que o indivíduo vê a realidade como ela aparece para os nossos olhos. Isso quer dizer que, quando trabalhamos dentro da fé e da doação, vemos que estamos crescendo e escalando diariamente, pois sempre vemos uma mudança para melhor.

 

E também é assim ao contrário: quando trabalhamos na forma de recepção e conhecimento, vemos que decaímos cada dia até o último degrau possível que existe na realidade material.

 

Quando examinamos esses dois estados, vemos que há julgamento e há um juiz, pois enquanto não seguimos as leis da verdade da Torá, somos punidos instantaneamente. Nesse estado, vemos que há um julgamento justo. Em outras palavras, vemos que esse é precisamente o melhor caminho, o qual é adequado e pode atingir a verdade.

 

Isso é considerado um julgamento justo, pois apenas dessa maneira podemos chegar ao objetivo final: compreender dentro da razão, com completo e absoluto entendimento, sobre o qual não há nada superior a isso, que apenas por meio da fé e da doação é possível atingir o propósito.

 

Portanto, se a pessoa estuda com esse propósito, de entender que há julgamento e que há um juiz, isso é chamado de Torá Lishmá. Esse também é o significado do que os nossos sábios disseram: “Grande é o aprendizado que leva à ação.”

 

Parece que deveriam ter dito “que trazem ações”, no sentido de ser possível fazer muitas ações, no plural, e não no singular. No entanto, como mencionado acima, ocorre que o aprendizado deve trazer apenas fé ao indivíduo, e a fé é chamada de uma Mitz[mandamento], a qual sentencia o mundo inteiro ao mérito.

 

A fé é chamada de “fazer” porque, normalmente, quando se faz alguma coisa, é preciso primeiro ter uma razão que faça a pessoa agir dentro da razão. É como a correlação entre a mente e a ação.

 

Contudo, quando algo está acima da razão, quando a razão não permite que o indivíduo faça determinada coisa, mas ao contrário, devemos dizer que não há razão nesse ato, há apenas um ato. Esse é o significado de “se o indivíduo realiza uma Mitzvá, feliz é ele pois sentenciou a si mesmo, etc., ao lado do mérito”. Esse é o significado de “Grande é o aprendizado que leva à ação”, ou seja, um ato sem razão, chamado de “acima da razão”.

 

 

23. Vós que amais ao Eterno, repudiai o mal

(Ouvi em 17 de Sivan, Tav-Reish-Tzadi-Aleph, 2 de junho de 1931)

 

No versículo “Vós que amais ao Eterno, repudiai o mal; Ele preserva as almas de Seus fiéis e os salva das mãos dos malévolos” (Salmos 97:10), ele interpreta que amar o Criador e desejar a recompensa da Dvekut (adesão) não é o suficiente. O indivíduo também precisa odiar o mal.

 

O ódio é expressado pelo ódio ao mal, chamado de “desejo de receber”. O indivíduo vê que não há como se livrar dele e, ao mesmo tempo, não quer aceitar a situação. Ele sente as perdas que o mal lhe causa e também enxerga a verdade -  que a pessoa não pode anular o mal por si mesma, pois ele é uma força natural oriunda do Criador, e que Ele imprimiu o desejo de receber no homem.

 

Nesse estado, o versículo afirma que o que pode ser feito é odiar o mal. E dessa maneira o Criador o protegerá desse mal, como está escrito: “Ele preserva as almas de Seus fiéis.” O que significa preservar? “E os salva das mãos dos malévolos. Nesse estado, porque existe algum contato com o Criador, por menor que seja, a pessoa já é considerada bem sucedida.

 

Na verdade, a questão do mal permanece e serve como Achoraim (de costas) para o Partzuf. Mas isso ocorre apenas por meio da correção do indivíduo: ao odiar sinceramente o mal, ele é corrigido em forma de Achoraim. Se o indivíduo quer obter Dvekut (adesão) com o Criador, então o ódio vem porque há uma conduta entre amigos: se duas pessoas percebem que cada uma delas odeia o que o seu amigo odeia, e ama o que e quem o seu amigo ama, elas entram em um vínculo perpétuo, como uma estaca que nunca cairá.

 

Portanto, já que o Criador ama doar, os inferiores também devem se adaptar para desejar apenas doar. O Criador também odeia ser um receptor, pois Ele é completamente inteiro e não precisa de nada. Assim, o homem também deve odiar a questão da recepção para si mesmo. Do que foi dito acima, conclui-se que o indivíduo deve odiar amargamente o desejo de receber. E por meio desse ódio, o indivíduo o corrige e se rende sob a Kedusha (santidade).

 

 

24. Ele os salva das mãos dos malévolos

(Ouvi em 5 de Av, Tav-Shin-Dalet, 25 de julho de 1944, na conclusão do Zohar)

 

Está escrito: “Vós que amais ao Eterno, repudiai o mal; Ele preserva as almas de Seus fiéis e os salva das mãos dos malévolos” (Salmos 97:10). Ele pergunta: “Qual é a conexão entre ‘odiar o mal’ e ‘Ele os salva das mãos dos malévolos’?”

 

Para entender isso, devemos primeiro trazer as palavras dos nossos sábios: “O mundo foi criado ou para a completa justiça ou para o completo mal.” Ele pergunta: “Vale a pena criar um mundo para o completo mal, mas não vale a pena criá-lo para a justiça incompleta?”

 

Ele responde que a partir da perspectiva do Criador não há nada no mundo que tenha dois significados. Isso só ocorre na perspectiva dos receptores, de acordo com as suas sensações. Isso significa que os receptores ou sentem um gosto bom ou sentem um gosto terrivelmente amargo no mundo, já que cada uma de suas ações é calculada previamente, pois não há ato feito sem propósito. Os indivíduos ou querem melhorar o seu presente estado ou querem prejudicar alguém. Mas coisas sem propósito não são dignas de um operador com propósito.

 

Portanto, aqueles que aceitam os modos de conduta do Criador no mundo o determinam como bom ou mal dependendo de como se sentem: ou bem ou mal. Por isso, “Vós que amais ao Eterno”, os que entendem que o propósito da criação é fazer o bem às Suas criaturas, para que venham a sentir isso, eles entendem que o bem é recebido precisamente através da Dvekut (adesão) e da aproximação com o Criador.

 

Assim, se eles sentem qualquer distância do Criador, chamam isso de “mal”. Nesse estado, o indivíduo se considera mau, pois, na verdade, não existe um estado intermediário. Em outras palavras, ou o indivíduo sente a existência do Criador e a Sua orientação, ou ele imagina que “a Terra é entregue às mãos dos ímpios”.

 

Já que o indivíduo sente sobre si mesmo que é um homem da verdade, ou seja, que não pode enganar a si mesmo e dizer que sente quando não sente, por isso, ele imediatamente começa a chorar ao Criador para que tenha misericórdia dele e remova a autoridade da Sitra Achra (outro lado) e de todos os pensamentos invasivos sobre ele. E porque ele está chorando honestamente, o Criador ouve sua oração. (Talvez seja esse o significado de “O Eterno está sempre próximo dos que O invocam com sinceridade”). Nesse momento “Ele os salva das mãos dos malévolos.”

 

Enquanto o indivíduo não sentir o seu verdadeiro self, ou seja, a medida do seu próprio mal em um nível suficiente para acordá-lo a fazê-lo chorar ao Criador devido à aflição que sente por reconhecer o mal, ele permanece indigno de redenção, pois ainda não revelou o Kli (vaso) para ouvir a oração, chamado de “Do fundo do coração”. Isso ocorre porque o indivíduo ainda pensa que há algum bem nele, então ele não desce até o fundo do coração. No fundo do coração, ele acha que ainda tem algum bem e não percebe com que Amor e Temor se relaciona com a Torá e as Mitzvot (mandamentos). É por isso que ele não enxerga a verdade.

 

 

 

25. As coisas que vêm do coração

 

(Ouvi em 5 de Av, Tav-Shin-Dalet, 25 de julho de 1944, durante uma refeição comemorativa pela conclusão do Zohar)

        

 

Em relação às coisas que vêm do coração, entre no coração. Assim, por que vemos que um indivíduo ainda cai desse nível, mesmo se as coisas já entraram no coração?

 

Quando o indivíduo ouve as palavras da Torá de seu professor, ele imediatamente concorda com o professor e decide observar as palavras com coração e alma. Mas, depois, quando sai para o mundo, ele vê, cobiça e é infectado pela multidão de desejos que vagam pelo mundo. Então, ele e sua mente, seu coração e sua vontade são anulados diante da maioria.

 

Enquanto o indivíduo não tem o poder de sentenciar o mundo para o lado do mérito, o mundo o subjuga, ele se mistura com os desejos da multidão e é levado como uma ovelha para o abate. Ele não tem escolha. É compelido a pensar, querer, desejar e a exigir tudo o que a maioria demanda. Então, ele escolhe seus pensamentos estrangeiros e suas luxúrias e desejos repugnantes, os quais são estranhos à Torá. Nesse estado, ele não tem força para subjugar a maioria.

 

Ao invés disso, há então apenas um conselho: Apegar-se ao seu professor e aos livros. Isso é chamado “Da boca dos livros e da boca dos autores”. Apenas ao se apegar a eles o indivíduo pode mudar a sua mente - e isso será para melhor. No entanto, argumentos espertos não vão ajudá-lo a mudar a sua mente, mas apenas o remédio da Dvekut (adesão), pois essa é uma cura maravilhosa, já que a Dvekut o reforma.

 

Apenas enquanto o indivíduo está dentro da Kedushá (Santidade) ele pode argumentar consigo mesmo e se entregar a polêmicas inteligentes, de modo que a mente necessite que ele ande sempre no caminho do Criador. Porém, o indivíduo deve saber e gravar na sua mente que, mesmo quando ele é sábio e está certo de que já pode usar sua inteligência para derrotar a Sitra Achra (outro lado), tudo isso é inútil e que essa não é uma arma capaz de vencer a guerra contra a inclinação ao mal, pois todos esses conceitos não passam de uma consequência alcançada após a já mencionada Dvekut.

 

Em outras palavras, todos os conceitos sobre os quais ele constrói sua obra, dizendo que o indivíduo deve sempre seguir no caminho do Criador, são fundados na Dvekut com o professor. Portanto, se ele perde essa fundação, todos os conceitos se tornam impotentes, pois eles já não têm a fundação.

 

Dessa forma, o indivíduo não deve confiar na própria mente, mas deve aderir mais uma vez aos livros e aos autores, pois apenas isso pode ajudá-lo, e não o conhecimento ou o intelecto, visto que não há vitalidade neles.

 

 

26. O futuro de uma pessoa depende e está atado à gratidão pelo passado

(Ouvi em Tav-Shin-Gimel, 1942-1943)

 

 

Está escrito: “Das alturas, o Eterno se apercebe dos humildes” (Salmos 138:6), de modo que apenas os humildes podem ver a exaltação. As letras de Yakar (precioso) são as letras de Yakir (saberá). Isso significa que um indivíduo conhece a exaltação de algo na medida em que aquilo é precioso para ele. O indivíduo se impressiona de acordo com a importância da coisa. A impressão o leva a uma sensação no coração e a alegria nasce nele nessa medida, de acordo com o grau de reconhecimento sobre a importância.

 

Portanto, se o indivíduo conhece a sua humildade, se sabe que não é mais privilegiado que seus contemporaneous, ou seja, ele vê que há muitas pessoas no mundo às quais não lhes foi dada a força para fazer o trabalho sagrado mesmo da maneira mais simples, mesmo sem a intenção e em Lo Lishmá (não em Seu nome), mesmo em Lo Lishmá de Lo Lishmá, e mesmo em preparação para a preparação da vestimenta da Kedushá (santidade), enquanto a ele lhe foi transmitido o desejo e o pensamento para, ao menos ocasionalmente, fazer o trabalho sagrado, mesmo da maneira mais simples possível, se ele é capaz de apreciar a importância disso, de acordo com a importância que o indivíduo atribui ao trabalho sagrado, nessa medida ele deve louvar e agradecer por isso.

 

É assim porque é verdade que não conseguimos apreciar a importância de sermos capazes de, às vezes, observar as Mitzvot (mandamentos) do Criador, mesmo sem nenhuma intenção. Nesse estado, o indivíduo vem a sentir a euforia e a alegria no coração.

 

O louvor e a gratidão do indivíduo expandem os seus sentimentos, e ele se torna eufórico por cada ponto no trabalho sagrado, ele sabe a Quem ele serve, e portanto se eleva ainda mais. Esse é o significado do que está escrito: “Eu agradeço pela graça que Você fez comigo”, ou seja, pelo passado. E assim o indivíduo pode dizer, e diz, de forma confiante: “E pela graça que Você está destinado a fazer comigo.”

 

27. O que é Das alturas, o Eterno se apercebe dos humildes”?

 

(Ouvi no Shabat Terumá, Tav-Shin-Tet, 5 de março de 1949, em Tel-Aviv)

 

 

Das alturas, o Eterno se apercebe dos humildes”(Salmos 138:6). Como pode haver equivalência com o Criador quando o homem é o receptor e o Criador é o Doador? O verso fala sobre isso: Das alturas, o Eterno se apercebe dos humildes”.

 

Se o indivíduo se anula, então não tem autoridade que o separe do Criador. Nesse estado, ele é “apercebido”, ou seja, lhe é transmitido o Mochin de Chochmá, “e adverte os arrogantes”. Contudo, alguém com orgulho, que tem sua própria autoridade, é distanciado, pois lhe falta a equivalência.

 

A anulação não é considerada se abaixar diante de outros. Isso é humildade, quando o indivíduo sente a completude em seu trabalho. Ao contrário, a anulação significa que o mundo o despreza. Considera-se anulação precisamente quando as pessoas o desprezam, pois então o indivíduo não sente nenhuma completude, e é uma lei que o que os outros pensam influencia uma pessoa.

 

Portanto, se as pessoas o respeitam, ele se sente completo; e aqueles que são desprezados pelas pessoas se sentem inferiores.

 

 

 

 

28. Não morrerei! Viverei.

(Ouvi em Tav-Shin-Gimel, 1942-1943)

 

 

No verso “Não morrerei! Viverei” (Salmos 118:17), a fim de que o indivíduo alcance a verdade, deve haver uma sensação de que se ele não obtém a verdade sente-se como se estivesse morto, pois ele quer viver. Isso significa que o verso “Não morrerei! Viverei” é dito sobre aquele que quer obter a verdade.

 

Esse é o significado de “Jonah Ben (filho de) Amitai”. Jonah vem da palavra (hebraica) Honaa (fraude) e Ben (filho) vem da palavra Mevin (entende). O indivíduo entende porque sempre examina a situação em que está e vê que enganou a si mesmo e que não está andando no caminho da verdade.

 

Verdade significa doar, ou seja, Lishmá (em Seu nome). E o oposto disso é fraude e engano, ou seja, apenas receber, que é Lo Lishmá (não em Seu nome). Assim, depois é transmitido ao indivíduo “Amitai”, ou seja, Emet (verdade).

 

Esse é o significado de “teus olhos são como pombas”. Eynaim (olhos) de Kedushá (santidade), chamados de Eynaim da Shechiná (Divindade) são Yonim (pombas). Eles nos enganam e pensamos que ela não tem Eynaim, como está escrito no Zohar: “Uma bela donzela que não tem olhos.”

 

A verdade é que um indivíduo que é recompensado com a verdade vê que ela tem olhos. Esse é o significado de “uma noiva cujos olhos são belos, seu corpo inteiro não precisa de escrutínio”.

 

 

 

29. Quando pensamentos vêm a uma pessoa

(Ouvi em Tav-Shin-Gimel 1942-1943)

 

 “O Senhor é a tua sombra” (Salmos 121:5). Se o indivíduo pensa, o Criador também pensa nele. E quando o Criador pensa, isso é chamado de “O monte do Eterno”. Esse é o significado de “Quem subirá ao monte do Eterno? E quem estará no Seu Santo Lugar? Aquele cujas mãos são limpas” (Salmos 24:3-4). Este é o significado de “as mãos de Moisés ficaram pesadas” (Êxodo 17:12), “e cujo coração é puro” (Salmos 24:4), que é o coração.

 

 

30. O mais importante é querer apenas doar

(Ouvi depois do Shabat Vayikra, Tav-Shin-Gimel, 20 de março de 1943)

 

O mais importante é não querer nada além de doar devido a Sua grandeza, pois qualquer recepção é um dano. É impossível sair da recepção a não ser se tomando o outro extremo, a doação.

 

A força em movimento, ou seja, a força de extensão e a força que compele ao trabalho, é apenas grandeza. O indivíduo deve pensar que, por fim, os esforços e o trabalho devem ser feitos, mas apenas por meio dessas forças ele pode produzir algum benefício e prazer. Em outras palavras, o indivíduo pode agradar um corpo limitado com seu trabalho e esforço, o qual pode ser um hóspede passageiro ou eterno, o que significa que a energia do indivíduo se mantém na eternidade.

 

É similar a uma pessoa que tem o poder de construir um país inteiro, e constrói apenas um barraco que é arruinado por um vento forte. Você vê que todos os esforços foram desperdiçados. Contudo, se o indivíduo se mantém na Kedushá (santidade), então todos os esforços se mantêm na eternidade. O indivíduo deveria tomar a base para o seu trabalho apenas a partir desse objetivo, pois todas as outras bases são falsas.

 

O poder da fé é o suficiente para que o indivíduo trabalhe na forma de doação, pois ele pode acreditar que o Criador aceita o seu trabalho, mesmo que o trabalho não seja tão importante aos seus próprios olhos. Apesar disso, o Criador aceita tudo. Se o indivíduo atribui o trabalho ao Criador, Ele acolhe e deseja todos os trabalhos, seja como forem.

 

Portanto, se o indivíduo quer usar a fé em uma forma de recepção, então a fé não é o suficiente pra ele. Isso significa que, naquele momento, ele tem dúvidas sobre a fé. A razão para isso é que a recepção não é a verdade, pois, de fato, o indivíduo não tem nada do trabalho; apenas o Criador vai ter algo a partir do seu trabalho.

 

Assim, as dúvidas do indivíduo são verdadeiras. Em outras palavras, esses pensamentos invasivos que surgem na sua mente são argumentos verdadeiros. Mas se o indivíduo quer usar a fé para andar nos caminhos da doação, ele certamente não terá dúvidas sobre a fé. Se ele tem dúvidas, deve saber que provavelmente não quer andar num modo de doação, pois, para a doação a fé é o suficiente.

 

 

31. Qualquer um que agrade o espírito do povo

(Eu ouvi)

 

Qualquer um que agrade o espírito do povo. Ele perguntou: “Mas descobrimos que os mais grandiosos e renomados estavam em desacordo. Assim, o espírito do povo não se agrada com ele.”

 

Ele respondeu que eles não disseram “todo o povo”, mas “o espírito do povo”. Isso significa que apenas os corpos são disputados, pois cada um trabalha com o desejo de receber.

        

No entanto, “o espírito do povo” já é espiritualidade, e “agrada”, pois o justo que estende a abundância, estende-a por toda a geração. Eles não conseguem alcançar e sentir a abundância estendida pelo justo apenas porque ainda não vestiram seu espírito.

 

 

32. Um lote é um despertar de cima

(Ouvi em 4 de Terumá, Tav-Shin-Gimel, 10 de fevereiro de 1943)

 

 

Um lote é um despertar de cima, quando o inferior não ajuda em nada. Esse é o significado de “lançou um pur”, “um sorteio” (Ester 3:7). Haman estava reclamando e disse “Um povo que não cumpre as (leis) do rei” (Ester 3:8).

 

Isso significa que a escravidão começa para o trabalhador em um estado de Lo Lishmá (não em Seu nome), de auto-recepção. Por isso, a pergunta: Por que lhes foi dada a Torá? Porque, posteriormente, lhes é concedida Lishmá (em Seu nome) e eles recebem as Luzes e as conquistas superiores.

 

Então chega o queixoso e pergunta: “Por que lhes são dadas essas coisas sublimes pelas quais eles não trabalharam ou não esperaram, se cada um dos seus pensamentos e objetivos foi apenas sobre questões relacionadas às suas próprias necessidades, chamadas Lo Lishmá?” Esse é o significado de “Ainda que prepare (o iníquo) tantas roupas (…), elas serão vestidas pelos justos” (Jó 27:16-17).

 

Isso significa que, previamente, ele estava trabalhando em um estado perverso, Lo Lishmá, apenas para receber. Depois, ele foi recompensado com Lishmá, ou seja, toda a servidão entra no domínio da Kedushá (santidade), em que tudo é para doação.

 

Esse é o significado de “Elas serão vestidas pelos justos”.

 

Esse é o significado de Purim, como em Yom Kippurim (Dia do Perdão). Purim é um despertar de cima, e Yom Kippurim é um despertar de baixo, ou seja, através do arrependimento. No entanto, aí também há um despertar de cima, correspondente às sortes que ali estavam, “Uma para o Eterno e a outra para Azazel” (Levítico 16:8), e o Criador é quem faz o escrutínio.

 

 

33. As sortes em Yom Kippurim e com Haman

 

(Ouvi em 6 de Terumá, Tav-Shin-Gimel, 2 de fevereiro de 1943)

 

 

Está escrito: “E Aarão lançará sortes sobre os dois cabritos, uma para o Eterno e outra para Azazel” (Levítico, 16:8). Em relação a Haman, está escrito:  “se lançou Pur, isto é, um sorteio” (Ester, 3:7).

 

Uma sorte se aplica onde não é possível haver escrutínio, pois a mente não alcança onde pode separar o que é bom e o que é mau. Neste estado, um pur é lançado, quando se conta não com a mente, mas com o que o sorteio. Segue-se que, quando se usa a palavra “sorte”, ela vem para nos dizer que agora estamos atuando “acima da razão”.

 

Sobre o sétimo dia de Adar (o sexto mês do calendário hebraico), no qual Moisés nasceu e no qual Moisés morreu, devemos entender o que Adar significa. Ele vem da palavra Aderet (manto), como está escrito sobre Elias: “e lançou seu manto sobre ele” (Reis 1 19:19). Aderet vem da palavras Aderet Se’ar (cabelo), que são Se’arot (cabelos) e Dinim (julgamentos), os quais são pensamentos invasivos e ideias no trabalho que afastam o indivíduo do Criador.

 

Aqui há uma questão de se superar esses pensamentos. Apesar de o indivíduo ver muitas contradições na Sua orientação, ele ainda deve superá-las por meio da fé acima da razão e dizer que são direcionamentos à maneira de “O Bom que faz o Bem”. Esse é o significado do que está escrito sobre Moisés, “e Moisés escondeu sua face, pois temia olhar”. Significa que ele viu todas as contradições e segurou-as com esforço pelo poder da fé acima da razão. É como dizem os nossos sábios: “Em troca de “e Moisés escondeu sua face, pois teve medo de olhar”, ele foi recompensado com “e a imagem do Senhor ele contempla”. Esse é o significado do verso: “Quem é cego como o meu servo (que não quer ver), ou surdo como o mensageiro (que não quer escutar)?” (Isaías 42:19).

 

É sabido que Eynaim (olhos) são chamados de “razão”, “mente”, com o sentido de “olhos da mente”. Isso é assim porque com algo que percebemos na mente dizemos “mas vemos que a mente e a razão requerem que digamos isso”.

 

Assim, o indivíduo que vai acima da razão é como alguém que não tem olhos, e é chamado de “cego”, isto é, finge ser cego. Da mesma forma, alguém que não quer ouvir o que os espiões lhe dizem e finge ser surdo é chamado de “surdo”. Esse é o significado de “Quem é cego como o meu servo (que não quer ver), ou surdo como o mensageiro (que não quer escutar)?”

 

No entanto, quando o indivíduo diz “eles têm olhos, mas não vêem; eles têm ouvidos, mas não ouvem”, significa que ele não quer obedecer o que a razão afirma e o que os ouvidos escutam, como está escrito sobre Josué, filho de Nun, que algo ruim nunca entrava nos seus ouvidos. Este é o significado de Aderet Se’ar, pois ele tinha muitas contradições e muitos julgamentos. Cada contradição é chamada Se’ar (cabelo), e sob cada Se’ar há um buraco.

 

Isso significa que o indivíduo faz um abaulamento na cabeça, pois os pensamentos invasivos fissuram e perfuram a sua cabeça. Quando ele tem muitos pensamentos invasivos considera-se que tem muitos Se’arot, e isso é chamado Aderet Se’ar.

 

Esse é o significado do que está escrito sobre Eliseu: “E partiu de lá e encontrou a Elishá ben Shafat, que estava arando junto com 12 parelhas de bois diante dele, e ele estava com a 12ª; e Elias passou por ele e lançou seu manto sobre ele” (Reis 1, 19:19). (Junta significa pares de Bakar [bois], pois ele aravam com pares de bois amarrados, isso é chamado de uma junta de bois.) Bakar significa Bikoret (crítica), e doze se refere à completude do nível (como doze meses ou doze horas).

 

Isto sugere que o indivíduo já tem todos os discernimentos de Se’arot que podem existir no mundo. A Aderet Se’ar já está formada. Porém, com Eliseu isso aconteceu no format de “manhã de José”, como está escrito: “A manhã clareou e os homens foram despachados, eles e os seus jumentos” (Gênesis 44:3).

 

Isso significa que o indivíduo já foi recompensado com a luz que repousa sobre essas contradições, pois através das contradições, chamadas de crítica, ele atrai luz para elas quando as quer dominar. É como está escrito: “Aquele que vem para se purificar, será auxiliado.”

 

Porque ele já atraiu a luz sobre toda a crítica, e não tem mais nada a adicionar, pois toda a crítica se completou nele, então a crítica e as contradições nele se acabam em si mesmas. Isso segue a regra de que nenhum ato é em vão, pois não há operador sem um propósito.

 

De fato, devemos saber que o que aparece para o indivíduo como coisas que contradizem a orientação do “Bom que faz o Bem” existe apenas para obrigá-lo a atrair a luz superior sobre as contradições quando quer prevalecer sobre elas. Caso contrário, o indivíduo não consegue prevalecer. Isso é chamado de “a exaltação do Criador”, a qual o indivíduo amplia quando tem as contradições, chamadas Dinim (Julgamentos).

 

Isso significa que as contradições podem ser anuladas se o indivíduo quiser superá-las, mas apenas se ampliar a exaltação do Criador. Percebe-se que esses Dinim causam a atração da exaltação do Criador. Esse é o significado do que está escrito: “e lançou seu manto sobre ele.”

 

Significa que, posteriormente, ele atribuiu todo o manto de cabelo a Ele, ao Criador. Ou seja, agora ele viu que o Criador lhe deu esse manto deliberadamente, de forma a atrair a luz superior sobre eles.

 

Contudo, o indivíduo só consegue ver isso mais tarde, depois de ter-lhe sido concedida a luz que repousa sobre essas contradições e Dinim que ele havia tido no início. É assim porque ele vê que sem o cabelo, isto é, os descensos, não haveria um lugar para a luz superior existir, pois não há luz sem um Kli (vaso).

 

Por essa razão, ele vê que toda a exaltação do Criador que ele obteve foi devido às Se’arot e às contradições que teve. Esse é o significado de “o Eterno, que é poderoso nas alturas!” (Salmos 93:4). Isso significa que a exaltação do Criador é concedida por meio do Aderet, e esse é o significado de “exaltações ao Eterno provêm de seus lábios” (Salmos 149:6).

 

Assim, as falhas no trabalho do Criador fazem com que ele se eleve, pois sem um empurrão o indivíduo é ocioso demais para fazer um movimento e concorda em permanecer no estado em que está. Mas se o indivíduo desce a um nível inferior ao que ele entende, isso lhe dá força para superar, pois ele não pode ficar em um estado tão ruim, pois não consegue concordar em permanecer assim, no estado para o qual desceu.

 

Por essa razão, o indivíduo deve sempre prevalecer e emergir do estado de descenso. Nesse estado, ele deve atrair para si mesmo a exaltação do Criador. Isso faz com que ele amplie forças superiores de cima, ou ele permanece em humildade absoluta. Segue-se que, por meio dos Se’arot, o indivíduo gradualmente descobre a exaltação do Criador, até que encontra os nomes do Criador, chamados de “treze atributos da Misericórdia”. Esse é o significado de “a maior servirá à menor” (Gênesis 25:23), e “serão vestidas pelos justos” (Jó 27:17), e também “e a teu irmão servirás” (Gênesis 27:40).

 

Isso é toda a escravidão, ou seja, as contradições que existiam e que pareciam obstruir o trabalho sagrado, e que estavam trabalhando contra a Kedushá (santidade). Porém, quando recebem a luz do Criador, a qual é colocada sobre essas contradições, vemos o contrário, que elas estavam servindo à Kedushá. Isto é, por meio delas, havia um um lugar para a Kedushá se cobrir com as suas vestimentas. Isso é chamado “ainda que prepare (o iníquo) tantas roupas (…), elas serão vestidas pelos justos”, pois as contradições deram os Kelim (vasos) e o lugar para a Kedushá.

 

Agora podemos interpretar o que nossos sábios escreveram (Higigah 15a): “Recompensado: um justo. Ele toma sua porção e a porção do seu amigo no céu. Condenado: um perverso. Ele toma a sua porção e a porção do seu amigo no inferno.” Isso significa que o indivíduo toma os Dinim e os pensamentos invasivos do seu amigo, o que devemos interpretar sobre o mundo inteiro. É por isso que o mundo foi criado repleto de tantas pessoas, cada uma com seus próprios pensamentos e opiniões, e todos estão presentes no mesmo mundo.

 

É assim de propósito, para que cada um seja incorporado na totalidade de pensamentos de seu amigo. Portanto, quando o indivíduo se arrepende, essa Hitkalelut (mistura/incorporação) gera um benefício.

 

É assim porque quando o indivíduo quer se arrepender ele deve sentenciar a si mesmo e ao mundo inteiro pelo lado do mérito, já que ele próprio está incorporado em todas as noções e pensamentos invasivos do mundo inteiro. Esse é o significado de “Condenado: um perverso. Ele toma a sua porção e a porção do seu amigo no inferno”.

 

Segue-se que quando o indivíduo ainda era perverso, chamado de “condenado”, a sua porção própria era de Se’arot, contradições, e de pensamentos invasivos. Mas ele também estava misturado à porção de seu amigo no inferno, ou seja, ele foi incorporado em todas as visões de todas as pessoas no mundo.

 

Portanto, quando depois ele se torna “Recompensado: um justo”, depois de se arrepender, ele sentencia a si mesmo e ao mundo inteiro “pelo lado do mérito, ele toma sua porção e a porção do seu amigo no céu. Isso é porque ele também deve atrair a luz superior para os pensamentos invasivos de todas as pessoas no mundo, já que está misturado a eles, e deve sentenciá-los pelo lado do mérito.

 

Isso ocorre precisamente pela extensão da luz superior sobre esses Dinim do público em geral. Apesar de eles próprios não poderem receber a luz que o indivíduo atraiu em nome deles, pois não têm Kelim prontos para isso, ele a atraiu para eles também.

 

Contudo, devemos entender isso de acordo com a famosa regra sobre quem causa a extensão da luz em níveis superiores. Dizem que na medida em que o indivíduo induz a luz no nível de cima ele recebe também dessas luzes, pois ele foi a causa. Da mesma forma, também os perversos deveriam receber uma parte das luzes que induziram nos justos.

 

Para entender isso, devemos apresentar a questão dos Goralot (sinos). Havia dois sinos, como está escrito: “um para o Eterno e a outro para Azazel” (Levítico, 16:8).” É sabido que um sino é uma questão acima da razão. Por isso, quando um sino está acima da razão, faz com que o outro seja para Azazel.

 

Esse é o significado de “a tempestade que se prepara, pairará sobre a cabeça dos iníquos”. É assim porque, por meio dessas contradições, o indivíduo estendeu a luz superior. Vê-se que, dessa maneira, a exaltação do Criador aumenta, e para os iníquos isso é um recuo, pois todo o desejo deles é apenas dentro da razão. Quando a luz acima da razão aumenta, eles murcham e são anulados.

 

Por isso, tudo o que os iníquos têm é a sua ajuda aos justos para estender a exaltação do Criador, e então eles são anulados. Isso é chamado “Recompensado: ele toma sua porção e a porção do seu amigo no céu.” (Isso se refere somente a quem aceitou fazer a correção para criar a realidade da aparição da luz por meio de boas ações, para criar a revelação da luz que se constrói com a semelhança de forma com a Luz. Assim, esse ato se mantém em Kedushá e recebe aquilo que se produz acima para fazer-se um lugar para a expansão da Luz. Nesse estado o inferior recebe aquilo que se origina so Superior. Sem dúvida, as contradições e os Dinim são cancelados, pois são substituídos pela exaltação ao Criador, a qual apenas aparece acima da razão, enquanto eles querem que apareça especificamente nos Kelim dentro da razão. É por isso que são anulados. É assim que podemos interpretar).

 

No entanto, também permanece a Luz cuja extração e atração havia sido causada pela massa de publico para regar a grandeza do Criador acima dos pensamentos invasivos. Quando estiverem aptos para receber o farão de acordo com o grau de incidência que cada um consegue atrair da Luz Superior sobre si mesmo.   

 

Esse é o significado de “um caminho que atravessa a divisão do cabelo”, trazido no Zohar (parte 15, e no Sulam, comentário, item 33, p. 56), o qual faz a distinção entre direita e esquerda. São os dois sinos que havia em Yom Kippurim, arrependimento a partir do medo. Além disso, havia um sino em Purim, o qual é arrependimento a partir do amor.

 

É assim porque aquele momento era anterior à construção do Templo, e então eles precisavam do arrependimento a partir do amor. Mas, primeiro, precisava haver uma necessidade para que se arrependessem. Essa necessidade causa Dinim e Se’arot. Esse é o significado de que Haman recebeu autoridade de cima, por meio de “Eu coloco o governo sobre você, pois ele vai governar sobre você”.

 

É por isso que foi escrito que Haman “lançou um pur, ou seja, um dado” no mês de Adar, o décimo segundo, como está escrito “os doze bois” - escrito sobre Eliseu. Está escrito “duas colunas, seis em uma coluna”, que é o mês de Adar, como em Aderet Se’ar, os quais são os maiores Dinim.

 

Por meio disso, Haman sabia que iria derrotar Israel, pois Moisés morreu no mês de Adar. Contudo, ele não sabia que Moisés nasceu nesse mês, como está em “e eles viram que era bom”. É assim porque quando um indivíduo se fortalece na situação mais difícil lhes são concedidas as maiores luzes, chamadas “a exaltação do Criador”.

 

Esse é o significado de “linho finamente torcido”. Em outras palavras, porque lhes foi concedido “um caminho que atravessa a divisão do cabelo”, “duas colunas, seis em uma coluna”, então “torcido, a partir das palavras “um estrangeiro removido”. Significa que o estrangeiro, a Sitra Achra, é anulada e retirada, pois ele já completou a sua tarefa.

        

Vê-se que os Dinim e as contradições vieram apenas para mostrar a exaltação do Criador. Assim, com Jacó, que era um homem suave, sem Se’arot, foi impossível revelar a exaltação do Criador, pois ele não tinha causa ou necessidade de estendê-las. Por essa razão, Jacó não podia receber as bênçãos de Isaac, já que ele não tinha Kelim (vasos), e não há luz sem Kli (vaso). É por isso que Rebeca o aconselhou a pegar as roupas de Esaú.

 

E esse é o significado de “e sua mão agarrava o calcanhar de Esaú”. Isso significa que, apesar de ele não nenhum cabelo, ele o pegou de Esaú. É isso que Isaac viu e disse: “A voz é a voz de Jacó, mas as mãos são as mãos de Esaú.” Em outras palavras, Isaac gostou da correção que Jacó fez e por meio dela foram feitos os seus Kelim para as bênçãos.

 

Essa é a razão pela qual precisamos de um mundo tão grande, com tantas pessoas, para que cada um seja incorporado no seu amigo. Segue-se que cada indivíduo é incorporado nos pensamentos e desejos do mundo inteiro.

 

É por isso que uma pessoa é chamada de “um pequeno mundo” em si e de si mesma, pela razão acima. Esse também é o significado de “não recompensados”. Ou seja, quando o indivíduo ainda não foi recompensado, “ele toma a sua porção e a porção do seu amigo no inferno”. Isso significa que ele está incorporado no inferno com o seu amigo.

 

Além disso, quando o indivíduo já corrigiu a sua parte no inferno, se ele não corrigiu a parte do seu amigo, ou seja, se não corrigiu a sua parte que está incorporada com o mundo, ele ainda não é considerado inteiro.

 

Agora entendemos que, apesar de Jacó em si ser suave, sem Se’arot, ele ainda agarrou o calcanhar de Esaú. Isso significa que ele toma as Se’arot ao se incorporar com Esaú.

 

Consequentemente, quando ele é recompensado com a correção deles, ele toma a parte do seu amigo no Céu, referente à medida da exaltação da luz superior que ele havia estendido sobre as Se’arot do público em geral. Ele é recompensado com isso, apesar de que o público em geral ainda não pode receber, pois não tem qualificação para isso.  

 

Agora podemos entender a discussão de Jacó e Esaú. Esaú disse “eu tenho o suficiente”, e Jacó disse “eu tenho tudo”, significando “duas colunas, seis em uma coluna”, significando dentro da razão e acima da razão, que são o desejo de receber e a luz da Dvekut (adesão).

 

Esaú disse eu tenho o suficiente”, que é uma luz que vem nos vasos de recepção, dentro da razão. Jacó disse que tinha tudo, significando dois discernimentos. Em outras palavras, ele estava usando os vasos de recepção e também tinha a luz da Dvekut.

 

Esse é o significado da multidão misturada que fez o bezerro e disse “esse é o seu deus, ó Israel”, ou seja, Eleh (esses) sem o Mi (quem), significando que eles queriam se conectar apenas a Eleh e não ao Mi. Isso significa que eles não queriam ambos, Mi e Eleh, os quais juntos formam o nome Elohim (Deus), significando o suficiente e tudo. Isso eles não queriam.

 

Esse é o significado dos Cherubim, que são Kravia e Patia. Um Cherub em uma ponta, que é o discernimento do suficiente, e um Cherub na outra ponta, que é o discernimento de tudo. Esse também é o significado de “do meio dos dois querubins, assim lhe falava”.

 

Mas como pode ser? Afinal, eles são duas pontas, opostos um do outro. Ainda assim, ele precisou fazer um Patia (tolo) e, então, receber. E isso é chamado “acima da razão”: o indivíduo faz o que lhe é dito, apensar de não entender nada do que lhe é dito.

 

Acerca do “tudo”, chamado “acima da razão”, o indivíduo deveria tentar trabalhar com alegria, pois através da alegria aparece a verdadeira medida de tudo. Se o indivíduo não tem alegria, então deveria sentir muito por isso, já que é o lugar primário do trabalho, para descobrir a alegria de trabalhar acima da razão.

 

Portanto, quando o indivíduo não tem alegria a partir do seu trabalho ele deveria se afligir por isso. Esse é o significado do que está escrito: “aquele cujo coração o impelir”, o que significa ficar doente e atormentado por não ter alegria a partir desse trabalho.

 

Esse é o significado de “em troca de não teres servido ao Eterno, teu Deus, com alegria pela abundância de tudo”. Ao contrário, tu deixaste o tudo e pegaste apenas o suficiente. Portanto, no final, estarás muito abaixo e sem nada, ou seja, perderás o suficiente também. Contudo, na medida em que o indivíduo tem o “tudo”, e se alegra, nessa medida lhe é transferido o “suficiente”. 

 

Dessa forma devemos interpretar as palavras “mulheres clamando por Tammuz” (Ezequiel, 8:14). Rashi interpreta que “elas tinham idolatria, que ele tinha chumbo dentro dos olhos, e elas o estavam aquecendo para derreter o chumbo de dentro dos olhos”.

 

Devemos interpretar a questão de chorar (clamar) no sentido de que elas não têm alegria porque há poeira nos seus olhos. Poeira é Behina Dalet, ou seja, o reino dos céus, o qual é fé acima da razão.

 

Esse discernimento tem a forma de poeira, ou seja, não tem importância. E esse trabalho tem o sabor de poeira, o que significa que é tão importante quanto poeira. A alegoria sobre as mulheres clamando por Tammuz é que elas queriam essa idolatria para que, através do calor, a poeira saísse do chumbo.

 

Isso sugere que elas estão chorando sobre o trabalho que lhes foi dado para acreditar acima da razão que a Sua orientação é boa e faz o bem, enquanto dentro da razão elas veem apenas contradições na Sua orientação. Esse trabalho é o trabalho da Kedushá, e elas querem remover a poeira, ou seja, o trabalho acima da razão, chamado “poeira”. No entanto, os seus olhos, chamados “visão”, implicam ver a Sua orientação, sendo dentro da razão; isso é chamado “idolatria”.

 

Isso se assemelha a uma pessoa cujo ofício é fazer potes e vasos a partir da terra, cujo trabalho é fazer vasilhas de barro. A ordem é fazer, primeiro, bolas redondas de barro, e depois cortar e fazer furos nas bolas. E quando o filho jovem vê o que seu pai está fazendo, ele chora: “Pai, por que você está arruinando as bolas?” O filho não entende o que o objetivo principal do pai são os furos, pois apenas os furos podem se tornar receptáculos, e o filho quer fechar os buracos que o pai fez nas bolas.

 

Então aqui está. A poeira dentro dos olhos, que bloqueia a visão para que, para onde quer que ele olhe, encontre contradições da Providência, esse é o Kli inteiro pelo qual ele pode descobrir as faíscas de amor incondicional, chamado “a alegria da Mitzva”. É dito sobre isso: “Se o Criador não o ajuda, ele não consegue superar.”

 

Isso significa que se o Criador não lhe houvesse dado esses pensamentos, ele seria incapaz de receber qualquer ascensão.

 

 

 

 

 

34. O lucro da terra

 

É sabido que nada se manifesta sob a forma verdadeira, mas somente através do seu oposto. “Sempre que a Luz prevaleça sobre a escuridão”. Isto implica que tudo aponta para outra coisa, e que através do seu contrário se pode perceber a existência do seu oposto.

 

Portanto, é impossível alcançar alguma coisa com plena claridade, se o seu oposto está ausente. Por exemplo: é impossível estimar e dizer que algo seja bom, se falta o seu contrário, que aponta para o mau. O mesmo ocorre com as noções de doce e amargo, amor e ódio, fome e saciedade, sede e conformidade, adesão e separação.

 

Para ser recompensado com o grau de “odiar a separação”, primeiro deve-se saber o que esta significa; ou seja, do que se está separado; e então poderá dizer que se deseja solucionar essa separação. Em outras palavras, deve-se analisar do que e de quem a pessoa se encontra separada. Depois disto, pode-se iniciar o conserto e tratar de se conectar àquilo de que se separou. Por exemplo, se a pessoa entendeu que se beneficiaria da união com Ele, então poderia assumir e saber o que é que perde ao permanecer separado Dele.

 

O lucro e o prejuízo se medem de acordo com o prazer e o sofrimento. A pessoa se protege daquilo que lhe causa sofrimento; ela o detesta. A medida da distância depende da medida do sofrimento, já que escapar do sofrimento é uma condição da natureza humana. Deste modo, um depende do outro; ou seja, a pessoa se esforçará e executará todo o tipo de ação para proteger-se do sofrimento, dependendo do nível de dor que sinta. Em outras palavras, os tormentos produzem ódio a aquilo que o produz, e, nesse mesmo grau, a pessoa se manterá a margem dele.

 

Disto se depreende que se deve saber o que é a equivalência de forma, para poder saber o que se deve fazer para lograr a adesão que chamamos de “equivalência de forma”. Assim, sabe-se o que significam a disparidade de forma e a separação.

 

Sabemos, através dos livros e dos autores, que o Criador é benevolente. Isto quer dizer que Sua diretriz se manifesta aos inferiores como bondade; e é nisto que devemos acreditar.

 

Por isso, quando alguém analisa a forma como o mundo se porta, começa a examinar-se a si mesmo e aos demais, e a ver como todos sofrem sob a Providência, ao invés de se deleitarem, como corresponderia ao seu nome, Benevolente. Então, para essa pessoa, torna-se difícil dizer que a Providência Superior é benevolente e que distribui abundância.

 

Não obstante, devemos entender que, nesse mesmo estado, quando as pessoas não podem declarar que o Criador distribui somente o bem, são consideradas malvadas porque o sofrimento as leva a condenar o seu Criador. Somente quando descobrem que o Criador lhes dá prazer é que podem justificá-Lo. Assim, afirmaram nossos sábios ao dizer “Quem é Tzadik (justo)? Aquele que justifica o seu Criador”; ou seja, aquele que declara que o Criador dirige o mundo de forma justa.

 

Deste modo, quando a pessoa sofre, se distancia do Criador, na medida em que certamente começa a detestar Aquele que lhe provoca todos os tormentos. Em conseqüência, ali onde se deveria amar o Criador, agora existe o contrário, pois a pessoa começou a odiar o Criador.

 

O que é que se deve fazer para chegar a amar o Criador? Para isso nos foi concedida a virtude de observar a Torá e as Mitzvot (preceitos), para atrairmos a Luz que Reforma. Ali há luz que permite à pessoa perceber a severidade do estado de separação, e, pouco a pouco, na medida em que vai recebendo a luz da Torá, vai nascendo dentro dela um ódio pelo estado de separação. Começa a sentir a razão que leva uma pessoa e sua alma a estarem separados e longe do Criador.

 

Assim, deve-se crer que a Sua orientação é benevolente. Mas, estar imerso em amor próprio, provoca a disparidade de forma, porque existe uma correção conhecida como “com o propósito de outorgar”, que é a equivalência de forma. Somente deste modo podemos receber deleite e prazer. A incapacidade de receber este deleite e prazer que o Criador deseja outorgar provoca no receptor um rechaço pela situação de separação; e assim a pessoa recebe o grande benefício da equivalência de forma, e começa a aspirar por alcançar a adesão.

 

Em conseqüência, cada forma aponta para outra forma. Assim, todos os descensos, através dos quais a pessoa sente que se separou Dele, são uma oportunidade para discernir entre algo e o seu oposto. Em outras palavras, a pessoas deve aprender os benefícios dos ascensos e dos descensos. Do contrário, não poderá apreciar a importância de ser guiada desde Cima e nem poderá apreciar os ascensos que lhe são concedidos. Não poderá obter a noção de importância que poderia extrair, sentindo-se como alguém que recebe comida sem ter sentido fome.         

 

Resulta que os descensos, que representam os tempos de separação, produzem a importância da adesão que se alcança durante os ascensos; enquanto que os ascensos levam-nos a detestar os descensos que os estados de separação nos causam. Dito de outro modo, não é possível determinar quão maus são os descensos quando a gente mesmo calunia a Providência; e nem sequer percebemos a quem estamos caluniando, para chegarmos a compreender que devemos nos arrepender de tal pecado. Isto se chama caluniar o Criador.

 

Assim, podemos compreender que, precisamente quando alguém adquire ambas as formas, consegue discernir a distância entre uma e outra “como a Luz prevalece sobre a escuridão”. Somente assim a pessoa pode entender e considerar o que é a adesão, através da qual se logra o deleite e o prazer do Pensamento da Criação, que vem a ser “Seu desejo de fazer o bem às Suas criaturas”. Tudo o que aparece diante de nossos olhos não é mais que aquilo que o Criador deseja que alcancemos de determinada maneira, já que representa os caminhos por meio dos quais se alcança a Meta Final.

 

Não obstante, não é tão simples lograr a adesão com o Criador. Alcançar essa sensação de prazer e deleite requer grande esforço e trabalho. Antes disto, deve-se justificar a Providência, acreditar acima da razão que o Criador é benevolente com as criaturas, e dizer-se que “têm olhos, mas não vêem”.

 

Nossos sábios disseram: Habacuc veio e atribuiu tudo a um só, tal como está escrito: “O justo viverá por sua fé”. Isto significa que a pessoa não necessita fixar-se em detalhes, mas que deve concentrar o seu trabalho inteiro em um só ponto, uma regra, que é a fé no Criador. Precisamente por isso deve rezar, ou seja, pedir que o Criador a ajude a ser capaz de avançar de modo a ter fé por cima da razão. Há uma grande virtude na fé, pois através dela a pessoa chega a odiar o estado de separação. Por isso, a fé, indiretamente, o leva a detestar este estado.

 

Podemos ver que existe uma grande diferença entre estes três conceitos: fé, evidência e conhecimento. A respeito de algo que pode ser visto e conhecido, se a mente determina que é bom, basta essa decisão. Em outras palavras, a pessoa atua de forma como havia decidido, já que a mente lhe acompanha em cada ação, para não romper com o que ela mesma havia determinado. O que lhe permite entender em 100% a razão por ter tomado esta ou aquela decisão.

 

No entanto, a fé é uma questão de acordo potencial. Em outras palavras, ela supera a mente e afirma que certamente vale a pena trabalhar da maneira como ela necessita trabalhar: por cima da razão. Portanto, a fé por cima da razão é útil somente durante a ação, quando a pessoa acredita. Somente então se encontra disposto a esforçar-se no trabalho por cima da razão.

 

Do contrário, quando deixa de lado a fé, ainda que somente por um momento, quando se debilita por um instante, a pessoa de imediato cessa o Trabalho e a Torá. Aqui não lhe ajuda o fato de ter, recentemente, aceitado sobre si a carga da fé por cima da razão.

 

Não obstante, quando a pessoa percebe dentro de sua mente que isto é mau para si, e que põe em risco sua vida, já não necessita mais argumentos nem razões sobre por que isto representa um perigo para ela. Pelo contrário, dado que esteve totalmente consciente de que devia praticar estas coisas – sobre as quais a sua mente determina o que é bom e o que é mau, ela, agora, segue sua própria decisão.

 

Vemos a diferença que existe entre o que a mente necessita e o que somente a fé necessita e qual é a razão porque precisamos ser constantemente lembrados da forma da fé quando algo é baseado na fé. Do contrário, cairíamos do grau em que nos encontramos a um estado de maldade. Estes estados podem acontecer num mesmo dia. A pessoa pode cair de seu próprio grau várias vezes em um mesmo dia, porque é impossível que a fé por cima da razão não se detenha ao menos por um momento durante o dia.

 

Devemos saber que a razão de esquecer a fé se origina do fato de que a fé por cima da razão e da mente se contrapõe a todos os desejos do corpo. Isto se deve ao fato de que os desejos do corpo vêm, por natureza, impressos no próprio corpo, e recebem o nome de desejo de receber, seja na mente ou no coração. Assim, o corpo sempre tende para a nossa natureza. Somente ao aferrarmo-nos à fé temos o poder de sobrepor-nos aos desejos corporais, e de elevarmo-nos por cima da razão; ou seja, contra as razões do corpo.

 

Portanto, antes da aquisição dos Kelim (vasos) de outorga, que correspondem à adesão, a fé não pode ser atingida de forma permanente. Quando a fé não ilumina o vaso por dentro, se está no estado mais baixo possível; e tudo isso vem da disparidade de forma, que radica no próprio desejo de receber. Esta separação causa todas as atribulações, destrói todas as estruturas e todos os esforços que haviam sido investidos no Trabalho.

 

A pessoa descobre que no minuto em que perde a fé encontra-se num estado pior que aquele em que estava quando empreendeu o caminho do trabalho de outorgar. Assim, a pessoa chega a odiar a separação, porque imediatamente começa a sentir as atribulações em si mesmo e no mundo inteiro. Resulta-lhe difícil justificar Sua Providência a respeito das criaturas e considerá-Lo benevolente; e então sente que o mundo inteiro se escureceu frente a seus olhos, e que já não tem de onde extrair alegria.

 

 

Por isso, cada vez que a pessoa começa a corrigir o defeito de caluniar a Providência, chega a sentir aversão à separação, e através dela, alcança o amor pela adesão. Dito de outro modo, na mesma medida em que sofre durante a separação, aproxima-se da adesão com o Criador. Do mesmo modo, na mesma medida em que percebe que a escuridão é má, chega a sentir que a adesão é boa. Então sabe como valorizar quando recebe, mesmo que por um momento, certo grau de adesão, porque já havia aprendido a apreciá-la.

 

Agora podemos ver que todas as atribulações que existem no mundo não são mais que uma preparação para os verdadeiros tormentos. Estas são as aflições que se deve alcançar, ou não se poderá obter nada espiritual, já que não pode haver Luz sem Kli (vaso). Estes tormentos, os verdadeiros tormentos, recebem o nome de condenação da Providência e calúnia. Por isto se reza para não caluniar a Providência; e estas são as atribulações que o Criador aceita. Este é o sentido do ditado que diz que o Criador escuta a reza de toda boca.

 

A razão por que o Criador responde a essas atribulações é que, nesse momento, a pessoa não solicita ajuda para seus próprios vasos de recepção, pois, se o Criador lhe garantisse tudo o que ela quisesse isto a afastaria ainda mais Dele, por causa da disparidade de forma que seria adquirida em conseqüência disso. No entanto, sucede o contrário: a pessoa anseia por fé, pede que o Criador lhe conceda a força necessária para prevalecer e ganhar a equivalência de forma, pois ela vê que se a fé não é permanente e deixa de iluminar por algum momento, voltará a cair em dúvidas e pensamentos estranhos à Providência.

Isto, por sua vez, leva a pessoa a um estado chamado “maldade”, em que condena o Criador. Então resulta que todas as aflições que sente se devem a que caluniou a Providência. O que lhe dói é que ali onde deveria haver respeitado e elogiado o Criador dizendo “Bendito seja Ele que nos criou em Sua glória”, sente que o comportamento do mundo não encaixa com a Sua glória, já que todos se queixam e reclamam que primeiro deveria manifestar-se abertamente a Providência para que se mostrasse que o Criador dirige o mundo com benevolência. E como isto não acontece, dizem que a Providência não manifesta a Sua glória, e isto o martiriza.

 

Assim, através das atribulações que sente, a pessoa se vê forçada a difamar. Por isso, quando se pede ao Criador que lhe conceda o poder da fé, e que lhe conceda benevolência, não é porque quer receber prazer e deleite por meio disto, mas para não voltar a difamar. Ela somente deseja acreditar por cima da razão que o Criador dirige o mundo com benevolência; e deseja esta fé para colocar esta convicção em suas sensações como se fosse dentro de sua própria mente.

 

Portanto, quando pratica Torá e Mitzvot, não deseja extrair Luz de Deus para benefício próprio, mas porque já não suporta não poder justificar a Sua Providência, que é benevolente. Dói-lhe profanar o nome de Deus, cujo nome é “Benevolente” e ao qual seu corpo mostra resistência.

 

Isto é tudo o que provoca a dor, já que, ao encontrar-se em um estado de separação, não pode justificar Sua diretriz. Isto se considera “aborrecer o estado de separação”. E quando se sente este sofrimento, o Criador ouve sua reza, aproxima-se, e o recompensa com a adesão. Isto se deve a que as dores que sentia por causa da separação levaram-no a obter a recompensa da adesão; e então se diz: “A Luz prevalece sobre a escuridão”.

 

Este é o significado de “o lucro da terra, em todos os sentidos”. “Terra” é a Criação. “Em todos os sentidos” significa que “por benefício”, que “por prestação de serviço”, através do qual nós vemos a diferença entre o estado de separação e o estado de adesão, através do qual nos é garantida a adesão com o “Todo”, já que o Criador é chamado de “a Raiz de todas as coisas”.

 

 

35. Sobre a Vitalidade da Kedushá

(Ouvi em Tav-Shin-Hey, 1944-1945, Jerusalém)

 

O verso diz: “Eis o mar, amplo em sua vastidão imensa, habitado por um sem número de criaturas de todos os tamanhos” (Salmos, 104:25).

 

Devemos interpretar:

 

1.    “Eis o mar” significa o mar da Sitra Achra (Outro Lado).

2.     “Amplo em sua vastidão imensa” significa que ele se manifesta e grita “Doe! Doe!”, referindo-se aos grandes vasos de recepção.

3.    “Sem número” significa que há Luzes Superiores aqui, nas quais o indivíduo pisa e as esmaga com o pé.

 

É assim porque há uma regra que “de cima, eles doam doando, e pegar, eles não pegam” (assim como tudo que é doado de cima não é recebido de volta, mas fica abaixo). Assim, se o indivíduo atrai algo de cima de então o mancha, isso permanece abaixo, mas não com a pessoa. Ao invés disso, cai para o mar da Sitra Achra.

 

Em outras palavras, se o indivíduo atrai alguma iluminação e não consegue sustentá-la de forma permanente porque seus Kelim (vasos) ainda não estão limpos adequadamente para a luz - ou seja, de forma que ele receba a luz em vasos doação, como a luz que vem do Doador -, a iluminação deve se afastar dele.

 

Nesse momento, a iluminação cai nas mãos da Sitra Achra. Isso continua a ocorrer diversas vezes, ou seja, o indivíduo atrai a Luz e então ela se afasta dele.

 

Dessa forma, as Iluminações aumentam o mar da Sitra Achra até que o copo esteja cheio. Isso significa que, após revelar a medida máxima do esforço que o indivíduo é capaz de revelar, a Sitra Achra lhe devolve tudo o que ela levou para sua própria autoridade. Esse é o significado de “ele engoliu riquezas e deve vomitá-las novamente”. Segue-se que tudo o que a Sitra Achra recebeu para sua própria autoridade foi apenas como um depósito. Ou seja, foi apenas enquanto ela teve controle sobre o homem. E esse controle serve para que o indivíduo possa fazer um escrutínio sobre os seus vasos de recepção e levá-los à Kedushá (santidade).

 

Em outras palavras, se a Sitra Achra não tivesse controle sobre o indivíduo, ele se conformaria com pouco. Então, todos os seus vasos de recepção permaneceriam separados, e ele nunca seria capaz de reunir todos os Kelim que pertencem à raiz da sua alma, levá-los à Kedushá e atrair a Luz que pertence a ele.

 

Assim, cada vez que o indivíduo atrai algo e tem um descenso é uma correção, ele deve começar mais uma vez, fazer novos escrutínios. E o que ele tinha do passado caiu para a Sitra Achra, para que ela o mantenha sob sua autoridade como um depósito. Depois, o indivíduo recebe dela tudo o que recebeu dele durante todo o tempo.

 

Ainda assim, também devemos saber que se o indivíduo pudesse sustentar qualquer Iluminação, mesmo uma pequena, mas que fosse permanente, ele já seria considerado como inteiro. Ou seja, o indivíduo seria capaz de avançar com a sua Iluminação. Dessa forma, se ele perde a Iluminação, deve se arrepender disso.

 

É como uma pessoa que plantou uma semente no chão para que uma grande árvore crescesse, mas tirou a semente da terra logo em seguida. Portanto, qual é o benefício do trabalho de colocar a semente na terra?

 

Mais do que isso, podemos dizer que ele não só tirou a semente do chão e a estragou; podemos dizer que ele desenterrou uma árvore com frutos maduros e os estragou. É o mesmo aqui: Se ele não tivesse perdido sua pequena Iluminação, uma grande luz teria crescido dela. Segue-se que ele não necessariamente perdeu o poder de uma pequena Iluminação, mas é como se ele, de fato, tivesse perdido uma grande Luz.

 

Devemos saber que é uma regra o fato de que o indivíduo não pode viver sem vitalidade e prazer, pois isso deriva da raiz da Criação - é Seu desejo fazer o bem às Suas criaturas. Por isso, nenhuma criatura pode existir sem vitalidade e prazer. Portanto, toda criatura deve sair e procurar um lugar do qual pode receber deleite e prazer.

 

Mas o prazer é recebido em três vezes: no passado, no presente e no futuro. Contudo, a principal recepção do prazer é no presente. Embora vejamos que o indivíduo também recebe prazer do passado e do futuro, é porque o passado e o futuro brilham no presente.

 

Portanto, se o indivíduo não encontra uma sensação de prazer no presente, ele recebe vitalidade do passado, e pode contar aos outros como foi feliz em tempos passados. O indivíduo pode receber a vitalidade disso no presente, ou pode imaginar para si mesmo um futuro em que espera ser feliz. Mas medir a sensação de prazer do passado e do futuro depende da extensão em que brilham para ele no presente. Devemos saber que isso se aplica tanto aos prazeres materiais quanto aos prazeres espirituais.

 

Como vemos, quando um indivíduo trabalha, mesmo na corporalidade, a ordem é que durante o trabalho ele seja infeliz, pois está se esforçando. E ele é capaz de continuar o trabalho apenas porque o futuro brilha para ele, pois ele vai receber um pagamento pelo seu trabalho. Isso brilha no presente, e é por isso que ele pode continuar o trabalho.

 

No entanto, se ele é incapaz de visualizar a recompensa que vai receber no futuro, ele deve tomar prazer do futuro, e não da recompensa que vai receber pelo seu trabalho no futuro. Em outras palavras, ele não vai gozar da recompensa, mas não vai sentir o sofrimento do esforço. Isso é o que ele aproveita agora, no presente, o que ele vai ter no futuro.

 

O futuro brilha para ele no presente, no sentido de que logo o trabalho estará terminado, ou seja, o tempo que deve trabalhar, e então ele vai receber descanso. Portanto, o prazer do descanso que vai por fim receber ainda brilha para ele. Em outras palavras, o seu lucro será que ele não é afligido pelo que sente do trabalho agora, e isso lhe dá força para conseguir trabalhar agora.

 

Se o indivíduo é incapaz de visualizar que logo vai estar livre dos tormentos que sofre agora, ele vai chegar ao desespero e à tristeza num nível em que esse estado pode levá-lo a tirar a própria vida.

        

É por isso que os nossos sábios disseram: “Aquele que tira a própria vida não tem parte no Mundo Vindouro”, pois ele nega a Providência, que o Criador guia o mundo na forma do bem e de fazer o bem. Ao invés disso, o indivíduo deve acreditar que esses estados chegam a ele porque Acima eles querem que isso o leve à correção, ou seja, que ele colete Reshimot (lembranças) desses estados para que seja capaz de entender a conduta do mundo de forma mais intensa e com mais força.

 

Esses estados são chamados Achoraim (posterior, de costas). Quando o indivíduo supera esses estados, ele é recompensado com a qualidade de Panim (anterior, de frente), o que significa que a Luz vai brilhar dentro desses Achoraim.

 

Há uma regra de que o indivíduo não pode viver se não tem um lugar do qual receber deleite e prazer. Portanto, quando ele não é capaz de receber do presente, ele ainda deve receber vitalidade do passado e do futuro. Em outras palavras, o corpo busca vitalidade para si mesmo de todas as formas à sua disposição.

 

Então, se o indivíduo não concorda em receber vitalidade das coisas corpóreas, o corpo não tem escolha senão concordar em receber vitalidade das coisas espirituais, porque não tem outra escolha.

 

Assim, ele precisa concordar em receber deleite e prazer dos vasos de doação, pois é impossível viver sem vitalidade. Segue-se que quando o indivíduo está acostumado a observar a Torá e as Mitzvot (mandamentos) em Lo Lishmá (não em Seu nome), quando recebe prazer pelo seu trabalho, ele consegue visualizar para si mesmo que vai receber alguma recompensa mais tarde, e já pode trabalhar no cálculo de que vai receber deleite e prazer depois.

 

Contudo, se ele não trabalha a fim de receber recompensa, mas quer trabalhar sem qualquer recompensa, como ele pode visualizar para si mesmo alguma coisa da qual receber sustento? Afinal, ele não pode criar nenhuma imagem, pois não tem nada sobre o qual fazê-lo.

 

Assim, em Lo Lishmá, não há necessidade de conceder vitalidade de Cima ao indivíduo, pois ele tem vitalidade a partir da visualização do futuro, e apenas a necessidade é concedida de Cima, não a luxúria. Portanto, se o indivíduo quer trabalhar apenas para o Criador e não tem nenhum desejo de tomar vitalidade para outras coisas, não há outro caminho a não ser receber vitalidade de Cima, pois ele demanda apenas a vitalidade necessária para sobreviver. Então, ele recebe vitalidade da estrutura da Shechiná (Divindade).

 

É como os nossos sábios disseram: “Qualquer um que tenha pena do público é recompensado com a visão do conforto do público.” O público é chamado de “A Shechiná”, pois “público” significa um coletivo, ou seja, a Assembleia de Israel, pois Malchut é a coleção de todas as almas.

 

Já que a pessoa não quer qualquer recompensa para si mesma, mas quer trabalhar em nome do Criador - o que é chamado de “levantar a Shechiná do pó” -, então ela não vai ser tão degradada. Pois para aquele que não quer trabalhar em nome do Criador, e vê apenas o que vai produzir benefício para si mesmo, há combustível para o trabalho. E no que tange ao benefício do Criador, quando o indivíduo não vê qual recompensa vai receber em troca, o corpo contesta esse trabalho, pois sente um gosto de pó nesse trabalho.

 

E há a pessoa que quer trabalhar em nome do Criador, mas o corpo resiste. E ela pede ao Criador que lhe dê força para, apesar disso, ser capaz de trabalhar para levantar a Shechiná do pó. Dessa forma, ela é premiada com a Panim (Face) do Criador, Ele aparece e a ocultação se afasta da pessoa.

 

 

36. O que são os três corpos no homem?

(Ouvi em 24 de Adar, Tav-Shin-Dalet, 19 de Março de 1944, Jerusalém)

 

O homem é composto de três corpos:

 

1. O corpo interno, que é uma vestimenta para a alma da Kedushá (Santidade);

 

2. A Klipá (casca) de Noga;

 

3. A pele da serpente.

        

A fim de salvar um corpo dos outros dois, para que eles não interfiram com a Kedushá, e para que o indivíduo seja capaz de usar apenas o corpo interno, o conselho para isso é que há um remédio:  pensar apenas sobre as coisas que dizem respeito ao corpo interno.

        

 

Isso significa que o pensamento do indivíduo deve se manter sempre na autoridade singular, ou seja, “Não há ninguém além Dele”. Ou seja, Ele faz e fará todas as ações, e não há criação no mundo capaz de separar o indivíduo da Kedushá.

 

E porque ele não pensa naqueles dois corpos, eles morrem, pois não têm nutrição e nada os sustenta, já que os nossos pensamentos sobre eles são a sua provisão. Esse é o significado do verso (Gênesis 3:19): “No suor do teu rosto comerás o teu pão.” Antes do pecado da Árvore do Conhecimento, a vitalidade não dependia do pão. Ou seja, não havia necessidade de atrair luz e vitalidade, mas havia iluminação.

 

Porém, depois do pecado, quando Adam HaRishon se uniu ao corpo da serpente, a vida se tornou ligada ao pão, no sentido de que o alimento deve ser sempre atraído de novo. E se eles não têm o sustento, eles morrem. Isso se tornou uma grande correção a fim de salvar-se daqueles dois corpos.

 

Portanto, o indivíduo deve tentar, com toda a sua força, não ter pensamentos sobre esses corpos, e talvez seja isso que nossos sábios disseram: “Pensamentos de transgressão são mais difíceis que uma transgressão”, pois os pensamentos são o seu alimento. Em outras palavras, eles recebem vitalidade dos pensamentos que o indivíduo dedica a eles.

 

Dessa forma, o indivíduo deve pensar apenas sobre o corpo interno, pois ele é uma vestimenta para a alma da Kedushá. Ou seja, ele deve ter pensamentos além da própria pele. Além da própria pele é chamado de “fora do próprio corpo”, o que significa fora do benefício próprio, apenas pensamentos em benefício de outros. Isso é chamado “fora da própria pele”.

 

Isso é assim porque além da própria pele não há controle para as Klipot (plural de Klipá), pois as Klipot controlam apenas aquilo que está dentro da pele do indivíduo, ou seja, aquilo que pertence ao seu corpo, e não fora do seu corpo, chamado de “fora da própria pele”. Isso significa que elas possuem qualquer coisa que está vestida no corpo, e não podem segurar nada que não esteja vestido no corpo.

 

Quando o indivíduo persiste com pensamentos além da própria pele, ele será recompensado com o que está escrito (Jó 19:26): “E quando já estiver destruída minha pele e já não existir minha carne, contemplarei a Deus.” Essa é a Shechiná, ela fica além da pele do indivíduo. “Destruída” significa que foi corrigida para ser um pilar “depois da minha pele”. Nesse momento, quando “já não existir minha carne”, o indivíduo é premiado com “contemplarei a Deus”.

 

Isso significa que a Kedushá vem e veste o interior do corpo especificamente quando o indivíduo concorda em trabalhar fora da própria pele, ou seja, sem nenhuma vestimenta. Os perversos, no entanto, aqueles que querem trabalhar precisamente quando há vestimenta no corpo, chamado “dentro da pele”, eles morrerão sem sabedoria. Isso é porque, então, eles não têm vestimenta e não são premiados com nada. No entanto, são especificamente os justos que são recompensados com a vestimenta no corpo.

 

 

37. Um artigo para Purim

(Ouvi emTav-Shin-Het, 1947-1948)

 

Devemos entender diversas precisões na Meguilá Ester:

 

1. Está escrito (Ester 3:1): “Depois destas coisas, o Rei Ahashverósh engrandeceu Haman ben Hamedáta, o agaguita.” Devemos entender o que é “depois destas coisas”, que significa depois de Mordehai ter salvado o rei. Parece razoável que o rei deveria promover Mordehai. Mas o que diz? Que ele promoveu Haman.

 

2. Quando Ester contou ao rei, “Porque fomos vendidos, eu e o meu povo”, o rei perguntou “Quem é esse e onde está esse?” Isso significa que o rei não sabia nada sobre a questão, apesar de constar explicitamente que o rei disse a Haman: “Essa prata seja tua, como também esse povo para fazeres dele o que melhor for de teu agrado.” Portanto, vemos que o rei sabia, sim, sobre a venda.

 

3. Nossos sábios disseram sobre “Segundo a vontade de cada um”: “Raba disse, ‘fazer de acordo com a vontade de Mordecai e Haman’” (Meguilá 12). É sabido que onde diz apenas “rei” se refere ao Rei do mundo. Assim, como pode ser que o Criador agiria de acordo com a vontade de um perverso?

 

4. Está escrito: “Mordecai sabia tudo o que foi feito.” Isso implica que apenas Mordecai sabia, já que antes disso está escrito: “E a cidade de Shushan ficou perplexa.” Portanto, a cidade inteira de Shushan sabia sobre a questão.

 

5. Está escrito: “Pois algo que foi escrito com o nome do rei e selado com o anel do rei não pode ser revertido.” Assim, como ele deu novas cartas depois, as quais por fim cancelam as primeiras cartas?

 

6. O que significa quando os nossos sábios disseram: “Em Purim, o indivíduo deve se intoxicar até que não possa distinguir o amaldiçoado Haman do abençoado Mordecai”?

 

7. O que significa quando os nossos sábios disseram sobre o verso “E a bebida era como estava prescrito”, o que é “Como estava prescrito”? Rabi Hanan disse, em nome do Rabi Meir, que é “De acordo com a lei da Torá”. O que é a lei da Torá? Comer mais do que beber.

 

Para entender o exposto acima, precisamos primeiro entender a questão de Haman e Mordecai. Nossos sábios disseram sobre o verso “Segundo a vontade de cada um”, que significa Haman e Mordecai. Devemos interpretar que o desejo de Mordecai é chamado “A visão da Torá”, que é comer mais que beber, e o desejo de Haman é o oposto, beber mais do que comer.

 

Perguntamos: “Como pode ser que ele faria uma refeição de acordo com a vontade de um perverso?” A resposta para isso está escrita em seguida: “Não havia quem forçasse.” Significa que a bebida não era obrigatória, e esse é o significado de Não havia quem forçasse. É como os nossos sábios disseram sobre o verso “E Moisés escondeu sua face, pois teve medo de olhar”. Eles disseram que, em troca de “E Moisés escondeu sua face”, ele foi recompensado com “E a imagem do Senhor ele contempla”. Isso significa que precisamente porque ele não precisava daquilo (ou seja, ele podia colocar uma Masach {tela} sobre o desejo) lhe foi permitido receber. Esse é o significado do verso “Concedi força a um valente” (Salmos 89:19). Significa que o Criador concede ajuda a quem é valente e capaz de andar nos caminhos do Criador.

 

Está escrito E a bebida era como estava prescrito. O que é “Como estava prescrito? Porque Não havia quem forçasse. Isso significa que ele não obrigou a bebida, mas uma vez que ele começaram a beber, eles foram levados por ela, ficaram amarrados à bebida, eles precisavam dela, senão não conseguiriam ir adiante.

 

Isso é chamado “obrigar” e é considerado que eles cancelaram o método de Mordecai. Esse também é o significado do que os nossos sábios disseram, que aquela geração foi sentenciada a perecer porque eles desfrutaram da refeição de um perverso.

 

Em outras palavras, se eles tivessem recebido a bebida na forma de “Não havia quem forçasse”, eles não teriam cancelado o desejo de Mordecai, e esse é o método de Israel. Contudo, mais tarde, quando eles tomaram a bebida na forma de “foram forçados”, seguiu-se que eles mesmos sentenciaram a lei da Torá a perecer, a qual é a qualidade de Israel.

 

Esse é o significado de comer mais do que beber. Beber se refere a revelar Chochmá (Sabedoria), chamada “saber”. Comer, por outro lado, é chamado Ohr de Chassadim (Luz da Misericórdia), a qual é a fé.

 

Esse é o significado de Bigtan e Teresh, os quais procuraram colocar as mãos no rei do mundo. “E a coisa se tornou conhecida para Mordecai… E uma investigação foi feita sobre a questão, e foi descoberto que era verdade.” A questão de procurar não foi de uma vez só, e Mordecai não a obteve facilmente, mas a questão dessa falha lhe foi revelada depois de muito trabalho. Uma vez que se tornou evidente para dele, “Ambos foram enforcados”. Ou seja, após a sensação de mancha nela, eles foram enforcados, eles removeram essas ações e desejos do mundo.

 

Depois dessas coisas”, ou seja, depois de todo o trabalho e esforços feitos por Mordecai a partir do escrutínio que havia feito, o rei queria recompensá-lo por seu empenho em trabalhar apenas em Lishmá (eu Seu nome) e não para si mesmo. Já que existe uma lei de que o inferior não pode receber nada sem uma carência, pois não há Luz sem um Kli (vaso), e um Kli é chamado uma “carência”. Se ele não precisa de nada para si mesmo, como pode receber qualquer coisa?

 

Se o rei tivesse perguntado a Mordecai o que deveria lhe dar pelo seu trabalho já que Mordecai é um justo, cujo trabalho é apenas doar sem qualquer necessidade de ascender em níveis, e que se contenta com pouco, isso seria incompatível enquanto o rei desejava doar a Luz da Sabedoria, a qual se estende a partir da coluna da esquerda, o trabalho de Mordecai vinha apenas da coluna da direita.

 

O que o rei fez? Ele promoveu Haman, ou seja, ele deu importância para a coluna da direita. Esse é o significado de “E colocou o seu assento acima de todos os ministros”. Ademais, o rei deu a ele o controle, o que significa que todos os escravos do rei se ajoelhavam e se curvavam perante Haman, “pois assim havia ordenado o rei”, que ele receberia o controle, e todos o aceitaram.

 

A questão de se ajoelhar é a aceitação do comando, pois eles gostavam do jeito de Haman no trabalho mais do que o jeito de Mordecai. Todos os judeus em Shushan aceitaram o controle de Haman até que se tornou difícil para eles entenderem o ponto de vista de Mordecai. Afinal, todos entendem que o trabalho de caminhar pela coluna da esquerda, chamado saber, é mais fácil que andar nos caminhos do Criador.

 

Está escrito que eles perguntaram: “Por que você está transgredindo contra a ordem do rei?” Ao verem que Mordecai persistia em sua opinião de andar no caminho da fé, eles ficaram perplexos e não sabiam quem estava certo.

 

Eles foram e perguntaram a Haman quem estava certo, como está escrito: “Eles disseram a Haman para ver se as palavras de Mordecai se sustentariam, pois ele havia lhes dito que é um Judeu.” Isso significa que a maneira do Judeu é comer mais do que beber, ou seja, a fé é o rudimento, e essa é a base inteira do Judaísmo.

 

Isso causou uma grande perturbação a Haman. Por que Mordecai não concordaria com a sua visão? Por isso, quando todos viram a maneira de Mordecai, o qual argumentava que apenas ele estava no caminho do Judaísmo, e aqueles que tomam outro caminho são considerados idólatras, como está escrito: “Porém, tudo isso não me satisfaz enquanto vir o judeu Mordecai sentado no portão do palácio real”, pois Mordecai afirma que apenas através dele está o portão para o rei, e não através de Haman.

 

Agora podemos entender porque está escrito “Mordecai sabia”, o que significa que era especificamente Mordecai quem sabia. Mas está escrito “mas a cidade de Shushan ficou perplexa”, o que significa que todos sabiam.

 

Devemos interpretar que a cidade de Shushan ficou perplexa e não sabia quem estava certo, mas Mordecai sabia que, se houvesse o controle de Haman, isso significaria a aniquilação do povo de Israel, a obliteração de Israel inteira do mundo. Pois a maneira do Judaísmo do povo de Israel, cuja base do trabalho é a fé acima da razão, chamada “Misericórdia coberta”, é acompanhar o Criador de olhos fechados e sempre dizer sobre si mesmos “eles têm olhos, mas não veem”, enquanto o controle de Haman sobre a coluna da esquerda é chamado saber, o oposto da fé.

 

Esse é o significado dos dados que Haman lançou, já que foi em Yom Kippurim (Dia do Perdão), como está escrito: “um para o Eterno, e outro para Azazel.” O lote para o Eterno significa um discernimento da “direita”, o qual é Chassadim (Misericórdia), chamado “comer”, que é a fé. O lote para Azazel é a coluna da esquerda, a qual é considerada, de fato, “inútil”, e toda a Sitra Achra (outro lado) deriva daqui.

 

Assim, um bloqueio sobre as Luzes se estende a partir da coluna da esquerda, pois apenas a coluna da esquerda congela as Luzes. Esse é o significado de “lançou um pur, ou seja, o dado”, pois ele interpreta o que lançou. Ele diz “pur”, que significa Pi Ohr (uma boca de Luz).

 

Todas as Luzes foram bloqueadas através do lote para Azazel, e percebe-se que ele lançou todas as Luzes para baixo. Haman pensou que “os justos devem preparar e os perversos devem vestir”.

 

Em outras palavras, em relação a todos os esforços e empenho aplicados por Mordecai, junto com todos que o acompanharam, sobre a recompensa que eles mereciam, Haman pensou que ele tomaria essa recompensa. Ou seja, Haman pensou que ele tomaria sob sua própria autoridade as Luzes que aparecem por meio das correções de Mordecai. Tudo isso ocorreu porque ele viu que o rei lhe havia dado poder para atrair a Luz da Sabedoria para baixo.

 

Portanto, quando ele veio ao rei dizendo para “destruir os Judeus”, ou seja, revogar o domínio de Israel, o qual é fé e misericórdia, e revelar o conhecimento no mundo, o rei teria respondido pra ele: “Essa prata seja tua, como também esse povo para fazeres dele o que melhor for de teu agrado”, o que significa aquilo que Haman considera adequado, de acordo com seu domínio, o qual é a esquerda e o saber.

 

Toda a diferença entre as primeiras e as segundas cartas está na palavra Judeus. Na “sinopse escrita” (a cópia se refere ao conteúdo vindo do rei. Depois, a sinopse escrita é interpretada, explicando a intenção da sinopse) foi dito: “Para que se proclamasse a lei em cada província, de forma clara a todos os povos para que se preparassem para esse dia.” Não diz para quem eles deveriam se preparar, mas Haman interpretou a sinopse, como está escrito: “E segundo ordenou Haman, tudo se escreveu.”

 

A palavra Judeus está escrita nas segundas cartas, como consta: A carta que determinada a proclamação do edito em todas as províncias foi enviada a todos os povos, para que os judeus se preparassem para aquele dia, para se vingarem dos seus inimigos.”

 

Assim, quando Haman veio ao rei, o rei lhe disse: “Essa prata que havia sido pré-preparada seja tua”, o que significa que não é preciso fazer mais nada já que “o povo também (seja teu), para fazeres dele o que lhe parece bom.”

 

Em outras palavras, o povo já quer que faça como lhe parece bom, ou seja, o povo quer receber o seu controle. Porém, o rei não lhe disse para revogar o controle de Mordecai e os Judeus. Ao invés disso, havia sido pré-ordenado que agora, nesse momento, haveria uma revelação de Chochmá, a qual é como “alcançou favor perante ele”.

 

A sinopse escrita foi para que se proclamasse a Lei em cada província, de forma clara a todos os povos”. Isso significa que o decreto era para que fosse publicado que a questão da Revelação da Chochmá é para todas as nações.

 

Contudo, o documento não disse que a qualidade de Mordecai e dos Judeus , a fé, deveria ser revogada. Ao invés disso, a intenção era que houvesse uma Revelação de Chochmá, mas que eles ainda escolhessem Chassadim (Misericórdia).

 

Haman disse que, já que é tempo de Revelação de Chochmá, a Revelação de Chochmá é certamente dada para que se use a Chochmá, afinal, quem faz algo que não é para ser usado? Se não for usado, segue-se que a operação foi em vão. Portanto, deve ser a vontade do Criador, e o Criador havia feito a Revelação para que se usasse a Chochmá.

 

O argumento de Mordechai foi que a Revelação ocorreu apenas para mostrar que aquilo que eles tomam para si mesmos, para andar na coluna da direita, a qual é coberta por Chassadim, não é porque não houve escolha, e é por isso que eles tomam esse caminho. Parece coerção, ou seja, que eles não têm outra escolha, pois não há Chochmá revelada no momento. Ao contrário, agora que há Chochmá revelada, há espaço para escolher a partir do seu próprio Livre Arbítrio. Em outras palavras, eles escolhem o caminho de Chassadim mais do que a esquerda, a qual é a Revelação de Chochmá.

 

Isso significa que a revelação de Chochmá foi apenas que eles pudessem revelar a importância de Chassadim, e que é mais importante para eles do que Chochmá. É como disseram nossos sábios: “Até agora coercitivamente, doravante de boa vontade.” E esse é o significado de “Os Judeus observaram e tomaram para eles”. Segue-se que a Revelação de Chochmá veio agora apenas para que eles fossem capazes de receber o caminho do Judeu por vontade própria.

 

E essa foi a controvérsia entre Mordecai e Haman. O argumento de Mordecai foi que o que vemos agora, que o Criador revela a autoridade de Chochmá não para que eles recebam a Chochmá, mas para que reforcem o Chassadim, pois agora serão capazes de mostrar que a sua recepção de Chassadim é voluntária. Ou seja, eles têm espaço para receber Chochmá, pois agora é o momento do controle da esquerda, a qual brilha Chochmá, mas eles ainda escolhem Chassadim. Segue-se que agora eles mostram, ao receber Chassadim, que a direita governa sobre a esquerda.

 

Portanto, a lei Judaica é uma lei importante, e Haman afirmou o oposto, que a presente revelação do Criador sobre a coluna da esquerda, que é Chochmá, é para que se use a Chochmá. Caso contrário, significaria que o Criador fez algo sem necessidade, que Ele fez algo e que não havia ninguém para desfrutar. Assim, não deveríamos considerar o que Mordecai diz, mas todos deveriam lhe escutar e usar a Revelação de Chochmá que apareceu agora.

 

Segue-se que as segundas cartas não revogaram as primeiras. Ao contrário, eles apresentaram uma explicação e uma interpretação sobre a primeira sinopse escrita, de que a questão da publicação para todos os povos, a questão da Revelação de Chochmá que agora brilha, é para os Judeus. Em outras palavras, é para que os Judeus sejam capazes de escolher Chassadim por sua própria vontade, e não porque não há outro caminho a escolher.

 

É por isso que nas segundas cartas está escrito “Para que os judeus se preparassem para aquele dia, para se vingarem dos seus inimigos. Isso significa que o controle que agora a Chochmá tem é a fim de mostrar que eles preferem Chassadim a Chochmá. Isso é chamado “Se vingarem dos seus inimigos”, porque os seus inimigos querem especificamente a Chochmá, enquanto os Judeus rejeitam a Chochmá.

 

Agora podemos entender o que perguntamos sobre a questão do rei: “Quem é ele, e onde ele está, quem ousou fazer isso?” E por que Ele perguntou? Afinal, o próprio rei havia dito a Haman, “Essa prata seja tua, como também esse povo para fazeres dele o que melhor for de teu agrado.

 

(É como dissemos: O significado da questão de revelar Chochmá é com a intenção de que o povo fará como lhe parece bom, o que significa que haveria espaço para escolha. Isso é chamado “também esse povo, para fazeres dele o que melhor for de teu agrado”. No entanto, se não há revelação de Chochmá, não há espaço para escolha, há apenas o caminho de Chassadim, e parece que é porque eles não têm escolha.)

 

Isso quer dizer que tudo isso ocorreu porque o rei deu a ordem de que agora seria o momento de revelar Chochmá. A intenção era que a esquerda servisse a direita. Assim, tornaria-se aparente que a direita é mais importante que a esquerda, e é por isso que eles escolhem Chassadim.

 

Esse é significado de Meguilá Ester (o pergaminho de Ester). Parece haver uma contradição de termos aqui, pois Meguilá (pergaminho) significa que está Galui (revelado) para todos, enquanto Ester significa que há Hastará (ocultação).

 

Agora podemos entender o que nossos sábios disseram: “Em Purim, o indivíduo deve se intoxicar até que não possa distinguir o amaldiçoado Haman do abençoado Mordecai.” A questão de Mordecai e Ester é anterior à construção do Segundo Templo, e a construção do Templo significa a extensão de Chochmá, e Malchut é chamado “O Templo”.

 

Esse é o significado de Mordecai ter enviado Ester ao rei para pedir por seu povo, e ela respondeu “todos os servos do rei”, etc., “qualquer homem ou mulher que, sem ser chamado… não há senão uma sentença: a de morte”, etc., “e eu nestes 30 dias não fui chamada para entrar ao rei”.

 

Isso quer dizer que é proibido atrair a qualidade de GAR de Chochmá para baixo, e o indivíduo que estende GAR (as quais são três Sefirot, cada uma contendo dez, as quais são trinta) é sentenciado à morte, porque a esquerda causa separação da vida das vidas.

 

Exceto aquele para quem o rei estender o cetro de ouro poderá viver.” Ouro significa Chochmá e GAR, pois apenas por meio do despertar do superior o indivíduo pode permanecer vivo, ou seja, em Dvekut (adesão), chamada vida, mas isso não pode ocorrer pelo despertar do inferior.

 

Apesar de Ester ser Malchut, que precisa de Chochmá, isso se dá apenas pelo despertar do superior. Contudo, se ela atrai Chochmá, ela perde a sua própria qualidade completamente. Sobre isso, Mordecai respondeu a ela: “(se) então de outra parte se levantarão para os Judeus socorro e livramento”, ou seja, pela completa revogação da coluna da esquerda, e os Judeus terão apenas a coluna da direita, a qual é Chassadim, então “tu e a casa de teu pai perecereis”.

 

No estado de “Pai fundou a filha”, ela deve ter Chochmá consigo. Mas deve ser mais comer que beber. No entanto, se os Judeus não tiverem aconselhamento, eles irão revogar a linha da esquerda e, portanto, toda a sua qualidade será cancelada. É sobre isso que ela disse “se perecer, perecerei”.

 

Em outras palavras, se eu for, estou perdida, porque posso chegar à separação, como quando o inferior desperta e induz à separação da Vida das Vidas. E se eu não for “então de outra parte se levantarão para os Judeus socorro e livramento, ou seja, de outra forma. Eles revogariam completamente a coluna da esquerda, como Mordecai lhe havia dito. É por isso que ela tomou o caminho de Mordecai ao convidar Haman para um banquete, assim ela atraiu a coluna da esquerda, assim como Mordecai lhe havia dito.

 

Mais tarde, ela incluiu a esquerda na direita e, portanto, pôde haver revelação de Luzes abaixo, e ela também pôde permanecer em um estado de Dvekut. Esse é o significado de Meguilá Ester: Apesar de haver revelação da Luz de Chochmá, ela ainda usa a Ocultação que há ali (porque Ester é Hester [“ocultação”, o mesmo que Hastará]). Na questão de “ele não saber”, está explicado no Estudo das Dez Sefirot (Parte 15, Ohr Pnimi, Item 217) que, apesar de as Luzes de Chochmá iluminarem, é impossível receber sem a Luz da Chassadim, pois isso induz à separação. No entanto, um milagre ocorreu: Por meio do jejum e do pranto, eles atraíram a Luz de Chassadim e, então, puderam receber a Luz de Chochmá.

 

Contudo, não há tal coisa antes do Fim da Correção (Gmar Tikun). Esse discernimento vem do discernimento do fim da correção, no tempo em que já será corrigido, como está escrito no Zohar: “SAM está destinado a ser um anjo sagrado”. Segue-se que, então, não haverá diferença entre Haman e Mordecai, pois Haman também estará corrigido. Esse é o significado de “Em Purim, o indivíduo deve se intoxicar até que não possa distinguir o amaldiçoado Haman do abençoado Mordecai.”

 

Também deve ser adicionado, em relação às palavras de que foram enforcados, que isso é uma indicação de enforcamento na árvore, ou seja, que eles entendiam que esse pecado é o mesmo pecado da Árvore do Conhecimento, pois lá, também, a “mancha” estava em GAR.

 

Sobre estar “Sentado no portão do palácio real”, pode ser adicionado que isso sugere que ele estava sentado, e não em pé, pois sentar é chamado de VAK e ficar em pé é chamado de GAR.

 

 

 

 

38. O temor a Deus é seu tesouro

 

 

 

Um tesouro é um vaso no qual se coloca o que se possui. O grão, por exemplo, se coloca no celeiro, e os objetos preciosos se põem em algum lugar mais protegido ainda. Assim, cada coisa que se recebe é denominada segundo a sua correlação com a Luz, e o vaso deve ser capaz de recebê-la. Isto obedece ao que temos aprendido: não existe Luz sem um vaso. E isto ocorre inclusive no mundo físico.

 

 

 

No entanto, o que representa na espiritualidade o vaso dentro do qual podemos receber a recompensa espiritual que o Criador deseja doar-nos, e que haverá de estar em correspondência com a Luz? Isto ocorre do mesmo modo que na corporalidade, quando o vaso necessita estar em correlação com o objeto que se encontra dentro dele.

 

 

 

Por exemplo, não podemos falar de um tesouro quando nos referimos ao vinho que tenha sido armazenado em sacos novos para protegê-lo e evitar que avinagre; nem tampouco quanto à farinha que tenha sido guardada em barris. Em vez disto, existe alguma regra segundo a qual o recipiente indicado para o vinho são barris e garrafas, enquanto que para a farinha são os sacos no lugar de barris etc.

 

 

 

Deste modo, surge a seguinte pergunta: Qual é o recipiente espiritual, os Kelim (vasos) a partir dos quais podemos acumular um grande tesouro com a Abundância Superior?

 

 

 

Existe uma regra que indica que o desejo da vaca de alimentar o terneiro é maior do que o desejo deste de comer. Isto corresponde à máxima que diz que “Seu desejo é o de fazer o bem às Suas criaturas”, e devemos crer que a razão do Tzimtzum (restrição) é para nosso próprio bem. E o motivo deve ser que não temos os vasos apropriados para alojar a Shefa (abundância), do mesmo modo que os vasos corporais devem estar aptos para aquilo que deve ser alojado neles. Portanto, devemos afirmar que se conseguimos os vasos, teremos algo com que receber a Shefa que há de adicionar-se.

 

 

 

A resposta que surge a isto é que na tesouraria do Criador existe somente o tesouro do temor a Deus (Berachot, 33).

 

 

 

No entanto, devemos elucidar o que é o temor. Este é um vaso, e o tesouro é feito deste vaso, e todas as coisas importantes se colocam ali. Foi dito que o temor é tal como está escrito sobre Moisés: Nossos sábios disseram: “A recompensa por ‘E Moisés escondeu sua face, pois temia O olhar’ foi ‘a semelhança do Senhor que lhe observa’ (Berachot p. 7).

 

 

 

O temor se refere ao temor que alguém sente por aqueles prazeres imensos que ali existem e aos quais não se poderia receber com a intenção de doar. A recompensa por isto, ou seja, por haver sentido este temor, é que deste modo se constrói para si mesmo um vaso dentro do qual se possa receber a Abundância Superior. Este há de ser o trabalho do homem, e tudo o mais há de atribuir-se ao Criador.

 

 

 

No entanto, não é assim com respeito ao temor, porque o significado de temor não é receber. E aquilo que o Criador doa, Ele doa para que seja recebido, e este é o significado de “tudo está nas mãos de Deus, menos o temor a Deus”.

 

 

 

Este é o vaso que necessitamos. Do contrário, seguiremos sendo uns tolos, tal como disseram nossos sábios: “Quem é considerado um tolo? Aquele que perde o que lhe é dado”. Quer dizer que a Sitra Achra nos usurpará a abundância se não pudermos dirigir nossa intenção até a doação, pois assim ela vai para os vasos de recepção, ou seja, para a Sitra Achra e a impureza.

 

 

 

Este é o significado de “E haverás de observar o banquete de Matza (pão sem fermento)”. Observar significa temor. E ainda que a natureza da Luz seja ter vontade própria, o que significa que a Luz parte antes que alguém deseje recebê-la dentro dos vasos de recepção, a pessoa deve atuar por conta própria em tudo que esteja ao seu alcance. A este respeito disseram nossos sábios: “Vós os observareis a vós mesmos somente um pouco aí embaixo, e eu os observarei muito aqui de Cima”.

 

 

 

A razão pela qual atribuímos temor às pessoas, segundo disseram nossos sábios, é que “tudo está nas mãos de Deus, exceto o temor a Deus”. Isto se deve a que Ele pode ofertar tudo, menos o temor. E por isto, o que o Criador dá é amor ao invés de temor.

 

 

 

O temor se adquire através do poder da Torá e das Mitzvot (preceitos). Isto quer dizer que quando se observa a Torá e as Mitzvot com o propósito de ser recompensado com o fato de poder satisfazer o Criador, essa intenção, que subjaz nos atos de suas Mitzvot em detalhe, permanece simplesmente no grau de Domem de Kedushá (Mineral Sagrado).

 

 

 

Disto resulta que a pessoa sempre deve recordar a razão que a obriga a observar a Torá e as Mitzvot. Sobre isto se referiram os sábios ao dizer “que vossa Divindade seja para Meu nome”. Isto implica que “Eu serei vossa causa, pois todo vosso trabalho consiste em querer deleitar a Mim, ou seja, que todas vossas ações devem apontar para a doação.”

 

 

 

Nossos sábios disseram (Berachot 20): “Todo o implícito em observar também está implícito em recordar”. Isto significa que todos aqueles que observam a Tora e as Mitzvot, o fazem com a intenção de alcançar a noção de “lembrar-se”, no sentido de “Quando eu me lembro Dele, Ele me impede de dormir”. Disto resulta que o observar tem como propósito principal ser recompensado com a ação de acordar-se (lembrar-se).

 

 

 

Portanto, o desejo da pessoa consiste em recordar que o Criador é a causa pela qual se observa a Torá e as Mitzvot. Isto é assim porque resulta que a razão e a causa de observar a Torá e as Mitzvot é o Criador Mesmo, já que sem isso não se pode aderir a Ele, porque “Ele e Eu não podemos habitar na mesma morada” devido à disparidade de forma.

 

 

 

A razão de que a recompensa e o castigo não sejam revelados, que somente devamos crer na recompensa e no castigo, se deve a que o Criador deseja que todos trabalhem para Ele e não para si mesmos. Isto se discerne como disparidade de forma com o Criador. Se a recompensa e o castigo estiverem revelados, a pessoa trabalharia por amor a si mesmo; ou seja, para que o Criador Lhe ame, ou por ódio a si mesmo, o que significa por temor a que o Criador lhe odeie. Isto implica que a razão para o trabalho é somente a pessoa, não o Criador, e o Criador deseja ser Ele o motivo determinante.

 

 

 

Assim, vemos que o temor se manifesta precisamente quando a pessoa reconhece o seu estado inferior, e diz que está servindo ao Rei; ou seja, que seu desejo de outorgar-Lhe é um grande privilégio, e isso é mais valioso que o que alguém possa expressar. Isto obedece à regra segundo a qual quando a pessoa pode outorgar algo a uma personalidade importante é como se ela mesma estivesse recebendo.

 

 

 

Na medida em que a pessoa sente seu estado inferior, nesta mesma proporção pode começar a apreciar a grandeza do Criador, e se despertará o desejo de servir a Ele. Mas se a pessoa é orgulhosa, o Criador diz: “ele e Eu não podemos habitar na mesma morada”.

 

 

 

Este é o sentido de “Um tolo, um malvado e um grosseiro vão juntos”. A razão disto é que ao não sentir o temor, o que significa que a pessoa não pode rebaixar-se diante do Criador, e reconhecer que para ela é uma grande honra poder servir a Ele sem nenhuma recompensa, não se pode receber sabedoria alguma do Criador, e a pessoa se mantém como um tolo. Então, aquele que é tolo, é malvado; tal como indicam nossos sábios: “Não se peca, a menos que se tenha sido alcançado pela insensatez”.

 

 

39. E costuraram as folhas de figo

Ouvi em 26 de Shevat, Tav-Shin-Zayin, 16 de Fevereiro de 1947

 

 

“As folhas” se referem à sombra que se coloca sobre a luz, ou seja, sobre o sol. Há duas sombras: uma vem do lado da Kedushá (Santidade), e a outra vem devido a um pecado.

 

Portanto, há dois tipos de Ocultação da Luz. Assim como a sombra oculta o sol na materialidade, também há a ocultação da Luz Superior, chamada “sol”, a qual vem do lado da Kedushá, devido a uma escolha. É como está escrito sobre Moisés: “E Moisés escondeu sua face, pois teve medo de olhar” (Êxodo 3:6).

 

A sombra vem devido ao medo, e medo significa que o indivíduo tem receio de receber a abundância, de que ele possa não ser capaz de almejar a doação. Segue-se que a sombra vem devido à Kedushá, pois o indivíduo quer aderir ao Criador.

 

Em outras palavras, Dvekut (Adesão) é chamado de doação, e ele tem medo de que possa não ser capaz de doar.

 

Acontece que ele está aderido à Kedushá e isso é chamado “uma sombra que vem do lado da Kedushá”.

 

Há também uma sombra que vem devido a um pecado. Isso significa que a Ocultação vem não porque ele não quer receber, mas, ao contrário, vem porque o indivíduo quer receber apenas para receber. É por isso que a Luz sai, pois toda a diferença entre Kedushá e Klipá (casca) é que a Kedushá quer doar e a Klipá quer apenas receber, e não quer doar de forma alguma. Por essa razão, essa sombra é considerada oriunda do lado da Klipá.

 

Não há conselho para se sair desse estado, exceto o que está escrito: “E coseram folhas de figueira e fizeram para si cintos” (Gênesis 3:7). “Cintos” se refere a forças do corpo que se juntaram em uma forma de sombra da Kedushá. Significa que, apesar de agora eles não terem Luz, pois a abundância os deixou devido ao pecado, eles ainda assim superaram isso servindo ao Criador pela mera força, acima da razão. Isso é chamado “pela força”. Esse é o significado do verso: “Então ouviram a voz do Eterno Deus (…), e o homem e sua mulher se esconderam”, ou seja, foram para a sombra. Esse é o significado de E Moisés escondeu sua face”. Adam HaRishon fez o mesmo que Moisés.

 

E o Eterno Deus chamou ao homem e lhe disse: ‘Onde estás?’. E ele respondeu: ‘Ouvi tua voz no jardim e tive medo, por estar nu, e me escondi’” (Gênesis 3:10). Nu significa despido da Luz Superior.

 

Então o Criador perguntou por que razão tu vieste para a sombra, chamada “e me escondi”? É porque estou nu. É por causa de uma sombra da Kedushá ou devido a um pecado? O Criador lhe perguntou: “Por acaso comeste da árvore da qual te ordenei não comer?”, ou seja, devido a um pecado.

 

Mas quando a sombra vem devido a um pecado é chamada “Imagens, produtores de imagens, e feiticeiros”, que é “Deus os fez opostos um ao outro”. Assim como há forças na Kedushá para fazer mudanças e para mostrar sinais e presságios, também há forças na Sitra Achra. É por isso que os justos não usam essas forças, pois são “opostos um ao outro”, de maneira a não dar força à Sitra Achra ao agir à sua maneira.

 

Apenas em ocasiões excepcionais o Criador não dá à Sitra Achra a mesma força que há na Kedushá. É como Elias no Monte Carmel dizendo “Responda-me”, para que eles não dissessem que é bruxaria, ou seja, que há a força para ocultar a Luz Superior.

 

Portanto, cintos provenientes do lado das folhas de figueira, que vêm do pecado da Árvore do Conhecimento, essas folhas, a sombra que vem devido ao pecado, já que a causa não vem do lado da Kedushá, quando eles escolhem fazer sombra por si mesmos, mas escolhem a sombra porque não têm outra escolha, isso pode funcionar apenas para sair do estado de descenso. Mas, depois, o trabalho precisa começar outra vez.

40. Qual é a medida da fé no Rav?

(Ouvi emTav-Shin-Gimel, 1942-1943)

 

 

É sabido que há um caminho da direita e um caminho da esquerda. “Direita” vem da palavra hebraica “à direita”, referindo-se ao verso: “E Abrão acreditou no Eterno” (Gênesis 15:6). O Targum diz “À direita, quando o rav diz ao discípulo para tomar o caminho da direita”.

 

A direita é normalmente chamada de “completude”, e a esquerda de “incompletude”, no sentido de que faltam correções ali. Nesse estado, o discípulo deve acreditar nas palavras do seu rav, o qual lhe diz para caminhar na linha da direita, chamada “completude”.

 

E o que é a “completude” na qual o discípulo deve caminhar? Significa que o indivíduo deve retratar para si mesmo se já foi recompensado com a fé completa no Criador, e se já sente, nos seus órgãos, que o Criador guia o mundo inteiro na forma de “O Bom que Faz o Bem”, ou seja, que o mundo inteiro recebe apenas o bem Dele.

 

No entanto, quando o indivíduo olha a si mesmo, vê que é pobre e indigente. Além disso, quando ele observa o mundo, vê que o mundo inteiro está atormentado, cada um de acordo com o seu nível.

 

O indivíduo deve dizer sobre isso: “Eles têm olhos, mas não vêem.” “Eles” significa que, enquanto o indivíduo estiver sob múltiplas autoridades, chamadas “eles”, ele não enxerga a verdade. Quais são as múltiplas autoridades? Enquanto o indivíduo tiver dois desejos, apesar de acreditar que o mundo inteiro pertence ao Criador, também acredita que algo pertence ao homem.

 

Mas, em verdade, o indivíduo deve anular a sua autoridade perante a autoridade do Criador e dizer que não quer viver para si mesmo, e que a única razão pela qual quer existir é para levar contentamento ao Criador. Portanto, dessa forma o indivíduo anula completamente a sua própria autoridade, e então se encontra na autoridade singular, a autoridade do Criador. Apenas então ele pode enxergar a verdade, de como o Criador guia o mundo pela qualidade do bem e de fazer o bem.

 

Enquanto o indivíduo está sob múltiplas autoridades, ou seja, quando ainda tem dois desejos tanto na mente quanto no coração, ele é incapaz de enxergar a verdade. Ao invés disso, ele deve subir acima da razão e dizer “eles têm olhos”, mas eles não vêem a verdade.

 

Segue-se que quando o indivíduo considera a si mesmo e quer saber se agora ele está em um momento de descenso ou de ascensão ele tampouco pode saber isso. Ou seja, ele pensa que está em um estado de descenso e isso, também, está incorreto, pois ele pode estar agora em um estado de ascensão, de forma que enxerga seu estado verdadeiro, o quão distante está do trabalho sagrado. Assim, ele agora se aproximou da verdade.

 

E pode ser ao contrário: O indivíduo sente que está em um estado de exaltação, quando, na verdade, está sendo controlado pela vontade de receber para si mesmo, chamada “um descenso”.

 

Apenas aquele que já está sob a autoridade singular pode discernir e saber a verdade. Dessa forma, o indivíduo deve confiar na opinião do seu rav e acreditar no que o rav lhe diz. Isso significa que o indivíduo deve fazer como o rav lhe disse para fazer.

 

E apesar de ver muitos argumentos e muitos ensinamentos que não vão ao encontro da opinião do seu rav, o indivíduo deve, ainda assim, confiar na opinião do rav e dizer (sobre aquilo que entende e vê em outros livros, que não coincide com a opinião do seu rav) que enquanto estiver sob múltiplas autoridades ele não pode entender a verdade, e não pode ver o que está escrito em outros livros, a verdade que eles proferem.

 

É sabido que quando o indivíduo ainda não foi recompensado a sua Torá se torna para ele uma poção de morte. E por que diz “Não recompensado, sua Torá se torna para ele uma poção de morte?” É porque todos os ensinamentos que o indivíduo aprender ou ouve não lhe trarão qualquer benefício no sentido de o tornar apto a receber Vida, a qual é Dvekut (adesão) com a Vida das Vidas. Ao contrário, o indivíduo é constantemente atraído para mais longe da Vida das Vidas, já que tudo o que ele faz é apenas para as necessidades do corpo, chamadas “receber para si mesmo”, e isso é considerado separação.

 

Isso significa que através de suas ações ele se torna mais e mais separado da Vida das Vidas, e isso é chamado “a poção de morte”, pois lhe traz morte e não vida. Quer dizer que o indivíduo se torna ainda mais afastado da doação, chamada “equivalência de forma com o Criador”, por meio de “Como Ele é misericordioso, assim tu és misericordioso”.

 

Devemos também saber que quando o indivíduo está envolvido na direita é o momento certo para ampliar a abundância superior, porque “o abençoado adere ao Abençoado”. Em outras palavras, já que o indivíduo está em um estado de completude, chamado “abençoado”, nesse respeito ele tem, atualmente, equivalência de forma, já que o sinal da completude é se o indivíduo está em um estado de alegria. Caso contrário, não há completude. 

 

É como nossos sábios disseram: “A Shechiná (Divindade) se torna presente apenas a partir da alegria de uma Mitzvá (mandamento).” O significado disso é que a razão que lhe traz alegria é a Mitzvá, ou seja, o fato de que o rav havia ordenado que ele tomasse a linha da direita.

 

Segue-se que ele mantém a ordem do rav, de que a ele foi distribuído um tempo especial para caminhar na direita e um tempo especial para caminhar na esquerda. A esquerda contradiz a direita, pois a esquerda é quando o indivíduo calcula para si mesmo e começa a examinar o que já adquiriu no trabalho do Criador, e ele vê que está pobre e indigente. Portanto, como ele pode estar em completude?

 

Ainda assim, o indivíduo sobe acima da razão devido à ordem do rav. Segue-se que toda a sua completude foi construída acima da razão, e isso é chamado “fé”. Esse é o significado de “Em todo lugar em que Eu fizer recordar Meu nome, virei a ti e te abençoarei”. “Em todo lugar” significa que, apesar de o indivíduo ainda não ser digno de uma bênção, mesmo assim eu dei a Minha bênção porque tu fizeste um lugar, ou seja, um lugar de alegria, no qual a Luz Superior pode existir.

 

 

 

41. O que é grandeza e pequenez na fé?

(Ouvi no entardecer após a noite de Pessach, Tav-Shin-Hey, 29 de março de 1945)

 

 

Está escrito: “E creram no Eterno e em Moisés, seu servo” (Êxodo 14:31). Devemos saber que as Luzes de Pessach (Páscoa) têm o poder de transmitir a Luz da fé. Ainda assim, não pense que a Luz da fé é algo pequeno, pois a grandeza e a pequenez dependem apenas dos receptores.

 

Quando o indivíduo não trabalha no caminho da verdade, ele pensa que tem fé demais, e que, com a quantidade de fé que ele tem pode distribuí-la a diversas pessoas, e então elas serão tementes e completas.

 

No entanto, o indivíduo que quer servir ao Criador em verdade, e constantemente examina a si mesmo, se está disposto a trabalhar de forma devota “e com todo o seu coração”, ele vê que está sempre deficiente na fé, ou seja, que ela está sempre em falta.

 

Apenas quando o indivíduo tem fé ele pode sentir que está sempre sentado diante do Rei. Quando ele sente a grandeza do Rei, pode descobrir o amor de duas formas: de uma forma boa, e na forma de duros julgamentos. Portanto, o indivíduo que busca a verdade é aquele que precisa da Luz da fé. Se tal pessoa ouve ou vê alguma maneira de obter a Luz da fé, ela se torna feliz, como se tivesse encontrado uma grande fortuna.

 

Assim, sobre aquelas pessoas que buscam a verdade, no feriado de Pessach, o qual é capaz da Luz da fé, lemos na Parashá (porção da Torá): “E creram no Eterno e em Moisés, seu servo, pois esse é um momento em que isso pode ser transmitido.

 

 

42. O que é o acrônimo Elul, no trabalho?

(Ouvi em 15 de Elul, Tav-Shin-Bet, 28 de agosto de 1942)

 

 

A fim de entender isso, devemos entender diversas outras coisas:

 

1. A questão de Malchuiot (plural de Malchut), memórias, e Shofarot (plural de Shofar, um chifre de carneiro), e qual é o significado do que os nossos sábios disseram: “Anule a sua vontade perante a Sua vontade, para que Ele anule a Sua vontade perante a sua vontade.”

 

2. As palavras dos nossos sábios: “Perverso: imediatamente à morte; e justo: imediatamente à vida.”

 

3. O verso “os filhos de Guershon: Livni e Shimi”.

 

4. As palavras do Zohar: “O Yud é um ponto preto que não contém nenhum branco”.

 

5. Malchut do superior se torna Keter do inferior.

 

6. A alegria atesta se o trabalho está em completude.

 

 

Todas essas coisas se aplicam à preparação do mês de Elul (“Ani Ledodi Vedodi Li”, Eu sou de meu amado e meu amado é meu).

 

Para entender tudo o que está acima, devemos entender o propósito da Criação,  o qual é supostamente que Ele deseja fazer o bem às Suas criações. E devido ao Tikun (correção), para que não haja a questão do “Pão da Vergonha”, um Tzimtzum foi feito. E a partir do Tzimtzum se estendeu a Masach (tela), pela qual os vasos de recepção se tornam vasos de doação.

 

Quando os vasos são preparados para se tornarem vasos de doação, nós imediatamente recebemos a Luz Oculta e Estimada para as Suas criaturas. Isso significa que o indivíduo recebe o deleite e o prazer que estava no Pensamento da Criação, de fazer o bem às Suas criações.

 

Com isso podemos interpretar o que está escrito: “Anule a sua vontade perante a Sua vontade”, ou seja, anule o desejo de receber em você perante o desejo de doar, o qual é a vontade do Criador. Isso significa que o indivíduo vai revogar o amor-próprio diante do amor do Criador. Isso é chamado “Anular a si mesmo perante o Criador”, e isso é chamado Dvekut (adesão). Subsequentemente, o Criador pode brilhar dentro do seu desejo de receber porque ele agora está corrigido na forma de receber para doar.

 

Esse é o significado de “Para que Ele anule a Sua vontade perante a sua vontade”. Quer dizer que o Criador anula a Sua vontade, ou seja, o Tzimtzum que havia devido à disparidade de forma. Agora, contudo, quando já há Equivalência de Forma, há, portanto, a expansão da Luz para dentro do desejo do inferior, o qual foi corrigido a fim de doar, pois esse é o propósito da Criação, de fazer o bem às Suas criaturas, e assim ele pode ser realizado.

 

Agora podemos interpretar o verso “Eu sou do meu amado” (Cântico dos Cânticos 6:3). Significa que, quando o “eu” anula o desejo de receber diante do Criador na forma de total doação, ele obtém “E o meu amado é meu”. Significa que o Meu amado, o Criador, “é meu”, Ele transmite o deleite e o prazer encontrados no Pensamento da Criação. Portanto, o que antes estava oculto e restringido, agora se torna a Revelação da Face, pois agora o propósito da Criação foi revelado: fazer o bem às Suas criaturas.

 

Devemos saber que os vasos de doação são chamados YH (Yud-Hey) do nome HaVaYaH (Yud-Hey-Vav-Hey), os quais são Kelim (vasos) puros. Esse é o significado de “Todos que recebem, recebem no Kli (vaso) mais puro”. Nesse estado, o indivíduo é recompensado, “E o meu amado é meu”, e Ele transmite abundância a ele, ou seja, ele é recompensado com a Revelação da Face.

 

Contudo, há uma condição para isso: é impossível obter a Revelação antes de o indivíduo receber o discernimento de Achoraim (posterior), distinguido como uma Ocultação da Face, e antes de dizer que isso é tão importante para ele quanto a Revelação da Face. Isso significa que o indivíduo deveria se alegrar como se já tivesse adquirido a Revelação da Face.

 

No entanto, o indivíduo não consegue persistir e apreciar a Ocultação da mesma forma que a Revelação, exceto quando trabalha em doação. Nesse momento, o indivíduo pode dizer: “Não interessa o que eu sinto durante o trabalho, porque o que importa para mim é o meu desejo de doar pelo Criador. Se o Criador entende que Ele terá mais contentamento se eu trabalhar em forma de Achoraim, eu concordo.”

 

Porém, se o indivíduo ainda tem faíscas de recepção, ela chega aos pensamentos, e então é difícil para ele acreditar que o Criador guia o mundo em uma maneira do “Bem e de fazer o Bem”. Esse é o significado da letra Yud no nome HaVaYaH, a qual é a primeira letra, chamada “um ponto preto que não contém nenhum branco”, ou seja, é todo escuridão e Ocultação da Face.

 

Isso significa que, quando o indivíduo chega a um estado onde não tem apoio, o seu estado se torna preto, que é a qualidade mais inferior do mundo superior, e se torna Keter para o inferior, já que o Kli de Keter é um vaso de doação.

 

A qualidade mais inferior do superior é Malchut, a qual não tem nada próprio, ou seja, não tem nada. Apenas nessa forma ela é chamada de Malchut. Isso quer dizer que, se o indivíduo assume o reino dos céus (o qual é um estado de não ter nada), e se o faz de forma alegre, depois essa qualidade se torna Keter, a qual é um vaso de doação e o Kli mais puro. Em outras palavras, a recepção de Malchut em um estado de escuridão se torna, subsequentemente, um Kli de Keter, o qual é um vaso de doação.

 

É como diz o verso: “Porque retos são os caminhos do Eterno, por onde em segurança caminham os justos e onde cambaleiam e tropeçam os malévolos” (Oseias 14:10). Isso significa que os transgressores, aqueles que são controlados pelos vasos de recepção, devem cair e se agachar sob a sua carga quando chegam nesse estado.

 

Os justos, no entanto, aqueles que estão em um estado de doação, são elevados, ou seja, dessa forma lhes são transmitidos vasos de doação. (“Perverso” deve ser interpretado como aqueles cujo coração ainda não quer obter vasos de doação, e “justo” significa aqueles cujo coração já quer obter vasos de doação, mas ainda não está apto).

 

É como escreve o Zohar, que a Shechiná (Divindade) disse ao Rabino Shimon bar Iochai: “Não há lugar para se ocultar de você”, e é por isso que ela aparece para ele. Esse é o significado do que o Rabino Simon bar Iochai disse: “Por causa disso, e o Seu desejo está sobre mim.” Isso é “Eu sou do meu amado e o meu amado é meu”, e então ele doa sobre o VH (Vav-Hey).

 

Esse é o significado de “O nome está incompleto, e o trono está incompleto, até que o Hey se conecte ao Vav”. O Hey é chamado “o desejo de receber”, o qual é o último e derradeiro Kli no qual o Vav vai doar para o Hey, e então será o Fim da Correção.

 

Esse é o significado de “Justo: imediatamente à vida”. Significa que a própria pessoa deve dizer em qual livro quer ter o seu nome escrito, se é no Livro dos Justos, ou seja, se ele quer receber o desejo de doar, ou não. Já que o indivíduo tem muitos discernimentos sobre o desejo de doar às vezes diz “Sim, eu quero receber o desejo de doar, mas não quero revogar completamente o desejo de receber”. Ele, na verdade, quer ambos os mundos para si, ou seja, quer o desejo de doar também para seu próprio benefício.

 

No entanto, apenas aqueles que desejam transformar seus vasos de recepção para que trabalhem apenas em doação e não recebam nada para si mesmos são inscritos no Livro dos Justos. É assim para que não haja espaço para que alguém diga: “Se eu soubesse que o desejo de receber precisa ser revogado, eu não teria rezado por isso” (para que ele não diga, mais adiante: “Não é isso que eu havia jurado”).

 

Portanto, o indivíduo deve expressar sem reservas o que ele quer dizer com ser registrado no Livro dos Justos, para que ele não reclame depois.

 

Devemos saber que, no Trabalho, o Livro dos Justos e o Livro dos Perversos existem na mesma pessoa. Isso significa que o indivíduo deve fazer uma escolha e  saber claramente o que ele quer, pois perverso e justo se relacionam à mesma pessoa. Dessa forma, o indivíduo deve dizer se quer ser inscrito no Livro dos Justos, para ser imediatamente a favor da vida, isto é, para aderir à Vida das Vidas, pois quer fazer tudo pelo Criador. Além disso, quando vem para ser inscrito no Livro dos Perversos, onde  são inscritos todos aqueles que desejam receber para si mesmos, ele diz que deveriam ser inscritos lá imediatamente à morte, ou seja, que o desejo de receber para si mesmo será revogado nele, como se tivesse morrido.

 

Contudo, às vezes, o indivíduo fica em dúvida. Em outras palavras, ele não quer que o desejo de receber seja revogado nele de uma só vez. É difícil para ele decidir, imediatamente, que todas as faíscas de recepção serão mortas de uma só vez, ou seja, ele não concorda que todos os seus desejos por recepção sejam anulados nele de uma só vez.

 

Ao invés disso, ele quer que as faíscas de recepção sejam anuladas nele gradual e lentamente, não todas de uma vez, ou seja, que operem um pouco os vasos de recepção e um pouco os vasos de doação. Segue-se que essa pessoa não tem visão clara e firme.

 

Uma visão firme é que, de um lado, ele afirma “É tudo meu”, o que significa que é tudo para o propósito do desejo de receber. Por outro lado, ele afirma que é tudo para o Criador. Isso é chamado uma “visão firme”. Porém, o que o indivíduo pode fazer se o corpo discorda da sua visão de querer ser inteiramente para o Criador?

 

Nesse estado, você pode dizer que essa pessoa faz tudo o que pode para ser inteiramente para o Criador, ou seja, ela reza para que o Criador a ajude a ser capaz de executar todos os seus desejos apenas pelo bem do Criador. É por isso que rezamos “Lembra de nós durante a vida e nos inscreve no Livro da Vida.”

 

Esse é o significado da palavra “Malchut”, ou seja, que o indivíduo assumirá para si mesmo a qualidade do ponto preto que não contém nenhum branco. Esse é o significado de “Anule a sua vontade” para que a memória de você venha diante de Mim, e então Ele anulará a Sua vontade perante a sua vontade. Com o quê? Com um Shofar (chifre de carneiro), com o Shofar da Mãe, ou seja, a questão depende de arrependimento.

 

Em outras palavras, se o indivíduo aceita a escuridão, ele deveria também tentar que seja de uma maneira honrosa, e não de uma maneira vergonhosa. Isso é chamado “o Shofar da Mãe”, ou seja, que o indivíduo vai considerá-lo como beleza e honra.

 

Da mesma forma, devemos interpretar o que está escrito: “Os filhos de Guershon: Livni e Shimi.” Se o indivíduo vê que foi expulso do trabalho, ele deveria saber que foi devido a Livni, ou seja, porque ele quer especificamente a brancura. (Livni soa como Lavan, branco). Em outras palavras, se lhe é dada a brancura, se tudo o que o indivíduo faz brilha, o que significa que ele vai sentir um bom sabor na Torá e na oração, ele estará disposto a ouvir e a se engajar na Torá e nas Mitzvot (mandamentos).

 

Esse é o significado de “Shimei”. (Shimei soa como Shmi, ouvir). Significa que é precisamente através da forma da “brancura” que o indivíduo pode ouvir. No entanto, durante o trabalho, o indivíduo vê uma forma de preto e não pode concordar em ouvir sobre aceitar esse trabalho sobre si mesmo. Portanto, ele deve ser expulso do Salão do Rei, pois a recepção do Reino dos Céus deve ser entrega incondicional.

 

Contudo, quando o indivíduo diz que está disposto a aceitar o trabalho sobre si com a condição de que haja uma forma de branco, ou seja, que o dia brilhe para ele, e ele não concorda se o trabalho lhe aparece em uma forma de preto, essa pessoa não tem lugar no Salão do Rei. Isso é porque aqueles que desejam trabalhar para doar são aceitos no Salão do Rei e, quando o indivíduo trabalha a fim de doar, ele não se importa com o que sente durante o trabalho.

 

Ao invés disso, mesmo num estado onde ele vê uma forma de preto, ele não se impressiona com ela, mas quer apenas que o Criador lhe dê força para ser capaz de superar todos os obstáculos. Isso significa que ele não pede ao Criador que lhe dê uma forma de branco, mas que lhe dê força para superar todas as ocultações.

 

Portanto, para aquelas pessoas que querem trabalhar a fim de doar, se há sempre um estado de brancura, a brancura permite que o indivíduo continue no trabalho. Isso é porque, enquanto ela brilha, o indivíduo é capaz de trabalhar mesmo na forma de recepção para si mesmo.

 

Dessa forma, o indivíduo nunca será capaz de saber se o seu trabalho está em pureza ou não, e isso causa que ele nunca seja capaz de ser recompensado com a Dvekut (Adesão) com o Criador. Por essa razão, lhe é dada de cima uma forma de escuridão, e então ele vê se o seu trabalho está em pureza.

 

Isso significa que, se o indivíduo pode também se alegrar em um estado de escuridão, isso é um sinal de que o seu trabalho está em pureza, já que o indivíduo deve ser alegre e acreditar que lhe foi dada uma oportunidade, de cima, para ser capaz de trabalhar a fim de doar.

 

É como os nossos sábios disseram: “Todos os gananciosos têm raiva.” Isso significa que o indivíduo que está imerso em auto-recepção tem raiva, pois ele sempre está em falta. Ele precisa constantemente satisfazer seus vasos de recepção.

 

Porém, aqueles que querem andar no caminho da doação devem estar sempre em alegria. Isso significa que, em qualquer forma que se apresente, ele deve estar em alegria, já que ele não tem nenhuma intenção de receber para si mesmo. É por isso que ele diz que, de qualquer forma, se ele está de fato trabalhando a fim de doar, ele deve certamente estar alegre que lhe foi permitido levar contentamento ao seu Fazedor. E se ele sente que o seu trabalho ainda não é para doação, ele também deve se alegrar, pois, por iniciativa própria, ele diz que não quer nada para si mesmo. Ele está feliz que o desejo de receber não pode desfrutar do seu trabalho, e isso deve lhe dar alegria. Contudo, se ele pensa que também vai ter algo para si mesmo a partir do  seu trabalho, ele permite que a Sitra Achra (Outro Lado) se agarre ao seu trabalho, e isso lhe causa tristeza, raiva, e assim por diante.

 

 

43. Sobre a verdade e a fé

 

“Verdade se refere a aquilo que a pessoa sente e vê através dos seus olhos. Este discernimento recebe o nome de “recompensa e castigo”, pois não se pode obter nada sem esforço. Imaginemos, por exemplo, uma pessoa que se senta e não quer fazer nada para procurar seu sustento. Esta pessoa diz que, já que o Criador é bom e benevolente, e já que Ele é o provedor de tudo, suas vontades serão transmitidas a Ele, enquanto ela, em contrapartida, não precisa fazer nada.

 

 

 

Claro que se essa pessoa se comporta dessa maneira, com toda certeza morrerá de fome. Isto é evidente aos olhos de qualquer um, porque é óbvio, cai de maduro; e é lógico e razoável que assim seja; ou seja, que morra de fome.

 

 

 

Mas, ao mesmo tempo, a pessoa deve crer e convencer-se de que, para além de toda razão, poderia conseguir tudo o que necessita sem esforços nem preocupações de nenhum tipo, por causa da Providência particular. Em outras palavras, o Criador realiza e realizará toda a ação; e a pessoa não O ajuda em nada, pois é o Criador que faz tudo. E a pessoa não pode adicionar nem subtrair nada ao que Ele faz.

 

 

 

Ainda assim, como podem andar de mãos dadas estas duas coisas, considerando que uma está em oposição a outra? Uma se refere ao que a mente alcança ou compreende, e indica que sem a ajuda do homem, sem um trabalho e um esforço prévios, não poderá conseguir nada. A isto se chama “a verdade”, pois o Criador deseja que a pessoa se sinta dessa forma. E por isso esse caminho se chama “O caminho da Verdade”.

 

 

 

Mas não fiquem perplexos com o seguinte dilema: se esses dois caminhos são opostos entre si, como é possível que esse estado seja verdadeiro? A resposta é que, se a verdade se refere à sensação de que o Criador deseja que a pessoa se sinta dessa forma, então isso é a “verdade”. Disso resulta que o relativo à verdade pode ser dito precisamente acerca do Criador, acerca da sua vontade, e que Ele deseja que a pessoa se sinta e se veja dessa mesma maneira.

 

 

 

No entanto, ao mesmo tempo que a pessoa deve crer e estar convencida de que ainda não perceba nem veja com os “olhos” da mente o fato de que o Criador pode ajudar-lhe a obter todos os benefícios que podem ser alcançados sem esforço da sua parte isto é certo somente com relação à Providência particular.

 

 

 

A razão pela qual a pessoa não pode alcançar o discernimento da “Providência particular” antes de alcançar o de “recompensa e castigo” é que a Providência particular é algo eterno, enquanto que sua mente não é eterna. E algo eterno não pode vestir-se de algo que não seja eterno. Mas quando a pessoa tiver obtido o resultado de “recompensa e castigo”, este se converte em um kli (vaso) dentro do qual se pode vestir a Providência particular.

 

 

 

Agora podemos compreender o verso: “O Senhor salva, o Senhor triunfa”. “Salva” se refere à “recompensa e castigo”. Deve-se rezar para que o Criador proveja trabalho e esforço por meio dos quais a pessoa possa ser recompensada. Ao mesmo tempo, deve-se rezar pelo êxito, que é da Providência particular, e que indica que a pessoa será recompensada com todos os benefícios do mundo sem trabalho nem esforço de sua parte.

 

 

Também podemos ver isso relativamente às posses materiais (deste mundo físico, que se discernem em sua separação em lugares distintos; ou seja, em dois corpos diferentes, enquanto que na espiritualidade tudo existe somente em um corpo, mas duas vezes). Há pessoas que adquirem suas posses especificamente através de grandes esforços, energia e sagacidade; mas ao mesmo tempo temos o contrário; há aqueles que não são tão sagazes, nem têm tanta energia, nem se esforçam tanto, mas ainda assim triunfam e até se convertem nos maiores possuidores de propriedades do mundo.

 

 

 

A explicação para isso é que esses assuntos corporais surgem e se estendem de suas raízes superiores; ou seja, do discernimento de “recompensa e castigo” e da Providência particular. A única diferença está em que a espiritualidade se manifesta em um lugar, somente num aspecto, mas um a um. Isto quer dizer que ocorre dentro de uma pessoa, mas em dois estados. E no corporal, ao contrário, ocorre uma única vez, mas em dois estados diferentes; ou seja, de uma só vez e em duas pessoas distintas.

 

 

 

44. Mente e Coração

(Ouvi em 10 de Tevet, Tav-Reish-Peh-Het, 1º de fevereiro de 1928, Givat Shaul, Jerusalém)

 

O indivíduo deve examinar se a fé está em ordem, ou seja, se ele tem temor e amor, como está escrito: “Se sou vosso Pai, onde está a honra que Me deveis dispensar? E se sou vosso Senhor, como Me demonstrais vosso temor?” (Malaquias 1:6). E isso é chamado “mente”.

 

Devemos também ver que não haverá quaisquer desejos para agradar a si mesmo, que mesmo um pensamento para si mesmo não surgirá no indivíduo, mas todos os seus desejos serão apenas para doar ao Criador. Isso é chamado “coração”, o qual é o significado de “O Misericordioso quer o coração”.

 

 

 

45. Dois discernimentos na Torá e no Trabalho

(Ouvi em 1º de Elul, Tav-Shin-Het, 5 de setembro de 1948)

 

Há dois discernimentos na Torá, e há dois discernimentos no trabalho. O primeiro é o discernimento do temor, e o segundo é o discernimento do amor. A Torá é chamada de um estado de completude, ou seja, nós não falamos do estado em que está o trabalho do indivíduo, mas falamos a respeito da Torá em si.

 

O primeiro é chamado “amor”, no sentido de que o indivíduo tem um desejo e uma ânsia por conhecer os caminhos do Criador e os Seus tesouros ocultos, e para isso ele faz todo esforço e se empenha para obter o seu desejo. Ele considera tudo na Torá, tudo o que extrai a partir do que aprendeu, como se tivesse recebido algo de valor inestimável. De acordo com a apreciação da importância da Torá, assim o indivíduo cresce gradualmente até que lhes são mostrados, lentamente, os Segredos da Torá, de acordo com o seu trabalho.

 

O segundo discernimento é o temor, no sentido de que ele quer ser um servo do Criador. Pois “aquele que não conhece o Mandamento do Superior, como servirá a Ele?”, ele teme e receia não saber como servir ao Criador.

 

Quando ele aprende dessa maneira, toda vez que encontra um Sabor na Torá e pode usá-lo, ele fica exaltado e animado de acordo com a apreciação da importância de ter recebido algo da Torá. E se o indivíduo persiste nesse caminho, gradualmente lhes são revelados os Segredos da Torá.

 

Aqui há uma diferença entre ensinamentos externos e a Sabedoria da Torá: nos ensinamentos externos, a exaltação diminui o intelecto, pois a emoção é oposta ao intelecto. Portanto, a exaltação diminui o entendimento do intelecto.

 

Por outro lado, na Sabedoria da Torá, a exaltação é uma essência, como o intelecto. A razão para isso é que a Torá é a vida, como está escrito: “O valor do conhecimento preserva a vida de quem o possui” (Eclesiastes 7:12), pois sabedoria e vida são a mesma coisa.

 

Portanto, assim como a sabedoria aparece na mente, a sabedoria também aparece na emoção, pois a Luz da Vida preenche todos os órgãos. (Parece-me que é por isso que o indivíduo deveria ver que está sempre exaltado sobre a sabedoria da Torá, já que na exaltação há uma grande diferença entre ensinamento externo e a sabedoria da Torá.)

 

Da mesma forma ocorre no Trabalho, considerado a coluna da esquerda, porque é discernida como recepção. A questão da recepção significa que o indivíduo quer receber pois sente uma carência, e uma carência é considerada como três discernimentos: 1) A vontade do indivíduo, 2) A vontade do público, 3) A vontade da Shechiná (Divindade).

 

Qualquer vontade é considerada como querer satisfazer a deficiência; portanto, é considerada recepção e coluna da esquerda. Torá, no entanto, significa que o indivíduo trabalha não porque sente que uma carência precisa ser corrigida, mas que ele quer doar contentamento ao seu Fazedor (por meio de oração, louvor e gratidão. Quando o indivíduo se engaja de uma forma que sente a si mesmo em integridade e não vê nenhuma falha no mundo, isso é chamado “Torá”. Porém, se o indivíduo se engaja enquanto sente alguma falha, isso é chamado “Trabalho”).

 

Da mesma forma, devemos fazer dois discernimentos durante o trabalho: 1) Devido ao amor do Criador, quando o indivíduo quer aderir ao Criador e sente que esse é o lugar onde pode exibir a medida do amor que sente e amar o Criador, 2) Devido ao temor, quando ele teme ao Criador.

 

 

 

        

46. O domínio de Israel sobre as Klipot

(Eu ouvi)

 

A respeito do domínio de Israel sobre as Klipot (cascas), e vice-versa, o domínio das Klipot sobre Israel. Primeiro devemos entender o que é “Israel” e o que são “as nações do mundo”.

 

É explicado em diversos lugares que Israel significa “internalidade”, chamada “os Kelim (vasos) anteriores”, com os quais o indivíduo pode trabalhar a fim de doar contentamento ao seu Fazedor. “As nações do mundo” são chamadas de “externalidade”, os Kelim posteriores”, cujo sustento vem somente da recepção e não da doação.

 

A dominação das nações do mundo sobre Israel está no fato de que elas não podem trabalhar em forma de doação e nos Kelim anteriores, mas apenas nos Kelim posteriores. Elas seduzem os servos do Criador a atraírem as Luzes para baixo até os Kelim posteriores.

 

A dominação de Israel significa que, se derem poder para que todo e cada um seja capaz de trabalhar a fim de doar contentamento ao seu Fazedor, ou seja, apenas nos Kelim anteriores, mesmo que eles atraiam Chochmá (Sabedoria), é apenas na forma de “Um caminho para percorrer” e nada além.

 

 

47. No lugar onde encontras a Sua grandeza

 

 

 

 

 

“No lugar onde encontras Sua grandeza, ali encontrarás Sua humildade.” 

 

 

 

Quer dizer que quem se encontra sempre em uma verdadeira Dvekut (adesão), vê que o Criador desce com Sua presença, ou seja, que o Criador se faz presente nos lugares mais baixos (inferiores).

 

 

 

A pessoa não sabe o que fazer, e por isso está escrito: "O que é que está entronizado no alto, que olha para baixo, até o céu e a Terra?” 

 

 

 

A pessoa observa a grandeza do Criador, e logo "que Ele olha para baixo", é dizer, que ela faz descer o céu à Terra. O conselho que se oferece a este respeito é pensar que se este desejo provém do Criador não temos nada maior que isso, tal como está escrito: “Ele levanta e tira os pobres para fora do poço”. 

 

 

 

Primeiro, a pessoa deve ver que tem um desejo. Se não, deve rezar por ele. "Por que não o tenho?” A razão da ausência de desejo se deve à diminuição da consciência. 

 

 

 

Portanto, em cada mitzva (preceito) ela deve rezar: “Por que não estou consciente de que não estou observando a mitzva em um estado de plenitude?” Em outras palavras, o desejo de receber a envolve de tal forma que ela não enxerga a verdade. 

 

 

 

Se a pessoa se dá conta que se encontra em um estado tão baixo, certamente não desejaria seguir neste estado. Ao contrário, se esforçaria constantemente em seu trabalho cada vez mais até alcançar o arrependimento, como está escrito: “Ele leva para dentro de uma tumba, e Ele tira para fora.”

 

 

 

Isto significa que quando o Criador deseja que os malvados se arrependam, joga-os num nível infernal tão baixo que os próprios malvados passam a querer deixar tal condição. 

 

Portanto, é preciso elevar uma oração para que o Criador lhes mostre a verdade incorporando-lhes a Luz da Torah. 

 

 

48. A base primária

(Ouvi no entardecer após o Shabat, Vaerá, Tav-Shin-Yod-Gimel, 8 de novembro de 1952)

 

A base primária é um caminho conhecido a todos. O cuidado e a proteção a respeito da mente é porque ela é construída sobre a base de uma questão. Se o indivíduo encontra a questão conhecida, ele deve estar armado e protegido para manter guarda e instantaneamente replicar com a resposta conhecida.

 

Em outras palavras, a estrutura inteira é construída sobre perguntas e respostas, e isso é andar no caminho do Criador e ser recompensado com a construção de uma estrutura da Shechiná (Divindade). E quando o indivíduo não tem espaço para perguntas e respostas ele é chamado de “estagnado”.

 

O Criador preparou um lugar até mesmo para aqueles a quem já foi concedida a vestimenta permanente da Shechiná e que já estão no caminho dos níveis e que não têm mais espaço para o trabalho mencionado acima. Nesse lugar, eles têm uma base livre onde a fé pode existir.

 

Apesar de ser difícil entender como tal coisa pode se dar em altos níveis, o Criador Ele Mesmo pode fazer isso. Esse é o significado da correção da coluna do meio, e da proibição sobre a recepção da coluna da esquerda.

 

Ao mesmo tempo, vemos que Chochmá aparece apenas em Malchut. E apesar de Malchut ser um atributo oposto a Chochmá, ainda assim o lugar para a aparição de Chochmá é justamente aqui em Malchut.

 

Esse é o significado de “E deixe esse obstáculo ficar sob a sua mão”. Nossos sábios disseram que o indivíduo não observa uma lei a não ser que tenha falhado nela. Uma lei significa um discernimento de Malchut (e esse é o significado da noiva. Quando se vai à noiva isso é chamado de “Lei”[1]). Ela é construída somente À base de obstáculos, ou seja, num tempo de perguntas. Quando o indivíduo não tem perguntas ele não tem o nome “Fé” ou Shechiná.

 

[1] Em hebraico, as palavras “noiva” e “lei” são escritas com as mesmas letras em uma ordem diferente.

 

 

 

 

 

50. Dois estados

(Escutei em 20 de Sivan)

 

 

Há dois estados no mundo. No primeiro, o mundo se identifica com a “dor”, e no segundo, com a Sagrada Shekinat (Divindade). Isto acontece porque antes que a pessoa esteja dotada da capacidade de corrigir suas ações para transformá-las em outorgar, percebe o mundo somente sob a forma de dores e tormentos.

 

 

 

No entanto, depois, se é recompensado com o fato de poder ver que a Sagrada Shekinat está vestida no mundo inteiro, e que o Criador está preenchendo o mundo inteiro. Neste estado, o mundo recebe o nome de “Sagrada Shekinat”, pois está recebendo do Criador. Isto se chama “a unificação do Criador e da Divindade”. Do mesmo modo que o Criador dá, o mundo se ocupa somente em outorgar.

 

 

 

Isto se parece a uma melodia triste, por meio da qual alguns músicos sabem como transmitir a dor que é o seu tema central, porque todas as melodias são como uma linguagem falada que representam as palavras que a pessoa deseja exteriorizar em voz alta. Se a melodia evoca tristeza em quem a escuta, a ponto de fazê-la chorar pela dor que ela transmite, então é chamada “uma melodia”, e todos amam escutá-la. Isso se deve a que a melodia não aponta uma dor presente, mas sim uma dor passada, ou seja, a tormentos que já ficaram para trás e que já foram adoçados e receberam seu preenchimento. Por tal motivo, as pessoas gostam de escutá-la. Então, a música faz alusão aos adoçamentos dos Dinim (Juízos), e que as dores que a pessoa sentia foram adoçadas. Por isso, este tipo de aflição resulta doce ao ouvido, e assim, o mundo recebe o nome de “Sagrada Shekinat”.

 

 

 

A principal coisa que a pessoa deveria saber e sentir é que existe um líder que a guia até a cidade, como disseram nossos sábios: “Abraão o patriarca disse: ‘Não existe cidade sem um líder’”. A pessoa não deve pensar que tudo que acontece no mundo seja por casualidade, e que a Sitra Achra a induz a pecar e a dizer que tudo é fortuito.

 

 

 

Este é o significado de Hamat (vasilha de) Kerí (sêmen). Há um Hamat cheio com Kerí. O Kerí induz a pessoa a pensar que tudo é Bemikré (fortuito).

 

 

 

(Ainda quando a Sitra Achra provoca nela pensamentos tais como dizer que tudo é fortuito, sem uma direção determinada, isto tampouco é casualidade, pois o Criador assim o quer).

 

 

 

No entanto, não se deve crer na recompensa e no castigo, e que existem um juízo e um juiz, e que tudo está conduzido pela “Providência da recompensa e do castigo”. Isto se deve a que, às vezes, quando algum desejo e manifestação do trabalho de Deus desperta dentro da pessoa, e ela acredita que isto aparece por casualidade, deve saber que também aqui ela realizou um esforço prévio para escutar. Rezou por ajuda de Cima, para poder executar uma ação intencionada, e isto se chama “elevar MAN”.  

 

 

 

Entretanto, a pessoa já o esqueceu e não considerou fazê-lo, já que não recebeu uma resposta imediata à sua oração, como para declarar: “Para que tu escutes a oração de cada boca”. Ainda assim, deve crer e entender que a ordem de Cima estabelece que a resposta à oração pode chegar vários dias ou meses depois de se haver rezado.

 

 

 

Não se deve pensar que não é por casualidade que a pessoa tenha recebido este Itorenut (Despertar) presente. Às vezes a pessoa diz: “Agora que sinto que não me falta nada e que nada me preocupa, minha mente está curada e saudável; e por esta razão, posso focar minha mente e meu desejo em direção ao trabalho de Deus”.

 

 

 

Disto se depreende que a pessoa pode dizer que todo o seu compromisso no trabalho de Deus consiste em que “sua força e o poder de sua mão lhe concederam riqueza”. Assim, quando a pessoa pode comprometer-se e alcançar necessidades espirituais, deve entender que esta é a resposta a sua oração. Aquilo pelo que ela pediu antes, agora sim foi respondido.

 

 

 

Ademais, às vezes, quando se lê algum livro, o Criador lhe abre os olhos e a pessoa sente um certo despertar; então, também sua reação normal é atribuir isto à causalidade. Não obstante, tudo está guiado.

 

 

 

Ainda que se saiba que toda a Torá consiste nos nomes do Criador, como que se pode dizer que através do livro se está lendo e se obtendo algum tipo de sensação sublime? A pessoa deve entender que normalmente lê o livro e sabe que a Torá inteira consiste nos nomes do Criador, mas que apesar disto não recebe iluminação nem sensação alguma. Pelo contrário, tudo está seco e o conhecimento que a pessoa possui não o ajuda sequer minimamente.

 

 

 

Portanto, quando a pessoa estuda de certo livro e deposita sua esperança Nele, o estudo deve apoiar-se sobre a base da fé, ou seja, que a pessoa crê na Providência e que o Criador lhe abrirá os olhos. Neste momento, a pessoa se vê necessitada do Criador, e desta forma está em contato com Ele. Por meio disto, se pode chegar à adesão (Dvekut) com Ele.

 

 

 

Existem duas forças que se opõem entre si: uma Força Superior e uma força inferior. A respeito da Força Superior está escrito: “Todo aquele que é chamado por Meu Nome, e a quem Eu criei para a Minha glória”. Isto significa que o mundo inteiro foi criado somente para a glória do Criador. A força inferior é o desejo de receber que argumenta que tudo foi criado para ele, tanto o corporal quanto o espiritual. Para ele, tudo obedece ao amor por si próprio.

 

 

 

O desejo de receber argumenta que merece este mundo e o mundo vindouro. Por suposto, o Criador triunfa, mas isto recebe o nome de “o caminho da dor”. Se denomina “um caminho longo”. Mas há outro caminho mais curto, chamado “o caminho da Torá”. A intenção de todos deveria estar dirigida a encurtar o tempo.

 

 

 

Isto é chamado “eu aceitarei”. Do contrário será “em seu tempo”, segundo foi dito pelos nossos sábios: “recompensado: eu aceitarei; não recompensado: a seu tempo”, “que coloco diante de ti um rei como Hamán, e ele te obrigará a corrigir-te.

 

 

 

A Torá começa com Bereshit (No princípio): “... Agora a terra estava sem ordem e vazia, e a escuridão...”, e finaliza assim: “Diante dos olhos de toda Israel”.

 

 

 

No princípio vemos que a terra está “sem ordem e vazia, e a escuridão...”, mas, então, quando todos se corrigem para poder outorgar, são recompensados com “Então disse Deus: ‘Seja feita a Luz’...” Até que aparece a Luz “diante dos olhos de toda Israel”. 

 

 

 

51. Se você encontrar esse vilão

(Ouvi após o feriado de Pessach, Tav-Shin-Gimel, 27 de abril de 1943)

 

Se você encontrar esse vilão, atraia-o ao seminário, etc., e senão, lembre-o do dia da morte.” Isso significa que ele vai lembrá-lo de que o trabalho deveria ser em um lugar onde ele não está presente, o qual está além da pele do indivíduo. Isso é chamado “trabalhar fora do corpo”, pois ele não tem um único pensamento sobre o seu próprio corpo.

 

52. Uma transgressão não extingue uma mitzvá

(Ouvi na véspera do Shabat, 9 de Iyar, Tav-Shin-Gimel, 14 de maio de 1943)

 

Uma transgressão não extingue uma mitzvá (mandamento), e uma mitzvá  não extingue uma transgressão.” A pessoa deve tomar o bom caminho, mas o mal que se encontra dentro dela não lhe permite fazer isso.

 

No entanto, o indivíduo deve saber que ele não precisa desenraizar o mal, já que isso é impossível. Ao invés disso, ele deve apenas odiar o mal, como está escrito: “Vós que amais ao Eterno, repudiais o mal” (Salmos 97:10). Apenas o ódio é necessário, já que ao odiar o mal a pessoa se separa dele.   

 

Por essa razão o mal não tem existência por si próprio. Ao contrário, a existência do mal depende do amor pelo mal ou do ódio pelo mal. Isso significa que se o indivíduo tem amor pelo mal, então ele está preso na autoridade do mal. Se o indivíduo odeia o mal, ele sai do seu território e o mal do indivíduo não tem domínio sobre si.

 

Segue-se que o trabalho primário não é no próprio mal, mas na medida do amor e na medida do ódio. Por essa razão, transgressão incita transgressão. Devemos perguntar: “Por que ele merece tal punição?” Quando o indivíduo cai em seu trabalho, ele deve ser ajudado a se levantar da queda. Mas aqui vemos que mais obstáculos são adicionados para que ele caia ainda mais abaixo do que na primeira queda, porque a fim de sentir ódio pelo mal, ele recebe mais mal, para que sinta como a transgressão o remove do trabalho do Criador. Apesar de ter se arrependido da primeira transgressão, ele ainda não sentiu remorso o suficiente para trazer a ele o ódio pelo mal.

 

Portanto, uma transgressão incita uma transgressão, e a cada vez ele se arrepende, e cada remorso certamente instiga o ódio pelo mal até que a medida do seu ódio pelo mal se complete, e então ele está separado do mal, já que o ódio induz à separação.

 

Segue-se, portanto, que se o indivíduo encontra uma certa medida de ódio em um nível que incita a separação, ele não precisa de uma correção do tipo transgressão-incita-transgressão, e assim poupa tempo. Quando o indivíduo já foi recompensado, ele é admitido no amor do Criador. Esse é o significado de “Vós que amais ao Eterno, repudiais o mal. Eles apenas odeiam o mal, mas o mal em si permanece no seu lugar, e é apenas ódio ao mal que precisamos.

 

Isso se extende de: “Entretanto, pouco menos que os anjos o fizeste e de glória e esplendor o corosaste” (Salmos 8:6), e esse é o significado da fala da serpente “E sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3:5). Isso quer dizer que quando o indivíduo se esforça e quer entender todas as condutas da Providência, como se fosse o Criador, e esse é significado de “A soberba de um homem o fará (ao fim) rebaixar-se” (Provérbios 29:23). Isso significa que o indivíduo quer entender tudo com a mente externa, e se ele não entende isso, está em um estado de humildade.

 

A verdade é que se o indivíduo desperta para saber algo é um sinal de que ele precisa saber disso. Quando ele supera a própria mente, o que ele quer entender, e toma tudo com fé acima da razão, isso é chamado a grande humilde no atributo humano. Você percebe que na medida em que o indivíduo tem uma demanda para saber mais, porém leva isso na fé acima da razão, você vê que ele está em maior humildade.

 

Agora podemos entender o que eles interpretaram sobre o verso: “E o homem Moisés era muito humilde” (Números 12:3), modesto e paciente. Isso significa que ele tolerava a humildade na medida mais alta possível.

 

Esse é o significado de Adam HaRishon comer da Árvore da Vida antes do pecado, e de ele estar em integridade. Contudo, ele não podia caminhar além do nível em que estava, pois ele não sentia qualquer falta no seu estado. Portanto, ele naturalmente não podia descobrir todos os Nomes Sagrados.

 

Por essa razão, fez que comesse da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, em concordância com o seguinte versículo: “Venha e veja as obras de Deus, terrível em Seus feitos sobre os filhos dos homens”. Através desse pecado, todas as Luzes o deixaram e ele foi obrigado a começar seu trabalho de novo. 

 

Sobre isso, a escritura diz que ele foi expulso do Jardim do Éden, porque se tivesse comido da Árvore da Vida ele teria vivido para sempre. Esse é o significado da interioridade dos mundos. Se o indivíduo entra, ele permanece lá para sempre. Isso significa que, mais uma vez, ele permaneceria sem qualquer falta. E para ser capaz de ir e revelar os Nomes Sagrados, os quais aparecem por meio da correção de bem e mal, ele precisava, portanto, comer da Árvore do Conhecimento.

 

É similar a uma pessoa que quer doar a seu amigo um grande barril repleto de vinho, mas o seu amigo tem apenas uma taça pequena. O que ele faz? Ele derrama o vinho nessa taça e leva a taça para casa e a derrama noutro recipiente. Então, ele começa a vir com a taça mais uma vez, e mais uma vez a enche com vinho. Daí, ele vai para a sua casa mais uma vez até que recebe todo o barril de vinho.

 

Ouvi outra parábola que falava de dois amigos, um que se tornou um rei e o outro que se tornou muito pobre, e ouviu que o seu amigo havia se tornado um rei. Então, o homem pobre foi até seu amigo, o rei, e lhe falou sobre o seu mau estado.

 

Então, o rei lhe deu uma carta destinada ao ministro do tesouro dizendo que, por duas horas, ele poderia receber quanto dinheiro quisesse. O homem pobre veio ao tesouro com uma pequena caixa, entrou, e preencheu aquela pequena caixa com dinheiro.

 

Quando saiu, o ministro chutou a caixa e todo o dinheiro caiu no chão. Isso continuou de novo e de novo, e o homem pobre começou a chorar: “Por que você está fazendo isso comigo?” Finalmente, ele disse: “Todo o dinheiro que você pegou durante todo esse tempo é seu e você vai levar tudo. Você não tinha recipientes para levar dinheiro suficiente do tesouro; é por isso que isso foi aplicado contra você.”

 

 

 

53. A questão da limitação

(Ouvi na véspera do Shabat, 1º de Sivan,Tav-Shin-Gimel, 4 de Junho de 1943)

 

 

A questão da limitação é para limitar o estado em que o indivíduo está e não quer Gadlut (grandeza/idade adulta). Ao invés disso, ele quer permanecer no seu presente estado para sempre, e isso é chamado eterna Dvekut (Adesão). Independente da medida de Gadlut do indivíduo, mesmo que ele tenha a menor Katnut (pequenez/infância), se ela brilha constantemente é considerado como se a eterna Dvekut tenha sido recebida.

 

No entanto, quanto ao indivíduo que quer mais Gadlut isso é considerado luxúria. Esse é o significado de “qualquer sofrimento será excedente”, no sentido de que a tristeza chega a uma pessoa porque ela quer luxos. É isso que significa que Israel veio receber a Torá e Moisés os guiou ao pé da montanha, como está escrito: “E estiveram ao pé do monte” (Êxodo 19:17).

 

(Uma montanha, Har, significa pensamentos, Hirhurim). Moisés os guiou ao fim do pensamento e do entendimento e da razão, o nível mais baixo que existe. Apenas então, quando eles concordaram com tal estado, com a condição de caminhar sem qualquer hesitação ou movimento, e permanecer nesse estado como se tivessem a maior Gadlut, e ficarem felizes com isso, esse é o significado de “Servi-O com alegria”, pois durante a Gadlut não pode ser dito que Ele lhes dá trabalho para se alegrarem, porque durante a Gadlut a alegria vem por si mesma. Ao invés disso, o trabalho da alegria lhes é dado para o tempo de Katnut, então eles terão felicidade apesar de sentirem a Katnut. E isso é muito trabalho.

 

Isso é chamado “a parte principal do nível”, o qual é discernido como Katnut. Esse discernimento deve ser permanente, e a Gadlut é apenas uma adição. Além disso, o indivíduo deve ansiar pela parte principal, não pelas adições.

 

 

 

 

54. O propósito do trabalho1

(O que ouvi em 16 de Shevat, Tav-Shin-Aleph, 13 de fevereiro de 1941)

 

É sabido que a servidão existe principalmente para “doar contentamento ao seu Fazedor”. Contudo, o indivíduo deve saber o significado de doação, já que isso é usado por todos, e é sabido que o hábito desgasta o sabor. Portanto, devemos clarificar completamente o significado da palavra doar.

 

A questão é que o desejo de receber também é incorporado no desejo de doar do inferior (mas o desejo de receber pode ser usado com correções), senão não há conexão entre doador e receptor. Isso é porque é impossível que um indivíduo doe e o outro indivíduo não doe nada em troca, ainda que vá haver um estado de parceria.

 

Apenas quando ambos demonstram amor um pelo outro há uma conexão e amizade entre eles. Mas se o indivíduo demonstra amor e o outro não dá nenhuma resposta, tal amor não é real e não tem direito de existir. Nossos sábios disseram sobre o verso “E para proclamar: ‘Tu és meu povo, Tsión’” (Isaías, 51:16). Não diga Ami (meu), mas Imi (comigo)[2], “para ser Meu parceiro” (Zohar Beresheet,p. 5), significando que as criaturas estão em uma parceria com o Criador.

 

Segue-se que quando o inferior quer doar ao Criador também o inferior deveria receber do Criador. Isso é chamado parceria, quando o inferior doa, e o superior doa também.

 

No entanto, o desejo de receber deveria ansiar por aderir a Ele e receber a Sua abundância, sustento e bondade; e esse foi o propósito da Criação, fazer bem às Suas criações.

 

Contudo, devido à quebra que ocorreu no mundo de Nekudim, o desejo de receber caiu no domínio das Klipot (cascas), pelo qual foram feitos dois discernimentos no Kli (vaso): 1) Desenvolveu uma relação com os prazeres separados, e o trabalho de sair da autoridade das Klipot é chamado “o trabalho da purificação”; 2) O segundo discernimento que ocorreu durante a quebra é a separação dos prazeres espirituais.

 

Em outras palavras, o indivíduo se torna distante da espiritualidade e não tem nenhum desejo pela espiritualidade. A correção para isso é chamada Kedushá (Santidade), onde a ordem do trabalho é desejar a Sua exaltação. Nesse estado, o Criador brilha para o indivíduo nesses vasos. Porém, devemos saber que na medida em que ele tem Kelim (vasos) de pureza, chamados “odiar o mal”, nessa medida ele pode trabalhar em Kedushá, como está escrito: Vós que amais ao Eterno, repudiais o mal.

 

Segue-se que há dois discernimentos: 1) Pureza; 2) Kedushá. Kedushá é chamada de Kli, a preparação para receber a Sua bondade, por meio de fazer o bem às Suas criações. No entanto, esse Kli é atribuído ao indivíduo inferior, sendo que cabe a nós repará-lo. Em outras palavras, cabe a nós ansiar pelo bem, e isso significa engajar-se extensivamente na exaltação Dele e na própria humildade.

 

Contudo, a abundância que deveria aparecer no Kli de Kedushá está nas mãos do Criador. Ele é Quem transmite abundância ao inferior. Nesse momento, o indivíduo não pode ajudar de nenhuma forma e isso é chamado “As coisas secretas pertencem ao Senhor nossos Deus”.

 

O Pensamento da Criação, chamado “Fazer o bem às Suas criações”, começa a partir do Ein Sof (infinito). Por essa razão, rezamos ao Ein Sof, ou seja, para a conexão que existe entre o Criador e as criaturas. Esse é o significado do que está escrito nos registros do Ari, que devemos rezar ao Ein Sof.

 

É assim porque o Atzmuto (Ele Mesmo) não tem conexão com as criaturas, já que o início da conexão começa em Ein Sof, onde está o nome Dele, o qual é a raiz da criação. Esse é o significado do que está escrito no Talmude de Jerusalém, que aquele que reza, rezará ao Nome, significando que lá está o Seu nome, e o Seu nome e o Ein Sof são chamados, nas palavras da lenda, e “Uma torre repleta de abundância”. É por isso que rezamos ao Nome, para receber o benefício que nos foi preparado com antecedência.

 

É por isso que Keter é chamado “Seu desejo de fazer o bem às Suas criações”, e o benefício em si é chamado Chochmá (Sabedoria), a qual é a abundância em si. É por isso que Keter é chamado de Ein Sof e “Emanador”. No entanto, Chochmá ainda não é chamada de “emanado”, já que ainda não há um Kli em Chochmá, e ela é considerada uma Luz sem um Kli.

 

Por essa razão, Chochmá também é discernida como o Emanador, porque não há realização (Attainment) na Luz sem um Kli, e toda a diferença entre Keter e Chochmá é que lá a raiz do emanado está mais revelada.

 

 

55. Haman da Torá, de onde?

(Ouvi em 16 de Shevat, Tav-Shin-Aleph, 13 de fevereiro de 1941)

 

 

Haman da Torá, de onde? “Por acaso comeste da árvore da qual te ordenei não comer?” (Genesis 3:11). Devemos entender a conexão entre Haman e Etz ha Daat (Árvore do Conhecimento). Etz ha Daat é considerado o estado de grandeza da recepção, o qual não está em Kedushá (santidade) e deve ser trazido para a Kedushá por meio de correções.

 

A qualidade de Haman também é o estado de grandeza da recepção, como está escrito que Haman disse: “A quem o rei”, o Rei do mundo, “iria querer honrar mais do que a mim?” Isso significa que ele é discernido como o estado de grandeza da recepção, e isso é discernido como “E o seu coração se elevou nos caminhos do Eterno” (2 Crônicas 17:6).

 

 

 

56. Torá se chama Indicação

(Ouvi em 1º de BeShalach, Tav-Shin-Aleph, 2 de fevereiro de 1941)

 

 

A Torá é chamada “indicação”, da palavra “disparou”[3]. Significa que quando o indivíduo se engaja na Torá ele sente o seu afastamento na medida do seu esforço. Em outras palavras, a verdade lhe é mostrada, ou seja, a medida da sua fé lhe é mostrada, a qual é a base inteira da verdade.

 

A base da observação da Torá e das Mitzvot (mandamentos) é na medida da fé, pois então lhe aparece que a sua base inteira é construída apenas sobre a educação que ele recebeu. Isso é porque a educação é o suficiente para ele manter a Torá e as Mitzvot em todas as suas complexidades e detalhes, e tudo o que vem por meio da educação é chamado “fé dentro da razão”.

 

Apesar disso ser contrário a mente, pois a razão precisa disso de acordo com os acréscimos que o indíviduo precisa fazer em Torá, assim ele deveria se sentir mais perto do Criador. Porém, a Torá sempre lhe mostra mais da Verdade. Quando ele busca pela Verdade, a Torá lhe traz mais perto da Verdade e ele enxerga a sua medida de fé no Criador.

 

É assim para que ele seja capaz de pedir por misericórdia e rezar ao Criador para que lhe traga genuinamente para mais perto Dele, o que significa que o indivíduo será recompensado com fé no Criador. Então, ele será capaz de louvar e ser grato ao Criador por ter permitido que se aproximasse Dele.

 

No entanto, quando o indivíduo não enxerga a medida do seu afastamento e pensa que adiciona constantemente, percebe-se que ele constrói todas as edificações sobre uma base frágil, e ele não tem lugar para rezar ao Criador para ser aproximado Dele. Segue-se que ele não tem lugar para se esforçar para que lhe seja transmitida a fé completa, pois o indivíduo se esforça apenas no que precisa.

 

Assim, enquanto o indivíduo não for digno de enxergar a Verdade, é ao contrário. Quanto mais ele adiciona Torá e Mitzvot, ele os adiciona na medida da sua completude e não vê qualquer déficit em si mesmo. Portanto, ele não tem lugar para se esforçar e rezar para que lhe seja concedida a fé no Criador de verdade, porque quando ele sente corrupção, deveria se dizer correção.

 

Porém, quando se se engaja verdadeiramente na Torá e nas Mitzvot, a Torá lhe mostra a Verdade, porque a Torá tem esse poder de mostrar ao indivíduo seu verdadeiro estado de fé (e esse é o significado de “ser conhecido”).

 

Quando o indivíduo se engaja na Torá e enxerga a Verdade, ou seja, enxerga a medida do seu afastamento da espiritualidade, e vê que é um ser tão baixo que não há pessoa pior que ele na terra, então a Sitra Achra (Outro Lado) vem a ele com um argumento diferente: De fato, seu corpo é realmente muito feio, e é verdade que não há pessoa mais feia que você no mundo. Ela lhe diz isso para que ele se desespere, pois ela tem medo que ele note e passe a corrigir o seu estado. Por essa razão, ela concorda com o que ele diz, que é uma pessoa feia, e deixa que ele entenda que, se tivesse nascido com maiores habilidades e melhores qualidades, ele poderia superar esse mal e corrigi-lo, e ele seria capaz de atingir a Dvekut (adesão) com o Criador.

 

A resposta a isso deveria ser que o que ela lhe diz é trazido no Masechet Taanit (p. 20), que o Rabino Elazar, filho do Rabino Shimon, veio de uma torre cercada até a casa de seu professor. Ele estava montado num burro, e passeando pela margem do rio, sentindo grande alegria. E a sua mente estava intolerante, pois ele havia estudado muita Torá.

 

Uma pessoa muito feia cruzou por ele e lhe disse: “Olá, rabino”. Mas ele não  respondeu. Elazar pensou: “Nossa, como esse homem é feio”. Depois, perguntou: “Todos os seus conterrâneos são tão feios quanto você?” O outro respondeu: “Eu não sei, mas vá e diga ao artesão que me fez ‘Como é feio esse vaso que você fez’”. Ao se dar conta de que havia pecado, Elazar desceu do burro.

 

De acordo com o que lemos acima, podemos ver que, por ter aprendido muita Torá, lhe foi concedido enxergar a verdade sobre a distância entre ele e o Criador, ou seja, a medida do seu afastamento e da sua proximidade. Esse é o significado de a sua mente estar bruta, intolerante, no sentido de que ele viu a forma completa de quem é orgulhoso, que é o seu desejo de receber, e então ele pôde enxergar a verdade de que ele próprio era muito feio. Como ele viu a verdade? Ao aprender muita Torá.

 

Portanto, como ele será capaz de aderir a Ele, já que é uma pessoa tão feia? É por isso que ele perguntou se todas as pessoas eram tão feias quanto o estranho ou se ele era o único feio e o resto das pessoas no mundo não eram feias.

 

Qual foi a resposta do homem? “Eu não sei.” Significa que eles não sentem e, portanto, não sabem. E por que eles não sentem? É pela simples razão de que eles não foram recompensados com a visão da verdade, pois lhes falta Torá, portanto a Torá lhes mostrará a verdade.

 

Diante disso, Eliseu replicou: “Vá ao artesão que me fez”, porque ele viu que Elazar estava num estado do qual não podia ascender. Por essa razão, Eliseu lhe apareceu e lhe disse: “Vá ao artesão que me fez”. Em outras palavras, já que o Criador te criou tão feio, o Criador sabe que são com esses Kelim (vasos) que é possível atingir o objetivo.

 

Então, não te preocupa. Vai em frente e tenha êxito.

 

 

 

57. O trará como oferenda queimada à Sua vontade

(Ouvi em 1º de Yitro, Tav-Shin-Dalet, 5 de fevereiro de 1944)

 

 

Sobre o versículo “O trará como oferedenda queimada à Sua vontade” nossos sábios disseram: “Por quê? Ele é forçado, até que diga ‘Eu quero’”. Devemos também entender o que é a nossa oração: “Que haja um desejo”, já que o desejo da vaca de alimentar o seu terneiro é maior do que o desejo dele de se alimentar. Portanto, por que necessitamos orar para “Que haja um desejo Acima”?

 

É sabido que para se extrair a Abundância de Cima antes se deve experimentar um despertar de baixo. Devemos entender por que precisamos de um despertar de baixo. Por causa disso, rezamos para que haja um desejo Acima. Isso significa que devemos evocar um desejo de Cima para que seja executado abaixo.

 

Não é suficiente que tenhamos um desejo. Precisa haver, também, boa vontade da parte do Doador. Apesar de Acima haver um desejo geral de fazer o bem às Suas criações, Ele ainda espera pelo nosso desejo de despertar o desejo Dele.

 

Em outras palavras, se não somos capazes de evocar o desejo Dele é um sinal de que o desejo por parte do receptor ainda está incompleto. Portanto, precisamente ao rezar para que haja uma vontade Acima, o nosso desejo se transforma num desejo genuine que possa ser um Kli (vaso) digno de receber a Abundância.

 

Ao mesmo tempo, devemos dizer que tudo o que fazemos, tanto ruim quanto bom, tudo é atraído de Cima (o que é o significado de “Providência Particular”), que o Criador faz tudo. Ainda assim, ao mesmo tempo, devemos nos arrepender das más ações, apesar de que também elas são atraídas de Cima.

 

A mente exige que não nos lamentemos, mas que justifiquemos o julgamento e que merecemos os nossos maus atos. Não obstante, é ao contrário: devemos lamentar por não termos tido permissão para realizar boas ações, o que certamente é o resultado de uma punição no sentido de que somos indignos de servir ao Rei.

 

Se tudo é guiado de Cima, como podemos dizer que somos indignos, já que não há nenhum ato abaixo? Por isso nos são enviados maus pensamentos e desejos que nos distanciam do Trabalho do Criador, pois somos indignos de servir a Ele. Por essa razão, há uma oração para isso, pois esse é um lugar de correção para se tornar digno e capaz de receber o Trabalho do Rei.

 

Agora podemos ver porque há uma oração para determinado problema. Esse problema deve ter vindo como uma punição, e punições devem ser correções, pois há uma regra de que a punição é uma correção. Então, por que rezamos ao Criador para cancelar nossas correções?

 

Nossos sábios se referem ao versículo “Então, teu irmão deverá ser desonrado diante dos teus olhos”  (Deuteronômio 25:3), já que o atingido é o teu irmão. Devemos saber que a oração corrige a pessoa ainda mais que a punição. Portanto, quando a oração aparece ao invés da punição, a aflição é levantada e a oração é colocada no seu lugar a fim de corrigir o corpo.

 

Esse é o significado do que os nossos sábios disseram: “Recompensado, pela Torá; não recompensado, pelo sofrimento”. Devemos saber que o Caminho da Torá é  um trajeto de mais sucesso e rende mais benefícios do que o Caminho do Sofrimento. Isso porque os Kelim (vasos) que serão dignos de receber a Luz Superior são maiores e podem conceder a Dvekut (adesão) com Ele. Esse é o signifcado de “Ele é forçado até que diga ‘Eu quero’”. Significa que o Criador diz: “Eu quero as ações dos inferiores.”

 

O significado da oração é o que os nossos sábios disseram: “O Criador ansiou pela oração dos justos”, pois, por meio da oração, os Kelim se tornam dignos para que depois o Criador possa lhes doar Abundância, já que há um Kli digno de receber a Abundância.

 

 

 

58. A alegria é um “reflexo” das boas ações

(Ouvi em Sukot, Inter 4)

 

A alegria é um “reflexo” das boas ações. Se as ações são de Kedushá (Santidade), então a alegria aparece. Porém, devemos saber que há também um discernimento de uma Klipá (casca). A fim de saber se é Kedushá, o escrutínio deve ser feito através da razão. Em Kedushá, há uma razão, e na Sitra Achra (Outro Lado) não há razão nenhuma, pois um outro deus é estéril e não dá frutos. Assim, quando a alegria vem para uma pessoa, ela deve mergulhar nas palavras da Torá a fim de descobrir o pensamento da Torá.

 

Também devemos saber que a alegria é discernida como iluminação superior que aparece por meio de MAN, que são boas ações. O Criador sentencia o indivíduo onde ele está. Em outras palavras, se o indivíduo toma para si o fardo do Reino dos Céus para a eternidade, há uma iluminação superior imediata sobre isso, a qual também é considerada eternidade.

 

Mesmo que o indivíduo veja que, evidentemente, ele logo vai cair do seu nível, Ele ainda o sentencia onde ele está. Isso significa que se uma pessoa decidiu, agora, tomar sobre si o fardo do Reino dos Céus para a eternidade, isso é considerado completude.

 

No entanto, se ele toma sobre si o fardo do Reino dos Céus e não quer que esse estado permaneça nela para sempre, essa coisa e essa ação não são consideradas completude e, naturalmente, a Luz Superior não pode vir e repousar nele. Isso é porque a Luz é completa e eterna, e não vai mudar. Com uma pessoa, no entanto, mesmo se ela quiser, o estado em que está não será para sempre.

 

 

59. Sobre a vara e a serpente

(Ouvi em 13 de Adar, Tav-Shin-Het, 23 de fevereiro de 1948)

 

Então Moisés respondeu, dizendo: Mas eles não acreditarão em mim” etc. “E o Eterno disse para ele: ‘Que é isso em tua mão?’ - e disse: “Uma vara”. E Ele disse: ‘Jogue-a ao chão”… E virou uma cobra, e Moisés fugiu de sua face” (Êxodo 4:1-3).

 

Devemos interpretar que não há mais do que dois degraus, ou Kedushá (Santidade) ou Sitra Achra (Outro Lado). Não há estado intermediário, mas a mesma vara se torna uma serpente se jogada ao chão.

 

A fim de entender isso, vamos primeiro trazer as palavras dos nossos sábios, de que Ele havia colocado a Sua Shechiná em árvores e pedras. Árvores e pedras são chamadas coisas de importância inferior, e especificamente desta maneira Ele colocou a Sua Shechiná. Esse é o significado da pergunta “Que é isso em tua mão?”.

 

Uma “mão” significa alcançar (attainment), a partir das palavras “se uma mão alcança”. Uma “vara” significa que todas as obtenções estão construídas no discernimento de importância inferior, o qual é a fé acima da razão.

 

A fé é considerada como tendo importância inferior, e como humildade. O indivíduo aprecia as coisas que se vestem dentro da razão. Contudo, se a mente do indivíduo não alcança isso, mas resiste, então ele deve dizer que a fé é de importância superior a sua mente. Segue-se que nesse momento ele rebaixa sua mente e diz que a fé é mais importante que sua mente, que aquilo que ele compreende através da razão resiste ao caminho do Criador. Isso é assim por que todos os conceitos que contradizem o caminho do Criador não têm nenhum valor.

 

Ao contrário: “Que eles têm olhos, mas não veem, têm ouvidos, mas não ouvem”. Significa que a pessoa precisa anular tudo o que ouve e vê e isso é chamado “ir acima da razão”. E, assim, isso tudo parece algo inferior e pequeno.

 

No entanto, em relação ao Criador a fé não é considerada algo pequeno, pois quem não tem nenhuma outra escolha a não ser tomar o caminho da fé considera a fé como algo pequeno. Contudo, o Criador poderia ter colocado a Sua Shechiná em algo que não fosse árvores e pedras, mas Ele escolheu esse caminho, chamado de fé, especificamente. Ele deve tê-lo escolhido porque é melhor e mais bem-sucedido. Podemos ver que para Ele a fé não é considerada como sendo de importância inferior. Ao contrário, esse caminho especificamente tem muitos méritos, mas aparece como insignificante aos olhos das criaturas.

 

Se a vara é jogada ao chão e o indivíduo quer trabalhar com um discernimento mais elevado, ou seja, dentro da razão, degradando o discernimento acima da razão, e esse trabalho lhe parece baixo, então a Torá e o seu trabalho imediatamente se trasformam numa serpente. Esse é o significado da serpente primordial, e esse é o significado de “Quem for orgulho, o Criador lhe diz, ‘ele e eu não podemos viver na mesma morada’”.

 

A razão disso, como já dissemos, é que Ele colocou a Sua Shechiná em árvores e pedras. Portanto, se o indivíduo joga o discernimento da vara ao chão, e se eleva para trabalhar com um atributo mais elevado, isso já é uma serpente. Não há meio termo. Ou é uma serpente ou é Kedushá, pois toda a Torá e o trabalho que o indivíduo teve a partir do discernimento da vara entrou agora para o discernimento da serpente.

 

É sabido que a Sitra Achra não tem luzes. Portanto, também na corporalidade o desejo de receber tem apenas deficiências, mas não a satisfação do preenchimento. E o vaso de recepção permanece para sempre em déficit, sem preenchimento, porque aquele que tem cem quer duzentos e assim sucessivamente. E, dessa forma, o indivíduo morre sem ter sequer a metade do que desejava.

 

Isso vem de raízes superiores. A raiz da Klipá (casca) é o vaso de recepção, e isso não tem correção alguma durante os seis mil anos, que é o tempo estipulado para a correção da humanidade. Sobre os vasos de recepção se realiza o tzimtzum (restrição) e desse modo esses vasos ficam sem Luz e Abundância.

 

É por isso que eles seduzem o indivíduo a atrair a Luz para o seu nível. E as luzes que o indivíduo recebe por estar aderido à Kedushá, já que a abundância brilha na Kedushá, quando os vasos seduzem a pessoa a atrair abundância ao seu estado presente, são recebidos pelos vasos de recepçõa. Assim, esses vasos têm domínio sobre a pessoa, ou seja, eles lhe dão satisfação no estado em que está para que não se mova dali.

 

Portanto, o indivíduo não pode avançar por meio desse domínio, pois ele não tem necessidade de um nível mais alto. E já que não tem necessidade, ele não pode se mover desse lugar, nem mesmo fazer um pequeno movimento.

 

Nesse estado, a pessoa é incapaz de discernir se está avançando na Kedushá ou ao contrário. E isso acontece porque a Sitra Achra lhe dá poder para trabalhar com mais força já que agora ele está dentro do âmbito da razão e isso lhe permite trabalhar num estado que não considera inferior. E assim o indivíduo permanece sob a autoridade da Sitra Achra.

 

Para que uma pessoa não permaneça sob a autoridade da Sitra Achra, o Criador criou uma correção segundo a qual se alguém deixa o discernimento da vara cai imediatamente no discernimento da serpente. A pessoa cai imediatamente num estado de fracasso e não tem poder nem força para evoluir, a menos que opte outra vez pelo discernimento da fé, chamado humildade.

 

Segue-se que os fracassos em si levam o indivíduo a tomar sobre si, mais uma vez, o discernimento da vara, o qual é o discernimento da fé acima da razão. Esse é o significado do que Moisés disse: “Mas se eles não acreditarem em mim e nem ouvirem a minha voz?” Significa que as pessoas não desejam assumer o caminho do trabalho da fé acima da razão.

 

Nesse estado, o Criador lhe disse: “O que é isso em tua mão?” “Uma vara”. “Atire-a ao chão”, e então, prontamente, “ela se transformou numa serpente”. Significa que não há estado intermediário entre a vara e a serpente. É melhor saber se o indivíduo está em Kedushá ou em Sitra Achra.

 

Acontece que, em qualquer caso, a pessoa não tem nenhuma opção senão assumir o discernimento da fé acima da razão, chamado “uma vara”. Essa vara deve estar na mão; a vara não deve ser jogada. Esse é o significado do verso “a vara de Aarão… floresceu” (Números 17:23).

 

Significa que todos os frutos que a pessoa conseguiu no serviço ao Criador foi baseado especificamente na vara de Aarão. Isso significa que Ele queria nos enviar um sinal para sabermos se estamos andando no caminho da verdade ou não. Ele nos deu como um sinal para se saber apenas a base do trabalho, ou seja, sobre qual base o indivíduo está trabalhando. Se a base de um indivíduo é a vara, ela é Kedushá, e se a base é dentro da razão, esse não é o caminho para atingir a Kedushá.

 

Contudo, no trabalho em si, ou seja, na Torá e na oração, não há distinção entre aquele que serve a Ele e aquele que não serve a Ele. Isso é assim porque ali está ao contrário: Se a base está dentro da razão, ou seja, baseada em saber e receber, o corpo fornece combustível para o trabalho, e o indivíduo pode rezar e estudar de forma mais persistente e com entusiasmo, já que tem como base a razão.

 

Porém, quando o indivíduo toma o caminho da Kedushá, cuja base é a doação e a fé, ele precisa de muita preparação para que a Kedushá venha a brilhar para ele. Sem preparação, o corpo não fornece ao indivíduo a força para trabalhar, e ele deve sempre se esforçar extensivamente, pois a raiz do homem é a recepção e dentro da razão.

 

Portanto, se o seu trabalho está baseado nas coisas terrenas, ele pode ficar sempre bem. Mas se a base do trabalho está no discernimento da doação e acima da razão, ele precisa de esforços eternos para que não caia na sua raiz de recepção e dentro da razão.

 

O indivíduo não deve se distrair nem por um minuto, ou ele cairá na rua raiz mundana, chamada “pó”, como está escrito: “Pois tu és pó e ao pó hás de retornar” (Gênesis 3:19). E isso foi após o pecado da Árvore do Conhecimento. 

 

O indivíduo verifica se está avançando na Kedushá ou ao contrário, já que outro deus é estéril e não produz fruto. O Zohar nos dá esse sinal, de que especificamente na base da fé, chamada “uma vara”, são transmitidas ao indivíduo a fecundidade e a multiplicação na Torá. Esse é o significado de a vara de Aarão…floresceu: O florescimento e o crescimento vêm especificamente por meio da vara.

 

Portanto, assim como o indivíduo levanta da cama todos os dias e se lava para purificar o corpo da sujeira do corpo, ele também deveria se lavar da sujeira da Klipá, para verificar por si mesmo se a sua qualidade de vara está em completude.

 

Essa deve ser uma verificação perpétua, e se o indivíduo se distrai dela, ele cai imediatamente na autoridade da Sitra Achra, chamada “receber para si mesmo”. Ele imediatamente se torna escravo dela, pois sabe-se que a Luz faz o Kli. Portanto, por mais que o indivíduo trabalhe a fim de receber, nessa medida ele precisa apenas de um desejo de receber para si mesmo e se distancia das questões relacionadas à doação.

 

Agora podemos entender as palavras dos nossos sábios: “Seja muito, muito humilde.” O que é essa preocupação exagerada que diz “muito, muito”? É porque o indivíduo se torna carente de pessoas ao ter sido homenageado uma vez. Primeiro, ele recebe a honra não porque queria aproveitá-la, mas por outras razões, como a glória da Torá etc. Ele tem certeza desse escrutínio, já que ele sabe a respeito de si mesmo que não tem desejo por nenhum tipo de honra.

 

Segue-se que é razoável pensar que lhe é permitido receber a honra. Porém, ainda é proibido receber, pois a Luz faz o Kli. Portanto, depois de ter recebido a honra, ele se torna carente da honra, ele já está em seu domínio, e é difícil se libertar da honra.

 

Através disso, o indivíduo adquire a sua própria realidade, e agora é difícil se anular perante o Criador, pois por meio da honra ele se tornou uma entidade separada, e a fim de obter a Dvekut (Adesão) o indivíduo deve anular completamente a sua realidade, por isso o “muito, muito”. “Muito” quer dizer que é proibido receber honra para si mesmo, e o outro “muito” quer dizer que mesmo quando a intenção não é para si mesmo ainda assim é proibido receber.

 

 

60. Uma Mitzvá que surge por meio da transgressão

(Ouvi em 1º Tetzave, Tav-Shin-Gimel, 14 de fevereiro de 1943)

 

Uma mitzva (mandamento) que surge por meio da transgressão significa que se o indivíduo toma o trabalho sobre si mesmo a fim de receber uma recompensa isso é dividido em duas coisas:

 

1. A recepção do trabalho, a qual é chamada uma mitzva;

 

2. A intenção: Receber uma recompensa. Isso é chamado de pecado porque a recepção leva o indivíduo da Kedushá (Santidade) para a Sitra Achra (Outro Lado).

 

Toda a base e a razão que deu força ao indivíduo para trabalhar foi a recompensa. Portanto, uma mitzvá “que vem” significa que ele foi levado a executar a mitzvá, essa é a transgressão. É por isso que é chamado “uma mitzvá que vem”, pois quem traz a mitzvá é a transgressão, a qual é somente a recompensa.

 

O conselho para isso é fazer o trabalho na forma de “sem olhar além”, no sentido de que o objetivo inteiro do trabalho seja aumentar a glória no céu no mundo. Isso é chamado trabalhar a fim de levantar a Shechiná (Divindade) do pó.

        

A questão de levantar a Shechiná significa que a Shechiná é chamada “o coletivo das almas”. Ela recebe a abundância do Criador e distribui às almas. O Administrador e o que transfere a abundância às almas é chamado “a unificação do Criador e a Sua Shechiná”, pois nesse momento a abundância se estende aos inferiores. No entanto, quando não há unificação, não há extensão da abundância aos inferiores.

 

Para tornar isso mais claro, porque o Criador quis deleitar as Suas criaturas, portanto, da mesma forma como Ele pensou em distribuir a abundância, Ele também pensou na recepção da abundância. Ou seja, que os inferiores receberiam a abundância. Mas ambos em potencial, no sentido de que depois as almas virão e receberão a abundância na prática.

 

Além disso, o receptor da abundância em potencial é chamado Shechiná, pois o pensamento do Criador é uma realidade completa e Ele não precisa de um ato verdadeiro. Por isso, o inferior (aqui o texto está interrompido) … 

 

 

61. Em Seu redor esbraveja a tempestade

(Ouvi em 9 de Nissan, Tav-Shin-Het, 18 de abril de 1948)

 

Nossos sábios dizem sobre o verso “Em Seu redor esbraveja a tempestade” (Salmos 50:3) que o Criador é meticuloso com os justos, na medida de um fio de cabelo. Ele perguntou: Se eles são, em geral, justos, por que merecem uma punição rígida?

 

A questão é que todas as fronteiras das quais falamos nos mundos são da perspectiva dos receptores, ou seja, os inferiores se limitam e se restringem a algum nível, e assim permanecem abaixo, pois Acima eles concordam com tudo o que os inferiores fazem. Portanto, nessa medida a abundância é atraída para baixo. Assim, por meio dos seus pensamentos, palavras e ações, os inferiores fazem a abundância descer dessa maneira.

 

Acontece que se o inferior considerar um ato ou palavra pequenos como se fosse um ato importante, tal como considerar uma pausa momentânea na Dvekut (Adesão) com o Criador como transgredir a mais grave proibição na Torá, então há consenso Acima para a opinião do inferior, e isso é considerado Acima como se ele realmente tivesse quebrado uma séria proibição. Assim, o justo diz que o Criador é meticuloso com ele como um fio de cabelo, e tal como diz o inferior, assim é acordado Acima.

 

Quando o inferior não sente uma mínima proibição como sendo séria, Acima eles também não consideram as coisas triviais que ele transgride como grandes proibições. Assim, tal pessoa é tratada como uma pessoa pequena, no sentido de que suas mitzvot (mandamentos) são considerados pequenos, e suas transgressões são consideradas pequenas também. São consideradas como tendo o mesmo peso e a pessoa é geralmente considerada pequena.

 

Porém, aquele que respeita as coisas triviais e diz que o Criador é meticuloso sobre eles como um fio de cabelo é considerado uma grande pessoa, e tanto suas transgressões como suas mitzvot são grandes.

 

O indivíduo pode sofrer quando comete uma transgressão na mesma medida em que sente prazer quando executa uma mitzva (mandamento). Há uma alegoria sobre isso: Um homem cometeu um crime terrível contra a realeza e foi sentenciado a vinte anos na prisão com trabalho forçado. A prisão era fora do país, em um lugar desolado do mundo. A sentença foi cumprida imediatamente e ele foi enviado ao local desolado no fim do mundo.

 

Lá ele encontrou outras pessoas que foram sentenciadas pelo reino para ficarem lá como ele, mas ele adoeceu com amnésia e esqueceu que tinha uma esposa e filhos, amigos e conhecidos. Ele pensou que o mundo inteiro não era nada além daquele local desolado com as pessoas que lá estavam, pensou que havia nascido lá, e não sabia mais do que isso. Portanto, a sua verdade era de acordo com o sentimento presente e ele não tinha consideração pela realidade de fato, apenas de acordo com o seu conhecimento e sensações.

 

Lá foram-lhe ensinadas as regras e as regulações para que ele não as quebrasse mais uma vez, e se mantivesse longe das transgressões definidas lá, e soubesse como corrigir suas ações a fim de ser tirado de lá. Nos livros do rei, ele aprendeu que o indivíduo que quebra uma regra, por exemplo, é enviado para uma terra punitiva longe de qualquer povoado. Ele ficou impressionado por essa punição rígida e queixou-se sobre essa punição.

 

Contudo, ele nunca pensaria que ele próprio era um desses que quebrou as regras do estado, que ele havia sido rigidamente sentenciado, e que o veredito havia sido cumprido. E porque adoeceu com amnésia, ele nunca sentiu o seu verdadeiro estado.

 

Esse é o significado de “Em Seu redor esbraveja a tempestade”. O indivíduo deve considerar cada um dos seus movimentos, como se ele próprio já tivesse transgredido os mandamentos do rei, e como se já tivesse sido banido do mundo. Agora, por meio de muitas boas ações, a sua memória começa a funcionar e ele começa a sentir o quão afastado ele se tornou do seu lugar estabelecido no mundo.

 

Com isso, ele começa a se envolver em arrependimento até que seja tirado de lá e trazido de volta ao seu lugar de direito, e esse sentimento vem especificamente pelo trabalho do indivíduo. Ele começa a sentir que cresceu longe da sua origem e da sua raiz até que sera recompensado com a Dvekut com o Criador.

 

 

 

62. Desce e incita, sobe e reclama

(Ouvi em Aleph Adar 19, Tav-Shin-Het, 29 de fevereiro de 1948)

 

Desce e incita, sobe e reclama.” O indivíduo deve sempre examinar a si mesmo, se a sua Torá e o seu trabalho não descem ao abismo. Isso é porque a sua grandeza é medida pela medida da sua Dvekut (Adesão) com o Criador, ou seja, na medida da sua anulação perante o Criador.

 

Em outras palavras, o amor próprio não merece referência e o indivíduo deseja se anular completamente. Isso é assim porque naquele que trabalha a fim de receber a medida do seu trabalho é a medida da sua própria grandeza. Nesse momento, ele se torna um ser, um objeto, e uma autoridade separada. Nesse estado é difícil para ele se anular perante o Criador.

 

No entanto, quando o indivíduo trabalha a fim de doar, quando ele completa o seu trabalho, no sentido de que já corrigiu todos os vasos de recepção para si mesmo daquilo que tem na raiz de sua alma, então ele não tem mais nada para fazer no mundo. Segue-se que deveria pensar e se concentrar apenas nesse ponto.

 

O sinal pelo qual se vê se o indivíduo está andando no caminho da verdade é se ele está na forma de “descer e incitar”, ou seja, todo o seu trabalho está em um estado de descenso. Nesse estado, ele está na autoridade da Sitra Achra (Outro Lado), e então ele ascende e reclama, ou seja, sente que está em um estado de ascensão e reclama dos outros. Contudo, aquele que trabalha em pureza, não pode reclamar dos outros e sempre reclama de si mesmo, e vê os outros em um nível melhor do que sente sobre si mesmo.

 

 

63. Eu tomei emprestado, e retribuo

(Ouvi ao anoitecer após o Shabat, Tav-Reish-Tzadi-Het, 1938)

 

Entenda o que os nossos sábios dizem: “Eu tomei emprestado, e retribuo.” Significa que o propósito de criar o céu e a terra é a Luz do Shabat. Essa Luz deve ser revelada para os inferiores, e esse propósito aparece por meio da Torá e das mitzvot (mandamentos) e de boas ações.

 

A Gmar Tikun (Fim da Correção) acontece quando essa Luz aparece por completo por meio de um despertar de baixo, ou seja, precedido por Torá e mitzvot. Antes da Gmar Tikun também há um discernimento do Shabat, chamado “Uma semelhança ao mundo vindouro”, quando a Luz do Shabat brilha tanto no individual quanto no público como um todo.

 

A Luz do Shabat vem como empréstimo, ou seja, sem um esforço prévio, embora depois o indivíduo deverá saldar essa dívida. Em outras palavras, posteriormente ele terá que fazer, como pagamento, todo o esforço que deveria ter feito antes que recebesse essa Luz. 

 

Esse é o significado de “Eu tomei emprestado”, ou seja, a Luz do Shabat foi atraída a crédito, e eu vou pagar, do verso “e soltará o cabelo da cabeça da mulher” (Números 5:18). Significa que o Criador vai revelar essa Luz apenas se Israel tomá-la emprestado, ou seja, atraí-la. Apesar de ainda não serem dignos, por meio do empréstimo, o indivíduo ainda assim pode atraí-la.

 

 

64. A partir de Lo Lishmá chegamos a Lishmá

(Ouvi em Vayechi, 14 de Tevet, Tav-Shin-Het, 27 de dezembro de 1947)

 

 

A partir de Lo Lishmá (Não em Seu nome) chegamos a Lishmá (Em Seu nome)”. Se prestarmos bem atenção, podemos dizer que o período de Lo Lishmá é o momento mais importante, pois é mais fácil unir o ato com o Criador.

 

É assim porque em Lishmá o indivíduo diz que fez essa boa ação porque está servindo ao Criador por completo, e todas as suas ações são pelo bem do Criador. Segue-se que ele é o dono do ato.

 

No entanto, quando o indivíduo trabalha em Lo Lishmá, ele não faz a boa ação pelo bem do Criador. Portanto, não pode vir a Ele com uma reclamação de que merece uma recompensa. Portanto, para ele o Criador não se torna devedor.

 

Então, por que ele fez aquela boa ação? Apenas porque o Criador lhe deu a oportunidade de que SAM o forçasse a executá-la.

 

Por exemplo, se ele recebe pessoas em sua casa e tem vergonha de estar ocioso, pega um livro e estuda Torá. Dessa forma, para quem ele está aprendendo Torá? Não é devido ao mandamento do Criador, para se agradável aos olhos do Criador, mas pelos convidados que estão sob a sua autoridade, para obter graça aos seus olhos. Assim, como então pode o indivíduo esperar uma recompensa Dele em troca dessa Torá se se ocupou dela à vista dos outros e por causa dos outros?

 

Disso se conclui que, para ele, o Criador não contraiu dívida alguma. Em lugar disso, ele pode cobrar dos convidados, que eles lhe paguem uma recompensa, ou seja, que o respeitem pelo estudo da Torá em forma de admiração. Porém, esse indivíduo não pode tornar o Criador seu devedor.

 

Quando realiza um auto-exame e diz que está sim se envolvendo com a Torá deixando de lado outros motivos, isto é, as visitas, e diz que agora está trabalhando somente para o Criador, deve também dizer de imediato que tudo está sendo dirigido de Cima. Isso significa que o Criador queria lhe conceder o envolvimento com a Torá, mas ele não é digno de receber nenhum elemento da verdade, e por essa razão o Criador lhe deu um motivo falso, e através disso ele se envolveu com a Torá.

 

Segue-se que o Criador é o operador, e não a pessoa. Assim, ademais, ele deveria louvar o Criador, pois mesmo no estado de humildade em que está, o Criador não lhe abandona e lhe dá força, ou seja, combustível, para querer se envolver nas palavras de Torá.

 

Percebe-se que se ele presta atenção em seu ato compreende que o Criador é o operador, como em “Apenas Ele fará todas as ações”. Contudo, o indivíduo não agrega nenhuma ação adicional à boa obra. Apesar de cumprir aquela mitzvá (mandamento) ele não faz isso pela mitzvá em si, mas por outra causa, por ele mesmo. E essa causa se extende da noção de separação.

 

A verdade é que o Criador é a causa e a razão que o compele. Mas o Criador está vestido nele com outra roupa, e não na vestimenta de mitzvá, mas por outro temor ou por outro amor. Vemos que durante Lo Lishmá é mais fácil atribuir as boas obras ao Criador e dizer que é Ele o executor das boas ações em vez de dizer que é o homem.

 

Isso é simples, pois o indivíduo não quer fazer nada pela mitzvá em si, mas por outra causa. Porém, em Lishmá, ele sabe muito bem que está trabalhando pela mitzvá em si mesma.

 

Isso quer dizer que a pessoa mesma é a causante. Ou seja, por causa da mitzá somente e não porque o Criador tenha plantado em seu coração a ideia de executar a mitzvá. A própria pessoa é que decidiu. No entanto, tudo foi realizado pelo Criador, mas a Providência Particular não pode ser alcançada por alguém antes que a pessoa tenha logrado o discernimento de “recompensa e castigo”.

 

        

65. Sobre o revelado e o oculto

(Ouvi em 29 de Tevet, Tav-Shin-Bet, 18 de janeiro de 1942, Jerusalém)

        

Está escrito: “As coisas ocultas pertencem ao Eterno, nosso Deus, e as coisas que são reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para cumprir todas as palavras desta lei.”

 

Devemos perguntar: “O que o texto vem nos dizer, que as coisas secretas pertencem ao Eterno?” Não devemos dizer que oculto significa o inatingível e o revelado significa o atingível.  Podemos ver que há pessoas com conhecimento da parte oculta, assim como há pessoas que tem conhecimento da parte revelada, mas não pode ser dito que isso significa que há mais pessoas com conhecimento da parte revelada do que da parte oculta. Senão, estaríamos considerando somente uma parte do conjunto.

 

A questão é que, neste mundo, vemos que há ações que são reveladas como ações para os nossos olhos. Isso significa que a mão do homem se envolveu ali. De forma alternativa, há ações onde vemos que uma ação está sendo feita, mas o homem não pode fazer nada ali. Ao contrário, uma força oculta opera ali.

 

É como os nossos sábios disseram: “Há três sócios no homem: o Criador, seu pai e sua mãe.” A parte revelada é o mandamento de frutificar e multiplicar. Esse ato é feito pelos pais. Se os pais fazem o seu papel de forma apropriada, o Criador coloca uma alma no recém nascido. Ou seja, seus pais fazem a parte revelada, pois eles podem apenas fazer a parte revelada, mas na parte oculta (colocar uma alma no recém nascido aqui os pais não podem fazer nada, apenas o Criador Ele Mesmo faz isso.

 

De forma similar ocorre com as mitzvot (mandamentos): devemos fazer apenas a parte revelada, pois podemos agir apenas aqui, ou seja, no envolver-se com Torá e mitzvot na forma de “fazedores da Sua palavra”. Porém, na parte oculta, a alma na observação da Torá e das Mitzvot, ali o indivíduo não pode fazer nada. Quando observamos Torá e Mitzvot em ação, chamado “fazer”, devemos rezar ao Criador para que Ele faça a parte oculta, ou seja, coloque uma alma na nossa prática.

 

A prática é chamada “uma vela de uma mitzvá”, as quais são apenas velas, que devem ser acesas pela “Torá, Luz”. A Luz da Torá ilumina a mitzvá e dá à alma vitalidade na prática, assim como com o recém nascido, onde há três sócios.

 

Esse é o significado de “as coisas reveladas pertencem a nós”, no sentido de que devemos trabalhar na forma de “o que és capaz de realizar com tua força, faze-o” (Eclesiastes 9:10). É apenas aqui que podemos agir, mas a obtenção da alma e da vitalidade depende do Criador.

 

Esse é o significado de “as coisas secretas pertencem ao Eterno nosso Deus”. O Criador promete que se fizermos a parte que nos é revelada, agindo nas condições da Torá e das mitzvot na parte prática, o Criador colocará uma alma nas nossas ações. Contudo, antes de sermos premiados com o oculto, chamado “uma alma”, nossa parte revelada é como um corpo sem uma alma. Portanto, devemos ser premiados com a parte oculta, e isso está apenas nas mãos do Criador.

 

 

66. Sobre a outorga da Torá - 1

(Ouvi durante uma refeição na véspera de Shavuot, Tav-Shin-Het, 1948)

 

A questão da outorga da Torá que ocorreu no Monte Sinai não significa que a Torá foi dada de uma só vez e então a outorga parou. Ao contrário, não há ausência na espiritualidade, pois a espiritualidade é uma questão eterna, infinita. Mas, como somos, da perspectiva do Doador, indignos de receber a Torá, dizemos que a cessação é pelo Superior.

 

Porém, então, ao pé do Monte Sinai, a totalidade de Israel estava pronta para receber a Torá, como está escrito: “E o povo acampou ao pé do monte, como um só homem com um só coração”. Naquele momento, o público estava preparado; eles tinham apenas uma intenção, que é um pensamento único sobre a recepção da Torá.

 

No entanto, não há mudanças a partir da perspectiva do Doador.  Ele sempre doa, como está escrito, em nome do Baal Shem Tov, que a cada dia o indivíduo deve ouvir os dez mandamentos no Monte Sinai.

 

A Torá é chamada “poção de vida” e “poção de morte”. Devemos entender o motivo por que dois opostos podem ser ditos sobre um mesmo assunto.

 

Devemos saber que não podemos alcançar qualquer realidade como ela é verdadeiramente. Ao contrário, devemos atingir tudo apenas de acordo com nossas sensações. E a realidade, como ela é verdadeiramente, não nos interessa nem um pouco. Assim, todas as nossas impressões seguem apenas as nossas sensações.

 

Portanto, quando uma pessoa aprende Torá, e a Torá o afasta do amor do Criador, essa Torá é certamente considerada a “poção da morte”. Da mesma forma, se essa Torá que ele está aprendendo o aproxima do amor do Criador, ela é certamente considerada “poção de vida”.

 

Mas a Torá em si, a existência da Torá nela e dela mesma, sem consideração do inferior que deve alcançá-la, é considerada “uma Luz sem um Kli (vaso)”, onde não há qualquer realização. Dessa forma, quando falamos da Torá, isso se refere às sensações que a pessoa recebe da Torá, e apenas elas determinam a realidade para as criaturas.

 

Quando o indivíduo trabalha para si mesmo, isso é chamado Lo Lishmá (Não em Seu nome). Mas a partir de Lo Lishmá chegamos a Lishmá (Em Seu nome). Assim, se o indivíduo ainda não foi recompensando com a recepção da Torá, ele espera ser recompensado com a recepção da Torá no próximo ano. Mas quando ele já foi premiado com a completude de Lishmá, ele não tem nada mais a fazer neste mundo, pois ele já corrigiu tudo para estar na completude de Lishmá.

 

Por essa razão, a cada ano há o tempo de receber a Torá, pois esse tempo é o tempo apropriado para o Itorerut (Despertar), que é o despertar do nível inferior. Isto se deve ao fato de que é no tempo do Itorerut que a Luz da outorga da Torá é revelada aos inferiores. Por esse motivo existe também um Itorerut que acontece Acima e que dá força aos de nível inferior para que possam realizar o ato preparatório para a recepção da Torá, da mesma forma como antes, quando estiveram preparados para recebê-la. 

 

Por esse motivo, se a pessoa marcha pelo caminho que a levará de Lo Lishmá à Lishmá, estará marchando pelo caminho da verdade. Então, ela deve esperar ser recompensada com o alcance de Lishmá e assim conseguir também “a outorga da Torá”. 

No entanto, é preciso cuidado para manter constantemente o objetivo diante dos olhos. Do contrário, marchará numa direção oposta, pois a raiz do corpo é a recepção para si mesmo. Por esse motivo, o corpo sempre tende para a sua raiz, que é a “recepção com a intenção de receber”, que é o oposto da Torá, chamada “a Árvore da Vida”. É por isso que o corpo considera a Torá uma “poção de morte”.

 

 

 

67. Abandone o mal

(Ouvi após o feriado de Sucot, Tav-Shin-Gimel, 5 de outubro de 1942, Jerusalém)

 

 

Devemos ter cuidado e “afastarmo-nos do mal” para conservarmos os nossos quatro pactos:

 

1. O pacto dos olhos, o qual é a cautela ao olhar para as mulheres. E a proibição de olhar não é necessariamente porque pode levar a um pensamento. A evidência disso é que a proibição se aplica também a um homem de cem anos de idade. Em vez disso, a real razão é que a proibição se estende de uma raiz muito alta: É preciso ter cautela porque se o indivíduo não for cuidadoso ele pode vir a olhar para a Shechiná (Divindade).

 

2. O pacto da lingual: Ser vigilante com a verdade e com a falsidade. Os escrutínios que existem agora, após o pecado de Adam HaRishon, são escrutínios de verdadeiro ou falso. No entanto, antes do pecado da Árvore do Conhecimento, os escrutínios eram sobre amargo e doce. Porém, quando o escrutínio é sobre verdade e falsidade, é completamente diferente. Às vezes, começa doce e termina amargo, o que significa que há uma realidade de amargo que é, apesar disso, verdadeira.

 

Por essa razão, devemos ser cuidadosos ao mudar nossas palavras. Mesmo que o indivíduo pense que está mentindo apenas para seu amigo, devemos saber que o corpo é como uma máquina: Da forma como está acostumado a caminhar, assim continua caminhando. Portanto, quando está acostumado à falsidade e ao engano, é impossível que caminhe de outra maneira, e isso força o homem a proceder com falsidade e engano também quando está sozinho.

 

Acontece que o indivíduo deve enganar a si mesmo e não pode contar a si mesmo a verdade de forma alguma, pois ele não tem uma preferência especial pela verdade.

 

Devemos dizer que aquele que pensa que está enganando o seu amigo está, na verdade, enganando o Criador, pois além do corpo do homem existe apenas o Criador. Isso é porque essa é a essência da criação, que o homem seja chamado “criatura” apenas em relação a si mesmo. O Criador quer que o homem sinta que é uma realidade separada Dele; mas além disso, é tudo “A terra inteira está repleta da Sua glória”.

 

Assim, quando mente para o seu amigo, o indivíduo está mentindo para o Criador; e quando entristece o seu amigo, está entristecendo o Criador. Por essa razão, se o indivíduo está acostumado a dizer a verdade, isso vai lhe ajudar em relação ao Criador. Ou seja, se ele prometeu algo ao Criador, ele vai tentar manter a sua promessa, pois ele não está acostumado a mudar a sua palavra, e assim ele vai ser recompensando com “O Eterno é a sua sombra”. Se ele mantém e faz o que diz, o Criador, também, vai manter em troca “Abençoado aquele que diz e faz”.

 

Há um sinal no pacto da língua, não dizer tudo que pode ser dito, pois ao falar o indivíduo revela o que está no seu coração, e isso dá força aos exteriores já que enquanto o indivíduo não está perfeitamente limpo, quando ele revela algo do seu interior, a Sitra Achra (Outro Lado) tem poder de caluniar acima e zombar do seu trabalho. Ela diz: “Que tipo de trabalho ele está doando Acima, já que toda a intenção nesse trabalho é apenas para baixo?”

 

Isso responde a grande questão: É sabido que “uma mitzvá induz a uma mitzva”, então por que vemos com frequência que o indivíduo cai do seu trabalho? Como dissemos acima, a Sitra Achra difama e calunia o seu trabalho, e então desce e toma sua alma. Ou seja, como ela já o difamou Acima e disse que o seu trabalho não era limpo, e que ele trabalha na forma de recepção para si mesmo, ela desce e toma o seu espírito de vida ao perguntar “O que é esse trabalho?”. Portanto, mesmo quando o indivíduo é recompensado com alguma iluminação do espírito da vida, ele a perde de novo.

 

O conselho para isso é caminhar com humildade, para que ela não saiba sobre o seu trabalho, na forma de “Ele não revela do coração para a boca”. Então a Sitra Achra também não pode saber do seu trabalho, pois ela sabe apenas o que é revelado pela palavra ou ação. E é isso o que ela pode agarrar.

 

Devemos saber que a dor e o sofrimento vêm primariamente através daqueles que caluniam. Portanto, devemos ser tão cuidadosos quanto pudermos com a fala. Além disso, devemos saber que mesmo ao falar palavras mundanas, isso ainda revela os segredos do seu coração. Esse é o significado de “Minha alma saiu quando ele falou”. Esse é o pacto da língua com o qual devemos tomar cuidado.

 

E a cautela deve se dar especialmente durante a ascensão, pois durante o descenso é difícil caminhar em grande níveis e precauções.

 

 

68. A conexão do homem com as Sefirot

(Ouvi em 12 de Adar, Tav-Shin-Gimel, 17 de fevereiro de 1943)

 

 

Antes do pecado de Adam HaRishon:

 

1.    Seu Guf (corpo) era de Biná de Malchut de Malchut de Assyá;

 

2. E ele tinha NaRaN de Beriá e NaRaN de Atzilut.

 

Depois de pecar, seu Guf caiu no discernimento da Pele da Serpente, a qual é a Klipá (casca) de Behina Dalet, chamada “O pó deste mundo”. Vestido nela está o Guf da Klipá de Nogá interno, o qual é metade bom e metade ruim. E todas as boas ações que ele faz são apenas com esse Guf de Nogá. Ao se envolver com Torá e mitzvot, ele torna o seu Guf inteiramente bom de novo, e o Guf da Pele da Serpente o abandona. Nesse momento, ele é premiado com NaRaN de Kedushá de acordo com as suas ações.

 

A conexão do NaRaN do homem com as Sefirot:

 

A essência do NaRaN do homem é de Behina Malchut das três Sefirot, Biná e ZON em cada um dos mundos de ABYA. Se ele é premiado com NaRaN de Nefesh, ele recebe dos três Behinot Malchut de Biná e ZON de Assyá. Se ele é premiado com NaRaN de Ruach, ele recebe dos três Behinot Malchut de Biná e ZON de Yetzirá. Se ele é premiado com NaRaN de Neshamá, ele recebe dos três Behinot Malchut de Biná e ZON de Beriá. E se ele é premiado com NaRaN de Chayá, ele recebe dos três Behinot Malchut de Biná e ZON de Atzilut.

 

E isso é o que os nossos sábios disseram, que o homem pensa apenas dentro dos pensamentos do seu coração, que o corpo inteiro é considerado como o “coração”. Mesmo que o homem consista das quatro Behinot de inanimado, vegetativo, animal e falante, elas são todas registradas no seu coração.

 

Porque após o pecado o Guf de Adam HaRishon caiu na Pele da Serpente, a qual é a Klipá de Behina Dalet, chamada “O pó deste mundo”. Assim, quando ele calcula, todos os seus pensamentos são do seu coração, ou seja, do seu Guf de Behina da Pele da Serpente.

 

Quando ele se fortalece, por meio do seu envolvimento em Torá e mitzvot, que é o único remédio, se ele deseja doar Contentamento ao seu Fazedor, a Torá e as mitzvot limpam o seu corpo. Isso significa que a Pele da Serpente o abandona. Então, o ato prévio de Torá e mitzvot, chamado “Klipá de Nogá”, considerado o “Guf interno”, o qual era metade bom e metade mau, agora se tornou completamente bom. Isso significa que agora ele atingiu Equivalência de Forma com o Criador.

 

E então ele é premiado com NaRaN de Kedushá, de acordo com suas ações. Ou seja, no começa ele atinge NaRaN de Nefesh do Mundo de Assyá. Depois, quando ele organiza todas as Behinot que pertencem ao Mundo de Assyá, ele é premiado com NaRaN de Ruach do Mundo de Yetsirá, até que ele alcance NaRaN de Chayá de Atzilut.

 

Assim, uma estrutura diferente é construída dentro do seu coração a cada vez. Onde havia previamente o Guf interno de Klipá Nogá, o qual era metade bom e metade mau, esse Guf foi agora transformado em totalmente bom por meio da limpeza que recebeu da Torá e das mitzvot.

 

Da mesma forma, quando ele tinha um Guf da Pele da Serpente, ele precisava pensar e calcular seus pensamentos apenas a partir dos pensamentos do seu coração. Isso significa que todos os seus pensamentos eram apenas sobre como satisfazer seus desejos para os quais a Klipá o forçava. Ele não tinha como pensar pensamentos e objetivar intenções, mas apenas o que estava assentado no seu coração, o qual estava então na forma de Pele da Serpente, a pior Klipá.

 

Também, quando ele é recompensado através do seu envolvimento em Torá e mitzvot, mesmo em Lo Lishmá (Não em Seu nome), quando ele pergunta e demanda que o Criador lhe ajude a se envolver em Torá e mitzvot na forma de “Tudo o que tua mão e tua força puderem fazer, faça”, e ele aguarda pela Misericórdia de Cima, que o Criador lhe ajude a alcançar Lishmá (Em Seu nome) através disso, onde toda a recompensa que ele pede pelo seu trabalho é ser recompensado com o trabalho a fim de levar Contentamento ao seu Fazedor, como disseram nossos sábios, então “a Luz nele o reforma”.

 

Nesse estado, o corpo da Pele da Serpente é purificado, ou seja, aquele corpo é separado dele e lhe é concedida uma estrutura completamente diferente, a estrutura de Nefesh de Assyá. Ele também adiciona mais até que alcança a estrutura de Nefesh e Ruach de Biná e ZA e Malchut de Atzilut.

 

Porém, mesmo aí ele não tem opção para pensar outros pensamentos, mas apenas de acordo com o que dita a estrutura da Kedushá (Santidade). Isso significa que ele não tem espaço para pensar contra sua própria estrutura, mas deve pensar e agir apenas com a intenção de levar Contentamento ao seu Fazedor, como necessita a sua estrutura de Kedushá.

 

Isso significa que o indivíduo não pode corrigir o seu próprio pensamento, mas que deve apenas enfocar o seu coração para que esteja sempre voltado para o Criador. Então, todos os seus pensamentos e ações serão destinados naturalmente para doar Contentamento ao seu Fazedor. Quando ele corrige seu coração para que este possua somente desejos de Kedushá, seu coração se transforma num Kli  dentro do qual irá descer a Luz Superior. E quando a Luz Superior brilha dentro do coração, este se fortalece e continua a aumentar.

 

Agora podemos interpretar as palavras dos nossos sábios: “Bendito é o aprendizado que leva à ação.” Significa que, por meio da Luz da Torá, a pessoa é guiada à ação, pois a Luz nela a reforma. Isso é chamado de “Um ato”. Isso significa que a Luz da Torá constrói uma nova estrutura no seu coração.

 

Portanto, o Guf anterior, o qual chegou a ele a partir da Pele da Serpente, foi separado dele e ele foi premiado com um Guf sagrado. O Guf interno, chamado “Klipá de Nogá”, o qual é metade bom e metade mau, tornou-se inteiramente bom, e agora o NaRaN está nele, o qual ele alcança por meio de suas ações, na medida em que adiciona e suplementa.

 

Antes de ser premiado com uma nova estrutura, apesar de tentar limpar seu coração, o coração permanece inalterado. Nesse estado, é considerado que ele está na forma de “Praticantes da Sua palavra”. Contudo, ele deve saber que o início do trabalho é especificamente na forma de “Praticantes da Sua palavra”.

 

No entanto, isso não é completude, pois ele não consegue limpar seus pensamentos nesse estado, já que ele não pode ser salvo de pensamentos de transgressão, pois seu coração é de um Guf de Klipá, e o indivíduo pensa apenas a partir dos pensamentos no seu coração, e apenas a Luz nele o reforma. Nesse momento, o Guf separado o abandona, e o Guf interno, a Klipá de Nogá, a qual era metade má, torna-se inteiramente boa. Nesse estado, a Torá o leva à ação por meio da construção de uma nova estrutura. E isso é chamado de “Um ato”.

 

 

 

 

69. Primeiro será a correção do mundo

(Ouvi em Sivan, Tav-Shin-Gimel, junho de 1943)

 

 

Ele disse que primeiro será a correção do mundo, então haverá uma redenção completa, a chegada do Messias. Esse é o significado de “Vossos olhos hão de ver vosso mestre” (Isaías 30:20) etc. “E a terra inteira estará repleta de conhecimento”. Esse é o significado do que ele escreveu, que primeiro a internalidade dos mundos será corrigida, e subsequentemente a externalidade dos mundos. Mas devemos saber que a correção da externalidade dos mundos é um nível mais alto de correção que a internalidade.

 

E a raiz de Israel é oriunda da internalidade dos mundos. Esse é o significado de “Pois vós sois o menos numeroso de todos os povos” (Deuteronômio 7:7). Porém, ao corrigir a internalidade, a externalidade será corrigida também, mesmo que em pequenas partes. E a externalidade será corrigida a cada vez (até que muitas moedas se acumulem em grande quantidade) até que toda a externalidade seja corrigida.

 

A principal diferença entre a internalidade e a externalidade é, por exemplo, quando o indivíduo executa uma certa mitzvá e nem todos os seus órgãos concordam com isso. É como uma pessoa que jejua. Dizemos que apenas a sua internalidade concordou com o jejum, mas a sua externalidade sente desconforto, pois o corpo está sempre em oposição à alma. Portanto, a diferença entre Israel e as Nações do Mundo deveria ser feita apenas em relação à alma; mas em relação ao corpo, eles são iguais, pois o corpo Israel também se importa apenas com o seu próprio benefício.

 

Assim, quando indivíduos no todo de Israel são corrigidos, o mundo todo será naturalmente corrigido. Segue-se que as Nações do Mundo serão corrigidas na medida em que corrigimos a nós mesmos. Esse é o significado do que os nossos sábios disseram: “Recompensado, ele sentencia a si mesmo e todo o mundo ao lado do mérito.” Eles não disseram “Ele sentencia o todo de Israel”, mas “O mundo todo ao lado do mérito”, o que significa que a internalidade vai corrigir a externalidade.

 

 

 

70. Com mão poderosa e fúria derramada

(Ouvi em 25 de Sivan,Tav-Shin-Gimel, 28 de junho de 1943)

 

Para entender o que está escrito: “Com mão poderosa… e fúria derramada, serei Eu rei sobre vocês”, devemos entender que há uma regra de que não há coerção na espiritualidade, como está escrito: “Não Me tens invocado, ó Jacó, nem te preocupaste em Me buscar, ó Israel” (Isaías 43:22), e há a interpretação conhecida do Contador de Duvna. Portanto, o que significa “Com mão poderosa… e fúria derramada, serei Eu rei sobre vocês”?

 

Ele disse que devemos saber que, daqueles que querem vir ao Trabalho do Criador a fim de realmente aderir a Ele e entrar no Palácio do Rei, nem todos são admitidos. Ao invés disso, ele é testado: se não tem nenhum outro desejo além de um único desejo pela Dvekut (Adesão), ele é admitido.

 

E como o indivíduo é testado se ele tem um único desejo? São enviadas perturbações a ele. Isso significa que lhe são enviados pensamentos invasivos e mensageiros externos para lhe obstruir a fim de que ele abandone esse caminho e siga o caminho de todas as pessoas.

 

Se ele supera todas as dificuldades e quebra todas as barreiras que o bloqueiam, e as pequenas coisas não podem afastá-lo, o Criador lhe envia grandes Klipot (cascas) e Carruagens para desviar o indivíduo de entrar em Dvekut apenas com o Criador e com nada mais. Isso é considerado que o Criador está rejeitando-o com mão poderosa.

 

Se o Criador não mostra uma mão poderosa, será difícil afastar a pessoa, pois ela tem um forte desejo de aderir apenas ao Criador e a nada mais.

 

Mas quando o Criador quer rejeitar um indivíduo cujo desejo não é tão forte, Ele o afasta com algo pequeno. Ao lhe enviar um grande desejo pela corporalidade, ele já abandona o trabalho inteiramente, e não há necessidade de o repelir com mão poderosa.

 

Porém, quando o indivíduo supera todas as dificuldades e perturbações, ele não é facilmente repelido, mas com uma mão poderosa. E se o indivíduo supera mesmo a mão poderosa e não quer sair de forma alguma do lugar da Kedushá (Santidade), mas quer aderir especificamente a Ele em verdade, e vê que é repelido, então diz que a fúria foi derramada sobre ele. Caso contrário, lhe seria permitido entrar. Mas porque a fúria foi derramada sobre ele pelo Criador, ele não é admitido no Palácio do Rei para aderir a Ele.

 

 

71. Minha alma chorará em segredo – 2

(Ouvi em 25 de Sivan, 28 de junho, Tav-Shin-Gimel, 1943)

 

Minha alma chorará em segredo por vosso orgulho” (Jeremias 13:17), pelo orgulho de Israel. Ele pergunta: “Há choro perante o Criador? Afinal, ‘força e contentamento estão no Seu lugar!’” Devemos entender a questão de chorar, acima. O choro está em um local onde o indivíduo não consegue se ajudar. Então, ele chora para que outro o ajude. O significado de “Em segredo” são as ocultações e as contradições que aparecem no mundo.

 

Esse é o significado de “Minha alma chorará em segredo”, pois “Tudo está nas mãos dos céus, a não ser o temor dos céus”.

 

Sobre isso, nossos sábios disseram que há choro nos lares interiores. Isso significa que, quando a luz brilha apenas no interior e não há exposição externa da luz, pela falta de Kelim (vasos) para que os inferiores possam receber, então há pranto. Contudo, nos lares externos, quando a luz pode ser revelada para fora, quando a abundância se torna revelada abaixo, aos inferiores, então “força e contentamento estão no Seu lugar”, e tudo é visto. Porém, quando Ele não consegue doar aos inferiores, isso é chamado “pranto”, pois Ele precisa dos Kelim dos inferiores.

 

 

72. Confiança é a vestimenta para a Luz

(Ouvi em 10 de Nissan, Tav-Shin-Zayin, 31 de março de 1947)

        

Confiança é a vestimenta para a Luz, chamada “Vida”. Há uma regra de que não há Luz sem um Kli (vaso). Segue-se que a Luz, chamada “Luz da Vida”, não pode vestir, mas precisa ser vestida em algum Kli. O Kli onde a Luz da Vida é vestida geralmente é chamado “Confiança”. Isso significa que o indivíduo vê que pode fazer todas as coisas difíceis.

 

Portanto, a Luz é sentida e reconhecida no Kli da confiança. Por causa disso, a  sua vida é medida pelo nível de confiança que aparece ali. Ele pode medir a magnitude da vitalidade em si mesmo de acordo com a própria confiança.

 

Por essa razão, o indivíduo pode ver nele mesmo que, enquanto seu nível de vitalidade está alto, a confiança brilha em todas as coisas, e ele não vê nada que pode obstrui-lo com o que quer. Isso é porque a Luz da Vida, que é uma força de Cima, brilha para ele, e ele pode trabalhar com poderes sobre-humanos já que a Luz Superior não é limitada como as forças corpóreas.

 

No entanto, quando Luz da Vida o abandona, o que é considerado uma queda de nível em relação ao seu nível de vitalidade anterior, então ele se torna esperto e inquisitivo. Ele começa a calcular a lucratividade de tudo, se vale a pena ou não. Ele se torna comedido e não animado e fervente como antes de começar a declinar no seu nível de vitalidade.

 

Contudo, o indivíduo não tem a sabedoria para dizer que toda essa esperteza e inteligência, pois agora ele foi recompensado com o pensamento sobre tudo, são devido a ele ter perdido o espírito de vida que tinha então. Ao invés disso, ele pensa que agora se tornou inteligente, não como antes de ter perdido a Luz da Vida. Ao contrário, naquele momento ele era irresponsável e descuidado.

 

No entanto, ele deveria saber que toda a sabedoria que agora adquiriu veio porque ele perdeu o espírito de vida que tinha antes. Antes, ele media todos os atos com a Luz da Vida que o Criador lhe dera. Mas agora que ele está em declínio, a má inclinação tem o poder de vir a ele com todos os seus “argumentos justos”.

 

O conselho para isso é que o indivíduo deve dizer que agora ele não pode falar com o seu corpo e argumentar com ele. Ao invés disso, ele deve dizer: “Agora estou morto e estou esperando a ressureição dos mortos.” Então, ele deve começar a trabalhar Acima da Razão, ou seja, dizer ao seu corpo: “Tudo o que você diz é verdade, e eu não tenho nada racional para lhe responder. No entanto, eu espero começar a trabalhar do zero. Agora estou tomando sobre mim a Torá e as mitzvot, e agora eu estou me tornando um prosélito, e os nossos sábios disseram ‘um prosélito que se converteu é como um bebê recém-nascido.’ Agora eu espero a salvação do Criador; Ele certamente me ajudará e eu entrarei mais uma vez no caminho da santidade. Quando eu tiver poder na santidade, terei o que lhe responder. Mas, enquanto isso, eu devo subir Acima da Razão, pois ainda estou sem a mente da santidade. Portanto, você pode vencer com o seu intelecto, e não há nada que eu possa fazer a não ser acreditar nos nossos sábios, que disseram que eu deveria manter a Torá e as Mitzvot acima da razão. Eu devo certamente acreditar que, pelo poder da fé, receberemos ajuda de Cima, como disseram nossos sábios, ‘aquele que vem para se purificar será ajudado’.”

 

 

 

73. Depois do Tzimtzum

(Ouvi em Tav-Shin-Gimel, 1942-1943)

 

Depois do Tzimtzum (Restrição), as primeiras nove se tornaram o lugar da Kedushá (Santidade). E Malchut, sobre a qual ocorreu o Tzimtzum, tornou-se o lugar vazio dos mundos. Há dois discernimentos a serem feitos: 1) Um lugar vazio, o qual é um lugar para as Klipot (cascas), cuja essência é o desejo de receber apenas para si mesmo, e 2) Um lugar desocupado, ou seja, um lugar que se tornou vago para inserir o que o indivíduo escolher, Kedushá ou o oposto.

 

Se não fosse pelo Tzimtzum, a realidade inteira teria sido na forma de Luz Simples. Apenas após o Tzimtzum houve espaço para escolher fazer o mal ou fazer o bem.

 

Ao escolher o bem, a Shefa (Abundância) se estende para dentro desse lugar. Esse é o significado do que está escrito nos trabalhos do ARI, que a Luz do Ein Sof (Infinito) brilha para os inferiores.

 

Ein Sof é chamado “O desejo de fazer o Bem às Suas criações”. Apesar de discernirmos muitos mundos, dez Sefirot, e outros Nomes, isso tudo se estende a partir do Ein Sof, chamado “O pensamento da criação”.

 

Os nomes, Sefirá (singular de Sefirot) e “Mundo”, são assim porque a Abundância que verte a partir do Ein Sof descende através daquela Sefirá e mundo. Isso significa que, para o inferior ser capaz de receber, já que os inferiores não conseguem receber a Sua recompensa sem preparação e correção, são feitas correções pelas quais há a habilidade de receber. Isso é chamado Sefirot.

 

Em outras palavras, cada Sefirá tem sua correção única. Devido a isso há muitos discernimentos. Mas eles são apenas a respeito dos receptores, pois quando o inferior recebe a Abundância de Ein Sof, ele a recebe por meio de uma correção especial, a qual o adapta para receber a Abundância. Esse é o significado de receber através de uma Sefirá especial, apesar de não haver qualquer mudança na Abundância em si.

 

Agora você entende a questão da oração que fazemos ao Criador, a qual é a Luz de Ein Sof, ser a conexão que o Criador tem com as suas criaturas, chamado “Seu desejo de fazer o Bem às Suas criações”. Apesar de haver vários Nomes com o objetivo da oração, a interpretação é que a Abundância vai ser derramada através das correções nos Nomes, pois é precisamente por meio das correções nos Nomes que a Abundância chegará às mãos dos receptores.

 

 

74. Mundo, Ano, Alma

(Ouvi emTav-Shin-Gimel, 1942-1943)

 

Sabe-se que não há realidade sem alguém que sinta a realidade. Portanto, quando dizemos Nefesh de Atzilut, significa que estamos sentindo uma certa medida de alcance da Abundância Superior, e chamamos essa medida de Nefesh.

 

E “Mundo” se refere ao coletivo compreendido nesse alcance, ou seja, que todas as almas têm a mesma forma de tal forma que qualquer um que alcance aquele nível também alcance aquele nome, Nefesh. Isso não significa, necessariamente, que um indivíduo específico atinja esse nome e essa forma, mas quer dizer que a Abundância aparece na forma chamada Nefesh para qualquer um que alcance esse nível - o que certamente ocorre por meio da preparação da Kedushá (Santidade) e da pureza.

 

Podemos entender isso a partir de um exemplo corpóreo aplicado neste mundo. Por exemplo, quando uma pessoa diz à outra: “Agora eu vou para Jerusalém.” Quando ela diz o nome da cidade, todos sabem e reconhecem aquela cidade. Eles estão todos certos do lugar sobre o qual a pessoa está falando, pois todos aqueles que já estiveram naquela cidade sabem do que se trata.

 

 

75. Há um discernimento do Mundo Vindouro, e há discernimento Deste Mundo

(Ouvi durante uma refeição em celebração a um Brit (Circuncisão), Jerusalém)

 

Há um discernimento do “Mundo Vindouro”, e há um discernimento “Deste Mundo”. O Mundo Vindouro é chamado “Fé”, e Este Mundo é chamado “Recebimento”.

 

Está escrito sobre o próximo mundo: “Eles deverão se saciar e se encantar”, no sentido de que não há fim para a saciação. Isso é assim porque tudo que é recebido pela Fé não tem limites. Da mesma forma, o que é recebido através do Recebimento já tem limites, pois tudo que chega nos Kelim (vasos) do inferior é limitado pelo inferior. Portanto, há um limite para o discernimento Deste Mundo.

 

 

 

76. Em todas as suas ofertas, deves oferecer sal

(Ouvi em 30 de Shevat, Janeiro-Fevereiro, ao celebrar a conclusão da Parte Seis, Tiberias)

 

Em todas as tuas ofertas, deves oferecer sal”, ou seja, o pacto do sal. O pacto corresponde à mente. Normalmente, quando duas pessoas fazem o bem uma para a outra, quando há amor entre elas, certamente elas não precisam fazer um pacto. Mas, ao mesmo tempo, podemos ver que precisamente quando há amor é o momento adequado para se fazer pactos. Então, ele disse que a formação do pacto é para a posteridade.

 

Isso significa que o acordo é feito agora para que depois, quando se chegar a um estado em que ambos pensam que o coração do outro não está inteiramente com o seu amigo, eles tenham um acordo. O acordo os obrigará a lembrar do pacto que fizeram entre eles, a fim de continuar o velho amor também nesse estado.

 

Esse é o significado de “Em todas as suas ofertas, deves oferecer sal, ou seja, todo o Krevut[4] no Trabalho do Criador deve ser sobre o Pacto do Rei[5].

 

 

77. A sua alma deve lhe ensinar

(Ouvi em 8 de Elul, Tav-Shin-Zayin, 24 de agosto, 1947)

 

A sua alma deve lhe ensinar.”

 

Sabe-se que a Torá inteira é aprendida primariamente pelas necessidades da alma, para aqueles que já foram recompensado com um discernimento de uma alma. No entanto, eles devem ansiar e procurar palavras na Torá de outros que já atingiram, para aprender novos caminhos com eles, os quais foram inventados pelos precursores em suas inovações na Torá. Assim, será fácil para eles avançarem aos altos níveis, ou seja, através deles poderão avançar de degrau em degrau.

 

Mas há uma Torá cuja revelação está proibida, pois cada alma deve fazer esse escrutínio por si mesma, ninguém deve fazer esse escrutínio por ela. Portanto, antes  de fazerem o escrutínio por si mesmos, é proibido revelar a eles as palavras da Torá.

 

É por isso que os grandes escondem muitas coisas. E, exceto por essa parte, há um grande benefício para as almas pelo que recebem das inovações de outros sobre a Torá. E “a sua alma deve lhe ensinar” como e o que receber e como ser assistido pelas inovações de outros sobre a Torá, e o no que ele mesmo deve inovar.

 

 

78. A Torá, o Criador e Israel são Um

(Ouvi em Sivan,Tav-Shin-Gimel, Junho de 1943)

 

A Torá, o Criador e Israel são Um.”

 

Portanto, quando o indivíduo aprende a Torá, ele deveria aprender Lishmá (Em Seu nome). Isso significa que ele está aprendendo com a intenção de que a Torá lhe ensine, como é o nome da Torá, a qual significa “Instrução”. Porque “a Torá, o Criador e Israel são Um”, a Torá ensina os caminhos do Criador, como Ele se veste na Torá.

 

 

79. Atzilut e BYA

(Ouvi em 15 de Tamuz, Pinchás 1, Tav-Shin-Gimel, 18 de julho de 1943)

 

Atzilut é considerado a partir de Chazeh e acima, os quais são apenas vasos de doação. BYA significa recepção a fim de doar, a ascensão do Hei inferior ao lugar de Biná.

 

Porque o homem está imerso no desejo de receber a fim de receber, ele não pode fazer nada sem ter recepção para si mesmo. É por isso que os nossos sábios disseram: “De Lo Lishmá (Não em Seu nome) chegamos a Lishmá (Em Seu nome).” Isso significa que começamos o compromisso com a Torá e as mitzvot a fim de “Dê-nos a riqueza Deste Mundo” e depois “Dê-nos a riqueza do Mundo Vindouro”.

 

Quando se aprende desta forma, deve-se chegar a aprender Lishmá, em nome da Torá, no sentido de que a Torá vai lhe ensinar os caminhos do Criador. E então deve ser feito o adoçamento de Malchut em Biná, o qual significa que se eleva Malchut, chamado “Desejo de Receber”, a Biná, a qual é considerada doação. Ou seja, todo o Trabalho será apenas a fim de doar.

E então tudo se torna escuro para o indivíduo. Ele sente que o mundo escureceu sobre ele, pois o corpo dá força apenas para trabalhar na forma da recepção, e não na forma de doação. Nesse estado, ele tem apenas uma opção: rezar ao Criador  para que abra os seus olhos, para que ele possa trabalhar na forma de doação.

 

Esse é o significa de “Quem representa a questão?” Refere-se a Biná, chamada Mi (Águas) e a questão vem do verso “Perguntando sobre as chuvas”, que significa oração. Assim que chegam ao estado de “Águas de Biná”, há espaço para rezar por isso.

 

 

80. Sobre Achor be Achor

(Eu ouvi)

        

Panim Ve Achor (Rosto e Costas).

 

Panim (rosto/frente) significa Recepção da Abundância ou Doação da Abundância. A negação é chamada Achoraim (costas/posterior), que significa nem receber nem doar.

 

Assim, no começo do Trabalho, o indivíduo está em um estado de Achor ve Achor (costas com costas) porque ele ainda tem os Kelim (vasos) do desejo de receber. Se atrair a Abundância para dentro desses Kelim ele pode danificar a Luz, pois ele é considerado oposto em valor, já que as Luzes vêm da Raiz, e a Raiz apenas doa.

 

Por essa razão, o inferior usa os Kelim de Ima, chamados Achoraim, no sentido de que eles não querem receber, a fim de não causarem dano. E o Emanador também não doa para esses vasos pela razão acima, pois as Luzes se protegem para que os inferiores não as danifiquem. É por isso que é chamado Achor ve Achor.

 

Está escrito em vários lugares que “Onde quer que haja uma deficiência, a Klipá é amamentada”. Para explicar isso, podemos dizer que a razão é que o lugar ainda não está livre da Aviut (Espessura). Caso contrário, a Luz teria iluminado completamente, pois a Luz Superior nunca pára. Se há um lugar que foi corrigido com uma Masach (tela), a Luz Superior imediatamente se agarra lá. E como há um lugar de deficiência, ou seja, de ausência da Luz Superior, há certamente um discernimento de Aviut, cujo controle está inteiramente no desejo de receber.



81. Sobre elevar MAN

(Eu ouvi)

 

Sabe-se que, devido à quebra, faíscas de Kedushá (Santidade) caíram em BYA. Mas ali, em BYA, elas não podem ser corrigidas. Portanto, elas devem ser elevadas a Atzilut. Ao cumprir Mitzvot e fazer boas ações com o intuito de Levar Contentamento ao seu Fazedor e não a si mesmo, essas faíscas se elevam até Atzilut. Então, elas são incluídas na Masach (tela) do Superior, no Rosh (cabeça/topo) do nível, onde a Masach permanece em sua eternidade. Nesse momento, ocorre um Zivug (acoplamento) na Masach por meio do Hitkalelut (mistura/integração) das faíscas, e a Luz Superior se espalha por todos os mundos de acordo com a medida de faíscas que eles elevaram.

 

Isso é semelhante ao Hizdakchut (diluir/diminuir) dos Partzufim de Akudim. Aprendemos que durante o seu Hizdakchut, quando a Luz a deixa por causa disso, a Masach do Guf (corpo) ascende junto com as Reshimot até Peh de Rosh. A razão é que, quando o interior para de receber, é considerado que ele foi limpo do seu Aviut (espessura). Assim, a Masach pode se elevar de volta a Peh de Rosh, já que o seu declínio ao nível do Guf foi apenas porque a Luz de expandiu de cima para baixo até os vasos de recepção.

 

Além disso, o Rosh é sempre discernido como sendo de baixo para cima, ou seja, resistente à expansão. Quando o Guf para de receber as Luzes de cima para baixo, devido à ausência da Masach que foi purificada pelo Bituk (espancamento) do interno e do externo, é considerado que a Masach de Guf foi limpa do seu Aviut e ascendeu ao Rosh com as Reshimot.

 

Ainda, quando o indivíduo se envolve com a Torá e as Mitzvot a fim de doar e não para receber, por meio disso, as faíscas se elevam à Masach de Rosh, no mundo de Atzilut (e elas se elevam nível por nível até que chegam ao Rosh de Atzilut). Quando elas são incluídas nessa Masach e o nível da Luz aparece de acordo com o tamanho da Masach, mais Luz é adicionada em todos os mundos. E também o homem, que causou esse aperfeiçoamento acima, recebe a Iluminação por ter aperfeiçoado acima, nos mundos.

 

 

 

82. A oração que se deve sempre orar

(O que ouvi de forma privada em Vaerá, Tav-Shin-Yod-Gimel, Novembro de 1952)

 

A fé é discernida como Malchut, interpretada na mente e no coração, ou seja, doação e fé. Em oposição à fé está a Orla (Prepúcio), que consiste em “saber”. O saber leva a se considerer mais importante o discernimento da Orla. A fé, por outro lado, chamada “a Sagrada Shechiná (Divindade)” está no pó. Isso significa que esse trabalho é considerado vergonhoso, e todos escapam de andar nesse caminho, mas somente isso recebe o nome de “O caminho dos Tzadikim” e da Santidade”.

 

O Criador quer que os Seus nomes sejam revelados apenas desta maneira, pois desta maneira é certo que não vão danificar as Luzes Superiores, já que toda sua base é doação e Dvekut (adesão). Além disso, as Klipot (cascas) não conseguem sugar dessa qualidade, já que elas são amamentadas apenas no saber e no receber.

 

Onde o prepúcio governa, a Shechiná não pode receber as Luzes Superiores, para que as Luzes não caiam nas Klipot. Por causa disso existe a “Tristeza da Shechiná”, no sentido de que as Luzes Superiores são detidas ao serem atraídas, e então ela não pode doar às almas.

 

E isso depende apenas dos Inferiores. O Superior pode apenas transmitir a Luz Superior, mas a força da Masach, para que o Inferior não queira receber nada nos vasos de recepção, depende do trabalho dos Inferiores; ou seja, os Inferiores devem fazer esse escrutínio.

 

 

83. Sobre o Vav da Direita e o Vav da Esquerda

(Ouvi em 19 de AdarTav-Shin-Gimel, 24 de fevereiro de 1943)

 

Há o discernimento do Ze (“Isso” na forma masculina), e há o discernimento do Zot (“Isso” na forma feminina). Moisés é considerado Ze, o qual é o melhor amigo do Rei. O restante dos profetas são considerados Zot ou Koh (as letras Chaf e Hey), o qual é o significado de Yadecha (Sua mão), um Vav da esquerda. Então há o discernimento do Vav da direita.

 

E esse é o significado de “os Zayins reunidos”, os quais reúnem dois Vavs. Esse é o significado de “E aquele que os contém”, que é o treze, considerado um nível completo.

 

Há um Vav da direita e há um Vav da esquerda. O Vav da direita é chamado “A Árvore da Vida”, e o Vav da esquerda é chamado “A Árvore do Conhecimento”, onde há o lugar de guarda. Os dois Vav são chamados “doze Chalot”, duas colunas, seis em uma coluna, que é o significado dos treze Tikunim (Correções), o quais são doze e mais um que os contém, chamado Mazal ve Nakeh (Sorte e Limpo).

 

Também contém a décima terceira correção, chamada “Não deverá ser limpo”, que é o significado dos Zayins reunidos. O Zayin é Malchut; ela os contém. Antes de ser recompensada com “Não deverá voltar à loucura”, ela é chamada “Não deverá ser limpa”. E aqueles que já foram recompensados com não retornar à loucura são chamados de “limpos”.

 

Esse é o significado de “Revelará seus sabores em doze rugidos, que são um sinal no seu céu, duas vezes e fraco” (na canção “Prepararei para uma refeição”). Também está escrito “Ela será coroada com Vavs e Zayins reunidos” (na canção “Louvarei com uma canção”). Devemos interpretar a coroação com Vavs no sentido de que a conexão por meio de dois Vavs são os doze rugidos (os quais são as doze Chalot), que são um sinal no céu.

 

Um sinal é chamado Yesod, e isso é chamado “Duas vezes e fraco”. Isso significa que os Vavs foram duplicados: o Vav da esquerda é chamado “A Árvore do Conhecimento”, o lugar da guarda. Então eles se tornaram fracos (chamado “Luz”), e daí foi criado um cômodo por meio do qual era fácil de passar. Não fosse pela duplicação com a Árvore do Conhecimento, eles teriam tido que trabalhar com o Vav da direita, discernido como “A Árvore da Vida”. E então quem poderia se elevar e receber os Mochim?

 

Porém, com o Vav da esquerda, discernido como manutenção, o indivíduo está sempre nesta forma. E pelo mérito da manutenção, quando ele toma para si mesmo a Fé Acima da Razão, o seu trabalho é então desejável. É por isso que é chamado de “fraco”, Luz, no sentido de que é fácil encontrar um lugar para trabalhar.

 

Isso significa que, em qualquer estado que esteja, ele pode ser um servo para o Criador, pois ele não precisa de nada, mas faz tudo Acima da Razão. Acontece que o indivíduo não precisa de nenhum Mochim para ser um servo do Criador.

 

Agora podemos interpretar o que está escrito: “Me preparas uma mesa de delícias na presença dos meus inimigos” (Salmos 23:5). Uma mesa significa, como está escrito, “E a despedirá de sua casa. E tendo ela saído de sua casa, poderá ir” (Deuteronômio 24:1-2). Uma Shulchan (mesa) é como VeShlacha (E a despediu), ou seja, saiu do Trabalho.

 

Devemos interpretar que, mesmo durante as saídas do Trabalho, ou seja, num estado de declínio, o indivíduo ainda tem um lugar para trabalhar. Isso significa que quando ele se mantém Acima da Razão durante os declínios, e diz que os descensos também lhes foram enviados de cima, por meio disso os inimigos são cancelados. É assim porque os inimigos pensaram que, por meio dos declínios, a pessoa chegaria à humildade absoluta e escaparia da campanha, mas no fim o oposto ocorreu - os inimigos foram cancelados.

 

Esse é o significado do que está escrito, “A mesa que está diante do Eterno” (Ezequiel 41:22), pois precisamente desta maneira ele recebe a face do Criador. Esse é o significado de subjugar todos os julgamentos, mesmo os mais severos, pois ele assume o Fardo do Reino dos Céus em todos os momentos. Ou seja, ele sempre encontra um lugar para trabalhar, como está escrito que disse o rabino Shimon Bar Yochai: “Não há onde se esconder de Vós.”

 

 

 

84. O que é “Expulsou o homem do Jardim do Éden para que não tomasse da Árvore da Vida”?

(Ouvi em 24 de Adar, Tav-Shin-Dalet, 19 de março de 1944)

 

Está escrito: “E o Eterno chamou ao homem e lhe disse: ‘Onde estás?’ - e ele respondeu: Ouvi Tua voz” etc., “e tive medo, por estar nu, e me escondi” (Gênesis 3:9-10). “E o Eterno Deus disse: “… Talvez ele estenda a sua mão e tome também da Árvore da Vida” (Gênesis 3:22) etc. “E expulsou o homem” (Gênesis 3:24).

 

Devemos entender o temor de Adão, que era tanto a ponto de ele se esconder porque se viu nu. A questão é que, antes de comer da árvore do conhecimento, sua nutrição vinha de Biná, que é do mundo da liberdade. Depois, quando ele comeu da árvore do conhecimento, ele viu que estava nu. Isso significa que ele teve medo de tomar a luz da Torá e usá-la na forma de “os pastores de gado de Lot” (Gênesis 13:7).

 

Os pastores de gado de Lot” significa que há Fé Acima da Razão, chamada “os pastores de gado de Abraão”. Em outras palavras, aquele que foi recompensado com a obtenção da Luz da Torá não toma isso como base do seu trabalho, dizendo que agora não precisa mais de reforço na fé no Criador, pois ele já tem a fundação da Luz da Torá. Isso é chamado “os pastores de gado de Lot”, considerado “o mundo amaldiçoado”, que é considerado uma maldição. Isso é o oposto da fé, que é uma bênção.

 

Ao contrário, ele disse, agora o indivíduo vê que se ele for com Fé Acima da Razão, a Luz da Torá lhe será fornecida de Cima, para lhe mostrar que está trilhando o Caminho da Verdade. E não é que ele tome isso como suporte, que o seu trabalho será dentro da razão, a partir do qual ele entra nos vasos de recepção, sobre os quais houve o Tzimtzum (Restrição). É por isso que é chamado “O lugar da maldição”, pois Lot significa o mundo amaldiçoado.

 

E, nesse sentido, o Criador lhe disse: “Por que tens medo de tomar essas Luzes por temor de que vais danificá-las? Quem disse que estavas nu? Deve ser porque comeste da Árvore do Conhecimento, e isso lhe trouxe o temor. Antes, quando estavas comendo de todas as árvores no jardim, ou seja, quando estavas usando as Luzes à maneira de “os pastores de gado de Abraão”, não tiveste medo algum.” Por isso, Ele o expulsou: “Talvez ele estenda a sua mão e tome também da Árvore da Vida.

 

O medo foi de que ele se arrependesse e entrasse na Árvore da Vida. Mas o que é o medo? Já que ele pecou na Árvore do Conhecimento, agora ele precisa corrigir a Árvore do Conhecimento.

 

Esse é o significado de “Ele o expulsou do Jardim do Éden”, para corrigir o pecado da Árvore do Conhecimento. E depois ele será capaz de entrar no Jardim do Éden.

 

O Jardim do Éden significa a ascensão de Malchut a Biná, onde ela recebe Chochmá na forma de “Éden”, e isso é o “Jardim do Éden”.

 

 

 

85. O que é o fruto da árvore formosa no trabalho?

(Ouvi em Sucot Inter 1, Tav-Shin-Gimel, 27 de setembro de 1942)

 

Está escrito: “E tomareis para vós, no primeiro dia, o fruto da árvore formosa (Étrog), palmas de palmeira, ramos de murto e de salgueiro de ribeiras” (Levítico 23:40). E devemos interpretar “fruto da árvore formosa”: Uma árvore é considerada justa, chamada uma “árvore do campo”. O “fruto” é a descendência da árvore, ou seja, a progênie do justo, que são as boas ações, as quais devem ser na forma de adorno nessa árvore.

 

De ano a ano” significa um ano inteiro, que são “seis meses com óleo de mirra e seis meses com especiarias” (Ester 2:12). Os perversos, no entanto, são “como o feno que o vento espalha” (Salmos 1:4).

 

Palmas de palmeira” são duas panelas, as quais são os dois Heys, o primeiro Hey e o último Hey, pelos quais o indivíduo é recompensado com “Uma taça de dez siclos de ouro cheia de incenso” (Números 7:50).

 

Kapot (Panelas) significam Kefia (Coerção), quando o indivíduo assume o Reino dos Céus de forma coercitiva. Isso significa que, mesmo quando a razão discorda, ele vai Acima da Razão. Isso é chamado de “Acasalamento coercitivo”. Tamarim (Palmeiras) vem da palavra Morá (Medo), que é Temor (por meio de “E Deus assim o fez para impor Seu temor” - Eclesiastes 3:14).

 

Por causa disso é chamado Lulav (palma de palmeira). Isso significa que, antes de ser recompensado, o indivíduo tem dois corações. E isso é chamado Lo Lev (Sem coração), no sentido de que o coração não é devotado somente ao Criador. Quando ele é recompensado com o Lo (“Não” ou “Para Ele”), ou seja, com um coração que é para o Criador, isso é o Lulav.

 

Além disso, o indivíduo deve dizer: “Quando as minhas ações vão ser como as ações dos meus pais?” Através disso, ele é recompensado com ser um ramo dos pais sagrados, e esse é o significado de “Ramos de árvores grossas”, as quais são as três murtas.

 

Contudo, ao mesmo tempo, o indivíduo deve ser na forma de “Salgueiros de ribeiras”, sem gosto e sem cheiro. E deve se deleitar no seu trabalho, ainda que não sinta sabor ou fragrância no seu trabalho. E então esse trabalho é chamado “As letras do Seu Nome Unificado”, pelas quais somos recompensado com a completa Unificação com o Criador.

 

 

 

86. E eles construíram Arei Miskenot

(Ouvi do meu pai, 3 de Shevat,Tav-Shin-Aleph, 31 de janeiro de 1941)

        

A escritura diz: “E edificou para o Faraó Arei Miskenot[6], as cidades-armazém Pitom e Ramsés” (Êxodo 1:11). Deveríamos perguntar: “Pitom e Ramsés significa que são cidades bonitas, enquanto as palavras Arei Miskenot sugerem pobreza e escassez (ver nota de rodapé), e elas também sugerem perigo!” E devemos entender também o que Abraão, o Patriarca, perguntou: “E disse… Como saberei que hei de herdá-la?” (Gênesis 15:8). O que o Criador respondeu? Está escrito: “E disse (Deus): ‘Sabe com certeza que tua descendência será peregrina em terra que não lhe pertence, e a farão servir e a afligirão por 400 anos’” (Gênesis 15:13). 

 

O sentido literal é difícil de entender, já que a questão era que ele queria garantias sobre a herança, e não há garantia aparente na resposta do Criador - que a sua semente ficará no exílio -, mas parece ser resposta suficiente para Abraão. Além disso, vemos que quando Abraão teve uma discussão com o Criador a respeito do povo de Sodoma, foi uma longa discussão, e ele repetia “E se…”. Aqui, no entanto, quando o Criador disse que a sua semente ficaria no exílio, ele imediatamente aceitou isso como resposta suficiente e não argumentou ou disse “E se…”. Ao contrário, ele aceitou isso como uma garantia para a herança da terra.

 

Devemos entender essa resposta, e devemos também entender o que o Zohar interpreta sobre o verso “O Faraó se aproximou” (Êxodo 14:10). Interpreta que ele os aproximou do arrependimento. Pode ser que o perverso Faraó desejaria aproximá-los do arrependimento?

 

A fim de entender tudo isso, devemos entender o que os nossos sábios disseram (Sucá 52a): “Rabi Yehuda diz: ‘No futuro, o Criador traz a Inclinação ao Mal diante dos Jstos e diante dos perversos e a mata. Para os justos, parece uma alta montanha e para os perversos parece um fio de cabelo. Esses choram e aqueles choram. Os Justos choram e dizem ‘Como poderíamos dominar uma montanha tão alta?’, e os perversos choram e dizem ‘Como não poderíamos dominar esse fio de cabelo?’’”

 

Esse verso é desconcertante por completo:

 

1.    Se a Inclinação ao Mal já começou a ser massacrada, como ainda existem perversos?

 

2. Por que os Justos choram? Muito pelo contrário, deveriam estar felizes!

 

3. Como pode haver duas opiniões quando ambas chegaram ao Estado de Verdade? Esses versos falam do Final dos Tempos, o que certamente é um Estado de Verdade, então como pode haver tamanha diferença na realidade entre um fio de cabelo e uma alta montanha?

 

Ele explica isso com as palavras dos nossos sábios: “Rabi Assi diz, ‘No começo, a Inclinação ao Mal parece uma teia de aranha e, no final, parece com cordas de carroça’, como foi dito, ‘Ai dos que se prendem à iniquidade com cordas vãs, e ao pecado com as correntes da falsidade’ (Isaías 5:18)”.

 

Há uma grande regra que devemos saber. Nosso trabalho, o qual nos foi dado para ser baseado na Fé Acima da Razão, não se dá porque somos indignos de um alto nível. Assim, isso nos foi dado a fim de que tudo seja colocado em um Kli (vaso) de fé. Parece-nos ignomínia e inutilidade, e ficamos ansiosos pelo momento de nos livrarmos desse fardo chamado “Fé Acima da Razão”. No entanto, é um nível grandioso e muito importante, cuja exaltação é imensurável.

 

A razão por que nos parece ignomínia é devido ao desejo de receber que existe em nós. Devemos discernir um Rosh (Cabeça) e um Guf (Corpo) no desejo de receber. O Rosh é chamado “Saber” e o Guf é chamado “Receber”. Por isso, consideramos qualquer coisa que seja contrária ao saber como inferior e bestial.

 

Agora podemos interpretar o que Abraão, o Patriarca, perguntou ao Criador: “Como saberei que hei de herdá-la?” Pois como eles serão capazes de aceitar o fardo da fé se ele é contrário à razão, e quem pode ir contra a razão? Portanto, como eles chegarão a receber a Luz da Fé, já que a perfeição depende apenas disso?

 

Sobre isso, o Criador respondeu: Saiba com certeza que teus descendentes serão estrangeiros numa terra que não é deles”. Isso significa que Ele preparou a Klipá (Casca), que é a Inclinação ao Mal, uma pessoa má, o Faraó, Rei do Egito. As letras da palavra Paró (Faraó) são as mesmas de Oref (Nuca).

 

O ARI escreveu em Shaar HaKavanot para Pesach que o Faraó é considerado o Oref do Egito. Ele procura absorver a Shefa (Abundância) que desce aos níveis inferiors com a seguiunte questão xodo 5:2): “Quem é o Eterno para que eu escute a Sua voz?” Por meio dessa pergunta, eles já estão nas mãos das Klipot (Cascas), tal como diz Maimônides em Hilchot Deot sobre não se adorar ídolos, já que apenas por fazer-se essa pergunta já se caiu na transgressão da proibição da adoração dos ídolos.

 

A Inclinação ao Mal deseja sugar a abundância da Kedushá (Santidade). Portanto, o que ela faz para sugar a abundância da Kedushá? A escritura nos diz: “E o Faraó se aproximou. “O Zohar interpreta que ele os aproximou do arrependimento. E pergunta como podemos dizer que o Faraó os aproximou do arrependimento se a conduta das Klipot é afastar o indivíduo do Criador?

 

Devemos entender isso por meio do que está escrito no Zohar (“Introdução ao Livro do Zohar”: “A transgressão se oculta dentro de você, como a serpente que ataca e esconde sua cabeça dentro do seu corpo.” Também, no Sulam (“Escada”, comentário no Zohar): “Porque essa transgressão está oculta, a força da serpente que ataca as pessoas do mundo e traz morte ao mundo ainda está com todo o seu poder e não pode ser revogada. É como uma serpente que pica uma pessoa e imediatamente coloca a cabeça dentro do seu corpo, e então é impossível matá-la.”

 

Há ainda outro ditado no Zohar, que a serpente inclina a cabeça e ataca com a cauda. Isso significa que, às vezes, ela deixa o indivíduo tomar sobre si o Fardo da Fé, que é Acima da Razão e que é o inclinar da cabeça, mas então ataca com a cauda. A cauda pode ser interpretada como “O fim”, no sentido de que inclinou a cabeça apenas para, no final de contas, receber a fim de receber. Em outras palavras, primeiro deu permissão para tomar sobre si a fé, para que depois tomasse tudo sob sua própria autoridade, pois a Klipá (Casca) sabe que não há como receber abundância a não ser por meio da Kedushá (Santidade).

        

Esse é o significado de o Faraó tê-los aproximado. Explica-se que ele trouxe Israel ao arrependimento de propósito, a fim de que depois tomasse tudo deles sob sua própria autoridade. É por isso que o ARI escreveu que o Faraó sugou toda a abundância que desceu aos inferiores. Ele sugou a partir do Oref e a partir da garganta, a qual é considerada a cabeça do corpo, no sentido de que tomaria tudo nos seus Vasos de Recepção.

 

Esse é o significado de “E edificou para o Faraó Arei Miskenot”, no sentido de que isso era para Israel. Em outras palavras, todo o seu trabalho durante o exílio foi levado sob a custódia do Faraó, e Israel permanece pobre, pois Miskená significa pobre.

 

Também devemos interpretar Miskenot a partir da palavra Sakana (Perigo), no sentido de que eles estavam em grande perigo de permanecer naquele estado pelo resto de suas vidas. No entanto, para o Faraó, o trabalho de Israel era Pitom e Ramsés, cidades muito bonitas.

 

Portanto, o significado de “E edificou Arei Miskenot” é para Israel, e Pitom e Ramsés para o Faraó. Isso é porque todo o trabalho de Israel caiu nas Klipot, e eles não viram nenhuma bênção no seu trabalho.

 

Quando eles prevaleceram na fé e na doação no seu trabalho, eles viram fertilidade. E no momento em que caíram ao saber e receber, eles caíram nas mãos da Klipá do Faraó. Finalmente, eles chegaram a uma determinada resolução de que o trabalho deve ser feito na Fé Acima da Razão e na doação.

 

Contudo, eles viram que não eram capazes de sair do poder do Faraó por si mesmos. É por isso que está escrito: “E os filhos de Israel suspiraram pelo trabalho” (Êxodo 2:23), pois ele temiam que poderiam ficar no exílio para sempre. Então, “Os seus clamores subiram a Deus”, e eles foram recompensados com a saída do exílio no Egito.

 

Acontece que, antes de verem a situação - que estão nas mãos das Klipot, sofrendo e temendo ficar ali para sempre -, se não sentem a deficiência e o detrimento causados por eles, se não sentem que isso é tudo o que os obstrui de aderir ao Criador, então eles não têm necessidade da ajuda do Criador a partir dos Vasos de Recepção. Isso é porque, ao contrário, o indivíduo tem uma consideração maior pelo trabalho na forma do conhecimento e da recepção, e a fé é considerada humildade. Eles preferem o conhecimento e a recepção, pois isso é o que a mente externa do homem necessita.

 

Portanto, lhes foi dado o exílio, para que não progredissem na aproximação ao Criador, e para que todo o seu trabalho se afundasse na Klipá do Egito. Finalmente, eles viram que não tinham outra opção senão tomar sobre si o trabalho da humildade, que é a Fé Acima da Razão, e ansiar pela doação. Caso contrário, eles sentem que estão no domínio da Sitra Achra (Outro Lado).

 

Acontece que tomaram a fé sobre si porque viram que, caso contrário, não teriam aconselhamento, e assim concordaram com um trabalho de humildade. Isso é chamado “Trabalho Condicional”, pois aceitaram esse trabalho para que não caíssem na rede das Klipot. É por isso que haviam tomado sobre si esse trabalho.

 

No entanto, se a razão é revogada, o amor por esse trabalho também é revogado. Isso significa que a Inclinação ao Mal é cancelada, e não há nada que lhes traga pensamentos de não se voltar a ídolos, e então o amor pelo trabalho na humildade é cancelado.

 

Agora podemos entender o que os nossos sábios escreveram: “No começo, a Inclinação ao Mal parece uma teia de aranha e, no final, parece com cordas de carroça.” Sabemos que há um discernimento de “Coercitivo”, “Enganado” e “Deliberado”. O desejo de receber que está impresso no homem é considerado “Coercitivo”, pois ele não pode revogá-lo, e portanto não é considerado um pecado, mas uma iniquidade, como está escrito: “Ai dos que se prendem à iniquidade com cordas vãs”. A Inclinação ao Mal não pode ser rejeitada ou odiada, já que ele não sente que ela será um pecado.

 

Contudo, depois, ela se torna um “pecado, como era com cordas de carroça”, e então as Klipot foram feitas desse desejo de receber, que tem uma estrutura completa, como em “Deus fez um oposto ao outro”. Daqui vem a Inclinação ao Mal, ou seja, tudo vem desse fio de cabelo.

 

Como já foi revelado que isso é um pecado, então todos sabem que devem se proteger desse fio de cabelo, e entendem que não há outra escolha, se desejam entrar na Kedushá, a não ser decidir trabalhar em humildade, ou seja, na fé e na doação. Caso contrário, eles vêem que estão sob o controle da Klipá do Faraó, Rei do Egito.

 

Segue-se que o benefício do exílio foi sentir que o desejo de receber é um pecado, e essa é a razão para decidir que não há outra escolha a não ser tentar e adquirir Vasos de Doação. Esse é o sentido da resposta do Criador a Abraão, o Patriarca, sobre o seu pedido de garantias para a herança da terra: “Saiba com certeza que tua descendência (…) e a afligirão (…) etc.” Através do exílio, eles descobririam que o fio de cabelo é um pecado, e então aceitariam o trabalho real a fim de se desligarem do pecado.

 

Esse é o significado do que o Rabi Yehuda disse, que no futuro a morte será engolida para sempre, no sentido de que o Criador vai massacrar a Inclinação ao Mal, e tudo que restará dela não será mais que um fio de cabelo, o qual nem é sentido como um pecado (o fio de cabelo é algo que não pode ser visto com o olho).

 

Porém, alguns perversos e justos permanecem, e todos querem aderir a Ele. Os perversos ainda não corrigiram o seu fio de cabelo, quando a Inclinação ao Mal ainda existia e eles podiam senti-la como pecado. Agora, contudo, quando não há Inclinação ao Mal, tudo o que resta não é mais que um fio de cabelo, então eles não tem razão para fazê-los transformar seus Vasos de Recepção em Vasos de Doação, pois um fio de cabelo não é sentido. Mas, mesmo assim, eles não podem aderir a Ele porque há disparidade de forma, e “Ele e eu não podemos habitar na mesma morada”.

 

A sua correção é ser pó sob os pés dos justos. Isso significa que, como a Inclinação ao Mal foi cancelada, os justos não têm razão para seguir com Fé Acima da Razão. Assim, como não têm nenhuma razão, quem os obrigaria?

 

Eles vêem que os perversos são deixados com o fio de cabelo, e que não o corrigiram enquanto havia Inclinação ao Mal, e era o momento de corrigi-lo pois, então, o desejo de receber era evidentemente um pecado, enquanto agora ele não se parece com um pecado, mas com um fio de cabelo. Portanto, se não há razão, não há lugar para corrigir.

 

Ainda assim, também não há lugar para a Dvekut (Adesão), pois a disparidade de forma permanece, e toda a correção dos perversos é que os justos caminhem sobre eles. Isso significa que agora eles vêem que não há medo da rede das Klipot, pois a Inclinação ao Mal foi massacrada.

 

Portanto, por que agora eles precisam trabalhar com Fé Acima da Razão? Agora eles vêem que os perversos não conseguem alcançar a Dvekut, porque agora eles não têm uma razão para isso - ou seja, uma Inclinação ao Mal que seja distinguida como um pecado -, mas mesmo assim eles ficam do lado de fora, pois ainda há disparidade de forma.

 

Consequentemente, quando os justos vêem isso, eles entendem o quanto foi bom para eles que tivessem uma razão para trabalhar em doação. Eles pensaram que estavam envolvidos na doação apenas devido à Inclinação ao Mal, mas eles vêem que o pecado que viram foi para o seu próprio bem. Em outras palavras, esse é o trabalho real, e eles não o fazem por medo de cair nas mãos das Klipot. A evidência disso é que eles vêem que os perversos, os quais não corrigiram o fio de cabelo, agora não têm razão para fazê-lo, e permanecem do lado de fora e não conseguem chegar à Dvekut com o Criador.    

 

Segue-se que os justos recebem a força para seguir de força em força, através dos perversos - os perversos se tornaram pó sob os pés dos justos, e os justos caminham sobre os discernimentos que permanecem como perversos.

 

Assim, em retrospecto, esse trabalho é especificamente importante. E isso não é devido à coerção, como parecia antes, enquanto eles tinham a Inclinação ao Mal. Agora eles vêem que, mesmo sem a Inclinação ao Mal, vale a pena trabalhar na doação e na fé.

 

Sobre “Esses choram e aqueles choram”, sabe-se que chorar é Katnut (Pequenez), VAK. Há uma diferença entre GAR e VAK. Os Mochim de VAK iluminam a partir do passado, ou seja, eles tomam Sustento e Luz do que experienciaram no passado. Os Mochim de GAR, no entanto, brilham no presente por meio da união de Zivug (Cópula).

 

Esse é o sentido dos justos chorando e dizendo “Como poderíamos conquistar uma montanha tão alta?” Agora eles vêem o que havia antes do massacre da Inclinação ao Mal, pois o seu domínio era de fato grande, como está escrito: “Deus fez um oposto ao outro”. E eles receberam grande misericórdia do Criador, que lhes deu o poder de vencer a guerra contra a Inclinação ao Mal, e agora eles se alegram no milagre que tinham então, ou seja, no passado. Isso é chamado Mochim de Katnut.

 

Os perversos choram porque agora eles não têm como aderir a Ele, mesmo que agora vejam que é apenas um fio de cabelo. Mas como agora não há Inclinação ao Mal, eles não têm razão para transformar os Vasos de Recepção em Vasos de Doação; eles podem apenas ver que estão do lado de fora; é por isso que eles choram.

 

No entanto, a sua correção é se tornar pó sob os pés dos justos. Em outras palavras, quando os justos vêem que, mesmo sem a Inclinação ao Mal, os perversos ainda não conseguem atingir a Dvekut, eles revelam seu pensamento de que tiveram que seguir o caminho da doação apenas devido à Inclinação ao Mal, e vêem que esse é o vaso verdadeiro. Isso significa que, mesmo se não existisse a Inclinação ao Mal, o caminho ainda é verdadeiro, o caminho da fé é um caminho maravilhoso.

 

Agora entendemos porque os perversos permanecem após o massacre da Inclinação ao Mal; é assim para que eles se tornem pó sob os pés dos justos. Se nenhum perverso permanecesse, não haveria ninguém para mostrar essa questão grandiosa, de que o caminho da fé não se dá devido ao amor condicional. Ou seja, não é por causa da Inclinação ao Mal que devemos seguir o caminho da fé, mas devido ao amor incondicional, pois agora não há mais qualquer Inclinação ao Mal e, ainda assim, apenas por meio da fé podemos atingir a Dvekut com o Criador.

 

Ouvi em outra ocasião: A razão por que precisamos da fé, especificamente, é o orgulho dentro de nós, pois ele torna difícil a aceitação da fé. Apesar de a fé ser um nível exaltado e maravilhoso, o Inferior não pode atingi-lo nem entender sua preciosidade e sublimidade. E isso ocorre apenas devido ao nosso orgulho, ou seja, o desejo de receber. Imaginamos isso como inferior e bestial, e por essa razão nos foi dada a pessoa má.

 

E ouvi em outra ocasião: Vemos que, quando não queremos aceitar a fé, caímos do nosso estado. Levantamos e caímos todas as vezes até que decidimos que não temos outra escolha senão estabelecer a fé permanentemente. Isso ocorre a fim de receber a fé, e isso é “E edificou (para Israel) para o Faraó Arei Miskenot.

 

 

 

 

87. Shabat Shekalim

(Ouvi em 26 de Adar, Tav-Shin-Het, 07 de março de 1948)

 

No Shabat Shekalim (nome de uma porção semanal), quando entrou para o Kidush[7] (…), ele disse: “Havia um costume entre os Admorim (rabinos, chefes de congregações) na Polônia, de que todos os homens ricos viriam no Shabat Shekalim para receberem Shekalim (moedas) dos seus rabinos.”

 

Isso sugere, ele disse, que não pode haver a eliminação de Amalek sem Shekalim. É assim porque antes de receber Shekalim, ainda não há Klipá (Casca) de Amalek. Ao contrário, a grande Klipá chamada “Amalek” vem quando se pega Shekalim, e então começa o trabalho de eliminar Amalek. No entanto, antes disso, o indivíduo não tem nada a apagar.

 

E ele adicionou uma explicação a respeito do que o Profeta de Kuznitz disse sobre o que é dito na oração final: “Tu separaste o homem desde o início e Tu o reconhecerás para se levantar diante de Ti.” Sobre isso, o profeta perguntou: “Como é possível se levantar sem um Rosh (Cabeça)? Isso significa que ele separou o Rosh do homem, e como pode ser uma coisa assim?” A explicação é: “Quando contares as cabeças dos filhos de Israel”, pelo qual atraímos o discernimento do Rosh. Se damos o meio Shekel, através disso somos recompensado com o Rosh.

 

E depois ele perguntou: “Por que ele prepara mais bebida do que comida para o Kidush? Essa não é a ordem correta, pois a ordem deveria ser comer mais do que beber, já que a bebida vem apenas como um complemento para a comida, por meio de ‘E comerás, te fartarás e louvarás’ (Deuteronômio 8:10). No entanto, não é assim quando se bebe mais do que se come.” E ele interpretou que comer sugere Chassadim (Misericórdia) e beber sugere Chochmá (Sabedoria).

 

E ele disse mais: que o Shabat anterior ao mês de Adar contém todo do mês de Adar. Assim, “quando entra Adar, há muita alegria”. E ele disse que há uma diferença entre um Shabat e um dia bom. O Shabat é chamado “amor”, e um dia bom é chamado “alegria”. A diferença entre alegria e amor é que o amor é uma essência, e a alegria é apenas um resultado, nascido de alguma razão. A razão é a essência, e o resultado é apenas o produto da essência. Assim, o Shabat é chamado “amor e boa vontade”, e um dia bom é chamado “alegria e regozijo”.

 

Ele também explicou a respeito do que o Rabi Yochanan ben Zakai respondeu à sua esposa, sobre ser como um ministro perante o Rei, e ele, Rabi Hanina ben Dosa, ser como um escravo perante o Rei. É por isso que ele conseguia rezar. Parece que deveria ser o oposto, que o ministro teria mais força para induzir sua opinião sobre o Rei, e não o escravo.

 

No entanto, um “Ministro” é alguém que já foi recompensado com a Providência Particular. Nesse estado, ele não vê espaço para a oração, pois tudo é bom. Mas um escravo é alguém que está no nível de recompensa e castigo, e então ele tem espaço para rezar, pois ele vê que tem mais a corrigir.

 

E ele adicionou uma explicação a partir de um artigo apresentado (Baba Metzia 85a). Lá está escrito: “Um bezerro estava sendo levado para o abatimento. O animal foi, colocou sua cabeça no colo do rabino, e chorou. O rabino disse ao bezerro: ‘Vá, é para isso que você foi feito.’ Eles disseram: ‘Como ele não tem piedade, o sofrimento se abaterá sobre ele.’”

 

“É para isso que você foi feito” significa Providência Particular, no sentido de que não há nada para adicionar ou retirar, pois ali também os sofrimentos são considerados méritos. É por isso que ele atraiu sofrimentos.

 

E a Guemará diz que ele estava livre do sofrimento através de um ato, dizendo  “E Suas misericórdias se manifestam em todos os Seus trabalhos”. Um dia, a empregada do rabino estava varrendo a casa. Havia pequenos ratos lá e ela os estava varrendo para longe. Ele disse: Deixe-os!Está escrito: E Suas misericórdias se manifestam em todos os Seus trabalhos. Ao alcançar o entendimento de que uma oração também permanece na eternidade, agora ele criou espaço para a sua oração. É por isso que os sofrimentos o abandonaram.

 

Ao final do Shabat, ele compartilhou uma interpretação a respeito do que o Zohar diz sobre o verso: “A Jacó escolheu para Si o Eterno” (Salmos 135:4). Quem escolheu quem? E o Zohar responde: “O Eterno escolheu Jacó.” Segue-se que Jacó não fez nada, tudo ocorreu sob a Providência Particular. E se Jacó, de fato, escolheu, isso significa que Jacó é o executor, ou seja, uma questão de recompensa e castigo.

 

E ele respondeu que, no início, o indivíduo deveria começar pelo caminho da recompensa e castigo. Quando completa essa fase de recompensa e castigo, ele é recompensado com a visão de que tudo está sob a Providência Particular, que “Ele sozinho faz e fará todas as ações”. No entanto, antes de completar o trabalho no nível recompensa e castigo é impossível entender a Providência Particular.

 

E, no domingo à noite, após a lição, ele explicou a questão da astúcia de Jacó. Está escrito sobre Jacó: “Teu irmão veio com esperteza” (Gênesis 27:35). Certamente, não havia questão de falsidade aqui. Caso contrário, o texto não diria sobre Jacó, o patriarca escolhido, que ele era um mentiroso.

 

Ao contrário, “esperteza” é quando o indivíduo executa um ato de sabedoria sem a intenção de sabedoria, mas para extrair um benefício de que ele necessita. Ele vê que não pode ser obtido diretamente e, portanto, executa um ato de sabedoria para obter aquilo que precisa. Isso é chamado “sabedoria”.

 

Esse é o significado do verso “seja astuto com razão”, ou seja, sabedoria através da razão. Isso significa que a sabedoria que ele quer obter não é para o propósito da sabedoria, mas através de outra coisa que o força a atrair sabedoria. Em outras palavras, ele deve atrair a fim de complementar os Chassadim.

 

Porque antes de os Chassadim obterem Chochmá, eles são discernidos como Katnut (Pequenez). No entanto, depois, quando ele atrai Chochmá, mas ainda assim prefere Chassadim a Chochmá, fica aparente que os Chassadim são mais importantes que Chochmá. Isso é chamado GAR de Biná, o qual significa que ele usa os Chassadim devido a uma escolha.

 

Esse é o sentido de Chochmá através de Daat, que a Chochmá aparece na forma de VAK em YESHUT. E, em AVI, Chochmá aparece por meio do aperfeiçoamento dos Chassadim e da permanência em Chassadim. Contudo, apesar de Biná ser considerada a correção de “Desejar misericórdia”, a escolha de Chassadim não é aparente devido ao Tzimtzum Beit, onde não há Chochmá. No entanto, em Gadlut (Grandeza), quando Chochmá vem, os Chassadim são usados devido a uma escolha.

 

 

 

 

88. Todo o trabalho se dá apenas onde há dois caminhos - 1
(Ouvi depois de Shabat BeShalach, Tav-Shin-Het, 24 de janeiro de 1948)

 

Todo o trabalho se dá apenas onde há dois caminhos, como está escrito: “E viverá por eles, e não morrerá por eles. E a questão de ‘morrerá e não os violará’ se aplica apenas a três Mitzvot: idolatria, derramamento de sangue e incesto.” E, ainda assim, descobrimos que os primeiros Chassadim dariam suas vidas pelos mandamentos positivos.

 

E devemos saber que todo o trabalho e o labor se dão apenas quando o indivíduo deveria observar a Torá. Nesse momento, o indivíduo sente o fardo pesado de que o corpo não concorda com as condições da Torá. Mas quando uma pessoa é recompensada, e a Torá a protege, ela não sente nenhum peso no trabalho do Criador, pois a Torá protege uma pessoa, como está escrito: “A sua alma lhe ensinará.”

 

 

89. Para entender as palavras do Zohar

(Ouvi em 5 de Adar, Tav-Shin-Het, 15 de fevereiro de 1948)

 

Para entender as palavras do Zohar devemos primeiro entender o que o Zohar quer dizer. Entender o que o Zohar quer dizer depende da dedicação do indivíduo à Torá e às Mitzvot, a fim de que a Torá e as Mitzvot lhe tragam pureza, para ser purificado do amor-próprio. É por isso que ele se envolve na Torá e nas Mitzvot. E, nessa medida, podemos entender a verdade do que o Zohar quer dizer. Caso contrário, existem as Klipot (Cascas), que escondem e bloqueiam a verdade nas palavras do Zohar.

 

 

90. No Zohar, Beresheet

(Ouvi em 17 de Adar, Tav-Shin-Het, 28 de março de 1948)

 

No Zohar, Beresheet: “Nos segredos da Torá, os defensores dos ministros são erguidos de Cima. E a lâmina da espada flamejante é apontada sobre todos os exércitos e campos. E nesse discernimento, diversos outros discernimentos são interpretados para vários outros níveis.”

 

Ele explicou que quando a coluna da esquerda atrai ela deve ser adoçada pela coluna da direita. Isso se propaga a três lugares:

 

         1. A AVI, o qual é a raiz;

         2. A Malchut;

         3. Aos Anjos de Deus.

 

Em AVI, eles são chamados “Defensores dos Ministros”, e em Malchut eles são chamados “A lâmina da espada rodopiante”. E Nos anjos, eles são chamados “Eles estão em muitos lados, diversas outras maneiras são interpretadas em diversos outros níveis”.

 

 

 

 

91. Sobre o que é substituível

(Ouvi em 9 de Nissan, Tav-Shin-Het, 18 de abril de 1948)

 

O Sagrado Zohar explica a razão pela qual Rubem foi concebido dentro de Lea, enquanto Jacó pensava em Raquel durante o ato. A lei indica que se se pensa em outra, a criança é chamada de “Substituível”. E o Sagrado Zohar explica isso, pois ele estava pensando em Raquel, porque realmente acreditava que era Raquel. Por outro lado, o conceito de “Substituível” se aplicaria somente se seu pensamento tivesse estado com Raquel enquanto que, no tocante ao ato, soubesse que estava com Lea. No entanto, neste caso, seu pensamento estava com Raquel, e quanto ao ato, também acreditava que estava com Raquel.

 

O Zohar explica isso da seguinte maneira: Sabe-se que na espiritualidade é como o que ocorre com o carimbo e a estampa, onde cada nível fica estampado pelo seu nível superior. E o comportamento do carimbo e da estampa consiste em que sempre são opostos entre si: a estampa é sempre oposta ao carimbo. Disso se depreende que aquilo que é considerado Klipá (Casca) em Beriá é Kedushá (Santidade) em Yetzirá, e o que é Kedushá em Yetzirá é Klipá em Assiá.

 

Portanto, se o Tzadik (Justo) se une a um certo grau, certamente está em Kedushá nesse grau. E se durante o ato pensa num outro grau ou nível, e aquilo que é considerado Kedushá nesse nível se considera Klipá em outro nível, isso recebe o nome de “Substituível”. Isso quer dizer que a prole dessa união é “Substituível” por que os graus ou níveis são opostos entre si.

 

No entanto, Jacó estava pensando em Raquel. Ou seja, na Kedushá do discernimento de Raquel. E, quanto ao ato, também acreditou que se tratava de Raquel. Assim, tanto o pensamento era de Kedushá de Rachel como o ato pretendia ser do grau de Raquel. Por isso, aqui não há discernimento de Lea que seja considerado “Substituível”.

 

92. Explicando o discernimento de Sorte

(Ouvi em 7 de Sivan,Tav-Shin-Het, 14 de junho de 1948)

 

Sorte” é algo que está Acima da Razão. Ou seja, embora fosse razoável que seria de forma tal e tal, a sorte fez com que suas ações tivessem sucesso. A Razão se refere à Causa e Consequência, no sentido de que uma causa faz o resultado sair como sai. Quando a causa inicial não é a causa da consequência é chamado “Acima da Razão”. Referimo-nos a isso como “sorte”, que causa resultado.

 

Sabe-se que todas as doações vêm da Luz de Chochmá (Sabedoria). E quando Chochmá brilha é chamada de “Coluna da Esquerda” e “Escuridão”. A abundância é bloqueada, e isso é chamado “Gelo”. Isso é chamado “Mérito”, porque o indivíduo é recompensado. Isso significa que a Razão que causa a Luz da Sabedoria é chamada “Mérito”, o qual é Causa e Consequência. Mas “filhos, vida e nutrição não dependem de Mérito, mas de Sorte”. Isso significa que a Chochmá brilha especificamente através da coluna do meio, onde  a Chochmá é reduzida, e especificamente por meio da diminuição chamada Masach de Hirik. Assim, ela não brilha com causa e consequência, no sentido de que a Chochmá brilha através da Coluna da Esquerda, mas precisamente por meio da diminuição. Isso é chamado “Acima da Razão”, e isso é “Sorte”.

 

 

 

93. Sobre barbatanas e escamas

(Ouvi em Tav-Shin-Hey, 1944-1945)

 

Para entender o que os nossos sábios disseram: “O que quer que tenha escamas é conhecido por ter barbatanas. E o que quer que tenha barbatanas não é conhecido por ter escamas.”

 

No Trabalho, devemos interpretar a questão de Kaskeset (Escamas) como Kushiot (Perguntas) que o indivíduo tem no Trabalho do Criador. As Kushiot são vasos nos quais é possível receber respostas, pois as respostas não são preenchidas na mente externa, mas especificamente na mente interna, a qual é a Luz Superior vestida dentro do ser humano. E, dessa forma, todos os questionamentos se assentam nele.  

 

Assim, na medida em que as perguntas aumentam, nessa medida a Luz Superior se veste dentro do homem. É por isso que as escamas estão entre os sinais de pureza, pois através delas o indivíduo pode se purificar por não querer ter perguntas. Portanto, o indivíduo faz aquilo que pode para se purificar, a fim de que seja premiado com a Luz Superior.

 

E uma barbatana também está entre os sinais de pureza. Snapir (Barbatana) indica Soneh-Peh-Ohr Elyon (Boca-odienta-Luz- Superior). Ter perguntas se deve ao fato de se sentir ódio pela Luz Superior. Mas aquele que tem barbatanas não precisa de perguntas. O indivíduo pode odiar a Luz Superior não por ter perguntas, mas simplesmente porque é invejoso e é capaz de dizer: “De qualquer forma, não irei”.

 

Esse é o sinal de pureza: ou seja, quando ele tem um peixe. Um peixe indica carne que é vestida por barbatanas e escamas. Isso significa que a Luz Superior brilha nesses dois sinais.

 

Mas quando se faz o Trabalho sem quaisquer perguntas, isso não representa um sinal de pureza. Isto se deve a que dessa forma a pessoa não tem espaço para a Luz Superior no seu interior, pois não tem uma razão que o force a atrair a Luz Superior, já que mesmo sem ela ele acredita que se encontra bem.

 

É por isso que o Faraó, o Rei do Egito, quando quis manter o povo de Israel sob seu domínio, emitiu uma ordem de não se fornecer Kash (Palha), como está escrito: “Então o povo se espalhou por toda a terra do Egito para recolher restolho em  lugar de palha”. (Êxodo 5:12). Desse modo, eles nunca precisariam que o Criador lhes livrasse do domínio da Tuma’a (Impureza) e lhes levasse para a Kedushá (Santidade).

 

 

 

94. E deverás guardar as tuas almas

(Ouvi emTav-Shin-Hey, 1944-1945)

 

No verso “E deverás guardar as tuas almas”, guardar se refere principalmente à alma espiritual. Contudo, o indivíduo guarda a alma corpórea mesmo sem Mandamentos da Torá. Isso porque a regra é que uma Mitzvá é primariamente evidente, ou seja, é evidente que ele faz o que faz pelo propósito de uma Mitzvá quando ele não o faria se não fosse pela Mitzvá. Antes, a razão de ele fazer isso é porque é uma Mitzvá.

 

Por isso, com uma Mitzvá que executa, se ele não faria isso mesmo que não fosse uma Mitzvá, ele precisa de cuidado especial, para encontrar um lugar onde possa dizer que faz isso apenas devido a uma Mitzvá. Isso é chamado “fazer um Kli com a Mitzvá”, no qual a Luz Superior pode existir. Assim, guardar se refere principalmente à alma espiritual.

 

 

95. Sobre remover o prepúcio

(Ouvi durante uma refeição em celebração a uma circuncisão, Tav-Shin-Gimel, 1942-1943, Jerusalém)

        

Malchut em si é chamada “Chochmá inferior”, e a respeito de sua conexão com Yesod é chamada “Fé”. Há um prepúcio sobre Yesod, cujo papel é separar Malchut de Yesod, e não deixar que se conecte a Yesod. O poder do prepúcio está em retratar a Fé como pó. Esse é o significado de a Shechiná estar no pó.

 

Quando essa força representativa é removida, e se diz que a força representativa é pó, isso é chamado “Circuncisão”, quando o prepúcio é cortado e jogado ao pó.

 

Nesse estado, a Shechiná sai do pó, e o Mérito da Fé se torna aparente. Isso é chamado “Redenção”, ser recompensado com elevar a Shechiná do pó. Por isso, devemos focar todo o trabalho em remover a força representativa, e apenas a Fé é considerada inteira.

 

Eles são meticulosos consigo mesmos tanto quanto uma azeitona e tanto quanto um ovo.” Uma “azeitona” é como disse a pomba: “Prefiro que meu alimento seja amargo como uma azeitona vinda do Alto.” E o “ovo” significa que, por enquanto, não tem vida, mas um animal vivo sairá dele. E eles são meticulosos consigo mesmos, e preferem trabalhar, embora a situação seja como uma azeitona.

 

Além disso, quando eles não vêem vitalidade no Trabalho, e toda a sua força para trabalhar tem o único objetivo de elevar a Shechiná do pó, então, por meio desse Trabalho, eles são premiados com a Redenção. Então eles vêem que essa refeição, a qual anteriormente era como uma azeitona e um ovo, agora se tornou alegre e doce e extremamente agradável.

 

Esse é o significado de “Um prosélito convertido é como uma criança recém-nascida”. Naquele momento, ele também deve manter o estado do “Pacto”, e então ficará feliz.

 

Assim, quando a criança é circuncidada, apesar de estar sofrendo, os convidados e os pais estão felizes, pois eles acreditam que a alma do menino está feliz. De forma similar, no Trabalho do Pacto, devemos ficar felizes mesmo se sentimos um estado de sofrimento. Mesmo assim, devemos acreditar que nossa alma está feliz.

 

Todo o nosso Trabalho deve ser com alegria. E a evidência para isso vem do primeiro mandamento dado ao homem. A Mitzvá é feita pelos pais, e os pais e os convidados estão felizes. Assim deveria ser com todas as Mitzvot que o indivíduo executa: apenas com alegria.

 

 

 

96. O que significam o desperdício do celeiro e da adega no Trabalho Espiritual?

(Ouvi na véspera de Sukkot, dentro da Sucá,Tav-Shin-Gimel, 1942-1943)

 

Um celeiro representa os Dinim (Julgamentos) masculinos, como em “Oculto e não contaminado”, quando ele sente que está em um estado de Goren (Celeiro) no Trabalho, ou seja, Guer (Estrangeiro/Não convertido).

 

Uma adega representa os Dinim femininos, como em “Oculto e contaminado”. Yékev (Adega) é considerado Nekev (Orifício).

        

E há dois tipos de Sukot: 1) Nuvens de glória, e 2) Desperdício de celeiro e adega.

 

Uma nuvem é considerada Ocultação, quando o indivíduo sente a Ocultação sobre a Kedushá (Santidade). Se uma pessoa supera a nuvem, ou seja, a Ocultação que sente, ela é, portanto, recompensada com Nuvens de Glória. Isso é chamado MAN de Ima, o qual se aplica durante seis mil anos. É considerado um Sod (Segredo), pois ainda não se tornou uma natureza, chamada de pshat (simples, comum, literal).

 

E os desperdícios de celeiro e adega são chamados “Literal e Natureza”, os quais são considerados MAN de Malchut, corrigidos especificamente através da Fé, chamada “Itorerut (Despertar) de baixo”.

 

E MAN de Ima é considerado um Despertar de Cima, o qual não é discernido como Natureza. Isso significa que, a respeito da Natureza, quando o indivíduo não está pronto para receber a Shefa (Abundância), ele não recebe qualquer Doação.

 

Porém, da perspectiva do Itorerut de Cima, que é acima da Natureza, a Luz é de fato despejada aos inferiores, por meio de “Eu sou o Eterno, que vive com eles no meio de sua impureza”, como está escrito no Zohar: “Embora ele tenha pecado, é como se não tivesse pecado algum.”

 

No entanto, com um Itorerut de baixo a Luz não é dispensada. Em vez disso, é precisamente quando o indivíduo é qualificado por natureza - ou seja, por si mesmo, e isso é chamado MAN de Nukva - que ele pode se corrigir pela Fé. Isso é chamado “Por si mesmo”, considerado o Sétimo Milênio, chamado “E está arruinado”, no sentido de “Ela não tem nada próprio”, considerado Malchut. Quando isso é corrigido, o indivíduo é recompensado com o Décimo Milênio, que corresponde a GAR.

 

Semelhante alma somente é encontrada uma em dez gerações. Contudo, há um discernimento do Sétimo Milênio, a partir da perspectiva dos seis mil anos, chamada “Particular” ou “Individual”, pois o geral e o particular são sempre iguais. Mas isso é considerado MAN de Ima, chamado “Nuvens de Glória”.

 

O propósito do Trabalho está no Literal e na Natureza, já que nesse Trabalho não há espaço para o indivíduo cair ainda mais baixo, pois ele já está no chão. É assim porque ele não precisa de Gadlut (Grandeza) pois para ele é como se sempre fosse algo novo.

 

Ou seja, ele sempre trabalha como se tivesse recém começado a trabalhar. E ele trabalha na forma de aceitar o Fardo do Reino dos Céus Acima da Razão. A base sobre a qual ele construiu a ordem do Trabalho foi a maneira mais baixa, e tudo estava verdadeiramente Acima da Razão. Apenas alguém realmente ingênuo pode ser tão baixo a ponto de proceder sem nenhuma base na qual estabelecer sua Fé, literalmente sem nenhum suporte.

 

Além disso, ele aceita esse Trabalho com grande alegria, como se houvesse tido um verdadeiro conhecimento e uma visão sobre os quais estabelecer a certeza da Fé. E na exata medida em que vai Acima da Razão, nessa mesma medida é como se tivesse razão. Assim, se ele persiste nesse caminho, ele nunca cairá. Em vez disso, ele pode estar sempre em alegria, por acreditar que está servindo a um grande Rei.

 

Esse é o significado do verso “Oferecerás um dos cordeiros pela manhã, e o outro cordeiro oferecerás pela tarde e também a oferecenda do cereal e a própria libação da manhã  como aroma agradável, uma oferenda queimada ao Senhor” (Êxodo 29:39-41). Isso significa que essa alegria que sentia enquanto oferecia seu sacrifício era para ele como a manhã. Isso se explica pelo fato de que a manjhã se associa com a Luz, e faz referência ao fato da Luz da Torá estar brilhando para ele com total claridade. Nesse mesmo estado de felicidade ele estava realizando o seu sacrifício, seu trabalho, embora para ele fosse como a noite.        

 

Isso significa que mesmo ser ter recebido iluminação alguma da Torá e do Trabalho, ele ainda assim fez tudo com alegria, pois  trabalhava Acima da Razão. Desse modo, ele não poderia discernir qual dos dois estados satisfaz mais o Criador.

 

Esse é o significado da pregação do rabino Shimon ben Menasia a respeito de um certo “tipo de matéria”. Matéria significa que é um elemento “sem razão e sem conhecimento”. “Um ouvido que ouviu no Monte Sinai, não roubar.” Isso significa não receber nada para si mesmo, mas, em vez disso, tomar sobre si o Fardo do Reino dos Céus sem qualquer Gadlut (Grandeza), inteiramente Acima da Razão. E foi e roubou certo grau de irradiação da Luz para si mesmo. Ou seja, ele disse: “Agora posso ser um servo do Senhor, porque já recebi razão e conhecimento do Trabalho, e entendo que vale a pena ser um servo do Criador. E agora eu não preciso mais de Fé Acima da Razão.”

 

E sobre isso ele nos conta o seguinte: “E foi vendido à Corte.” “Corte” se refere à razão e ao conhecimento do homem, que são os que julgam suas ações, determinando se eram aptas ou não a serem executadas. “Vendido” significa que ele se tornou um estranho no Trabalho do Criador, e que sua mente vem e lhe faz a pergunta conhecida: “O que esperas ou pretendes com esse Trabalho?” E isso vem apenas de roubar, tendo recebido alguma ajuda com respeito à Fé. Enfim, vem e quer cancelar a ajuda com suas perguntas. Mas isso é apenas por “seis”, ou seja, “ele foi vendido por seis anos”, o que se considera Dinim masculinos.

 

Mas se o servo disser claramente: “Eu amo o meu Mestre, não vou me libertar Dele’”, no sentido de que não quer se libertar das Mitzvot, então a correção consiste em “Seu Mestre há de trazê-lo”, ou seja, o Senhor há de ajudá-lo “através da porta ou da Mezuzá”. Dito de outro modo, é revogado seu impedimento de entrar no Reino dos Céus. E “seu Mestre há de furar seu ouvido”. Se diz que se perfura seu ouvido, pois um outro orifício lhe será feito com a finalidade de que possa ouvir novamente o que havia ouvido no Monte Sinai: “Não hás de roubar” e “Hás de servir-me para sempre”. Nesse momento ele se torna, verdadeiramente, um servo do Criador.

 

Sukot representa uma residência temporária. Isso significa que, para quem já foi premiado com residência permanente e não tem mais nada a fazer, como na questão de ser o primeiro a contar iniquidades, o conselho é que saia para uma residência temporária como quando estava no seu caminho para a casa de Deus, antes de ter chegado à residência permanente. Naquele tempo, quando seu Trabalho se parecia ao do “visitante de passagem”, precisava alcançar o Palácio de Deus constantemente, e, além disso, recebia visitas.

 

E agora sim, ele pode continuar com seu Trabalho passado, quando se sentia sempre agradecido com o Criador e era feliz e O louvava por atraía-lo cada vez mais para Ele. E agora, em Sukot, pode continuar com essa sensação de felicidade que tinha então, e esse é o sentido da residência temporária. É por isso que os sábios disseram: “Saia da residência permanente e more na residência temporária.”

 

O mais importante não é o estudo, mas o ato.” Isso significa que um ato é como uma espécie de matéria. O rabino Shimon ben Menasia pregava sobre uma “certa matéria”, que consistia em que o mais importante é o ato, e que a mente não é mais que um certo tipo de “espelho”.

 

Contudo, o ato é considerado “vivente” e a mente é considerada “falante”. A questão é que se há integridade no ato, então o ato é tão grande que traz consigo a “mente da Torá”. E a “mente da Torá” recebe o nome de “falante”.

 

 

97. Desperdício de celeiro e de adega

(Eu ouvi)

 

Goren (Celeiro) significa redução de boas ações, quando uma pessoa sente Gronot (Gargantas, que soa como Gueronot [Deficiências]) a respeito do Criador). Por causa disso, diminui as suas boas ações, e logo chega a um estado de Yékev (Adega), e isso se refere ao versículo que diz: “E aquele que blasfemou o nome do Senhor”.  

 

Sukot implica alegria, e se refere às “Guevurot em júbilo”, que vem a ser o “Arrependimento por amor”, ou quando os pecados se tornam Méritos, e mesmo o celeiro e a adega acabam sendo admitidos na Kedushá. Isso é o que significa que o principal discernimento da Sucot é Isaac, mas todos estão incluídos dentro dele (a Páscoa hebraica é considerada Chessed, que é a direita). Esse é o sentido da expressão “Abraão gerou Isaac”.

 

Isto se deve a que a questão de pai e filho é causa e efeito, razão e resultado. Se não tivesse havido um discernimento de Abraão, que representa a direita, não poderia ter havido o discernimento de Isaac, que representa a esquerda, porém a esquerda esta incluída e integrada na direita, como em “Pois Tu és o meu pai”.

 

Abraão disse: “Serão destruídos diante da Santidade do Teu Nome”. E Jacó também disse que isso significa que os pecados serão destruídos pela Santidade do Seu nome. E se permanece assim, então há uma lacunba no meio. Em outras palavras, os pecados em toda Israel representam uma lacuna na Kedushá.

 

Isaac, no entanto, disse: “Metade sobre mim e metade sobre você”. Ou seja, a parte dos pecados e a parte das Mitzvot entrarão ambas na Kedushá. E isso se pode conseguir através do Arrependimento por Amor, quando os pecados de uma pessoa se transformam em Méritos. Nesse estado não existe lacuna, como está escrito: “Não haverá brecha nem ataque” (Salmos 144:14), senão que tudo é corrigido em prol da Kedushá.

 

Esse é o significado das palavras dos nossos sábios, que dizem assim: “O esterco e as mulas de Isaac são maiores que o dinheiro e o ouro de Abimelech.” Esterco representa algo inferior e sem valor. Isto sugere que, para ele, sua servidão é como se fosse esterco. Depois, chega a um estado de separação. Porque não aprecia o seu trabalho, cai num estado de separação. E isso recebe o nome de “o esterco e as mulas de Isaac”. E posto que Isaac corrigiu tudo sob a forma de “arrependimento por meio do amor”, e seus pecados se transformaram em méritos, o benefício que obteve por meio do “esterco e mulas” é maior que “o dinheiro e o ouro de Abimelech”.

 

Seu Kesef (Dinheiro) corresponde a Kisufim (Anseios) pelo Criador. E Zahav (Ouro) corresponde a Ze Hav (Dê isto), referindo-se ao anseio pela Torá, ou seja, o anseio por receber a Torá. Como Isaac corrigiu tudo e alcançou o “arrependimento através do amor” também os seus pecados passaram a ser considerados Méritos. E, deste modo, se tornou muito rico, já que não existem mais do que 613 Mitzvot, mas os pecados e as transgressões são ilimitados. POrtanto, Isaac se tornou rico, tal como está escrito: “E ele encontrou cem portas”. O que significa que ele obteve cem por cento de Kedushá, sem desperdício algum, pois também o desperdício foi corrigido nele.

 

É por isso que o teto da Sucá é feito com as sobras do celeiro e da adega (e podem repetir o que disseram os nossos sábios: que Moisés ficou rico com as sobras). Por fim, Sukot deve seu nome principalmente a Isaac, que corresponde às Guevurot que se regozijam, e Sukot também recebe seu nome de Moisés.

 

 

 

98. Espiritualidade é aquilo que nunca se perde

(Eu ouvi em 1948)

 

Denomina-se Espiritualidade aquilo que nunca se perdePortanto, o desejo de receber, com sua intenção de receber para si mesmo, que é a forma sob a qual se encontra, é chamado “material”. É assim porque nessa forma ele será extinto e irá adotar a forma de “Com intenção de outorgar”. 

 

Na espiritualidade, um lugar verdadeiro se denomina “o lugar da realidade”, pois todos aqueles que entram ali, nesse espaço, vem e percebem as mesmas coisas. No entanto, algo imaginário não se denomina de “um lugar verdadeiro” já que por ser imaginário todos o imaginam de forma diferente.

 

Quando nos referimos às Setenta Faces da Torá, isso significa que ela tem setenta níveis. Em cada nível, a Tora é interpretada de acordo com o estado em que alguém se encontra. No entanto, um mundo representa uma realidade, o que significa que qualquer um que alcance qualquer um dos setenta níveis naquele mundo, o atinge da mesma forma que todos os outros que venham a atingi-lo.

 

A partir disso é que se entende o que dizem os nossos sábios, que interpretaram os versículos da Torá. Eles afirmam que “isso é o que Abraão disse a Isaac”, e outros ditos similares de nossos sábios. Dizem o que se disse, e o que se explica nos versículos. 

 

Assim, surge a seguinte pergunta: “Como é que eles souberam o que um disse ao outro?” Porque aqueles que alcançaram o nível de Abraã(ou de qualquer outro) podem ver e conhecer aquilo que Abraão viu e conheceu. 

 

Por esta razão, eles sabem o que Abraão disse. E ocorre o mesmo com todos os demais ditos de nossos sábios ao interpretar os versículos da Torá. Tudo isso porque eles também atingiram esse nível, e na espiritualidade cada nível representa um nível de realidade. Cada um deles vê aquela realidade como todos aqueles que chegam a Londres, na Inglaterra, e veem o que existe na cidade e o que se diz na cidade.

 

 

 

99. Não digas perverso ou justo

(Ouvi em 21 de Iyar, Jerusalém)

 

O rabino Chanina Bar Papa disse: ‘Aquele Anjo, nomeado na concepção, seu nome é Laila (Noite). Ele pega uma gota e a coloca diante do Criador e diz a Ele: ‘Mestre do Mundo, o que essa gota deverá se tornar, um herói ou um fraco, um sábio ou um tolo, um rico ou um indigente?’ Mas ele não diz ‘Um perverso ou um justo’” (Nidá, 16b).

 

Devemos interpretar isso de acordo com a regra que diz que um tolo não pode ser justo, como disseram nossos sábios: “O indivíduo não peca a não ser que um espírito de tolice tenha entrado nele.” Isso é ainda mais verdadeiro no caso de alguém que foi um tolo a vida inteira. Por isso, aquele que nasce tolo não tem escolha, pois ele foi sentenciado a ser um tolo. Portanto, ao dizer “Ele não disse ‘Um perverso ou um justo’, é como se ele tivesse escolha. Mas qual é o benefício se ele não disse “Um justo ou um tolo”? Afinal, se ele é sentenciado a ser um tolo, é o mesmo que ser sentenciado a se tornar um perverso!

 

Também devemos entender as palavras dos nossos sábios: “O rabino Yochanan disse: ‘O Criador viu que os justos são poucos, Ele se levantou e os plantou em cada geração, como foi dito: ‘Pois os Pilares da Terra são do Eterno, e Ele colocou o mundo sobre eles.’’” O Rashi interpreta: “‘Ele colocou o mundo sobre eles’, ou seja, Ele os dispersou em todas as gerações para serem uma infraestrutura e sustento e fundação para amparar o mundo” (Yoma, 38b).

 

Eles são poucos” significa que estão diminuindo. Por isso, o que Ele fez para multiplicá-los? “Ele se levantou e os plantou em cada geração.” Devemos perguntar: “Qual é o benefício de plantá-los em cada geração, pelas quais eles se multiplicam?” Devemos entender a diferença entre todos os justos estarem em uma única geração ou estarem dispersos por todas as gerações, como o Rashi interpreta. Estar em múltiplas gerações sugere multiplicar os justos?

 

Para entender o que está acima, devemos expandir e interpretar as palavras dos nossos sábios, de que o Criador sentencia uma gota a ser um sábio ou um tolo, no sentido de que um indivíduo que nasce fraco, sem força para superar sua inclinação, e nasce com um desejo fraco e sem talentos, pois durante a Iniciação, quando começa o Trabalho do Criador, deve estar apto a receber a Torá e a Sabedoria, como está escrito: “Dará Sabedoria aos sábios”. Ele perguntou: “Se eles já são inteligentes, por que eles ainda precisam de Sabedoria? Deveria ter dito ‘Dará Sabedoria aos tolos.’”

 

Ele explica que “sábio” quer dizer aquele que anseia pela Sabedoria apesar de ainda não tê-la. Mas porque ele tem um desejo, e um desejo é chamado um Kli, segue-se que aquele que tem um desejo e anseia pela Sabedoria é o Kli no qual a Sabedoria brilha. Portanto, segue-se que um tolo significa aquele que não tem anseio pela Sabedoria, cujo anseio é apenas por suas próprias necessidades. Em termos de doação, um tolo é completamente incapaz de alcançar qualquer doação, seja qual for.

 

Portanto, aquele que nasce com tais qualidades, como ele pode alcançar o nível de um justo? Segue-se que ele não tem escolha. Assim, qual é o benefício quando diz “Ele não disse ‘Um justo ou um perverso’”? É para que ele tenha a possibilidade de escolha. Afinal, já que nasceu insensato e fraco, ele não é mais capaz de ter uma escolha, pois é completamente incapaz de qualquer superação e de ansiar pela Sua Sabedoria.

 

Para entender isso, que mesmo um tolo pode ter uma escolha, o Criador fez uma correção, a qual nossos sábios chamam de “O Criador viu que os sábios eram poucos; Ele se levantou e os plantou em cada geração”. Nós perguntamos: “Qual é o benefício disso?”

 

Agora vamos entender essa questão. Sabe-se que é proibido criar laços com os perversos, mesmo quando não se age como eles, como está escrito: “Nem participa da reunião dos insolentes” (Salmos 1:1). Isso significa que o pecado ocorre principalmente porque ele participa da reunião dos insolentes, mesmo que se sente e aprenda Torá e cumpra Mitzvot. Caso contrário, a proibição seria devido ao cancelamento da Torá e das Mitzvot. Mas, antes, até mesmo se sentar com eles é proibido, pois o homem toma os pensamentos e os desejos da pessoa de quem gosta.

 

E vice-versa: Se o indivíduo não tem nenhum desejo ou anseio por espiritualidade, e se encontra entre pessoas que têm um desejo e anseio por espiritualidade, se ele gosta dessas pessoas, também ele tomará a força delas para prevalecer, bem como os desejos e aspirações delas, apesar de que, pela própria qualidade, ele não tem esses desejos e anseios, nem o poder para supercar as suas inclinações. Mas, de acordo com a graça e a importância que ele atribui a essas pessoas, ele recebe novos poderes.

 

Agora podemos entender as palavras: “O Criador viu que os justos eram poucos”, no sentido de que não é qualquer pessoa que pode se tornar um justo, por falta de qualidades para tanto, como está escrito que ele nasceu um tolo ou um fraco. Também ele tem uma escolha e as suas próprias qualidades não são uma desculpa. Isso  porque o Criador plantou os justos em cada geração.

 

Assim, uma pessoa tem a escolha de ir para um lugar onde há justos. Ela pode aceitar a autoridade deles, e então receberá todos os poderes que lhe faltam pela natureza de suas próprias qualidades. Ela as receberá dos justos. Esse é o benefício em “Os plantou em cada geração”, para que cada geração tivesse alguém a quem se voltar, a quem aderir, e de quem receber a força necessária para se elevar ao nível de um justo. Portanto, eles também se tornam, subsequentemente, justos.

 

Segue-se que “Ele não disse ‘Um perverso ou um justo’” significa que ele tem uma escolha: Ele pode aderir aos justos para orientação, e através deles receber a força pela qual, também eles, depois se tornarão justos.

 

No entanto, se todos os justos estivessem na mesma geração, os tolos e os fracos não teriam esperança de se aproximar do Criador. Portanto, eles não teriam uma escolha. Mas ao dispersar os justos em cada geração, cada pessoa tem o poder de escolha para se aproximar e ser atraída pelos justos que existem em cada geração. Caso contrário, a Torá de um indivíduo seria uma “Poção de morte”.

 

Podemos entender isso a partir de um exemplo corpóreo. Quando duas pessoas ficam de frente uma para a outra, a mão direita de uma está oposta à mão esquerda da outra, e a mão esquerda da outra está oposta à mão direita da primeira. Há duas maneiras: A direita, o caminho dos justos, que é apenas doar; e o caminho da esquerda, dos que querem apenas receber para si mesmos, através do que se separam do Criador, que é apenas doação. Portanto, eles são naturalmente separados da Vida das Vidas.

 

É por isso que os perversos nas suas vidas são chamados “mortos”. Segue-se, portanto, que enquanto o indivíduo não for premiado com a Dvekut (Adesão) ao Criador, ele é dois. Então, quando o indivíduo aprende Torá, que é chamada direta, mas está à esquerda do Criador, ou seja, está aprendendo Torá para receber para si mesmo, isso o separa Dele, e a sua Torá se torna uma “Poção de morte” já que ele permanece separado, pois quer que a sua Torá vista o seu corpo. Isso significa que ele quer que a Torá aumente o seu corpo, e através disso a sua Torá se torna uma “Poção de morte”.

 

Contudo, quando uma pessoa adere a Ele, um única autoridade é criada, e essa pessoa se une à Sua singularidade. Então, o lado direito da pessoa é o lado direito do Criador, e então o corpo se torna uma vestimenta para a alma da pessoa.

 

A maneira de saber se o indivíduo está andando no Caminho da Verdade é que quando ele se envolve em necessidades corporais deveria ver que não se envolve nelas mais do que o necessário para as necessidades da alma. Quando ele pensa que tem mais do que necessita para vestir as necessidades da sua alma, é como uma vestimenta que a pessoa coloca sobre seu corpo. Nesse momento, ele é meticuloso em manter o traje não muito longo nem muito largo, mas vestindo seu corpo com precisão. Da mesma forma, ao se envolver com as necessidades corporais, ele deveria ser meticuloso em não ter mais do que necessita para a sua alma, ou seja, para vestir a sua alma.

 

Quanto à Dvekut com o Criador, nem todos que desejam ficar com o Senhor podem chegar e ficar, pois isso é contra a natureza humana, que foi criada com um desejo de receber, que é o amor próprio. É por isso que precisamos dos justos da geração.

 

Quando uma pessoa adere a um Rav de verdade, cujo único desejo é fazer boas ações, mas ela sente que não consegue fazer boas ações, e que o objetivo será levar Contentamento ao Criador ao aderir a um Rav verdadeiro e querer o carinho do rav, então essa pessoa faz coisas que seu rav gosta, e odeia as coisas que seu rav odeia. Assim, ela pode ter Dvekut com o seu Rav e receber os poderes do seu Rav, mesmo aqueles que ela não tem de nascimento. Esse é o significado de plantar os justos em cada geração.

 

No entanto, de acordo com isso é difícil ver porque plantar justos em cada geração. Dissemos que foi pelos tolos e pelos fracos. Mas Ele poderia ter resolvido de outra forma: Não criar tolos! Quem O fez dizer que essa gota será um fraco ou um tolo? Ele poderia ter criado todos sábios.

 

A resposta é que os tolos também são necessários, pois eles são os transportadores do desejo de receber. Eles vêem que não têm conselho próprio pelo qual se aproximar do Criador, então eles são como aqueles sobre quem está escrito: "Sai­rão e verão os cadáveres dos que se rebelaram contra mim; o verme destes não morre­rá, e o seu fogo não se apagará, e causarão repugnância a toda a humanidade" (Isaías 66:24). Ele se tornaram cinzas sob os pés dos justos, pelas quais os justos podem perceber o bem que o Criador lhes fez ao criá-los sábios e fortes, e pelo que Ele os aproximou de Si.

 

Portanto, agora eles podem agradecer e louvar ao Criador, pois eles vêem o estado humilde em que estão. Isso é chamado “Cinzas sob os pés dos justos”, no sentido de que os justos andam sobre elas e, assim, agradecem ao Criador.

 

Mas devemos saber que os níveis inferiores também são necessários. A Katnut (Pequenez) de um nível não é considerada supérflua, como se fosse melhor que os níveis de Katnut nascessem imediatamente com a Gadlut (Grandeza).

 

É como um corpo físico. Há órgãos importantes, certamente, como o cérebro e os olhos, e assim por diante, e há os órgãos que não são tão importantes, como o estômago, os intestinos, os dedos das mãos e os dedos dos pés. Mas não podemos dizer que seja redundante um órgão que executa uma função não tão importante. Ao contrário, tudo é importante. É o mesmo com a espiritualidade: Também precisamos dos tolos e dos fracos.

 

Agora podemos entender o que está escrito, que o Criador disse: “Voltai agora para Mim e Eu voltarei para vós” (Malaquias 3:7). Significa que o Criador diz “Voltai” e Israel diz o oposto: “Faze-nos retornar a Ti para que retornemos” (Lamentações 5:21).

 

O significado é que, durante o declínio do Trabalho, o Criador diz “Voltai” primeiro. Isso leva uma pessoa a ascender no Trabalho do Criador, e ela começa a chorar (“Faze-nos retornar”). Mas, durante o declínio, ela não chora (“Faze-nos retornar”). Ao contrário, ela foge do Trabalho.

 

Portanto, a pessoa deveria saber que quando chora (Faze-nos retornar”), isso deriva de um Despertar de Cima, pois o Criador disse anteriormente “Voltai”, pelo qual ela tem uma ascensão e pode dizer Faze-nos retornar.

 

Esse é o significado de “E quando a Arca se punha em marcha, Moisés dizia: ‘Levanta-te, ó Eterno, e dissipem-se os Teus inimigos’” (Números 10:35). “Se punha em marcha” quer dizer quando avançava na servidão ao Criador, que é uma ascensão. Então Moisés disse “Levanta-te”. E quando eles descansavam, ele dizia “Volte, Eterno”. E durante o resto do Trabalho do Criador, precisamos que o Criador diga “Voltai”, ou seja, “Voltai para Mim”, no sentido de que o Criador dá o despertar. Portanto, a pessoa deveria saber quando dizer “Levanta-te” ou “Volte”.

 

Esse é o significado do que está escrito em Parashá Akev: E deverás lembrar por todo o caminho… De saber o que estava no seu coração, se guardaria os mandamentos Dele ou não”. “Guardaria os mandamentos Dele” é discernido como “Voltai”. “Ou não” é discernido como “Levanta-te”, e nós precisamos de ambos. E o Rav sabe quando “Levantar-se” e quando “Voltar”, pois as quarenta e duas jornadas são ascensões e descensos que se desenrolam no Trabalho do Criador.

 

 

 

 

100. A Torá escrita e a Torá oral1

(Ouvi em Mishpatim, Tav-Shin-Gimel, 1943)

        

A Torá escrita é considerada “Despertar de Cima”, e a Torá oral é considerada um “Despertar de baixo”. Juntas, são chamadas de “Ele servirá por seis anos, e no sétimo sairá livre” (Êxodo 21:2).

 

É assim porque a essência do Trabalho está especificamente onde há resistência. E isso é chamado Alma (Em aramaico: Mundo), da palavra He’elem (Ocultação). Então, onde há ocultação, há resistência, e então ali há espaço para o Trabalho. Esse é o significado das palavras dos nossos sábios: “Por seis mil anos o mundo, e um arruinado.” Isso significa que a ocultação será arruinada e não haverá mais Trabalho. Antes, o Criador lhe cria asas, que são coberturas, para que ele tenha Trabalho.

 

 

101. Um comentário sobre o salmo “Para um líder entre rosas”
(Ouvi em 23 de Aleph Adar, Tav-Shin-Gimel, 28 de fevereiro de 1943)

 

“Para o líder” se refere a alguém que já venceu.

 

“Entre Shoshanim” (Rosas) se refere à Santa Shechiná (Divindade), que diz respeito à passar de um estado de luto para um estado de Sasson (Júbilo). Como há muitos estados de ascensões e descensos, e os descensos são chamados Shoshanim, que vem das palavras “Morder seus Shinaim (dentes)”, então as questões sobre os perversos não deveriam ser respondidas, mas, ao invés disso, deixar que “Mordam os dentes”. A partir de múltiplos golpes, ou seja, depois de muitas “Mordidas de dentes”, chegamos às rosas. Por isso, há muitos discernimentos de Sasson aqui, e por isso está dito no plural, “Rosas”.

 

Sobre os filhos de Korah, da palavra Karachah (calvo), no sentido de que o cabelo se tornou calvo. Se’arot significam Hastarot (Ocultações), da palavra Se’ara (Tempestade). Sabe-se que “A recompensa vem de acordo com o sofrimento”. Isso significa que, quando há Se’arot há espaço para trabalhar. E quando está corrigido, o cabelo vem pela tempestade, por meio de: “Esse é o portão do Eterno”. Quando já foram corrigidas todas as tempestades, e não há mais ocultações, então não há mais espaço para trabalhar e, portanto, não há lugar para recompensa.

 

Assim, quando uma pessoa chega ao estado de Korah, ela não pode mais atrair fé, chamada “O portão do Eterno”. É assim porque, se não há portão, ela não pode entrar no Palácio do Rei, pois ele é a Fundação, já que toda a estrutura é construída sobre fé.

 

Filhos de Korah” vem da palavra Biná. Eles entenderam que Korah é considerado esquerda, da qual se estende o Inferno. É por isso que quiseram continuar a amizade de antes, do tempo em que eles estavam na forma de “Eterno, ouvi o relato sobre Ti e tenho medo” (Zohar, Beresheet 4:7). Ou seja, com a força que haviam atraído do passado, eles podiam suportar os estados e avançar de força em força. Esse é o significado de “Os filhos de Korah não morreram”. Ou seja, eles entenderam que  não poderiam atrair vida se permanecessem no estado de Korah, então eles não morreram.

 

Maskil (Aprendeu) uma canção de amores”, no sentido de que aprenderam que é completa a medida da amizade com o Criador.

 

Meu coração transborda.” O transbordamento no coração ocorre por meio de “Não revela do coração à boca”. Isso significa que não há nada a extrair da boca, que é apenas recepção no coração, como sussurro nos lábios.

 

Uma coisa boa”. A fé é chamada de “Uma coisa boa”.

 

Eu digo, ‘meu trabalho é para o rei.’” Quando recebe a Luz da fé, ele diz “Meu trabalho é para o rei”, e não para mim mesmo. E então ele é recompensado com “Minha língua é a caneta de um escritor apressado”, quando é premiado com o discernimento da Torá escrita, que é a linguagem de Moisés.

 

Você é mais bela que os filhos dos homens”, quando ele diz à Shechiná que a sua beleza vem das pessoas, ou seja, do que as pessoas pensam sobre ela, que é considerado insignificante. A beleza nasce, precisamente, disso.

 

A graça é derramada em seus lábios.” A graça pertence especialmente a matérias sobre as quais o louvor não pode ser dito, mas ainda as queremos. Então dizemos que é graciosa.   

 

Sobre seus Sfataim (Lábios)” se refere ao Sof (Fim), ou seja, que ele viu desde o Fim do Mundo até onde esse termina.

 

 

101. Um comentário sobre o salmo “Para um líder entre rosas”
(Ouvi em 23 de Aleph Adar, Tav-Shin-Gimel, 28 de fevereiro de 1943)

 

“Para o líder” se refere a alguém que já venceu.

 

“Entre Shoshanim” (Rosas) se refere à Santa Shechiná (Divindade), que diz respeito à passar de um estado de luto para um estado de Sasson (Júbilo). Como há muitos estados de ascensões e descensos, e os descensos são chamados Shoshanim, que vem das palavras “Morder seus Shinaim (dentes)”, então as questões sobre os perversos não deveriam ser respondidas, mas, ao invés disso, deixar que “Mordam os dentes”. A partir de múltiplos golpes, ou seja, depois de muitas “Mordidas de dentes”, chegamos às rosas. Por isso, há muitos discernimentos de Sasson aqui, e por isso está dito no plural, “Rosas”.

 

Sobre os filhos de Korah, da palavra Karachah (calvo), no sentido de que o cabelo se tornou calvo. Se’arot significam Hastarot (Ocultações), da palavra Se’ara (Tempestade). Sabe-se que “A recompensa vem de acordo com o sofrimento”. Isso significa que, quando há Se’arot há espaço para trabalhar. E quando está corrigido, o cabelo vem pela tempestade, por meio de: “Esse é o portão do Eterno”. Quando já foram corrigidas todas as tempestades, e não há mais ocultações, então não há mais espaço para trabalhar e, portanto, não há lugar para recompensa.

 

Assim, quando uma pessoa chega ao estado de Korah, ela não pode mais atrair fé, chamada “O portão do Eterno”. É assim porque, se não há portão, ela não pode entrar no Palácio do Rei, pois ele é a Fundação, já que toda a estrutura é construída sobre fé.

 

Filhos de Korah” vem da palavra Biná. Eles entenderam que Korah é considerado esquerda, da qual se estende o Inferno. É por isso que quiseram continuar a amizade de antes, do tempo em que eles estavam na forma de “Eterno, ouvi o relato sobre Ti e tenho medo” (Zohar, Beresheet 4:7). Ou seja, com a força que haviam atraído do passado, eles podiam suportar os estados e avançar de força em força. Esse é o significado de “Os filhos de Korah não morreram”. Ou seja, eles entenderam que  não poderiam atrair vida se permanecessem no estado de Korah, então eles não morreram.

 

Maskil (Aprendeu) uma canção de amores”, no sentido de que aprenderam que é completa a medida da amizade com o Criador.

 

Meu coração transborda.” O transbordamento no coração ocorre por meio de “Não revela do coração à boca”. Isso significa que não há nada a extrair da boca, que é apenas recepção no coração, como sussurro nos lábios.

 

Uma coisa boa”. A fé é chamada de “Uma coisa boa”.

 

Eu digo, ‘meu trabalho é para o rei.’” Quando recebe a Luz da fé, ele diz “Meu trabalho é para o rei”, e não para mim mesmo. E então ele é recompensado com “Minha língua é a caneta de um escritor apressado”, quando é premiado com o discernimento da Torá escrita, que é a linguagem de Moisés.

 

Você é mais bela que os filhos dos homens”, quando ele diz à Shechiná que a sua beleza vem das pessoas, ou seja, do que as pessoas pensam sobre ela, que é considerado insignificante. A beleza nasce, precisamente, disso.

 

A graça é derramada em seus lábios.” A graça pertence especialmente a matérias sobre as quais o louvor não pode ser dito, mas ainda as queremos. Então dizemos que é graciosa.   

 

Sobre seus Sfataim (Lábios)” se refere ao Sof (Fim), ou seja, que ele viu desde o Fim do Mundo até onde esse termina.

 

 

102. E tomareis para vós o fruto da árvore formosa (Etrog)

(Ouvi em Ushpizin de Yosef Sucót)

 

O verso “E tomarás para vós o fruto da árvore formosa (Etrog)” (Levítico 23:40) se refere a um justo, chamado “Árvore Frutífera”. Essa é a completa diferença entre a Kedushá (Santidade) e a Sitra Achra (Ooutro Lado), pois “o outro deus é estéril e não dá frutos”.

 

Por outro lado, um justo é chamado Hadar (citrus, ornamento) porque ele dá frutos. Ele Dar (vive) na sua árvore ano após ano. É por isso que está escrito sobre José: “Era ele quem Mashbir (vendia) para todas as pessoas da terra”, pois ele os Shover (dividia, alimentava) com as frutas que tinha, enquanto eles não tinham frutas. Por isso, cada um sentiu seu próprio estado, fosse do lado bom ou do lado contrário.

 

Esse é o significado de “José sustentou com pão, de acordo com os bebês.” Os “bebês” são considerados GAR, como em “E serão por filactérios entre os teus olhos” (Deuteronômio 6:8), que é o Tefilin da cabeça. Por essa razão, José é chamado “O filho mais novo, um filho sábio”. Esse é o significado de “Para preservar vossa vida Deus me mandou adiante” (Gênesis 45:5), que é a “Luz de Haya”, considerada GAR.

 

Esse é o significado do verso “Te dou uma porção (da terra) a mais sobre teus irmãos, que tomei com minha espada e com meu arco da mão do Amoreu” (Gênesis 48:22). (Seus filhos tomaram duas partes. E, de acordo com RASHI, “porção” significa parte.) Ou seja, através dos filhos, pois os filhos são chamados “Frutos”, Jacó deu isso a José.

 

Esse é o significado do que está escrito sobre Saul: “Dos ombros para cima sobressaía-se em sua altura frente a todo o povo” (Samuel 1, 9:2). E esse é o significado de “Toma este manto e torna-se nosso governante” (Isaías 3:6). Esse também é o significado de “Bebês, por que eles vêm? Para recompensar aqueles que os trazem.” Ele perguntou: “Por que eles precisam de Sabedoria se o importante não é saber, mas agir?” Ele respondeu: “Para recompensar aqueles que os trazem”, pois a Sabedoria leva à ação.

 

Sobre a disputa entre Saul e Davi, não havia defeito em Saul. É por isso que ele tinha um ano de idade quando reinou, e não precisou prolongar o reinado, pois completou tudo em um curto período. Davi, no entanto, precisava governar por quarenta anos. Davi era filho de Judá, o filho de Léa, o mundo oculto, enquanto Saul vinha de Benjamin, o filho de Raquel, o mundo revelado, e portanto oposto a Davi. É por isso que Davi disse “Eu sou paz”, no sentido de que alcanço a todos e amo a todos, “Mas mesmo quando lhes falo de paz, eles preferem a guerra” (Salmos 120:7).

 

Da mesma forma, Absalão era o oposto de Davi. Esse é o significado do pecado de Jeroboão, filho de Nebate: O Criador o segurou por suas vestes e lhe disse “Eu e você e o filho de Yishai (Jessé) caminharemos no Jardim do Éden”. Ele perguntou: “Quem vai liderar?” E o Criador lhe disse: “O filho de Yishai vai liderar.” E então ele respondeu: “Não quero.”

 

A questão é a ordem dos níveis: O mundo oculto vem primeiro, e então vem o mundo revelado. Esse é o significado de “Eu tenho o suficiente”, “Eu tenho tudo”. “Suficiente” é GAR, e “Tudo” é VAK. Esse também é o significado de “Como Jacó poderá se sustentar, sendo ele tão pequeno” (Amós 7:5). Esse é o sentido de Jacó ter tirado a primogenitura de Esaú. Depois, tudo lhe foi dado, pois ele também tinha GAR, que chegou a ele através de José, por meio de “E José sustentou”.

 

Esse é o significado de “Léa era odiada”, de quem se estende todo o ódio e todas as disputas entre discípulos sábios. Esse também é o significado da controvérsia entre Shamai e Hillel. No futuro, quando os dois campos se unirem, o campo de José e o campo de Judá, esse é o sentido do que Judá disse a José: “Ó, meu senhor”, pois então havia a unificação entre Judá e José. Mas Judá deve liderar.

 

Isso explica o fato de o ARI ser o Messias, filho de José. É por isso que ele pôde revelar tamanha Sabedoria, pois ele tinha permissão do mundo revelado. Essa disputa vem de “E os filhos lutavam no seu ventre” (Gênesis 25:22), pois Esaú tinha as boas vestes que estavam com Rebeca.

 

 

 

103. Aquele cujo coração o impelir

(Ouvi na véspera do Shabat, Beresheet, Tav-Shin-Gimel, Outubro de 1942)

 

No verso “E tomarei Minha oferenda de todo homem cujo coração o compelir a isso” (Êxodo 25:2) está o significado de “A substância de uma doação da Santidade”. Em outras palavras, como o indivíduo chega a um estado de oferenda? Através da Santidade.

 

Isso significa que, se o indivíduo se santifica com aquilo que é permitido, ele então chega a um estado de doação, o qual é a Shechiná (Divindade), chamada “Minha Doação”. Esse é o significado de “De todo homem cujo coração o compelir a isso”, com todo o seu coração, ou seja, ele é recompensado com “Minha Doação” se doa todo o seu coração, para aderir à Shechiná.

 

No verso “No dia do seu casamento e no dia do júbilo do seu coração” (Cântico dos Cânticos 3:11), “Casamento” significa estar num nível inferior, que é humildade. Se o indivíduo toma sobre si a servidão ao Criador em um estado de humildade, e, ao mesmo tempo, se é feliz com esse trabalho, esse é um nível importante. Então, ele é chamado de “Noivo” da Shechiná.

 

 

104. E o sabotador estava sentado

(Ouvi na véspera do Shabat, Beresheet, Tav-Shin-Gimel, Outubro de 1942)

 

No Zohar, na porção Noah: “Houve um dilúvio, e o sabotador estava sentado no meio dele”. Ele perguntou: “Um dilúvio significa uma inundação de água. Isso, em si, é mortal e sabotador. Então, o que significa que o sabotador estava sentado no meio dele, no meio do dilúvio? E ainda, qual é a diferença entre o dilúvio e o sabotador?”

 

Ele respondeu que o dilúvio são os tormentos corpóreos, ou seja, os tormentos do corpo. Dentro disso, ou seja, no interior dos tormentos do corpo, há ainda um outro sabotador, que sabota a espiritualidade. Isso significa que as aflições do corpo lhe trazem pensamentos invasivos até que esses pensamentos invasivos sabotem e matem a sua espiritualidade.

 

 

105. Um discípulo sábio e bastardo precede um Sumo Sacerdote comum
(Ouvi em 15 de Cheshvan, Tav-Shin-Hey, 1º de novembro de 1944, Tel-Aviv)

 

Um discípulo sábio e bastardo precede um Sumo Sacerdote comum.”

 

Um bastardo significa um deus estrangeiro, cruel. Isso se refere à ilegitimidade. Quando o indivíduo viola a proibição de se voltar a outros deuses, eles geram dele um bastardo.

 

Voltar-se a outros deuses significa que copula com a Sitra Achra (Outro Lado), que é desnuda. A respeito disso é dito: “Aquele que se aproxima da desnuda e engendra bastardo dela”.

 

A regra dos patrões é oposta à visão da Torá. Assim, há uma disputa entre plebeus e discípulos sábios. E aqui há uma grande diferença se a pessoa gerou o bastardo. Um discípulo sábio afirma que também isso vem do Criador, e que Ele é o causante dessa nova forma que é o bastardo.

 

O perverso, no entanto, diz que é apenas um pensamento invasivo que chegou devido a um pecado, e ele não precisa de nada além do que corrigir seus pecados.

 

Um discípulo sábio, porém, tem a força para acreditar que também isso, ou seja, a sua forma presente, precisa ser vista em sua essência verdadeira. Ao mesmo tempo, ele deve tomar sobre si o fardo do Reino dos Céus ao ponto da devoção.

 

Isso significa que também sobre o que é considerado de pouca importância, o mais baixo e mais oculto, ainda assim, em tal momento, deve ser atribuído ao Criador, pois o Criador criou nele tal imagem da Providência, chamada “Pensamentos Invasivos”. E ele trabalha acima da razão em algo tão pequeno, como se tivesse grande Daat (Conhecimento) na Kedushá (Santidade).

 

E um grande sacerdote é aquele que serve ao Criador por meio de “E eles são muitos” ou seja, eles têm muita Torá e muitas Mitzvot e não lhes falta nada. Assim, se o indivíduo se conecta e aceita certo grau de ordem no trabalho, a regra indica que um bastardo que seja um discípulo sábio vem primeiro. Isso quer dizer que a pessoa aceita a bastardia na forma de um discípulo sábio.

 

 “Sábio” é o nome do Criador. Seu discípulo é aquele que aprende do Criador. Apenas um discípulo sábio pode dizer que tudo, todas as formas que lhe aparecem durante o trabalho, apareceram por que “porque vieram do Criador”.

 

Mas um sacerdote comum, apesar de servir ao Criador e ser excelente na Torá e no Trabalho, não foi recompensado com “Aprender da boca do Criador”, e este ainda não é considerado um “Discípulo sábio”.

 

Portanto, esse estado não pode ajudá-lo de maneira alguma a alcançar a verdadeira perfeição, já que é regido pela regra dos patrões, e a regra da Torá é somente aquela que se aprende da boca do Criador. Somente um discípulo sábio conhece a verdade, que o Criador é o causante de todas questões.

 

Agora podemos entender as palavras dos nossos sábios. “O rabino Shimon ben Menasia estava estudando todo o Etin (“o”, na forma plural) na Torá”. Et significa inclusão. Isso significa que todos os dias ele adicionava Torá e Mitzvot mais do que no dia anterior. E mais tarde ele alcançou o estado de “Temerás o Senhor teu Deus”, que implica que não pode mais seguir incrementando. Chegou a um ponto em que não conseguia acrescentar mais nada e chegava, Deus não o permita, ao conbtrário.

 

E o Rashi fez a seguinte interpretação: “Ben Menasia sugere que compreendeu Menusá (Fuga), que significa fugir e se retirar do labor. Também Ben[8] Haamsuny compreendeu a Verdade, e a forma que a Verdade tem, e ele permanecia em guarda e não podia avançar até que o rabino Akiva viesse e explicasse Et (o), incluindo os sábios discípulos. Isso significa que é possível receber alguma ajuda através da adesão com discípulos sábios.

 

Em outras palavras, apenas um discípulo sábio pode te ajudar, e nada mais. Mesmo se o indivíduo for excelente em Torá, ele ainda será chamado “Um comum” se não tiver sido recompensado com aprender da boca do Criador.

 

Portanto, o indivíduo deve se render perante um discípulo sábio e aceitar que o discípulo sábio lhe acrescente, sem discutir e acima da razão.

 

Daí que “Sua medida seja maior que a terra” (Jó 11:9). Isso significa que a Torá começa depois da terra. Ou seja, se é maior que a terra, então há uma regra de que nada pode começar no meio. Portanto, se o indivíduo quer começar, o começo é depois da terra, depois do mundanismo (E esse é o significado de “Um Sumo Sacerdote comum”, no sentido de que mesmo se o trabalho do indivíduo é nobre, ele ainda estará no mundanismo caso não tenha recebido a luz da Torá).

 

Atingir Lishmá (Em Seu nome) requer aprender muito em Lo Lishmá (Não em Seu nome). Isso significa que o indivíduo deveria se esforçar e exercer Lo Lishmá, e então poderá enxergar a Verdade de que ele ainda não foi premiado com Lishmá. No entanto, quando o indivíduo não quer se esforçar com grandes empenhos ele não consegue enxergar a Verdade.

 

Em outra ocasião, ele disse que o homem deveria estudar muita Torá Lishmá a fim de ser recompensado com a visão da Verdade: de que está trabalhando em Lo Lishmá. O trabalho Lishmá é considerado Recompensa e Castigo, o qual é considerado Malchut. E a Torá Lo Lishmá é considerada ZA, considerado Providência Particular.

 

É por isso que os reis de Israel, todos os quais foram premiados com Providência Particular, não tinham nada mais a fazer, pois não tinham nada a acrescentar. É por isso que nossos sábios disseram “Um rei de Israel não julga nem é julgado”. Assim, eles não têm lugar nenhum no próximo mundo pois que vêem que o Criador faz tudo eles não fazem nada.

 

Esse é o significado de Izevel (Jezebel), esposa de Ahav. Eles interpretaram que a sua esposa discutiu, Ei Zevel (Onde há rejeição), no sentido de “Onde há rejeição no mundo?” Ela viu que tudo era bom. E Ah Av (Ahav) significa que ele era Ah (Irmão) do Av (Pai) no Céu. Mas os reis da casa de Davi são julgados porque os reis da casa de Davi tinham o poder de unir o Criador e a Sua Shechiná (Divindade), apesar de serem mutualmente contraditórios, pois a Providência é oposta ao discernimento de Recompensa e Castigo.

 

Esse é o poder dos grandes justos, pois eles podem unir o Criador à Shechiná, ou seja, a Providência Particular com Recompensa e Castigo. E justamente a partir dos dois emerge a perfeição completa e desejável.

 

 

 

 

106. O que sugerem as doze chalot no Shabat

(Ouvi em Elul, Agosto de 1942)

 

Nas canções de Shabat, está escrito: “Nos revelará o sabor de doze chalot (O pão do Shabat), as quais são uma letra em Seu nome, multiplicada e enfraquecida.”

 

Devemos interpretar as palavras do Santo ARI.

 

Sabe-se que dois Vavs foram criados pelo segundo Tzimtzum (Restrição), o lado direito e o lado esquerdo. Esse é o significado da multiplicação, a partir da palavra “Multiplicar”. E a partir disso, do poder de correção do segundo Tzimtzum, quando havia a associação da qualidade de misericórdia com o julgamento, o julgamento se tornou mais fraco do que era antes do adoçamento.

 

Depois, os dois Vav brilharam em Malchut, o que significa “Os Zayins reunidos”. Os Zayins são Malchut, chamada “Setes”, que reúnem em si os dois Vavs.

 

O sétimo dia é considerado Gmar Tikkun (O Fim da Correção), discernido como o Fim dos Dias. No entanto, ele também brilha nos seis mil anos. Esse é o significado de seis dias de trabalho, discernidos como “Pois Deus criou para fazer”. E o Shabat é chamado “Descanso” como está escrito: “E no sétimo dia não trabalhei, descansei” (Êxodo 31:17).

 

Isso é considerado Shabat, o qual brilha nos seis mil anos, pois então o Shabat é considerado descanso, como uma pessoa que carrega um fardo e pára no caminho para descansar e recuperar sua força. Depois, ele deve carregar o peso mais uma vez. Mas no Shabat de Gmar Tikkun não há nada mais a adicionar. Assim, não há mais qualquer trabalho.

 

 

 

107. A respeito dos dois anjos

(Ouvi em Tetzavê, Tav-Shin-Gimel, Fevereiro de 1943, Jerusalém)

 

Sobre os dois anjos que acompanham o indivíduo na véspera do Shabat, um anjo bom e um anjo mau. Um anjo bom é chamado “Direita”, pela qual o indivíduo se aproxima da servidão ao Criador. Isso é chamado “A direita aproxima”. E o anjo mau é considerado “Esquerda”, que afasta. Isso significa que traz pensamentos invasivos, seja na mente ou no coração.

 

Quando o indivíduo prevalece sobre o anjo mau e se aproxima do Criador, no sentido de que a cada vez ele supera o mal e se conecta ao Criador, quer dizer que, através dos dois anjos, ele chegou mais próxima da Dvekut (adesão) com o Criador. Isso significa que ambos executaram uma única tarefa, fizeram com que ele aderisse ao Criador. Nesse estado, o indivíduo diz “Venha em paz”.

 

E quando completou todo o seu trabalho e colocou toda a esquerda na Kedushá (Santidade), como está escrito, “Não há onde se esconder de Ti”, o anjo mau não tem mais nada a fazer, pois a pessoa já superou todas as dificuldades apresentadas pelo mal. Nesse momento, o anjo mau está ocioso. Nesse momento, a pessoa diz “Vá em paz”.

 

 

108. Se você me deixar por um dia, eu te deixarei por dois

(Ouvi em 1943, Tav-Shin-Gimel, Jerusalém)

 

Toda pessoa se encontra afastada do Criador por causa do seu desejo de receber. Essa é a única coisa que a mantém distante Dele. Contudo, como a pessoa não anseia pela espiritualidade, mas pelos prazeres mundanos, a sua distância do Criador é “de um dia”, ou seja, a distância de um dia, o que significa que está afastada Dele em apenas um aspecto: Por estar imersa no desejo de receber os desejos deste mundo.

 

No entanto, quando uma pessoa se aproxima do Criador e recusa a recepção neste mundo ela é considerada próxima ao Criador. Mas, se depois, ela falha na recepção do próximo mundo, então está afastada do Criador porque quer receber os prazeres do próximo mundo, e também cai na recepção dos prazeres deste mundo. Assim, ela se torna distante do Criador por dois dias: 1) Ao receber prazeres deste mundo, ao qual caiu novamente; e 2) Quando tem o desejo de receber a Coroa do próximo mundo. Isso é assim porque, ao se envolver com Torá e Mitzvot, a pessoa força o Criador a lhe recompensar pelo seu trabalho na Torá e nas Mitzvot.

 

Acontece que, no início, caminhou um dia e se aproximou de servir ao Criador, e depois andou para trás por dois dias. Assim, agora, essa pessoa se tornou necessitada de dois tipos de recepção: 1) Deste mundo, 2) Do próximo mundo. Portanto, ela passou a caminhar no estado oposto.

 

O conselho para isso é ir sempre pelo Caminho da Torá, o qual significa doação. A ordem deveria ser que primeiro a pessoa deveria ter cuidado com as duas bases: 1) O cumprimento da Mitzvá; 2) A sensação de prazer a partir da Mitzvá. A pessoa deveria acreditar que o Criador obtém prazer quando guardamos os Seus mandamentos.

 

Portanto, a pessoa deveria sempre guardar a Mitzvá na prática, e acreditar que o Criador obtém prazer quando o inferior guarda Suas Mitzvot. Nisso não há diferença entre uma grande Mitzvá e uma pequena Mitzvá. Ou seja, o Criador obtém prazer mesmo dos menores atos que são feitos por Ele.

 

Depois, há um resultado, o qual é o principal objetivo que se deveria perseguir. Em outras palavras, uma pessoa deveria sentir deleite e prazer por causar contentamento ao seu Fazedor. Essa é a principal ênfase do Trabalho, e isso é chamado “Servir ao Criador com alegria”. Essa deveria ser a recompensa pelo trabalho de alguém, receber deleite e prazer por ter sido recompensado com deleitar o Criador.

 

Esse é o significado de “O peregrino que está no meio de ti se elevará acima de ti, muito acima… Ele te emprestará e tu não lhe emprestarás” (Deuteronômio 28:43-4). O “estrangeiro” é o desejo de receber (quando se começa a servir ao Criador, o desejo de receber é chamado “estrangeiro”. E, antes disso, é um gentio completo).

 

Ele te emprestará.” Quando ele dá força para trabalhar, ele dá a força por meio de empréstimo. Isso significa que quando se passa um dia de Torá e Mitzvot, apesar de não recebido instantaneamente a recompensa, “o estrangeiro” ainda acredita que, depois, ele pagará pelos poderes concedidos pelo Trabalho.

 

Por isso, após o Dia de Trabalho, o desejo de receber vem ao indivíduo e pede pela dívida prometida, a recompensa pelos poderes que o corpo lhe deu a fim de se envolver com a Torá e as Mitzvot. Mas o indivíduo não concede e então o “estrangeiro” chora: “O que é esse trabalho? Trabalhar sem recompensa?” Por isso, mais tarde, o “estrangeiro” não quer dar a Israel a força para trabalhar.

 

E tu não lhe emprestarás.” Se tu o alimentares e pedires que ele te dê força para trabalhar, então ele diz que não tem nenhuma dívida a te pagar pela comida que estás oferecendo, já que “Anteriormente, eu te dei força para o trabalho sob a condição que tu me comprasses posses. Assim, o que estás me dando agora é inteiramente de acordo com a condição prévia. Portanto, agora vens a mim para te dar mais força para o trabalho, para que tu me tragas novas posses?”

 

Assim, o desejo de receber se tornou esperto e usa a esperteza para calcular a lucratividade da questão. Às vezes, ele diz que se contenta com pouco, que suas posses são o suficiente, então ele não quer dar força ao indivíduo. E, às vezes, ele diz que o caminho que o indivíduo está tomando é perigoso, e que talvez seus esforços sejam em vão. às vezes, ele diz que o esforço é maior que a recompense e, portanto, “eu não darei força para o trabalho”.

 

Então, quando o indivíduo pede força para andar no Caminho do Criador, a fim de doar, e que tudo seja apenas para aumentar a Glória dos Céus, o “estrangeiro” diz: “O que eu vou ganhar com isso?” Então ele vem com os famosos argumentos, tais como “Quem” e “O quê”, no sentido de “Quem é o Eterno para que eu escute a Sua voz?” (Êxodo 5:2), como argumentou o Faraó, ou “O que é esse trabalho para você?”, o argumento dos perversos.

 

Tudo isso é porque ele tem um argumento justo, de que esse era o acordo firmado entre eles. E isso é chamado “Se não ouvires a voz do Eterno” (Deuteronômio 28:15), e então ele reclama porque as condições não foram mantidas.

 

Mas quando se obedece à voz do Criador logo na entrada (entrada é algo constante, porque sempre que há uma queda é preciso recomeçar. É por isso que é chamada uma “entrada”. Naturalmente, há muitas saídas e muitas entradas), o indivíduo diz ao seu corpo: “Saiba que eu quero começar a servir ao Criador e a minha intenção é apenas doar, e não receber qualquer recompensa. Não deves esperar que vá receber qualquer coisa pelos teus esforços, pois é tudo a fim de doar.”

 

E se o corpo pergunta: “Qual é o seu benefício a partir desse trabalho?”, ou seja, “Quem é o beneficiário desse trabalho pelo qual quero me esforçar e labutar?” Ou ele pergunta de forma mais simples, “Por quem estou trabalhando tanto?” A resposta deveria ser: “Eu tenho fé nos sábios, e eles disseram que eu deveria acreditar na fé abstrata, acima da razão, pois o Criador assim nos ordenou, a tomar sobre nós a fé, pois Ele nos ordenou a guardar a Torá e as Mitzvot. E devemos também acreditar que o Criador recebe prazer quando guardamos a Torá e as Mitzvot com fé acima da razão. Além disso, um indivíduo deveria se alegrar com o prazer do Criador a partir do seu trabalho.”

 

Portanto, há quatro coisas aqui:

 

1. Acreditar nos sábios, que é verdade o que disseram.

 

2. Acreditar que o Criador ordenou o envolvimento com a Torá e as Mitzvot apenas através da fé acima da razão.

 

3. Há contentamento quando as criaturas guardam a Torá e as Mitzvot com base na fé.

 

4. O indivíduo deveria receber deleite, prazer e alegria por ter sido recompensado com agradar ao Rei. E a medida da grandeza e da importância do trabalho do homem é mensurada pela medida de contentamento que recebe durante o seu trabalho. Isso depende da medida de fé com que ele acredita no Superior.

 

Assim, quando se obedece à voz do Criador, todos os poderes recebidos do corpo não são considerados recebimento de um empréstimo que deva ser devolvido, isto é, a modo de “se não ouvires a voz do Eterno. E se o corpo reclamar: “Por que eu deveria dar força para o trabalho quando não me prometes nada em troca?”, o indivíduo deveria responder: “Porque é para isso que foste criado. O que posso fazer se o Criador te odeia, como está escrito no santo Zohar, que o Criador odeia os corpos.”

 

Por outro lado, quando o Zohar diz que o Criador odeia os corpos, refere-se especificamente aos corpos dos servos do Criador, pois ele querem ser eternos receptores, assim como querem receber também a Coroa do próximo mundo.

 

E isso é considerado “E tu não lhe emprestarás.” Isso significa que não precisas dar nada pela força que o corpo te deu para o trabalho. Mas se tomares emprestado, se deres a ele qualquer prazer, será apenas como um empréstimo, e ele te dará força para o trabalho, mas não de graça.

 

Ele deve sempre dar força para o trabalho, de graça. Não dês a ele qualquer prazer e sempre demandes dele força para o trabalho, pois “O devedor é servo do credor.” Assim, ele será sempre o servo e tu serás o mestre.

 

 

109. Dois tipos de carne

(Ouvi em 20 de Cheshvan)

 

Geralmente, distinguimos entre dois tipos de carne: carne de animal e carne de peixe, e em ambas há sinais de Tuma’a (Impureza). A Torá nos dá sinais pelos quais saber como evitá-las a fim de não cair no domínio da Tuma’a que há nelas.

 

No peixe, há os sinais das barbatanas e das escamas. Quando esses sinais são vistos no peixe, sabe-se como ser cuidadoso e não cair nas mãos da Tuma’a. Snapir (Barbatana) indica Soneh-Peh-Ohr (Odiar-Boca-Luz). Isso se refere a Malchut, chamada “Boca”, e todas as Luzes vêm dela, a qual é discernida como fé.

 

Quando o indivíduo vê que está no estado de um sabor de poeira, num momento em que deveria acreditar, ele sabe, com certeza, que deveria corrigir suas ações. Isso é chamado “Shechiná (Divindade) no pó”, e o indivíduo deveria rezar para levantar a Shechiná do pó.

 

Kaskeset (Escamas) significa que num momento de Snapir ele não é capaz de nenhum Trabalho. Mas quando superar o Snapir, uma questão a respeito da Providência aparece na sua mente. Isso é chamado Kash (Palha), e então ele cai do Trabalho. Depois, ele se fortalece e começa a trabalhar acima da razão, e outra dúvida sobre a Providência aparece na sua mente.

 

Assim, ele tem Kash duas vezes, as quais são Kas-Keset. Sempre que supera acima da razão, ele ascende e depois descende. Então, o indivíduo vê que não consegue superar devido à proliferação de dúvidas. Nesse estado, ele não tem outra escolha a não ser chorar ao Criador, como está escrito: “E os filhos de Israel suspiraram pelo trabalho e gemeram, e os seus clamores pelo trabalho subiram a Deus” (Êxodo 2:23), e Ele os retirou do Egito, ou seja, de todos as dificuldades.

 

Nossos sábios declararam uma regra famosa, de que o Criador diz “Ele e Eu não podemos habitar na mesma morada”, pois estão em oposição um ao outro. É assim porque há dois corpos no homem, o corpo interno e o corpo externo. O sustento espiritual veste o corpo interno, discernido como fé e doação, chamado “Mente e Coração”. E o corpo externo tem o sustento corpóreo, que é Saber e Receber.

 

No meio, entre o corpo interno e o corpo externo, há um corpo intermediário, o qual não carrega o próprio nome. Ao invés disso, se o indivíduo faz boas ações, o corpo intermediário se une ao corpo interno. E se o indivíduo faz más ações, o corpo intermediário se une ao corpo externo. Portanto, ou o indivíduo tem sustento corpóreo ou sustento espiritual.

 

Assim, como há oposição entre o interno e o externo, se o corpo intermediário se une ao corpo interno, isso é considerada a morte do corpo externo. E se ele se une ao corpo externo, é a morte do corpo interno, pois nesse estado a escolha está no corpo intermediário: continuar a aderir à Kedushá (Santidade) ou o contrário.

 

 

 

110. Um campo que o Eterno abençoou

(Ouvi emTav-Shin-Gimel, 1942-1943)

 

Um campo que o Eterno abençoou.” A Shechiná (Divindade) é chamada “Um campo”. Às vezes, um Sadeh (Campo) se torna um Sheker (Mentira). O Vav no interior do Hey é a alma, e o Dalet é a Shechiná (Divindade). Quando a alma está vestida nela, é chamada Hey, e quando o indivíduo quer acrescentar à fé, ele atrai o Vav inferior e ele se torna um Kof.

 

Nesse momento, o Dalet se torna Reish, na forma de pobre e escasso, que quer acrescentar. Então se transforma em Reish, através de “Um pobre nasceu no seu reino”, quando o escasso se tornou pobre. Em outras palavras, ao inserir o mau olhado em si mesmo, tanto na mente quanto no coração, por meio de “Devasta-a (a vinha) o javali da floresta” (Salmos 80:13), o olho fica pendurado pois retorna às sobras, já que a Sitra Achra (Outro Lado) está destinada a ser um Anjo Sagrado.

 

Esse é o significado de “Perpétua é a glória do Eterno” (Salmos 104:31). Porque o indivíduo chegou a um estado do animal da Yaar (Floresta), que vem da palavra Iro (Sua cidade), e significa que toda a sua vitalidade foi despejada, e ainda  assim ele se torna constantemente mais forte, então é premiado com o estado “Um campo que o Eterno abençoou”, quando o mau olhado se torna um olho bom.

 

Esse é o significado de “Um olho pendurado”, no sentido de que se pendura numa dúvida, seja com olho bom ou com um olho mau. E esse é o significado de retornar às sobras, e de “Um, para receber um”, como disseram nossos sábios: “Não havia contentamento diante Dele, como no dia em que o céu e a terra foram criados”. É assim porque, enfim, “O Eterno será um e Seu Nome, um” (Zacarias 14:9), que é o propósito da criação.

 

Porém, para o Criador, passado e presente são a mesma coisa. Assim, o Criador observa a criação na sua forma final, como será na Gmar Tikkun (Correção Final), quando todas as almas serão incluídas no mundo de Ein Sof em sua completa perfeição, como será na Gmar Tikkun. A sua forma perfeita já está lá, e não falta nada.

 

Mas, para os receptores, é evidente que eles ainda precisam completar o que devem completar. Isso é “O qual Deus criou para fazer”, ou seja, as deficiências e a petulância. Esse é o significado do que disseram os nossos sábios: “A petulância não leva a nada além da petulância” e também “Todos que são gananciosos, têm raiva”.

 

Essa é a verdadeira forma do desejo de receber em sua verdadeira forma, tão obsceno quanto é. E todas as correções são a fim de transformá-lo em desejo de receber, o qual é todo o trabalho dos inferiores. Antes de ser criado, o mundo estava na forma “O Eterno é um e Seu Nome, um”. Isso significa que, apesar de o Seu Nome já ter se afastado Dele, e ter se tornado revelado e já ser chamado “Seu Nome”, Ele ainda é Um. Esse é o significado de “Um, para receber um”.

 

 

111. Respiração, Som e Fala

(Ouvi em 29 de Sivan, Tav-Shin-Gimel, 2 de julho de 1943, Jerusalém)

 

Há um discernimento de “Respiração”, “Som” e “Fala”, e há um discernimento de “Gelo”, e há um discernimento de “Terrível”.

 

“Respiração” significa Ohr Hozer (Luz Refletida), a qual sai da Masach (Tela). Essa é uma força limitadora. Enquanto não estiver acumulada na medida de “Que não mais se entreguem à insensatez” (Salmos 85:8), é chamada “Respiração”.

 

Quando sua medida está completa, essa limitação, a Masach com a Luz Refletida, é chamada de “Som”. O som é como um aviso para o indivíduo não infringir as regras da Torá. E se vier a infringir, assim que comete a infração ele pára de sentir o sabor. Assim, quando ele sabe que certamente vão cessar as sensações se infringir, ele retém a limitação.

 

E então ele chega a um estado de “Fala”, que representa Malchut. Nesse momento, pode ocorrer o Zivug (Acasalamento) do Criador com a Sua Shechiná (Divindade), e a Iluminação de Chochmá (Sabedoria) é atraída para baixo.

 

Sabe-se que há dois níveis:

 

1) Doação sem qualquer recepção;

 

2) Recepção a fim de doar.

 

Então, quando ele vê que já chegou a um nível em que consegue receber a fim de doar, por que ele precisa da servidão que existe apenas na forma de doação a fim de doar? Afinal, o Criador tem mais contentamento a partir da recepção a fim de doar, já que a Luz da Sabedoria, a qual entra nos vasos de recepção, é a Luz do Propósito da Criação. Assim, por que ele deveria se envolver no trabalho de doação a fim de doar, que é a Luz da Correção da Criação?

 

Nesse momento, ele imediatamente pára de sentir o sabor e é deixado nu e destituído. É assim porque a Luz de Chassadim (Misericórdia) é a Luz que veste a Luz de Chochmá. E se não há vestimenta, mesmo que haja Luz de Chochmá, ele ainda não tem nada com que vestir a Chochmá.

 

Nesse momento, ele chega ao estado chamado “O gelo terrível”. Isso é assim porque Yesod de Aba, que concede Chochmá, que é chamado de “Restrito de Chassadim e estendido de Chochmá”, é Gelo. É como a água que se cristalizou. Apesar de haver água no gelo, ela não se expande para baixo.

 

Yesod de Ima é chamado “Terrível”, considerado curto e largo. É chamado de “Curto” porque há um bloqueio sobre Chochmá, pois ali há ausência de Chochmá devido ao segundo Tzimtzum (Restrição). E isso é “Terrível”. Assim, é exato para os dois: Chochmá se estende através de Yesod de Aba e Chassadim se estende através de Yesod de Ima.

 

 

 

 

112. Os três anjos

(Ouvi em Vaierá, Tav-Shin-Gimel, Outubro de 1942)

 

 

Compreenda:

 

1. A questão dos três anjos que vieram visitar Abraão durante a circuncisão;

 

2. A questão da visita do Criador e o que Ele lhe disse durante a visita;

 

3. Que os nossos sábios disseram que o visitante toma um sexagésimo da doença;

 

4. A separação de Lot;

 

5. A destruição de Sodoma e Gomorra;

 

6. O pedido de Abraão para não destruir Sodoma;

 

7. A questão de a esposa de Lot olhar para trás e se transformar num pilar de sal;

 

8. A questão de Shimon e Levi enganarem o povo de Shechem a respeito da circuncisão, quando eles disseram “Pois é uma desgraça para nós”;

 

9. A questão das duas separações que ocorreram por causa de Lot e que foram apagadas nos dias de Davi e Salomão, separações estas que são opostas uma a outra.

 

 

Para entender o que está acima, devemos primeiro dizer que sabemos que existem discernimentos de Olam (Mundo), Shaná (Ano) e Nefesh (alma animal) em tudo. Portanto, também a respeito da circuncisão, que é a realização do pacto da pele, aplica-se a questão de Olam, Shaná e Nefesh. (Há quatro pactos: dos olhos, da língua, do coração e da pele; e a pele inclui todos os outros).

 

A pele, considerada o prepúcio, é Behiná Dalet (Fase Quatro), a qual deveria ser removida até o seu lugar, ao pó. Isso é considerado Malchut em seu lugar, ou seja, rebaixar Malchut a um estado de pó. Isso segue as palavras “Aba (Pai) dá o branco”, no sentido de que rebaixa Malchut até o seu lugar a partir de todos os trinta e dois caminhos. E percebe-se que as Sefirot foram esbranquiçadas das suas qualidades de Julgamento a partir do Aviut (Espessura) de Malchut, pois a quebra ocorreu por causa dessa Malchut. 

Posteriormente, Ima (Mãe) dá o vermelho, quando ele recebe a Malchut, que é adoçada por Biná, chamada “Terra” e não “Pó”. É assim porque fazemos dois discernimentos em Malchut: 1) Terra, 2) Pó.

 

Terra é Malchut adoçada em Biná, chamada “Malchut que se elevou a Biná”. Pó é chamado Malchut no lugar de Malchut, o qual é Midat ha Din (A qualidade do Julgamento).

 

Quando Abraão precisou gerar Isaac, discernido como a Israel inteira, ele precisou se purificar com a circuncisão para que Israel emergisse pura. A circuncisão, com respeito a sua Nefesh, é chamada “Circuncisão” e diz respeito à remoção do prepúcio e ao ato de jogá-lo num lugar de pó.

 

O Olam (Mundo) na Circuncisão é chamado “A destruição de Sodoma e Gomorra.”

 

O Hitkalelut (Mistura, Integração) das almas no mundo (um mundo significa Hitkalelut de muitas almas) é chamado “Lot”, e a Circuncisão no mundo é chamada “A destruição de Sodoma e Gomorra”. A cura da Dor da Circuncisão é chamada “A salvação de “Lot”. Lot deriva da palavra “Terra amaldiçoada”, chamada Behiná Dalet.

 

Devemos saber que, quando o indivíduo é premiado com a Dvekut (Adesão) com o Criador, quando ele tem Equivalência de Forma e seu único desejo é doar e não receber nada em seu próprio benefício, ele chega a um estado onde não há espaço para trabalhar. Isso é assim porque essa pessoa não precisa de nada para si mesmo; e sobre o Criador, ela vê que o Criador não tem deficiências. Assim, ela permanece onde está, sem trabalho. Isso lhe causa a grande dor da circuncisão, pois a circuncisão lhe deu espaço para trabalhar, já que a circuncisão é a remoção do desejo de receber para si mesmo.

 

Acontece que, ao remover o desejo de receber, quando essa condição não controla mais o indivíduo, ele não tem mais nada a adicionar ao seu trabalho. Mas há uma correção para isso: Mesmo após ter sido recompensado com a circuncisão do desejo de receber, ainda restam faíscas de Behiná Dalet nele, e elas também aguardam  a correção. Essas faíscas são adoçadas apenas pela atração das luzes de Gadlut (Grandeza, Maturidade), e, portanto, há espaço para trabalhar.

 

Esse é o significado das dores de Abraão, o Patriarca, após a circuncisão, e da visita do Criador. Esse também é o significado de o Anjo Rafael tê-lo curado de sua dor (e não podemos dizer isso sobre os quatro anjos, pois a ordem é que Miguel fica na direita, Gabriel na esquerda, e Uriel à frente, e atrás, que é Malchut, implícito no oeste, fica Rafael, que cura Malchut após a remoção do prepúcio, para que haja mais espaço para o trabalho).

 

E o segundo anjo veio para destruir Sodoma. Isso significa que a remoção do prepúcio na qualidade da Nefesh é chamado “Circuncisão”, e na qualidade de Olam é chamado “Destruição de Sodoma e Gomorra”. Como eles disseram, após a remoção do prepúcio, a dor permanece, e então precisamos curar essa dor. Da mesma forma, na destruição de Sodoma e Gomorra, a cura é chamada “A salvação de Lot” devido às duas boas separações que estavam prestes a ocorrer.

 

Aparentemente, é difícil entender a questão da boa separação. Se é separação, como pode ser boa? E mais, após a remoção do prepúcio, há dor. Isso é assim porque o indivíduo não tem espaço para o trabalho. E essas separações, as faíscas de Behiná Dalet que permanecem, dão espaço para o trabalho no qual o indivíduo precisa corrigi-las.

 

Elas não podem ser corrigidas antes da remoção do prepúcio, pois antes as 248 faíscas precisam ser “elevadas e corrigidas”. Posteriormente, se corrigem as 32 faíscas que correspondem ao “Coração de Pedra”. Assim, primeiro, o prepúcio deve ser removido completamente.

 

Esse é o significado da necessidade de ter um segredo, no sentido de que o indivíduo não deve saber antes do tempo, pois deve permanecer na forma de um Reshimo (Lembrança). E esse é o significado de Som (Segredo): Por meio da Correção da Circuncisão, a qual é o rompimento de Yesod (Fundação), ou seja, o rompimento do Yud (a primeira letra de Yesod). Então, o Sod se torna Yesod.

 

Esse é o significado de, em seguida, o anjo Rafael ir salvar Lot devido às “Boas separações”. Esse é o significado de Rute e Naomi, consideradas “Mente” e “Coração”. Rute deriva da palavra Re’uia (Digna), quando o Aleph é pronunciado. E Naomi deriva da palavra Noam (Agradabilidade), algo que é agradável ao coração. Essas “separações” foram então adoçadas em Davi e Salomão.

 

Porém, anteriormente, o anjo disse: “Não olhes para trás de ti” (Gênesis 19:17), pois “Lot” é Behiná Dalet, mas ela ainda está conectada a Abraão. No entanto, “Atrás de ti”, após a Behiná Dalet, há apenas a Behiná Dalet crua, sem adoçamento. Esse é o significado dos “Grandes monstros marinhos”, sobre os quais os nossos sábios disseram que é um Leviatã (Baleia) e sua esposa, os quais mataram a Nukva e a salgaram para os sábios no futuro. “No futuro” significa depois de todas as correções.

 

Esse é o significado de a esposa de Lot olhar para trás, como está escrito: “E sua mulher olhou para trás e converteu-se num bloco de sal” (Gênesis 19:26). Contudo, primeiro ela precisava ser morta, que é a destruição de Sodoma e Gomorra. Mas Lot, que é considerado o Leviatã (A conexão entre Behiná Dalet e Abraão) precisava ser salvo.

 

Isso explica uma pergunta frequente: Como poderia o anjo que curou Abraão salvar Lot? Afinal, há uma regra: Um anjo não executa duas missões. Porém, essa é a mesma questão, pois um Reshimo de Behiná Dalet precisa permanecer. Mas isso precisa ser um segredo.

 

Quer dizer que antes de circuncidar a si mesmo não havia necessidade de saber nada disso. Ao contrário, ela precisava ser morta. E o Criador a salgou para os justos no futuro, quando o Sod se tornar Yesod.

 

Esse é o significado do conflito entre os pastores do gado de Abraão e os pastores do gado de Lot (Miknê [gado] significa Kinyanim [posses] espirituais). É porque o gado de Abraão tinha o propósito de aumentar a qualidade de Abraão (Fé). Isso significa que, dessa maneira, ele tomou para si forças maiores a fim de subir Acima da Razão, pois ele viu que, especificamente, nesse caminho da Fé Acima da Razão o indivíduo é recompensado com todas as posses.

 

Assim, a razão pela qual ele queria as posses é que elas atestariam o caminho chamado “Fé Acima da Razão”, que representa o caminho verdadeiro. Isto se evidencia pelo fato de que, posto que as posses espirituais são optidas de Cima, por meio delas ele se esforça em seguir somente pelo caminho da Fé Acima da Razão, por que seu interesse nas posses espirituais não se baseia nos grandes níveis e recebimentos que estas implicam. 

 

Ou seja, não é que ele acredita no Criador a fim de atingir grandes conhecimentos por meio da fé. Ao contrário, ele precisa de grandes conhecimentos a fim de saber que está trilhando um caminho verdadeiro. Portanto, depois de toda Gadlut, ele quer, especificamente, andar no caminho da fé, pois através dele o indivíduo vê que está fazendo alguma coisa.

 

Porém, a única intenção dos pastores do gado de Lot era atingir grandes posses e conhecimentos. Isso é chamado “Aumentar a qualidade de Lot”. Lot é chamado “A terra amaldiçoada”, que é o desejo de receber, chamado Behiná Dalet, seja na mente ou no coração. É por isso que Abraão disse Separa-te, rogo, de mim” (Gênesis 13:9), ou seja, que a Behiná Dalet se separasse dele, a partir da Behiná de Olam-Shaná-Nefesh. Esse é o significado da remoção do prepúcio. A remoção de Behiná Dalet na Nefesh é chamada “Circuncisão”. Na Behiná de Olam, a remoção do prepúcio é chamada “A destruição de Sodoma”; e a partir da Behiná de Shaná ocorre o Hitkalelut de muitas almas, e isso é chamado Shaná (Ano). Essa é a qualidade de Lot, a partir da palavra “Maldição”, chamado “A terra amaldiçoada”.

 

Portanto, quando Abraão disse a Lot Separa-te, rogo, de mim, por outro lado, Lot era filho de Haran, uma referência à Segunda Restrição, chamada “Um rio que corre desde o Éden para regar o Jardim”. E há o discernimento de “Além do rio”, fora do rio, no sentido do primeiro Tzimtzum (Restrição), e há uma diferença entre o primeiro Tzimtzum e o segundo Tzimtzum.

 

No primeiro Tzimtzum, os Dinim (Julgamentos) ficam abaixo de todas as Sefirot da Kedushá (Santidade), assim como emergiram no início, de acordo com a  ordem descendente dos Mundos. No segundo Tzimtzum, no entanto, eles se elevaram ao lugar da Kedushá e se sujeitam a ela. Assim, neste sentido, esses Dinim são piores do que eram no primeiro Tzimtzum. Eles não podem continuar a se expandir.

 

A “Terra de Canaã” deriva do segundo Tzimtzum, cujos Dinim são muito ruins porque estão sob o controle da Kedushá. É por isso que está escrito sobre eles: “Não deixaram nada com vida”. A qualidade de Lot, no entanto, a Behiná Dalet, deve ser salva. Portanto, os três anjos vieram como Um: Um para abençoar a semente, considerada toda a Israel, sugerindo também a multiplicação da Torá. Esse é o significado de “Revelar os Segredos da Torá”, que é chamado Banim (Filhos), derivado da palavra Havaná (Entendimento). Somente é possível atingir isso a Correção da Circuncisão.

 

Esse é o significado das palavras do Criador: “Esconderei de Abraão o que farei?” (Gênesis 18:17). Abraão tinha medo da destruição de Sodoma e Gomorra, com receio de que perderia todos os Vasos de Recepção. É por isso que ele disse: “Talvez haja cinquenta justos dentro da cidade” (Gênesis 18:24), porque um Partzuf completo tem cinquenta níveis. E, posteriormente, ele perguntou: “Talvez haja quarenta e cinco justos”, ou seja, Aviut de Behiná Guímel, o qual é quarenta, e o Dalet de Hitlabshut (Vestimenta), o qual é VAK, meio nível, cinco Sefirot etc. Finalmente, ele perguntou “Talvez haja dez justos”, ou seja, o nível de Malchut, que é apenas dez. Assim, quando Abraão viu que mesmo o nível de Malchut não podia emergir dali, ele concordou com a destruição de Sodoma e Gomorra.

 

Acontece que quando o Criador veio visitá-lo, ele rezou por Sodoma e Gomorra, como está escrito “Conforme o clamor”, no sentido de que estavam todos imersos no desejo de receber. “E do contrário, o saberei” (Gênesis 18:21). Isso significa que, se há  neles discernimentos de doação, então saberemos. Isso é uma questão de vínculo, ou seja, Ele vai conectá-los à Kedushá. Como Abraão viu que nenhum bem viria deles, concordou com a destruição.

 

É por isso que, depois de Lot se separar de Abraão, está escrito: “Armou suas tendas até chegar a Sodoma” (Gênesis 13:12), o local de moradia do desejo de receber para si mesmo. E isso acontece apenas na Terra de Israel.

 

No entanto, após o rio, que é o primeiro Tzimtzum, a dominação da Behiná Dalet, não há espaço para trabalhar. É assim porque ela comanda e prevalece no seu próprio lugar, e apenas na Terra de Israel, considerada o segundo Tzimtzum, há todo o trabalho. Esse é o significado do nome de Abraão com o Hey Bera’am (Criou a eles com o Hey). Isso significa que o Yud de Sarai se dividiu em dois Heys - o Hey inferior e o Hey superior, e Abraão tomou da Hikalelut (Integração) do Hey inferior com o Hey superior.

 

Agora podemos entender Shimon e Levi, que enganaram os homens de Shechem. Como Shechem queria Diná, pois toda a sua intenção era o desejo de receber, eles disseram que precisavam ser circuncidados, no sentido de cancelar seus Vasos de Recepção. Já que seu único objetivo era o desejo de receber, eles foram mortos pela circuncisão, pela perda do desejo de receber por meio da circuncisão. Para eles, isso era considerado a morte.

 

Portanto, segue-se que eles mesmos se enganaram, pois toda a sua intenção estava em Diná, sua irmã. Eles pensaram que poderiam receber Diná em seus Vasos de Recepção. Assim, uma vez que foram circuncidados, e então quiseram receber Diná, eles só poderiam usar os Vasos de Doação, pois tinham perdido os Vasos de Recepção pela circuncisão. Mas como eles não tinham a faísca da doação, pois Shechem era o filho de Hamor, que não conhece nada além dos Vasos de Recepção, eles não podiam receber Diná nos Vasos de Doação, pois isso é contra a sua raiz, já que sua raiz é apenas Hamor, o desejo de receber. Por isso, terminaram perdendo de todas as formas. Isso se chama: “Shimon e Levi causaram suas mortes”. Mas, na verdade, foi culpa deles mesmos e não de Shimon e de Levi.

 

Esse é o significado das palavras dos nossos sábios: “Se você cruzar com um vilão, atraia-o para o seminário.” Devemos entender o que significa “Se você cruzar”. Quer dizer que um vilão, ou seja, o desejo de receber, nem sempre é encontrado. Antes, significa que nem todo mundo considera o seu desejo de receber um “Vilão”. Mas se alguém sente o desejo de receber como um vilão e quer se livrar dele deve atuar como está escrito: “Sempre deve sobrepor a inclinação ao bem sobre a inclinação ao mal”. E: “Se ele triunfa, bom; e se não, ele deve se envolver com a Torá, e se não, deve ler o Shemá, e se não, deve se lembrar do dia da sua morte (Berachot, p 5). Nesse estado, ele tem três conselhos juntos, e cada um está incompleto sem os outros.

 

Agora, podemos entender a pergunta frequente com a qual termina a Guemará: Se o primeiro conselho, “Atraia-o para o seminário”, não ajudar, então “Leia o Shemá”. E se isso não ajudar, “Lembre-se do dia da sua morte”. Portanto, se há dúvida sobre a ajuda, por que ele precisa dos dois primeiros conselhos? Por que ele não deveria tomar logo o último conselho, ou seja, lembrar-se do dia da sua morte? Ele responde que isso não significa que um conselho apenas ajudará, mas que requer todos os três conselhos juntos.

 

E isso significa:

 

1. Atraia-o para o seminário, ou seja, a Torá;

 

2. Leia o Shemá, ou seja, o Criador e a Dvekut (Adesão) com o Criador;

 

3. Lembre-se do dia da sua morte, o que significa devoção. Isso é considerado Israel, que é comparado a uma pomba que estica o seu pescoço. Em outras palavras, todos os três discernimentos são uma unidade chamada “A Torá, Israel e o Criador são Um”.

 

O indivíduo pode receber ajuda de um Rav (Pessoa elevada, professor) quanto ao discernimento da Torá e quanto à leitura do Shemá. No entanto, quanto a Israel, que é a circuncisão, que é a devoção, ele precisa trabalhar sozinho. E embora também para isso haja ajuda vinda de Cima, tal como disseram os nossos sábios em “E fez um pacto com ele”, ou seja, que o Criador o ajudou, ainda assim quem deve tomar a iniciativa é o homem. A isso se refere a frase que diz “Lembre-se do dia da sua morte”. Devemos sempre lembrar e não esquecer disso, pois essa é a essência do trabalho do homem.

 

E sobre as Reshimot que devemos deixar ao modo de “A salvação de Lot”… Isto se faz por causa das “boas separações”, que representam o significado de Haman e Mordechai. Mordechai quer apenas doar, pois ele não tem necessidade de atrair as Luzes de Gadlut. “Mas através de Haman, que deseja engolir todas as Luzes para dentro de sua autoridade e domínio, através dele o homem pode puxar as Luzes de Gadlut”.

 

Contudo, depois que atraiu essas Luzes, é proibido recebê-las nos Kelim de Haman, que são chamados “Vasos de Recepção”, mas apenas se pode atraí-las para os Vasos de Doação. Esse é o significado do que está escrito, sobre o que o rei disse a Haman: “E faz isso a Mordechai, o judeu” (Ester 6:10). Isso é: “As Luzes de Haman brilhando nos vasos de Mordechai”.

 

 

113. A décima oitava oração

(Ouvi em 15 de Kislev, Shabat)

 

Na Shmone Esrei (Décima oitava Oração) se diz: “Pois Tu ouves a oração de todas as bocas do Teu povo, Israel, com misericórdia”. Isso parece desconcertante, já que primeiro dizemos “Pois Tu ouves a oração de todas as bocas”, ou seja, até mesmo da boca indigna o Criador ainda ouve. Está escrito “Toda boca”, ou seja, até mesmo a indigna. Depois, diz: “Do Teu povo, Israel, com misericórdia”, ou seja, isto se refere especificamente a oração que esteja em Chessed. Do contrário, não é ouvida.

 

A questão é que devemos saber que todo o peso no Trabalho do Criador é devido à oposição que existe em cada passo. Por exemplo, há uma regra de que o homem deve ser humilde. Mas se seguirmos esse caminho, apesar de nossos sábios terem dito “Seja muito, muito humilde”, ainda não significa que deveria ser uma regra, pois sabe-se que o indivíduo deve ir contra o mundo inteiro e não ser cancelado pela proliferação de opiniões que abundam no mundo, como está escrito “E o seu coração foi levantado nos caminhos do Eterno” (2 Crônicas 17:6). Portanto, essa regra não é uma regra que podemos chamar de completa.

 

E se formos pelo outro caminho, que é o orgulho, ele também está errado, pois “Aquele que é orgulhoso”, diz o Criador, “Ele e Eu não podemos viver na mesma morada”. E podemos ver também a oposição na questão do sofrimento. Ou seja, se o Criador envia sofrimento a uma pessoa, e devemos acreditar que o Criador é bom e faz o bem, então o sofrimento que Ele enviou é necessariamente para o benefício daquela pessoa. Assim, por que rezamos para que o Criador remova o sofrimento de nós?

 

E a respeito do sofrimento, devemos saber que o sofrimento vem apenas para nos corrigir a fim de que sejamos qualificados para receber a Luz do Criador. O papel do sofrimento é apenas limpar o corpo, como nossos sábios disseram: “Como o sal purifica a carne, o sofrimento limpa o corpo”. A respeiro da oração, eles levaram a cabo essa correção em lugar do sofrimento. Portanto, vemos que a oração também purifica o corpo.

 

No entanto, uma oração é chamada “O caminho da Torá”. Por isso, a oração é mais efetiva em purificar o corpo do que o sofrimento. Portanto, é uma Mitzvá rezar pelo sofrimento, já que isso resulta em benefício adicional para o indivíduo e para o conjunto dos seres humanos.

 

Por essa razão, esse estado de oposição causa o peso e as interrupções no Trabalho do Criador. Então, o indivíduo não consegue continuar o Trabalho e se sente mal. Parece-lhe que não é digno de assumir o Fardo do Reino dos Céus “como um boi com seu fardo e como o burro com a sua carga”. Nesse momento, portanto, se lhe diz: “Não desejado”.

 

Contudo, a única intenção do indivíduo é atrair fé, chamada Malchut, no sentido de elevar a Shechiná do pó. Seu objetivo é glorificar o Seu Nome no mundo, a Sua grandeza, para que a Santa Shechiná não assuma a forma de “pobreza e escassez”. Deste modo, o Criador ouve “A oração de toda a boca”, mesmo de quem não é tão digno Dele, mesmo de quem ainda se sente longe do Trabalho de Deus.

 

Esse é o significado de “Pois Tu ouves a oração de todas as bocas”. Quando Ele ouve todas as bocas? Quando o Seu povo, Israel, ora com misericórdia, com simples misericórdia, quando alguém reza para elevar a Shechiná do pó, para receber fé.

 

É como alguém que não come há três dias. Então, quando pede que outro lhe dê algo para comer, não pede luxos nem coisas supérfluas, senão que pede simplesmente que se lhe dê algo para reviver a sua alma.

 

De forma semelhante, no Trabalho do Criador, quando o indivíduo se encontra entre o céu e a terra, ele não pede ao Criador por algo redundante, mas apenas pela Luz da fé, que o Criador lhe abra os olhos para que ele pode tomar sobre si a qualidade da fé. Isso é chamado “Elevar a Shechiná do pó”. Essa oração é aceita de “Todas as bocas”. Ou seja, não importa o estado da pessoa, se ela pedir para reviver a sua alma com fé, a sua oração será atendida.

 

E isso se chama “Com misericórdia”, quando a oração de alguém é digna de compaixão de Cima para que possa manter sua vitalidade. E a isso se refere o que está escrito no Zohar, que a oração do pobre é imediatamente aceita. Ou seja, quando é para e pela Shechiná, é imediatamente aceita.

 

114. Oração

(Ouvi em Tav-Shin-Bet, 1941-1942)

 

Devemos entender por que uma oração é considerada “Misericórdia”. Afinal, há uma regra: “Encontrei e não trabalhei, não acredite.” O conselho é que o indivíduo deveria prometer ao Criador que vai Lhe dar o trabalho depois.

 

 

115. Mineral, Vegetal, Animal e Falante

(Ouvi emTav-Shin, 1939-1940, Jerusalém)

 

Mineral é algo que não tem autoridade própria. Ao contrário, está sob autoridade do seu senhorio e deve satisfazer todo anseio e desejo dele. Por isso, como o Criador fez a Criação para a Sua glória, como está escrito, “Todo aquele que é chamado pelo Meu Nome e que enaltece Minha glória, Eu o formei e o criei” (Isaías 43:7), significa que o Criador fez a Criação para Suas próprias necessidades. A natureza do senhorio está impressa nas criaturas, no sentido de que nenhuma criatura pode trabalhar em benefício de outros, mas apenas em benefício próprio.

 

Vegetal é aquele que já tem autoridade própria em algum nível. Já pode fazer algo contrário à opinião do senhorio. Isso significa que já pode fazer coisas não apenas em benefício próprio, mas a fim de doar. Isso já é o oposto do que existe no desejo do senhorio, que Ele imprimiu nos inferiores, de trabalhem apenas com o desejo de receber para si mesmos.

 

Porém, como podemos ver em plantas corpóreas, mesmo que sejam móveis e se expandam em comprimento e largura, ainda assim todas as plantas têm uma propriedade única. Em outras palavras, não há uma única planta que pode ir contra o método de todas as plantas. Ao invés disso, elas devem obedecer as regras das plantas e são incapazes de fazer qualquer coisa contra os seus contemporâneos.

 

Portanto, elas não têm vida própria, mas são partes da vida de todas as plantas. Isso significa que todas as plantas têm uma forma única de vida, que a forma de vida é a mesma para todas as plantas. Todas as plantas são uma única criatura, e as plantas individuais são órgãos específicos daquele ser.

 

De forma semelhante, na espiritualidade há pessoas que já adquiriram a força para superar o seu desejo de receber em algum nível, mas são escravas do seu entorno. Elas não podem fazer o oposto do ambiente em que vivem, mas elas fazem o oposto do que quer o seu desejo de receber. Isso significa que elas já trabalham com o desejo de doar.

 

Animal tem sua própria característica: Ele não é escravo do entorno e cada um deles tem suas próprias sensações e características. Os animais certamente podem trabalhar contra a vontade do senhorio, no sentido de que podem trabalhar em doação e também não são escravos do ambiente. Ao invés disso, eles vivem suas próprias vidas, e sua vitalidade não depende das vidas dos seus amigos. Ainda assim, eles não conseguem sentir mais do que o seu próprio ser. Em outras palavras, eles não têm sensação do outro. Naturalmente, eles não se importam com os outros.

 

O falante tem virtudes:

 

1 - Age contra a vontade do senhorio;

 

2 - Não está confinado aos seus contemporâneos como o vegetal, ou seja, é independente do entorno;

 

3 - Sente também os outros e consegue, portanto, importar-se com eles e complementá-los ao sentir e lamentar com o público, e ser capaz de se alegrar no conforto do público. Além disso, eles podem receber do passado e do futuro, enquanto os animais sentem apenas o presente e apenas o seu próprio ser.

 

 

116. Aquele que disse: “Mitzvot não exigem intenção”

(Eu ouvi)

 

Mitzvot (Mandamentos) não exigem intenção”, e “A recompensa por uma Mitzvá (singular de Mitzvot) não está neste mundo”. Isso significa que aquele que diz que as Mitzvot não exigem intenção acredita que a recompensa por uma Mitzvá não está neste mundo. Uma intenção é a razão e o sabor na Mitzvá. E essa é a verdadeira recompensa da Mitzvá.

 

Se uma pessoa sente o sabor de uma Mitzvá e entende o seu raciocínio, não precisa de nenhuma recompensa maior. Portanto, se as Mitzvot não exigem intenção, de qualquer forma a recompensa por uma Mitzvá não está neste mundo, pois o indivíduo não sente qualquer sabor ou qualquer razão na Mitzvá.

 

Segue-se que, se o indivíduo está num estado em que não tem nenhuma intenção, então ele está num estado em que a recompensa por uma Mitzvá não está neste mundo. Porque a recompensa por uma Mitzvá é o sabor e a razão. Se ele não tem isso, ele certamente não tem nenhuma recompensa por uma Mitzvá neste mundo.

 

 

 

117. Trabalhou e não encontrou? Não acredite.

(Eu ouvi)

 

A necessidade do Trabalho é uma exigência. Já que o Criador dá um presente ao homem, Ele quer que o homem sinta o benefício nesse presente. Senão, a pessoa seria como um tolo, como disseram os nossos sábios: “Quem é um tolo? Aquele que perde o que lhe foi dado.” Porque não aprecia a importância da questão ele não presta atenção na preservação do presente.

 

Há uma regra de que o indivíduo não sente importância em nada se ele não tem necessidade por alguma coisa. Na medida da necessidade e do sofrimento, se ela não é atendida, nessa exata medida o indivíduo sente alegria, prazer e contentamento na satisfação da necessidade. É como alguém que recebe todo tipo de boas bebidas, mas se ele não está com sede, não vai sentir nada, como está escrito, “Como água gelada para uma alma fraca.”

 

Portanto, há um costume quando refeições são servidas a fim de agradar as pessoas: Quando preparamos carne e peixe, e todo tipo de coisas boas, tratamos de servir também coisas amargas e quentes, como mostarda, pimentas, comidas azedas e salgadas. Tudo isso é para evocar o sofrimento da fome, pois quando o coração sente um sabor apimentado e amargo, ele evoca a fome e a deficiência, as quais o indivíduo precisa satisfazer com a refeição das coisas boas.

 

Ninguém perguntaria: “Por que eu preciso despertar a fome? Afinal, não deveria o anfitrião preparar apenas a satisfação para a necessidade, ou seja, a refeição, e não preparar coisas que evocam a necessidade de saciação?” A resposta óbvia é que, como o anfitrião quer que as pessoas apreciem a refeição, é na mesma medida em que elas têm uma necessidade pela comida que vão apreciar a refeição. Segue-se que, se ele fornece muitas coisas boas, isso ainda não as ajudará a apreciar a refeição devido à razão acima de que não há preenchimento sem uma falta.

 

Portanto, para ser recompensado com a Luz do Criador, é preciso também haver uma necessidade. E a necessidade para isso é o Trabalho. Na medida em que o indivíduo se esforça e pede pelo o Criador durante a maior Ocultação, nessa medida ele se torna necessitado do Criador, para que o Criador lhe abra os olhos a fim de andar no Caminho do Criador. Então, quando o indivíduo tem esse Kli (Vaso) de uma deficiência, quando o Criador lhe dá alguma ajuda de Cima, ele saberá como guardar esse presente. Acontece que o Trabalho é considerado Achoraim (Posterior, de costas). E quando ele recebe o Achoraim, ele tem um lugar no qual ser recompensado com o Panim (Face, de frente).

 

Sobre isso, é dito: “Um tolo não tem desejo pela Sabedoria.” Isso significa que ele não tem uma necessidade forte para se esforçar a fim de obter Sabedoria. Portanto, ele não tem Achoraim, e, naturalmente, não pode ser premiado com o Discernimento de Panim.

 

Esse é o significado de “Assim como é o sofrimento será a recompensa”. Ou seja, o sofrimento, chamado “Trabalho”, faz o Kli (Vaso), para que o indivíduo seja premiado com a Recompensa. Isso significa que, na medida em que ele se arrepende, nessa medida ele pode, depois, ser recompensado com alegria e prazer.

 

 

 

118. Para entender a questão dos joelhos que se dobraram para Baal
(Eu ouvi)

 

Há o discernimento de uma esposa, e há o discernimento de um marido. Considera-se que a esposa “Não tem nada além do que o marido dá a ela”, e considera-se que o marido atrai abundância para o seu próprio aspecto. Joelhos são considerados “Dobrar”, como está escrito: “A Ti todo joelho se dobrará.”

 

Há dois discernimentos sobre “Dobrar”:

 

1. Aquele que se ajoelha perante de quem é maior, e apesar de não saber o seu mérito, acredita que ele é maior, e então se curva perante ele;

 

2. Quando sabe da sua grandeza e mérito com total clareza.

 

Há também dois discernimentos a respeito da “Fé na grandeza do Superior”:

 

1. Ele acredita que é elevado porque não tem outra escolha, ou seja, não tem como saber a sua grandeza;

 

2. Ele tem uma maneira de saber a sua grandeza com total certeza, mas ainda assim escolhe o Caminho da Fé porque “Ocultar algo é a glória de Deus”. Isso significa que,  mesmo havendo faíscas no corpo que querem especificamente conhecer a Sua grandeza, e não ser como uma besta, ele ainda assim escolhe a “Fé Acima da Razão”.

 

Assim, aquele que não tem outra escolha, e escolhe a fé, é considerado uma mulher, feminina (“Tornou-se fraco como uma mulher”), e ela apenas recebe do seu marido. Mas aquele que tem uma escolha e ainda assim luta para seguir pelo Caminho da Fé é chamado “Um homem de guerra”. Portanto, aqueles que escolhem a fé quando tinham a opção de andar pelo Caminho do Conhecimento (chamado Baal, marido, deus cananita), são chamados “Aqueles que não se ajoelharam para Baal”. Isso significa que eles não se renderam ao Trabalho de Baal, considerado “Saber”, mas escolheram o Caminho da Fé. 

 

 

 

119. Aquele discípulo que aprendeu em segredo

(Ouvi em 5 de Tishrei, Tav-Shin-Guimel, 16 de setembro de 1942)

 

Aquele discípulo que aprendeu em segredo, Bruria bateu nele e disse: Existe “Ordenado em todas as coisas”, se ordenado nas 248. Em segredo significa Katnut (Pequenez, infância), derivado da palavra Chash-Mal. Chash significa Kelim de Panim (Vasos anteriores), e Mal significa Kelim de Achor (Vasos posteriores), os Kelim abaixo de Chazeh (Peito), os quais induzem à Gadlut (Grandeza, idade adulta).

 

Aquele discípulo pensou que se fosse premiado com o estado de Chash, um desejo de doar, e se todas as suas intenções fossem apenas para doar, então ele seria premiado com tudo. Mas o Propósito da Criação dos Mundos foi fazer o bem às Suas criações, receber todos os prazeres sublimes, para que o homem atinja sua estatura completa, mesmo abaixo de Chazeh, ou seja, a totalidade de 248. É por isso que Bruria lhe disse o versículo “Ordenado em todas as coisas”, em todas as 248.

 

Isso significa que ele estenderia abaixo do Chazeh também, no sentido de que deveria também atrair Gadlut. Isso é Mal, fala, considerado Revelação, ou seja, revelar o nível inteiro. No entanto, para evitar prejuízo, o indivíduo deve primeiro receber Katnut, chamado Chash, o qual está em segredo, ainda não revelado. Depois, o indivíduo precisa fazer o escrutínio também do discernimento de Mal, Gadlut, e então o nível completo será revelado.

 

Isso é “Ordenado e Seguro”, quando Katnut já está estabelecida nele e o indivíduo já pode atrair a Gadlut sem medo.

 

 

 

120. A razão para não comer nozes em Rosh Hashaná
(Ouvi no final de Rosh Hashaná, Tav-Shin-Guimel, 1942, Jerusalém)

 

A razão para não comer nozes em Rosh Hashaná (o ano novo judaico) é que a Gemátria de Egoz (Noz) é Chet (Pecado). E ele perguntou: “Mas Egoz, na Gemátria, é Tov (Bom)?” E ele disse que Egoz indica a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.

 

E antes que o indivíduo se arrependa a partir do amor, o Egoz nele ainda é um pecado. E aquele a quem já foi concedido o arrependimento a partir do amor, os seus pecados se tornam méritos. Segue-se que o pecado se tornou bom, e então é permitido que ele coma nozes. É por isso que devemos ver que comemos apenas coisas que não têm qualquer vestígio de pecado, as quais são consideradas Árvore da Vida. Porém, coisas que têm Gemátria de Chet indicam a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.

 

 

121. Ela é como navios mercantes

(Eu ouvi)

 

No versículo “Como as naves mercantes, de longe provê seus mantimentos” (Provérbios 31:14), quando o indivíduo exige e insiste “Ela é toda minha”, que todos os desejos sejam dedicados ao Criador, a Sitra Achra (Outro Lado) desperta contra ele e afirma “Ela é toda minha” também. Então, há uma troca. Uma troca significa que uma pessoa quer comprar determinado objeto, e o debate entre comprador e vendedor é sobre seu valor, no sentido de que cada um afirma ter razão.

 

E aqui o corpo examina a quem vale a pena escutar: Ao receptor ou ao que dá a força. Ambos argumentam claramente: “Ela é toda minha”. E no momento em que pessoa vê a sua humildade, que nela também há faíscas que não concordam em observar a Torá e as Mitzvot nem mesmo como um ponto no nada, e que o corpo inteiro argumenta “Ela é toda minha”, então “De longe provê seus mantimentos”.

 

Mantimentos significa fé. Nesse estado, o indivíduo é premiado com fé permanente, pois “Deus assim o fez para impôr Seu temor” (Eclesiastes 3:14). Isso significa que todos os afastamentos que o indivíduo sente foram trazidos pelo Criador, para que ele tenha a necessidade de tomar sobre si o Temor dos Céus.

 

Esse é o significado de “Nem só de pão vive o homem, senão de tudo o que sai da boca do Eterno” (Deuteronômio 8:3). Isso significa que a vida de Kedushá numa pessoa não vem especificamente da aproximação, das entradas, das admissões na Kedushá, mas também das saídas, dos afastamentos. É assim porque ao vestir a Sitra Achra, e as suas reclamações de que Ela é toda minha, no próprio corpo, com um argumento justo, o indivíduo é premiado com a fé permanente para superar esses estados.

 

Isso significa que ele deveria dedicar tudo ao Criador, ou seja, saber que mesmo as saídas emanam Dele. Quando é recompensado, ele vê que tanto as saídas como as entradas vieram todas Dele. Isso força o indivíduo a ser humilde, pois ele vê que o Criador faz tudo, as saídas bem como as entradas.

 

Esse é o significado do que é dito sobre Moisés, que ele era humilde e paciente. O indivíduo deve tolerar a humildade, no sentido de que deve manter a humildade em cada nível. No momento em que deixa de ser humilde, ele imediatamente perde todos os níveis de Moisés que já havia atingido.

 

Esse é o significado da paciência. A humildade existe em todo mundo, mas nem toda pessoa sente a humildade como uma coisa boa. Acontece que não queremos sofrer. No entanto, Moisés tolerou a humildade, e por isso ele era chamado “Humilde”, pois a humildade o fazia feliz.

 

Essa é a regra: “Onde não há alegria, a Shechiná não habita.” Portanto, durante o período de purificação, não pode haver a Shechiná, apesar de a purificação ser algo necessário (Como quando entra banheiro. Apesar de precisar entrar lá, o indivíduo está certo de que ali não é o Palácio do Rei).

 

Esse é o significado de Brachá (Bêncão) e Bechorá (Antiguidade, Classificação), cujas letras são as mesmas em hebraico. Bechorá representa GAR, e a Sitra Achra quer as GAR (Guímel Rishonot, as 3 primeiras Sefirot), mas não as Bênçãos, já que uma Bênção representa a Vestimenta dos Mochim. E Esaú queria a primogenitura sem a Vestimenta, mas é proibido receber Mochim sem Vestimenta. Esse é o significado das palavras de Esaú: “Mas certamente reservaste para mim uma Bênção?” (Gênesis 27:36). “Uma Bênção” é o oposto de “bênçãos”, isto é, uma infâmia. Sobre isso é dito: “Sim, amava injuriar e condenar, e foi apresentado; e não se regozijava na bênção”.

 

 

 

122. Para entender o que está escrito no Shulchan Aruch

(Ouvi na véspera do Shabat, Nitzavim, 22 de Elul, Tav-Shin-Bet, 4 de setembro de 1942)

 

Entenda o que é explicado no Shulchan Aruch [Mesa Posta - o Código Judaico da Lei]: A regra é que o indivíduo deveria refletir repetidamente sobre as orações dos “Dias Terríveis” para que esteja acostumado a rezar quando o tempo delas chegar.

 

A questão é que a oração deveria estar no coração. Esse é o significado do “Trabalho no Coração”, que o coração concorde com o que diz a boca do indivíduo (senão, é enganoso, ou seja, a boca e o coração do indivíduo não são iguais). Portanto, no mês de Elul, o indivíduo deveria se acostumar ao grande trabalho.

 

E a coisa mais importante é que o indivíduo possa dizer “Escreva-nos no Livro da Vida”. Isso significa que, quando diz Escreva-nos no Livro da vida, também o coração deve concordar (para que não seja como uma adulação) que a boca e o coração sejam iguais, “Porque o homem vê o que está diante dos seus olhos, mas o Eterno olha para o coração” (Samuel 16:7).

 

Da mesma forma, quando o indivíduo chora ao dizer Escreva-nos no Livro da vida, “vida” significa Dvekut (Adesão) com a Vida das Vidas, a qual se dá especificamente pelo desejo da pessoa de trabalhar inteiramente na forma de doação, de modo que todos os seus pensamentos e o seu próprio prazer sejam revogados. Então, quando sente o que está dizendo, seu coração pode temer que sua oração seja aceita, no sentido de que não tenha mais qualquer desejo para si mesmo.

 

E sobre o prazer próprio, surge um estado em que parece que o indivíduo abandona todos os prazeres deste mundo, junto com todas as pessoas, amigos, sua família, todas as suas posses, e se retira para o deserto onde não há nada além de feras selvagens, sem que ninguém saiba dele ou de sua existência. Parece que ele perde o seu mundo de uma só vez, e sente que está perdendo um mundo cheio de vida, e o troca por uma morte que vem desse mundo. Quando percebe essa imagem, sente como se estivesse cometendo suicídio.

 

Às vezes, a Sitra Achra (o Outro Lado) o ajuda a visualizar o seu estado com todas as cores escuras. Então, o corpo repele essa oração e, em tal estado, a sua oração não pode ser aceita, pois ele mesmo não quer que sua oração seja aceita.

 

Por essa razão, deve haver preparação para a oração, para que o indivíduo se acostume a ela, como se sua boca e o seu coração fossem iguais. E o coração pode vir a concordar por meio do costume, para que entenda que a recepção significa separação, e que o mais importante é a Dvekut com a Vida das Vidas, a qual é doação.

 

O indivíduo deve sempre mergulhar no trabalho de Malchut, chamado “Escrever”, considerado “Tinta” e Shacharit (Escuridão). Isso significa que ele não deve querer que o seu trabalho seja na forma de “Livni e Shimei”[9], e que apenas no tempo da brancura ele deve aderir à Torá e às Mitzvot, mas incondicionalmente. Seja no branco ou no preto, deve ser sempre o mesmo para ele e, seja o que for, ele vai aderir aos mandamentos da Torá e das Mitzvot.

 

123. Seu divórcio e sua mão vêm como um

(Eu ouvi memórias de Baal HaSulam)

 

O Sagrado Hey nos Eynaim (Olhos) aludem a que uma Masach (Tela) e um véu foram postos sobre os olhos. Olhos significa “Ver” e “Providência”,  quando o indivíduo enxerga a Providência oculta.

 

“Experimentar” significa que o indivíduo não consegue decidir de forma alguma, que não consegue clarificar o desejo do Criador e a intenção do seu Rav. Embora não possa trabalhar de forma devotada, ele não consegue decidir se esse trabalho em devoção está no seu lugar ou se, ao contrário, esse árduo trabalho será contra as visões do seu Rav e do Criador.

 

E, para determiner isso, o indivíduo escolhe o caminho que adiciona trabalho. Isso significa que ele deveria trabalhar de acordo com uma linha em que o trabalho é tudo o que há para se fazer, e nada mais. Portanto, o indivíduo não tem espaço para duvidar de suas ações e pensamentos e palavras, mas deve sempre aumentar o trabalho.

 

 

 

124. A Shabbat de Bereshit e os seis mil anos
(Eu ouvi)

 

Há dois discernimentos da Shabat:

 

1) Sobre Bereshit (Gênesis, Início);

 

2) Sobre os seis mil anos.

 

A diferença entre eles é: Sabe-se que há uma parada, e há um descanso. Uma parada é onde não há mais nada a adicionar. Um descanso, porém, deriva das palavras: “Ele se levantou e descansou”, no sentido de que o indivíduo está no meio do seu Trabalho, e como não tem força para continuar, ele se levanta e descansa para reviver a si mesmo, e depois continua o seu Trabalho.

 

Uma Shabat de Bereshit é um estado de não ter nada mais a adicionar. Isso é chamado “Uma parada”. Uma Shabat de seis mil anos é considerado descanso, pelo qual o indivíduo recebe força para continuar o seu Trabalho nos dias de semana.

 

Agora podemos entender as palavras dos nossos sábios: “Shabat disse: ‘Deste a todos um parceiro, mas a mim Tu não deste.’” E o Criador respondeu: “Israel será teu parceiro.” Um parceiro significa ZA. Se há uma Nukva, pode haver um Zivug (Acasalemento), e do Zivug vem a prole, ou seja, a “Renovação” e os “Acréscimos”.

 

Nukva é uma deficiência. Se há uma deficiência em algum lugar, há espaço para corrigir a deficiência, e todas as correções são consideradas como tendo sido cumpridas ao atrair a Luz Superior no lugar da falta. Segue-se que não havia deficiência aqui para começar, mas todas as faltas previamente consideradas deficiências vieram em forma de “Correção para começar”, no sentido de que assim a Abundância Superior pudesse fluir de Cima.

 

É como alguém que mergulha em alguma questão e se esforça para entendê-la. Quando obtém o significado, é o contrário: Ele não sente que estava sofrendo anteriormente, quando não entendia a questão. Ao invés disso, ele está feliz porque agora tem alegria. A alegria é medida pela extensão do esforço que ele fez antes de entender a questão.

 

Portanto, o “Tempo de mergulhar” é chamado Nukva, uma deficiência. E quando o indivíduo se une com a deficiência, ele produz a Prole, a Renovação. É isso que a Shabat argumentou, “Como não há trabalho na Shabat, não haverá Prole e Renovações.”

 

 

 

125. Aquele que se deleita na Shabat

(Ouvi em 8 de Sivan, Tav-Shin-Tet, 15 de junho de 1949, Tel-Aviv)

 

Qualquer um que se deleite na Shabat recebe um domínio ilimitado, como está dito: ‘Então te deleitarás no Eterno, e Te farei cavalgar sobre as alturas da terra; e Te sustentarei com a herança de teu pai, Jacó’ (Isaías 58:14) etc. Diferentemente de Abraão, sobre quem está escrito: ‘Levanta-te, passeia pela Terra, por seu comprimento’ (Gênesis 13:17) etc. E não como Isaac, como está escrito: ‘Porque toda a terra que tu vês, a ti darei e à tua descendência’ (Gênesis 13:15). Mas como Jacó, sobre quem está escrito: ‘E te fortalecerás ao Oeste, ao Leste, ao Norte e ao Sul’ (Gênesis 28:14).” (Shabat 118).

 

É difícil entender a Guemará assim como ela é. Cada um de Israel deveria receber o mundo inteiro, um domínio ilimitado?

 

Devemos começar com as palavras dos nossos sábios: “No futuro, o Criador irá retirar o Sol da sua funda e o escurecerá. Os perversos são julgados assim, e os justos são curados assim, como está escrito: ‘Pois aproxima-se o dia que se abrasará como um forno, no qual todos os ímpios e malévolos serão como a palha; e neste dia serão queimados a tal ponto, diz o Eterno dos Exércitos, que deles não sobrará nem raiz e nem ramo algum’ (Malaquias 3:19), nem uma raiz neste mundo e nem um ramo no mundo vindouro.” Os justos são curados assim, como está escrito: “‘Mas para aqueles de vós que temem o Meu Nome, levantar-se-á o sol da justiça trazendo saúde (eterna) em seus raios’ (Malaquias 3:20). E, aliás, eles serão refinados assim” (Avodá Zarah 3b).

 

E devemos entender a seguinte interrogação que os nossos sábios fizeram: “O que é um “Sol”, o que é uma “Funda”, e de onde vem essa oposição?” Além disso, o que é “Nem uma raiz neste mundo e nem um ramo no mundo vindouro”? E o que significa  “Aliás, eles são refinados assim”? Ele deveria ter dito “Curados e refinados através disso”, mas o que quer dizer com “E, aliás”?

 

Agora podemos entender as palavras dos nossos sábios: “Israel é contada pela Lua e as nações do mundo, pelo Sol” (Sucá 29). Portanto, a luz do sol é um ditado para o conhecimento mais claro, como está escrito: “É claro como o Sol.” E sobre as nações do mundo, que não receberam a Torá e as Mitzvot, dizem as Escrituras que o Criador as ofereceu a todas as nações e às todas as línguas, mas estas não desejaram deleitar-se na Luz da Torá, considerada como a “Lua”, que recebe a sua Luz do Sol, a Luz regular. Ainda assim, elas têm a aspiração e o desejo de estudar o Nome e de chegar a conhecê-lo também.

 

Israel é contado pela Lua, que é a Torá e as Mitzvot, onde a luz do sol está vestida no seu interior. Portanto, a Torá é a funda do Criador.

 

Está escrito no Zohar que “A Torá e o Criador são um”. Isso significa que a Luz do Criador está vestida na Torá e nas Mitzvot, e Ele e a Sua funda são Um. Assim, Israel é contato pela Lua para complementar a si mesmo na Torá e nas Mitzvot. Portanto, eles são naturalmente premiados também com o Criador. Contudo, como as nações do mundo não guardam a Torá e as Mitzvot, ou seja, a funda, elas não têm nem a Luz do Sol.

 

Esse é o significado de “No futuro, o Criador irá retirar o sol da sua funda”. E eles disseram: “Shechiná nos inferiores; uma necessidade sublime”, no sentido de que o Criador deseja e anseia por isso.

 

Esse é o significado dos “Seis dias de trabalho”, no sentido do trabalho na Torá e nas Mitzvot, pois “Tudo foi criado pelo Eterno para alcançar Seus propósitos” (Provérbios 16:4). E mesmo o trabalho nos dias da semana ainda é o Trabalho do Criador, como está escrito: “E a estabeleceu, não para ser deserta e, sim, para ser habitada” (Isaías 45:18). É por isso que é chamada “Uma funda”.

 

E a Shabat é a Luz do Sol, o dia do descanso na vida eterna. Ou seja, Ele preparou o mundo em dois níveis:

 

1)    Que a Sua Shechiná fosse revelada pela Torá e pelas Mitzvot nos seus dias de trabalho;

 2) Que Ele seja revelado no mundo sem Torá e Mitzvot.

 

Esse é o significado de “Farei isto a seu tempo, ou o apressarei” (Isaías 60:22). Recompensado: Eu o apressarei, no sentido de através da Torá e das Mitzvot. Não recompensado: No seu tempo, pois a evolução da criação com todo o sofrimento traz a correção final e a redenção da humanidade, até que o Criador coloque a Sua Shechiná sobre os inferiores. Isso é chamado “No seu tempo”, através da evolução pelo tempo.

 

 

 

126. Um sábio vem à cidade

(Ouvi durante a refeição de Shavuot, Tav-Shin-Zayin, Maio de 1947, Tel-Aviv)

 

Um sábio vem à cidade.” O Criador é chamado de “Sábio”. Ele vem à cidade, pois em Shavuot (Banquete das Semanas) Ele mostra a Si Mesmo para o mundo.

 

O preguiçoso diz: ‘Há um leão no caminho’, e se o sábio não estiver em casa? E se a porta estiver trancada?” Nossos sábios disseram que a questão é: “Se você trabalhou e não encontrou, não acredite.” Portanto, se ele vê que não encontrou a aproximação do Criador, então lhe é dito que ele não deve ter trabalhado o suficiente. É por isso que o versículo o chama de “preguiçoso”.

 

E qual é a razão de ele não ter trabalhado? Se ele está buscando a aproximação com o Criador, por que ele não quer fazer um esforço? Afinal, mesmo se você quiser obter algo corpóreo, você ainda não pode fazê-lo sem trabalho. Na verdade, é que a pessoa não quer trabalhar. O problema não é aquele que declara que “Há um leão no caminho”, mas que a Sitra Achra seja, de acordo com o que está escrito,  “um leão que espreita em lugares secretos”. Isso quer dizer que aquele que começa a andar pela Senda do Criador, acaba se encontrando com o leão no caminho. E aqueles que fracassam nisso não conseguem se recuperar.  

 

É por isso que ele tem medo de começar, pois quem pode derrotar o leão? Então lhe é dito “Não há leão no caminho”, ou seja, “Não há ninguém além Dele”, como está escrito. É assim porque não há outra força além Dele, por meio de “E Deus fez com que Ele seja temido”.

 

Então o indivíduo encontra outra desculpa: “E se o Sábio não estiver em casa?” A Sua casa é a Nukva, a Shekiná (Divindade). Então ele não pode ter certeza se está andando ou não no caminho da Kedushá (Santidade).

 

É por isso que ele diz que talvez o Sábio, ou seja, o Criador, não esteja em Sua casa. Ou seja, isso não é Dele, não é da Kedushá, então como ele pode saber se está avançando na Kedushá? Então lhe é dito: “O Sábio está em Sua casa”, no sentido de “A alma lhe ensinará”, e por fim ele saberá que está avançando na Kedushá.

 

Então ele diz: “E se a porta estiver trancada e for impossível entrar no palácio, como em ‘Nem todos que desejam ter o Criador virão a tê-lo’?” Então lhe é dito: “A porta não está trancada.” Afinal, vemos que muitas pessoas foram recompensadas com a entrada no palácio.

 

Então ele responde: “De qualquer maneira, eu não irei.” Isso significa que, se ele é preguiçoso e não quer se esforçar, ele se torna argumentativo e astuto, e pensa que estão apenas tornando o trabalho mais pesado para ele.

 

Mas, na verdade, aquele que deseja se esforçar vê o contrário. Ele vê que muitos tiveram sucesso. E aqueles que não querem se esforçar vêem que há pessoas que não tiveram sucesso. E mesmo que não tenham tido sucesso é porque descobriram que não queriam se esforçar. Mas como ele é preguiçoso e quer justificar suas ações, ele prega como um homem sábio. Na verdade, o fardo da Torá e das Mitzvot deve ser aceito nem qualquer argumento ou reclamação, e então ele terá sucesso.

 

 

 

127. A diferença entre o núcleo central, a essência e a abundância agregada

(Sucot Inter 4, Tav-Shin-Guimel, 30 de setembro de 1942, Jerusalém)

 

 

Sabe-se que a partida dos Mochin e a cessação do Zivug ocorrem somente às adições de Mochin, e que o núcleo do nível em ZON é Vav e uma Nekudá (Ponto). Isso significa que, em essência, Malchut não tem mais que um ponto, um ponto preto sem nada branco nele.

 

Se o indivíduo aceita esse ponto como o núcleo, e não como algo supérfluo do qual deseja se livrar, mas, além disso, o aceita como um adorno, isso é chamado de “Uma bela morada no seu coração”. Isso é porque ele não condena essa servidão, mas a torna essencial para si mesmo. Isso é chamado “Elevar a Shechiná do pó”. Quando o indivíduo mantém a base e a considera essencial, jamais cai do seu nível, pois não há partida alguma nessa essência.

 

E quando alguém assume trabalhar como um ponto preto, inclusive no lugar mais escuro do mundo, a Santa Shechiná diz: “Não há onde se esconder de ti”. Assim, “Estou atado a Ele num único nó”, “e jamais será separado”. Por causa disso, a pessoa não tem interrupção da Dvekut (Adesão).

 

Se alguma Iluminação, chamada “Adição”, vem a ele de Cima, ele a aceita por meio de “Inevitável e não intencional”, pois isso vem do Emanador, sem o despertar do inferior. Esse é o significado de “Eu sou preto, mas lindo”, porque quem puder aceitar a escuridão, verá que “Eu sou lindo”.

 

Esse é o significado de “Aquele que crê, que venha aqui”. Quando o indivíduo se afasta de todos os seus compromissos e quer apenas trabalhar a fim de beneficiar o Criador, e trabalha por meio de “Eu fui uma besta com Você”, então ele é recompensado com a visão da perfeição final. Esse é o significado de “Um indivíduo sem coração, ela lhe disse”. Isso significa que, como não tinha coração, precisava ser imprudente; senão, ele não poderia se aproximar.

 

Mas, às vezes, nos encontramos num estado de “Shechiná no exílio”, quando o ponto descende até o conjunto de BYA (Beriá, Yetzirá e Assyiá) separado. Nesse momento, ele é chamado “Como uma rosa entre espinhos”, pois tem a forma de espinhos e cardos. Nesse estado, ele não pode ser aceito, já que ali dominam as Klipot (Cascas).

 

Isso vem através das ações do homem, já que as ações do homem abaixo afetam a raiz da sua alma acima, na Shechiná. Isso significa que se uma pessoa abaixo é escrava do desejo de receber ela faz a Klipá reinar sobre a Kedushá acima.

 

Esse é o significado do Tikun Chatzot (Correção da meia-noite). Rezamos para elevar a Shechiná do pó, para elevá-la em importância, posto que as noções de “Acima” e “Abaixo” implicam cálculos de importância e de transcendência. E isso é considerado um ponto preto.

 

No Tikun Chatzot o ponto preto prevalece e diz que quer guardar o versículo de “Libni e Shimei”. Libni allude a Lavan (Branco), e não preto, e Shimei alude a Shmi’a (Ouvir), isto é, à razoabilidade, que implica que assumir o “Fardo do Reino dos Céus” é para ele uma questão razoável e aceitável. E o Tikun Chatzot é o Tikun da Mehitza (Divisória), a correção de separar a Kedushá da Klipá, ou seja, corrigir o mau sentimento contido no desejo de receber, e conectá-lo ao desejo de doar.

 

Golah (Exílio) tem as mesmas letras de Ge’ulah (Redenção). Esse é o significado de “Aquele que pode proteger os daninhos deve compensar o prejudicado com o melhor que tiver”. E isso se refere ao versículo que diz: “Quando há julgamento abaixo, não há julgamento Acima”.

 

 

128. O orvalho pinga de Galgalta a Zeir Anpin

(Ouvi em Mishpatim 3, Tav-Shin-Guimel, 27 de fevereiro de 1943)

 

 

O orvalho pinga de Galgalta a Zeir Anpin. E a respeito do cabelo pálido, há um entalhe embaixo de cada cabelo, e esse é o significado de “Ele que me alquebrou com uma tempestade” (Jó 9:17). E esse é o significado de “Então, de dentro de um turbilhão, o Eterno respondeu a Jó” (Jó 38:1). E esse é o significado de “Isso dará cada um que possa para o número dos que são contados: metade de um siclo (shékel) segundo o siclo da santidade” (Êxodo 30:13). E esse é o significado de “uma Beka (entalhe) por cabeça”, “para expiar pelas vossas almas” (Êxodo 30:16).

 

Para entender a questão do cabelo, é o preto e a tinta. Isso significa que, quando o indivíduo se sente longe do Criador, porque tem pensamentos invasivos, isso é chamado “cabelo”. E “pálido” significa brancura. Isso significa que, quando a Luz do Criador é despejada nele, ele se aproxima do Criador, e ambos juntos são chamados “Luz e Kli (vaso)”.

 

A ordem do trabalho é que, quando o indivíduo desperta para o trabalho do Criador, isso ocorre por lhe ser concedida palidez. Nesse momento, ele sente vitalidade e Luz no trabalho do Criador. Depois, vem um pensamento invasivo, pelo qual ele cai do seu nível e se afasta do trabalho. O pensamento invasivo é chamado Se’ara (tempestade/cabelo). E há um entalhe embaixo do cabelo, o qual é um entalhe e uma deficiência no crânio.

 

Antes de os pensamentos invasivos chegarem, ele tinha um Rosh (cabeça) completo e estava próximo do Criador, e através dos pensamentos invasivos ele se afastou do Criador. Isso é considerado ter uma deficiência. E, pelo sofrimento, quando se arrepende, ele atrai um fluxo de água. Portanto, o cabelo se torna um duto para transferir a abundância, pelo qual se considera que ele foi premiado com a brancura.

 

E depois os pensamentos invasivos voltam de novo, e assim ele se afasta do Criador mais uma vez. Isso cria um entalhe novamente, um buraco e uma deficiência no crânio, e através do sofrimento, do arrependimento, ele atrai um fluxo de água mais uma vez, e o cabelo se torna um duto para transferir a abundância.

 

Essa ordem continua repetidamente, por meio de altos e baixos, até que os cabelos sejam acumulados na medida completa. Isso significa que, a cada vez que se corrige, ele atrai abundância. Essa abundância é chamada “orvalho”, como em “Minha cabeça está cheia de orvalho” (Cântico dos Cânticos 5:2). Isso é assim porque a abundância vem de forma intermitente, e a cada vez é como se ele recebesse uma gota. Quando o trabalho do indivíduo está completo e ele atinge a quantia máxima, até “que não mais se entreguem à insensatez” (Salmos 85:9), considera-se que, a partir do orvalho, os mortos ressuscitarão.

 

Esse é o significado do entalhe, no sentido de que os pensamentos invasivos fazem buracos na cabeça.

 

E, também, a respeito da questão do meio shekel, no sentido de que ele é meio culpado e meio inocente. Mas devemos entender que as metades não existem ao mesmo tempo. Ao invés disso, a cada vez existe uma coisa completa. Isso é assim porque se ele descumpriu uma Mitzvá e não a guardou, ele não é mais considerado beinoni (meio, mesclado), mas um rachá (um perverso completo).

 

No entanto, isso ocorre em duas fases. Num momento ele é justo, aderido ao Criador, e então é completamente inocente. E, quando está em descenso, ele é um perverso. Esse é o significado de “O mundo foi criado ou para o justo completo ou para o perverso completo”. E é por isso que é chamado “Metade”, pois são duas partes, duas fases.

 

E isso é “Para expiar pelas vossas almas”. Por meio do entalhe, quando o indivíduo sente que a cabeça está incompleta devido à chegada de um pensamento invasivo, a sua mente não está inteiramente com o Criador. E quando ele se arrepende, isso o faz expiar por sua alma. É assim porque se ele se arrepende toda vez ele atrai abundância até que a abundância seja preenchida por meio de “Minha cabeça está cheia de orvalho”.  

 

 

129. A Shechiná no pó

(Eu ouvi)

 

Você gosta de sofrer. Então ele disse ‘nem eles nem o a sua recompensa’, sobre essa beleza, a qual se desgasta no pó”. Sofrer está primariamente em um lugar acima da razão. E a medida do sofrimento depende da extensão em que contradiz a razão. Isso é chamado “Fé acima da razão”, e esse trabalho leva contentamento ao Criador. Assim, a recompensa é que, por meio desse trabalho, há contentamento para o seu Fazedor.

 

Porém, no entremeio, antes que o indivíduo possa prevalecer e justificar a Sua orientação, a Shechiná (Divindade) está no pó. Isso significa que o trabalho por meio da fé, chamado Shechiná, está no exílio, cancelado no pó. E ele disse sobre isso “nem eles nem a sua recompensa”. Isso significa que ele não pode aguentar o período intermediário. E esse é o significa da resposta a ele, “estou chorando por isso e por aquilo”.

 

 

 

 

 

 



 

[2] Ambas as palavras consistem das mesmas letras em hebraico, e quando não há marcas de pontuação, como na Bíblia, elas parecem iguais.

[3] * Em hebraico, a mesma palavra é usada para tiro (atirar) e para indicar algo.

[4] Em hebraico, Krevut significa “se aproximando”, mas também “batalhas”.

[5] Em hebraico, as palavras Melach (sal) e Melech são soletradas da mesma forma e pronunciadas de forma muito similar.

[6] Arei Miskenot significa cidades-armazém, mas também “cidades de aflição” e “cidades de pobreza”.

[7] Kidush - uma bênção recitada sobre vinho ou suco de uva para santificar o Shabat e os feriados judaicos.

[8] Em hebraico, Ben (filho) tem a mesma raiz que Mevin (entendimento).

[9] Livni também significa brancura..

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