1. Não
existe ninguém além Dele
(Baal Ha Sulam; ouvido e registrado por seu filho Rabash)
(Tradução de CK)
Está escrito: “Não existe ninguém além Dele”. Isto
significa que não existe nenhum outro poder no mundo capaz de se opor ao
Criador. E a razão pela qual o homem vê que no mundo existem coisas e poderes
que negam Seu Poder Absoluto deve-se, unicamente, a que o Criador assim o
deseja. E este modo de correção se chama “a mão esquerda rejeita e a direita
aproxima”. Isto é, aquilo que a esquerda rejeita é considerado uma correção.
Isto significa que existem, no mundo, coisas que, desde o princípio, têm a
finalidade de desviar o homem do caminho correto, por meio das quais ele é
rejeitado da Kedushá (Santidade).
O benefício dessas rejeições consiste em que, por meio
delas, a pessoa recebe uma necessidade e um desejo completo de que o Criador
lhe ajude, pois vê que de outra forma estaria perdida. A pessoa não só não
progride em seu trabalho, mas regride, isto é, faltam-lhe forças para observar
a Torá e as Mitzvot, inclusive em Lo
Lishmá (não em benefício Dele). Somente superando todos os obstáculos
de maneira genuína, acima da razão, pode-se observar-se a Torá e as Mitzvot.
Porém, nem sempre a pessoa possui a força necessária para elevar-se acima da
razão, mas, ao contrário, encontra-se forçada a desviar-se da senda do Criador,
Deus não o queira, ainda que em Lo Lishmá.
Aquele que sempre sente que os fragmentos são maiores que
o todo, isto é, que existem muito mais descensos que ascensos, e que não vê um
fim para esses estados, pensa que permanecerá para sempre à margem da
Santidade, pois sente que lhe é demasiado difícil observar até mesmo uma
vírgula da Torá, a menos que possa transcender acima da razão,
mas nem sempre é capaz de consegui-lo.
Qual será o propósito de tudo isto?
É que, assim, ele chega a um momento em que finalmente
compreende que ninguém pode ajudá-lo, exceto o próprio Criador. Isto leva a
pessoa a fazer um sincero pedido para que o Criador lhe abra os olhos e o
coração, de tal forma que consiga fazer a Dvekut. Disto se deduz
que todas as rejeições que havia sentido provinham do próprio Criador. Isto
significa que os descensos não foram motivados por falhas suas, ou porque ele
não tivesse capacidade de sobrepor-se aos obstáculos. Ao contrário, às pessoas
que verdadeiramente desejam acercar-se do Criador, e que não se contentam com
ninharias, isto é, não permanecem sempre como crianças ignorantes, lhes será
enviada ajuda do Alto, para que não possam dizer: “Graças a Deus, tenho Torá, Mitzvot e
ações bondosas, por isso, o que mais posso necessitar?”
Somente a pessoa que possui um desejo sincero receberá
ajuda do Alto. E a essa pessoa constantemente se lhe será mostrado o quão
deficiente ainda é em seu atual estado. Isto significa que lhe serão enviados
pensamentos e opiniões que estão em completa oposição a esse trabalho. A
finalidade disso é fazê-la ver que não está unida ao Criador. E na medida em
que consegue sobrepor-se a isso, acaba vendo sempre que se encontra ainda mais
distante da Santidade que os demais, que se sentem unidos a Hashem.
Como sabemos, o ser humano sempre tem queixas e
reclamações, e não consegue justificar o comportamento do Criador, e muito
menos como Ele se comparta com respeito à própria pessoa. Por que não se sente
unido ao Criador? No limite, chega a sentir que não participa da Santidade de
forma alguma. Embora, às vezes, em algumas ocasiões, a pessoa receba um
despertar do Alto, que a ajuda a reviver momentaneamente. Em seguida, volta a
cair ainda mais profundamente. No entanto, isto é o que a leva a descobrir que
somente o Criador pode ajudá-la a acercar-se Dele. O homem deve sempre tratar
de aferrar-se ao Criador. Isto significa que todos os seus pensamentos devem
orientar-se para Ele, e mesmo que se encontre no pior estado, um estado do qual
não se pode imaginar descenso maior, não deve abandonar Seu domínio. Isto é,
não deve conceber que exista outra autoridade que lhe esteja impedindo de
entrar na Santidade, e que seja capaz de causar-lhe benefício ou qualquer dano.
Isto significa que não deve pensar que existe a força da Sitra
Achra impedindo-o de executar boas ações e seguir a senda de Deus. Ao
contrário, tudo é levado a cabo pelo Criador. Baal Shem Tov dizia que aquele
que sustenta a existência de outra força no mundo, isto é, as klipot (cascas),
encontra-se no estado de “servir a outros deuses”. Não é necessariamente o
pensamento herético o responsável pela transgressão. Porém, se ele crê que
existe alguma outra autoridade e força além do Criador, desta forma já está
cometendo um pecado. Mais ainda, aquele que sustenta que o homem é dono de sua
própria autoridade e que afirma que foi ele mesmo quem ontem não desejou seguir
a senda do Criador, também ele está cometendo uma heresia. Isto se dá porque
ele não acredita que seja somente o Criador quem guia o mundo.
Sem dúvida, quando comete um pecado, certamente deve
arrepender-se e lamentar-se por havê-lo cometido. Mas também aqui devemos
colocar a dor e o sofrimento no lugar que se lhes corresponde, isto é, onde se
encontra a causa desse pecado? Porque este é o ponto que se deve lamentar.
Então, a pessoa deve arrepender-se e dizer: “Cometi esse pecado porque o
Criador me arrojou da Santidade a um lugar de imundície, a uma latrina, a um
lugar de sujeira”. Isto significa que o Criador lhe deu um desejo e um anelo
para divertir-se e respirar o ar de um lugar pestilento.
(Aqui poderia se afirmar, como está escrito nos livros,
que, às vezes, a pessoa encarna num porco. Devemos interpretar isto, como ele
disse, entendendo que alguém recebe um desejo e um anelo de extrair vida
daquelas coisas que considerava previamente como meros dejetos, mas agora
deseja nutrir-se por meio delas).
Além disso, quando alguém sente que chegou a um estado de
ascenso, e percebe bom sabor no trabalho, não deve dizer: “Agora encontro-me
num estado no qual compreendo que vale a pena adorar o Criador”. Por outro
lado, deve saber que nesse momento foi favorecido pelo Criador, e, portanto,
Ele o acercou mais de Dele Mesmo, e esta é a razão pela qual, nesse momento,
percebe bom sabor no trabalho. E deve se cuidar de não abandonar o domínio da
Santidade, afirmando que exista alguém mais que esteja operando além do próprio
Criador.
(Isto significa que ser favorecido pelo Criador, ao
contrário, não depende da pessoa mesma, senão somente do Criador. E o homem,
com sua mente externa, não pode compreender porque razão o Senhor o favoreceu
nesse momento e não em outros).
Do mesmo modo, quando se lamenta de que o Criador não se
acerca dele, também deve cuidar em que sentido lamenta esse distanciamento do
Criador. Porque se o faz pensando em seu benefício pessoal, então, estaria se
convertendo num receptor para si mesmo, para seu próprio benefício; e quem
recebe está separado Dele. Ao contrário, deveria lamentar o exílio da Shekinat,
pelo fato de estar causando aflição à Divindade.
Vejamos um exemplo. Um pequeno órgão de uma pessoa está
dolorido. Certamente, essa dor é percebida, basicamente, na mente e no coração.
O coração e a mente representam a totalidade do homem. E, logicamente, a
sensação de um só órgão não pode ser equivalente a toda a sensação de dor de
uma pessoa, que sente a maior parte da dor.
Assim é a dor que o homem sente por estar afastado do
Criador, já que o homem não é mais que um órgão particular da Divina Shekinat,
pois esta é a alma de Israel em sua totalidade. Portanto, a dor particular não
se assemelha ao grau de dor geral. Isto significa que existe aflição na Shekinat quando
os órgãos estão apartados Dela, e quando Ela não pode sustentá-los.
(E poderíamos dizer que este é o significado do que
disseram nossos sábios: “Quando um homem se arrepende, o que é o que diz a
Shekinat? É mais leve do que a minha cabeça).
E se o homem não vincula a si mesmo o sofrimento por
estar afastado do Criador, salva a si mesmo de cair no engano do desejo de
receber “para si mesmo”, que é considerado “separação da Santidade”.
O mesmo acontece quando alguém sente certa aproximação do
estado de Santidade. Ou seja, quando sente alegria por ter sido favorecido pelo
Criador. Também então a pessoa deve afirmar que seu prazer se deve,
principalmente, a que agora existe deleite Acima, na Sagrada Shekinat,
porque esse pequeno órgão particular conseguiu acercar-se Dela, ao invés de
afastar-se de Seu lado. E assim a pessoa obtém alegria do fato de ser
recompensada com o poder de deleitar a Divindade. Isto está em concordância com
o cálculo superior que diz que quando há deleite para o individual é apenas uma
parte do deleite do total. Através desses cálculos, a pessoa perde sua
individualidade e evita ser aprisionada pela Sitra Achra, que é o
desejo de receber “em benefício próprio”.
Sem dúvida, o desejo de receber é necessário, pois dele
está composto o homem em sua totalidade. Isto se deve a que qualquer coisa que
exista numa pessoa, aparte o desejo de receber, não pertence à criatura, senão
que se lhe atribui ao Criador. Porém, o desejo de receber prazer deve ser
corrigido, transformando-se em doação. Isto significa que o prazer e o deleite
que o desejo de receber consegue devem corresponder à intenção de brindar
deleite Acima cada vez que a criatura sinta prazer, posto que este foi o
propósito da Criação: beneficiar às Suas criaturas. E a isto se chama “o
deleite da Shekinat Acima”.
Por essa razão, a pessoa deve encontrar instrução de como
causar deleite Acima. E, certamente, se alguém recebe prazer, também Acima se
sentirá contentamento e satisfação. Por isso, deseja estar sempre dentro do
Palácio do Rei, e ser capaz de brincar com os tesouros do Rei. Isto, também,
por suposto, provocará contentamento e satisfação Acima. Disto se depreende que
todo o anelo deve estar orientado exclusivamente ao Criador e ao Seu deleite.
2. A Shechinah no Exílio
(Escutei em 1942)
(Tradução de Clarissa Porto Alegre Schmidt)
O Zohar Sagrado diz: “Ele é Shochen (Morador)
e Ela é Shechinah (Divindade)”. Assim devemos interpretar
essas palavras: É sabido que não há transformação alguma relativamente à Luz
Superior (ela não muda). Assim está escrito: “Eu, o Senhor, não mudo”. Todos os
nomes e denominações dizem respeito somente aos Kelim (vasos), que consistem
no desejo de receber incluído em Malchut, a raiz da Criação.
Desde lá, ele desce até nosso mundo, até as criaturas.
Todos esses discernimentos, começando com Malchut,
que é a raiz da criação dos mundos, até as criaturas, é denominado Shechinah.
O Tikkun (correção) geral
ocorrerá quando a Luz Superior brilhar nelas, nas criaturas, em plenitude e
perfeição.
A
Luz que brilha nos vasos se chama Shochen, e os vasos
geralmente são chamados Shechinah. Em outras palavras, a Luz reside dentro da
Shechinah. Isto quer dizer
que a Luz é chamada Shochen, porque está dentro dos vasos; ou
seja, que a totalidade (ou o conjunto) dos Kelim se
chama Shechinah.
O tempo que precede o brilho da Luz nos Kelim em
absoluta plenitude se chama "Tempo de Correções". Isto
significa que realizamos correções para que a Luz possa brilhar plenamente
dentro dos vasos. Antes disto, esse estado é chamado "Divindade no Exílio".
Isso
significa que ainda não há perfeição nos Mundos Superiores. Abaixo, nesse
mundo, deve existir um estado através do qual a Luz Superior se encontra dentro
do desejo de receber. Este Tikkun é considerado “receber com o fim de
doar”. Entretanto, o desejo de receber é
preenchido de discernimentos desprezíveis e inúteis, que não honram aos Céus.
Isto significa que o lugar em que o coração deveria ser um Tabernáculo para a
Luz de Deus, se converte em um espaço de desperdícios e de sujeira. Em outras
palavras, a vilania toma conta de todo o coração.
Isto se chama "Divindade no pó".
Significa que ela é rebaixada ao nível do chão, e que todos desprezam tudo o que
é relativo à Santidade, e que não existe nenhum desejo de retirá-la do pó. Ao
invés disso, eles escolhem coisas desprezíveis, e isto gera tristeza à Shechina,
porque a pessoa não constrói um lugar no coração que possa ser convertido em um
Tabernáculo para a Luz Divina.
3. A questão do recebimento espiritual
(Tradução de Charles Kiefer)
Logramos discernir muitos graus e aspectos diferentes nos
Mundos Superiores. Devemos compreender que tudo o que se refere a graus e
discernimentos trata apenas dos recebimentos das almas com respeito
àquilo que elas recebem desses Mundos. Isto segue a regra de Aquilo que
nós não alcançamos, não conhecemos por nome algum. Isto se deve a que a
palavra nome indica um attainment, como ocorre com
a pessoa que nomeia algum objeto depois de haver discernido sobre ele, de
acordo com seu próprio entendimento. Enfim, a realidade em geral divide-se em
três discernimentos sobre a questão do recebimento espiritual:
1. Atzmuto (Sua Essência)
2. Ein Sof (Infinito)
3. Neshamot (almas)
* * *
1. De forma alguma discutimos o Atzmuto.
Isto porque a raiz e o berço das criaturas começam no Pensamento da
Criação, onde elas estão incorporadas, tal como está escrito: “A culminação
de um ato se encontra no seu pensamento inicial”.
2. Ein Sof está relacionado com
o Pensamento da Criação, que é “Seu desejo de fazer o bem as Suas
criaturas”. Isto é considerado Ein Sof, e esta é a conexão que
existe entre Atzmuto e as almas. Percebemos essa conexão
sob a forma de “o Seu desejo de deleitar as suas criaturas”. Ein
Sof é o começo. Chama-se “uma Luz sem Kli”. Não
obstante, aqui se encontra a raiz das criaturas, que é a conexão entre o
Criador e as criaturas, e que chamamos de “Seu desejo de fazer o bem às Suas
criaturas”. Este desejo começa no mundo de Ein Sof e
estende-se até o mundo de Assiyá, o nosso mundo.
3. As Neshamot (almas), que são as
receptoras do bem que Ele deseja brindar.
***
Ele recebe o nome Ein Sof, porque essa é a
conexão entre Atzmuto e as almas, a qual percebemos como “Seu
desejo de fazer o bem às Suas criaturas”. Não temos expressão alguma para isso,
exceto para essa conexão do desejo de desfrutar, e este é o começo desse
vínculo chamado “Luz sem Kli”. E assim começa a raiz das criaturas;
ou seja, a conexão entre o Criador e as criaturas, e que chamamos de “Seu
desejo de fazer o bem as Suas criaturas”. Este desejo nasce no mundo de Ein
Sof e se estende até o mundo de Assiyá.
Todos os mundos em si são considerados Luz sem Kli.
Nesse sentido, não há nome nenhum para eles. São discernidos como Atzmuto,
e neles não há recebimento.
Não pensemos que ali é possível captar muitos aspectos.
Isto se deve a que esses discernimentos se encontram em potência. No entanto,
assim que as almas chegam, esses discernimentos se manifestam nas almas que
recebem as Luzes Superiores, conforme o que elas tenham arranjado e corrigido. Assim, as almas poderão
receber, cada uma conforme a sua própria capacidade e qualificação.
Então, esses discernimentos se revelam de fato. Contudo,
enquanto as almas não alcancem a Luz Superior os Mundos seguirão sendo
considerados Atzmuto. Os Mundos são considerados Ein Sof,
com respeito às almas que recebem dos Mundos. A razão disto é que tal conexão
entre os Mundos e as almas, isto é, o que os Mundos dão às almas provém
do Pensamento da Criação, que vem a ser a correlação entre as almas
e Atzmuto. Esta conexão chama-se Ein Sof. Quando
rezamos ao Criador, e lhe solicitamos que nos ajude, dando-nos o que desejamos,
nos dirigimos ao nível de Ein Sof. Ali se encontra a raiz das
criaturas, que busca distribuir-lhes prazer e deleite, o que chamamos de “Seu
desejo de fazer o bem as Suas criaturas”.
A oração é dirigida ao Criador que nos criou, e Seu Nome
é “Seu desejo de fazer o bem as Suas criaturas”. Ele é chamado de Ein
Sof porque se refere ao que antecede ao Tzimtzum (restrição).
E ainda depois da restrição não ocorre nenhuma mudança Nele, posto que a Luz é
imutável e Ele sempre conserva Seu Nome. A proliferação de Nomes se dá somente com respeito
a quem recebe. Por isso, o primeiro Nome que se revelou, e que para as
criaturas, representa a raiz, foi Ein Sof. E esse Nome permanece
inalterado. Todas as restrições e mudanças sucedem unicamente com respeito a
quem recebe, e Ele sempre resplandece no primeiro nome, que é Seu
desejo infinito de fazer o bem as Suas criaturas.
Por tal motivo rezamos ao Criador, chamado Ein
Sof, que ilumina sem restrição alguma e sem fim. E o que depois se converte
no fim estriba nas correções para os receptores, com o propósito de que possam
receber Sua Luz.
A Luz Superior consiste em dois discernimentos: a pessoa
que recebe e o recebido. Tudo o que dizemos a respeito da Luz Superior se
refere somente à forma como a pessoa que recebe se impressiona com o que
recebeu. Obviamente,
nem a pessoa nem o recebido recebem por si só o nome de Ein Sof.
Por outro lado, o recebido se denomina Atzmuto, e o sujeito da
recepção se denomina “alma”, sendo esse um novo discernimento que é parte do
todo. É novo no que diz respeito a que o desejo de receber está impresso ali.
E, nesse sentido, a criação recebe o nome de “existência a partir da ausência”.
Todos os Mundos em si são considerados uma unidade
simples, e não há alteração na Santidade. Isto é o que significa “Eu, o Senhor,
não mudo”.
Não há Sefirot nem Bechinot (discernimentos)
de nenhuma índole na Santidade. Nem mesmo os Nomes mais puros se referem à Luz
em si, já que esta é um discernimento de Atzmuto, onde não há attainment. Por outro lado, todas
as Sefirot e todos os discernimentos tratam somente daquilo que a pessoa
percebe neles. Isto é assim porque o Criador quis que alcançássemos
e que
compreendêssemos a abundância como Seu desejo de fazer o bem às Suas
criaturas.
Para que pudéssemos alcançar aquilo que Ele havia
desejado que alcançássemos e que compreendêssemos como é o Seu desejo
de fazer o bem às Suas criaturas, Ele nos criou e nos conferiu os cinco sentidos, e
esses sentidos obtém suas impressões da Luz Superior. Em conseqüência disso, recebemos muitos
discernimentos, posto que o sentido geral chama-se “o desejo de receber”, e se
divide em muitos aspectos, conforme a medida que os receptores sejam capazes de
receber. Deste modo,
encontramos muitas divisões e detalhes chamados ascensos e descensos, expansão,
partida e etc. Devido a que o desejo de receber se denomina “criatura” e um
“novo discernimento”, a palavra começa precisamente no lugar onde o desejo de
receber começa a receber as impressões. A fala representa discernimentos,
partes das impressões, pois aqui já existe uma correlação entre a Luz Superior
e o desejo de receber. Isto se chama Luz e Kli. No entanto, não
existe definição nem nome a respeito da Luz sem Kli, já que uma Luz
que não seja alcançada por um receptor é considerada Atzmuto, sobre
o qual é proibida qualquer declaração, posto que é inalcançável. Como poderíamos
nomear e definir aquilo que não conseguimos alcançar?
Disto aprendemos que quando oramos para que o Criador nos
envie salvação, cura e etc. há duas coisas que devemos distinguir:
1) O Criador;
2) Aquilo que provém Dele.
Sobre o primeiro discernimento, considerado Atzmuto,
fica proibida toda e qualquer declaração, como acabamos de mencionar. No
segundo discernimento, aquilo que provém Dele e que é considerado a Luz que se
expande dentro de nossos vasos, isto é, dentro de nosso desejo de receber, é o
que chamamos de Ein Sof. Representa a conexão do Criador com as
criaturas, o que significa “Seu desejo de fazer o bem às Suas criaturas”. O desejo de receber é
considerado como a Luz em expansão que finalmente alcança o desejo de
receber. Quando o desejo de receber capta a Luz em expansão, esta adota o
nome de Ein Sof. Chega aos receptores através de muitos véus, para que
estes possam ser recebidos pelo inferior. Disso resulta que todos os
discernimentos e todas as mudanças são levados a cabo especificamente no
receptor, segundo o receptor se impressione com elas. Não obstante, devemos
entender a matéria sobre a qual estamos falando. Quando falamos de
discernimentos nos Mundos, referimo-nos a discernimentos potenciais. E quando o
receptor alcança os ditos discernimentos, eles passam a ser discernimentos
propriamente ditos.
O recebimento espiritual se dá quando o sujeito do
recebimento e o alcançado se unem, já que sem um sujeito não pode existir forma
para alcançá-lo, dado que não haveria quem obtivesse a forma do recebido. Por
isso, este discernimento é considerado Atzmuto, a respeito do qual
não é possível declaração alguma. Então, como podemos dizer que o
alcançado tem sua própria forma? Só podemos falar se nossos
sentidos se impressionam com a Luz em expansão, que é “Seu desejo de fazer o
bem a Suas criaturas”, e que chega, de fato, às mãos dos receptores. De
forma similar, quando examinamos uma mesa, nosso sentido do tato a percebe como
algo duro. Também reconhecemos sua longitude e sua largura graças a nossos
sentidos. Sem dúvida, isso implica que a mesa se manifeste dessa mesma forma a
alguém que possua diferentes sentidos. Por exemplo: do ponto de vista de um
anjo, se ele examinasse a mesa a veria de acordo com seus próprios
sentidos. Portanto, não podemos determinar nenhuma forma a respeito do anjo, já
que desconhecemos os sentidos que ele possui. Assim, dado que não podemos
alcançar o Criador, é-nos impossível dizer que formas possuem os Mundos
vistos de Sua perspectiva. Somente podemos alcançar os Mundos de acordo
com os nossos próprios sentidos e sensações, já que esta foi Sua vontade para
que a alcançássemos dessa maneira. Este é o sentido de “Não existe alteração alguma na Luz”. Por
outro lado, todas as transformações ocorrem nos Kelim, isto é, nos
nossos sentidos, de onde as medimos segundo a nossa própria imaginação. Nós
medimos absolutamente tudo de acordo com nossa própria imaginação. Disto se
conclui que se muitas pessoas examinassem um mesmo objeto ou entidade
espiritual, cada um o compreenderia segundo a sua própria imaginação e
sentidos, percebendo-o, cada um, de um modo diferente. Além disso, numa pessoa, a forma
mudará conforme os seus próprios estados de ascensos e descensos, como já
explicamos antes, ao dizer que a Luz é Luz Simples, e que todas as
transformações e mudanças são levadas a cabo somente dentro de quem as recebe.
Oxalá a Luz nos seja concedida e que possamos seguir os
caminhos do Criador, e servir-Lhe, já não com o propósito de receber uma
recompensa em troca, mas com a finalidade de deleitá-Lo e assim elevar e
resgatar a Divindade do pó.
Oxalá nos seja concedida essa adesão com o Criador e
também a revelação de Sua Santidade às suas criaturas.
4. Qual a razão
para o peso que a pessoa sente quando se anula perante o Criador durante o
trabalho?
(Ouvi em 12 de Shevat, 6 de
fevereiro de 1944)
(Tradução de Clarissa Porto
Alegre Schmidt)
Devemos saber a razão do peso
que se sente quando se deseja trabalhar para anular o “eu” perante o Criador, e
a não preocupar-se com interesse próprio. Chega-se a um estado em que é como se
o mundo inteiro houvesse parado, e estivéssemos sozinhos; aparentemente fora
deste mundo, deixando de lado a família e amigos, com o propósito de anular-se
perante o Criador.
Há uma razão muito simples
para isto, e ela se chama “falta de fé”. Isto significa que não enxergamos
frente ao que estamos nos anulando; ou seja, não sentimos a existência do
Criador. Isto provoca peso.
Não obstante, quando começamos
a sentir a existência do Criador, a alma imediatamente deseja anular-se e
conectar-se com a raiz, para integrar-se como “uma vela no interior de uma
tocha”, sem nenhum discernimento mental ou racional. Mas isto ocorre de forma
natural, do mesmo modo que uma vela se anula diante de uma tocha.
Deste modo, conclui-se que a
essência do trabalho consiste somente em alcançar a sensação da existência do
Criador; ou seja, sentir a existência do Criador e que “toda a Terra está repleta
de Sua Glória”. Este será todo o trabalho. E que todo o vigor e esforço
empenhados sejam somente com o objetivo de alcançar essa sensação e com nenhuma
outra finalidade.
Não devemos nos confundir
pensando que teremos que obter algo. Pelo contrário, só existe uma coisa que é
necessária: a fé no Criador. Não se deve pensar em mais nada, o que quer dizer
que a única recompensa que se espera pelo trabalho é a fé no Criador.
É necessário que saibamos que
não existe diferença entre a pequena ou a grande luminosidade que podemos
alcançar. Isso se deve a que não ocorrem transformações na Luz. Pelo contrário,
todas as transformações ocorrem nos Kelim (vasos) que recebem
a abundância, como está escrito em “Eu, o Senhor, não mudo”. Portanto, se conseguirmos
aumentar os próprios vasos, na mesma medida aumentará a nossa luminosidade.
Ainda assim a questão é: Como
é que se aumentam os vasos? A resposta é: Na medida em que se louve e se
agradeça ao Criador por nos ter trazido para mais perto de Si Mesmo, onde será
possível perceber e pensar na importância de ter sido recompensado com certa
conexão com Ele.
A luminosidade que cresce
dentro de nós será proporcional ao grau de importância com que nos imaginamos.
Devemos saber que jamais chegaremos a conhecer a verdadeira medida da
importância da conexão entre o homem e o Criador, porque não é possível
calcular o seu verdadeiro valor. Por outro lado, quanto mais a
apreciamos, nesta mesma medida captaremos seu valor e sua importância. Há uma
força nisto, através da qual se pode conseguir que essa luminosidade permaneça
de maneira permanente.
(Revisado até aqui).
5. Lishmá é um despertar de Cima. E por que necessitamos de
um despertar de Baixo?
O recebimento de Lishmá (em
benefício Dele) não é algo que esteja ao alcance de nosso entendimento, já que
para a mente humana é inconcebível que algo assim possa existir em nosso mundo.
Isto se deve a que a pessoa só tem permissão de entender que se ela
observa Torah e Mitvot receberá algo. Nisso
deve haver alguma recompensa, ela imagina; do contrário, ela não poderia fazer
nada.
Por outro lado, Lishmá é uma
iluminação que vem do Alto, e somente quem a recebe pode conhecer e compreender
esse fenômeno. Sobre isso está escrito: “Prova e vê que o Senhor é bom”.
Assim, devemos entender porque uma pessoa deve
buscar o conselho de como alcançar Lishmá. E, depois disso, ela
deve entender que nenhum conselho será de qualquer utilidade quanto a isso. Se
Deus não nos outorga outra natureza chamada de “o desejo de
doar” nenhum trabalho poderá nos ajudar a alcançar Lishmá.
A explicação, segundo os nossos sábios, é: “Não
depende de ti completar o trabalho; e não és livre para fugires dele” (Pirket
Avot 2: 21). Isso significa que a pessoa deve produzir o despertar de
Baixo, já que isso se discerne como uma oração.
A oração representa uma carência e sem uma carência
não pode existir preenchimento nenhum. Por fim, quando alguém sente a
necessidade de trabalhar em Lishmá, esse preenchimento vem de Cima,
e a resposta à oração vem de Cima, e a pessoa recebe o preenchimento da sua
necessidade. Então, o trabalho da pessoa é necessário para receber Lishmá do
Criador somente sob a forma de uma carência e um Kli (vaso).
Não obstante, a pessoa jamais poderá alcançar esse preenchimento por si mesmo,
mas unicamente como um presente que vem do Criador.
Por outro lado, a oração deve ser completa, ou
seja, desde o mais fundo do coração; e a pessoa deve ter certeza absoluta de
que não existe ninguém no mundo que possa ajudá-lo, exceto o Criador Ele Mesmo.
Ainda assim, como pode a pessoa saber que ninguém
mais além do próprio Criador pode ajudá-la? A pessoa pode obter esse
discernimento precisamente se já havia empregado todas as forças que tinha ao
seu alcance sem conseguir nada. Portanto, a pessoa deve fazer todo o possível
no mundo para lograr o nível de trabalho chamado Em benefício Dele.
Somente então a pessoa consegue elevar uma prece do fundo de seu coração e ser
ouvida pelo Criador.
Quando a pessoa está trabalhando em favor de Lishmá deve
saber que precisa incorporar por completo a vontade de trabalhar unicamente com
a intenção de doar, o que equivale a dizer que deve trabalhar somente para doar
sem receber nada em troca. Somente nesse momento a pessoa começa a perceber que
seus órgãos físicos se opõem a isso. A partir daí, a pessoa começa a ter uma
clara noção de que não lhe resta outra alternativa a não ser transferir a sua
demanda ao Criador e pedir-Lhe ajuda para que seu corpo aceite escravizar-se de
modo incondicional diante Dele, já que a pessoa se dá conta de que não consegue
persuadir seu corpo a anular-se por completo. Nesse momento, precisamente
quando a pessoa descobre que não há razão para esperar que seu corpo concorde a
trabalhar por si mesmo para o Criador, a oração surge do fundo do coração e
acaba sendo aceita por Ele.
É preciso entender que ao alcançar Lishmá a
pessoa mata a sua inclinação ao mal, que é o desejo de receber, e ao adquirir o
desejo de doar todo o desejo de receber é cancelado. A isso se chama “matar o
desejo de receber”. Porque foi retirado e porque não tem mais nada a fazer ao
não estar mais em uso, quando sua função é revogada, considera-se que o desejo
de receber foi morto.
Quando alguém analisa “que tipo de recompensa
recebe o homem como resultado de todo o seu trabalho durante todo o tempo em
que trabalhou sob o Sol”, ela descobre que não é tão difícil assim
escravizar-se diante de Seu Nome por duas razões: de qualquer forma, seja
voluntária ou involuntariamente, a pessoa precisa realizar todo o tipo esforços
neste mundo. E o que é que sobra como resultado de todos esses esforços? No
entanto, se a pessoa trabalha em Lishmá ela recebe muito
prazer durante e através do trabalho em si.
Segundo o versículo “E não me invocaste a Mim, oh Jacó,
nem tampouco de Mim te cansaste, oh Israel”, o maguid de Dubna
disse que isso é similar ao caso do homem rico que saiu do trem e que levava
consigo uma pequena maleta. Ele a colocou ali onde todos os comerciantes
colocavam as suas bagagens. Os carregadores logo carregaram as malas e as
levaram ao hotel onde os comerciantes estavam alojados. O carregador de malas
pensou que o homem rico havia carregado a sua própria maleta e que não
necessitava de seus serviços e por isso carregou somente uma mala grande.
O comerciante quis pagar pouco ao carregador, como
era de seu costume, mas o homem não quis aceitar, e lhe disse: “Coloquei na
entrada do hotel uma mala enorme que me deixou exausto, e foi a única que
consegui carregar, e agora você quer me pagar com essa ninharia?”
A lição é que quando uma pessoa vem e diz que
trabalhou de maneira exaustiva em observar Torah e Mitvot,
o Criador retruca: “Tu não me invocaste, oh Jacó”. Noutras palavras, “a maleta
que carregaste não foi a Minha, mas a de outra pessoa. Porque disseste que
observar a Torah e as Mitzvot te custou muito
esforço deves ter trabalhado para outro patrão. Por isso, procure-o, para que
ele te pague”. Esse é o significado de “nem tampouco de Mim te cansastes, oh
Israel”. Isso quer dizer que quem trabalha para o Criador não sente este
trabalho como uma carga para si mesmo. Pelo contrário, esse trabalho lhe
proporciona prazer e exaltação espiritual.
Por outro lado, quem trabalha com diferentes
propósitos, não pode se dirigir ao Criador se queixando e Lhe exigindo que lhe
proporcione vitalidade no trabalho, já que não está trabalhando para o Criador;
e, portanto, não pode esperar pagamento. Em vez disso, a pessoa pode queixar-se
para quem ela esteve trabalhando, para que lhe proporcione prazer e vitalidade.
E porque existem tantos propósitos em Lo
Lishmá (não em benefício Dele), a pessoa deve exigir a quem trabalhou
que lhe proporcione a devida recompensa, que consiste em prazer e vitalidade.
Quanto a isso se diz o seguinte: “Semelhantes a eles são os que o fazem, e
qualquer um que confia neles”.
É certo que isso nos causa perplexidade. Depois de
tudo, vemos que mesmo quando alguém assume para si o Jugo dos
Céus sem nenhuma outra intenção, mesmo assim não recebe uma sensação
de vitalidade de tal forma que possa dizer que esta a empurra a assumir para si
mesmo o Jugo dos Céus. E a única razão porque alguém assume essa
carga se dá somente porque ela coloca a fé acima da razão. Noutras palavras, a
pessoa faz isso superando a si mesma à força, contra a sua própria vontade.
Assim, podemos perguntar o seguinte: “Por que a pessoa sente o esforço desse
trabalho, com o corpo constantemente buscando o momento de se livrar disso,
como quem não sentisse vitalidade alguma através desse trabalho? De acordo com
o que foi dito anteriormente, quando alguém trabalha humildemente e tem somente
o propósito de trabalhar com a intenção de doar, por que o Criador não lhe
proporciona o sabor e a vitalidade implícitos no trabalho?
A resposta é que devemos entender que esse assunto
representa uma grande correção. Se não fosse assim, se a Luz e a vitalidade
tivessem brilhado de maneira instantânea quando começamos a realizar o trabalho
do Reino dos Céus, teríamos recebido vitalidade no trabalho. Noutras palavras, o
próprio desejo de receber teria concordado em executar o trabalho. Nesse
estado, a pessoa, certamente, estaria de acordo, pois desejaria saciar esse
desejo. Ou seja, estaria trabalhando em benefício próprio. E se esse fosse o
caso, ela jamais poderia alcançar Lishmá. Isto se deve a que a
pessoa estaria obrigada a trabalhar para seu próprio benefício, já que sentiria
maior prazer no trabalho de Deus do que nos desejos corporais. Assim, a pessoa
seria obrigada a permanecer em Lo Lishmá, já que desse modo poderia
obter satisfação em seu trabalho. Ali onde há satisfação não há nada que a
pessoa possa fazer, porque não poderia trabalhar sem a expectativa de uma
recompensa. Então, se a pessoa recebesse satisfação através desse trabalho
em Lo Lishmá teria que permanecer para sempre nesse estado.
Isso seria parecido ao que se faz: quando muitas pessoas estão correndo atrás
de um ladrão, ele também corre e grita “Pega, ladrão; pega, ladrão”. Desse
modo, é impossível saber quem é o ladrão e é impossível prendê-lo e restituir
ao dono o que foi roubado. Mas, quando o ladrão, que representa o desejo de
receber, não sente o sabor e a vitalidade implícitos no trabalho de aceitar
o Jugo dos Céus, e se nesse mesmo estado ele trabalha com a fé
acima da razão, sob coação, e se o seu corpo acaba por se acostumar com esse
trabalho contra seu próprio desejo de receber, então ele possui os meios para
levar a cabo o trabalho que terá como propósito levar Contentamento ao Fazedor.
Isso tudo é assim porque o objetivo principal de
uma pessoa é alcançar a Dvekut (adesão) com o Criador através
de seu próprio trabalho, que se discerne como equivalência de forma,
que é o estado em que todos os atos estão dirigidos somente à doação, tal como
diz o versículo: “Então, te deleitarás no Senhor”. O sentido de “Então” é que,
no começo do trabalho, a pessoa não recebe prazer. Muito ao contrário, no
começo o trabalho é forçado.
No entanto, depois, quando a pessoa já se acostumou
a trabalhar com a intenção de doar e a não examinar-se a si mesma para
comprovar se está sentindo prazer ou não no trabalho, senão que acredita que
está trabalhando para satisfazer o Fazedor, ela deve saber que o Criador aceita
o trabalho dos inferiores sem se importar com quanto ou como este seja feito.
Em absolutamente tudo, o Criador examina a intenção, e isso Lhe produz
satisfação. Em conseqüência, à pessoa lhe é concedido o que diz o versículo:
“Então, te deleitarás no Senhor”. Inclusive, sentirá prazer e deleite durante o
trabalho de Deus, já que agora trabalha realmente para o Criador, pois o
esforço que havia realizado durante o trabalho coagido lhe dá a capacidade de
trabalhar para Ele de maneira sincera. Nesse instante, a pessoa descobre que
também ali o prazer que ela recebe está vinculado ao Criador, isto é, é doado
especificamente para o Criador.
(Tradução de
Charles Kiefer)
6. O que significa “apoio na Torah” durante o
trabalho
(Escutei em 1944)
Quando se estuda
a Torah e se deseja que todos os atos sejam praticados com o
fim de doar, deve-se obter sempre apoio na Torah. O apoio é
considerado como o sustento, que é amor, temor, contentamento, energia etc. E
tudo isto deve ser extraído da Torah. Em outras palavras, a Torah deve
levar a um determinado resultado.
No entanto,
quando se estuda a Torah e não se obtém estes resultados, este
estudo não é considerado Torah. A razão disto é que a Torah trata
da Luz vestida na Torah, conforme disseram nossos sábios: “Eu criei
a inclinação ao mal, e Criei a Torah como tempero”. Isto se
refere à Luz que está na Torah, já que esta Luz é a que reforma.
Também devemos
saber que a Torah se divide em dois discernimentos:
1) Torah;
2) Mitzvah.
Com efeito, é
impossível compreender estes dois discernimentos antes que nos seja concedido
caminhar pelo caminho de Deus, conforme a premissa que diz: “O conselho do
Senhor é para aqueles que O temem”. Isto é assim porque quando nos encontramos
no estado de preparação para entrar no Palácio do Rei é impossível compreender
o caminho da verdade.
Não obstante, é
possível formular um exemplo a respeito do contrário, já que até mesmo uma
pessoa que se encontra no período de preparação pode atingir certo grau de
entendimento. Pois nossos sábios dizem (Talmud, Sutá 21):
“Rabi Yosef disse: ‘Uma mitzvah protege e salva quando é
praticada... A Torah protege e salva tanto quando é praticada como quando não
é’”.
O fato é que a
expressão “quando é praticada” se refere ao momento em que a pessoa tem certa
quantidade de luz. Essa luz que a pessoa obtém pode ser usada somente enquanto
se encontra dentro dela, pois neste momento ela sente contentamento por causa
dessa Luz que brilha em seu interior. Isto é compreendido como uma mitzvah,
ou seja, ainda que a pessoa não tenha recebido recompensa com a Torah,
ela tem como resultado uma vida de Kedushá (Santidade)
concedida pela Luz.
O mesmo não
ocorre com a Torah. Quando a pessoa alcança algum meio para
realizar o seu trabalho (estudo), ela pode usar este meio que tenha atingido,
inclusive quando não o esteja praticando, ou seja, ainda quando não disponha da
Luz. Isto se deve a que somente a luminescência afastou-se dela, mas ela pode
utilizar o meio que alcançou no trabalho mesmo quando a luminosidade tenha lhe
abandonado.
Porém, deve-se
ter claro que uma mitzvah, quando é praticada, é maior que a Torah
quando não está sendo praticada. A expressão “Quando é praticada”
significa que a pessoa está recebendo a Luz neste momento; é isto que se quer
dizer com “praticada”; ou seja, quando a pessoa recebe a Luz em si.
Portanto, quando
a pessoa já tem a Luz, uma (a prática da) mitzvah é mais
importante que a (o estudo da) Torah quando a pessoa não tem
Luz; em outras palavras, quando não há vitalidade na Torah. Por um
lado, a Torah é importante porque é possível usar o meio que
se tenha atingido através dela. Por outro, ela carece da força chamada “Luz”.
Em um tempo de (cumprimento de) mitzvah a pessoa recebe a
vitalidade que chamamos “Luz”. Por isto, neste sentido, uma mitzvah é
mais importante.
Assim, quando a
pessoa está carente de sustento, é considerada “malvada”. A razão para
isto é que em tal estado de carência a pessoa não pode dizer que o Criador
dirige o mundo como “Bom e Benfeitor”. E por isto é chamada de “malvada”, já
que condena o seu Criador ao sentir que carece de vitalidade e que não tem nada
com o que regozijar-se para poder agradecer ao Criador por haver-lhe
proporcionado prazer e deleite.
A pessoa pode
dizer que acredita que o Criador dirige Sua Providência até os demais de
maneira benévola, pois sabe que o caminho da Torah é uma
sensação que se percebe nas entranhas. Se ela mesma não percebe o prazer e o
deleite, como pode convencer-se de que os demais os percebem?
Se a pessoa
realmente acreditasse que a Providência se revela como benevolente ao próximo,
esta certeza deveria proporcionar-lhe prazer e deleite, por entender que o
Criador guia o mundo na direção do prazer e do deleite. Se não sentimos
vitalidade e regozijo, qual seria o benefício de dizer que Ele vela pelo seu
próximo com benevolência?
O mais
importante é o que a pessoa sente em seu próprio corpo, seja bom ou ruim. Ela
desfruta do prazer de seu amigo somente se desfruta do benefício que traz
prazer ao amigo. Em outras palavras, aprendemos que com a sensação do corpo, as
razões não importam. O único que importa é se a pessoa se sente bem.
Neste estado, a
pessoa declara que o Criador é “Bom e Benfeitor”. Se a pessoa se sente mal, não
pode declarar que o Criador se comporta consigo de uma maneira benevolente.
Deste modo, precisamente se a pessoa sente prazer com a felicidade de seu
amigo, e se essa sensação exalta o seu espírito e essa alegria a faz torcer
pelo bem estar de seu amigo, somente então pode sustentar que o Criador é um
bom mentor.
Se a pessoa não
tem alegria, se sente mal. Neste caso, como pode dizer que o Criador é
benevolente? Por isso, um estado em que a pessoa não possui vitalidade nem
regozijo é considerado um estado em que ela não sente amor pelo Criador nem tem
a capacidade de justificar-Lhe e de ser feliz, como seria de se esperar de
alguém que é honrado por servir a um Rei tão importante e grandioso.
É preciso saber
que a Luz Superior se encontra em um estado de completo repouso, e toda a
expansão dos Nomes Sagrados ocorre através dos inferiores. Em
outras palavras, todos os Nomes que a Luz Superior têm provém
do alcance dos inferiores. Isto significa que a Luz Superior é nomeada de
acordo com a forma com a qual a pessoa a alcança, ou seja, de acordo com sua
sensação.
Quando a pessoa
não sente que o Criador lhe dá algo, que nome pode Lhe dar, se não recebe nada
Dele? Ao contrário, quando a pessoa crê no Criador, ela diz que cada um dos
estados que sente provém Dele. Neste estado, a pessoa nomeia o Criador de
acordo com as suas próprias sensações.
Se a pessoa se
sente feliz no estado em que se encontra, declara que o Criador é chamado
“Benevolente”, já que isso é o que ela sente, que recebe o bem Dele. Neste
estado, a pessoa é chamada de tzadik ou tzadika (homem
justo ou mulher justa), porque o tatzdik justifica o seu
Criador.
No entanto, não
existe um estado intermediário em que a pessoa afirme sentir-se tanto bem
quanto mal. A pessoa pode estar feliz ou infeliz, mas não tem ambos os estados
ao mesmo tempo.
Nossos sábios
escreveram (Talmud, Berachot 61): “O mundo não foi
criado nem para os totalmente maus, nem para os totalmente justos”. A razão
para isto é que não existe uma realidade tal em que a pessoa se sinta bem e mal
ao mesmo tempo.
Quando nossos
sábios disseram que há caminhos intermediários, se referiram a respeito das
criaturas, que possuem discernimento de tempo, que podem conceber um meio termo
entre dois tempos, um depois do outro; e assim temos aprendido que existem
ascensos e descensos. Estes são dois momentos: em um, a pessoa é malvada, e em
outro, é justa. Mas não é possível que ela possa sentir-se bem e mal
simultaneamente, em um mesmo momento.
Disto se
depreende que quando os sábios afirmaram que a Torah era mais
importante que uma mitzvah se referiam precisamente ao
momento em que esta não é colocada em prática; ou seja, quando a pessoa não
tem vitalidade. Então a Torah é mais importante que uma mitzvah sem
vitalidade.
A causa disto é
que a pessoa não pode obter nada de uma mitzvah sem
vitalidade, mas com a Torah ela ainda conserva um sentido de
trabalho, daquilo que havia recebido enquanto a praticava. Ainda que não haja
mais vitalidade, essa noção que ela havia recebido permanece na pessoa, e ela
pode utilizá-la. Existe um tempo em que uma mitzvah importa
mais que a Torah; ou seja, quando há vitalidade na mitzvah e
não há vitalidade na Torah.
Desta forma,
quando não está sendo praticada, ou quando a pessoa não obtém vitalidade nem
regozijo com o trabalho, não há outro conselho que não o de rezar.
Não obstante, durante a reza a pessoa deve saber que é malvada por
não perceber o deleite e o prazer implícitos no mundo, ainda que faça todo tipo
de raciocínios para crer que o Criador somente outorga o bem.
Apesar disto,
nem todos os pensamentos que a pessoa tem são verdadeiros no caminho do
trabalho. Durante o trabalho, se o pensamento leva à ação, ou em outras
palavras, a uma sensação que vem das entranhas de tal forma que estas sentem
que o Criador é Benevolente, os órgãos deveriam obter vitalidade e regozijo
disto. Se a pessoa não possui vitalidade, para que servem todos os raciocínios
se agora os órgãos não amam o
Criador devido a que ele lhes dá Sua Shefa (abundância)?
Assim, a pessoa
deve saber que se não obtém vitalidade nem regozijo do trabalho é um sinal de
que é malvada, porque é infeliz. Todos os raciocínios que realize serão falsos
se não conduzirem a uma ação; ou seja, a uma sensação nos órgãos sobre o amor
que se sente pelo Criador, porque Ele outorga deleite e prazer às criaturas.
(Tradução de
Clarissa Porto Alegre Schmidt)
7. O que
significa dizer que o hábito se transforma numa segunda natureza?
Quando nos acostumamos com alguma coisa, essa coisa
se nos converte numa segunda natureza. Por isso, não existe nada que o homem
possa sentir como não sendo sua própria realidade. Isso quer dizer que, embora
alguém não tenha sensação alguma em determinada coisa, ainda assim poderá vir a
senti-la se se acostumar com ela.
É preciso entender que existe uma diferença entre o
Criador e as criaturas no que concerne às sensações. Para as criaturas existe
“aquilo que elas percebem” e “aquilo que é percebido”, ou, o que é a mesma
coisa, aquele que alcança e aquilo que foi alcançado. Isto significa que temos
alguém que sente e que está conectado com certa realidade.
Sem dúvida, uma realidade sem alguém que a perceba
é o Criador em si. Nele “não existe pensamento nem sensação alguma”. Isto não é
assim em relação a uma pessoa: sua existência como um todo existe somente por
meio da sua própria sensação de realidade. Inclusive, a validez da sensação de
realidade é comprovada apenas por aqueles que a percebem.
Noutras palavras, aquilo que o “perceptor”
experimenta ou sente é o que ele próprio considera verdadeiro. Se alguém
experimenta algo amargo em determinada circunstância, isto é, que se sente mal
na situação em que se encontra e se sofre por causa desse estado, então essa
pessoa é considerada malvada no que diz respeito ao Trabalho,
já que condena o Criador, pois Ele é chamado Bom e Benfeitor porque doa somente
bondade ao mundo. No entanto, ainda assim, com respeito às sensações dessa
pessoa, ela sente que recebeu o contrário, isto é, que a situação em que ela se
encontra é ruim.
Por isso devemos compreender o que disseram os
nossos Sábios (Talmud, Berachot 61): “O mundo foi criado somente para os
totalmente malvados ou para os totalmente justos”. Isto quer dizer que alguém
pode, já seja, provar e sentir o bom sabor do mundo, e assim justificar o
Criador e dizer que Deus doa somente bondade ao mundo, ou provar e sentir o
gosto amargo do mundo, e, então, ser malvado porque está condenando o Criador.
Resulta que tudo é medido de acordo com a sensação
da pessoa. Não obstante, todas essas sensações não guardam relação alguma com o
Criador, tal como está escrito no “Poema da Unificação”: “Assim como ela é tu
sempre serás, nem escassez e nem excessos em ti haverá”.
Para concluir, todos os mundos e todas as mudanças
de estado existem somente no que diz respeito aos receptores, na exata medida
em que a pessoa os adquire.
8. Qual é a diferença entre “Sombra de Kedushah” e
“Sombra de Sitra Achra”?
Escutei em julho de 1944
(Tradução de Clarissa Porto Alegre Schmidt)
Está escrito (Cântico
dos Cânticos, 2): “Até que sopre a brisa do dia e se dissipem as sombras”.
Devemos compreender o que representam as sombras no trabalho e o que são “duas
sombras”. O fato é que quando a pessoa não sente a Sua Providência e que Ele
dirige o mundo sendo “Bom e Benfeitor”, isto é considerado como “uma sombra que
oculta o sol”.
Em outras
palavras, assim como uma sombra produzida sobre o corpo que oculta o sol não o
altera de maneira alguma, pois o sol segue brilhando com plena intensidade, do
mesmo modo, quem não sente a existência de Sua Providência não provoca nenhuma transformação
Acima. E mais, não existe nenhuma alteração Acima tal como está escrito: “Eu, o
Senhor, não mudo”.
Ao invés disto,
todas as transformações têm lugar nos receptores.
Devemos observar
dois discernimentos nesta sombra, neste ocultamento:
1) Quando a pessoa
já tem a capacidade de superar os estados de escuridão e ocultação, e de
justificar o Criador, e de rezar com o propósito de que seus olhos sejam
abertos para que vejam que todos os estados de ocultação que ela sente vêm
Dele; ou seja, que Ele é quem executa tudo isto sobre a pessoa para que ela
possa encontrar sua oração e desejar aderir-se a Ele.
A razão para isto
é que somente por meio do sofrimento que a pessoa recebe Dele, e com o desejo
de liberar-se das dificuldades e fugir dos tormentos, ela faz tudo o que pode.
Então, ao receber estes estados de ocultação e de aflição, com certeza
encontrará a conhecida cura, que consiste em rezar tudo o que possa para que o
Criador lhe ajude e lhe livre do estado em que se encontra. Neste estado a
pessoa ainda crê em Sua Providência.
2) Quando a pessoa
chega a um estado em que não pode mais aguentar e diz que todo o sofrimento e
dor que sente se deve a que o Criador os enviou com o propósito de fazê-la
subir de nível, então ela entra em um estado de heresia. Isto ocorre porque ela
não pode crer em Sua Providência, e, portanto, é natural que não possa rezar.
Assim, há dois
tipos de sombras; e este é o sentido da frase “e as sombras se dissipam”, que
se refere a que as sombras fugirão do mundo.
Por isso é que é
necessário discernir entre a sombra de Kedushá (Santidade) e a
sombra de Sitra Achra. No Livro do Zohar está
escrito que a sombra de Klipah (casca) se refere a “outro deus
que é estéril e não dá fruto”. Em Kedushah (Santidade), porém, se denomina “sob
a sua sombra me sentei com deleite, e o seu fruto foi doce ao meu paladar”. Em
outras palavras, a pessoa diz que todos os estados de ocultação e de sofrimento
que sente foram enviados pelo Criador para oportunizar o trabalho acima
da razão.
Ter força para
dizer isto, ou seja, sentir que tudo é provocado pelo Criador, é para o nosso
próprio benefício. Dito de outro modo, através disto a pessoa pode chegar a
trabalhar com o fim de doar, e não mais para si mesmo. Neste momento, ela chega
a descobrir e a crer que o Criador desfruta especificamente deste trabalho, que
é feito totalmente acima da razão.
Então, a pessoa
não reza ao Criador para que as sombras se dissipem do mundo, mas diz: “Vejo
que o Criador deseja que eu Lhe sirva deste modo, completamente acima da
razão”. Assim, em tudo o que ela faz, declara: “É claro que o Criador desfruta
deste trabalho; deste modo, por que eu deveria me importar se trabalho sob um
estado de ocultação de Seu Rosto?”.
Como a pessoa
deseja trabalhar com o fim de doar, ou seja, para transmitir deleite ao
Criador, ela não se sente rebaixada pelo seu esforço de nenhum modo. Quer
dizer, ela não se sente em estado de ocultação de Seu Rosto, ou que o seu
trabalho não leva deleite ao Criador. Pelo contrário, ela está de acordo com a
liderança do Criador, ou seja, ela aceitará de coração a maneira que o Criador
deseje que ela sinta a Sua existência durante o trabalho. E isto é assim porque
a pessoa não tem em conta o que lhe proporciona prazer, mas pensa naquilo que
possa levar contentamento ao Criador. E deste modo a sombra lhe dá vida.
Isto se chama:
“Sob sua sombra me deleitei”. Quer dizer que a pessoa deseja atingir um estado
em que ela possa sobrepor-se acima da razão. Portanto, se ela não se esforça durante
um estado de ocultação, quando ainda estão presentes as condições para rezar e
pedir que o Criador Se aproxime de si, mas é negligente com essa situação,
então lhe é enviado um segundo estado de ocultação em que nem sequer é possível
rezar. E isto ocorre por ter incorrido no erro de não ter se esforçado ao
máximo para rezar ao Criador. E a consequência disto leva a tal nível de
abatimento.
No entanto, depois
que a pessoa chega a este estado, obtém compaixão de Cima, de onde lhe é
concedido um novo despertar. O mesmo ciclo se repete até que ela finalmente
fortalece a sua oração; e assim o Criador a escuta, dela se aproxima, e a
corrige.
9. Quais são as
três coisas que ampliam a mente de alguém durante o Trabalho?
(Escutei em Elul, em agosto de 1942)
O Sagrado Zohar interpreta
a seguinte frase que nossos sábios escreveram: “Três coisas ampliam nossa
mente: uma bela mulher, uma bela morada e belos Kelim (vasos)”.
Quando diz “uma bela mulher” refere-se à Sagrada Shekiná (Divindade).
“Uma bela morada” é o coração, e “belos Kelim são os órgãos.
Precisamos
explicar que a Sagrada Shekiná não pode se manifestar em sua
verdadeira forma, que é um estado de graça e de beleza, exceto quando a pessoa
possui belos Kelim, que representam os “órgãos” recebidos do
coração. Isto significa que a pessoa deve, em primeiro lugar, purificar seu
coração para transformá-lo numa bela morada, anulando o desejo de receber para
si mesmo, e acostumando-se a trabalhar em ações que em sua totalidade estejam
governadas pela finalidade de outorgar. Dessa forma, são obtidos belos Kelim,
isto é, que seus desejos, chamados Kelim, foram purificados da
recepção para si mesmos. Agora, ao contrário, são puros e discernidos como
outorgamento.
No entanto, se a
morada não é bela, então o Criador declara: “Ele e Eu não podemos habitar
embaixo do mesmo teto”. A razão disso é que deve haver equivalência de forma
entre a Luz e o Kli (vaso). Desse modo, quando alguém assume e
aceita a fé na pureza, tanto na mente quanto no coração, é recompensado com uma
bela mulher, que se refere à Sagrada Shekiná, manifestando-se
diante dele em graça e beleza. E isso amplia a sua mente.
Noutras
palavras, através do prazer e do regozijo, a Sagrada Shekiná manifesta-se em
suas entranhas, enchendo os seus Kelim externos e internos.
Isso se obtém através da inveja, da luxúria e
da honra que “afastam a pessoa do mundo”. Ao falar de inveja,
refere-se à inveja a respeito da Sagrada Shekiná, relacionada com o ciúme, no
mesmo sentido da frase “O ciúme do Senhor das Hostes”. A honra
significa que a pessoa deseja incrementar a Glória dos Céus. E a luxúria se diz
em virtude de “Haveis escutado o desejo dos humildes”.
10. O que significa “Apressa-te, Amado Meu, no
Trabalho”?
É preciso levar
em conta que assim que alguém começa a caminhar pela senda do desejo de
conseguir fazer tudo pelo Criador, chega a estados de ascensos e descensos. Às
vezes, a pessoa se encontra num descenso tal que chega a pensar em fugir
da Torá e das Mitzvot (preceitos). Isto quer
dizer que a pessoa recebe pensamentos tais que já não sente mais o desejo de
estar sob o domínio da Kedushá (Santidade).
Nesse estado a
pessoa deve convencer-se do contrário: de que é a Santidade que foge dele. Isso
se deve ao fato de que quando alguém deseja manchar a Santidade, ela se adianta
e foge dele. Se alguém crê nisso e se sobrepõe à fuga, então a Brach (fuga,
em hebraico) se converte em Brachá (benção), tal como está
escrito em: “Bendiz, Senhor, o que fazem, e recebe com agrado a obra de suas
mãos”. (CK)
11. Alegria com Tremor (11)
(Ouvi em Tav-Shin-Chet, 1947-1948)
A alegria é considerada amor, o qual é existência. É
semelhante a quem constrói para si uma casa sem fazer nenhum buraco nas
paredes. Você descobre que ele não pode entrar na casa, já que não há nenhum
local oco nas paredes da casa pelo qual ele possa entrar. Portanto, um espaço
vazio deve ser construído para que ele possa entrar na casa.
Assim, onde há amor deve haver também temor, pois o temor
é o vazio. Em outras palavras, o indivíduo deve despertar o temor de que ele
possa não ser capaz da intenção de doar.
Segue-se que, quando há ambos, há completude. Caso
contrário, cada um deseja revogar o outro. Por essa razão, devemos tentar ter
ambos no mesmo lugar.
Esse é o significado da necessidade do amor e do temor. O
amor é chamado de existência, enquanto o temor é chamado de deficiência e de
vazio. Apenas com os dois juntos é possível haver completude. Isso é chamado
“duas pernas” porque, precisamente quando se tem duas pernas, o indivíduo
consegue caminhar.
(Tradução de Poliana Pasa)
12.
A Essência do Trabalho do Homem
(Ouvi durante uma refeição no segundo dia de Rosh Hashaná, Tav-Shin-Chet,
5 de outubro de 1948)
A essência
do trabalho do homem deveria ser sentir o sabor de doar contentamento ao seu
Criador, já que tudo o que o indivíduo faz para si mesmo o afasta Dele, por
causa da disparidade de forma. Inversamente, se o indivíduo age de forma a
beneficiar o Criador, mesmo com o menor dos atos, isso ainda é considerado uma Mitzvá
[mandamento].
Portanto, o esforço primário do indivíduo deveria ser adquirir a força para sentir
sabor na doação, o que acontece quando o prazer na auto-recepção diminui.
Então, o indivíduo lentamente adquire gosto em doar.
13. Uma Romã
(Ouvi durante uma refeição no segundo dia de Rosh Hashaná, Tav-Shin-Chet,
5 de outubro de 1948)
Uma romã,
ele disse, indica o que os nossos sábios disseram: “Até mesmo os vaidosos entre
vocês estão repletos de Mitzvot, como uma romã” (Eruvin 19a:9). Ele disse que Rimon [romã]
vem da palavra Romenut [exaltação, sublimidade], a qual está acima da
razão. E o significado é que “os vaidosos entre vocês estão repletos de Mitzvot.”
A medida do preenchimento é a medida em que o indivíduo consegue subir acima da
razão, e isso é chamado de Romenut.
Existe apenas o vazio em um lugar onde não há existência, como em “sobre o nada suspendeu a terra” (Jó 26:7). Você percebe qual é a medida do preenchimento do lugar vazio? A
resposta é de acordo com a elevação do próprio indivíduo acima de razão.
Isso significa que o vazio deveria ser
preenchido com exaltação, ou seja,
acima da razão, e o indivíduo deveria pedir ao Criador para lhe dar essa força.
Isso significa que todo o vazio é criado e enviado para que a pessoa se sinta
assim – sentir que está vazia – apenas a fim de preenchê-la com as Romenut
do Criador. Em outras palavras, o indivíduo deve levar tudo para o grau “Acima
da razão”.
Esse é
o significado do verso “Deus fez com que Ele seja temido”. Isso significa que
esses pensamentos de vazio vêm a fim de que a pessoa tenha uma necessidade de assumir para si mesma a fé acima da
razão. E, para isso, precisamos da ajuda do Criador.
Segue-se que, nesse momento, o indivíduo deve pedir ao Criador que lhe dê o
poder de acreditar acima da razão.
Acontece que, precisamente nesse momento, o
indivíduo precisa da ajuda do Criador,
já que a mente externa lhe permite entender o oposto. Consequentemente, naquele
momento, o indivíduo não tem outra opção senão pedir que o Criador o ajude.
Sobre isso é dito que “o desejo do indivíduo o derrota todos os dias; e se
não fosse pelo Criador, ele não poderia superá-lo.” Apenas então há o estado em
que o indivíduo entende que ninguém vai ajudá-lo a não ser o Criador. E isso é
“Deus fez com que Ele seja temido”. A questão do medo é discernida como fé, e
apenas então o indivíduo tem a necessidade da salvação do Criador.
14. O que é a Exaltação do Criador?
(Ouvi em Tav-Shin-Chet,
1947-1948)
As Romenut
[exaltação/sublimidade] do Criador
significam que o indivíduo deveria pedir ao Criador força para subir acima da
razão, pois há duas interpretações sobre as Romenut do Criador:
1. Não ser preenchido com conhecimento, que é o
intelecto com o qual o indivíduo pode responder as próprias questões. Ao invés
disso, ele quer que o Criador responda as suas perguntas. Isso é chamado de Romenut,
porque toda a sabedoria vem de cima e não do homem, e assim o homem pode
responder suas próprias perguntas. Qualquer coisa que alguém possa responder é
considerada uma resposta com a mente externa. Isso significa que o desejo de
receber entende que vale a pena observar a Torá e as Mitzvot
[mandamentos]. No entanto, se a fé acima da razão obriga o indivíduo a
trabalhar, isso é chamado “Contra a opinião do desejo de receber”.
a.
A
grandeza do Criador significa que o indivíduo se torna carente do Criador para realizar
seus desejos. Portanto: a) O indivíduo deve subir acima da razão. Então, ele vê
que está vazio e se torna carente do Criador; b) Apenas o Criador pode lhe dar
a força necessária para subir acima da razão. Em outras palavras, o que o
Criador concede é chamado “As Romenut do Criador”.
15. O que são “Outros Deuses” no Trabalho?
(Ouvi em 24
de Av, Tav-Shin-Hey, 3 de agosto de 1945)
Está escrito:
“Não terás outros deuses diante de Mim” (Êxodo 20:3). O Zohar interpreta que deve haver pedras para pesar, e
pergunta: Como o trabalho é pesado com pedras pelas quais o indivíduo sabe o
seu estado nos caminhos do Criador? E responde: É sabido que, quando o
indivíduo passa a trabalhar mais do que está acostumado, o corpo começa a
tremer e a se opor a esse trabalho com toda a sua força, pois a doação é um
peso e um fardo para o corpo. Ele não pode tolerar esse trabalho, e a
resistência do corpo aparece na pessoa na forma de pensamentos invasivos. O
corpo vem e faz as perguntas: “Quem?” e “O Quê?”.
Por meio
dessas perguntas, uma pessoa diz que todos esses questionamentos são certamente
enviados pela Sitra Achra [o outro lado] a fim de obstruí-lo no
trabalho.
O Zohar
diz que se, nesse momento, o
indivíduo diz que as perguntas vêm da Sitra Achra, ele viola o que está
escrito: “Não terás outros deuses diante de Mim”. A razão é que o indivíduo
deveria acreditar que os questionamentos vêm da Shechiná [Divindidade],
já que “não há ninguém além Dele”. No entanto, a Shechiná mostra ao
indivíduo o seu verdadeiro estado, a forma como ele está trilhando os caminhos
do Criador.
Ao lhe enviar essas perguntas, chamadas de “pensamentos invasivos”, a Shechiná vê como o indivíduo
responde às questões consideradas “pensamentos invasivos”. E com tudo isso o
indivíduo deve conhecer seu verdadeiro estado no trabalho, a fim de saber o que
fazer.
É como uma
alegoria sobre alguém que queria saber o quanto o seu amigo o amava.
Certamente, quando estão frente a frente, seu amigo se esconde devido à
vergonha. Por isso, ele envia uma pessoa para falar mal do seu amigo. Então ele
vê a reação do seu amigo enquanto está longe dele, e daí o indivíduo pode saber
a verdadeira medida do amor de seu amigo.
A lição
é que, quando a Shechiná mostra sua face – ou seja, quando o Criador dá
vitalidade e alegria ao indivíduo -, nesse estado a pessoa sente vergonha de
dizer o que pensa sobre o trabalho de doação sem receber nada para si mesma. No
entanto, quando a Shechiná não está face a face – ou seja, quando a
vitalidade e a alegria esfriam, o que é considerado não estar de frente para
ela -, então o indivíduo pode ver o seu verdadeiro estado em relação ao
objetivo de doar.
Se o indivíduo acredita que não há ninguém além Dele, e acredita que o
Criador envia todos os pensamentos invasivos, ou seja, que Ele é o operador,
então a pessoa certamente sabe o que fazer e como responder todas as perguntas.
Parece que a Shechiná envia mensageiros ao indivíduo, para ver como ele
difama o reino dos céus, e assim podemos interpretar a questão acima.
O indivíduo
pode entender isso, que tudo vem do Criador, pois é sabido que o corpo ataca a
pessoa com pensamentos invasivos. E eles não vêm quando a pessoa não está
envolvida no trabalho. Pois esses ataques, que vêm para o indivíduo como uma
sensação completa, ao ponto de esses pensamentos esmagarem a mente, chegam
especificamente após ele se dedicar à Torá e ao trabalho mais do que de
costume. Isso é chamado “pedras para pesar”.
Isso significa que essas pedras caem na mente
do indivíduo quando ele quer entender
essas questões. Depois, ele passa a pesar o propósito do seu trabalho, avalia
se realmente vale a pena trabalhar a fim de doar, trabalhar com toda sua força
e alma, e percebe que todas as suas aspirações se tornarão apenas esperança de
que o que há para se adquirir neste mundo é apenas o propósito do seu trabalho,
de levar contentamento ao seu Criador, e não qualquer questão corpórea.
Neste momento, inicia-se uma discussão amarga, já que o indivíduo vê que há argumentos de ambos os
lados. As escrituras advertem sobre isso: “Não terás outros deuses diante de
Mim”. Não diga que outro deus lhe deu as pedras com as quais podes pesar o teu
trabalho, mas “diante de Mim”.
Em vez disso, o indivíduo deve saber que isso é considerado “diante de Mim”. Isso é
para que o indivíduo veja a verdadeira forma da base e da fundação sobre as
quais é construída a estrutura do seu trabalho.
O peso no trabalho existe primariamente porque
eles são textos que negam um ao outro.
De um lado, o indivíduo deve tentar fazer com que todo o seu trabalho seja para
atingir a Dvekut [adesão] ao Criador, que todo o seu desejo seja apenas
para doar contentamento ao seu Fazedor, e não, de forma alguma, trabalhar para
receber algo para si mesmo.
Por outro lado, vemos que esse não é o objetivo original, já que o propósito da Criação não foi
que as criaturas doassem ao Criador, pois Ele não tem necessidade que as
criaturas lhe doem algo. Ao contrário, o propósito da Criação se deu devido ao
Seu desejo de fazer o bem às Suas criações, ou seja, para que as criaturas
recebessem deleite e prazer Dele.
Essas duas questões se contradizem de ponta a ponta, pois, de um lado, o indivíduo
deve doar, e por outro lado, deve receber. Em outras palavras, há a questão da
correção da Criação, que é atingir a Dvekut, discernida como
equivalência de forma, sendo que todas as ações do indivíduo serão apenas para
doar. Depois, é possível atingir o propósito da Criação – receber deleite e
prazer do Criador.
Consequentemente, quando o indivíduo se acostuma a andar nos caminhos da doação, de qualquer forma
ele não tem vasos de recepção. Quando o indivíduo anda nos caminhos da
recepção, ele não tem vasos de doação.
Portanto, por meio das “pedras para pesar” o indivíduo adquire ambos. Após a negociação
durante o trabalho, quando ele supera e assume o jugo dos céus na forma de
doação na mente e no coração, então o indivíduo pode atrair a abundância
superior, pois ele já tem uma base sólida de que tudo deve ser na forma de
doação. Assim, mesmo quando o indivíduo recebe alguma iluminação, ele a recebe
a fim de doar. Isso é porque toda a base do seu trabalho é construída somente
sobre a doação. Isso é considerado “receber para doar”.
16. O que é o “Dia do Senhor” e a “Noite do Senhor”, no Trabalho?
(Ouvi em Tav-Shin-Alehp,
1940-1941, Jerusalém)
Nossos sábios
disseram sobre o verso “Ai daquele que deseja o
dia do Eterno! Para que desejais o dia do Eterno? Ele é obscuridade, e não luz”
(Amós 5:18): “Há uma alegoria sobre um galo e um morcego que estavam esperando
a luz. O galo disse para o morcego: ‘Eu estou esperando a luz, pois a luz é
minha. Mas e você, por que você precisa dessa luz?’”(Sanhedrin 98b).
A interpretação é a seguinte: como o morcego não tem olhos para ver, o
que ele ganharia com a luz do sol? Ao contrário, para quem não tem olhos, a luz
do sol apenas torna tudo mais escuro.
Nós devemos entender essa alegoria em relação a
como os olhos estão conectados a contemplar a luz do Criador, o que o texto
chama de “o dia do Eterno”. Eles criaram uma alegoria sobre um morcego, no
sentido de que aquele que não tem olhos permanece no escuro.
Também devemos entender o que é o dia do Eterno, o
que é a noite do Eterno e qual a diferença entre eles. Discernimos o dia das
pessoas pelo nascer do sol, mas com o dia do Eterno, como fazemos?
A resposta é de acordo com a aparência do sol. Em outras
palavras, quando o sol brilha no chão, chamamos de “dia”. Quando o sol não
brilha, isso é chamado “escuridão”. É o mesmo com o Criador. Um dia é chamado
de “Revelação”, e a escuridão é chamada de “Ocultação da face”.
Isso significa que, quando há revelação da face, quando está claro como o dia
para uma pessoa, isso é chamado “um dia”. É como os nossos sábios disseram
sobre o verso “Levanta-se com a luz para assassinar o pobre e o destituído e,
ao escurecer, age como um ladrão” (Jó 24:14). Segue-se que luz é dia, pois ele
disse “ao escurecer, age como ladrão”. Ali ele diz que, se para você a questão
está clara como a luz que cobre as almas, ele é um assassino e é possível
salvá-lo na sua alma” (Pesachim 2). Portanto, na questão do “dia”, a Guemará
diz que é uma matéria tão clara quanto o dia.
O dia do Eterno, então, significa que a orientação com a qual o
Criador lidera o mundo é claramente na forma do bem e de fazer o bem. Por
exemplo, quando um indivíduo reza, a sua prece é imediatamente atendida e ele
recebe aquilo pelo qual rezou, e tem sucesso para onde quer que se volte. Isso
é chamado “o dia do Eterno”.
Inversamente, a escuridão, que é a noite, significa a ocultação da face.
Isso gera dúvidas ao indivíduo sobre a orientação do bem e de fazer o bem, e
traz pensamentos invasivos. Em outras palavras, é a ocultação dessa orientação
que traz todas essas visões e pensamentos invasivos. Isso é chamado de “noite”
e “escuridão”, quando o indivíduo vive um estado em que sente que o mundo se
tornou escuro para ele.
Agora podemos interpretar o
que está escrito: “Ai daquele que deseja o dia do
Eterno! Para que desejais o dia do Eterno? Ele é obscuridade, e não luz”.
Aqueles que esperam o dia do Eterno estão esperando para ter a fé transmitida
acima da razão, uma fé que será tão forte como se eles a vissem com seus olhos,
com certeza de que é verdade, de que o Criador vigia o mundo de uma maneira boa
e fazendo o bem.
Em outras palavras, eles não querem ver como o Criador comanda o mundo na
forma do Bem que Faz o Bem, já que ver é contraditório à fé. Ou seja, a fé é
precisamente contra a razão. E quando o indivíduo faz algo contra a sua razão,
isso é chamado “fé acima da razão”.
Isso significa que eles
acreditam que a orientação do Criador sobre as criaturas é na forma do bem e de fazer o bem.
Mesmo que não possam ver com absoluta certeza, eles não dizem ao Criador
“queremos ver a qualidade do bem e de fazer o bem dentro da razão”. Em vez
disso, eles querem que permaneça neles a fé acima da razão, mas eles pedem ao
Criador que lhes dê a força para que a fé seja tão forte como se eles a vissem
dentro da razão. Assim, não haverá diferença entre fé e conhecimento da mente.
Aqueles que desejam aderir ao Criador se referem a isso como “o dia do Eterno”.
Em outras palavras, se eles
sentem isso como conhecimento, a luz do Criador, chamada de “abundância superior”, irá para os vasos de
recepção, chamados “Kelim [vasos] da separação”. Eles não querem que
seja assim, pois a luz irá para o desejo de receber, o qual é o oposto da Kedushá
[santidade] – que, por sua vez, é contrária ao desejo de receber para si
mesmo. Ao invés disso, eles querem aderir ao Criador e isso só pode ocorrer
através da equivalência de forma.
Contudo, como é possível atingir o desejo e a súplica por
aderir ao Criador se o indivíduo nasce com uma natureza de receber apenas para
o próprio benefício? Como é possível atingir algo que é completamente contra
essa natureza? Por essa razão, o indivíduo deve fazer grandes esforços até
adquirir uma segunda natureza, que é o desejo de doar.
Quando é transmitido ao indivíduo o desejo de doar, ele
está qualificado para receber a abundância superior sem manchá-la, já que todas
as falhas vêm apenas pelo desejo de receber para si mesmo. Ou seja, mesmo
quando faz algo a fim de doar, lá no fundo há um pensamento de que ele vai
receber algo pelo ato de doação que está realizando.
Em uma palavra, o homem é incapaz de fazer qualquer coisa se ele não
receber algo em troca pelo ato. Em outras palavras, ele precisa desfrutar. E
qualquer prazer que o indivíduo recebe para si mesmo causa separação da Vida
das Vidas.
Isso o impede de aderir ao
Criador, já que a Dvekut
[adesão] é medida pela equivalência de forma. É, portanto, impossível ter
um desejo puro de doação sem uma mistura de recepção para os próprios poderes.
Então, para que o indivíduo tenha poderes de doação, é preciso uma segunda
natureza a fim de que ele tenha força para alcançar a equivalência de forma.
Em outras palavras, o Criador
é o doador e não recebe nada, pois não Lhe falta
nada. Tampouco o que Ele doa é devido a uma falta, como se sentisse uma falta
caso não tivesse para quem doar.
Devemos antes perceber isso
como um jogo. Ou seja, quando Ele quer doar, não significa que isso é algo de que Ele precisa.
Ao contrário, é tudo como um jogo. É como nossos sábios disseram a respeito da
rainha. Ela perguntou: “O que o Criador faz depois de ter criado o mundo?” A
resposta foi: “Ele senta e brinca com uma baleia”, como está escrito: “Você
criou essa baleia para brincar com ela” (Avodah Zará, p. 3).
A questão da baleia se refere a Dvekut e conexão
(como está escrito “de acordo com a abertura do homem e das conexões”). Isso
significa que o propósito, o qual é a conexão do Criador com as suas criaturas,
é apenas um jogo, não é uma questão de desejo e necessidade.
A diferença entre um jogo e um desejo é que tudo que vem
do desejo é uma necessidade. Se o indivíduo não obtém o seu desejo, ele fica
deficiente. Mas, com jogos, mesmo quando ele não obtém a coisa, isso não é
considerado uma falta. Como dizem: “Não é tão ruim não ter conseguido o que eu
planejei, porque não era tão importante”. Isso é assim porque o desejo que ele
tinha pela coisa era apenas um jogo, não era sério.
Segue-se que todo o propósito para o trabalho do indivíduo é que este
seja inteiramente para doação, e que ele não tenha nenhum desejo ou ânsia por
receber prazer pelo seu trabalho.
Isso é um nível alto, pois é o que ocorre no Criador.
E isso é chamado “o dia do Senhor”. O dia do Senhor é chamado de “completude”,
como está escrito: “Deixe que as estrelas da manhã sejam escuras; deixe que
elas procurem pela luz, mas não a tenham”, pois a luz é considerada completude.
O indivíduo adquire a segunda natureza quando recebe o
desejo de doar. Após a primeira natureza, que é o desejo de receber, o Criador
lhe concede o desejo de doar, e então o indivíduo está qualificado para servir
ao Criador em plenitude. Isso é considerado “o dia do Eterno”.
Portanto, alguém que não foi recompensado com a segunda
natureza não é capaz de servir ao Criador na forma de doação. O indivíduo
aguarda ser recompensado, pois já fez o que podia para obter aquela força.
Considera-se que ele está esperando o dia do Eterno – a equivalência de forma
com o Criador.
Quando o dia do Eterno chega,
o indivíduo se exalta.
Ele fica feliz, pois emergiu do controle do desejo de receber para si mesmo, o
qual o separava do Criador. Agora, ele se agarra ao Criador e considera que
subiu ao topo.
É o oposto para alguém cujo trabalho se dá apenas
na auto-recepção: ele fica feliz apenas enquanto pensa que vai receber alguma
recompensa pelo seu trabalho. Quando ele percebe que o desejo de receber não
será recompensado pelo seu trabalho, ele se torna triste e ocioso. Às vezes,
ele chega a duvidar do começo e diz “eu não jurei sobre isso”.
Portanto, o dia do Senhor é atingir o poder para doar. Se alguém fosse
avisado que “este será o seu lucro pelo empenho na Torá e nas Mitzvot”,
ele diria “eu considero isso escuridão, e não luz”, pois esse conhecimento leva
o indivíduo à escuridão.
17. O que significa que a Sitra Achra seja
chamada de “Malchut sem uma Coroa”?
(Ouvi em Tav-Shin-Aleph, 1940-1941, Jerusalém)
Coroa significa Keter, e Keter é o Emanador e a Raiz. A Kedushá
[santidade] está conectada à raiz, ou seja, a Kedushá é considerada em
equivalência de forma com sua raiz. Isso significa que, assim como a nossa Raiz
- isto é, o Criador deseja apenas doar, como está escrito “Seu desejo de fazer
o bem às criaturas”, também a Kedushá é destinada apenas para doar ao
Criador.
A Sitra Achra [outro lado], no entanto, não é assim. Ela
objetiva apenas receber para si mesma. Por essa razão, ela não está aderida à
Raiz, isto é, Keter. É por isso que se faz a referência sobre a Sitra
Achra não ter Keter [coroa]. Em outras palavras, ela não tem Keter
porque ela está separada de Keter.
Agora podemos entender o que
os nossos sábios disseram (Sanhedrin
29): “Todos que somam, subtraem”. Isso significa que, se você adiciona à
conta, há subtração. Está escrito (Zohar Pekudei, item 249): “Ocorre o mesmo aqui, em relação ao que
é interno, como está escrito, ‘Ademais, você deverá construir o tabernáculo com
dez cortinas’. Em relação ao que é externo, está escrito ‘onze cortinas’, com
adição de letras, ou seja, adicionando o Ayin [a letra hebraica
adicionada] ao doze, e subtraindo da conta. Subtrai-se um do número doze devido
à adição do Ayin ao doze”.
É sabido que o cálculo é implementado apenas em Malchut,
o qual calcula a altura do grau (por meio da Ohr Hozer [luz refletida]
nela). Além disso, é sabido que Malchut é chamada de “o desejo de
receber para si mesmo”.
Quando ela anula seu desejo
de receber perante a Raiz, e não quer receber, mas apenas doar à Raiz, assim como a Raiz que é o
desejo do doar, então Malchut, chamada Ani [Eu], torna-se Ein
[nada], com um Aleph. Apenas então ela estende a luz de Keter
para construir seu Partzuf e se torna doze Partzufim de Kedushá.
Contudo, quando ela quer
receber para si mesma, ela se torna o Ayin [olho] maldito. Em outras palavras, onde havia uma combinação de Ein,
isto é a anulação perante a raiz, que é Keter, tornou-se Ayin (ou
seja, ver e saber dentro da razão).
Isso é chamado “adição”. Significa que o indivíduo
quer somar conhecimento à fé, e trabalhar dentro da razão. Em outras palavras,
ela diz que vale mais a pena trabalhar dentro da razão e, então, o desejo de
receber não terá objeção ao seu trabalho.
Isso causa uma falha, pois
houve a separação de Keter,
chamado de “o desejo de doar”, que é a Raiz. Não há mais a questão da
equivalência de forma com a Raiz, chamada de Keter. Por essa razão, a Sitra
Achra é chamada “Malchut sem coroa”. Isso significa que Malchut da
Sitra Achra não tem Dvekut [adesão] com Keter. Por essa
razão, eles só têm onze Partzufim, sem o Partzuf Keter.
Esse é o significado do que os nossos sábios disseram:
“Noventa e nove morreram de mau olhado”. Ou seja, porque eles não têm a
qualidade de Keter. Isso significa que a Malchut neles, o desejo
de receber, não quer se anular perante a Raiz, chamada Keter. Isso
significa que eles não fazem do Ani [Eu], chamado “desejo de receber”,
uma qualidade do Ein [nada], que é o anulamento do desejo de receber.
Ao invés disso, eles querem somar. E isso é chamado “o Ayin
[olho] maldito”. Ou seja, onde deveria haver Ein com Aleph [a
primeira letra da palavra Ein], eles inserem o maldito Ayin [olho,
a primeira letra da palavra]. Portanto, eles caem do seu nível devido à falta
de Dvekut com a Raiz.
Esse é o significado do que os nossos sábios disseram:
“Qualquer um que seja orgulhoso, diz o Criador, ‘ele e Eu não podemos habitar
na mesma morada’”, pois assim o indivíduo cria duas autoridades. No entanto,
quando o indivíduo está em um estado de Ein e se anula perante a Raiz,
sendo que a sua única intenção é doar, como a Raiz, percebe-se que aqui há
apenas uma autoridade – a autoridade do Criador. Então, tudo o que o indivíduo
recebe no mundo é somente a fim de doar ao Criador.
Esse é o significado do que ele havia dito: “O mundo
inteiro foi criado apenas para mim, e eu, para servir ao meu Fazedor.” Por essa
razão, eu devo receber todos os níveis no mundo, a fim de que possa dar tudo ao
Criador, o que é chamado de “servir ao meu Fazedor”.
18. Minha Alma Deve Chorar em Segredo – 1
(Ouvi em Tav-Shin, 1939-1940, Jerusalém)
Quando a ocultação domina uma pessoa ela chega a um estado em
que o trabalho se torna insípido, ela não consegue visualizar ou sentir
qualquer amor ou temor, e não consegue fazer nada em Kedushá
[santidade]. Neste caso, o único conselho é chorar ao Criador para que ele tenha
misericórdia da pessoa e remova a tela dos seus olhos e do seu coração.
Chorar é muito importante. É como nossos sábios
escreveram: “Todos os portões estavam trancados, exceto os portões das
lágrimas.” Sobre isso, o mundo pergunta: Se os portões das lágrimas não estão
trancados, qual é a necessidade de eles existirem? Ele disse que é como uma
pessoa que pede ao seu amigo por um objeto necessário. Esse objeto toca o seu
coração, e a pessoa pede e implora com toda maneira de oração e apelo. Porém,
seu amigo não presta atenção em nada disso. E quando a pessoa vê que não há
mais razão para orações e apelos, então ela levanta sua voz em prantos.
Sobre isso, é dito: “Todos os portões estavam trancados,
exceto os portões das lágrimas.” Ou seja, quando não estiveram trancados os
portões das lágrimas? Precisamente quando todos os portões estavam trancados. É
nesse momento que há espaço para os portões das lágrimas, e então vemos que
eles não estavam trancados.
No entanto, quando os portões da oração estão abertos, os portões das
lágrimas e dos prantos são irrelevantes. Esse é o significado de estarem
trancados os portões das lágrimas. Portanto, quando não estão trancados os
portões das lágrimas? Precisamente quando todos os portões estão trancados, os
portões das lágrimas estão abertos, já que a pessoa ainda tem a escolha de orar
e implorar.
Esse é o significado de “minha alma deve chorar em
segredo”. Quando o indivíduo chega a um estado de ocultação, então “minha alma
deve chorar”, porque ele não tem outra opção. Esse é o significado de “tudo o
que sua mão e sua força puderem fazer, faça.”
19. O que é “O Criador Odeia os Corpos” no
Trabalho?
(Ouvi em Tav-Shin-Guímel, 1942-1943, Jerusalém)
O Zohar diz que o Criador odeia os corpos. Ele diz que devemos
interpretar isso como uma referência ao desejo de receber, chamado Guf [corpo].
O Criador criou o Seu mundo para a Sua glória, como está escrito: “Todos que
são chamados pelo Meu Nome, pela Minha glória, Eu os criei, os formei e também
os fiz”.
Portanto, isso contradiz o
argumento do corpo de que tudo é para ele, apenas para seu próprio benefício. O Criador diz o oposto,
que tudo deveria ser em consideração ao Criador. É por isso que os nossos
sábios dizem que o Criador disse “ele e Eu não podemos habitar na mesma
morada”.
Segue-se que a principal
fonte de separação que impede a Dvekut
[adesão] com o Criador é o desejo de receber. Isso fica aparente quando chega o
mal, ou seja, quando o desejo de receber para si mesmo vem e pergunta: “Por que
você quer trabalhar pelo Criador?” Nós achamos que esse desejo fala com as
pessoas, achamos que ele quer entender com o seu intelecto. No entanto, isso
não é verdade, já que ele não pergunta para quem o indivíduo está trabalhando.
Certamente, esse é um argumento racional, de forma que esse argumento desperta
em uma pessoa sensata.
Em vez disso, o argumento do
perverso é uma questão
corporal. Ou seja, ele pergunta: “O que é esse trabalho?” Em outras palavras, o
que você vai ganhar pelo esforço que está fazendo? Isso significa que ele
pergunta: “Se você não está trabalhando para o seu próprio benefício, o que o
corpo, chamado de ‘desejo de receber para si mesmo’, ganha com isso?”
Já que esse é um argumento corporal, a única
resposta é uma resposta corporal, que é “Ele cegou os dentes, e se ele não
estivesse lá, ele não teria sido redimido”. Por quê? Porque o desejo de receber
para si mesmo não tem redenção, mesmo no tempo da redenção, já que a redenção
virá quando todos os recebimentos entrarem nos vasos de doação e não nos vasos
de recepção.
O desejo de receber para si
mesmo deve sempre permanecer em déficit, pois satisfazê-lo é a própria morte. A razão é que, como dito
acima, a criação foi primariamente para a Sua glória (e essa é uma resposta
para o que está escrito, que o Seu desejo é fazer o bem às Suas criatura e não
a Si mesmo).
A interpretação será de que a essência da Criação é revelar a
todos que o propósito da Criação é fazer o bem às Suas criaturas. Isso ocorre
especificamente quando o indivíduo diz que ele nasceu para honrar o Criador.
Nesse momento, nesses vasos, aparece o propósito da Criação, que é fazer o bem
às Suas criaturas.
Por essa razão, o indivíduo deve sempre examinar a si mesmo,
o propósito do seu trabalho, e averiguar se o Criador recebe contentamento em
todas as suas ações, porque busca a equivalência de forma com o Criador. Isso é
chamado “todas as suas ações serão pelo Criador”, pois o indivíduo quer que o
Criador desfrute de tudo que ele faz, como está escrito “Trazer contentamento
ao seu Fazedor”.
Além disso, o indivíduo precisa se conduzir com o
desejo de receber e se dirigir a ele, dizendo: “Eu já decidi que não quero
receber qualquer prazer para que você desfrute, pois com o seu desejo eu sou
forçado a me separar do Criador, já que a disparidade de forma causa separação
e distância do Criador.”
Como não consegue se libertar do poder do desejo de
receber, a esperança do indivíduo deveria ser o fato de que ele está em um
perpétuo processo de subidas e descidas. Consequentemente, ele espera pelo
Criador, espera que Ele o recompense com a abertura dos seus olhos e com a força
para superar e trabalhar apenas pelo bem do Criador. É como está escrito: “Uma
eu pedi ao Criador; por ela eu vou procurar.” “Ela” significa a Shechiná [Divindade].
E o indivíduo pede “que eu possa habitar na morada do Senhor por todos os dias
da minha vida”.
A morada do Senhor é a Shechiná. E agora podemos entender o
que os nossos sábios disseram sobre o verso “e tomará para você no primeiro
dia”, o primeiro a contabilizar as iniquidades. Devemos entender por que há
regozijo se há lugar para contabilizar as iniquidades aqui. Devemos saber, ele
disse, que há uma questão de importância no trabalho quando há contato entre o
indivíduo e o Criador.
Isso significa que o indivíduo sente que precisa do Criador, pois, no
estado de labor, ele vê que ninguém no mundo pode salvá-lo do estado em que
está, exceto o Criador. Então, ele vê que “não há ninguém além Dele” que possa
salvá-lo do estado em que está e do qual não consegue escapar.
Isso é chamado ter contato próximo com o Criador. Se o
indivíduo sabe apreciar esse contato, então acredita que está aderido ao
Criador e todos os seus pensamentos são sobre o Criador. Dessa forma, Ele o
ajudará, porque senão o indivíduo vê que está perdido.
De forma inversa, aquele que é recompensado com Providência Particular e vê
que o Criador faz tudo, como está escrito “apenas Ele faz e fará todos os
atos”, esse indivíduo não tem nada a adicionar e, de toda forma, não há espaço
para orar pela ajuda do Criador, pois ele vê que o Criador faz tudo mesmo sem a
sua oração.
Portanto, neste momento, não há espaço para realizar bons atos, pois o
indivíduo vê que, mesmo sem ele, tudo é feito pelo Criador. Assim, o indivíduo
não tem necessidade da ajuda do Criador para nada. Nesse estado, ele não tem
contato com o Criador e não necessita Dele na medida de estar perdido sem a Sua
ajuda.
Assim, o indivíduo não tem o contato que tinha com o Criador
durante o trabalho. Ele disse que é como uma pessoa suspensa entre a vida e a
morte, que pede para seu amigo salvá-la. Como ele pede para seu amigo? Ele
certamente tenta pedir para que seu amigo tenha misericórdia dele e o salve da
morte com todo o poder à sua disposição. Ele certamente nunca esquece de pedir
ao seu amigo, pois ele vê que, se não fizer isso, perderá a vida.
No entanto, aquele que pede
luxos ao seu amigo, coisas não necessárias, esse suplicante não está tão ligado ao seu amigo a ponto
de que a sua mente não se distraia de pedir o que quer receber. Percebe-se que,
com coisas não relacionadas à salvação da vida, o suplicante não se torna tão
ligado ao doador.
Portanto, quando o indivíduo sente que deve pedir ao Criador que lhe
salve da morte, do estado de “os perversos na sua vida são chamados ‘morte’”, o
contato entre a pessoa e o Criador é próximo. Por essa razão, para os justos,
um lugar de trabalho é necessitar a ajuda do Criador. Caso contrário, ele está
perdido. É isso que os justos almejam: um lugar para trabalhar de forma que
tenham contato próximo com o Criador.
Assim, se o Criador dá espaço para o trabalho, esses justos ficam
muito felizes. É por isso que eles disseram “o primeiro a contabilizar as
iniquidades”. Para eles, é motivo de alegria ter um lugar para o trabalho, ou
seja, tornar-se necessitado do Criador e poder entrar em contato próximo com
Ele. Isto é assim porque ninguém pode vir ao Palácio do Rei sem um propósito.
Esse é o significado do verso “e tomará para você”.
Ele especifica “para você” pois tudo está nas mãos dos céus, com exceção do
temor aos céus. Em outras palavras, o Criador pode dar a luz em abundância
porque Ele a tem. Mas, na escuridão, no lugar da falta, esse não é Seu domínio.
Devido à regra de que o temor aos céus existe apenas a
partir de um lugar de falta – e um lugar de falta é chamado “o desejo de
receber” –, isso significa que, apenas então, há um lugar para o trabalho. Em
quê? No que há resistência.
O corpo chega e pergunta: “O que é o trabalho?” E o indivíduo não tem nada
a responder a essa questão. Então, ele deve assumir o fardo do reino dos céus
acima da razão, como um boi ou um burro aceitam uma carga, sem qualquer
argumento. “Em vez disso, Ele disse e Sua vontade foi feita. Isso é chamado
“para você”, ou seja, esse trabalho pertence precisamente a você, e não a Mim.
É o trabalho que o seu desejo de receber requer”.
Contudo, se o Criador fornece
alguma iluminação de cima, o
desejo de receber se rende e se anula como uma vela perante uma tocha. Então, o
indivíduo não tem qualquer trabalho, pois ele não tem mais necessidade de tomar
sobre si, coercitivamente, o fardo do reino dos céus – como um boi ou um burro
com uma carga, como está escrito: “Você que ama o Senhor, odeia o mal”.
Isso significa que o amor do
Criador se estende apenas a partir do lugar do mal. Em outras palavras, na
medida em que o indivíduo tem ódio pelo mal, quando ele vê o quanto o desejo de receber lhe
obstrui de alcançar a completude do objetivo, nessa medida ele necessita que o
amor do Criador lhe seja transmitido. Se um indivíduo sente que ele tem mal,
ele não pode receber o amor do Criador, pois ele não o necessita, já que tem
satisfação no trabalho.
Como dissemos, o indivíduo não deve se irar quando tem trabalho com o
desejo de receber, no sentido de que isso lhe obstrui no trabalho. O indivíduo
certamente ficaria mais satisfeito se o desejo de receber desaparecesse do
corpo, pois ele não traria perguntas à pessoa e não a obstruiria no trabalho de
observar a Torá e as Mitzvot [mandamentos].
Contudo, o indivíduo deve acreditar que as obstruções do desejo
de receber são enviadas de cima. É concedida de cima ao indivíduo a força para
descobrir o desejo de receber, porque há espaço para o trabalho precisamente
quando o desejo de receber desperta.
Então, o indivíduo tem contato próximo com o Criador
para que lhe ajude a transformar o desejo de receber em trabalho com a intenção
de doar. O indivíduo deve acreditar que disso se estende o contentamento ao
Criador, da sua oração a Ele a fim de aproximá-lo na forma de Dvekut [adesão],
chamada de “equivalência de forma”, discernida da anulação do desejo de receber
para que seja com a intenção de doar. Sobre isso, o Criador diz: “Meus filhos
me venceram”. Ou seja, Eu lhe dei o desejo de receber e, ao invés disso, você
Me pede o desejo de doar.
Agora podemos interpretar o
que é trazido na
Guemará (Hulin p. 7): “O Rabino Pinchás ben Yair estava a caminho para
resgatar os prisioneiros. Ele se deparou com o rio Ginai (o nome do rio era
Ginai). Ele disse ao Ginai: “Divida sua água e eu passarei através de você.” O
rio lhe disse: “Você fará a vontade do seu Criador, e eu farei a vontade do meu
Criador. Você talvez faça, e talvez não faça, a vontade do seu Criador,
enquanto eu certamente farei.”
Sobre o significado disso, o
rabino disse que falou ao rio – ou seja, ao desejo de receber –que o deixasse atravessá-lo para
alcançar o nível de fazer a vontade do Criador, de fazer tudo a fim de doar
contentamento ao seu Fazedor. O rio, o desejo de receber, respondeu que o Criador
o criou com essa natureza de querer receber deleite e prazer. E, portanto, ele
não quer mudar a natureza com que o Criador o criou.
O Rabino Pinchás ben Yair travou guerra contra ele, pois queria
invertê-lo para um desejo de doar. Isso é considerado travar guerra contra a
criação que o Criador criou na natureza, chamada “desejo de receber” – criado
pelo Criador, que é o todo da criação, chamado “existência a partir da
ausência”.
Devemos saber que, durante o
trabalho, quando o desejo de receber chega para uma pessoa com seus argumentos,
nenhum argumento ou racionalização vai ajudar. Apesar de a pessoa pensar que são apenas argumentos,
isso não a ajudará a derrotar o seu mal.
Ao invés disso, como está escrito, “Ele escondeu seus
dentes”. Isso significa avançar apenas por meio de ações, e não por argumentos.
É considerado que o indivíduo deve adicionar poderes coercitivamente. Esse é o
significado do que os nossos sábios disseram: “Ele é coagido até que diga ‘eu
quero’”. Em outras palavras, pela persistência, o hábito se torna uma segunda
natureza.
O indivíduo deve tentar, especialmente, ter um forte
desejo por obter o desejo de doar e por superar o desejo de receber. Um forte
desejo é medido pelo incremento dos descansos intermediários e das detenções,
ou seja, dos intervalos de tempo entre cada superação.
Às vezes, o indivíduo recebe uma interrupção no
meio, um descenso. Esse descenso pode ser uma interrupção por um minuto, uma
hora, um dia ou um mês. Depois, ele retoma o trabalho de superar o desejo de
receber e as tentativas de alcançar o desejo de doar. Um forte desejo significa
que a interrupção não dura muito tempo e ele é imediatamente despertado de novo
para o trabalho.
É como uma pessoa que quer quebrar uma grande
pedra. Ela pega um grande martelo e bate muitas vezes, o dia inteiro, mas de
forma leve. Em outras palavras, ela não martela a pedra com um só golpe, mas
baixa o grande martelo lentamente e sem força. Depois, a pessoa reclama que o
trabalho de quebrar a pedra não é para ela, que só um homem muito forte para
ser capaz de quebrar essa grande rocha. A pessoa diz que não nasceu com poderes
tamanhos para ser capaz de quebrar a pedra.
No entanto, se o indivíduo levanta o seu martelo e atinge a pedra com
um grande golpe – não lentamente, mas com um grande esforço –, a pedra
imediatamente se rende a ele e quebra. Esse é o significado de “como um forte
martelo que esmaga a pedra”.
Da mesma forma, no trabalho
sagrado de levar os vasos de recepção à Kedushá [santidade], temos um forte martelo – as palavras
da Torá, que nos dão bons conselhos. Porém, se o trabalho não é consistente, se
há longos intervalos no meio, o indivíduo escapa da campanha e diz que não
feito para isso, que esse trabalho requer alguém nascido com habilidades
especiais. Mesmo assim, o indivíduo deveria acreditar que qualquer um pode
atingir o objetivo, e deveria sempre tentar aumentar seus esforços para
superar, pois então ele pode quebrar a pedra em pouco tempo.
Também devemos saber que há uma condição rigorosa
para o esforço de fazer contato com o Criador: o esforço deve ser na forma de
ornamento. O ornamento simboliza algo que é importante para uma pessoa. A
pessoa não pode trabalhar com alegria se o trabalho não lhe é importante.
Portanto, a pessoa deve se regozijar por ter agora contato com o Criador.
Essa questão é representada pelo Etrog (cidra). Sobre isso,
está escrito que é “uma fruta de árvore cítrica”(em hebraico, cítrico é Hadar,
proveniente de Hidur, que é beleza). Está escrito que o Etrog deveria
estar limpo “acima do seu nariz”. É sabido que há aqui três distinções: a)
ornamento, b) perfume, c) sabor.
O sabor significa que
as Luzes são derramadas de
cima para baixo, abaixo do Pê [boca], onde há o palato e o sabor. Isso
significa que as Luzes vêm em vasos de recepção.
O perfume significa
que as Luzes vêm de baixo para
cima. Isso significa que as Luzes vêm em vasos de doação, na forma de receber e
não de doar abaixo do palato e da garganta. Isso é discernido como “e ele
sentirá o cheiro do temor ao Criador”, dito sobre o Messias. É sabido que o
perfume é atribuído ao nariz.
O ornamento implica beleza e formosura, distinguida como acima do
nariz do indivíduo, sem cheiro. Significa que não há sabor ou cheio ali.
Portanto, o que há ali para que o indivíduo possa suportar? Há apenas o
ornamento nele, e é isso o que o sustenta.
Sobre o Etrog, vemos que o ornamento se coloca nele
precisamente antes que esteja adequado para comer. Contudo, quando está pronto
para comer, o ornamento não está mais lá.
Isto se refere ao “trabalho
de primeiro contar as iniquidades”. Significa precisamente que, quando o indivíduo trabalha sob a forma de “tomarás”, que é o
trabalho durante a aceitação do fardo do Reino dos Céus, e que é quando o corpo
resiste, justamente aí há espaço para a alegria do ornamento.
Isto significa que o
ornamento se faz visível durante o trabalho. Ou seja, se há alegria a partir do trabalho é porque o
indivíduo considera esse trabalho um ornamento e não uma vergonha.
Em outras palavras, às vezes o indivíduo despreza o trabalho de
assumir o fardo do Reino dos Céus, o qual é um tempo de uma sensação de
escuridão. É quando ele vê que ninguém além do Criador pode salvá-lo do estado
em que está. Então, ele assume para si o Reino dos Céus acima da razão, como um
boi aceita o fardo e como um burro aceita a carga.
O indivíduo deveria se alegrar, pois agora tem algo a
dar para o Criador, e o Criador aprecia isso. Mas nem sempre a pessoa tem a
força para dizer que esse é um trabalho belo, chamado de “ornamento”, e assim
despreza o trabalho.
É uma condição pesada a pessoa se habilitar a dizer que escolhe esse
trabalho acima do trabalho de purificação, significando que ela não sente o
gosto da escuridão durante o trabalho, mas, de repente, a pessoa sente sim o
sabor do trabalho. Significa, então, que o indivíduo não precisa trabalhar com
o desejo de receber para concordar em assumir o Reino dos Céus acima da razão.
Se ele supera a si mesmo e
pode dizer que esse trabalho é prazeroso, pois agora ele observa a Mitzvá [mandamento] da fé acima da razão e aceita esse
trabalho como beleza e ornamento, então isso é chamado “uma alegria da Mitzvá”.
Esse é o significado de a oração ser mais importante
que a resposta à oração, pois na oração há um lugar para o trabalho e a pessoa que
necessita do Criador aguarda a misericórdia dos céus. Nesse momento, o
indivíduo tem um verdadeiro contato com o Criador e está no Palácio do Rei. No
entanto, quando a oração é atendida, o indivíduo já deixou o Palácio do Rei,
pois já recebeu o que havia pedido e então saiu.
Portanto, devemos entender o
verso: “Seus óleos têm
uma boa fragrância; seu nome é como óleo derramado.” Óleo é chamado de “a Luz
Superior” quando flui. “Derramado” significa durante a cessação da abundância.
Nesse momento, o perfume do óleo permanece. (Perfume significa que, apesar de
tudo, um Reshimo [reminiscência] do que ele teve permanece. Ornamento,
no entanto, é chamado assim em um lugar onde não há nenhuma firmeza, onde nem o
Reshimo brilha.)
Esse é o significado de Atik e AA.
Durante a expansão, a abundância é chamada AA, que é Chochmá [sabedoria],
e significa Providência aberta. Atik vem da palavra [hebraica] VaYe’atek
[separação], e significa a saída da Luz. Em outras palavras, Atik não
brilha e isso é chamado “ocultação”.
Esse é o momento da rejeição às vestimentas, o qual é
o tempo da recepção da coroa do Rei, considerada Malchut [reino] das
Luzes, o Reino dos Céus.
Sobre isso está escrito no Zohar: “A Shechiná [Divindade]
disse ao Rabino Shimon, ‘não há lugar para se esconder de você’ (ou seja, não
há lugar onde Eu possa Me esconder de você)”. Isso significa que mesmo na maior
ocultação, na verdade, ele ainda toma para si o fardo do Reino dos Céus com
grande alegria.
A razão para isso é que ele segue uma linha de desejo
de doar e, portanto, doa o que tem nas mãos. Se o Criador lhe dá mais, ele doa
mais. E se ele não tem nada para doar, coloca-se em pé e chora como uma garça
para que o Criador lhe salve da água maligna. Por isso, dessa maneira, também,
ele tem contato com o Criador.
A razão para esse discernimento ser chamado Atik,
já que Atik é o nível mais elevado, é que o quanto mais longe se está da
vestimenta, mais alto se está. O indivíduo pode sentir na coisa mais abstrata,
chamada “o zero absoluto”, pois lá a mão do homem não alcança.
Isso significa que o desejo
de receber pode agarrar apenas em um lugar onde há alguma expansão da Luz. Antes de purificar os
seus Kelim [vasos] para não manchar a Luz, o indivíduo é incapaz de
receber a Luz na forma de expansão dos Kelim. Apenas quando o indivíduo
marcha no caminho da doação, em um local onde o desejo de receber não está
presente, seja na mente ou no coração, ali a Luz pode vir em perfeição
absoluta. Então, ele recebe a Luz numa sensação em que ele pode sentir a
exaltação da Luz Superior.
No entanto, quando o indivíduo não corrigiu os Kelim para trabalhar
a fim de doar, a Luz deve ser restrita quando se expande e só deve brilhar de
acordo com a pureza dos Kelim. Assim, nesse momento, a Luz parece estar
em absoluta pequenez. Portanto, quando a Luz é abstraída das vestimentas dos Kelim,
a Luz pode brilhar em absoluta perfeição e clareza, sem quaisquer restrições
pelo bem do inferior.
Portanto, a importância do trabalho ocorre precisamente quando o
indivíduo chega a um estado de zero, quando ele vê que anula toda a sua
existência e o seu ser, pois então o desejo de receber não tem nenhum poder.
Apenas então o indivíduo entra na Kedushá.
Devemos saber que “Deus criou um oposto ao outro”. Isso significa
que tanto quanto há revelação na Kedushá, nesta mesma medida a Sitra
Achra [outro lado] desperta. Em outras palavras, quando o indivíduo
reivindica “é tudo meu”, no sentido de que o seu corpo inteiro pertence à Kedushá,
também a Sitra Achra argumenta contra ele, dizendo que o seu corpo
inteiro deveria servir à Sitra Achra.
Assim, o indivíduo deve saber que quando o seu corpo afirma
pertencer à Sitra Achra e clama com toda sua força as famosas perguntas
de “Quem?” e “O Quê?”, é um sinal de que o indivíduo está andando no caminho da
verdade e que a sua única intenção é levar contentamento ao seu Fazedor.
Portanto, o trabalho primário se dá precisamente nesse estado.
O indivíduo deve saber que isso é um sinal de que seu
trabalho atinge o alvo. O sinal é que ele luta e envia suas flechas à cabeça da
serpente, pois ela grita e argumenta com “O Quê?” e “Quem?” – ou seja, “O que é
esse trabalho para você?”, o que você vai ganhar por trabalhar apenas para o
Criador e não por si mesmo? E o argumento de “Quem” significa a reclamação do
Faraó, que disse “Quem é o Senhor para que eu obedeça à Sua voz?”.
O argumento de “Quem” parece ser racional. Normalmente, quando
uma pessoa recebe ordens de trabalhar para alguém, ela pergunta “para quem?”.
Assim, quando o corpo reclama “Quem é o Senhor para que eu obedeça à Sua voz?”,
este é um argumento racional.
Contudo, de acordo com a
regra de que o intelecto não é um objeto em si, mas um espelho do que se encontra nos sentidos,
assim se parece na mente. Isso é o significado de “Os filhos de Dan: Hushim”.
Ou seja, a mente julga apenas de acordo com o que os sentidos lhe permitem escrutinizar, e imagina algumas invenções e táticas para se
adequar às demandas dos sentidos.
Em outras palavras, o que os
sentidos demandam a mente tenta prover. No entanto, a mente em si não tem necessidades para si mesma. Assim, se há demanda
por doação nos sentidos, a mente opera de acordo com a linha da doação e não
faz perguntas, pois está meramente servindo aos sentidos.
A mente é como uma pessoa que se olha no espelho para ver
se está suja. E em todos os lugares em que o espelho mostra que está suja, a
pessoa se lava e se limpa, pois o espelho mostrou-lhe que há coisas feias a
serem limpas no seu rosto.
No entanto, o mais difícil é saber o que é considerado feio. É o desejo
de receber, a demanda do corpo para que tudo seja para ele mesmo, ou a coisa
feia é o desejo de doar, o qual o corpo não tolera? A mente não pode escrutinizar isso, assim como o espelho não pode dizer o que
é feio e o que é bonito; em vez disso, tudo depende dos sentidos, e apenas os
sentidos determinam isso.
Dessa forma, quando o indivíduo se acostume a trabalhar coercitivamente, a
trabalhar na doação, a mente também opera pelas linhas da doação. Nesse
momento, quando os sentidos já se acostumaram ao trabalho na doação, é
impossível que a mente faça a pergunta “Quem?”.
Em outras palavras, os
sentidos não perguntam mais
“O que é esse trabalho?”, pois eles já estão trabalhando a fim de doar e,
naturalmente, a mente não faz a pergunta “Quem?”.
Você percebe que o trabalho primário está em “O que
é esse trabalho para você?”. E o que o indivíduo ouve quando o corpo pergunta
“Quem?” é porque o corpo não quer se degradar tanto. É por isso que ele faz a
pergunta “Quem?”. Ele parece estar fazendo uma pergunta racional, mas a verdade
é que, como dissemos acima, o trabalho primário está em “O Quê?”.
20. LISHMÁ
(Escutei de Baal HaSulam
em 1945)
Para que uma pessoa alcance Lishmá (capacidade
de receber pelo Criador) é preciso que aja um despertar de Cima, porque isso é
uma iluminação vinda de Cima e a mente humana não consegue entender esse
processo. Mas quem o experimenta, quem o saboreia, é capaz de entender. Está
escrito sobre isso: “Prove e veja como o Senhor é bom”. A pessoa precisa
aceitar completamente essa pressão do Reino dos Céus, e somente com o objetivo
de doar e jamais com o objetivo de receber. E se a pessoa vê que os seus órgãos
físicos não concordam com isso, ela não tem outra saída a não ser orar e
permitir que seu coração seja preenchido pelo Criador, para que Ele ajude o
corpo a submeter-se à escravidão.[i]
Se Lishmá é um presente do Alto, então que
valor há no esforço que a pessoa faz para corrigir a si mesma e alcançá-lo? Se
Deus não lhe der outra natureza, chamada de “Desejo de Doar”, não há trabalho
que a ajude a conseguir Lishmá. Nossos sábios disseram: “Você não
tem liberdade para fugir disso”. Significa que devemos fazer um despertar de
baixo. Esse despertar é considerado prece. Mas não pode haver prece verdadeira
se a pessoa não compreender que é impossível obter Lishmá sem
orar.
Assim, os atos e as correções que a pessoa faz para
conseguir Lishmá criarão dentro dela o Kli correto
para receber esse dom. Depois de todos esses atos e correções, a pessoa poderá
fazer uma oração honesta, desde que ela tenha percebido que todas essas ações
não lhe trarão nenhum benefício. Somente então ela conseguirá fazer uma oração
do fundo de seu coração. Depois disso, o Criador ouvirá as suas preces e lhe
dará o presente de Lishmá.
Precisamos entender ainda que ao obter-se Lishmá,
consegue-se matar a inclinação para o mal. Isso é assim porque a inclinação
para o mal é chamada “recebendo para o próprio benefício”. Obtendo-se a
capacidade da doação, a auto-gratificação é anulada. A morte da inclinação para
o mal significa que a pessoa não conseguirá mais usar seus vasos de recepção
para si mesma. E desde que se tenha removido a parte da inclinação para o mal
ela é considerada morta.
Quando consideramos que lucro o homem tem em seu trabalho sob o
sol, vemos que não é tão difícil escravizar-se ao Criador, por duas razões:
1. De qualquer maneira, querendo ou não, temos que trabalhar neste
mundo, e o que nos resta dos esforços que fazemos?
2. Entretanto, ao trabalharmos em Lishmá recebemos
prazer durante o trabalho em si.
Isso é como Sayer de Dubna disse, a respeito do verso “Jacob,
você não Me chamou, e nem Israel se cansou Comigo”. Significa que aquele que
trabalha para o Criador não faz esforços, mas, ao contrário, além de sentir
prazer, recebe ainda uma elevação de espírito. Mas, aquele que não trabalha
para o Criador, mas para outros propósitos, não pode reclamar que o Criador não
lhe dá alegria no trabalho, pois se dedica a outras coisas. Alguém só pode se
queixar para quem trabalha, exigindo-lhe que lhe dê prazer e alegria durante o
seu trabalho.
Não se surpreendam que alguém assuma o fardo do Reino dos Céus e
seja compelida a assumir esse fardo coercitivamente, mesmo sabendo que não há
nenhum benefício para ela nisso. O motivo para isso é que existe aí uma grande
correção. Não fosse por isso, o desejo de receber concordaria com o trabalho, e
dessa forma a pessoa não seria digna de receber Lishmá.
É como se diz, que o ladrão corre e grita: “Pega, ladrão; pega,
ladrão”. Então, é impossível reconhecer quem é o verdadeiro ladrão, e é
impossível pegar o ladrão e recuperar o roubo de suas mãos.
No entanto, quando o ladrão, ou seja, a vontade de receber, não
sente qualquer gosto e alegria no trabalho de aceitar o fardo do Reino dos
Céus, se neste caso a pessoa trabalha com fé acima da razão, coercivamente, e o
corpo se torna habituado a esse trabalho contra a vontade do desejo de receber,
então a pessoa tem os meios pelos quais chegar a um trabalho que levará
contentamento ao Criador. "Então tu deverás deliciar-te no Senhor."
Antes, quando ele trabalhou para o Criador não derivou prazer de seu trabalho;
ao contrário, seu trabalho foi feito sob coerção. Mas, depois, quando a pessoa já
se acostumou ao trabalho a fim de doar, ela é recompensada com o prazer no
Criador, e o trabalho por si só produz prazer e vitalidade. E este prazer é
considerado, também, um deleite para o Criador.
(Tradução de Charles
Kiefer)
[i] As
muitas e variadas dores físicas que surgem durante os exercícios são fruto
dessa luta do corpo em não se submeter ao Criador. As dores mais frequentes aparecem nos ombros, nos quadris, nas pernas. Em
alguns casos, a depender do nível de resistência inconsciente, surgem pequenos
ferimentos, incremento de doenças auto-imunes, dores “agulhadas” na cabeça e no
corpo, enxaquecas, sensação de afogamento, quedas inconscientes, acidentes
domésticos, como se o corpo fizesse o possível e o impossível para afastar o
iniciante do Caminho. (N.T.)
21. Quando o
indivíduo se sente num estado de ascensão
(Ouvi em 23 de Cheshvan, Tav-Shin-Hey, 9 de novembro de 1944)
Quando o indivíduo se sente em um estado de ascensão, sente-se
elevado, quando sente que não tem nenhum desejo a não ser pela espiritualidade,
então é bom que mergulhe nos Segredos da Torá a fim de internalize-los.
Se o indivíduo vê que, apesar de se esforçar para entender algo, ainda não sabe
nada, mesmo assim vale a pena mergulhar nos Segredos da Torá, ainda que veja
cem vezes numa única coisa.
O indivíduo não deve se desesperar, não deve dizer que é inútil por
que não entende nada, por duas razões:
A) Quando o indivíduo mergulha em algo e anseia por entendê-lo,
esse anseio é chamado uma “oração”. Isso é porque uma oração é uma falta, ou
seja, ele deseja o que lhe falta, deseja que o Criador satisfaça o seu desejo.
O alcance da oração é medido pelo desejo, já que o desejo é maior
por aquilo de que ele mais precisa. De acordo com a medida da necessidade
também é a medida do anseio.
Há uma regra de que naquilo que o indivíduo coloca mais esforço, o
empenho aumenta a falta, e ele quer receber o preenchimento por essa
deficiência. Além disso, um desejo é chamado de “uma oração”, é considerado “o
trabalho do coração”, já que “o Misericordioso quer os corações”.
Só então o indivíduo pode oferecer uma oração verdadeira. Porque,
quando ele mergulha nas palavras da Torá, o coração deve estar livre de outros
desejos e dar à mente a força para poder pensar e escrutinizar. Se não há nenhum desejo no coração, a mente não consegue fazer o
escrutínio, como disseram nossos sábios: “Sempre há aprendizado onde há desejo
do coração” (Avodá Zará 19a).
Para que a oração do indivíduo seja aceita, deve ser uma oração
completa. Por isso, quando faz um escrutínio de forma completa, o indivíduo
extrai dele uma oração completa, e então sua oração pode ser aceita, porque o
Criador ouve uma oração. Mas há uma condição: a oração deve ser completa e não
pode ter outras coisas misturadas no meio dela.
B) A segunda razão é que, nesse momento, como o indivíduo está
separado em alguma medida da corporeidade e está mais perto da qualidade da
doação, é um tempo melhor para se conectar com a internalidade da Torá, a qual
é revelada àqueles que tem Equivalência de Forma com o Criador. Isso é porque a
Torá, o Criador e Israel são um. Contudo, quando o indivíduo está num estado de
auto-recepção, ele pertence à externalidade e não à internalidade.
22. Torá
Lishmá
(Ouvi em 9 de Shevat, Tav-Shin-Aleph, 06 de
fevereiro de 1941)
A Torá é chamada de Lishmá [eu Seu nome], principalmente
quando o indivíduo aprende para saber com certeza absoluta, dentro da razão,
sem qualquer dúvida sobre a clareza da verdade, que há um juiz e há um
julgamento. Há um julgamento significa que o indivíduo vê a realidade como ela
aparece para os nossos olhos. Isso quer dizer que, quando trabalhamos dentro da
fé e da doação, vemos que estamos crescendo e escalando diariamente, pois
sempre vemos uma mudança para melhor.
E também é assim ao contrário: quando trabalhamos na forma de
recepção e conhecimento, vemos que decaímos cada dia até o último degrau
possível que existe na realidade material.
Quando examinamos esses dois estados, vemos que há julgamento e há
um juiz, pois enquanto não seguimos as leis da verdade da Torá, somos punidos
instantaneamente. Nesse estado, vemos que há um julgamento justo. Em outras
palavras, vemos que esse é precisamente o melhor caminho, o qual é adequado e
pode atingir a verdade.
Isso é considerado um julgamento justo, pois apenas dessa maneira
podemos chegar ao objetivo final: compreender dentro da razão, com completo e
absoluto entendimento, sobre o qual não há nada superior a isso, que apenas por
meio da fé e da doação é possível atingir o propósito.
Portanto, se a pessoa estuda com esse propósito, de entender que
há julgamento e que há um juiz, isso é chamado de Torá Lishmá. Esse
também é o significado do que os nossos sábios disseram: “Grande é o
aprendizado que leva à ação.”
Parece que deveriam ter dito “que trazem ações”, no sentido de ser
possível fazer muitas ações, no plural, e não no singular. No entanto, como
mencionado acima, ocorre que o aprendizado deve trazer apenas fé ao indivíduo,
e a fé é chamada de uma Mitzvá [mandamento], a qual sentencia o mundo inteiro ao mérito.
A fé é chamada de “fazer” porque, normalmente, quando se faz
alguma coisa, é preciso primeiro ter uma razão que faça a pessoa agir dentro da
razão. É como a correlação entre a mente e a ação.
Contudo, quando algo está acima da razão, quando a razão não
permite que o indivíduo faça determinada coisa, mas ao contrário, devemos dizer
que não há razão nesse ato, há apenas um ato. Esse é o significado de “se o
indivíduo realiza uma Mitzvá, feliz é ele pois sentenciou a si mesmo,
etc., ao lado do mérito”. Esse é o significado de “Grande é o aprendizado que
leva à ação”, ou seja, um ato sem razão, chamado de “acima da razão”.
23. Vós que amais ao Eterno, repudiai o mal
(Ouvi em 17 de Sivan, Tav-Reish-Tzadi-Aleph,
2 de junho de 1931)
No versículo “Vós que amais ao
Eterno, repudiai o mal; Ele preserva as almas de Seus fiéis e os salva das mãos
dos malévolos” (Salmos 97:10), ele interpreta que amar o Criador e desejar a
recompensa da Dvekut (adesão) não é o suficiente. O indivíduo
também precisa odiar o mal.
O ódio é expressado pelo ódio ao
mal, chamado de “desejo de receber”. O indivíduo vê que não há como se livrar
dele e, ao mesmo tempo, não quer aceitar a situação. Ele sente as perdas que o
mal lhe causa e também enxerga a verdade - que a pessoa não pode
anular o mal por si mesma, pois ele é uma força natural oriunda do Criador, e
que Ele imprimiu o desejo de receber no homem.
Nesse estado, o versículo afirma que o
que pode ser feito é odiar o mal. E dessa maneira o Criador o protegerá
desse mal, como está escrito: “Ele
preserva as almas de Seus fiéis.” O
que significa preservar? “E os
salva das mãos dos malévolos.” Nesse
estado, porque existe algum contato com o Criador, por menor que seja, a pessoa
já é considerada bem sucedida.
Na verdade, a questão do mal permanece e
serve como Achoraim (de costas) para o Partzuf. Mas
isso ocorre apenas por meio da correção do indivíduo: ao odiar sinceramente o
mal, ele é corrigido em forma de Achoraim. Se o indivíduo quer
obter Dvekut (adesão) com o Criador, então o ódio vem porque há uma conduta entre amigos: se duas pessoas
percebem que cada uma delas odeia o que o seu amigo odeia, e ama o que e quem o
seu amigo ama, elas entram em um vínculo perpétuo, como uma estaca que nunca
cairá.
Portanto, já que o Criador ama doar, os
inferiores também devem se adaptar para desejar apenas doar. O Criador também
odeia ser um receptor, pois Ele é completamente inteiro e não precisa de nada.
Assim, o homem também deve odiar a questão da recepção para si mesmo. Do que
foi dito acima, conclui-se que o indivíduo deve odiar amargamente o desejo de
receber. E por meio desse ódio, o indivíduo o corrige e se rende sob a Kedusha (santidade).
24. Ele os salva das
mãos dos malévolos
(Ouvi em 5 de Av, Tav-Shin-Dalet, 25 de julho de 1944, na conclusão do Zohar)
Está escrito: “Vós que amais ao Eterno,
repudiai o mal; Ele preserva as almas de Seus fiéis e os salva das mãos dos
malévolos” (Salmos 97:10). Ele pergunta: “Qual é a conexão entre ‘odiar o mal’
e ‘Ele os salva das mãos dos malévolos’?”
Para entender isso,
devemos primeiro trazer as palavras dos nossos sábios: “O mundo foi criado ou para a
completa justiça ou para o completo mal.” Ele pergunta: “Vale a pena criar um
mundo para o completo mal, mas não vale a pena criá-lo para a justiça
incompleta?”
Ele responde que a
partir da perspectiva do Criador não há nada no mundo que tenha dois significados. Isso
só ocorre na perspectiva dos receptores, de acordo com as suas sensações. Isso
significa que os receptores ou sentem um gosto bom ou sentem um gosto
terrivelmente amargo no mundo, já que cada uma de suas ações é calculada
previamente, pois não há ato feito sem propósito. Os indivíduos ou querem
melhorar o seu presente estado ou querem prejudicar alguém. Mas coisas sem
propósito não são dignas de um operador com propósito.
Portanto, aqueles que
aceitam os modos de conduta do Criador no mundo o determinam como bom ou mal
dependendo de como se sentem: ou bem ou mal. Por isso, “Vós que amais ao Eterno”, os que entendem
que o propósito da criação é fazer o bem às Suas criaturas, para que venham a
sentir isso, eles entendem que o bem é recebido precisamente através da Dvekut
(adesão) e da aproximação com o Criador.
Assim, se eles sentem
qualquer distância do
Criador, chamam isso de “mal”. Nesse estado, o indivíduo se considera mau,
pois, na verdade, não existe um estado intermediário. Em outras palavras, ou o
indivíduo sente a existência do Criador e a Sua orientação, ou ele imagina que
“a Terra é entregue às mãos dos ímpios”.
Já que o indivíduo sente sobre si mesmo que
é um homem da verdade, ou seja, que não pode enganar a si mesmo e dizer que
sente quando não sente, por isso, ele imediatamente começa a chorar ao Criador
para que tenha misericórdia dele e remova a autoridade da Sitra Achra (outro
lado) e de todos os pensamentos invasivos sobre ele. E porque ele está chorando
honestamente, o Criador ouve sua oração. (Talvez seja esse o significado de “O
Eterno está sempre próximo dos que O invocam com sinceridade”). Nesse momento “Ele os salva das mãos dos malévolos.”
Enquanto o indivíduo não sentir o seu verdadeiro self,
ou seja, a medida do seu próprio mal em um nível suficiente para acordá-lo a
fazê-lo chorar ao Criador devido à aflição que sente por reconhecer o mal, ele
permanece indigno de redenção, pois ainda não revelou o Kli (vaso) para
ouvir a oração, chamado de “Do fundo do coração”. Isso ocorre porque o
indivíduo ainda pensa que há algum bem nele, então ele não desce até o fundo do
coração. No fundo do coração, ele acha que ainda tem algum bem e não percebe
com que Amor e Temor se relaciona com a Torá e as Mitzvot (mandamentos).
É por isso que ele não enxerga a verdade.
25. As coisas que vêm do coração
(Ouvi em 5 de Av, Tav-Shin-Dalet, 25 de julho de 1944, durante
uma refeição comemorativa pela conclusão do Zohar)
Em relação às coisas que vêm do coração, entre no
coração. Assim, por que vemos que um indivíduo ainda cai desse nível, mesmo se
as coisas já entraram no coração?
Quando o indivíduo ouve as palavras da Torá de seu professor, ele
imediatamente concorda com o professor e decide observar as palavras com
coração e alma. Mas, depois, quando sai para o mundo, ele vê, cobiça e é
infectado pela multidão de desejos que vagam pelo mundo. Então, ele e sua
mente, seu coração e sua vontade são anulados diante da maioria.
Enquanto o indivíduo não tem o poder de sentenciar o mundo
para o lado do mérito, o mundo o subjuga, ele se mistura com os desejos da
multidão e é levado como uma ovelha para o abate. Ele não tem escolha. É compelido
a pensar, querer, desejar e a exigir tudo o que a maioria demanda. Então, ele
escolhe seus pensamentos estrangeiros e suas luxúrias e desejos repugnantes, os
quais são estranhos à Torá. Nesse estado, ele não tem força para subjugar a
maioria.
Ao invés disso, há então apenas um conselho: Apegar-se
ao seu professor e aos livros. Isso é chamado “Da boca dos livros e da boca dos
autores”. Apenas ao se apegar a eles o indivíduo pode mudar a sua mente - e
isso será para melhor. No entanto, argumentos espertos não vão ajudá-lo a mudar
a sua mente, mas apenas o remédio da Dvekut (adesão), pois essa é uma
cura maravilhosa, já que a Dvekut o reforma.
Apenas enquanto o
indivíduo está
dentro da Kedushá (Santidade) ele pode argumentar consigo mesmo e se
entregar a polêmicas inteligentes, de modo que a mente necessite que ele ande
sempre no caminho do Criador. Porém, o indivíduo deve saber e gravar na sua
mente que, mesmo quando ele é sábio e está certo de que já pode usar sua
inteligência para derrotar a Sitra Achra (outro lado), tudo isso é
inútil e que essa não é uma arma capaz de vencer a guerra contra a inclinação
ao mal, pois todos esses conceitos não passam de uma consequência alcançada
após a já mencionada Dvekut.
Em outras palavras,
todos os conceitos sobre os quais ele constrói sua obra, dizendo que o indivíduo deve
sempre seguir no caminho do Criador, são fundados na Dvekut com o
professor. Portanto, se ele perde essa fundação, todos os conceitos se tornam
impotentes, pois eles já não têm a fundação.
Dessa forma, o indivíduo não deve confiar na própria mente,
mas deve aderir mais uma vez aos livros e aos autores, pois apenas isso pode
ajudá-lo, e não o conhecimento ou o intelecto, visto que não há vitalidade
neles.
26. O futuro de uma pessoa depende e está atado à gratidão pelo passado
(Ouvi em Tav-Shin-Gimel,
1942-1943)
Está escrito: “Das alturas, o Eterno se
apercebe dos humildes” (Salmos 138:6), de modo que apenas os humildes podem ver
a exaltação. As letras de Yakar (precioso) são as letras de Yakir (saberá).
Isso significa que um indivíduo conhece a exaltação de algo na medida em que aquilo
é precioso para ele. O indivíduo se impressiona de acordo com a importância da
coisa. A impressão o leva a uma sensação no coração e a alegria nasce nele
nessa medida, de acordo com o grau de reconhecimento sobre a importância.
Portanto, se o indivíduo conhece a sua humildade, se sabe que
não é mais privilegiado que seus contemporaneous, ou seja, ele vê que há muitas
pessoas no mundo às quais não lhes foi dada a força para fazer o trabalho
sagrado mesmo da maneira mais simples, mesmo sem a intenção e em Lo Lishmá (não
em Seu nome), mesmo em Lo Lishmá de Lo Lishmá, e mesmo em
preparação para a preparação da vestimenta da Kedushá (santidade),
enquanto a ele lhe foi transmitido o desejo e o pensamento para, ao menos
ocasionalmente, fazer o trabalho sagrado, mesmo da maneira mais simples
possível, se ele é capaz de apreciar a importância disso, de acordo com a
importância que o indivíduo atribui ao trabalho sagrado, nessa medida ele deve
louvar e agradecer por isso.
É assim porque é verdade que não conseguimos
apreciar a importância de sermos capazes de, às vezes, observar as Mitzvot (mandamentos)
do Criador, mesmo sem nenhuma intenção. Nesse estado, o indivíduo vem a sentir
a euforia e a alegria no coração.
O louvor e a gratidão do indivíduo expandem os seus sentimentos,
e ele se torna eufórico por cada ponto no trabalho sagrado, ele sabe a Quem ele
serve, e portanto se eleva ainda mais. Esse é o significado do que está
escrito: “Eu agradeço pela graça que Você fez comigo”, ou seja, pelo passado. E
assim o indivíduo pode dizer, e diz, de forma confiante: “E pela graça que Você
está destinado a fazer comigo.”
27. O que é “Das alturas, o Eterno se apercebe dos humildes”?
(Ouvi no Shabat Terumá, Tav-Shin-Tet, 5 de março de 1949, em Tel-Aviv)
“Das alturas, o
Eterno se apercebe dos humildes”(Salmos 138:6). Como pode haver equivalência com o Criador quando o
homem é o receptor e o Criador é o Doador? O verso fala sobre isso: “Das alturas, o Eterno se apercebe dos humildes”.
Se o indivíduo se anula, então não tem autoridade
que o separe do Criador. Nesse estado, ele é “apercebido”, ou seja, lhe é
transmitido o Mochin de Chochmá, “e adverte os arrogantes”. Contudo,
alguém com orgulho, que tem sua própria autoridade, é distanciado, pois lhe
falta a equivalência.
A anulação não é considerada se abaixar diante de
outros. Isso é humildade, quando o indivíduo sente a completude em seu
trabalho. Ao contrário, a anulação significa que o mundo o despreza.
Considera-se anulação precisamente quando as pessoas o desprezam, pois então o
indivíduo não sente nenhuma completude, e é uma lei que o que os outros pensam
influencia uma pessoa.
Portanto, se as
pessoas o respeitam, ele se sente completo; e aqueles que são desprezados pelas pessoas se sentem
inferiores.
28. Não morrerei! Viverei.
(Ouvi em Tav-Shin-Gimel, 1942-1943)
No verso “Não morrerei! Viverei” (Salmos 118:17), a
fim de que o indivíduo alcance a verdade, deve haver uma sensação de que se ele
não obtém a verdade sente-se como se estivesse morto, pois ele quer viver. Isso
significa que o verso “Não morrerei! Viverei” é dito sobre aquele que quer
obter a verdade.
Esse é o significado de “Jonah Ben (filho
de) Amitai”. Jonah vem da palavra (hebraica) Honaa (fraude) e Ben (filho)
vem da palavra Mevin (entende). O indivíduo entende porque sempre
examina a situação em que está e vê que enganou a si mesmo e que não está
andando no caminho da verdade.
Verdade significa
doar, ou seja, Lishmá (em Seu nome). E o oposto disso é fraude e engano, ou seja, apenas
receber, que é Lo Lishmá (não em Seu nome). Assim, depois é transmitido
ao indivíduo “Amitai”, ou seja, Emet (verdade).
Esse é o significado de “teus olhos são como
pombas”. Eynaim (olhos) de Kedushá (santidade), chamados de Eynaim
da Shechiná (Divindade) são Yonim (pombas). Eles nos enganam
e pensamos que ela não tem Eynaim, como está escrito no Zohar: “Uma bela
donzela que não tem olhos.”
A verdade é que um indivíduo que é recompensado com
a verdade vê que ela tem olhos. Esse é o significado de “uma noiva cujos olhos
são belos, seu corpo inteiro não precisa de escrutínio”.
29. Quando pensamentos vêm a uma pessoa
(Ouvi em Tav-Shin-Gimel 1942-1943)
“O Senhor é a tua sombra” (Salmos
121:5). Se o indivíduo pensa, o Criador também pensa nele. E quando o Criador
pensa, isso é chamado de “O monte do Eterno”. Esse é o significado de “Quem
subirá ao monte do Eterno? E quem estará no Seu Santo Lugar? Aquele cujas mãos
são limpas” (Salmos 24:3-4). Este é o significado de “as mãos de Moisés ficaram
pesadas” (Êxodo 17:12), “e cujo coração é puro” (Salmos 24:4), que é o coração.
30. O mais importante é querer apenas doar
(Ouvi depois do Shabat
Vayikra, Tav-Shin-Gimel, 20 de março de 1943)
O mais importante é não querer nada além de doar devido a
Sua grandeza, pois qualquer recepção é um dano. É impossível sair da recepção a
não ser se tomando o outro extremo, a doação.
A força em movimento, ou seja, a força de
extensão e a força que compele ao trabalho, é apenas grandeza. O indivíduo deve
pensar que, por fim, os esforços e o trabalho devem ser feitos, mas apenas por
meio dessas forças ele pode produzir algum benefício e prazer. Em outras
palavras, o indivíduo pode agradar um corpo limitado com seu trabalho e
esforço, o qual pode ser um hóspede passageiro ou eterno, o que significa que a
energia do indivíduo se mantém na eternidade.
É similar a uma pessoa que tem o poder de
construir um país inteiro, e constrói apenas um barraco que é arruinado por um
vento forte. Você vê que todos os esforços foram desperdiçados. Contudo, se o
indivíduo se mantém na Kedushá (santidade), então todos os esforços se
mantêm na eternidade. O indivíduo deveria tomar a base para o seu trabalho
apenas a partir desse objetivo, pois todas as outras bases são falsas.
O poder da fé é o suficiente para que o indivíduo
trabalhe na forma de doação, pois ele pode acreditar que o Criador aceita o seu
trabalho, mesmo que o trabalho não seja tão importante aos seus próprios olhos.
Apesar disso, o Criador aceita tudo. Se o indivíduo atribui o trabalho ao
Criador, Ele acolhe e deseja todos os trabalhos, seja como forem.
Portanto, se o indivíduo quer usar a fé em uma forma de
recepção, então a fé não é o suficiente pra ele. Isso significa que, naquele
momento, ele tem dúvidas sobre a fé. A razão para isso é que a recepção não é a
verdade, pois, de fato, o indivíduo não tem nada do trabalho; apenas o Criador
vai ter algo a partir do seu trabalho.
Assim, as dúvidas do indivíduo são verdadeiras. Em
outras palavras, esses pensamentos invasivos que surgem na sua mente são
argumentos verdadeiros. Mas se o indivíduo quer usar a fé para andar nos
caminhos da doação, ele certamente não terá dúvidas sobre a fé. Se ele tem
dúvidas, deve saber que provavelmente não quer andar num modo de doação, pois,
para a doação a fé é o suficiente.
31. Qualquer um que agrade o espírito do povo
(Eu ouvi)
Qualquer um que agrade
o espírito do
povo. Ele perguntou: “Mas descobrimos que os mais grandiosos e renomados
estavam em desacordo. Assim, o espírito do povo não se agrada com ele.”
Ele respondeu que eles
não
disseram “todo o povo”, mas “o espírito do povo”. Isso significa que apenas os
corpos são disputados, pois cada um trabalha com o desejo de receber.
No entanto, “o espírito do povo” já é espiritualidade,
e “agrada”, pois o justo que estende a abundância, estende-a por toda a
geração. Eles não conseguem alcançar e sentir a abundância estendida pelo justo
apenas porque ainda não vestiram seu espírito.
32. Um lote é um despertar de cima
(Ouvi em 4 de Terumá, Tav-Shin-Gimel, 10 de fevereiro de 1943)
Um lote é um despertar de cima, quando o inferior
não ajuda em nada. Esse é o significado de “lançou um pur”, “um sorteio”
(Ester 3:7). Haman estava reclamando e disse “Um povo que não cumpre as (leis)
do rei” (Ester 3:8).
Isso significa que a
escravidão começa
para o trabalhador em um estado de Lo Lishmá (não em Seu nome), de
auto-recepção. Por isso, a pergunta: Por que lhes foi dada a Torá? Porque,
posteriormente, lhes é concedida Lishmá (em Seu nome) e eles recebem as Luzes
e as conquistas superiores.
Então chega o queixoso e pergunta: “Por que
lhes são dadas essas coisas sublimes pelas quais eles não trabalharam ou não
esperaram, se cada um dos seus pensamentos e objetivos foi apenas sobre
questões relacionadas às suas próprias necessidades, chamadas Lo Lishmá?”
Esse é o significado de “Ainda que prepare (o iníquo) tantas roupas (…), elas
serão vestidas pelos justos” (Jó 27:16-17).
Isso significa que,
previamente, ele estava trabalhando em um estado perverso, Lo Lishmá, apenas para receber. Depois, ele foi
recompensado com Lishmá, ou seja, toda a servidão entra no domínio da Kedushá
(santidade), em que tudo é para doação.
Esse é o significado de “Elas serão
vestidas pelos justos”.
Esse é o significado de Purim, como em Yom
Kippurim (Dia do Perdão). Purim é um despertar de cima, e Yom
Kippurim é um despertar de baixo, ou seja, através do arrependimento. No
entanto, aí também há um despertar de cima, correspondente às sortes que ali
estavam, “Uma para o Eterno e a outra para Azazel” (Levítico 16:8), e o Criador
é quem faz o escrutínio.
33. As sortes em Yom Kippurim e com Haman
(Ouvi em 6 de Terumá, Tav-Shin-Gimel, 2 de fevereiro de 1943)
Está escrito: “E Aarão lançará sortes sobre
os dois cabritos, uma para o Eterno e outra para Azazel” (Levítico, 16:8). Em
relação a Haman, está escrito: “se
lançou Pur, isto é, um sorteio” (Ester, 3:7).
Uma sorte se aplica
onde não é
possível haver escrutínio, pois a mente não alcança onde pode separar o que é
bom e o que é mau. Neste estado, um pur é lançado, quando se conta não
com a mente, mas com o que o sorteio. Segue-se que, quando se usa a palavra
“sorte”, ela vem para nos dizer que agora estamos atuando “acima da razão”.
Sobre o sétimo dia de Adar (o sexto mês do
calendário hebraico), no qual Moisés nasceu e no qual Moisés morreu, devemos
entender o que Adar significa. Ele vem da palavra Aderet (manto), como está
escrito sobre Elias: “e lançou seu manto sobre ele” (Reis 1 19:19). Aderet vem
da palavras Aderet Se’ar (cabelo), que são Se’arot (cabelos) e Dinim
(julgamentos), os quais são pensamentos invasivos e ideias no trabalho que
afastam o indivíduo do Criador.
Aqui há uma questão de se superar esses
pensamentos. Apesar de o indivíduo ver muitas contradições na Sua orientação,
ele ainda deve superá-las por meio da fé acima da razão e dizer que são
direcionamentos à maneira de “O Bom que faz o Bem”. Esse é o significado do que
está escrito sobre Moisés, “e Moisés escondeu sua face, pois temia olhar”.
Significa que ele viu todas as contradições e segurou-as com esforço pelo poder
da fé acima da razão. É como dizem os nossos sábios: “Em troca de “e Moisés
escondeu sua face, pois teve medo de olhar”, ele foi recompensado com “e a
imagem do Senhor ele contempla”. Esse é o significado do verso: “Quem é cego
como o meu servo (que não quer ver), ou surdo como o mensageiro (que não quer
escutar)?” (Isaías 42:19).
É sabido que Eynaim (olhos) são
chamados de “razão”, “mente”, com o sentido de “olhos da mente”. Isso é assim
porque com algo que percebemos na mente dizemos “mas vemos que a mente e a
razão requerem que digamos isso”.
Assim, o indivíduo que vai acima da razão é como alguém
que não tem olhos, e é chamado de “cego”, isto é, finge ser cego. Da mesma
forma, alguém que não quer ouvir o que os espiões lhe dizem e finge ser surdo é
chamado de “surdo”. Esse é o significado de “Quem é cego como o meu servo (que
não quer ver), ou surdo como o mensageiro (que não quer escutar)?”
No entanto, quando o
indivíduo diz
“eles têm olhos, mas não vêem; eles têm ouvidos, mas não ouvem”, significa que
ele não quer obedecer o que a razão afirma e o que os ouvidos escutam, como está
escrito sobre Josué, filho de Nun, que algo ruim nunca entrava nos seus
ouvidos. Este é o significado de Aderet Se’ar, pois ele tinha muitas
contradições e muitos julgamentos. Cada contradição é chamada Se’ar (cabelo),
e sob cada Se’ar há um buraco.
Isso significa que o
indivíduo faz
um abaulamento na cabeça, pois os pensamentos invasivos fissuram e perfuram a
sua cabeça. Quando ele tem muitos pensamentos invasivos considera-se que tem
muitos Se’arot, e isso é chamado Aderet Se’ar.
Esse é o significado do que está escrito sobre Eliseu: “E partiu de lá e
encontrou a Elishá ben Shafat, que estava arando junto com 12 parelhas de bois
diante dele, e ele estava com a 12ª; e Elias passou por ele e lançou seu manto
sobre ele” (Reis 1, 19:19). (Junta significa pares de Bakar [bois], pois
ele aravam com pares de bois amarrados, isso é chamado de uma junta de bois.) Bakar
significa Bikoret (crítica), e doze se refere à completude do nível
(como doze meses ou doze horas).
Isto sugere que o
indivíduo já
tem todos os discernimentos de Se’arot que podem existir no mundo. A Aderet
Se’ar já está formada. Porém, com Eliseu isso aconteceu no format de “manhã
de José”, como está escrito: “A manhã clareou e os homens foram despachados,
eles e os seus jumentos” (Gênesis 44:3).
Isso significa que o
indivíduo já
foi recompensado com a luz que repousa sobre essas contradições, pois através
das contradições, chamadas de crítica, ele atrai luz para elas quando as quer
dominar. É como está escrito: “Aquele que vem para se purificar, será
auxiliado.”
Porque ele já atraiu a luz sobre toda a crítica, e não
tem mais nada a adicionar, pois toda a crítica se completou nele, então a
crítica e as contradições nele se acabam em si mesmas. Isso segue a regra de
que nenhum ato é em vão, pois não há operador sem um propósito.
De fato, devemos saber
que o que aparece para o indivíduo como coisas que contradizem a orientação do “Bom que faz o Bem” existe
apenas para obrigá-lo a atrair a luz superior sobre as contradições quando quer
prevalecer sobre elas. Caso contrário, o indivíduo não consegue prevalecer.
Isso é chamado de “a exaltação do Criador”, a qual o indivíduo amplia quando
tem as contradições, chamadas Dinim (Julgamentos).
Isso significa que as
contradições podem
ser anuladas se o indivíduo quiser superá-las, mas apenas se ampliar a
exaltação do Criador. Percebe-se que esses Dinim causam a atração da
exaltação do Criador. Esse é o significado do que está escrito: “e lançou seu
manto sobre ele.”
Significa que,
posteriormente, ele atribuiu todo o manto de cabelo a Ele, ao Criador. Ou seja,
agora ele viu que o Criador lhe deu esse manto deliberadamente, de forma a
atrair a luz superior sobre eles.
Contudo, o indivíduo só consegue ver isso mais tarde,
depois de ter-lhe sido concedida a luz que repousa sobre essas contradições e Dinim
que ele havia tido no início. É assim porque ele vê que sem o cabelo, isto é,
os descensos, não haveria um lugar para a luz superior existir, pois não há luz
sem um Kli (vaso).
Por essa razão, ele vê que toda a exaltação do Criador
que ele obteve foi devido às Se’arot e às contradições que teve. Esse é
o significado de “o Eterno, que é poderoso nas alturas!” (Salmos 93:4). Isso
significa que a exaltação do Criador é concedida por meio do Aderet, e
esse é o significado de “exaltações ao Eterno provêm de seus lábios” (Salmos
149:6).
Assim, as falhas no
trabalho do Criador fazem com que ele se eleve, pois sem um empurrão o indivíduo é ocioso demais para fazer um movimento e concorda em
permanecer no estado em que está. Mas se o indivíduo desce a um nível inferior
ao que ele entende, isso lhe dá força para superar, pois ele não pode ficar em
um estado tão ruim, pois não consegue concordar em permanecer assim, no estado
para o qual desceu.
Por essa razão, o indivíduo deve sempre prevalecer e
emergir do estado de descenso. Nesse estado, ele deve atrair para si mesmo a
exaltação do Criador. Isso faz com que ele amplie forças superiores de cima, ou
ele permanece em humildade absoluta. Segue-se que, por meio dos Se’arot,
o indivíduo gradualmente descobre a exaltação do Criador, até que encontra os
nomes do Criador, chamados de “treze atributos da Misericórdia”. Esse é o significado
de “a maior servirá à menor” (Gênesis 25:23), e “serão vestidas pelos justos”
(Jó 27:17), e também “e a teu irmão servirás” (Gênesis 27:40).
Isso é toda a escravidão, ou seja, as
contradições que existiam e que pareciam obstruir o trabalho sagrado, e que
estavam trabalhando contra a Kedushá (santidade). Porém, quando recebem
a luz do Criador, a qual é colocada sobre essas contradições, vemos o contrário,
que elas estavam servindo à Kedushá. Isto é, por meio delas, havia um um
lugar para a Kedushá se cobrir com as suas vestimentas. Isso é chamado “ainda que prepare (o iníquo) tantas roupas (…), elas serão
vestidas pelos justos”, pois as contradições deram os Kelim (vasos) e o lugar para a Kedushá.
Agora podemos
interpretar o que nossos sábios escreveram (Higigah 15a): “Recompensado: um justo. Ele toma
sua porção e a porção do seu amigo no céu. Condenado: um perverso. Ele toma a
sua porção e a porção do seu amigo no inferno.” Isso significa que o indivíduo
toma os Dinim e os pensamentos invasivos do seu amigo, o que devemos
interpretar sobre o mundo inteiro. É por isso que o mundo foi criado repleto de
tantas pessoas, cada uma com seus próprios pensamentos e opiniões, e todos
estão presentes no mesmo mundo.
É assim de propósito, para que cada um seja
incorporado na totalidade de pensamentos de seu amigo. Portanto, quando o
indivíduo se arrepende, essa Hitkalelut (mistura/incorporação) gera um
benefício.
É assim porque quando o indivíduo quer se
arrepender ele deve sentenciar a si mesmo e ao mundo inteiro pelo lado do
mérito, já que ele próprio está incorporado em todas as noções e pensamentos
invasivos do mundo inteiro. Esse é o significado de “Condenado: um perverso. Ele toma a sua porção e a porção do seu amigo no inferno”.
Segue-se que quando o
indivíduo ainda
era perverso, chamado de “condenado”, a sua porção própria era de Se’arot,
contradições, e de pensamentos invasivos. Mas ele também estava misturado à
porção de seu amigo no inferno, ou seja, ele foi incorporado em todas as visões
de todas as pessoas no mundo.
Portanto, quando
depois ele se torna “Recompensado: um justo”, depois de se arrepender, ele sentencia a si
mesmo e ao mundo inteiro “pelo lado do mérito, ele toma sua porção e a porção do seu amigo no céu”. Isso é porque ele também deve atrair a
luz superior para os pensamentos invasivos de todas as pessoas no mundo, já que
está misturado a eles, e deve sentenciá-los pelo lado do mérito.
Isso ocorre
precisamente pela extensão da luz superior sobre esses Dinim do público em geral. Apesar
de eles próprios não poderem receber a luz que o indivíduo atraiu em nome
deles, pois não têm Kelim prontos para isso, ele a atraiu para eles
também.
Contudo, devemos
entender isso de acordo com a famosa regra sobre quem causa a extensão da luz em níveis superiores. Dizem que
na medida em que o indivíduo induz a luz no nível de cima ele recebe também
dessas luzes, pois ele foi a causa. Da mesma forma, também os perversos
deveriam receber uma parte das luzes que induziram nos justos.
Para entender isso,
devemos apresentar a questão dos Goralot (sinos). Havia dois sinos, como está escrito: “um para o Eterno e a outro para Azazel” (Levítico, 16:8).” É sabido que um sino é uma questão
acima da razão. Por isso, quando um sino está acima da razão, faz com que o
outro seja para Azazel.
Esse é o significado de “a tempestade que se
prepara, pairará sobre a cabeça dos iníquos”. É assim porque, por meio dessas
contradições, o indivíduo estendeu a luz superior. Vê-se que, dessa maneira, a
exaltação do Criador aumenta, e para os iníquos isso é um recuo, pois todo o
desejo deles é apenas dentro da razão. Quando a luz acima da razão aumenta,
eles murcham e são anulados.
Por isso, tudo o que
os iníquos têm
é a sua ajuda aos justos para estender a exaltação do Criador, e então eles são
anulados. Isso é chamado “Recompensado: ele
toma sua porção e a porção do seu amigo no céu.” (Isso se refere somente a quem aceitou
fazer a correção para criar a realidade da aparição da luz por meio de boas
ações, para criar a revelação da luz que se constrói com a semelhança de forma
com a Luz. Assim, esse ato se mantém em Kedushá e recebe aquilo que se produz
acima para fazer-se um lugar para a expansão da Luz. Nesse estado o inferior
recebe aquilo que se origina so Superior. Sem dúvida, as contradições e os Dinim
são cancelados, pois são substituídos pela exaltação ao Criador, a qual apenas
aparece acima da razão, enquanto eles querem que apareça especificamente nos Kelim
dentro da razão. É por isso que são anulados. É assim que podemos interpretar).
No entanto, também
permanece a Luz cuja extração e atração havia sido causada pela massa de
publico para regar a grandeza do Criador acima dos pensamentos invasivos. Quando estiverem aptos para receber o
farão de acordo com o grau de incidência que cada um consegue atrair da Luz
Superior sobre si mesmo.
Esse é o significado de “um caminho que
atravessa a divisão do cabelo”, trazido no Zohar (parte 15, e no Sulam,
comentário, item 33, p. 56), o qual faz a distinção entre direita e esquerda.
São os dois sinos que havia em Yom Kippurim, arrependimento a partir do
medo. Além disso, havia um sino em Purim, o qual é arrependimento a
partir do amor.
É assim porque aquele momento era anterior à
construção do Templo, e então eles precisavam do arrependimento a partir do
amor. Mas, primeiro, precisava haver uma necessidade para que se arrependessem.
Essa necessidade causa Dinim e Se’arot. Esse é o significado de
que Haman recebeu autoridade de cima, por meio de “Eu coloco o governo sobre
você, pois ele vai governar sobre você”.
É por isso que foi escrito que Haman “lançou
um pur, ou seja, um dado” no mês de Adar, o décimo segundo, como está
escrito “os doze bois” - escrito sobre Eliseu. Está escrito “duas colunas, seis
em uma coluna”, que é o mês de Adar, como em Aderet Se’ar, os
quais são os maiores Dinim.
Por meio disso, Haman
sabia que iria derrotar Israel, pois Moisés morreu no mês de Adar. Contudo,
ele não sabia que Moisés nasceu nesse mês, como está em “e eles viram que era
bom”. É assim porque quando um indivíduo se fortalece na situação mais difícil
lhes são concedidas as maiores luzes, chamadas “a exaltação do Criador”.
Esse é o significado de “linho finamente
torcido”. Em outras palavras, porque lhes foi concedido “um caminho que atravessa a divisão do cabelo”, “duas colunas, seis em uma coluna”,
então “torcido, a partir das palavras “um estrangeiro removido”. Significa que
o estrangeiro, a Sitra Achra, é anulada e retirada, pois ele já
completou a sua tarefa.
Vê-se que os Dinim e as contradições
vieram apenas para mostrar a exaltação do Criador. Assim, com Jacó, que era um
homem suave, sem Se’arot, foi impossível revelar a exaltação do Criador,
pois ele não tinha causa ou necessidade de estendê-las. Por essa razão, Jacó
não podia receber as bênçãos de Isaac, já que ele não tinha Kelim (vasos),
e não há luz sem Kli (vaso). É por isso que Rebeca o aconselhou a pegar
as roupas de Esaú.
E esse é o significado de “e sua mão agarrava o
calcanhar de Esaú”. Isso significa que, apesar de ele não nenhum cabelo, ele o
pegou de Esaú. É isso que Isaac viu e disse: “A voz é a voz de Jacó, mas as
mãos são as mãos de Esaú.” Em outras palavras, Isaac gostou da correção que
Jacó fez e por meio dela foram feitos os seus Kelim para as bênçãos.
Essa é a razão pela qual precisamos de um mundo
tão grande, com tantas pessoas, para que cada um seja incorporado no seu amigo.
Segue-se que cada indivíduo é incorporado nos pensamentos e desejos do mundo
inteiro.
É por isso que uma pessoa é chamada de “um
pequeno mundo” em si e de si mesma, pela razão acima. Esse também é o
significado de “não recompensados”. Ou seja, quando o indivíduo ainda não foi
recompensado, “ele toma a sua porção e a porção do seu amigo no inferno”. Isso
significa que ele está incorporado no inferno com o seu amigo.
Além disso, quando o indivíduo já corrigiu a
sua parte no inferno, se ele não corrigiu a parte do seu amigo, ou seja, se não
corrigiu a sua parte que está incorporada com o mundo, ele ainda não é
considerado inteiro.
Agora entendemos que,
apesar de Jacó em si
ser suave, sem Se’arot, ele ainda agarrou o calcanhar de Esaú. Isso
significa que ele toma as Se’arot ao se incorporar com Esaú.
Consequentemente,
quando ele é
recompensado com a correção deles, ele toma a parte do seu amigo no Céu,
referente à medida da exaltação da luz superior que ele havia estendido sobre
as Se’arot do público em geral. Ele é recompensado com isso, apesar de
que o público em geral ainda não pode receber, pois não tem qualificação para
isso.
Agora podemos entender
a discussão de Jacó
e Esaú. Esaú disse “eu tenho o suficiente”, e Jacó disse “eu tenho tudo”,
significando “duas colunas, seis em uma coluna”, significando dentro da razão e
acima da razão, que são o desejo de receber e a luz da Dvekut (adesão).
Esaú disse “eu tenho o suficiente”, que é uma luz que vem nos vasos de recepção, dentro
da razão. Jacó disse que tinha tudo, significando dois discernimentos. Em
outras palavras, ele estava usando os vasos de recepção e também tinha a luz da
Dvekut.
Esse é o significado da multidão misturada que
fez o bezerro e disse “esse é o seu deus, ó Israel”, ou seja, Eleh (esses)
sem o Mi (quem), significando que eles queriam se conectar apenas a Eleh
e não ao Mi. Isso significa que eles não queriam ambos, Mi e Eleh,
os quais juntos formam o nome Elohim (Deus), significando o suficiente e
tudo. Isso eles não queriam.
Esse é o significado dos Cherubim, que
são Kravia e Patia. Um Cherub em uma ponta, que é o
discernimento do suficiente, e um Cherub na outra ponta, que é o
discernimento de tudo. Esse também é o significado de “do meio dos dois
querubins, assim lhe falava”.
Mas como pode ser?
Afinal, eles são duas
pontas, opostos um do outro. Ainda assim, ele precisou fazer um Patia
(tolo) e, então, receber. E isso é chamado “acima da razão”: o indivíduo faz o
que lhe é dito, apensar de não entender nada do que lhe é dito.
Acerca do “tudo”, chamado “acima da razão”, o
indivíduo deveria tentar trabalhar com alegria, pois através da alegria aparece
a verdadeira medida de tudo. Se o indivíduo não tem alegria, então deveria
sentir muito por isso, já que é o lugar primário do trabalho, para descobrir a
alegria de trabalhar acima da razão.
Portanto, quando o
indivíduo não
tem alegria a partir do seu trabalho ele deveria se afligir por isso. Esse é o significado
do que está escrito: “aquele cujo coração o impelir”, o que significa ficar
doente e atormentado por não ter alegria a partir desse trabalho.
Esse é o significado de “em troca de não teres
servido ao Eterno, teu Deus, com alegria pela abundância de tudo”. Ao
contrário, tu deixaste o tudo e pegaste apenas o suficiente. Portanto, no
final, estarás muito abaixo e sem nada, ou seja, perderás o suficiente também.
Contudo, na medida em que o indivíduo tem o “tudo”, e se alegra, nessa medida
lhe é transferido o “suficiente”.
Dessa forma devemos
interpretar as palavras “mulheres clamando por Tammuz” (Ezequiel, 8:14). Rashi interpreta que
“elas tinham idolatria, que ele tinha chumbo dentro dos olhos, e elas o estavam
aquecendo para derreter o chumbo de dentro dos olhos”.
Devemos interpretar a
questão de
chorar (clamar) no sentido de que elas não têm alegria porque há poeira nos
seus olhos. Poeira é Behina Dalet, ou seja, o reino dos céus, o qual é
fé acima da razão.
Esse discernimento tem
a forma de poeira, ou seja, não tem importância. E esse trabalho tem o sabor de poeira, o que
significa que é tão importante quanto poeira. A alegoria sobre as mulheres
clamando por Tammuz é que elas queriam essa idolatria para que, através do
calor, a poeira saísse do chumbo.
Isso sugere que elas
estão
chorando sobre o trabalho que lhes foi dado para acreditar acima da razão que a
Sua orientação é boa e faz o bem, enquanto dentro da razão elas veem apenas
contradições na Sua orientação. Esse trabalho é o trabalho da Kedushá, e
elas querem remover a poeira, ou seja, o trabalho acima da razão, chamado
“poeira”. No entanto, os seus olhos, chamados “visão”, implicam ver a Sua
orientação, sendo dentro da razão; isso é chamado “idolatria”.
Isso se assemelha a
uma pessoa cujo ofício é fazer potes e vasos a partir da terra, cujo trabalho é fazer
vasilhas de barro. A ordem é fazer, primeiro, bolas redondas de barro, e depois
cortar e fazer furos nas bolas. E quando o filho jovem vê o que seu pai está
fazendo, ele chora: “Pai, por que você está arruinando as bolas?” O filho não
entende o que o objetivo principal do pai são os furos, pois apenas os furos
podem se tornar receptáculos, e o filho quer fechar os buracos que o pai fez
nas bolas.
Então aqui está. A poeira dentro dos olhos,
que bloqueia a visão para que, para onde quer que ele olhe, encontre
contradições da Providência, esse é o Kli inteiro pelo qual ele pode
descobrir as faíscas de amor incondicional, chamado “a alegria da Mitzva”.
É dito sobre isso: “Se o Criador não o ajuda, ele não consegue superar.”
Isso significa que se o Criador não lhe houvesse dado esses pensamentos,
ele seria incapaz de receber qualquer ascensão.
34. O lucro da terra
É sabido que nada se
manifesta sob a forma verdadeira, mas somente através do seu oposto. “Sempre
que a Luz prevaleça sobre a escuridão”. Isto implica que tudo aponta para outra
coisa, e que através do seu contrário se pode perceber a existência do seu oposto.
Portanto, é impossível
alcançar alguma coisa com plena claridade, se o seu oposto está ausente. Por
exemplo: é impossível estimar e dizer que algo seja bom, se falta o seu
contrário, que aponta para o mau. O mesmo ocorre com as noções de doce e amargo,
amor e ódio, fome e saciedade, sede e conformidade, adesão e separação.
Para ser recompensado com o
grau de “odiar a separação”, primeiro deve-se saber o que esta significa; ou
seja, do que se está separado; e então poderá dizer que se deseja solucionar
essa separação. Em outras palavras, deve-se analisar do que e de quem a pessoa
se encontra separada. Depois disto, pode-se iniciar o conserto e tratar de se
conectar àquilo de que se separou. Por exemplo, se a pessoa entendeu que se
beneficiaria da união com Ele, então poderia assumir e saber o que é que perde
ao permanecer separado Dele.
O lucro e o prejuízo se medem
de acordo com o prazer e o sofrimento. A pessoa se protege daquilo que lhe
causa sofrimento; ela o detesta. A medida da distância depende da medida do
sofrimento, já que escapar do sofrimento é uma condição da natureza humana.
Deste modo, um depende do outro; ou seja, a pessoa se esforçará e executará
todo o tipo de ação para proteger-se do sofrimento, dependendo do nível de dor
que sinta. Em outras palavras, os tormentos produzem ódio a aquilo que o
produz, e, nesse mesmo grau, a pessoa se manterá a margem dele.
Disto se depreende que se deve
saber o que é a equivalência de forma, para poder saber o que se deve fazer
para lograr a adesão que chamamos de “equivalência de forma”. Assim, sabe-se o
que significam a disparidade de forma e a separação.
Sabemos, através dos livros e
dos autores, que o Criador é benevolente. Isto quer dizer que Sua diretriz se
manifesta aos inferiores como bondade; e é nisto que devemos acreditar.
Por isso, quando alguém
analisa a forma como o mundo se porta, começa a examinar-se a si mesmo e aos
demais, e a ver como todos sofrem sob a Providência, ao invés de se deleitarem,
como corresponderia ao seu nome, Benevolente. Então, para essa pessoa, torna-se
difícil dizer que a Providência Superior é benevolente e que distribui
abundância.
Não obstante, devemos entender
que, nesse mesmo estado, quando as pessoas não podem declarar que o Criador
distribui somente o bem, são consideradas malvadas porque o sofrimento as leva
a condenar o seu Criador. Somente quando descobrem que o Criador lhes dá prazer
é que podem justificá-Lo. Assim, afirmaram nossos sábios ao dizer “Quem é
Tzadik (justo)? Aquele que justifica o seu Criador”; ou seja, aquele que
declara que o Criador dirige o mundo de forma justa.
Deste modo, quando a pessoa
sofre, se distancia do Criador, na medida em que certamente começa a detestar
Aquele que lhe provoca todos os tormentos. Em conseqüência, ali onde se deveria
amar o Criador, agora existe o contrário, pois a pessoa começou a odiar o
Criador.
O que é que se deve fazer para
chegar a amar o Criador? Para isso nos foi concedida a virtude de observar a
Torá e as Mitzvot (preceitos), para atrairmos a Luz que Reforma. Ali há luz que
permite à pessoa perceber a severidade do estado de separação, e, pouco a
pouco, na medida em que vai recebendo a luz da Torá, vai nascendo dentro dela
um ódio pelo estado de separação. Começa a sentir a razão que leva uma pessoa e
sua alma a estarem separados e longe do Criador.
Assim, deve-se crer que a Sua
orientação é benevolente. Mas, estar imerso em amor próprio, provoca a
disparidade de forma, porque existe uma correção conhecida como “com o
propósito de outorgar”, que é a equivalência de forma. Somente deste modo
podemos receber deleite e prazer. A incapacidade de receber este deleite e
prazer que o Criador deseja outorgar provoca no receptor um rechaço pela
situação de separação; e assim a pessoa recebe o grande benefício da
equivalência de forma, e começa a aspirar por alcançar a adesão.
Em conseqüência, cada forma
aponta para outra forma. Assim, todos os descensos, através dos quais a pessoa
sente que se separou Dele, são uma oportunidade para discernir entre algo e o
seu oposto. Em outras palavras, a pessoas deve aprender os benefícios dos
ascensos e dos descensos. Do contrário, não poderá apreciar a importância de
ser guiada desde Cima e nem poderá apreciar os ascensos que lhe são concedidos.
Não poderá obter a noção de importância que poderia extrair, sentindo-se como
alguém que recebe comida sem ter sentido
fome.
Resulta que os descensos, que
representam os tempos de separação, produzem a importância da adesão que se
alcança durante os ascensos; enquanto que os ascensos levam-nos a detestar os
descensos que os estados de separação nos causam. Dito de outro modo, não é
possível determinar quão maus são os descensos quando a gente mesmo calunia a
Providência; e nem sequer percebemos a quem estamos caluniando, para chegarmos
a compreender que devemos nos arrepender de tal pecado. Isto se chama caluniar
o Criador.
Assim, podemos compreender
que, precisamente quando alguém adquire ambas as formas, consegue discernir a
distância entre uma e outra “como a Luz prevalece sobre a escuridão”. Somente
assim a pessoa pode entender e considerar o que é a adesão, através da qual se
logra o deleite e o prazer do Pensamento da Criação, que vem a ser “Seu desejo
de fazer o bem às Suas criaturas”. Tudo o que aparece diante de nossos olhos
não é mais que aquilo que o Criador deseja que alcancemos de determinada
maneira, já que representa os caminhos por meio dos quais se alcança a Meta
Final.
Não obstante, não é tão
simples lograr a adesão com o Criador. Alcançar essa sensação de prazer e
deleite requer grande esforço e trabalho. Antes disto, deve-se justificar a
Providência, acreditar acima da razão que o Criador é benevolente com as
criaturas, e dizer-se que “têm olhos, mas não vêem”.
Nossos sábios disseram:
Habacuc veio e atribuiu tudo a um só, tal como está escrito: “O justo viverá
por sua fé”. Isto significa que a pessoa não necessita fixar-se em detalhes,
mas que deve concentrar o seu trabalho inteiro em um só ponto, uma regra, que é
a fé no Criador. Precisamente por isso deve rezar, ou seja, pedir que o Criador
a ajude a ser capaz de avançar de modo a ter fé por cima da razão. Há uma
grande virtude na fé, pois através dela a pessoa chega a odiar o estado de
separação. Por isso, a fé, indiretamente, o leva a detestar este estado.
Podemos ver que existe uma
grande diferença entre estes três conceitos: fé, evidência e conhecimento. A
respeito de algo que pode ser visto e conhecido, se a mente determina que é
bom, basta essa decisão. Em outras palavras, a pessoa atua de forma como havia
decidido, já que a mente lhe acompanha em cada ação, para não romper com o que
ela mesma havia determinado. O que lhe permite entender em 100% a razão por ter
tomado esta ou aquela decisão.
No entanto, a fé é uma questão
de acordo potencial. Em outras palavras, ela supera a mente e afirma que
certamente vale a pena trabalhar da maneira como ela necessita trabalhar: por
cima da razão. Portanto, a fé por cima da razão é útil somente durante a ação,
quando a pessoa acredita. Somente então se encontra disposto a esforçar-se no
trabalho por cima da razão.
Do contrário, quando deixa de
lado a fé, ainda que somente por um momento, quando se debilita por um
instante, a pessoa de imediato cessa o Trabalho e a Torá. Aqui não lhe ajuda o
fato de ter, recentemente, aceitado sobre si a carga da fé por cima da razão.
Não obstante, quando a pessoa
percebe dentro de sua mente que isto é mau para si, e que põe em risco sua
vida, já não necessita mais argumentos nem razões sobre por que isto representa
um perigo para ela. Pelo contrário, dado que esteve totalmente consciente de
que devia praticar estas coisas – sobre as quais a sua mente determina o que é
bom e o que é mau, ela, agora, segue sua própria decisão.
Vemos a diferença que existe
entre o que a mente necessita e o que somente a fé necessita e qual é a razão
porque precisamos ser constantemente lembrados da forma da fé quando algo é
baseado na fé. Do contrário, cairíamos do grau em que nos encontramos a um
estado de maldade. Estes estados podem acontecer num mesmo dia. A pessoa pode
cair de seu próprio grau várias vezes em um mesmo dia, porque é impossível que
a fé por cima da razão não se detenha ao menos por um momento durante o dia.
Devemos saber que a razão de
esquecer a fé se origina do fato de que a fé por cima da razão e da mente se
contrapõe a todos os desejos do corpo. Isto se deve ao fato de que os desejos
do corpo vêm, por natureza, impressos no próprio corpo, e recebem o nome de
desejo de receber, seja na mente ou no coração. Assim, o corpo sempre tende
para a nossa natureza. Somente ao aferrarmo-nos à fé temos o poder de
sobrepor-nos aos desejos corporais, e de elevarmo-nos por cima da razão; ou
seja, contra as razões do corpo.
Portanto, antes da aquisição
dos Kelim (vasos) de outorga, que correspondem à adesão, a fé não pode ser
atingida de forma permanente. Quando a fé não ilumina o vaso por dentro, se
está no estado mais baixo possível; e tudo isso vem da disparidade de forma,
que radica no próprio desejo de receber. Esta separação causa todas as
atribulações, destrói todas as estruturas e todos os esforços que haviam sido
investidos no Trabalho.
A pessoa descobre que no
minuto em que perde a fé encontra-se num estado pior que aquele em que estava
quando empreendeu o caminho do trabalho de outorgar. Assim, a pessoa chega a
odiar a separação, porque imediatamente começa a sentir as atribulações em si
mesmo e no mundo inteiro. Resulta-lhe difícil justificar Sua Providência a
respeito das criaturas e considerá-Lo benevolente; e então sente que o mundo
inteiro se escureceu frente a seus olhos, e que já não tem de onde extrair
alegria.
Por isso, cada vez que a
pessoa começa a corrigir o defeito de caluniar a Providência, chega a sentir
aversão à separação, e através dela, alcança o amor pela adesão. Dito de outro
modo, na mesma medida em que sofre durante a separação, aproxima-se da adesão
com o Criador. Do mesmo modo, na mesma medida em que percebe que a escuridão é
má, chega a sentir que a adesão é boa. Então sabe como valorizar quando recebe,
mesmo que por um momento, certo grau de adesão, porque já havia aprendido a
apreciá-la.
Agora podemos ver que todas as
atribulações que existem no mundo não são mais que uma preparação para os
verdadeiros tormentos. Estas são as aflições que se deve alcançar, ou não se
poderá obter nada espiritual, já que não pode haver Luz sem Kli (vaso). Estes
tormentos, os verdadeiros tormentos, recebem o nome de condenação da
Providência e calúnia. Por isto se reza para não caluniar a Providência; e
estas são as atribulações que o Criador aceita. Este é o sentido do ditado que
diz que o Criador escuta a reza de toda boca.
A razão por que o Criador
responde a essas atribulações é que, nesse momento, a pessoa não solicita ajuda
para seus próprios vasos de recepção, pois, se o Criador lhe garantisse tudo o
que ela quisesse isto a afastaria ainda mais Dele, por causa da disparidade de
forma que seria adquirida em conseqüência disso. No entanto, sucede o
contrário: a pessoa anseia por fé, pede que o Criador lhe conceda a força
necessária para prevalecer e ganhar a equivalência de forma, pois ela vê que se
a fé não é permanente e deixa de iluminar por algum momento, voltará a cair em
dúvidas e pensamentos estranhos à Providência.
Isto, por sua vez, leva a
pessoa a um estado chamado “maldade”, em que condena o Criador. Então resulta
que todas as aflições que sente se devem a que caluniou a Providência. O que
lhe dói é que ali onde deveria haver respeitado e elogiado o Criador dizendo
“Bendito seja Ele que nos criou em Sua glória”, sente que o comportamento do
mundo não encaixa com a Sua glória, já que todos se queixam e reclamam que
primeiro deveria manifestar-se abertamente a Providência para que se mostrasse
que o Criador dirige o mundo com benevolência. E como isto não acontece, dizem
que a Providência não manifesta a Sua glória, e isto o martiriza.
Assim, através das atribulações
que sente, a pessoa se vê forçada a difamar. Por isso, quando se pede ao
Criador que lhe conceda o poder da fé, e que lhe conceda benevolência, não é
porque quer receber prazer e deleite por meio disto, mas para não voltar a
difamar. Ela somente deseja acreditar por cima da razão que o Criador dirige o
mundo com benevolência; e deseja esta fé para colocar esta convicção em suas
sensações como se fosse dentro de sua própria mente.
Portanto, quando pratica Torá
e Mitzvot, não deseja extrair Luz de Deus para benefício próprio, mas porque já
não suporta não poder justificar a Sua Providência, que é benevolente. Dói-lhe
profanar o nome de Deus, cujo nome é “Benevolente” e ao qual seu corpo mostra
resistência.
Isto é tudo o que provoca a
dor, já que, ao encontrar-se em um estado de separação, não pode justificar Sua
diretriz. Isto se considera “aborrecer o estado de separação”. E quando se
sente este sofrimento, o Criador ouve sua reza, aproxima-se, e o recompensa com
a adesão. Isto se deve a que as dores que sentia por causa da separação
levaram-no a obter a recompensa da adesão; e então se diz: “A Luz prevalece
sobre a escuridão”.
Este é o significado de “o
lucro da terra, em todos os sentidos”. “Terra” é a Criação. “Em todos os
sentidos” significa que “por benefício”, que “por prestação de serviço”,
através do qual nós vemos a diferença entre o estado de separação e o estado de
adesão, através do qual nos é garantida a adesão com o “Todo”, já que o Criador
é chamado de “a Raiz de todas as coisas”.
35. Sobre a Vitalidade da Kedushá
(Ouvi em Tav-Shin-Hey, 1944-1945, Jerusalém)
O verso diz: “Eis o mar, amplo em sua vastidão imensa,
habitado por um sem número de criaturas de todos os tamanhos” (Salmos, 104:25).
Devemos interpretar:
1. “Eis o
mar” significa o mar da Sitra Achra (Outro Lado).
2. “Amplo em sua vastidão imensa” significa
que ele se manifesta e grita “Doe! Doe!”, referindo-se aos grandes vasos de
recepção.
3. “Sem
número” significa que há Luzes Superiores aqui, nas quais o indivíduo pisa e as
esmaga com o pé.
É assim porque há uma regra que “de cima,
eles doam doando, e pegar, eles não pegam” (assim como tudo que é doado de cima
não é recebido de volta, mas fica abaixo). Assim, se o indivíduo atrai algo de
cima de então o mancha, isso permanece abaixo, mas não com a pessoa. Ao invés
disso, cai para o mar da Sitra Achra.
Em outras palavras, se
o indivíduo atrai
alguma iluminação e não consegue sustentá-la de forma permanente porque seus Kelim
(vasos) ainda não estão limpos adequadamente para a luz - ou seja, de forma que
ele receba a luz em vasos doação, como a luz que vem do Doador -, a iluminação
deve se afastar dele.
Nesse momento, a
iluminação cai
nas mãos da Sitra Achra. Isso continua a ocorrer diversas vezes, ou
seja, o indivíduo atrai a Luz e então ela se afasta dele.
Dessa forma, as Iluminações aumentam o mar da Sitra Achra
até que o copo esteja cheio. Isso significa que, após revelar a medida máxima
do esforço que o indivíduo é capaz de revelar, a Sitra Achra lhe devolve
tudo o que ela levou para sua própria autoridade. Esse é o significado de “ele
engoliu riquezas e deve vomitá-las novamente”. Segue-se que tudo o que a Sitra
Achra recebeu para sua própria autoridade foi apenas como um depósito. Ou
seja, foi apenas enquanto ela teve controle sobre o homem. E esse controle
serve para que o indivíduo possa fazer um escrutínio sobre os seus vasos de
recepção e levá-los à Kedushá (santidade).
Em outras palavras, se
a Sitra
Achra não tivesse
controle sobre o indivíduo, ele se conformaria com pouco. Então, todos os seus
vasos de recepção permaneceriam separados, e ele nunca seria capaz de reunir
todos os Kelim que pertencem à raiz da sua alma, levá-los à Kedushá e
atrair a Luz que pertence a ele.
Assim, cada vez que o
indivíduo atrai
algo e tem um descenso é uma correção, ele deve começar mais uma vez, fazer
novos escrutínios. E o que ele tinha do passado caiu para a Sitra Achra,
para que ela o mantenha sob sua autoridade como um depósito. Depois, o
indivíduo recebe dela tudo o que recebeu dele durante todo o tempo.
Ainda assim, também devemos saber que se o indivíduo
pudesse sustentar qualquer Iluminação, mesmo uma pequena, mas que fosse
permanente, ele já seria considerado como inteiro. Ou seja, o indivíduo seria
capaz de avançar com a sua Iluminação. Dessa forma, se ele perde a Iluminação,
deve se arrepender disso.
É como uma pessoa que plantou uma semente no
chão para que uma grande árvore crescesse, mas tirou a semente da terra logo em
seguida. Portanto, qual é o benefício do trabalho de colocar a semente na
terra?
Mais do que isso,
podemos dizer que ele não só tirou a semente do chão e a estragou; podemos dizer que ele
desenterrou uma árvore com frutos maduros e os estragou. É o mesmo aqui: Se ele
não tivesse perdido sua pequena Iluminação, uma grande luz teria crescido dela.
Segue-se que ele não necessariamente perdeu o poder de uma pequena Iluminação,
mas é como se ele, de fato, tivesse perdido uma grande Luz.
Devemos saber que é uma regra o fato de que o indivíduo não
pode viver sem vitalidade e prazer, pois isso deriva da raiz da Criação - é Seu
desejo fazer o bem às Suas criaturas. Por isso, nenhuma criatura pode existir
sem vitalidade e prazer. Portanto, toda criatura deve sair e procurar um lugar
do qual pode receber deleite e prazer.
Mas o prazer é recebido em três vezes: no passado, no
presente e no futuro. Contudo, a principal recepção do prazer é no presente.
Embora vejamos que o indivíduo também recebe prazer do passado e do futuro, é
porque o passado e o futuro brilham no presente.
Portanto, se o indivíduo não encontra uma sensação de prazer
no presente, ele recebe vitalidade do passado, e pode contar aos outros como
foi feliz em tempos passados. O indivíduo pode receber a vitalidade disso no
presente, ou pode imaginar para si mesmo um futuro em que espera ser feliz. Mas
medir a sensação de prazer do passado e do futuro depende da extensão em que
brilham para ele no presente. Devemos saber que isso se aplica tanto aos
prazeres materiais quanto aos prazeres espirituais.
Como vemos, quando um
indivíduo
trabalha, mesmo na corporalidade, a ordem é que durante o trabalho ele seja
infeliz, pois está se esforçando. E ele é capaz de continuar o trabalho apenas
porque o futuro brilha para ele, pois ele vai receber um pagamento pelo seu
trabalho. Isso brilha no presente, e é por isso que ele pode continuar o
trabalho.
No entanto, se ele é incapaz de visualizar a recompensa que
vai receber no futuro, ele deve tomar prazer do futuro, e não da recompensa que
vai receber pelo seu trabalho no futuro. Em outras palavras, ele não vai gozar
da recompensa, mas não vai sentir o sofrimento do esforço. Isso é o que ele
aproveita agora, no presente, o que ele vai ter no futuro.
O futuro brilha para
ele no presente, no sentido de que logo o trabalho estará terminado, ou seja, o tempo que deve
trabalhar, e então ele vai receber descanso. Portanto, o prazer do descanso que
vai por fim receber ainda brilha para ele. Em outras palavras, o seu lucro será
que ele não é afligido pelo que sente do trabalho agora, e isso lhe dá força
para conseguir trabalhar agora.
Se o indivíduo é incapaz de visualizar que logo vai
estar livre dos tormentos que sofre agora, ele vai chegar ao desespero e à
tristeza num nível em que esse estado pode levá-lo a tirar a própria vida.
É por isso que os nossos sábios disseram:
“Aquele que tira a própria vida não tem parte no Mundo Vindouro”, pois ele nega
a Providência, que o Criador guia o mundo na forma do bem e de fazer o bem. Ao
invés disso, o indivíduo deve acreditar que esses estados chegam a ele porque Acima
eles querem que isso o leve à correção, ou seja, que ele colete Reshimot (lembranças)
desses estados para que seja capaz de entender a conduta do mundo de forma mais
intensa e com mais força.
Esses estados são chamados Achoraim (posterior, de
costas). Quando o indivíduo supera esses estados, ele é recompensado com a
qualidade de Panim (anterior, de frente), o que significa que a Luz vai
brilhar dentro desses Achoraim.
Há uma regra de que o indivíduo não pode
viver se não tem um lugar do qual receber deleite e prazer. Portanto, quando ele
não é capaz de receber do presente, ele ainda deve receber vitalidade do
passado e do futuro. Em outras palavras, o corpo busca vitalidade para si mesmo
de todas as formas à sua disposição.
Então, se o indivíduo não concorda em receber
vitalidade das coisas corpóreas, o corpo não tem escolha senão concordar em
receber vitalidade das coisas espirituais, porque não tem outra escolha.
Assim, ele precisa
concordar em receber deleite e prazer dos vasos de doação, pois é impossível viver sem
vitalidade. Segue-se que quando o indivíduo está acostumado a observar a Torá e
as Mitzvot (mandamentos) em Lo Lishmá (não em Seu nome), quando
recebe prazer pelo seu trabalho, ele consegue visualizar para si mesmo que vai
receber alguma recompensa mais tarde, e já pode trabalhar no cálculo de que vai
receber deleite e prazer depois.
Contudo, se ele não trabalha a fim de receber recompensa,
mas quer trabalhar sem qualquer recompensa, como ele pode visualizar para si
mesmo alguma coisa da qual receber sustento? Afinal, ele não pode criar nenhuma
imagem, pois não tem nada sobre o qual fazê-lo.
Assim, em Lo Lishmá, não há necessidade de conceder
vitalidade de Cima ao indivíduo, pois ele tem vitalidade a partir da
visualização do futuro, e apenas a necessidade é concedida de Cima, não a
luxúria. Portanto, se o indivíduo quer trabalhar apenas para o Criador e não
tem nenhum desejo de tomar vitalidade para outras coisas, não há outro caminho
a não ser receber vitalidade de Cima, pois ele demanda apenas a vitalidade
necessária para sobreviver. Então, ele recebe vitalidade da estrutura da Shechiná
(Divindade).
É como os nossos sábios disseram: “Qualquer
um que tenha pena do público é recompensado com a visão do conforto do
público.” O público é chamado de “A Shechiná”, pois “público” significa
um coletivo, ou seja, a Assembleia de Israel, pois Malchut é a coleção
de todas as almas.
Já que a pessoa não quer qualquer
recompensa para si mesma, mas quer trabalhar em nome do Criador - o que é
chamado de “levantar a Shechiná do pó” -, então ela não vai ser tão
degradada. Pois para aquele que não quer trabalhar em nome do Criador, e vê
apenas o que vai produzir benefício para si mesmo, há combustível para o
trabalho. E no que tange ao benefício do Criador, quando o indivíduo não vê qual
recompensa vai receber em troca, o corpo contesta esse trabalho, pois sente um
gosto de pó nesse trabalho.
E há a pessoa que quer trabalhar em nome do
Criador, mas o corpo resiste. E ela pede ao Criador que lhe dê força para,
apesar disso, ser capaz de trabalhar para levantar a Shechiná do pó.
Dessa forma, ela é premiada com a Panim (Face) do Criador, Ele aparece e
a ocultação se afasta da pessoa.
36. O que são os três corpos no homem?
(Ouvi em 24 de Adar, Tav-Shin-Dalet, 19 de Março de 1944, Jerusalém)
O homem é composto de três corpos:
1. O corpo interno,
que é uma
vestimenta para a alma da Kedushá (Santidade);
2. A Klipá (casca) de Noga;
3. A pele da serpente.
A fim de salvar um
corpo dos outros dois, para que eles não interfiram com a Kedushá, e para que o
indivíduo seja capaz de usar apenas o corpo interno, o conselho para isso é que
há um remédio: pensar apenas sobre as
coisas que dizem respeito ao corpo interno.
Isso significa que o
pensamento do indivíduo deve se manter sempre na autoridade singular, ou seja, “Não há
ninguém além Dele”. Ou seja, Ele faz e fará todas as ações, e não há criação no
mundo capaz de separar o indivíduo da Kedushá.
E porque ele não pensa naqueles dois corpos, eles
morrem, pois não têm nutrição e nada os sustenta, já que os nossos pensamentos
sobre eles são a sua provisão. Esse é o significado do verso (Gênesis 3:19): “No suor do teu rosto comerás o teu
pão.” Antes do pecado da Árvore do Conhecimento, a vitalidade não dependia do
pão. Ou seja, não havia necessidade de atrair luz e vitalidade, mas havia
iluminação.
Porém, depois do pecado, quando Adam
HaRishon se uniu ao corpo da serpente, a vida se tornou ligada ao pão, no
sentido de que o alimento deve ser sempre atraído de novo. E se eles não têm o
sustento, eles morrem. Isso se tornou uma grande correção a fim de salvar-se
daqueles dois corpos.
Portanto, o indivíduo deve tentar, com toda a sua força,
não ter pensamentos sobre esses corpos, e talvez seja isso que nossos sábios
disseram: “Pensamentos de transgressão são mais difíceis que uma transgressão”,
pois os pensamentos são o seu alimento. Em outras palavras, eles recebem
vitalidade dos pensamentos que o indivíduo dedica a eles.
Dessa forma, o indivíduo deve pensar apenas sobre o corpo
interno, pois ele é uma vestimenta para a alma da Kedushá. Ou seja, ele
deve ter pensamentos além da própria pele. Além da própria pele é chamado de
“fora do próprio corpo”, o que significa fora do benefício próprio, apenas
pensamentos em benefício de outros. Isso é chamado “fora da própria pele”.
Isso é assim porque além da própria pele não há
controle para as Klipot (plural de Klipá), pois as Klipot controlam
apenas aquilo que está dentro da pele do indivíduo, ou seja, aquilo que
pertence ao seu corpo, e não fora do seu corpo, chamado de “fora da própria
pele”. Isso significa que elas possuem qualquer coisa que está vestida no
corpo, e não podem segurar nada que não esteja vestido no corpo.
Quando o indivíduo persiste com pensamentos além da
própria pele, ele será recompensado com o que está escrito (Jó 19:26): “E
quando já estiver destruída minha pele e já não existir minha carne,
contemplarei a Deus.” Essa é a Shechiná, ela fica além da pele do
indivíduo. “Destruída” significa que foi corrigida para ser um pilar “depois da
minha pele”. Nesse momento, quando “já não existir minha carne”, o indivíduo é premiado com “contemplarei a Deus”.
Isso significa que a Kedushá vem e veste o interior do corpo
especificamente quando o indivíduo concorda em trabalhar fora da própria pele,
ou seja, sem nenhuma vestimenta. Os perversos, no entanto, aqueles que querem
trabalhar precisamente quando há vestimenta no corpo, chamado “dentro da pele”,
eles morrerão sem sabedoria. Isso é porque, então, eles não têm vestimenta e
não são premiados com nada. No entanto, são especificamente os justos que são
recompensados com a vestimenta no corpo.
37. Um artigo para Purim
(Ouvi emTav-Shin-Het, 1947-1948)
Devemos entender diversas precisões na Meguilá
Ester:
1. Está escrito (Ester 3:1): “Depois destas coisas, o Rei Ahashverósh
engrandeceu Haman ben Hamedáta, o agaguita.” Devemos entender o que é “depois
destas coisas”, que significa depois de Mordehai ter salvado o rei. Parece
razoável que o rei deveria promover Mordehai. Mas o que diz? Que ele promoveu
Haman.
2. Quando Ester contou
ao rei, “Porque
fomos vendidos, eu e o meu povo”, o rei perguntou “Quem é esse e onde está
esse?” Isso significa que o rei não sabia nada sobre a questão, apesar de
constar explicitamente que o rei disse a Haman: “Essa prata seja tua, como
também esse povo para fazeres dele o que melhor for de teu agrado.” Portanto,
vemos que o rei sabia, sim, sobre a venda.
3. Nossos sábios disseram sobre “Segundo a vontade de
cada um”: “Raba disse, ‘fazer de acordo com a vontade de Mordecai e Haman’”
(Meguilá 12). É sabido que onde diz apenas “rei” se refere ao Rei do mundo.
Assim, como pode ser que o Criador agiria de acordo com a vontade de um
perverso?
4. Está escrito: “Mordecai sabia tudo o que foi
feito.” Isso implica que apenas Mordecai sabia, já que antes disso está
escrito: “E a cidade de Shushan ficou perplexa.” Portanto, a cidade inteira de
Shushan sabia sobre a questão.
5. Está escrito: “Pois algo que foi escrito com
o nome do rei e selado com o anel do rei não pode ser revertido.” Assim, como
ele deu novas cartas depois, as quais por fim cancelam as primeiras cartas?
6. O que significa
quando os nossos sábios disseram: “Em Purim, o indivíduo deve se intoxicar até que
não possa distinguir o amaldiçoado Haman do abençoado Mordecai”?
7. O que significa
quando os nossos sábios disseram sobre o verso “E a bebida era como estava prescrito”, o
que é “Como estava prescrito”? Rabi Hanan disse, em nome do Rabi Meir, que é “De
acordo com a lei da Torá”. O que é a lei da Torá? Comer mais do que beber.
Para entender o
exposto acima, precisamos primeiro entender a questão de Haman e Mordecai. Nossos sábios
disseram sobre o verso “Segundo a vontade de cada um”, que significa Haman e
Mordecai. Devemos interpretar que o desejo de Mordecai é chamado “A visão da
Torá”, que é comer mais que beber, e o desejo de Haman é o oposto, beber mais
do que comer.
Perguntamos: “Como pode ser que ele faria uma refeição
de acordo com a vontade de um perverso?” A resposta para isso está escrita em
seguida: “Não havia quem forçasse.” Significa que a bebida não era obrigatória,
e esse é o significado de “Não havia quem forçasse.” É como os nossos sábios disseram sobre o
verso “E Moisés escondeu sua face, pois teve medo de olhar”. Eles disseram que,
em troca de “E Moisés escondeu sua face”, ele foi recompensado com “E a imagem
do Senhor ele contempla”. Isso significa que precisamente porque ele não
precisava daquilo (ou seja, ele podia colocar uma Masach {tela} sobre o
desejo) lhe foi permitido receber. Esse é o significado do verso “Concedi força
a um valente” (Salmos 89:19). Significa que o Criador concede ajuda a quem é
valente e capaz de andar nos caminhos do Criador.
Está escrito “E a bebida era como estava prescrito”. O que é “Como estava prescrito”? Porque “Não havia quem forçasse.” Isso significa que ele não obrigou a
bebida, mas uma vez que ele começaram a beber, eles foram levados por ela,
ficaram amarrados à bebida, eles precisavam dela, senão não conseguiriam ir
adiante.
Isso é chamado “obrigar” e é considerado que
eles cancelaram o método de Mordecai. Esse também é o significado do que os
nossos sábios disseram, que aquela geração foi sentenciada a perecer porque
eles desfrutaram da refeição de um perverso.
Em outras palavras, se
eles tivessem recebido a bebida na forma de “Não havia quem forçasse”, eles não teriam
cancelado o desejo de Mordecai, e esse é o método de Israel. Contudo, mais
tarde, quando eles tomaram a bebida na forma de “foram forçados”, seguiu-se que
eles mesmos sentenciaram a lei da Torá a perecer, a qual é a qualidade de
Israel.
Esse é o significado de comer mais do que
beber. Beber se refere a revelar Chochmá (Sabedoria), chamada “saber”.
Comer, por outro lado, é chamado Ohr de Chassadim (Luz da Misericórdia),
a qual é a fé.
Esse é o significado de Bigtan e Teresh, os
quais procuraram colocar as mãos no rei do mundo. “E a coisa se tornou
conhecida para Mordecai… E uma investigação foi feita sobre a questão, e foi
descoberto que era verdade.” A questão de procurar não foi de uma vez só, e
Mordecai não a obteve facilmente, mas a questão dessa falha lhe foi revelada
depois de muito trabalho. Uma vez que se tornou evidente para dele, “Ambos
foram enforcados”. Ou seja, após a sensação de mancha nela, eles foram
enforcados, eles removeram essas ações e desejos do mundo.
“Depois dessas coisas”, ou seja, depois de
todo o trabalho e esforços feitos por Mordecai a partir do escrutínio que havia feito, o rei queria recompensá-lo por seu
empenho em trabalhar apenas em Lishmá (eu Seu nome) e não para si mesmo.
Já que existe uma lei de que o inferior não pode receber nada sem uma carência,
pois não há Luz sem um Kli (vaso), e um Kli é chamado uma “carência”.
Se ele não precisa de nada para si mesmo, como pode receber qualquer coisa?
Se o rei tivesse
perguntado a Mordecai o que deveria lhe dar pelo seu trabalho já que Mordecai é um justo, cujo trabalho é
apenas doar sem qualquer necessidade de ascender em níveis, e que se contenta
com pouco, isso seria incompatível enquanto o rei desejava doar a Luz da Sabedoria,
a qual se estende a partir da coluna da esquerda, o trabalho de Mordecai vinha
apenas da coluna da direita.
O que o rei fez? Ele
promoveu Haman, ou seja, ele deu importância para a coluna da direita. Esse é o
significado de “E colocou o seu assento acima de todos os ministros”. Ademais,
o rei deu a ele o controle, o que significa que todos os escravos do rei se
ajoelhavam e se curvavam perante Haman, “pois assim havia ordenado o rei”, que
ele receberia o controle, e todos o aceitaram.
A questão de se ajoelhar é a aceitação do
comando, pois eles gostavam do jeito de Haman no trabalho mais do que o jeito
de Mordecai. Todos os judeus em Shushan aceitaram o controle de Haman até que
se tornou difícil para eles entenderem o ponto de vista de Mordecai. Afinal, todos
entendem que o trabalho de caminhar pela coluna da esquerda, chamado saber, é
mais fácil que andar nos caminhos do Criador.
Está escrito que eles perguntaram: “Por que
você está transgredindo contra a ordem do rei?” Ao verem que Mordecai persistia
em sua opinião de andar no caminho da fé, eles ficaram perplexos e não sabiam
quem estava certo.
Eles foram e
perguntaram a Haman quem estava certo, como está escrito: “Eles disseram a Haman para ver
se as palavras de Mordecai se sustentariam, pois ele havia lhes dito que é um
Judeu.” Isso significa que a maneira do Judeu é comer mais do que beber, ou
seja, a fé é o rudimento, e essa é a base inteira do Judaísmo.
Isso causou uma grande
perturbação a
Haman. Por que Mordecai não concordaria com a sua visão? Por isso, quando todos
viram a maneira de Mordecai, o qual argumentava que apenas ele estava no
caminho do Judaísmo, e aqueles que tomam outro caminho são considerados
idólatras, como está escrito: “Porém, tudo isso não me satisfaz enquanto vir o
judeu Mordecai sentado no portão do palácio real”, pois Mordecai afirma que
apenas através dele está o portão para o rei, e não através de Haman.
Agora podemos entender
porque está
escrito “Mordecai sabia”, o que significa que era especificamente Mordecai quem
sabia. Mas está escrito “mas a cidade de Shushan ficou perplexa”, o que
significa que todos sabiam.
Devemos interpretar
que a cidade de Shushan ficou perplexa e não sabia quem estava certo, mas Mordecai
sabia que, se houvesse o controle de Haman, isso significaria a aniquilação do
povo de Israel, a obliteração de Israel inteira do mundo. Pois a maneira do
Judaísmo do povo de Israel, cuja base do trabalho é a fé acima da razão,
chamada “Misericórdia coberta”, é acompanhar o Criador de olhos fechados e
sempre dizer sobre si mesmos “eles têm olhos, mas não veem”, enquanto o
controle de Haman sobre a coluna da esquerda é chamado saber, o oposto da fé.
Esse é o significado dos dados que Haman
lançou, já que foi em Yom Kippurim (Dia do Perdão), como está escrito:
“um para o Eterno, e outro para Azazel.” O lote para o Eterno significa um
discernimento da “direita”, o qual é Chassadim (Misericórdia), chamado
“comer”, que é a fé. O lote para Azazel é a coluna da esquerda, a qual é
considerada, de fato, “inútil”, e toda a Sitra Achra (outro lado) deriva
daqui.
Assim, um bloqueio
sobre as Luzes se estende a partir da coluna da esquerda, pois apenas a coluna
da esquerda congela as Luzes. Esse é o significado de “lançou um pur, ou seja, o dado”,
pois ele interpreta o que lançou. Ele diz “pur”, que significa Pi Ohr
(uma boca de Luz).
Todas as Luzes foram bloqueadas através do lote para Azazel,
e percebe-se que ele lançou todas as Luzes para baixo. Haman pensou que “os
justos devem preparar e os perversos devem vestir”.
Em outras palavras, em
relação a
todos os esforços e empenho aplicados por Mordecai, junto com todos que o
acompanharam, sobre a recompensa que eles mereciam, Haman pensou que ele
tomaria essa recompensa. Ou seja, Haman pensou que ele tomaria sob sua própria
autoridade as Luzes que aparecem por meio das correções de Mordecai. Tudo isso
ocorreu porque ele viu que o rei lhe havia dado poder para atrair a Luz da Sabedoria
para baixo.
Portanto, quando ele
veio ao rei dizendo para “destruir os Judeus”, ou seja, revogar o domínio de Israel, o qual é fé
e misericórdia, e revelar o conhecimento no mundo, o rei teria respondido pra
ele: “Essa prata seja tua, como também esse povo para fazeres dele o que melhor
for de teu agrado”, o que significa aquilo que Haman considera adequado, de
acordo com seu domínio, o qual é a esquerda e o saber.
Toda a diferença entre as primeiras e as segundas cartas
está na palavra Judeus. Na “sinopse escrita” (a cópia se refere ao conteúdo
vindo do rei. Depois, a sinopse escrita é interpretada, explicando a intenção
da sinopse) foi dito: “Para que se proclamasse a lei em cada província, de
forma clara a todos os povos para que se preparassem para esse dia.” Não diz
para quem eles deveriam se preparar, mas Haman interpretou a sinopse, como está
escrito: “E segundo ordenou Haman, tudo se escreveu.”
A palavra Judeus está escrita nas segundas cartas, como consta:
“A carta que determinada a proclamação do edito em todas
as províncias foi enviada a todos os povos, para que os judeus se preparassem
para aquele dia, para se vingarem dos seus inimigos.”
Assim, quando Haman
veio ao rei, o rei lhe disse: “Essa prata que havia sido pré-preparada seja tua”, o que significa que
não é preciso fazer mais nada já que “o povo também (seja teu), para fazeres dele o que lhe parece bom.”
Em outras palavras, o
povo já quer que
faça como lhe parece bom, ou seja, o povo quer receber o seu controle. Porém, o
rei não lhe disse para revogar o controle de Mordecai e os Judeus. Ao invés
disso, havia sido pré-ordenado que agora, nesse momento, haveria uma revelação
de Chochmá, a qual é como “alcançou favor perante ele”.
A sinopse escrita foi “para que se proclamasse a Lei em cada província, de
forma clara a todos os povos”. Isso significa que o decreto era para que fosse publicado que a
questão da Revelação da Chochmá é para todas as nações.
Contudo, o documento não disse que a qualidade de Mordecai e dos
Judeus , a fé, deveria ser revogada. Ao invés disso, a intenção era que
houvesse uma Revelação de Chochmá, mas que eles ainda escolhessem Chassadim
(Misericórdia).
Haman disse que, já que é tempo de Revelação de Chochmá,
a Revelação de Chochmá é certamente dada para que se use a Chochmá,
afinal, quem faz algo que não é para ser usado? Se não for usado, segue-se que
a operação foi em vão. Portanto, deve ser a vontade do Criador, e o Criador
havia feito a Revelação para que se usasse a Chochmá.
O argumento de Mordechai foi que a Revelação ocorreu apenas para
mostrar que aquilo que eles tomam para si mesmos, para andar na coluna da
direita, a qual é coberta por Chassadim, não é porque não houve escolha,
e é por isso que eles tomam esse caminho. Parece coerção, ou seja, que eles não
têm outra escolha, pois não há Chochmá revelada no momento. Ao
contrário, agora que há Chochmá revelada, há espaço para escolher a
partir do seu próprio Livre Arbítrio. Em outras palavras, eles escolhem o
caminho de Chassadim mais do que a esquerda, a qual é a Revelação de Chochmá.
Isso significa que a
revelação de Chochmá
foi apenas que eles pudessem revelar a importância de Chassadim, e
que é mais importante para eles do que Chochmá. É como disseram nossos
sábios: “Até agora coercitivamente, doravante de boa vontade.” E esse é o significado de “Os Judeus
observaram e tomaram para eles”. Segue-se que a Revelação de Chochmá
veio agora apenas para que eles fossem capazes de receber o caminho do Judeu
por vontade própria.
E essa foi a controvérsia entre Mordecai e Haman. O argumento
de Mordecai foi que o que vemos agora, que o Criador revela a autoridade de Chochmá
não para que eles recebam a Chochmá, mas para que reforcem o Chassadim,
pois agora serão capazes de mostrar que a sua recepção de Chassadim é
voluntária. Ou seja, eles têm espaço para receber Chochmá, pois agora é
o momento do controle da esquerda, a qual brilha Chochmá, mas eles ainda
escolhem Chassadim. Segue-se que agora eles mostram, ao receber Chassadim,
que a direita governa sobre a esquerda.
Portanto, a lei
Judaica é uma lei
importante, e Haman afirmou o oposto, que a presente revelação do Criador sobre
a coluna da esquerda, que é Chochmá, é para que se use a Chochmá.
Caso contrário, significaria que o Criador fez algo sem necessidade, que Ele
fez algo e que não havia ninguém para desfrutar. Assim, não deveríamos
considerar o que Mordecai diz, mas todos deveriam lhe escutar e usar a Revelação
de Chochmá que apareceu agora.
Segue-se que as
segundas cartas não revogaram as primeiras. Ao contrário, eles apresentaram uma
explicação e uma interpretação sobre a primeira sinopse escrita, de que a
questão da publicação para todos os povos, a questão da Revelação de Chochmá
que agora brilha, é para os Judeus. Em outras palavras, é para que os
Judeus sejam capazes de escolher Chassadim por sua própria vontade, e
não porque não há outro caminho a escolher.
É por isso que nas segundas cartas está
escrito “Para que os
judeus se preparassem para aquele dia, para se vingarem dos seus inimigos.” Isso
significa que o controle que agora a Chochmá tem é a fim de mostrar que
eles preferem Chassadim a Chochmá. Isso é chamado “Se vingarem
dos seus inimigos”, porque os seus inimigos querem especificamente a Chochmá,
enquanto os Judeus rejeitam a Chochmá.
Agora podemos entender
o que perguntamos sobre a questão do rei: “Quem é ele, e onde ele está, quem ousou fazer isso?” E por que
Ele perguntou? Afinal, o próprio rei havia dito a Haman, “Essa prata seja tua, como também esse povo para fazeres dele o que melhor for de teu agrado”.
(É como dissemos: O significado da questão
de revelar Chochmá é com a intenção de que o povo fará como lhe parece
bom, o que significa que haveria espaço para escolha. Isso é chamado “também
esse povo, para fazeres dele o que melhor for de teu agrado”. No entanto, se
não há revelação de Chochmá, não há espaço para escolha, há apenas o
caminho de Chassadim, e parece que é porque eles não têm escolha.)
Isso quer dizer que
tudo isso ocorreu porque o rei deu a ordem de que agora seria o momento de
revelar Chochmá. A intenção era que a esquerda servisse a
direita. Assim, tornaria-se aparente que a direita é mais importante que a
esquerda, e é por isso que eles escolhem Chassadim.
Esse é significado de Meguilá Ester (o
pergaminho de Ester). Parece haver uma contradição de termos aqui, pois Meguilá
(pergaminho) significa que está Galui (revelado) para todos,
enquanto Ester significa que há Hastará (ocultação).
Agora podemos entender
o que nossos sábios
disseram: “Em Purim, o indivíduo deve se intoxicar até que não possa
distinguir o amaldiçoado Haman do abençoado Mordecai.” A questão de Mordecai e
Ester é anterior à construção do Segundo Templo, e a construção do Templo
significa a extensão de Chochmá, e Malchut é chamado “O Templo”.
Esse é o significado de Mordecai ter enviado
Ester ao rei para pedir por seu povo, e ela respondeu “todos os servos do rei”,
etc., “qualquer homem ou mulher que, sem ser chamado… não há senão uma
sentença: a de morte”, etc., “e eu nestes 30 dias não fui chamada para entrar
ao rei”.
Isso quer dizer que é proibido atrair a qualidade de GAR de
Chochmá para baixo, e o indivíduo que estende GAR (as quais são três
Sefirot, cada uma contendo dez, as quais são trinta) é sentenciado à
morte, porque a esquerda causa separação da vida das vidas.
“Exceto aquele para quem o rei estender o
cetro de ouro poderá viver.” Ouro significa Chochmá e GAR, pois
apenas por meio do despertar do superior o indivíduo pode permanecer vivo, ou
seja, em Dvekut (adesão), chamada vida, mas isso não pode ocorrer pelo
despertar do inferior.
Apesar de Ester ser Malchut, que precisa de Chochmá,
isso se dá apenas pelo despertar do superior. Contudo, se ela atrai Chochmá,
ela perde a sua própria qualidade completamente. Sobre isso, Mordecai
respondeu a ela: “(se) então de outra parte se levantarão para os Judeus
socorro e livramento”, ou seja, pela completa revogação da coluna da esquerda,
e os Judeus terão apenas a coluna da direita, a qual é Chassadim, então
“tu e a casa de teu pai perecereis”.
No estado de “Pai fundou a filha”, ela deve ter Chochmá
consigo. Mas deve ser mais comer que beber. No entanto, se os Judeus não
tiverem aconselhamento, eles irão revogar a linha da esquerda e, portanto, toda
a sua qualidade será cancelada. É sobre isso que ela disse “se perecer,
perecerei”.
Em outras palavras, se
eu for, estou perdida, porque posso chegar à separação, como quando o inferior
desperta e induz à separação da Vida das Vidas. E se eu não for “então de outra parte se levantarão para os Judeus socorro e livramento”, ou seja, de outra forma. Eles revogariam
completamente a coluna da esquerda, como Mordecai lhe havia dito. É por isso
que ela tomou o caminho de Mordecai ao convidar Haman para um banquete, assim
ela atraiu a coluna da esquerda, assim como Mordecai lhe havia dito.
Mais tarde, ela
incluiu a esquerda na direita e, portanto, pôde haver revelação de Luzes abaixo, e ela
também pôde permanecer em um estado de Dvekut. Esse é o significado de Meguilá
Ester: Apesar de haver revelação da Luz de Chochmá, ela ainda usa a Ocultação
que há ali (porque Ester é Hester [“ocultação”, o mesmo que Hastará]).
Na questão de “ele não saber”, está explicado no Estudo das Dez Sefirot (Parte
15, Ohr Pnimi, Item 217) que, apesar de as Luzes de Chochmá iluminarem, é impossível
receber sem a Luz da Chassadim, pois isso induz à separação. No entanto,
um milagre ocorreu: Por meio do jejum e do pranto, eles atraíram a Luz de Chassadim
e, então, puderam receber a Luz de Chochmá.
Contudo, não há tal coisa antes do Fim da Correção
(Gmar Tikun). Esse discernimento vem do discernimento do fim da correção, no
tempo em que já será corrigido, como está escrito no Zohar: “SAM está
destinado a ser um anjo sagrado”. Segue-se que, então, não haverá diferença
entre Haman e Mordecai, pois Haman também estará corrigido. Esse é o
significado de “Em Purim, o indivíduo deve se intoxicar até que não
possa distinguir o amaldiçoado Haman do abençoado Mordecai.”
Também deve ser adicionado, em relação às
palavras de que foram enforcados, que isso é uma indicação de enforcamento na
árvore, ou seja, que eles entendiam que esse pecado é o mesmo pecado da Árvore
do Conhecimento, pois lá, também, a “mancha” estava em GAR.
Sobre estar “Sentado no portão do palácio real”, pode
ser adicionado que isso sugere que ele estava sentado, e não em pé, pois sentar
é chamado de VAK e ficar em pé é chamado de GAR.
38. O temor a Deus é seu tesouro
Um tesouro é um vaso no qual
se coloca o que se possui. O grão, por exemplo, se coloca no celeiro, e os
objetos preciosos se põem em algum lugar mais protegido ainda. Assim, cada
coisa que se recebe é denominada segundo a sua correlação com a Luz, e o vaso
deve ser capaz de recebê-la. Isto obedece ao que temos aprendido: não existe
Luz sem um vaso. E isto ocorre inclusive no mundo físico.
No entanto, o que representa
na espiritualidade o vaso dentro do qual podemos receber a recompensa
espiritual que o Criador deseja doar-nos, e que haverá de estar em
correspondência com a Luz? Isto ocorre do mesmo modo que na corporalidade,
quando o vaso necessita estar em correlação com o objeto que se encontra dentro
dele.
Por exemplo, não podemos falar
de um tesouro quando nos referimos ao vinho que tenha sido armazenado em sacos
novos para protegê-lo e evitar que avinagre; nem tampouco quanto à farinha que
tenha sido guardada em barris. Em vez disto, existe alguma regra segundo a qual
o recipiente indicado para o vinho são barris e garrafas, enquanto que para a
farinha são os sacos no lugar de barris etc.
Deste modo, surge a seguinte
pergunta: Qual é o recipiente espiritual, os Kelim (vasos) a partir dos quais
podemos acumular um grande tesouro com a Abundância Superior?
Existe uma regra que indica
que o desejo da vaca de alimentar o terneiro é maior do que o desejo deste de
comer. Isto corresponde à máxima que diz que “Seu desejo é o de fazer o bem às
Suas criaturas”, e devemos crer que a razão do Tzimtzum (restrição)
é para nosso próprio bem. E o motivo deve ser que não temos os vasos
apropriados para alojar a Shefa (abundância), do mesmo modo
que os vasos corporais devem estar aptos para aquilo que deve ser alojado
neles. Portanto, devemos afirmar que se conseguimos os vasos, teremos algo com
que receber a Shefa que há de adicionar-se.
A resposta que surge a isto é
que na tesouraria do Criador existe somente o tesouro do temor a Deus (Berachot,
33).
No entanto, devemos elucidar o
que é o temor. Este é um vaso, e o tesouro é feito deste vaso, e todas as
coisas importantes se colocam ali. Foi dito que o temor é tal como está escrito
sobre Moisés: Nossos sábios disseram: “A recompensa por ‘E Moisés escondeu sua
face, pois temia O olhar’ foi ‘a semelhança do Senhor que lhe observa’ (Berachot p.
7).
O temor se refere ao temor que
alguém sente por aqueles prazeres imensos que ali existem e aos quais não se
poderia receber com a intenção de doar. A recompensa por isto, ou seja, por
haver sentido este temor, é que deste modo se constrói para si mesmo um vaso
dentro do qual se possa receber a Abundância Superior. Este há de ser o
trabalho do homem, e tudo o mais há de atribuir-se ao Criador.
No entanto, não é assim com
respeito ao temor, porque o significado de temor não é receber. E aquilo que o
Criador doa, Ele doa para que seja recebido, e este é o significado de “tudo
está nas mãos de Deus, menos o temor a Deus”.
Este é o vaso que
necessitamos. Do contrário, seguiremos sendo uns tolos, tal como disseram
nossos sábios: “Quem é considerado um tolo? Aquele que perde o que lhe é dado”.
Quer dizer que a Sitra Achra nos usurpará a abundância se não
pudermos dirigir nossa intenção até a doação, pois assim ela vai para os vasos
de recepção, ou seja, para a Sitra Achra e a impureza.
Este é o significado de “E
haverás de observar o banquete de Matza (pão sem fermento)”.
Observar significa temor. E ainda que a natureza da Luz seja ter vontade
própria, o que significa que a Luz parte antes que alguém deseje recebê-la
dentro dos vasos de recepção, a pessoa deve atuar por conta própria em tudo que
esteja ao seu alcance. A este respeito disseram nossos sábios: “Vós os
observareis a vós mesmos somente um pouco aí embaixo, e eu os observarei muito
aqui de Cima”.
A razão pela qual atribuímos
temor às pessoas, segundo disseram nossos sábios, é que “tudo está nas mãos de
Deus, exceto o temor a Deus”. Isto se deve a que Ele pode ofertar tudo, menos o
temor. E por isto, o que o Criador dá é amor ao invés de temor.
O temor se adquire através do
poder da Torá e das Mitzvot (preceitos). Isto quer dizer que
quando se observa a Torá e as Mitzvot com o propósito de ser
recompensado com o fato de poder satisfazer o Criador, essa intenção, que
subjaz nos atos de suas Mitzvot em detalhe, permanece
simplesmente no grau de Domem de Kedushá (Mineral Sagrado).
Disto resulta que a pessoa
sempre deve recordar a razão que a obriga a observar a Torá e as Mitzvot.
Sobre isto se referiram os sábios ao dizer “que vossa Divindade seja para Meu
nome”. Isto implica que “Eu serei vossa causa, pois todo vosso trabalho
consiste em querer deleitar a Mim, ou seja, que todas vossas ações devem
apontar para a doação.”
Nossos sábios disseram (Berachot 20):
“Todo o implícito em observar também está implícito em recordar”. Isto
significa que todos aqueles que observam a Tora e as Mitzvot, o
fazem com a intenção de alcançar a noção de “lembrar-se”, no sentido de “Quando
eu me lembro Dele, Ele me impede de dormir”. Disto resulta que o observar tem
como propósito principal ser recompensado com a ação de acordar-se
(lembrar-se).
Portanto, o desejo da pessoa
consiste em recordar que o Criador é a causa pela qual se observa a Torá e
as Mitzvot. Isto é assim porque resulta que a razão e a causa de
observar a Torá e as Mitzvot é o Criador Mesmo, já que sem
isso não se pode aderir a Ele, porque “Ele e Eu não podemos habitar na mesma
morada” devido à disparidade de forma.
A razão de que a recompensa e
o castigo não sejam revelados, que somente devamos crer na recompensa e no
castigo, se deve a que o Criador deseja que todos trabalhem para Ele e não para
si mesmos. Isto se discerne como disparidade de forma com o Criador. Se a
recompensa e o castigo estiverem revelados, a pessoa trabalharia por amor a si
mesmo; ou seja, para que o Criador Lhe ame, ou por ódio a si mesmo, o que
significa por temor a que o Criador lhe odeie. Isto implica que a razão para o
trabalho é somente a pessoa, não o Criador, e o Criador deseja ser Ele o motivo
determinante.
Assim, vemos que o temor se
manifesta precisamente quando a pessoa reconhece o seu estado inferior, e diz
que está servindo ao Rei; ou seja, que seu desejo de outorgar-Lhe é um grande
privilégio, e isso é mais valioso que o que alguém possa expressar. Isto
obedece à regra segundo a qual quando a pessoa pode outorgar algo a uma
personalidade importante é como se ela mesma estivesse recebendo.
Na medida em que a pessoa
sente seu estado inferior, nesta mesma proporção pode começar a apreciar a
grandeza do Criador, e se despertará o desejo de servir a Ele. Mas se a pessoa
é orgulhosa, o Criador diz: “ele e Eu não podemos habitar na mesma morada”.
Este é o sentido de “Um tolo,
um malvado e um grosseiro vão juntos”. A razão disto é que ao não sentir o
temor, o que significa que a pessoa não pode rebaixar-se diante do Criador, e
reconhecer que para ela é uma grande honra poder servir a Ele sem nenhuma
recompensa, não se pode receber sabedoria alguma do Criador, e a pessoa se
mantém como um tolo. Então, aquele que é tolo, é malvado; tal como indicam
nossos sábios: “Não se peca, a menos que se tenha sido alcançado pela
insensatez”.
39. E costuraram as folhas de figo
Ouvi em 26 de Shevat, Tav-Shin-Zayin,
16 de
Fevereiro de 1947
“As folhas” se referem
à sombra
que se coloca sobre a luz, ou seja, sobre o sol. Há duas sombras: uma vem do
lado da Kedushá (Santidade), e a outra vem devido a um pecado.
Portanto, há dois tipos de Ocultação da Luz. Assim
como a sombra oculta o sol na materialidade, também há a ocultação da Luz Superior,
chamada “sol”, a qual vem do lado da Kedushá, devido a uma escolha. É
como está escrito sobre Moisés: “E Moisés escondeu sua face, pois teve medo de
olhar” (Êxodo 3:6).
A sombra vem devido ao
medo, e medo significa que o indivíduo tem receio de receber a abundância, de que ele
possa não ser capaz de almejar a doação. Segue-se que a sombra vem devido à Kedushá,
pois o indivíduo quer aderir ao Criador.
Em outras palavras, Dvekut (Adesão) é chamado de doação, e ele tem
medo de que possa não ser capaz de doar.
Acontece que ele está aderido à Kedushá e isso é
chamado “uma sombra que vem do lado da Kedushá”.
Há também uma sombra que vem devido a um
pecado. Isso significa que a Ocultação vem não porque ele não quer receber, mas,
ao contrário, vem porque o indivíduo quer receber apenas para receber. É por
isso que a Luz sai, pois toda a diferença entre Kedushá e Klipá (casca)
é que a Kedushá quer doar e a Klipá quer apenas receber, e não
quer doar de forma alguma. Por essa razão, essa sombra é considerada oriunda do
lado da Klipá.
Não há conselho para se sair desse estado, exceto o
que está escrito: “E coseram folhas de figueira e fizeram para si cintos”
(Gênesis 3:7). “Cintos” se refere a forças do corpo que se juntaram em uma forma
de sombra da Kedushá. Significa que, apesar de agora eles não terem Luz,
pois a abundância os deixou devido ao pecado, eles ainda assim superaram isso servindo
ao Criador pela mera força, acima da razão. Isso é chamado “pela força”. Esse é
o significado do verso: “Então ouviram a voz do Eterno Deus (…), e o homem e
sua mulher se esconderam”, ou seja, foram para a sombra. Esse é o significado
de “E Moisés escondeu
sua face”. Adam
HaRishon fez o mesmo que Moisés.
“E o Eterno Deus chamou ao homem e lhe disse:
‘Onde estás?’. E ele respondeu: ‘Ouvi tua voz no jardim e tive medo, por estar
nu, e me escondi’” (Gênesis 3:10). Nu significa despido da Luz Superior.
Então o Criador perguntou por que razão tu
vieste para a sombra, chamada “e me escondi”? É porque estou nu. É por causa de
uma sombra da Kedushá ou devido a um pecado? O Criador lhe perguntou:
“Por acaso comeste da árvore da qual te ordenei não comer?”, ou seja, devido a
um pecado.
Mas quando a sombra
vem devido a um pecado é chamada “Imagens, produtores de imagens, e feiticeiros”, que é “Deus
os fez opostos um ao outro”. Assim como há forças na Kedushá para fazer
mudanças e para mostrar sinais e presságios, também há forças na Sitra
Achra. É por isso que os justos não usam essas forças, pois são “opostos um ao outro”, de maneira a não dar força à Sitra
Achra ao agir à sua maneira.
Apenas em ocasiões excepcionais o Criador não dá à Sitra
Achra a mesma força que há na Kedushá. É como Elias no Monte Carmel
dizendo “Responda-me”, para que eles não dissessem que é bruxaria, ou seja, que
há a força para ocultar a Luz Superior.
Portanto, cintos
provenientes do lado das folhas de figueira, que vêm do pecado da Árvore do Conhecimento,
essas folhas, a sombra que vem devido ao pecado, já que a causa não vem do lado
da Kedushá, quando eles escolhem fazer sombra por si mesmos, mas
escolhem a sombra porque não têm outra escolha, isso pode funcionar apenas para
sair do estado de descenso. Mas, depois, o trabalho precisa começar outra vez.
40. Qual é a medida da fé no Rav?
(Ouvi emTav-Shin-Gimel,
1942-1943)
É sabido que há um caminho da direita e um
caminho da esquerda. “Direita” vem da palavra hebraica “à direita”,
referindo-se ao verso: “E Abrão acreditou no Eterno” (Gênesis 15:6). O Targum
diz “À direita, quando o rav diz ao discípulo para tomar o caminho da direita”.
A direita é normalmente chamada de “completude”, e a
esquerda de “incompletude”, no sentido de que faltam correções ali. Nesse
estado, o discípulo deve acreditar nas palavras do seu rav, o qual lhe diz para
caminhar na linha da direita, chamada “completude”.
E o que é a “completude” na qual o discípulo deve
caminhar? Significa que o indivíduo deve retratar para si mesmo se já foi
recompensado com a fé completa no Criador, e se já sente, nos seus órgãos, que
o Criador guia o mundo inteiro na forma de “O Bom que Faz o Bem”, ou seja, que
o mundo inteiro recebe apenas o bem Dele.
No entanto, quando o
indivíduo olha
a si mesmo, vê que é pobre e indigente. Além disso, quando ele observa o mundo,
vê que o mundo inteiro está atormentado, cada um de acordo com o seu nível.
O indivíduo deve dizer sobre isso: “Eles têm
olhos, mas não vêem.” “Eles” significa que, enquanto o indivíduo estiver sob
múltiplas autoridades, chamadas “eles”, ele não enxerga a verdade. Quais são as
múltiplas autoridades? Enquanto o indivíduo tiver dois desejos, apesar de
acreditar que o mundo inteiro pertence ao Criador, também acredita que algo
pertence ao homem.
Mas, em verdade, o
indivíduo deve
anular a sua autoridade perante a autoridade do Criador e dizer que não quer
viver para si mesmo, e que a única razão pela qual quer existir é para levar
contentamento ao Criador. Portanto, dessa forma o indivíduo anula completamente
a sua própria autoridade, e então se encontra na autoridade singular, a
autoridade do Criador. Apenas então ele pode enxergar a verdade, de como o
Criador guia o mundo pela qualidade do bem e de fazer o bem.
Enquanto o indivíduo está sob múltiplas autoridades, ou
seja, quando ainda tem dois desejos tanto na mente quanto no coração, ele é
incapaz de enxergar a verdade. Ao invés disso, ele deve subir acima da razão e
dizer “eles têm olhos”, mas eles não vêem a verdade.
Segue-se que quando o
indivíduo
considera a si mesmo e quer saber se agora ele está em um momento de descenso
ou de ascensão ele tampouco pode saber isso. Ou seja, ele pensa que está em um
estado de descenso e isso, também, está incorreto, pois ele pode estar agora em
um estado de ascensão, de forma que enxerga seu estado verdadeiro, o quão
distante está do trabalho sagrado. Assim, ele agora se aproximou da verdade.
E pode ser ao contrário: O indivíduo sente que está em um
estado de exaltação, quando, na verdade, está sendo controlado pela vontade de
receber para si mesmo, chamada “um descenso”.
Apenas aquele que já está sob a autoridade singular pode
discernir e saber a verdade. Dessa forma, o indivíduo deve confiar na opinião
do seu rav e acreditar no que o rav lhe diz. Isso significa que o indivíduo
deve fazer como o rav lhe disse para fazer.
E apesar de ver muitos
argumentos e muitos ensinamentos que não vão ao encontro da opinião do seu rav, o indivíduo
deve, ainda assim, confiar na opinião do rav e dizer (sobre aquilo que entende
e vê em outros livros, que não coincide com a opinião do seu rav) que enquanto
estiver sob múltiplas autoridades ele não pode entender a verdade, e não pode
ver o que está escrito em outros livros, a verdade que eles proferem.
É sabido que quando o indivíduo ainda não
foi recompensado a sua Torá se torna para ele uma poção de morte. E por que diz
“Não recompensado, sua Torá se torna para ele uma poção de morte?” É porque
todos os ensinamentos que o indivíduo aprender ou ouve não lhe trarão qualquer
benefício no sentido de o tornar apto a receber Vida, a qual é Dvekut (adesão)
com a Vida das Vidas. Ao contrário, o indivíduo é constantemente atraído para
mais longe da Vida das Vidas, já que tudo o que ele faz é apenas para as
necessidades do corpo, chamadas “receber para si mesmo”, e isso é considerado
separação.
Isso significa que
através de suas
ações ele se torna mais e mais separado da Vida das Vidas, e isso é chamado “a
poção de morte”, pois lhe traz morte e não vida. Quer dizer que o indivíduo se
torna ainda mais afastado da doação, chamada “equivalência de forma com o
Criador”, por meio de “Como Ele é misericordioso, assim tu és misericordioso”.
Devemos também saber que quando o indivíduo está
envolvido na direita é o momento certo para ampliar a abundância superior,
porque “o abençoado adere ao Abençoado”. Em outras palavras, já que o indivíduo
está em um estado de completude, chamado “abençoado”, nesse respeito ele tem,
atualmente, equivalência de forma, já que o sinal da completude é se o
indivíduo está em um estado de alegria. Caso contrário, não há completude.
É como nossos sábios disseram: “A Shechiná
(Divindade) se torna presente apenas a partir da alegria de uma Mitzvá (mandamento).”
O significado disso é que a razão que lhe traz alegria é a Mitzvá, ou
seja, o fato de que o rav havia ordenado que ele tomasse a linha da direita.
Segue-se que ele mantém a ordem do rav, de que a ele foi
distribuído um tempo especial para caminhar na direita e um tempo especial para
caminhar na esquerda. A esquerda contradiz a direita, pois a esquerda é quando
o indivíduo calcula para si mesmo e começa a examinar o que já adquiriu no
trabalho do Criador, e ele vê que está pobre e indigente. Portanto, como ele
pode estar em completude?
Ainda assim, o indivíduo sobe acima da razão devido à ordem do
rav. Segue-se que toda a sua completude foi construída acima da razão, e isso é
chamado “fé”. Esse é o significado de “Em todo lugar em que Eu fizer recordar
Meu nome, virei a ti e te abençoarei”. “Em todo lugar” significa que, apesar de
o indivíduo ainda não ser digno de uma bênção, mesmo assim eu dei a Minha
bênção porque tu fizeste um lugar, ou seja, um lugar de alegria, no qual a Luz Superior
pode existir.
41. O que é grandeza e pequenez na fé?
(Ouvi no entardecer após a noite de Pessach, Tav-Shin-Hey,
29 de
março de 1945)
Está escrito: “E creram no Eterno e em
Moisés, seu servo” (Êxodo 14:31). Devemos saber que as Luzes de Pessach (Páscoa)
têm o poder de transmitir a Luz da fé. Ainda assim, não pense que a Luz da fé é
algo pequeno, pois a grandeza e a pequenez dependem apenas dos receptores.
Quando o indivíduo não trabalha no caminho da verdade,
ele pensa que tem fé demais, e que, com a quantidade de fé que ele tem pode
distribuí-la a diversas pessoas, e então elas serão tementes e completas.
No entanto, o indivíduo que quer servir ao Criador em
verdade, e constantemente examina a si mesmo, se está disposto a trabalhar de
forma devota “e com todo o seu coração”, ele vê que está sempre deficiente na
fé, ou seja, que ela está sempre em falta.
Apenas quando o indivíduo tem fé ele pode sentir que está
sempre sentado diante do Rei. Quando ele sente a grandeza do Rei, pode
descobrir o amor de duas formas: de uma forma boa, e na forma de duros
julgamentos. Portanto, o indivíduo que busca a verdade é aquele que precisa da Luz
da fé. Se tal pessoa ouve ou vê alguma maneira de obter a Luz da fé, ela se
torna feliz, como se tivesse encontrado uma grande fortuna.
Assim, sobre aquelas
pessoas que buscam a verdade, no feriado de Pessach, o qual é capaz da Luz da fé, lemos na Parashá
(porção da Torá): “E creram no Eterno e em Moisés, seu servo”, pois esse
é um momento em que isso pode ser transmitido.
42. O que é o acrônimo Elul, no trabalho?
(Ouvi em 15 de Elul, Tav-Shin-Bet, 28 de agosto de 1942)
A fim de entender
isso, devemos entender diversas outras coisas:
1. A questão de Malchuiot (plural de Malchut),
memórias, e Shofarot (plural de Shofar, um chifre de carneiro), e
qual é o significado do que os nossos sábios disseram: “Anule a sua vontade
perante a Sua vontade, para que Ele anule a Sua vontade perante a sua vontade.”
2. As palavras dos
nossos sábios:
“Perverso: imediatamente à morte; e justo: imediatamente à vida.”
3. O verso “os filhos de Guershon: Livni e Shimi”.
4. As palavras do
Zohar: “O Yud
é um ponto preto que não contém nenhum branco”.
5. Malchut do superior se torna Keter do
inferior.
6. A alegria atesta se o trabalho está em
completude.
Todas essas coisas se
aplicam à preparação do mês de Elul (“Ani Ledodi Vedodi Li”, Eu sou de meu amado e
meu amado é meu).
Para entender tudo o
que está acima,
devemos entender o propósito da Criação,
o qual é supostamente que Ele deseja fazer o bem às Suas criações. E
devido ao Tikun (correção), para que não haja a questão do “Pão da Vergonha”,
um Tzimtzum foi feito. E a partir do Tzimtzum se estendeu a Masach
(tela), pela qual os vasos de recepção se tornam vasos de doação.
Quando os vasos são preparados para se tornarem vasos de
doação, nós imediatamente recebemos a Luz Oculta e Estimada para as Suas
criaturas. Isso significa que o indivíduo recebe o deleite e o prazer que
estava no Pensamento da Criação, de fazer o bem às Suas criações.
Com isso podemos
interpretar o que está escrito: “Anule a sua vontade perante a Sua vontade”, ou seja, anule o
desejo de receber em você perante o desejo de doar, o qual é a vontade do
Criador. Isso significa que o indivíduo vai revogar o amor-próprio diante do
amor do Criador. Isso é chamado “Anular a si mesmo perante o Criador”, e isso é
chamado Dvekut (adesão). Subsequentemente, o Criador pode brilhar dentro
do seu desejo de receber porque ele agora está corrigido na forma de receber
para doar.
Esse é o significado de “Para que Ele anule a
Sua vontade perante a sua vontade”. Quer dizer que o Criador anula a Sua
vontade, ou seja, o Tzimtzum que havia devido à disparidade de forma.
Agora, contudo, quando já há Equivalência de Forma, há, portanto, a expansão da
Luz para dentro do desejo do inferior, o qual foi corrigido a fim de doar, pois
esse é o propósito da Criação, de fazer o bem às Suas criaturas, e assim ele
pode ser realizado.
Agora podemos
interpretar o verso “Eu sou do meu amado” (Cântico dos Cânticos 6:3). Significa que, quando
o “eu” anula o desejo de receber diante do Criador na forma de total doação,
ele obtém “E o meu amado é meu”. Significa que o Meu amado, o Criador, “é meu”,
Ele transmite o deleite e o prazer encontrados no Pensamento da Criação.
Portanto, o que antes estava oculto e restringido, agora se torna a Revelação
da Face, pois agora o propósito da Criação foi revelado: fazer o bem às Suas
criaturas.
Devemos saber que os
vasos de doação são
chamados YH (Yud-Hey) do nome HaVaYaH (Yud-Hey-Vav-Hey), os quais
são Kelim (vasos) puros. Esse é o significado de “Todos que recebem,
recebem no Kli (vaso) mais puro”. Nesse estado, o indivíduo é
recompensado, “E o meu amado é meu”, e Ele transmite abundância a ele, ou seja,
ele é recompensado com a Revelação da Face.
Contudo, há uma condição para isso: é impossível
obter a Revelação antes de o indivíduo receber o discernimento de Achoraim
(posterior), distinguido como uma Ocultação da Face, e antes de dizer que isso
é tão importante para ele quanto a Revelação da Face. Isso significa que o
indivíduo deveria se alegrar como se já tivesse adquirido a Revelação da Face.
No entanto, o indivíduo não consegue persistir e apreciar a Ocultação
da mesma forma que a Revelação, exceto quando trabalha em doação. Nesse
momento, o indivíduo pode dizer: “Não interessa o que eu sinto durante o
trabalho, porque o que importa para mim é o meu desejo de doar pelo Criador. Se
o Criador entende que Ele terá mais contentamento se eu trabalhar em forma de Achoraim,
eu concordo.”
Porém, se o indivíduo ainda tem faíscas de
recepção, ela chega aos pensamentos, e então é difícil para ele acreditar que o
Criador guia o mundo em uma maneira do “Bem e de fazer o Bem”. Esse é o
significado da letra Yud no nome HaVaYaH, a qual é a primeira
letra, chamada “um ponto preto que não contém nenhum branco”, ou seja, é todo
escuridão e Ocultação da Face.
Isso significa que,
quando o indivíduo chega
a um estado onde não tem apoio, o seu estado se torna preto, que é a qualidade
mais inferior do mundo superior, e se torna Keter para o inferior, já
que o Kli de Keter é um vaso de doação.
A qualidade mais
inferior do superior é Malchut, a qual não tem nada próprio, ou seja, não tem nada.
Apenas nessa forma ela é chamada de Malchut. Isso quer dizer que, se o
indivíduo assume o reino dos céus (o qual é um estado de não ter nada), e se o
faz de forma alegre, depois essa qualidade se torna Keter, a qual é um
vaso de doação e o Kli mais puro. Em outras palavras, a recepção de Malchut
em um estado de escuridão se torna, subsequentemente, um Kli de Keter,
o qual é um vaso de doação.
É como diz o verso: “Porque retos são os
caminhos do Eterno, por onde em segurança caminham os justos e onde cambaleiam
e tropeçam os malévolos” (Oseias 14:10). Isso significa que os transgressores,
aqueles que são controlados pelos vasos de recepção, devem cair e se agachar
sob a sua carga quando chegam nesse estado.
Os justos, no entanto,
aqueles que estão em um estado de doação, são elevados, ou seja, dessa forma lhes são
transmitidos vasos de doação. (“Perverso” deve ser interpretado como aqueles
cujo coração ainda não quer obter vasos de doação, e “justo” significa aqueles
cujo coração já quer obter vasos de doação, mas ainda não está apto).
É como escreve o Zohar, que a Shechiná (Divindade)
disse ao Rabino Shimon bar Iochai: “Não há lugar para se ocultar de você”, e é
por isso que ela aparece para ele. Esse é o significado do que o Rabino Simon bar Iochai disse: “Por causa disso, e o Seu desejo
está sobre mim.” Isso é “Eu sou do meu amado e o meu amado é meu”, e então ele
doa sobre o VH (Vav-Hey).
Esse é o significado de “O nome está
incompleto, e o trono está incompleto, até que o Hey se conecte ao Vav”.
O Hey é chamado “o desejo de receber”, o qual é o último e derradeiro Kli
no qual o Vav vai doar para o Hey, e então será o Fim da Correção.
Esse é o significado de “Justo: imediatamente à vida”. Significa
que a própria pessoa deve dizer em qual livro quer ter o seu nome escrito, se é
no Livro dos Justos, ou seja, se ele quer receber o desejo de doar, ou não. Já
que o indivíduo tem muitos discernimentos sobre o desejo de doar às vezes diz
“Sim, eu quero receber o desejo de doar, mas não quero revogar completamente o
desejo de receber”. Ele, na verdade, quer ambos os mundos para si, ou seja,
quer o desejo de doar também para seu próprio benefício.
No entanto, apenas
aqueles que desejam transformar seus vasos de recepção para que trabalhem apenas em doação e
não recebam nada para si mesmos são inscritos no Livro dos Justos. É assim para
que não haja espaço para que alguém diga: “Se eu soubesse que o desejo de
receber precisa ser revogado, eu não teria rezado por isso” (para que ele não
diga, mais adiante: “Não é isso que eu havia jurado”).
Portanto, o indivíduo deve expressar sem reservas o que ele
quer dizer com ser registrado no Livro dos Justos, para que ele não reclame
depois.
Devemos saber que, no Trabalho,
o Livro dos Justos e o Livro dos Perversos existem na mesma pessoa. Isso
significa que o indivíduo deve fazer uma escolha e
saber claramente o que ele quer, pois perverso e justo se relacionam à
mesma pessoa. Dessa forma, o indivíduo deve dizer se quer ser inscrito no Livro
dos Justos, para ser imediatamente a favor da vida, isto é, para aderir à Vida
das Vidas, pois quer fazer tudo pelo Criador. Além disso, quando vem para ser
inscrito no Livro dos Perversos, onde
são inscritos todos aqueles que desejam receber para si mesmos, ele diz
que deveriam ser inscritos lá imediatamente à morte, ou seja, que o desejo de
receber para si mesmo será revogado nele, como se tivesse morrido.
Contudo, às vezes, o indivíduo fica em dúvida. Em
outras palavras, ele não quer que o desejo de receber seja revogado nele de uma
só vez. É difícil para ele decidir, imediatamente, que todas as faíscas de
recepção serão mortas de uma só vez, ou seja, ele não concorda que todos os
seus desejos por recepção sejam anulados nele de uma só vez.
Ao invés disso, ele quer que as faíscas de
recepção sejam anuladas nele gradual e lentamente, não todas de uma vez, ou
seja, que operem um pouco os vasos de recepção e um pouco os vasos de doação.
Segue-se que essa pessoa não tem visão clara e firme.
Uma visão firme é que, de um lado, ele afirma “É
tudo meu”, o que significa que é tudo para o propósito do desejo de receber.
Por outro lado, ele afirma que é tudo para o Criador. Isso é chamado uma “visão
firme”. Porém, o que o indivíduo pode fazer se o corpo discorda da sua visão de
querer ser inteiramente para o Criador?
Nesse estado, você pode dizer que essa pessoa faz tudo o
que pode para ser inteiramente para o Criador, ou seja, ela reza para que o
Criador a ajude a ser capaz de executar todos os seus desejos apenas pelo bem
do Criador. É por isso que rezamos “Lembra de nós durante a vida e nos inscreve
no Livro da Vida.”
Esse é o significado da palavra “Malchut”, ou
seja, que o indivíduo assumirá para si mesmo a qualidade do ponto preto que não
contém nenhum branco. Esse é o significado de “Anule a sua vontade” para que a
memória de você venha diante de Mim, e então Ele anulará a Sua vontade perante
a sua vontade. Com o quê? Com um Shofar (chifre de carneiro), com o Shofar
da Mãe, ou seja, a questão depende de arrependimento.
Em outras palavras, se
o indivíduo
aceita a escuridão, ele deveria também tentar que seja de uma maneira honrosa,
e não de uma maneira vergonhosa. Isso é chamado “o Shofar da Mãe”, ou
seja, que o indivíduo vai considerá-lo como beleza e honra.
Da mesma forma,
devemos interpretar o que está escrito: “Os filhos de Guershon: Livni e Shimi.” Se o indivíduo vê que foi expulso do trabalho, ele deveria saber que
foi devido a Livni, ou seja, porque ele quer especificamente a brancura. (Livni
soa como Lavan, branco). Em outras palavras, se lhe é dada a brancura, se tudo
o que o indivíduo faz brilha, o que significa que ele vai sentir um bom sabor
na Torá e na oração, ele estará disposto a ouvir e a se engajar na Torá e nas Mitzvot
(mandamentos).
Esse é o significado de “Shimei”. (Shimei soa
como Shmi, ouvir). Significa que é precisamente através da forma da “brancura”
que o indivíduo pode ouvir. No entanto, durante o trabalho, o indivíduo vê uma
forma de preto e não pode concordar em ouvir sobre aceitar esse trabalho sobre
si mesmo. Portanto, ele deve ser expulso do Salão do Rei, pois a recepção do Reino
dos Céus deve ser entrega incondicional.
Contudo, quando o
indivíduo diz
que está disposto a aceitar o trabalho sobre si com a condição de que haja uma
forma de branco, ou seja, que o dia brilhe para ele, e ele não concorda se o
trabalho lhe aparece em uma forma de preto, essa pessoa não tem lugar no Salão
do Rei. Isso é porque aqueles que desejam trabalhar para doar são aceitos no Salão
do Rei e, quando o indivíduo trabalha a fim de doar, ele não se importa com o
que sente durante o trabalho.
Ao invés disso, mesmo num estado onde ele vê uma
forma de preto, ele não se impressiona com ela, mas quer apenas que o Criador
lhe dê força para ser capaz de superar todos os obstáculos. Isso significa que
ele não pede ao Criador que lhe dê uma forma de branco, mas que lhe dê força
para superar todas as ocultações.
Portanto, para aquelas
pessoas que querem trabalhar a fim de doar, se há sempre um estado de brancura, a brancura
permite que o indivíduo continue no trabalho. Isso é porque, enquanto ela
brilha, o indivíduo é capaz de trabalhar mesmo na forma de recepção para si
mesmo.
Dessa forma, o indivíduo nunca será capaz de saber se o seu
trabalho está em pureza ou não, e isso causa que ele nunca seja capaz de ser
recompensado com a Dvekut (Adesão) com o Criador. Por essa razão, lhe é
dada de cima uma forma de escuridão, e então ele vê se o seu trabalho está em
pureza.
Isso significa que, se
o indivíduo pode
também se alegrar em um estado de escuridão, isso é um sinal de que o seu
trabalho está em pureza, já que o indivíduo deve ser alegre e acreditar que lhe
foi dada uma oportunidade, de cima, para ser capaz de trabalhar a fim de doar.
É como os nossos sábios disseram: “Todos os
gananciosos têm raiva.” Isso significa que o indivíduo que está imerso em auto-recepção
tem raiva, pois ele sempre está em falta. Ele precisa constantemente satisfazer
seus vasos de recepção.
Porém, aqueles que querem andar no caminho da
doação devem estar sempre em alegria. Isso significa que, em qualquer forma que
se apresente, ele deve estar em alegria, já que ele não tem nenhuma intenção de
receber para si mesmo. É por isso que ele diz que, de qualquer forma, se ele
está de fato trabalhando a fim de doar, ele deve certamente estar alegre que
lhe foi permitido levar contentamento ao seu Fazedor. E se ele sente que o seu
trabalho ainda não é para doação, ele também deve se alegrar, pois, por
iniciativa própria, ele diz que não quer nada para si mesmo. Ele está feliz que
o desejo de receber não pode desfrutar do seu trabalho, e isso deve lhe dar
alegria. Contudo, se ele pensa que também vai ter algo para si mesmo a partir
do seu trabalho, ele permite que a Sitra
Achra (Outro Lado) se agarre ao seu trabalho, e isso lhe causa tristeza,
raiva, e assim por diante.
43. Sobre a verdade e a fé
“Verdade se refere a aquilo
que a pessoa sente e vê através dos seus olhos. Este discernimento recebe o
nome de “recompensa e castigo”, pois não se pode obter nada sem esforço.
Imaginemos, por exemplo, uma pessoa que se senta e não quer fazer nada para
procurar seu sustento. Esta pessoa diz que, já que o Criador é bom e
benevolente, e já que Ele é o provedor de tudo, suas vontades serão
transmitidas a Ele, enquanto ela, em contrapartida, não precisa fazer nada.
Claro que se essa pessoa se
comporta dessa maneira, com toda certeza morrerá de fome. Isto é evidente aos
olhos de qualquer um, porque é óbvio, cai de maduro; e é lógico e razoável que
assim seja; ou seja, que morra de fome.
Mas, ao mesmo tempo, a pessoa
deve crer e convencer-se de que, para além de toda razão, poderia conseguir
tudo o que necessita sem esforços nem preocupações de nenhum tipo, por causa da
Providência particular. Em outras palavras, o Criador realiza e realizará toda
a ação; e a pessoa não O ajuda em nada, pois é o Criador que faz tudo. E a
pessoa não pode adicionar nem subtrair nada ao que Ele faz.
Ainda assim, como podem andar
de mãos dadas estas duas coisas, considerando que uma está em oposição a outra?
Uma se refere ao que a mente alcança ou compreende, e indica que sem a ajuda do
homem, sem um trabalho e um esforço prévios, não poderá conseguir nada. A isto
se chama “a verdade”, pois o Criador deseja que a pessoa se sinta dessa forma.
E por isso esse caminho se chama “O caminho da Verdade”.
Mas não fiquem perplexos com o
seguinte dilema: se esses dois caminhos são opostos entre si, como é possível
que esse estado seja verdadeiro? A resposta é que, se a verdade se refere à
sensação de que o Criador deseja que a pessoa se sinta dessa forma, então isso
é a “verdade”. Disso resulta que o relativo à verdade pode ser dito
precisamente acerca do Criador, acerca da sua vontade, e que Ele deseja que a
pessoa se sinta e se veja dessa mesma maneira.
No entanto, ao mesmo tempo que
a pessoa deve crer e estar convencida de que ainda não perceba nem veja com os
“olhos” da mente o fato de que o Criador pode ajudar-lhe a obter todos os
benefícios que podem ser alcançados sem esforço da sua parte isto é certo
somente com relação à Providência particular.
A razão pela qual a pessoa não
pode alcançar o discernimento da “Providência particular” antes de alcançar o
de “recompensa e castigo” é que a Providência particular é algo eterno,
enquanto que sua mente não é eterna. E algo eterno não pode vestir-se de algo
que não seja eterno. Mas quando a pessoa tiver obtido o resultado de
“recompensa e castigo”, este se converte em um kli (vaso) dentro do qual se
pode vestir a Providência particular.
Agora podemos compreender o
verso: “O Senhor salva, o Senhor triunfa”. “Salva” se refere à “recompensa e
castigo”. Deve-se rezar para que o Criador proveja trabalho e esforço por meio
dos quais a pessoa possa ser recompensada. Ao mesmo tempo, deve-se rezar pelo
êxito, que é da Providência particular, e que indica que a pessoa será
recompensada com todos os benefícios do mundo sem trabalho nem esforço de sua
parte.
Também podemos ver isso
relativamente às posses materiais (deste mundo físico, que se discernem em sua
separação em lugares distintos; ou seja, em dois corpos diferentes, enquanto
que na espiritualidade tudo existe somente em um corpo, mas duas vezes). Há
pessoas que adquirem suas posses especificamente através de grandes esforços,
energia e sagacidade; mas ao mesmo tempo temos o contrário; há aqueles que não
são tão sagazes, nem têm tanta energia, nem se esforçam tanto, mas ainda assim
triunfam e até se convertem nos maiores possuidores de propriedades do mundo.
A explicação para isso é que
esses assuntos corporais surgem e se estendem de suas raízes superiores; ou
seja, do discernimento de “recompensa e castigo” e da Providência particular. A
única diferença está em que a espiritualidade se manifesta em um lugar, somente
num aspecto, mas um a um. Isto quer dizer que ocorre dentro de uma pessoa, mas
em dois estados. E no corporal, ao contrário, ocorre uma única vez, mas em dois
estados diferentes; ou seja, de uma só vez e em duas pessoas distintas.
44.
Mente e
Coração
(Ouvi em 10 de Tevet, Tav-Reish-Peh-Het, 1º de fevereiro de 1928, Givat Shaul, Jerusalém)
O indivíduo deve examinar se a fé está em ordem,
ou seja, se ele tem temor e amor, como está escrito: “Se sou vosso Pai, onde
está a honra que Me deveis dispensar? E se sou vosso Senhor, como Me
demonstrais vosso temor?” (Malaquias 1:6). E isso é chamado “mente”.
Devemos também ver que não haverá quaisquer desejos
para agradar a si mesmo, que mesmo um pensamento para si mesmo não surgirá no
indivíduo, mas todos os seus desejos serão apenas para doar ao Criador. Isso é
chamado “coração”, o qual é o significado de “O Misericordioso quer o coração”.
45. Dois discernimentos na Torá e no Trabalho
(Ouvi em 1º de Elul, Tav-Shin-Het, 5 de setembro de 1948)
Há dois discernimentos na Torá, e há dois
discernimentos no trabalho. O primeiro é o discernimento do temor, e o segundo
é o discernimento do amor. A Torá é chamada de um estado de completude, ou
seja, nós não falamos do estado em que está o trabalho do indivíduo, mas
falamos a respeito da Torá em si.
O primeiro é chamado “amor”, no sentido de que o
indivíduo tem um desejo e uma ânsia por conhecer os caminhos do Criador e os
Seus tesouros ocultos, e para isso ele faz todo esforço e se empenha para obter
o seu desejo. Ele considera tudo na Torá, tudo o que extrai a partir do que
aprendeu, como se tivesse recebido algo de valor inestimável. De acordo com a
apreciação da importância da Torá, assim o indivíduo cresce gradualmente até
que lhes são mostrados, lentamente, os Segredos da Torá, de acordo com o seu
trabalho.
O segundo
discernimento é o temor,
no sentido de que ele quer ser um servo do Criador. Pois “aquele que não
conhece o Mandamento do Superior, como servirá a Ele?”, ele teme e receia não
saber como servir ao Criador.
Quando ele aprende
dessa maneira, toda vez que encontra um Sabor na Torá e pode usá-lo, ele fica exaltado e
animado de acordo com a apreciação da importância de ter recebido algo da Torá.
E se o indivíduo persiste nesse caminho, gradualmente lhes são revelados os Segredos
da Torá.
Aqui há uma diferença entre ensinamentos
externos e a Sabedoria da Torá: nos ensinamentos externos, a exaltação diminui
o intelecto, pois a emoção é oposta ao intelecto. Portanto, a exaltação diminui
o entendimento do intelecto.
Por outro lado, na Sabedoria
da Torá, a
exaltação é uma essência, como o intelecto. A razão para isso é que a Torá é a
vida, como está escrito: “O valor do conhecimento preserva a vida de quem o
possui” (Eclesiastes 7:12), pois sabedoria e vida são a mesma coisa.
Portanto, assim como a
sabedoria aparece na mente, a sabedoria também aparece na emoção, pois a Luz da Vida
preenche todos os órgãos. (Parece-me que é por isso que o indivíduo deveria ver
que está sempre exaltado sobre a sabedoria da Torá, já que na exaltação há uma
grande diferença entre ensinamento externo e a sabedoria da Torá.)
Da mesma forma ocorre
no Trabalho, considerado a coluna da esquerda, porque é discernida como recepção. A questão da
recepção significa que o indivíduo quer receber pois sente uma carência, e uma
carência é considerada como três discernimentos: 1) A vontade do indivíduo, 2) A
vontade do público, 3) A vontade da Shechiná (Divindade).
Qualquer vontade é considerada como querer satisfazer a
deficiência; portanto, é considerada recepção e coluna da esquerda. Torá, no
entanto, significa que o indivíduo trabalha não porque sente que uma carência
precisa ser corrigida, mas que ele quer doar contentamento ao seu Fazedor (por
meio de oração, louvor e gratidão. Quando o indivíduo se engaja de uma forma
que sente a si mesmo em integridade e não vê nenhuma falha no mundo, isso é
chamado “Torá”. Porém, se o indivíduo se engaja enquanto sente alguma falha,
isso é chamado “Trabalho”).
Da mesma forma,
devemos fazer dois discernimentos durante o trabalho: 1) Devido ao amor do
Criador, quando o indivíduo quer aderir ao Criador e sente que esse é o lugar onde pode exibir
a medida do amor que sente e amar o Criador, 2) Devido ao temor, quando ele
teme ao Criador.
46. O domínio de Israel sobre as Klipot
(Eu ouvi)
A respeito do domínio de Israel sobre as Klipot (cascas),
e vice-versa, o domínio das Klipot sobre Israel. Primeiro devemos
entender o que é “Israel” e o que são “as nações do mundo”.
É explicado em diversos lugares que Israel
significa “internalidade”, chamada “os Kelim (vasos) anteriores”, com os
quais o indivíduo pode trabalhar a fim de doar contentamento ao seu Fazedor.
“As nações do mundo” são chamadas de “externalidade”, os Kelim
posteriores”, cujo sustento vem somente da recepção e não da doação.
A dominação das nações do mundo sobre Israel está
no fato de que elas não podem trabalhar em forma de doação e nos Kelim anteriores,
mas apenas nos Kelim posteriores. Elas seduzem os servos do Criador a
atraírem as Luzes para baixo até os Kelim posteriores.
A dominação de Israel significa que, se derem
poder para que todo e cada um seja capaz de trabalhar a fim de doar
contentamento ao seu Fazedor, ou seja, apenas nos Kelim anteriores,
mesmo que eles atraiam Chochmá (Sabedoria), é apenas na forma de “Um
caminho para percorrer” e nada além.
47. No lugar onde encontras a Sua grandeza
“No lugar onde encontras Sua grandeza, ali encontrarás
Sua humildade.”
Quer dizer que quem se encontra sempre em uma verdadeira
Dvekut (adesão), vê que o Criador desce com Sua presença, ou seja, que o
Criador se faz presente nos lugares mais baixos (inferiores).
A pessoa não sabe o que fazer, e por isso está escrito:
"O que é que está entronizado no alto, que olha para baixo, até o céu e a
Terra?”
A pessoa observa a grandeza do Criador, e logo "que
Ele olha para baixo", é dizer, que ela faz descer o céu à Terra. O
conselho que se oferece a este respeito é pensar que se este desejo provém do
Criador não temos nada maior que isso, tal como está escrito: “Ele levanta e
tira os pobres para fora do poço”.
Primeiro, a pessoa deve ver que tem um desejo. Se não,
deve rezar por ele. "Por que não o tenho?” A razão da ausência de desejo
se deve à diminuição da consciência.
Portanto, em cada mitzva (preceito) ela deve rezar: “Por
que não estou consciente de que não estou observando a mitzva em um estado de
plenitude?” Em outras palavras, o desejo de receber a envolve de tal forma que
ela não enxerga a verdade.
Se a pessoa se dá conta que se encontra em um estado tão
baixo, certamente não desejaria seguir neste estado. Ao contrário, se
esforçaria constantemente em seu trabalho cada vez mais até alcançar o
arrependimento, como está escrito: “Ele leva para dentro de uma tumba, e Ele
tira para fora.”
Isto significa que quando o Criador deseja que os
malvados se arrependam, joga-os num nível infernal tão baixo que os próprios
malvados passam a querer deixar tal condição.
Portanto, é preciso elevar uma oração para que o Criador
lhes mostre a verdade incorporando-lhes a Luz da Torah.
48. A base primária
(Ouvi no entardecer após o Shabat, Vaerá, Tav-Shin-Yod-Gimel,
8 de
novembro de 1952)
A base primária é um caminho conhecido a todos. O
cuidado e a proteção a respeito da mente é porque ela é construída sobre a base
de uma questão. Se o indivíduo encontra a questão conhecida, ele deve estar
armado e protegido para manter guarda e instantaneamente replicar com a
resposta conhecida.
Em outras palavras, a
estrutura inteira é construída sobre perguntas e respostas, e isso é andar no caminho do
Criador e ser recompensado com a construção de uma estrutura da Shechiná (Divindade).
E quando o indivíduo não tem espaço para perguntas e respostas ele é chamado de
“estagnado”.
O Criador preparou um
lugar até mesmo
para aqueles a quem já foi concedida a vestimenta permanente da Shechiná
e que já estão no caminho dos níveis e que não têm mais espaço para o trabalho
mencionado acima. Nesse lugar, eles têm uma base livre onde a fé pode existir.
Apesar de ser difícil entender como tal coisa pode se dar
em altos níveis, o Criador Ele Mesmo pode fazer isso. Esse é o significado da
correção da coluna do meio, e da proibição sobre a recepção da coluna da
esquerda.
Ao mesmo tempo, vemos
que Chochmá aparece apenas em Malchut. E apesar
de Malchut ser um atributo oposto a Chochmá, ainda assim o lugar
para a aparição de Chochmá é justamente aqui em Malchut.
Esse é o significado de “E deixe esse obstáculo
ficar sob a sua mão”. Nossos sábios disseram que o indivíduo não observa uma
lei a não ser que tenha falhado nela. Uma lei significa um discernimento de Malchut
(e esse é o significado da noiva. Quando se vai à noiva isso é chamado de “Lei”[1]). Ela é construída somente À base de
obstáculos, ou seja, num tempo de perguntas. Quando o indivíduo não tem
perguntas ele não tem o nome “Fé” ou Shechiná.
[1] Em hebraico, as palavras “noiva” e “lei”
são escritas com as mesmas letras em uma ordem diferente.
50. Dois estados
(Escutei em 20 de Sivan)
Há dois estados no mundo. No primeiro, o mundo se identifica com a “dor”, e
no segundo, com a Sagrada Shekinat (Divindade). Isto
acontece porque antes que a pessoa esteja dotada da capacidade de corrigir suas
ações para transformá-las em outorgar, percebe o mundo somente sob a forma de
dores e tormentos.
No entanto, depois, se é recompensado com o fato de poder
ver que a Sagrada Shekinat está vestida no mundo inteiro, e que o Criador está
preenchendo o mundo inteiro. Neste estado, o mundo recebe o nome de “Sagrada
Shekinat”, pois está recebendo do Criador. Isto se chama “a unificação do
Criador e da Divindade”. Do mesmo modo que o Criador dá, o mundo se ocupa
somente em outorgar.
Isto se parece a uma melodia triste, por meio da qual
alguns músicos sabem como transmitir a dor que é o seu tema central, porque
todas as melodias são como uma linguagem falada que representam as palavras que
a pessoa deseja exteriorizar em voz alta. Se a melodia evoca tristeza em quem a
escuta, a ponto de fazê-la chorar pela dor que ela transmite, então é chamada
“uma melodia”, e todos amam escutá-la. Isso se deve a que a melodia não aponta
uma dor presente, mas sim uma dor passada, ou seja, a tormentos que já ficaram
para trás e que já foram adoçados e receberam seu preenchimento. Por tal
motivo, as pessoas gostam de escutá-la. Então, a música faz alusão aos
adoçamentos dos Dinim (Juízos), e que as dores que a pessoa
sentia foram adoçadas. Por isso, este tipo de aflição resulta doce ao ouvido, e
assim, o mundo recebe o nome de “Sagrada Shekinat”.
A principal coisa que a pessoa deveria saber e sentir é
que existe um líder que a guia até a cidade, como disseram nossos sábios:
“Abraão o patriarca disse: ‘Não existe cidade sem um líder’”. A pessoa não deve
pensar que tudo que acontece no mundo seja por casualidade, e que a Sitra
Achra a induz a pecar e a dizer que tudo é fortuito.
Este é o significado de Hamat (vasilha
de) Kerí (sêmen). Há um Hamat cheio com Kerí. O Kerí induz a
pessoa a pensar que tudo é Bemikré (fortuito).
(Ainda quando a Sitra Achra provoca nela pensamentos tais
como dizer que tudo é fortuito, sem uma direção determinada, isto tampouco é
casualidade, pois o Criador assim o quer).
No entanto, não se deve crer na recompensa e no castigo,
e que existem um juízo e um juiz, e que tudo está conduzido pela “Providência
da recompensa e do castigo”. Isto se deve a que, às vezes, quando algum desejo
e manifestação do trabalho de Deus desperta dentro da pessoa, e ela acredita
que isto aparece por casualidade, deve saber que também aqui ela realizou um
esforço prévio para escutar. Rezou por ajuda de Cima, para poder executar uma
ação intencionada, e isto se chama “elevar MAN”.
Entretanto, a pessoa já o esqueceu e não considerou
fazê-lo, já que não recebeu uma resposta imediata à sua oração, como para
declarar: “Para que tu escutes a oração de cada boca”. Ainda assim, deve crer e
entender que a ordem de Cima estabelece que a resposta à oração pode chegar
vários dias ou meses depois de se haver rezado.
Não se deve pensar que não é por casualidade que a pessoa
tenha recebido este Itorenut (Despertar) presente. Às vezes a
pessoa diz: “Agora que sinto que não me falta nada e que nada me preocupa,
minha mente está curada e saudável; e por esta razão, posso focar minha mente e
meu desejo em direção ao trabalho de Deus”.
Disto se depreende que a pessoa pode dizer que todo o seu
compromisso no trabalho de Deus consiste em que “sua força e o poder de sua mão
lhe concederam riqueza”. Assim, quando a pessoa pode comprometer-se e alcançar
necessidades espirituais, deve entender que esta é a resposta a sua
oração. Aquilo pelo que ela pediu antes, agora sim foi respondido.
Ademais, às vezes, quando se lê algum livro, o Criador
lhe abre os olhos e a pessoa sente um certo despertar; então, também sua reação
normal é atribuir isto à causalidade. Não obstante, tudo está guiado.
Ainda que se saiba que toda a Torá consiste nos nomes do
Criador, como que se pode dizer que através do livro se está lendo e se obtendo
algum tipo de sensação sublime? A pessoa deve entender que normalmente lê o livro e
sabe que a Torá inteira consiste nos nomes do Criador, mas que apesar disto não
recebe iluminação nem sensação alguma. Pelo contrário, tudo está seco e o
conhecimento que a pessoa possui não o ajuda sequer minimamente.
Portanto, quando a pessoa estuda de certo livro e
deposita sua esperança Nele, o estudo deve apoiar-se sobre a base da fé, ou seja,
que a pessoa crê na Providência e que o Criador lhe abrirá os olhos. Neste
momento, a pessoa se vê necessitada do Criador, e desta forma está em contato
com Ele. Por meio disto, se pode chegar à adesão (Dvekut) com
Ele.
Existem duas forças que se opõem entre si: uma Força
Superior e uma força inferior. A respeito da Força Superior está escrito: “Todo
aquele que é chamado por Meu Nome, e a quem Eu criei para a Minha glória”. Isto
significa que o mundo inteiro foi criado somente para a glória do Criador. A
força inferior é o desejo de receber que argumenta que tudo foi criado para
ele, tanto o corporal quanto o espiritual. Para ele, tudo obedece ao amor por
si próprio.
O desejo de receber argumenta que merece este mundo e o
mundo vindouro. Por suposto, o Criador triunfa, mas isto recebe o nome de
“o caminho da dor”. Se denomina “um caminho longo”. Mas há outro caminho
mais curto, chamado “o caminho da Torá”. A intenção de todos deveria estar
dirigida a encurtar o tempo.
Isto é chamado “eu aceitarei”. Do contrário será
“em seu tempo”, segundo foi dito pelos nossos sábios: “recompensado: eu
aceitarei; não recompensado: a seu tempo”, “que coloco diante de ti um
rei como Hamán, e ele te obrigará a corrigir-te.
A Torá começa com Bereshit (No princípio):
“... Agora a terra estava sem ordem e vazia, e a escuridão...”, e finaliza
assim: “Diante dos olhos de toda Israel”.
No princípio vemos que a terra está “sem ordem e vazia, e
a escuridão...”, mas, então, quando todos se corrigem para poder outorgar, são
recompensados com “Então disse Deus: ‘Seja feita a Luz’...” Até que
aparece a Luz “diante dos olhos de toda Israel”.
51. Se você encontrar esse vilão
(Ouvi após o feriado de Pessach, Tav-Shin-Gimel,
27 de
abril de 1943)
“Se você encontrar esse vilão, atraia-o ao
seminário, etc., e senão, lembre-o do dia da morte.” Isso significa que ele vai
lembrá-lo de que o trabalho deveria ser em um lugar onde ele não está presente,
o qual está além da pele do indivíduo. Isso é chamado “trabalhar fora do
corpo”, pois ele não tem um único pensamento sobre o seu próprio corpo.
52. Uma transgressão não extingue uma mitzvá
(Ouvi na véspera do Shabat, 9 de Iyar, Tav-Shin-Gimel,
14 de maio
de 1943)
“Uma transgressão não extingue uma mitzvá
(mandamento), e uma mitzvá não
extingue uma transgressão.” A pessoa deve tomar o bom caminho, mas o mal que se
encontra dentro dela não lhe permite fazer isso.
No entanto, o indivíduo deve saber que ele não precisa
desenraizar o mal, já que isso é impossível. Ao invés disso, ele deve apenas
odiar o mal, como está escrito: “Vós que amais ao Eterno, repudiais o mal”
(Salmos 97:10). Apenas o ódio é necessário, já que ao odiar o mal a pessoa se
separa dele.
Por essa razão o mal não tem existência por si
próprio. Ao contrário, a existência do mal depende do amor pelo mal ou do ódio
pelo mal. Isso significa que se o indivíduo tem amor pelo mal, então ele está
preso na autoridade do mal. Se o indivíduo odeia o mal, ele sai do seu
território e o mal do indivíduo não tem domínio sobre si.
Segue-se que o
trabalho primário não é
no próprio mal, mas na medida do amor e na medida do ódio. Por essa razão,
transgressão incita transgressão. Devemos perguntar: “Por que ele merece tal
punição?” Quando o indivíduo cai em seu trabalho, ele deve ser ajudado a se
levantar da queda. Mas aqui vemos que mais obstáculos são adicionados para que
ele caia ainda mais abaixo do que na primeira queda, porque a fim de sentir ódio pelo mal, ele recebe mais mal, para que sinta como a transgressão o
remove do trabalho do Criador. Apesar de ter se arrependido da primeira
transgressão, ele ainda não sentiu remorso o suficiente para trazer a ele o
ódio pelo mal.
Portanto, uma
transgressão incita
uma transgressão, e a cada vez ele se arrepende, e cada remorso certamente
instiga o ódio pelo mal até que a medida do seu ódio pelo mal se complete, e
então ele está separado do mal, já que o ódio induz à separação.
Segue-se, portanto,
que se o indivíduo
encontra uma certa medida de ódio em um nível que incita a separação, ele não
precisa de uma correção do tipo transgressão-incita-transgressão, e assim poupa
tempo. Quando o indivíduo já foi recompensado, ele é admitido no amor do
Criador. Esse é o significado de “Vós que amais ao Eterno, repudiais o mal”. Eles
apenas odeiam o mal, mas o mal em si permanece no seu lugar, e é apenas ódio ao
mal que precisamos.
Isso se extende de:
“Entretanto, pouco menos que os anjos o fizeste e de glória e esplendor o
corosaste” (Salmos
8:6), e esse é o significado da fala da serpente “E sereis como Deus,
conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3:5). Isso quer dizer que quando o
indivíduo se esforça e quer entender todas as condutas da Providência, como se
fosse o Criador, e esse é significado de “A soberba de um homem o fará (ao fim)
rebaixar-se” (Provérbios 29:23). Isso significa que o indivíduo quer entender
tudo com a mente externa, e se ele não entende isso, está em um estado de
humildade.
A verdade é que se o indivíduo desperta para saber
algo é um sinal de que ele precisa saber disso. Quando ele supera a própria
mente, o que ele quer entender, e toma tudo com fé acima da razão, isso é
chamado a grande humilde no atributo humano. Você percebe que na medida em que
o indivíduo tem uma demanda para saber mais, porém leva isso na fé acima da
razão, você vê que ele está em maior humildade.
Agora podemos entender
o que eles interpretaram sobre o verso: “E o homem Moisés era muito humilde”
(Números 12:3), modesto e paciente. Isso significa que ele tolerava a humildade
na medida mais alta possível.
Esse é o significado de Adam HaRishon
comer da Árvore da Vida antes do pecado, e de ele estar em integridade.
Contudo, ele não podia caminhar além do nível em que estava, pois ele não
sentia qualquer falta no seu estado. Portanto, ele naturalmente não podia
descobrir todos os Nomes Sagrados.
Por essa razão, fez que comesse da Árvore do
Conhecimento do Bem e do Mal, em concordância com o seguinte versículo: “Venha
e veja as obras de Deus, terrível em Seus feitos sobre os filhos dos homens”. Através
desse pecado, todas as Luzes o deixaram e ele foi obrigado a começar seu
trabalho de novo.
Sobre isso, a
escritura diz que ele foi expulso do Jardim do Éden, porque se tivesse comido da Árvore
da Vida ele teria vivido para sempre. Esse é o significado da interioridade dos
mundos. Se o indivíduo entra, ele permanece lá para sempre. Isso significa que,
mais uma vez, ele permaneceria sem qualquer falta. E para ser capaz de ir e
revelar os Nomes Sagrados, os quais aparecem por meio da correção de bem e mal,
ele precisava, portanto, comer da Árvore do Conhecimento.
É similar a uma pessoa que quer doar a seu
amigo um grande barril repleto de vinho, mas o seu amigo tem apenas uma taça
pequena. O que ele faz? Ele derrama o vinho nessa taça e leva a taça para casa
e a derrama noutro recipiente. Então, ele começa a vir com a taça mais uma vez,
e mais uma vez a enche com vinho. Daí, ele vai para a sua casa mais uma vez até
que recebe todo o barril de vinho.
Ouvi outra parábola que falava de dois amigos, um que se
tornou um rei e o outro que se tornou muito pobre, e ouviu que o seu amigo
havia se tornado um rei. Então, o homem pobre foi até seu amigo, o rei, e lhe
falou sobre o seu mau estado.
Então, o rei lhe deu uma carta destinada ao
ministro do tesouro dizendo que, por duas horas, ele poderia receber quanto
dinheiro quisesse. O homem pobre veio ao tesouro com uma pequena caixa, entrou,
e preencheu aquela pequena caixa com dinheiro.
Quando saiu, o
ministro chutou a caixa e todo o dinheiro caiu no chão. Isso continuou de novo e de novo, e o
homem pobre começou a chorar: “Por que você está fazendo isso comigo?”
Finalmente, ele disse: “Todo o dinheiro que você pegou durante todo esse tempo
é seu e você vai levar tudo. Você não tinha recipientes para levar dinheiro
suficiente do tesouro; é por isso que isso foi aplicado contra você.”
53. A questão da limitação
(Ouvi na véspera do Shabat, 1º de Sivan,Tav-Shin-Gimel,
4 de Junho
de 1943)
A questão da limitação é para limitar o estado em
que o indivíduo está e não quer Gadlut (grandeza/idade adulta). Ao invés
disso, ele quer permanecer no seu presente estado para sempre, e isso é chamado
eterna Dvekut (Adesão). Independente da medida de Gadlut do
indivíduo, mesmo que ele tenha a menor Katnut (pequenez/infância), se
ela brilha constantemente é considerado como se a eterna Dvekut tenha
sido recebida.
No entanto, quanto ao
indivíduo que
quer mais Gadlut isso é considerado luxúria. Esse é o significado de
“qualquer sofrimento será excedente”, no sentido de que a tristeza chega a uma
pessoa porque ela quer luxos. É isso que significa que Israel veio receber a
Torá e Moisés os guiou ao pé da montanha, como está escrito: “E estiveram ao pé
do monte” (Êxodo 19:17).
(Uma montanha, Har, significa pensamentos, Hirhurim).
Moisés os guiou ao fim do pensamento e do entendimento e da razão, o nível mais
baixo que existe. Apenas então, quando eles concordaram com tal estado, com a
condição de caminhar sem qualquer hesitação ou movimento, e permanecer nesse
estado como se tivessem a maior Gadlut, e ficarem felizes com isso, esse
é o significado de “Servi-O com alegria”, pois durante a Gadlut não pode
ser dito que Ele lhes dá trabalho para se alegrarem, porque durante a Gadlut
a alegria vem por si mesma. Ao invés disso, o trabalho da alegria lhes é dado
para o tempo de Katnut, então eles terão felicidade apesar de sentirem a
Katnut. E isso é muito trabalho.
Isso é chamado “a parte principal do nível”, o
qual é discernido como Katnut. Esse discernimento deve ser permanente, e
a Gadlut é apenas uma adição. Além disso, o indivíduo deve ansiar pela
parte principal, não pelas adições.
54. O propósito do trabalho – 1
(O que ouvi em 16 de Shevat, Tav-Shin-Aleph,
13 de
fevereiro de 1941)
É sabido que a servidão existe principalmente
para “doar contentamento ao seu Fazedor”. Contudo, o indivíduo deve saber o
significado de doação, já que isso é usado por todos, e é sabido que o hábito
desgasta o sabor. Portanto, devemos clarificar completamente o significado da
palavra doar.
A questão é que o desejo de receber também é
incorporado no desejo de doar do inferior (mas o desejo de receber pode ser
usado com correções), senão não há conexão entre doador e receptor. Isso é
porque é impossível que um indivíduo doe e o outro indivíduo não doe nada em
troca, ainda que vá haver um estado de parceria.
Apenas quando ambos
demonstram amor um pelo outro há uma conexão e amizade entre eles. Mas se o indivíduo demonstra amor e
o outro não dá nenhuma resposta, tal amor não é real e não tem direito de
existir. Nossos sábios disseram sobre o verso “E para proclamar: ‘Tu és meu
povo, Tsión’” (Isaías, 51:16). Não diga Ami (meu), mas Imi
(comigo)[2], “para ser Meu parceiro” (Zohar Beresheet,p. 5), significando que as criaturas estão em
uma parceria com o Criador.
Segue-se que quando o
inferior quer doar ao Criador também o inferior deveria receber do Criador. Isso é
chamado parceria, quando o inferior doa, e o superior doa também.
No entanto, o desejo
de receber deveria ansiar por aderir a Ele e receber a Sua abundância, sustento e bondade; e esse foi o
propósito da Criação, fazer bem às Suas criações.
Contudo, devido à quebra que ocorreu no mundo de Nekudim,
o desejo de receber caiu no domínio das Klipot (cascas), pelo qual foram
feitos dois discernimentos no Kli (vaso): 1) Desenvolveu uma relação com
os prazeres separados, e o trabalho de sair da autoridade das Klipot é
chamado “o trabalho da purificação”; 2) O segundo discernimento que ocorreu durante
a quebra é a separação dos prazeres espirituais.
Em outras palavras, o
indivíduo se
torna distante da espiritualidade e não tem nenhum desejo pela espiritualidade.
A correção para isso é chamada Kedushá (Santidade), onde a ordem do
trabalho é desejar a Sua exaltação. Nesse estado, o Criador brilha para o
indivíduo nesses vasos. Porém, devemos saber que na medida em que ele tem Kelim
(vasos) de pureza, chamados “odiar o mal”, nessa medida ele pode trabalhar em Kedushá,
como está escrito: “Vós que amais
ao Eterno, repudiais o mal.”
Segue-se que há dois discernimentos: 1) Pureza; 2) Kedushá.
Kedushá é chamada de Kli, a preparação para receber a Sua
bondade, por meio de fazer o bem às Suas criações. No entanto, esse Kli
é atribuído ao indivíduo inferior, sendo que cabe a nós repará-lo. Em outras
palavras, cabe a nós ansiar pelo bem, e isso significa engajar-se
extensivamente na exaltação Dele e na própria humildade.
Contudo, a abundância que deveria aparecer no Kli de
Kedushá está nas mãos do Criador. Ele é Quem transmite abundância ao
inferior. Nesse momento, o indivíduo não pode ajudar de nenhuma forma e isso é
chamado “As coisas secretas pertencem ao Senhor nossos Deus”.
O Pensamento da Criação, chamado “Fazer o bem às Suas
criações”, começa a partir do Ein Sof (infinito). Por essa razão,
rezamos ao Ein Sof, ou seja, para a conexão que existe entre o Criador e
as criaturas. Esse é o significado do que está escrito nos registros do Ari,
que devemos rezar ao Ein Sof.
É assim porque o Atzmuto (Ele Mesmo)
não tem conexão com as criaturas, já que o início da conexão começa em Ein
Sof, onde está o nome Dele, o qual é a raiz da criação. Esse é o
significado do que está escrito no Talmude de Jerusalém, que aquele que reza,
rezará ao Nome, significando que lá está o Seu nome, e o Seu nome e o Ein
Sof são chamados, nas palavras da lenda, e “Uma torre repleta de
abundância”. É por isso que rezamos ao Nome, para receber o benefício que nos
foi preparado com antecedência.
É por isso que Keter é chamado “Seu
desejo de fazer o bem às Suas criações”, e o benefício em si é chamado Chochmá
(Sabedoria), a qual é a abundância em si. É por isso que Keter é chamado
de Ein Sof e “Emanador”. No entanto, Chochmá ainda não é chamada
de “emanado”, já que ainda não há um Kli em Chochmá, e ela é
considerada uma Luz sem um Kli.
Por essa razão, Chochmá também é discernida
como o Emanador, porque não há realização (Attainment) na Luz sem um Kli,
e toda a diferença entre Keter e Chochmá é que lá a raiz do
emanado está mais revelada.
55. Haman da Torá, de onde?
(Ouvi em 16 de Shevat, Tav-Shin-Aleph,
13 de
fevereiro de 1941)
Haman da Torá, de onde? “Por acaso comeste da árvore
da qual te ordenei não comer?” (Genesis 3:11). Devemos entender a conexão entre Haman e Etz ha Daat (Árvore do
Conhecimento). Etz ha Daat é considerado o estado de grandeza da
recepção, o qual não está em Kedushá (santidade) e deve ser trazido para
a Kedushá por meio de correções.
A qualidade de Haman
também é o
estado de grandeza da recepção, como está escrito que Haman disse: “A quem o
rei”, o Rei do mundo, “iria querer honrar mais do que a mim?” Isso significa
que ele é discernido como o estado de grandeza da recepção, e isso é discernido
como “E o seu coração se elevou nos caminhos do Eterno” (2 Crônicas 17:6).
56. Torá se chama Indicação
(Ouvi em 1º de BeShalach, Tav-Shin-Aleph,
2 de
fevereiro de 1941)
A Torá é chamada “indicação”, da palavra “disparou”[3]. Significa que quando o indivíduo se
engaja na Torá ele sente o seu afastamento na medida do seu esforço. Em outras
palavras, a verdade lhe é mostrada, ou seja, a medida da sua fé lhe é mostrada,
a qual é a base inteira da verdade.
A base da observação da Torá e das Mitzvot (mandamentos)
é na medida da fé, pois então lhe aparece que a sua base inteira é construída
apenas sobre a educação que ele recebeu. Isso é porque a educação é o
suficiente para ele manter a Torá e as Mitzvot em todas as suas
complexidades e detalhes, e tudo o que vem por meio da educação é chamado “fé
dentro da razão”.
Apesar disso ser contrário
a mente, pois a razão precisa disso de acordo com os acréscimos que o indíviduo precisa
fazer em Torá, assim ele deveria se sentir mais perto do Criador. Porém, a Torá
sempre lhe mostra mais da Verdade. Quando ele busca pela Verdade, a Torá lhe
traz mais perto da Verdade e ele enxerga a sua medida de fé no Criador.
É assim para que ele seja capaz de pedir por
misericórdia e rezar ao Criador para que lhe traga genuinamente para mais perto
Dele, o que significa que o indivíduo será recompensado com fé no Criador.
Então, ele será capaz de louvar e ser grato ao Criador por ter permitido que se
aproximasse Dele.
No entanto, quando o
indivíduo não
enxerga a medida do seu afastamento e pensa que adiciona constantemente,
percebe-se que ele constrói todas as edificações sobre uma base frágil, e ele
não tem lugar para rezar ao Criador para ser aproximado Dele. Segue-se que ele
não tem lugar para se esforçar para que lhe seja transmitida a fé completa,
pois o indivíduo se esforça apenas no que precisa.
Assim, enquanto o
indivíduo não
for digno de enxergar a Verdade, é ao contrário. Quanto mais ele adiciona Torá
e Mitzvot, ele os adiciona na medida da sua completude e não vê qualquer
déficit em si mesmo. Portanto, ele não tem lugar para se esforçar e rezar para
que lhe seja concedida a fé no Criador de verdade, porque quando ele sente
corrupção, deveria se dizer correção.
Porém, quando se se engaja verdadeiramente na
Torá e nas Mitzvot, a Torá lhe mostra a Verdade, porque a Torá tem esse
poder de mostrar ao indivíduo seu verdadeiro estado de fé (e esse é o
significado de “ser conhecido”).
Quando o indivíduo se engaja na Torá e enxerga a Verdade,
ou seja, enxerga a medida do seu afastamento da espiritualidade, e vê que é um
ser tão baixo que não há pessoa pior que ele na terra, então a Sitra Achra (Outro
Lado) vem a ele com um argumento diferente: De fato, seu corpo é realmente
muito feio, e é verdade que não há pessoa mais feia que você no mundo. Ela lhe diz isso para que ele se desespere, pois ela tem medo que ele
note e passe a corrigir o seu estado. Por essa razão, ela concorda com o que ele diz, que é
uma pessoa feia, e deixa que ele entenda que, se tivesse nascido com maiores
habilidades e melhores qualidades, ele poderia superar esse mal e corrigi-lo, e
ele seria capaz de atingir a Dvekut (adesão) com o Criador.
A resposta a isso
deveria ser que o que ela lhe diz é trazido no Masechet Taanit (p. 20), que o
Rabino Elazar, filho do Rabino Shimon, veio de uma torre cercada até a casa de
seu professor. Ele estava montado num burro, e passeando pela margem do rio,
sentindo grande alegria. E a sua mente estava intolerante, pois ele havia
estudado muita Torá.
Uma pessoa muito feia cruzou
por ele e lhe disse: “Olá, rabino”. Mas ele não
respondeu. Elazar pensou: “Nossa, como esse homem é feio”. Depois,
perguntou: “Todos os seus conterrâneos são tão feios quanto você?” O outro respondeu:
“Eu não sei, mas vá e diga ao artesão que me fez ‘Como é feio esse vaso que
você fez’”. Ao se dar conta de que havia pecado, Elazar desceu do burro.
De acordo com o que lemos
acima, podemos
ver que, por ter aprendido muita Torá, lhe foi concedido enxergar a verdade
sobre a distância entre ele e o Criador, ou seja, a medida do seu afastamento e
da sua proximidade. Esse é o significado de a sua mente estar bruta, intolerante,
no sentido de que ele viu a forma completa de quem é orgulhoso, que é o seu
desejo de receber, e então ele pôde enxergar a verdade de que ele próprio era
muito feio. Como ele viu a verdade? Ao aprender muita Torá.
Portanto, como ele será capaz de aderir a Ele, já que é uma
pessoa tão feia? É por isso que ele perguntou se todas as pessoas eram tão
feias quanto o estranho ou se ele era o único feio e o resto das pessoas no
mundo não eram feias.
Qual foi a resposta do
homem? “Eu não
sei.” Significa que eles não sentem e, portanto, não sabem. E por que eles não
sentem? É pela simples razão de que eles não foram recompensados com a visão da
verdade, pois lhes falta Torá, portanto a Torá lhes mostrará a verdade.
Diante disso, Eliseu replicou:
“Vá ao
artesão que me fez”, porque ele viu que Elazar estava num estado do qual não
podia ascender. Por essa razão, Eliseu lhe apareceu e lhe disse: “Vá ao artesão
que me fez”. Em outras palavras, já que o Criador te criou tão feio, o Criador
sabe que são com esses Kelim (vasos) que é possível atingir o objetivo.
Então, não te preocupa. Vai em frente e tenha êxito.
57. O trará como oferenda queimada à Sua vontade
(Ouvi em 1º de Yitro, Tav-Shin-Dalet,
5 de
fevereiro de 1944)
Sobre o versículo “O trará como oferedenda queimada à Sua
vontade” nossos sábios disseram: “Por quê? Ele é forçado, até que diga ‘Eu
quero’”. Devemos também entender o que é a nossa oração: “Que haja um desejo”, já
que o desejo da vaca de alimentar o seu terneiro é maior do que o desejo dele
de se alimentar. Portanto, por que necessitamos orar para “Que haja um desejo
Acima”?
É sabido que para se extrair a Abundância de
Cima antes se deve experimentar um despertar de baixo. Devemos entender por que
precisamos de um despertar de baixo. Por causa disso, rezamos para que haja um
desejo Acima. Isso significa que devemos evocar um desejo de Cima para que seja
executado abaixo.
Não é suficiente que tenhamos um desejo. Precisa
haver, também, boa vontade da parte do Doador. Apesar de Acima haver um desejo
geral de fazer o bem às Suas criações, Ele ainda espera pelo nosso desejo de
despertar o desejo Dele.
Em outras palavras, se
não somos
capazes de evocar o desejo Dele é um sinal de que o desejo por parte do
receptor ainda está incompleto. Portanto, precisamente ao rezar para que haja
uma vontade Acima, o nosso desejo se transforma num desejo genuine que possa ser
um Kli (vaso) digno de receber a Abundância.
Ao mesmo tempo,
devemos dizer que tudo o que fazemos, tanto ruim quanto bom, tudo é atraído de Cima (o que é o significado
de “Providência Particular”), que o Criador faz tudo. Ainda assim, ao mesmo
tempo, devemos nos arrepender das más ações, apesar de que também elas são atraídas
de Cima.
A mente exige que não nos lamentemos, mas que justifiquemos o
julgamento e que merecemos os nossos maus atos. Não obstante, é ao contrário:
devemos lamentar por não termos tido permissão para realizar boas ações, o que certamente
é o resultado de uma punição no sentido de que somos indignos de servir ao Rei.
Se tudo é guiado de Cima, como podemos dizer que
somos indignos, já que não há nenhum ato abaixo? Por isso nos são enviados maus
pensamentos e desejos que nos distanciam do Trabalho do Criador, pois somos
indignos de servir a Ele. Por essa razão, há uma oração para isso, pois esse é
um lugar de correção para se tornar digno e capaz de receber o Trabalho do Rei.
Agora podemos ver
porque há uma
oração para determinado problema. Esse problema deve ter vindo como uma
punição, e punições devem ser correções, pois há uma regra de que a punição é
uma correção. Então, por que rezamos ao Criador para cancelar nossas correções?
Nossos sábios se referem ao versículo “Então, teu irmão
deverá ser desonrado diante dos teus olhos”
(Deuteronômio 25:3), já que o atingido é o teu irmão. Devemos saber que
a oração corrige a pessoa ainda mais que a punição. Portanto, quando a oração
aparece ao invés da punição, a aflição é levantada e a oração é colocada no seu
lugar a fim de corrigir o corpo.
Esse é o significado do que os nossos sábios
disseram: “Recompensado, pela Torá; não recompensado, pelo sofrimento”. Devemos
saber que o Caminho da Torá é um trajeto
de mais sucesso e rende mais benefícios do que o Caminho do Sofrimento. Isso
porque os Kelim (vasos) que serão dignos de receber a Luz Superior são
maiores e podem conceder a Dvekut (adesão) com Ele. Esse é o
signifcado de “Ele é forçado até que diga ‘Eu quero’”. Significa que o Criador
diz: “Eu quero as ações dos inferiores.”
O significado da oração é o que os nossos sábios disseram: “O
Criador ansiou pela oração dos justos”, pois, por meio da oração, os Kelim
se tornam dignos para que depois o Criador possa lhes doar Abundância, já que
há um Kli digno de receber a Abundância.
58. A alegria é um “reflexo” das boas ações
(Ouvi em Sukot, Inter 4)
A alegria é um “reflexo” das boas ações. Se as ações
são de Kedushá (Santidade), então a alegria aparece. Porém, devemos
saber que há também um discernimento de uma Klipá (casca). A fim de
saber se é Kedushá, o escrutínio deve ser feito através da razão. Em Kedushá,
há uma razão, e na Sitra Achra (Outro Lado) não há razão nenhuma,
pois um outro deus é estéril e não dá frutos. Assim, quando a alegria vem para
uma pessoa, ela deve mergulhar nas palavras da Torá a fim de descobrir o
pensamento da Torá.
Também devemos saber que a alegria é
discernida como iluminação superior que aparece por meio de MAN, que são
boas ações. O Criador sentencia o indivíduo onde ele está. Em outras palavras,
se o indivíduo toma para si o fardo do Reino dos Céus para a eternidade, há uma
iluminação superior imediata sobre isso, a qual também é considerada
eternidade.
Mesmo que o indivíduo veja que, evidentemente, ele logo vai
cair do seu nível, Ele ainda o sentencia onde ele está. Isso significa que se
uma pessoa decidiu, agora, tomar sobre si o fardo do Reino dos Céus para a
eternidade, isso é considerado completude.
No entanto, se ele
toma sobre si o fardo do Reino dos Céus e não quer que esse estado permaneça nela para
sempre, essa coisa e essa ação não são consideradas completude e, naturalmente,
a Luz Superior não pode vir e repousar nele. Isso é porque a Luz é completa e
eterna, e não vai mudar. Com uma pessoa, no entanto, mesmo se ela quiser, o
estado em que está não será para sempre.
59. Sobre a vara e a serpente
(Ouvi em 13 de Adar, Tav-Shin-Het, 23 de fevereiro de 1948)
“Então Moisés respondeu, dizendo: Mas eles
não acreditarão em mim” etc. “E o Eterno disse para ele: ‘Que é isso em tua
mão?’ - e disse: “Uma vara”. E Ele disse: ‘Jogue-a ao chão”… E virou uma cobra,
e Moisés fugiu de sua face” (Êxodo 4:1-3).
Devemos interpretar
que não há mais
do que dois degraus, ou Kedushá (Santidade) ou Sitra Achra (Outro
Lado). Não há estado intermediário, mas a mesma vara se torna uma serpente se
jogada ao chão.
A fim de entender
isso, vamos primeiro trazer as palavras dos nossos sábios, de que Ele havia colocado a Sua Shechiná
em árvores e pedras. Árvores e pedras são chamadas coisas de importância
inferior, e especificamente desta maneira Ele colocou a Sua Shechiná.
Esse é o significado da pergunta “Que é isso em tua mão?”.
Uma “mão” significa alcançar (attainment),
a partir das palavras “se uma mão alcança”. Uma “vara” significa que todas as
obtenções estão construídas no discernimento de importância inferior, o qual é
a fé acima da razão.
A fé é considerada como tendo importância
inferior, e como humildade. O indivíduo aprecia as coisas que se vestem dentro
da razão. Contudo, se a mente do indivíduo não alcança isso, mas resiste, então
ele deve dizer que a fé é de importância superior a sua mente. Segue-se que
nesse momento ele rebaixa sua mente e diz que a fé é mais importante que sua
mente, que aquilo que ele compreende através da razão resiste ao caminho do
Criador. Isso é assim por que todos os conceitos que contradizem o caminho do
Criador não têm nenhum valor.
Ao contrário: “Que eles têm olhos, mas não veem,
têm ouvidos, mas não ouvem”. Significa que a pessoa precisa anular tudo o que
ouve e vê e isso é chamado “ir acima da razão”. E, assim, isso tudo parece algo
inferior e pequeno.
No entanto, em relação
ao Criador a fé não é
considerada algo pequeno, pois quem não tem nenhuma outra escolha a não ser
tomar o caminho da fé considera a fé como algo pequeno. Contudo, o Criador
poderia ter colocado a Sua Shechiná em algo que não fosse árvores e
pedras, mas Ele escolheu esse caminho, chamado de fé, especificamente. Ele deve
tê-lo escolhido porque é melhor e mais bem-sucedido. Podemos ver que para Ele a
fé não é considerada como sendo de importância inferior. Ao contrário, esse
caminho especificamente tem muitos méritos, mas aparece como insignificante aos
olhos das criaturas.
Se a vara é jogada ao chão e o indivíduo quer
trabalhar com um discernimento mais elevado, ou seja, dentro da razão,
degradando o discernimento acima da razão, e esse trabalho lhe parece baixo, então
a Torá e o seu trabalho imediatamente se trasformam numa serpente. Esse é o
significado da serpente primordial, e esse é o significado de “Quem for
orgulho, o Criador lhe diz, ‘ele e eu não podemos viver na mesma morada’”.
A razão disso, como já dissemos, é que Ele
colocou a Sua Shechiná em árvores e pedras. Portanto, se o indivíduo
joga o discernimento da vara ao chão, e se eleva para trabalhar com um atributo
mais elevado, isso já é uma serpente. Não há meio termo. Ou é uma serpente ou é
Kedushá, pois toda a Torá e o trabalho que o indivíduo teve a partir do
discernimento da vara entrou agora para o discernimento da serpente.
É sabido que a Sitra Achra não tem
luzes. Portanto, também na corporalidade o desejo de receber tem apenas
deficiências, mas não a satisfação do preenchimento. E o vaso de recepção
permanece para sempre em déficit, sem preenchimento, porque aquele que tem cem quer
duzentos e assim sucessivamente. E, dessa forma, o indivíduo morre sem ter
sequer a metade do que desejava.
Isso vem de raízes superiores. A raiz da Klipá (casca)
é o vaso de recepção, e isso não tem correção alguma durante os seis mil anos,
que é o tempo estipulado para a correção da humanidade. Sobre os vasos de
recepção se realiza o tzimtzum (restrição) e desse modo esses vasos
ficam sem Luz e Abundância.
É por isso que eles seduzem o indivíduo a
atrair a Luz para o seu nível. E as luzes que o indivíduo recebe por estar
aderido à Kedushá, já que a abundância brilha na Kedushá, quando
os vasos seduzem a pessoa a atrair abundância ao seu estado presente, são
recebidos pelos vasos de recepçõa. Assim, esses vasos têm domínio sobre a
pessoa, ou seja, eles lhe dão satisfação no estado em que está para que não se
mova dali.
Portanto, o indivíduo não pode avançar por meio desse
domínio, pois ele não tem necessidade de um nível mais alto. E já que não tem
necessidade, ele não pode se mover desse lugar, nem mesmo fazer um pequeno
movimento.
Nesse estado, a pessoa
é incapaz
de discernir se está avançando na Kedushá ou ao contrário. E isso acontece
porque a Sitra Achra lhe dá poder para trabalhar com mais força já que
agora ele está dentro do âmbito da razão e isso lhe permite trabalhar num
estado que não considera inferior. E assim o indivíduo permanece sob a autoridade
da Sitra Achra.
Para que uma pessoa não permaneça sob a autoridade da Sitra
Achra, o Criador criou uma correção segundo a qual se alguém deixa o
discernimento da vara cai imediatamente no discernimento da serpente. A pessoa
cai imediatamente num estado de fracasso e não tem poder nem força para
evoluir, a menos que opte outra vez pelo discernimento da fé, chamado
humildade.
Segue-se que os
fracassos em si levam o indivíduo a tomar sobre si, mais uma vez, o discernimento da vara, o qual é o
discernimento da fé acima da razão. Esse é o significado do que Moisés disse:
“Mas se eles não acreditarem em mim e nem ouvirem a minha voz?” Significa que as
pessoas não desejam assumer o caminho do trabalho da fé acima da razão.
Nesse estado, o Criador lhe disse: “O que é isso em
tua mão?” “Uma vara”. “Atire-a ao chão”, e então, prontamente, “ela se transformou
numa serpente”. Significa que não há estado intermediário entre a vara e a
serpente. É melhor saber se o indivíduo está em Kedushá ou em Sitra
Achra.
Acontece que, em
qualquer caso, a pessoa não tem nenhuma opção senão assumir o discernimento da fé acima da razão,
chamado “uma vara”. Essa vara deve estar na mão; a vara não deve ser jogada.
Esse é o significado do verso “a vara de Aarão… floresceu” (Números 17:23).
Significa que todos os
frutos que a pessoa conseguiu no serviço ao Criador foi baseado especificamente na vara de
Aarão. Isso significa que Ele queria nos enviar um sinal para sabermos se
estamos andando no caminho da verdade ou não. Ele nos deu como um sinal para se
saber apenas a base do trabalho, ou seja, sobre qual base o indivíduo está
trabalhando. Se a base de um indivíduo é a vara, ela é Kedushá, e se a
base é dentro da razão, esse não é o caminho para atingir a Kedushá.
Contudo, no trabalho
em si, ou seja, na Torá e na oração, não há distinção entre aquele que serve a Ele e aquele
que não serve a Ele. Isso é assim porque ali está ao contrário: Se a base está
dentro da razão, ou seja, baseada em saber e receber, o corpo fornece
combustível para o trabalho, e o indivíduo pode rezar e estudar de forma mais
persistente e com entusiasmo, já que tem como base a razão.
Porém, quando o indivíduo toma o caminho da Kedushá,
cuja base é a doação e a fé, ele precisa de muita preparação para que a Kedushá
venha a brilhar para ele. Sem preparação, o corpo não fornece ao indivíduo
a força para trabalhar, e ele deve sempre se esforçar extensivamente, pois a
raiz do homem é a recepção e dentro da razão.
Portanto, se o seu
trabalho está baseado
nas coisas terrenas, ele pode ficar sempre bem. Mas se a base do trabalho está
no discernimento da doação e acima da razão, ele precisa de esforços eternos
para que não caia na sua raiz de recepção e dentro da razão.
O indivíduo não deve se distrair nem por um
minuto, ou ele cairá na rua raiz mundana, chamada “pó”, como está escrito: “Pois
tu és pó e ao pó hás de retornar” (Gênesis 3:19). E isso foi após o pecado da Árvore
do Conhecimento.
O indivíduo verifica se está avançando na Kedushá
ou ao contrário, já que outro deus é estéril e não produz fruto. O Zohar
nos dá esse sinal, de que especificamente na base da fé, chamada “uma vara”,
são transmitidas ao indivíduo a fecundidade e a multiplicação na Torá. Esse é o
significado de “a vara de Aarão…floresceu”: O florescimento e o crescimento vêm
especificamente por meio da vara.
Portanto, assim como o
indivíduo
levanta da cama todos os dias e se lava para purificar o corpo da sujeira do
corpo, ele também deveria se lavar da sujeira da Klipá, para verificar
por si mesmo se a sua qualidade de vara está em completude.
Essa deve ser uma
verificação
perpétua, e se o indivíduo se distrai dela, ele cai imediatamente na autoridade
da Sitra Achra, chamada “receber para si mesmo”. Ele imediatamente se
torna escravo dela, pois sabe-se que a Luz faz o Kli. Portanto, por mais
que o indivíduo trabalhe a fim de receber, nessa medida ele precisa apenas de
um desejo de receber para si mesmo e se distancia das questões relacionadas à
doação.
Agora podemos entender
as palavras dos nossos sábios: “Seja muito, muito humilde.” O que é essa preocupação exagerada
que diz “muito, muito”? É porque o indivíduo se torna carente de pessoas ao ter
sido homenageado uma vez. Primeiro, ele recebe a honra não porque queria
aproveitá-la, mas por outras razões, como a glória da Torá etc. Ele tem certeza
desse escrutínio, já que ele sabe a respeito de si mesmo que não tem desejo por
nenhum tipo de honra.
Segue-se que é razoável pensar que lhe é permitido
receber a honra. Porém, ainda é proibido receber, pois a Luz faz o Kli.
Portanto, depois de ter recebido a honra, ele se torna carente da honra, ele já
está em seu domínio, e é difícil se libertar da honra.
Através disso, o indivíduo adquire a sua
própria realidade, e agora é difícil se anular perante o Criador, pois por meio
da honra ele se tornou uma entidade separada, e a fim de obter a Dvekut
(Adesão) o indivíduo deve anular completamente a sua realidade, por isso o
“muito, muito”. “Muito” quer dizer que é proibido receber honra para si mesmo,
e o outro “muito” quer dizer que mesmo quando a intenção não é para si mesmo ainda
assim é proibido receber.
60. Uma Mitzvá que surge por meio da transgressão
(Ouvi em 1º Tetzave, Tav-Shin-Gimel,
14 de
fevereiro de 1943)
Uma mitzva (mandamento) que surge por meio da
transgressão significa que se o indivíduo toma o trabalho sobre si mesmo a fim
de receber uma recompensa isso é dividido em duas coisas:
1. A recepção do trabalho, a qual é chamada uma mitzva;
2. A intenção: Receber uma recompensa. Isso é
chamado de pecado porque a recepção leva o indivíduo da Kedushá (Santidade)
para a Sitra Achra (Outro Lado).
Toda a base e a razão que deu força ao indivíduo para
trabalhar foi a recompensa. Portanto, uma mitzvá “que vem” significa que
ele foi levado a executar a mitzvá, essa é a transgressão. É por isso
que é chamado “uma mitzvá que vem”, pois quem traz a mitzvá é a
transgressão, a qual é somente a recompensa.
O conselho para isso é fazer o trabalho na forma de “sem olhar
além”, no sentido de que o objetivo inteiro do trabalho seja aumentar a glória
no céu no mundo. Isso é chamado trabalhar a fim de levantar a Shechiná (Divindade)
do pó.
A questão de levantar a Shechiná significa
que a Shechiná é chamada “o coletivo das almas”. Ela recebe a abundância
do Criador e distribui às almas. O Administrador e o que transfere a abundância
às almas é chamado “a unificação do Criador e a Sua Shechiná”, pois
nesse momento a abundância se estende aos inferiores. No entanto, quando não há
unificação, não há extensão da abundância aos inferiores.
Para tornar isso mais
claro, porque o Criador quis deleitar as Suas criaturas, portanto, da mesma
forma como Ele pensou em distribuir a abundância, Ele também pensou na recepção da
abundância. Ou seja, que os inferiores receberiam a abundância. Mas ambos em
potencial, no sentido de que depois as almas virão e receberão a abundância na
prática.
Além disso, o receptor da abundância em
potencial é chamado Shechiná, pois o pensamento do Criador é uma
realidade completa e Ele não precisa de um ato verdadeiro. Por isso, o inferior
(aqui o texto está interrompido) …
61. Em Seu redor esbraveja a tempestade
(Ouvi em 9 de Nissan, Tav-Shin-Het, 18 de abril de 1948)
Nossos sábios dizem sobre o verso “Em Seu redor
esbraveja a tempestade” (Salmos 50:3) que o Criador é meticuloso com os justos,
na medida de um fio de cabelo. Ele perguntou: Se eles são, em geral, justos,
por que merecem uma punição rígida?
A questão é que todas as fronteiras das quais
falamos nos mundos são da perspectiva dos receptores, ou seja, os inferiores se
limitam e se restringem a algum nível, e assim permanecem abaixo, pois Acima
eles concordam com tudo o que os inferiores fazem. Portanto, nessa medida a
abundância é atraída para baixo. Assim, por meio dos seus pensamentos, palavras
e ações, os inferiores fazem a abundância descer dessa maneira.
Acontece que se o
inferior considerar um ato ou palavra pequenos como se fosse um ato importante,
tal como considerar uma pausa momentânea na Dvekut (Adesão) com o Criador como
transgredir a mais grave proibição na Torá, então há consenso Acima para a
opinião do inferior, e isso é considerado Acima como se ele realmente tivesse
quebrado uma séria proibição. Assim, o justo diz que o Criador é meticuloso com
ele como um fio de cabelo, e tal como diz o inferior, assim é acordado Acima.
Quando o inferior não sente uma mínima proibição como sendo
séria, Acima eles também não consideram as coisas triviais que ele transgride
como grandes proibições. Assim, tal pessoa é tratada como uma pessoa pequena,
no sentido de que suas mitzvot (mandamentos) são considerados pequenos,
e suas transgressões são consideradas pequenas também. São consideradas como
tendo o mesmo peso e a pessoa é geralmente considerada pequena.
Porém, aquele que respeita as coisas triviais
e diz que o Criador é meticuloso sobre eles como um fio de cabelo é considerado
uma grande pessoa, e tanto suas transgressões como suas mitzvot são
grandes.
O indivíduo pode sofrer quando comete uma
transgressão na mesma medida em que sente prazer quando executa uma mitzva (mandamento).
Há uma alegoria sobre isso: Um homem cometeu um crime terrível contra a realeza
e foi sentenciado a vinte anos na prisão com trabalho forçado. A prisão era
fora do país, em um lugar desolado do mundo. A sentença foi cumprida
imediatamente e ele foi enviado ao local desolado no fim do mundo.
Lá ele encontrou outras pessoas que foram
sentenciadas pelo reino para ficarem lá como ele, mas ele adoeceu com amnésia e
esqueceu que tinha uma esposa e filhos, amigos e conhecidos. Ele pensou que o
mundo inteiro não era nada além daquele local desolado com as pessoas que lá
estavam, pensou que havia nascido lá, e não sabia mais do que isso. Portanto, a
sua verdade era de acordo com o sentimento presente e ele não tinha
consideração pela realidade de fato, apenas de acordo com o seu conhecimento e
sensações.
Lá foram-lhe ensinadas as regras e as regulações
para que ele não as quebrasse mais uma vez, e se mantivesse longe das
transgressões definidas lá, e soubesse como corrigir suas ações a fim de ser
tirado de lá. Nos livros do rei, ele aprendeu que o indivíduo que quebra uma regra,
por exemplo, é enviado para uma terra punitiva longe de qualquer povoado. Ele
ficou impressionado por essa punição rígida e queixou-se sobre essa punição.
Contudo, ele nunca
pensaria que ele próprio era um desses que quebrou as regras do estado, que ele havia sido
rigidamente sentenciado, e que o veredito havia sido cumprido. E porque adoeceu
com amnésia, ele nunca sentiu o seu verdadeiro estado.
Esse é o significado de “Em Seu redor esbraveja a tempestade”. O indivíduo deve considerar cada um dos seus movimentos, como se ele
próprio já tivesse transgredido os mandamentos do rei, e como se já tivesse sido
banido do mundo. Agora, por meio de muitas boas ações, a sua memória começa a
funcionar e ele começa a sentir o quão afastado ele se tornou do seu lugar
estabelecido no mundo.
Com isso, ele começa a se envolver em arrependimento até que
seja tirado de lá e trazido de volta ao seu lugar de direito, e esse sentimento
vem especificamente pelo trabalho do indivíduo. Ele começa a sentir que cresceu
longe da sua origem e da sua raiz até que sera recompensado com a Dvekut com
o Criador.
62. Desce e incita, sobe e reclama
(Ouvi em Aleph Adar 19, Tav-Shin-Het, 29 de fevereiro de 1948)
“Desce e incita, sobe e reclama.” O
indivíduo deve sempre examinar a si mesmo, se a sua Torá e o seu trabalho não
descem ao abismo. Isso é porque a sua grandeza é medida pela medida da sua Dvekut
(Adesão) com o Criador, ou seja, na medida da sua anulação perante o
Criador.
Em outras palavras, o
amor próprio não
merece referência e o indivíduo deseja se anular completamente. Isso é assim porque
naquele que trabalha a fim de receber a medida do seu trabalho é a medida da sua
própria grandeza. Nesse momento, ele se torna um ser, um objeto, e uma
autoridade separada. Nesse estado é difícil para ele se anular perante o
Criador.
No entanto, quando o
indivíduo
trabalha a fim de doar, quando ele completa o seu trabalho, no sentido de que
já corrigiu todos os vasos de recepção para si mesmo daquilo que tem na raiz de
sua alma, então ele não tem mais nada para fazer no mundo. Segue-se que deveria
pensar e se concentrar apenas nesse ponto.
O sinal pelo qual se vê se o indivíduo está andando no caminho
da verdade é se ele está na forma de “descer e incitar”, ou seja, todo o seu
trabalho está em um estado de descenso. Nesse estado, ele está na autoridade da
Sitra Achra (Outro Lado), e então ele ascende e reclama, ou seja, sente
que está em um estado de ascensão e reclama dos outros. Contudo, aquele que
trabalha em pureza, não pode reclamar dos outros e sempre reclama de si mesmo,
e vê os outros em um nível melhor do que sente sobre si mesmo.
63. Eu tomei emprestado, e retribuo
(Ouvi ao anoitecer após o Shabat, Tav-Reish-Tzadi-Het, 1938)
Entenda o que os
nossos sábios
dizem: “Eu tomei emprestado, e retribuo.” Significa que o propósito de criar o
céu e a terra é a Luz do Shabat. Essa Luz deve ser revelada para os inferiores,
e esse propósito aparece por meio da Torá e das mitzvot (mandamentos) e
de boas ações.
A Gmar Tikun (Fim da Correção) acontece quando essa Luz
aparece por completo por meio de um despertar de baixo, ou seja, precedido por
Torá e mitzvot. Antes da Gmar Tikun também há um discernimento do
Shabat, chamado “Uma semelhança ao mundo vindouro”, quando a Luz do Shabat
brilha tanto no individual quanto no público como um todo.
A Luz do Shabat vem
como empréstimo, ou seja, sem um esforço prévio, embora depois o indivíduo deverá saldar
essa dívida. Em outras palavras, posteriormente ele terá que fazer, como
pagamento, todo o esforço que deveria ter feito antes que recebesse essa
Luz.
Esse é o significado de “Eu tomei emprestado”,
ou seja, a Luz do Shabat foi atraída a crédito, e eu vou pagar, do verso “e
soltará o cabelo da cabeça da mulher” (Números 5:18). Significa que o Criador
vai revelar essa Luz apenas se Israel tomá-la emprestado, ou seja, atraí-la.
Apesar de ainda não serem dignos, por meio do empréstimo, o indivíduo ainda
assim pode atraí-la.
64. A partir de Lo Lishmá chegamos a Lishmá
(Ouvi em Vayechi, 14 de Tevet, Tav-Shin-Het, 27 de dezembro de 1947)
“A partir de Lo Lishmá (Não em Seu
nome) chegamos a Lishmá (Em Seu nome)”. Se prestarmos bem atenção,
podemos dizer que o período de Lo Lishmá é o momento mais importante,
pois é mais fácil unir o ato com o Criador.
É assim porque em Lishmá o indivíduo
diz que fez essa boa ação porque está servindo ao Criador por completo, e todas
as suas ações são pelo bem do Criador. Segue-se que ele é o dono do ato.
No entanto, quando o
indivíduo
trabalha em Lo Lishmá, ele não faz a boa ação pelo bem do Criador.
Portanto, não pode vir a Ele com uma reclamação de que merece uma recompensa.
Portanto, para ele o Criador não se torna devedor.
Então, por que ele fez
aquela boa ação?
Apenas porque o Criador lhe deu a oportunidade de que SAM o forçasse a
executá-la.
Por exemplo, se ele
recebe pessoas em sua casa e tem vergonha de estar ocioso, pega um livro e estuda Torá. Dessa
forma, para quem ele está aprendendo Torá? Não é devido ao mandamento do
Criador, para se agradável aos olhos do Criador, mas pelos convidados que estão
sob a sua autoridade, para obter graça aos seus olhos. Assim, como então pode o
indivíduo esperar uma recompensa Dele em troca dessa Torá se se ocupou dela à
vista dos outros e por causa dos outros?
Disso se conclui que,
para ele, o Criador não contraiu dívida alguma. Em lugar disso, ele pode cobrar dos
convidados, que eles lhe paguem uma recompensa, ou seja, que o respeitem pelo
estudo da Torá em forma de admiração. Porém, esse indivíduo não pode tornar o
Criador seu devedor.
Quando realiza um
auto-exame e diz que está sim se envolvendo com a Torá deixando de lado outros motivos, isto é,
as visitas, e diz que agora está trabalhando somente para o Criador, deve
também dizer de imediato que tudo está sendo dirigido de Cima. Isso significa
que o Criador queria lhe conceder o envolvimento com a Torá, mas ele não é
digno de receber nenhum elemento da verdade, e por essa razão o Criador lhe deu
um motivo falso, e através disso ele se envolveu com a Torá.
Segue-se que o Criador
é o
operador, e não a pessoa. Assim, ademais, ele deveria louvar o Criador, pois
mesmo no estado de humildade em que está, o Criador não lhe abandona e lhe dá
força, ou seja, combustível, para querer se envolver nas palavras de Torá.
Percebe-se que se ele
presta atenção em seu
ato compreende que o Criador é o operador, como em “Apenas Ele fará todas as
ações”. Contudo, o indivíduo não agrega nenhuma ação adicional à boa obra. Apesar
de cumprir aquela mitzvá (mandamento) ele não faz isso pela mitzvá
em si, mas por outra causa, por ele mesmo. E essa causa se extende da
noção de separação.
A verdade é que o Criador é a causa e a razão que o
compele. Mas o Criador está vestido nele com outra roupa, e não na vestimenta
de mitzvá, mas por outro temor ou por outro amor. Vemos que durante Lo
Lishmá é mais fácil atribuir as boas obras ao Criador e dizer que é Ele o
executor das boas ações em vez de dizer que é o homem.
Isso é simples, pois o indivíduo não quer fazer
nada pela mitzvá em si, mas por outra causa. Porém, em Lishmá,
ele sabe muito bem que está trabalhando pela mitzvá em si mesma.
Isso quer dizer que a pessoa mesma é a causante. Ou
seja, por causa da mitzá somente e não porque o Criador tenha plantado
em seu coração a ideia de executar a mitzvá. A própria pessoa é que
decidiu. No entanto, tudo foi realizado pelo Criador, mas a Providência Particular
não pode ser alcançada por alguém antes que a pessoa tenha logrado o
discernimento de “recompensa e castigo”.
65. Sobre o revelado e o oculto
(Ouvi em 29 de Tevet, Tav-Shin-Bet, 18 de janeiro de 1942, Jerusalém)
Está escrito: “As coisas ocultas pertencem ao
Eterno, nosso Deus, e as coisas que são reveladas pertencem a nós e aos nossos
filhos para sempre, para cumprir todas as palavras desta lei.”
Devemos perguntar: “O que o texto vem nos dizer, que
as coisas secretas pertencem ao Eterno?” Não devemos dizer que oculto significa
o inatingível e o revelado significa o atingível. Podemos ver que há pessoas com conhecimento da
parte oculta, assim como há pessoas que tem conhecimento da parte revelada, mas
não pode ser dito que isso significa que há mais pessoas com conhecimento da
parte revelada do que da parte oculta. Senão, estaríamos considerando somente
uma parte do conjunto.
A questão é que, neste mundo, vemos que há ações
que são reveladas como ações para os nossos olhos. Isso significa que a mão do
homem se envolveu ali. De forma alternativa, há ações onde vemos que uma ação
está sendo feita, mas o homem não pode fazer nada ali. Ao contrário, uma força
oculta opera ali.
É como os nossos sábios disseram: “Há três
sócios no homem: o Criador, seu pai e sua mãe.” A parte revelada é o mandamento
de frutificar e multiplicar. Esse ato é feito pelos pais. Se os pais fazem o
seu papel de forma apropriada, o Criador coloca uma alma no recém nascido. Ou
seja, seus pais fazem a parte revelada, pois eles podem apenas fazer a parte
revelada, mas na parte oculta (colocar uma alma no recém nascido aqui os pais
não podem fazer nada, apenas o Criador Ele Mesmo faz isso.
De forma similar
ocorre com as mitzvot (mandamentos): devemos fazer apenas a parte revelada, pois podemos agir
apenas aqui, ou seja, no envolver-se com Torá e mitzvot na forma de
“fazedores da Sua palavra”. Porém, na parte oculta, a alma na observação da
Torá e das Mitzvot, ali o indivíduo não pode fazer nada. Quando
observamos Torá e Mitzvot em ação, chamado “fazer”, devemos rezar ao
Criador para que Ele faça a parte oculta, ou seja, coloque uma alma na nossa
prática.
A prática é chamada “uma vela de uma mitzvá”,
as quais são apenas velas, que devem ser acesas pela “Torá, Luz”. A Luz da Torá
ilumina a mitzvá e dá à alma vitalidade na prática, assim como com o
recém nascido, onde há três sócios.
Esse é o significado de “as coisas reveladas
pertencem a nós”, no sentido de que devemos trabalhar na forma de “o que és
capaz de realizar com tua força, faze-o” (Eclesiastes 9:10). É apenas aqui que
podemos agir, mas a obtenção da alma e da vitalidade depende do Criador.
Esse é o significado de “as coisas secretas pertencem ao Eterno
nosso Deus”. O Criador promete que se fizermos a parte que nos é revelada,
agindo nas condições da Torá e das mitzvot na parte prática, o Criador
colocará uma alma nas nossas ações. Contudo, antes de sermos premiados com o
oculto, chamado “uma alma”, nossa parte revelada é como um corpo sem uma alma.
Portanto, devemos ser premiados com a parte oculta, e isso está apenas nas mãos
do Criador.
66. Sobre a outorga da Torá - 1
(Ouvi durante uma refeição na véspera de Shavuot, Tav-Shin-Het, 1948)
A questão da outorga da Torá que ocorreu no Monte
Sinai não significa que a Torá foi dada de uma só vez e então a outorga parou. Ao
contrário, não há ausência na espiritualidade, pois a espiritualidade é uma
questão eterna, infinita. Mas, como somos, da perspectiva do Doador, indignos
de receber a Torá, dizemos que a cessação é pelo Superior.
Porém, então, ao pé do Monte Sinai, a totalidade
de Israel estava pronta para receber a Torá, como está escrito: “E o povo
acampou ao pé do monte, como um só homem com um só coração”. Naquele momento, o
público estava preparado; eles tinham apenas uma intenção, que é um pensamento
único sobre a recepção da Torá.
No entanto, não há mudanças a partir da perspectiva do
Doador. Ele sempre doa, como está
escrito, em nome do Baal Shem Tov, que a cada dia o indivíduo deve ouvir os dez
mandamentos no Monte Sinai.
A Torá é chamada “poção de vida” e “poção de
morte”. Devemos entender o motivo por que dois opostos podem ser ditos sobre um
mesmo assunto.
Devemos saber que não podemos alcançar qualquer realidade
como ela é verdadeiramente. Ao contrário, devemos atingir tudo apenas de acordo
com nossas sensações. E a realidade, como ela é verdadeiramente, não nos
interessa nem um pouco. Assim, todas as nossas impressões seguem apenas as
nossas sensações.
Portanto, quando uma
pessoa aprende Torá, e a Torá o afasta do amor do Criador, essa Torá é certamente
considerada a “poção da morte”. Da mesma forma, se essa Torá que ele está
aprendendo o aproxima do amor do Criador, ela é certamente considerada “poção
de vida”.
Mas a Torá em si, a existência da Torá nela e dela
mesma, sem consideração do inferior que deve alcançá-la, é considerada “uma Luz
sem um Kli (vaso)”, onde não há qualquer realização. Dessa forma, quando
falamos da Torá, isso se refere às sensações que a pessoa recebe da Torá, e
apenas elas determinam a realidade para as criaturas.
Quando o indivíduo trabalha para si mesmo, isso é
chamado Lo Lishmá (Não em Seu nome). Mas a partir de Lo Lishmá chegamos
a Lishmá (Em Seu nome). Assim, se o indivíduo ainda não foi
recompensando com a recepção da Torá, ele espera ser recompensado com a
recepção da Torá no próximo ano. Mas quando ele já foi premiado com a
completude de Lishmá, ele não tem nada mais a fazer neste mundo, pois
ele já corrigiu tudo para estar na completude de Lishmá.
Por essa razão, a cada ano há o tempo de receber a
Torá, pois esse tempo é o tempo apropriado para o Itorerut (Despertar),
que é o despertar do nível inferior. Isto se deve ao fato de que é no tempo do Itorerut
que a Luz da outorga da Torá é revelada aos inferiores. Por esse motivo
existe também um Itorerut que acontece Acima e que dá força aos de nível
inferior para que possam realizar o ato preparatório para a recepção da Torá,
da mesma forma como antes, quando estiveram preparados para recebê-la.
Por esse motivo, se a
pessoa marcha pelo
caminho que a levará de Lo Lishmá à Lishmá, estará marchando pelo
caminho da verdade. Então, ela deve esperar ser recompensada com o alcance de Lishmá
e assim conseguir também “a outorga da Torá”.
No entanto, é preciso cuidado para manter
constantemente o objetivo diante dos olhos. Do contrário, marchará numa direção
oposta, pois a raiz do corpo é a recepção para si mesmo. Por esse motivo, o
corpo sempre tende para a sua raiz, que é a “recepção com a intenção de
receber”, que é o oposto da Torá, chamada “a Árvore da Vida”. É por isso que o
corpo considera a Torá uma “poção de morte”.
67. Abandone o mal
(Ouvi após o feriado de Sucot, Tav-Shin-Gimel,
5 de
outubro de 1942, Jerusalém)
Devemos ter cuidado e “afastarmo-nos do mal” para conservarmos
os nossos quatro pactos:
1. O pacto dos olhos,
o qual é a
cautela ao olhar para as mulheres. E a proibição de olhar não é necessariamente
porque pode levar a um pensamento. A evidência disso é que a proibição se
aplica também a um homem de cem anos de idade. Em vez disso, a real razão é que
a proibição se estende de uma raiz muito alta: É preciso ter cautela porque se
o indivíduo não for cuidadoso ele pode vir a olhar para a Shechiná (Divindade).
2. O pacto da lingual: Ser vigilante com a verdade e com a
falsidade. Os escrutínios que existem agora, após o pecado de Adam HaRishon,
são escrutínios de verdadeiro ou falso. No entanto, antes do pecado da Árvore
do Conhecimento, os escrutínios eram sobre amargo e doce. Porém, quando o
escrutínio é sobre verdade e falsidade, é completamente diferente. Às vezes,
começa doce e termina amargo, o que significa que há uma realidade de amargo
que é, apesar disso, verdadeira.
Por essa razão, devemos ser cuidadosos ao mudar nossas
palavras. Mesmo que o indivíduo pense que está mentindo apenas para seu amigo,
devemos saber que o corpo é como uma máquina: Da forma como está acostumado a
caminhar, assim continua caminhando. Portanto, quando está acostumado à
falsidade e ao engano, é impossível que caminhe de outra maneira, e isso força
o homem a proceder com falsidade e engano também quando está sozinho.
Acontece que o indivíduo deve enganar a si mesmo e não pode
contar a si mesmo a verdade de forma alguma, pois ele não tem uma preferência
especial pela verdade.
Devemos dizer que
aquele que pensa que está enganando o seu amigo está, na verdade, enganando o Criador, pois além
do corpo do homem existe apenas o Criador. Isso é porque essa é a essência da
criação, que o homem seja chamado “criatura” apenas em relação a si mesmo. O
Criador quer que o homem sinta que é uma realidade separada Dele; mas além
disso, é tudo “A terra inteira está repleta da Sua glória”.
Assim, quando mente
para o seu amigo, o indivíduo está mentindo para o Criador; e quando entristece o seu amigo, está
entristecendo o Criador. Por essa razão, se o indivíduo está acostumado a dizer
a verdade, isso vai lhe ajudar em relação ao Criador. Ou seja, se ele prometeu
algo ao Criador, ele vai tentar manter a sua promessa, pois ele não está
acostumado a mudar a sua palavra, e assim ele vai ser recompensando com “O
Eterno é a sua sombra”. Se ele mantém e faz o que diz, o Criador, também, vai
manter em troca “Abençoado aquele que diz e faz”.
Há um sinal no pacto da língua, não dizer
tudo que pode ser dito, pois ao falar o indivíduo revela o que está no seu
coração, e isso dá força aos exteriores já que enquanto o indivíduo não está
perfeitamente limpo, quando ele revela algo do seu interior, a Sitra Achra (Outro
Lado) tem poder de caluniar acima e zombar do seu trabalho. Ela diz: “Que tipo
de trabalho ele está doando Acima, já que toda a intenção nesse trabalho é
apenas para baixo?”
Isso responde a grande
questão: É
sabido que “uma mitzvá induz a uma mitzva”, então por que vemos
com frequência que o indivíduo cai do seu trabalho? Como dissemos acima, a Sitra
Achra difama e calunia o seu trabalho, e então desce e toma sua alma. Ou
seja, como ela já o difamou Acima e disse que o seu trabalho não era limpo, e
que ele trabalha na forma de recepção para si mesmo, ela desce e toma o seu
espírito de vida ao perguntar “O que é esse trabalho?”. Portanto, mesmo quando
o indivíduo é recompensado com alguma iluminação do espírito da vida, ele a perde
de novo.
O conselho para isso é caminhar com humildade, para que ela não
saiba sobre o seu trabalho, na forma de “Ele não revela do coração para a
boca”. Então a Sitra Achra também não pode saber do seu trabalho, pois
ela sabe apenas o que é revelado pela palavra ou ação. E é isso o que ela pode
agarrar.
Devemos saber que a
dor e o sofrimento vêm primariamente através daqueles que caluniam. Portanto, devemos ser
tão cuidadosos quanto pudermos com a fala. Além disso, devemos saber que mesmo
ao falar palavras mundanas, isso ainda revela os segredos do seu coração. Esse
é o significado de “Minha alma saiu quando ele falou”. Esse é o pacto da língua
com o qual devemos tomar cuidado.
E a cautela deve se
dar especialmente durante a ascensão, pois durante o descenso é difícil caminhar em
grande níveis e precauções.
68. A conexão do homem com as Sefirot
(Ouvi em 12 de Adar, Tav-Shin-Gimel,
17 de
fevereiro de 1943)
Antes do pecado de
Adam HaRishon:
1. Seu Guf (corpo)
era de Biná de Malchut de Malchut de Assyá;
2. E ele tinha NaRaN de Beriá e NaRaN de Atzilut.
Depois de pecar, seu Guf caiu no discernimento da Pele da Serpente,
a qual é a Klipá (casca) de Behina Dalet, chamada “O pó deste
mundo”. Vestido nela está o Guf da Klipá de Nogá interno,
o qual é metade bom e metade ruim. E todas as boas ações que ele faz são apenas
com esse Guf de Nogá. Ao se envolver com Torá e mitzvot,
ele torna o seu Guf inteiramente bom de novo, e o Guf da Pele da Serpente
o abandona. Nesse momento, ele é premiado com NaRaN de Kedushá de acordo
com as suas ações.
A conexão do NaRaN do homem com as Sefirot:
A essência do NaRaN do homem é de Behina
Malchut das três Sefirot, Biná e ZON em cada um dos
mundos de ABYA. Se ele é premiado com NaRaN de Nefesh, ele
recebe dos três Behinot Malchut de Biná e ZON de Assyá.
Se ele é premiado com NaRaN de Ruach, ele recebe dos três Behinot
Malchut de Biná e ZON de Yetzirá. Se ele é premiado
com NaRaN de Neshamá, ele recebe dos três Behinot Malchut de Biná
e ZON de Beriá. E se ele é premiado com NaRaN de Chayá,
ele recebe dos três Behinot Malchut de Biná e ZON de Atzilut.
E isso é o que os nossos sábios disseram, que o
homem pensa apenas dentro dos pensamentos do seu coração, que o corpo inteiro é
considerado como o “coração”. Mesmo que o homem consista das quatro Behinot
de inanimado, vegetativo, animal e falante, elas são todas registradas no seu
coração.
Porque após o pecado o Guf de Adam
HaRishon caiu na Pele da Serpente, a qual é a Klipá de Behina
Dalet, chamada “O pó deste mundo”. Assim, quando ele calcula, todos os seus
pensamentos são do seu coração, ou seja, do seu Guf de Behina da Pele
da Serpente.
Quando ele se
fortalece, por meio do seu envolvimento em Torá e mitzvot, que é o único remédio,
se ele deseja doar Contentamento ao seu Fazedor, a Torá e as mitzvot
limpam o seu corpo. Isso significa que a Pele da Serpente o abandona. Então, o
ato prévio de Torá e mitzvot, chamado “Klipá de Nogá”,
considerado o “Guf interno”, o qual era metade bom e metade mau, agora
se tornou completamente bom. Isso significa que agora ele atingiu Equivalência
de Forma com o Criador.
E então ele é premiado com NaRaN de Kedushá,
de acordo com suas ações. Ou seja, no começa ele atinge NaRaN de Nefesh
do Mundo de Assyá. Depois, quando ele organiza todas as Behinot
que pertencem ao Mundo de Assyá, ele é premiado com NaRaN de Ruach
do Mundo de Yetsirá, até que ele alcance NaRaN de Chayá de Atzilut.
Assim, uma estrutura
diferente é
construída dentro do seu coração a cada vez. Onde havia previamente o Guf
interno de Klipá Nogá, o qual era metade bom e metade mau, esse Guf
foi agora transformado em totalmente bom por meio da limpeza que recebeu da
Torá e das mitzvot.
Da mesma forma, quando
ele tinha um Guf da Pele
da Serpente, ele precisava pensar e calcular seus pensamentos apenas a partir
dos pensamentos do seu coração. Isso significa que todos os seus pensamentos
eram apenas sobre como satisfazer seus desejos para os quais a Klipá o
forçava. Ele não tinha como pensar pensamentos e objetivar intenções, mas
apenas o que estava assentado no seu coração, o qual estava então na forma de Pele
da Serpente, a pior Klipá.
Também, quando ele é recompensado através do
seu envolvimento em Torá e mitzvot, mesmo em Lo Lishmá (Não em
Seu nome), quando ele pergunta e demanda que o Criador lhe ajude a se envolver
em Torá e mitzvot na forma de “Tudo o que tua mão e tua força puderem
fazer, faça”, e ele aguarda pela Misericórdia de Cima, que o Criador lhe ajude
a alcançar Lishmá (Em Seu nome) através disso, onde toda a recompensa
que ele pede pelo seu trabalho é ser recompensado com o trabalho a fim de levar
Contentamento ao seu Fazedor, como disseram nossos sábios, então “a Luz nele o
reforma”.
Nesse estado, o corpo
da Pele da Serpente é purificado, ou seja, aquele corpo é separado dele e lhe é concedida
uma estrutura completamente diferente, a estrutura de Nefesh de Assyá.
Ele também adiciona mais até que alcança a estrutura de Nefesh e Ruach
de Biná e ZA e Malchut de Atzilut.
Porém, mesmo aí ele não tem opção para pensar
outros pensamentos, mas apenas de acordo com o que dita a estrutura da Kedushá
(Santidade). Isso significa que ele não tem espaço para pensar contra sua
própria estrutura, mas deve pensar e agir apenas com a intenção de levar Contentamento
ao seu Fazedor, como necessita a sua estrutura de Kedushá.
Isso significa que o
indivíduo não
pode corrigir o seu próprio pensamento, mas que deve apenas enfocar o seu
coração para que esteja sempre voltado para o Criador. Então, todos os seus
pensamentos e ações serão destinados naturalmente para doar Contentamento ao
seu Fazedor. Quando ele corrige seu coração para que este possua somente
desejos de Kedushá, seu coração se transforma num Kli dentro do qual irá descer a Luz Superior. E
quando a Luz Superior brilha dentro do coração, este se fortalece e continua a
aumentar.
Agora podemos
interpretar as palavras dos nossos sábios: “Bendito é o aprendizado que leva à ação.”
Significa que, por meio da Luz da Torá, a pessoa é guiada à ação, pois a Luz
nela a reforma. Isso é chamado de “Um ato”. Isso significa que a Luz da Torá
constrói uma nova estrutura no seu coração.
Portanto, o Guf anterior, o qual chegou a ele a partir da
Pele da Serpente, foi separado dele e ele foi premiado com um Guf sagrado.
O Guf interno, chamado “Klipá de Nogá”, o qual é metade
bom e metade mau, tornou-se inteiramente bom, e agora o NaRaN está nele, o qual
ele alcança por meio de suas ações, na medida em que adiciona e suplementa.
Antes de ser premiado
com uma nova estrutura, apesar de tentar limpar seu coração, o coração permanece inalterado. Nesse
estado, é considerado que ele está na forma de “Praticantes da Sua palavra”.
Contudo, ele deve saber que o início do trabalho é especificamente na forma de
“Praticantes da Sua palavra”.
No entanto, isso não é completude, pois ele não consegue
limpar seus pensamentos nesse estado, já que ele não pode ser salvo de
pensamentos de transgressão, pois seu coração é de um Guf de Klipá,
e o indivíduo pensa apenas a partir dos pensamentos no seu coração, e apenas a Luz
nele o reforma. Nesse momento, o Guf separado o abandona, e o Guf
interno, a Klipá de Nogá, a qual era metade má, torna-se
inteiramente boa. Nesse estado, a Torá o leva à ação por meio da construção de
uma nova estrutura. E isso é chamado de “Um ato”.
69. Primeiro será a correção do mundo
(Ouvi em Sivan, Tav-Shin-Gimel,
junho de 1943)
Ele disse que primeiro
será a
correção do mundo, então haverá uma redenção completa, a chegada do Messias.
Esse é o significado de “Vossos olhos hão de ver vosso mestre” (Isaías 30:20)
etc. “E a terra inteira estará repleta de conhecimento”. Esse é o significado
do que ele escreveu, que primeiro a internalidade dos mundos será corrigida, e
subsequentemente a externalidade dos mundos. Mas devemos saber que a correção
da externalidade dos mundos é um nível mais alto de correção que a
internalidade.
E a raiz de Israel é oriunda da internalidade dos mundos.
Esse é o significado de “Pois vós sois o menos numeroso de todos os povos”
(Deuteronômio 7:7). Porém, ao corrigir a internalidade, a externalidade será
corrigida também, mesmo que em pequenas partes. E a externalidade será
corrigida a cada vez (até que muitas moedas se acumulem em grande quantidade)
até que toda a externalidade seja corrigida.
A principal diferença entre a internalidade e a externalidade
é, por exemplo, quando o indivíduo executa uma certa mitzvá e nem todos
os seus órgãos concordam com isso. É como uma pessoa que jejua. Dizemos que
apenas a sua internalidade concordou com o jejum, mas a sua externalidade sente
desconforto, pois o corpo está sempre em oposição à alma. Portanto, a diferença
entre Israel e as Nações do Mundo deveria ser feita apenas em relação à alma;
mas em relação ao corpo, eles são iguais, pois o corpo Israel também se importa
apenas com o seu próprio benefício.
Assim, quando indivíduos no todo de Israel são corrigidos, o
mundo todo será naturalmente corrigido. Segue-se que as Nações do Mundo serão
corrigidas na medida em que corrigimos a nós mesmos. Esse é o significado do
que os nossos sábios disseram: “Recompensado, ele sentencia a si mesmo e todo o
mundo ao lado do mérito.” Eles não disseram “Ele sentencia o todo de Israel”,
mas “O mundo todo ao lado do mérito”, o que significa que a internalidade vai
corrigir a externalidade.
70. Com mão poderosa e fúria derramada
(Ouvi em 25 de Sivan,Tav-Shin-Gimel,
28 de
junho de 1943)
Para entender o que
está escrito:
“Com mão poderosa… e fúria derramada, serei Eu rei sobre vocês”, devemos
entender que há uma regra de que não há coerção na espiritualidade, como está
escrito: “Não Me tens invocado, ó Jacó, nem te preocupaste em Me buscar, ó
Israel” (Isaías 43:22), e há a interpretação conhecida do Contador de Duvna.
Portanto, o que significa “Com mão
poderosa… e fúria derramada, serei Eu rei sobre vocês”?
Ele disse que devemos
saber que, daqueles que querem vir ao Trabalho do Criador a fim de realmente
aderir a Ele e entrar no Palácio do Rei, nem todos são admitidos. Ao invés disso, ele é testado: se
não tem nenhum outro desejo além de um único desejo pela Dvekut (Adesão),
ele é admitido.
E como o indivíduo é testado se ele tem um único desejo?
São enviadas perturbações a ele. Isso significa que lhe são enviados
pensamentos invasivos e mensageiros externos para lhe obstruir a fim de que ele
abandone esse caminho e siga o caminho de todas as pessoas.
Se ele supera todas as
dificuldades e quebra todas as barreiras que o bloqueiam, e as pequenas coisas
não podem
afastá-lo, o Criador lhe envia grandes Klipot (cascas) e Carruagens para
desviar o indivíduo de entrar em Dvekut apenas com o Criador e com nada
mais. Isso é considerado que o Criador está rejeitando-o com mão poderosa.
Se o Criador não mostra uma mão poderosa, será difícil
afastar a pessoa, pois ela tem um forte desejo de aderir apenas ao Criador e a
nada mais.
Mas quando o Criador
quer rejeitar um indivíduo cujo desejo não é tão forte, Ele o afasta com algo pequeno. Ao lhe enviar
um grande desejo pela corporalidade, ele já abandona o trabalho inteiramente, e
não há necessidade de o repelir com mão poderosa.
Porém, quando o indivíduo supera todas as
dificuldades e perturbações, ele não é facilmente repelido, mas com uma mão
poderosa. E se o indivíduo supera mesmo a mão poderosa e não quer sair de forma
alguma do lugar da Kedushá (Santidade), mas quer aderir especificamente
a Ele em verdade, e vê que é repelido, então diz que a fúria foi derramada
sobre ele. Caso contrário, lhe seria permitido entrar. Mas porque a fúria foi
derramada sobre ele pelo Criador, ele não é admitido no Palácio do Rei para
aderir a Ele.
71. Minha alma chorará em segredo – 2
(Ouvi em 25 de Sivan, 28 de junho, Tav-Shin-Gimel,
1943)
“Minha alma chorará em segredo por vosso
orgulho” (Jeremias 13:17), pelo orgulho de Israel. Ele pergunta: “Há choro
perante o Criador? Afinal, ‘força e contentamento estão no Seu lugar!’” Devemos
entender a questão de chorar, acima. O choro está em um local onde o indivíduo
não consegue se ajudar. Então, ele chora para que outro o ajude. O significado
de “Em segredo” são as ocultações e as contradições que aparecem no mundo.
Esse é o significado de “Minha alma chorará em
segredo”, pois “Tudo está nas mãos dos céus, a não ser o temor dos céus”.
Sobre isso, nossos sábios disseram que há choro nos lares
interiores. Isso significa que, quando a luz brilha apenas no interior e não há
exposição externa da luz, pela falta de Kelim (vasos) para que os
inferiores possam receber, então há pranto. Contudo, nos lares externos, quando
a luz pode ser revelada para fora, quando a abundância se torna revelada
abaixo, aos inferiores, então “força e contentamento estão no Seu lugar”, e
tudo é visto. Porém, quando Ele não consegue doar aos inferiores, isso é
chamado “pranto”, pois Ele precisa dos Kelim dos inferiores.
72. Confiança é a vestimenta para a Luz
(Ouvi em 10 de Nissan, Tav-Shin-Zayin,
31 de março
de 1947)
Confiança é a vestimenta para a Luz, chamada “Vida”.
Há uma regra de que não há Luz sem um Kli (vaso). Segue-se que a Luz,
chamada “Luz da Vida”, não pode vestir, mas precisa ser vestida em algum Kli.
O Kli onde a Luz da Vida é vestida geralmente é chamado “Confiança”.
Isso significa que o indivíduo vê que pode fazer todas as coisas difíceis.
Portanto, a Luz é sentida e reconhecida no Kli da
confiança. Por causa disso, a sua vida é
medida pelo nível de confiança que aparece ali. Ele pode medir a magnitude da
vitalidade em si mesmo de acordo com a própria confiança.
Por essa razão, o indivíduo pode ver nele mesmo que,
enquanto seu nível de vitalidade está alto, a confiança brilha em todas as
coisas, e ele não vê nada que pode obstrui-lo com o que quer. Isso é porque a Luz
da Vida, que é uma força de Cima, brilha para ele, e ele pode trabalhar com
poderes sobre-humanos já que a Luz Superior não é limitada como as forças
corpóreas.
No entanto, quando Luz
da Vida o abandona, o que é considerado uma queda de nível em relação ao seu nível de vitalidade
anterior, então ele se torna esperto e inquisitivo. Ele começa a calcular a
lucratividade de tudo, se vale a pena ou não. Ele se torna comedido e não
animado e fervente como antes de começar a declinar no seu nível de vitalidade.
Contudo, o indivíduo não tem a sabedoria para dizer que
toda essa esperteza e inteligência, pois agora ele foi recompensado com o
pensamento sobre tudo, são devido a ele ter perdido o espírito de vida que
tinha então. Ao invés disso, ele pensa que agora se tornou inteligente, não
como antes de ter perdido a Luz da Vida. Ao contrário, naquele momento ele era
irresponsável e descuidado.
No entanto, ele
deveria saber que toda a sabedoria que agora adquiriu veio porque ele perdeu o
espírito de
vida que tinha antes. Antes, ele media todos os atos com a Luz da Vida que o
Criador lhe dera. Mas agora que ele está em declínio, a má inclinação tem o
poder de vir a ele com todos os seus “argumentos justos”.
O conselho para isso é que o indivíduo deve dizer que agora ele
não pode falar com o seu corpo e argumentar com ele. Ao invés disso, ele deve
dizer: “Agora estou morto e estou esperando a ressureição dos mortos.” Então,
ele deve começar a trabalhar Acima da Razão, ou seja, dizer ao seu corpo: “Tudo
o que você diz é verdade, e eu não tenho nada racional para lhe responder. No
entanto, eu espero começar a trabalhar do zero. Agora estou tomando sobre mim a
Torá e as mitzvot, e agora eu estou me tornando um prosélito, e os
nossos sábios disseram ‘um prosélito que se converteu é como um bebê
recém-nascido.’ Agora eu espero a salvação do Criador; Ele certamente me
ajudará e eu entrarei mais uma vez no caminho da santidade. Quando eu tiver
poder na santidade, terei o que lhe responder. Mas, enquanto isso, eu devo
subir Acima da Razão, pois ainda estou sem a mente da santidade. Portanto, você
pode vencer com o seu intelecto, e não há nada que eu possa fazer a não ser
acreditar nos nossos sábios, que disseram que eu deveria manter a Torá e as Mitzvot
acima da razão. Eu devo certamente acreditar que, pelo poder da fé,
receberemos ajuda de Cima, como disseram nossos sábios, ‘aquele que vem para se
purificar será ajudado’.”
73. Depois do Tzimtzum
(Ouvi em Tav-Shin-Gimel,
1942-1943)
Depois do Tzimtzum (Restrição), as primeiras nove se tornaram
o lugar da Kedushá (Santidade). E Malchut, sobre a qual ocorreu o
Tzimtzum, tornou-se o lugar vazio dos mundos. Há dois discernimentos a
serem feitos: 1) Um lugar vazio, o qual é um lugar para as Klipot (cascas),
cuja essência é o desejo de receber apenas para si mesmo, e 2) Um lugar
desocupado, ou seja, um lugar que se tornou vago para inserir o que o indivíduo
escolher, Kedushá ou o oposto.
Se não fosse pelo Tzimtzum, a realidade
inteira teria sido na forma de Luz Simples. Apenas após o Tzimtzum houve
espaço para escolher fazer o mal ou fazer o bem.
Ao escolher o bem, a Shefa
(Abundância) se
estende para dentro desse lugar. Esse é o significado do que está escrito nos
trabalhos do ARI, que a Luz do Ein Sof (Infinito) brilha para os
inferiores.
Ein Sof é chamado “O desejo de fazer o Bem às Suas criações”.
Apesar de discernirmos muitos mundos, dez Sefirot, e outros Nomes, isso
tudo se estende a partir do Ein Sof, chamado “O pensamento da criação”.
Os nomes, Sefirá (singular de Sefirot) e “Mundo”,
são assim porque a Abundância que verte a partir do Ein Sof descende
através daquela Sefirá e mundo. Isso significa que, para o inferior ser
capaz de receber, já que os inferiores não conseguem receber a Sua recompensa
sem preparação e correção, são feitas correções pelas quais há a habilidade de
receber. Isso é chamado Sefirot.
Em outras palavras, cada Sefirá tem sua
correção única. Devido a isso há muitos discernimentos. Mas eles são apenas a
respeito dos receptores, pois quando o inferior recebe a Abundância de Ein
Sof, ele a recebe por meio de uma correção especial, a qual o adapta para
receber a Abundância. Esse é o significado de receber através de uma Sefirá especial,
apesar de não haver qualquer mudança na Abundância em si.
Agora você entende a questão da oração que fazemos
ao Criador, a qual é a Luz de Ein Sof, ser a conexão que o Criador tem
com as suas criaturas, chamado “Seu desejo de fazer o Bem às Suas criações”.
Apesar de haver vários Nomes com o objetivo da oração, a interpretação é que a Abundância
vai ser derramada através das correções nos Nomes, pois é precisamente por meio
das correções nos Nomes que a Abundância chegará às mãos dos receptores.
74. Mundo, Ano, Alma
(Ouvi emTav-Shin-Gimel,
1942-1943)
Sabe-se que não há realidade sem alguém que sinta a
realidade. Portanto, quando dizemos Nefesh de Atzilut, significa que
estamos sentindo uma certa medida de alcance da Abundância Superior, e chamamos
essa medida de Nefesh.
E “Mundo” se refere ao coletivo compreendido
nesse alcance, ou seja, que todas as almas têm a mesma forma de tal forma que
qualquer um que alcance aquele nível também alcance aquele nome, Nefesh.
Isso não significa, necessariamente, que um indivíduo específico atinja esse
nome e essa forma, mas quer dizer que a Abundância aparece na forma chamada Nefesh
para qualquer um que alcance esse nível - o que certamente ocorre por meio
da preparação da Kedushá (Santidade) e da pureza.
Podemos entender isso
a partir de um exemplo corpóreo aplicado neste mundo. Por exemplo, quando uma pessoa diz à outra:
“Agora eu vou para Jerusalém.” Quando ela diz o nome da cidade, todos sabem e
reconhecem aquela cidade. Eles estão todos certos do lugar sobre o qual a
pessoa está falando, pois todos aqueles que já estiveram naquela cidade sabem
do que se trata.
75. Há um discernimento do Mundo Vindouro, e há discernimento Deste Mundo
(Ouvi durante uma refeição em celebração a um Brit (Circuncisão), Jerusalém)
Há um discernimento do “Mundo Vindouro”, e
há um discernimento “Deste Mundo”. O Mundo Vindouro é chamado “Fé”, e Este Mundo
é chamado “Recebimento”.
Está escrito sobre o próximo mundo: “Eles
deverão se saciar e se encantar”, no sentido de que não há fim para a saciação.
Isso é assim porque tudo que é recebido pela Fé não tem limites. Da mesma forma,
o que é recebido através do Recebimento já tem limites, pois tudo que chega nos
Kelim (vasos) do inferior é limitado pelo inferior. Portanto, há um
limite para o discernimento Deste Mundo.
76. Em todas as suas ofertas, deves oferecer sal
(Ouvi em 30 de Shevat, Janeiro-Fevereiro, ao celebrar a conclusão da Parte Seis, Tiberias)
“Em todas as tuas ofertas, deves oferecer
sal”, ou seja, o pacto do sal. O pacto corresponde à mente. Normalmente, quando
duas pessoas fazem o bem uma para a outra, quando há amor entre elas,
certamente elas não precisam fazer um pacto. Mas, ao mesmo tempo, podemos ver que
precisamente quando há amor é o momento adequado para se fazer pactos. Então,
ele disse que a formação do pacto é para a posteridade.
Isso significa que o
acordo é feito
agora para que depois, quando se chegar a um estado em que ambos pensam que o
coração do outro não está inteiramente com o seu amigo, eles tenham um acordo.
O acordo os obrigará a lembrar do pacto que fizeram entre eles, a fim de
continuar o velho amor também nesse estado.
Esse é o significado de “Em todas as suas ofertas, deves oferecer sal”, ou seja,
todo o Krevut[4] no Trabalho do Criador deve ser sobre o Pacto
do Rei[5].
77. A sua alma deve lhe ensinar
(Ouvi em 8 de Elul, Tav-Shin-Zayin,
24 de
agosto, 1947)
“A sua alma deve lhe ensinar.”
Sabe-se que a Torá inteira é aprendida primariamente pelas
necessidades da alma, para aqueles que já foram recompensado com um
discernimento de uma alma. No entanto, eles devem ansiar e procurar palavras na
Torá de outros que já atingiram, para aprender novos caminhos com eles, os
quais foram inventados pelos precursores em suas inovações na Torá. Assim, será
fácil para eles avançarem aos altos níveis, ou seja, através deles poderão
avançar de degrau em degrau.
Mas há uma Torá cuja revelação está proibida,
pois cada alma deve fazer esse escrutínio por si mesma, ninguém deve fazer esse
escrutínio por ela. Portanto, antes de
fazerem o escrutínio por si mesmos, é proibido revelar a eles as palavras da
Torá.
É por isso que os grandes escondem muitas
coisas. E, exceto por essa parte, há um grande benefício para as almas pelo que
recebem das inovações de outros sobre a Torá. E “a sua alma deve lhe ensinar”
como e o que receber e como ser assistido pelas inovações de outros sobre a
Torá, e o no que ele mesmo deve inovar.
78. A Torá, o Criador e Israel são Um
(Ouvi em Sivan,Tav-Shin-Gimel, Junho de 1943)
“A Torá, o Criador e Israel são Um.”
Portanto, quando o
indivíduo
aprende a Torá, ele deveria aprender Lishmá (Em Seu nome). Isso
significa que ele está aprendendo com a intenção de que a Torá lhe ensine, como
é o nome da Torá, a qual significa “Instrução”. Porque “a Torá, o Criador e
Israel são Um”, a Torá ensina os caminhos do Criador, como Ele se veste na
Torá.
79. Atzilut e BYA
(Ouvi em 15 de Tamuz, Pinchás 1, Tav-Shin-Gimel,
18 de
julho de 1943)
Atzilut é considerado a partir de Chazeh e acima, os
quais são apenas vasos de doação. BYA significa recepção a fim de doar,
a ascensão do Hei inferior ao lugar de Biná.
Porque o homem está imerso no desejo de receber a fim de
receber, ele não pode fazer nada sem ter recepção para si mesmo. É por isso que
os nossos sábios disseram: “De Lo Lishmá (Não em Seu nome) chegamos a Lishmá
(Em Seu nome).” Isso significa que começamos o compromisso com a Torá e as mitzvot
a fim de “Dê-nos a riqueza Deste Mundo” e depois “Dê-nos a riqueza do Mundo
Vindouro”.
Quando se aprende
desta forma, deve-se chegar a aprender Lishmá, em nome da Torá, no sentido de que a
Torá vai lhe ensinar os caminhos do Criador. E então deve ser feito o
adoçamento de Malchut em Biná, o qual significa que se eleva Malchut,
chamado “Desejo de Receber”, a Biná, a qual é considerada doação. Ou
seja, todo o Trabalho será apenas a fim de doar.
E então tudo se torna escuro para o indivíduo.
Ele sente que o mundo escureceu sobre ele, pois o corpo dá força apenas para
trabalhar na forma da recepção, e não na forma de doação. Nesse estado, ele tem
apenas uma opção: rezar ao Criador para
que abra os seus olhos, para que ele possa trabalhar na forma de doação.
Esse é o significa de “Quem representa a
questão?” Refere-se a Biná, chamada Mi (Águas) e a questão vem do
verso “Perguntando sobre as chuvas”, que significa oração. Assim que chegam ao
estado de “Águas de Biná”, há espaço para rezar por isso.
80. Sobre Achor be Achor
(Eu ouvi)
Panim Ve Achor (Rosto e Costas).
Panim (rosto/frente) significa Recepção da Abundância ou Doação
da Abundância. A negação é chamada Achoraim (costas/posterior), que
significa nem receber nem doar.
Assim, no começo do Trabalho, o indivíduo está em um
estado de Achor ve Achor (costas com costas) porque ele ainda tem os Kelim
(vasos) do desejo de receber. Se atrair a Abundância para dentro desses Kelim
ele pode danificar a Luz, pois ele é considerado oposto em valor, já que as
Luzes vêm da Raiz, e a Raiz apenas doa.
Por essa razão, o inferior usa os Kelim de Ima,
chamados Achoraim, no sentido de que eles não querem receber, a fim de
não causarem dano. E o Emanador também não doa para esses vasos pela razão
acima, pois as Luzes se protegem para que os inferiores não as danifiquem. É
por isso que é chamado Achor ve Achor.
Está escrito em vários lugares que “Onde quer
que haja uma deficiência, a Klipá é amamentada”. Para explicar isso,
podemos dizer que a razão é que o lugar ainda não está livre da Aviut (Espessura).
Caso contrário, a Luz teria iluminado completamente, pois a Luz Superior nunca
pára. Se há um lugar que foi corrigido com uma Masach (tela), a Luz Superior
imediatamente se agarra lá. E como há um lugar de deficiência, ou seja, de
ausência da Luz Superior, há certamente um discernimento de Aviut, cujo
controle está inteiramente no desejo de receber.
81. Sobre elevar MAN
(Eu ouvi)
Sabe-se que, devido à quebra, faíscas de Kedushá (Santidade)
caíram em BYA. Mas ali, em BYA, elas não podem ser corrigidas.
Portanto, elas devem ser elevadas a Atzilut. Ao cumprir Mitzvot e
fazer boas ações com o intuito de Levar Contentamento ao seu Fazedor e não a si
mesmo, essas faíscas se elevam até Atzilut. Então, elas são incluídas na
Masach (tela) do Superior, no Rosh (cabeça/topo) do nível, onde a
Masach permanece em sua eternidade. Nesse momento, ocorre um Zivug (acoplamento)
na Masach por meio do Hitkalelut (mistura/integração) das
faíscas, e a Luz Superior se espalha por todos os mundos de acordo com a medida
de faíscas que eles elevaram.
Isso é semelhante ao Hizdakchut
(diluir/diminuir) dos Partzufim de Akudim. Aprendemos que durante
o seu Hizdakchut, quando a Luz a deixa por causa disso, a Masach
do Guf (corpo) ascende junto com as Reshimot até Peh de Rosh.
A razão é que, quando o interior para de receber, é considerado que ele foi
limpo do seu Aviut (espessura). Assim, a Masach pode se elevar de
volta a Peh de Rosh, já que o seu declínio ao nível do Guf foi
apenas porque a Luz de expandiu de cima para baixo até os vasos de recepção.
Além disso, o Rosh é sempre
discernido como sendo de baixo para cima, ou seja, resistente à expansão.
Quando o Guf para de receber as Luzes de cima para baixo, devido à
ausência da Masach que foi purificada pelo Bituk (espancamento)
do interno e do externo, é considerado que a Masach
de Guf foi limpa
do seu Aviut e ascendeu ao Rosh com as Reshimot.
Ainda, quando o indivíduo se envolve com a Torá e as Mitzvot
a fim de doar e não para receber, por meio disso, as faíscas se elevam à Masach de Rosh, no mundo de Atzilut (e elas se elevam nível por nível até que
chegam ao Rosh de Atzilut). Quando elas são incluídas nessa Masach e
o nível da Luz aparece de acordo com o tamanho da Masach, mais Luz é
adicionada em todos os mundos. E também o homem, que causou esse
aperfeiçoamento acima, recebe a Iluminação por ter aperfeiçoado acima, nos
mundos.
82. A oração que se deve sempre orar
(O que ouvi de forma privada em Vaerá, Tav-Shin-Yod-Gimel,
Novembro
de 1952)
A fé é discernida como Malchut,
interpretada na mente e no coração, ou seja, doação e fé. Em oposição à fé está
a Orla (Prepúcio), que consiste em “saber”. O saber leva a se considerer
mais importante o discernimento da Orla. A fé, por outro lado, chamada
“a Sagrada Shechiná (Divindade)” está no pó. Isso significa que esse
trabalho é considerado vergonhoso, e todos escapam de andar nesse caminho, mas
somente isso recebe o nome de “O caminho dos Tzadikim” e da Santidade”.
O Criador quer que os
Seus nomes sejam revelados apenas desta maneira, pois desta maneira é certo que não vão danificar as Luzes Superiores,
já que toda sua base é doação e Dvekut (adesão). Além disso, as Klipot
(cascas) não conseguem sugar dessa qualidade, já que elas são amamentadas
apenas no saber e no receber.
Onde o prepúcio governa, a Shechiná não pode
receber as Luzes Superiores, para que as Luzes não caiam nas Klipot. Por
causa disso existe a “Tristeza da Shechiná”, no sentido de que as Luzes Superiores
são detidas ao serem atraídas, e então ela não pode doar às almas.
E isso depende apenas
dos Inferiores. O Superior pode apenas transmitir a Luz Superior, mas a força da Masach, para que o Inferior
não queira receber nada nos vasos de recepção, depende do trabalho dos Inferiores;
ou seja, os Inferiores devem fazer esse escrutínio.
83. Sobre o Vav da Direita e o Vav da Esquerda
(Ouvi em 19 de AdarTav-Shin-Gimel,
24 de
fevereiro de 1943)
Há o discernimento do Ze (“Isso” na
forma masculina), e há o discernimento do Zot (“Isso” na forma
feminina). Moisés é considerado Ze, o qual é o melhor amigo do Rei. O
restante dos profetas são considerados Zot ou Koh (as letras Chaf
e Hey), o qual é o significado de Yadecha (Sua mão), um Vav
da esquerda. Então há o discernimento do Vav da direita.
E esse é o significado de “os Zayins reunidos”,
os quais reúnem dois Vavs. Esse é o significado de “E aquele que os
contém”, que é o treze, considerado um nível completo.
Há um Vav da direita e há um Vav da
esquerda. O Vav da direita é chamado “A Árvore da Vida”, e o Vav da
esquerda é chamado “A Árvore do Conhecimento”, onde há o lugar de guarda. Os
dois Vav são chamados “doze Chalot”, duas colunas, seis em uma coluna,
que é o significado dos treze Tikunim (Correções), o quais são doze e
mais um que os contém, chamado Mazal ve Nakeh (Sorte e Limpo).
Também contém a décima terceira correção,
chamada “Não deverá ser limpo”, que é o significado dos Zayins reunidos.
O Zayin é Malchut; ela os contém. Antes de ser recompensada com
“Não deverá voltar à loucura”, ela é chamada “Não deverá ser limpa”. E aqueles
que já foram recompensados com não retornar à loucura são chamados de “limpos”.
Esse é o significado de “Revelará seus sabores
em doze rugidos, que são um sinal no seu céu, duas vezes e fraco” (na canção
“Prepararei para uma refeição”). Também está escrito “Ela será coroada com Vavs
e Zayins reunidos” (na canção “Louvarei com uma canção”). Devemos
interpretar a coroação com Vavs no sentido de que a conexão por meio de
dois Vavs são os doze rugidos (os quais são as doze Chalot), que
são um sinal no céu.
Um sinal é chamado Yesod, e isso é chamado
“Duas vezes e fraco”. Isso significa que os Vavs foram duplicados: o Vav
da esquerda é chamado “A Árvore do Conhecimento”, o lugar da guarda. Então eles
se tornaram fracos (chamado “Luz”), e daí foi criado um cômodo por meio do qual
era fácil de passar. Não fosse pela duplicação com a Árvore do Conhecimento,
eles teriam tido que trabalhar com o Vav da direita, discernido como “A
Árvore da Vida”. E então quem poderia se elevar e receber os Mochim?
Porém, com o Vav da esquerda,
discernido como manutenção, o indivíduo está sempre nesta forma. E pelo mérito
da manutenção, quando ele toma para si mesmo a Fé Acima da Razão, o seu
trabalho é então desejável. É por isso que é chamado de “fraco”, Luz, no
sentido de que é fácil encontrar um lugar para trabalhar.
Isso significa que, em
qualquer estado que esteja, ele pode ser um servo para o Criador, pois ele não precisa de nada, mas faz tudo Acima da
Razão. Acontece que o indivíduo não precisa de nenhum Mochim para ser um
servo do Criador.
Agora podemos
interpretar o que está escrito: “Me preparas uma mesa de delícias na presença dos meus
inimigos” (Salmos 23:5). Uma mesa significa, como está escrito, “E a despedirá
de sua casa. E tendo ela saído de sua casa, poderá ir” (Deuteronômio 24:1-2).
Uma Shulchan (mesa) é como VeShlacha (E a despediu), ou seja,
saiu do Trabalho.
Devemos interpretar
que, mesmo durante as saídas do Trabalho, ou seja, num estado de declínio, o indivíduo ainda tem
um lugar para trabalhar. Isso significa que quando ele se mantém Acima da Razão
durante os declínios, e diz que os descensos também lhes foram enviados de
cima, por meio disso os inimigos são cancelados. É assim porque os inimigos
pensaram que, por meio dos declínios, a pessoa chegaria à humildade absoluta e
escaparia da campanha, mas no fim o oposto ocorreu - os inimigos foram
cancelados.
Esse é o significado do que está escrito, “A
mesa que está diante do Eterno” (Ezequiel 41:22), pois precisamente desta
maneira ele recebe a face do Criador. Esse é o significado de subjugar todos os
julgamentos, mesmo os mais severos, pois ele assume o Fardo do Reino dos Céus
em todos os momentos. Ou seja, ele sempre encontra um lugar para trabalhar,
como está escrito que disse o rabino Shimon Bar Yochai: “Não há onde se
esconder de Vós.”
84. O que é “Expulsou o homem do Jardim do Éden para que não tomasse da
Árvore da Vida”?
(Ouvi em 24 de Adar, Tav-Shin-Dalet,
19 de
março de 1944)
Está escrito: “E o Eterno chamou ao homem e
lhe disse: ‘Onde estás?’ - e ele respondeu: Ouvi Tua voz” etc., “e tive medo,
por estar nu, e me escondi” (Gênesis 3:9-10). “E o Eterno Deus disse: “… Talvez
ele estenda a sua mão e tome também da Árvore da Vida” (Gênesis 3:22) etc. “E expulsou o homem” (Gênesis 3:24).
Devemos entender o
temor de Adão, que
era tanto a ponto de ele se esconder porque se viu nu. A questão é que, antes
de comer da árvore do conhecimento, sua nutrição vinha de Biná, que é do
mundo da liberdade. Depois, quando ele comeu da árvore do conhecimento, ele viu
que estava nu. Isso significa que ele teve medo de tomar a luz da Torá e usá-la
na forma de “os pastores de gado de Lot” (Gênesis 13:7).
“Os pastores de gado de Lot” significa que
há Fé Acima da Razão, chamada “os pastores de gado de Abraão”. Em outras
palavras, aquele que foi recompensado com a obtenção da Luz da Torá não toma
isso como base do seu trabalho, dizendo que agora não precisa mais de reforço
na fé no Criador, pois ele já tem a fundação da Luz da Torá. Isso é chamado “os
pastores de gado de Lot”, considerado “o mundo amaldiçoado”, que é considerado
uma maldição. Isso é o oposto da fé, que é uma bênção.
Ao contrário, ele disse, agora o indivíduo vê que
se ele for com Fé Acima da Razão, a Luz da Torá lhe será fornecida de Cima,
para lhe mostrar que está trilhando o Caminho da Verdade. E não é que ele tome
isso como suporte, que o seu trabalho será dentro da razão, a partir do qual
ele entra nos vasos de recepção, sobre os quais houve o Tzimtzum (Restrição).
É por isso que é chamado “O lugar da maldição”, pois Lot significa o mundo
amaldiçoado.
E, nesse sentido, o
Criador lhe disse: “Por que tens medo de tomar essas Luzes por temor de que vais
danificá-las? Quem disse que estavas nu? Deve ser porque comeste da Árvore do
Conhecimento, e isso lhe trouxe o temor. Antes, quando estavas comendo de todas
as árvores no jardim, ou seja, quando estavas usando as Luzes à maneira de “os
pastores de gado de Abraão”, não tiveste medo algum.” Por isso, Ele o expulsou:
“Talvez ele
estenda a sua mão e tome também da Árvore da Vida”.
O medo foi de que ele
se arrependesse e entrasse na Árvore da Vida. Mas o que é o medo? Já que ele pecou na Árvore do
Conhecimento, agora ele precisa corrigir a Árvore do Conhecimento.
Esse é o significado de “Ele o expulsou do
Jardim do Éden”, para corrigir o pecado da Árvore do Conhecimento. E depois ele
será capaz de entrar no Jardim do Éden.
O Jardim do Éden significa a ascensão de Malchut a
Biná, onde ela recebe Chochmá na forma de “Éden”, e isso é o
“Jardim do Éden”.
85. O que é o fruto da árvore formosa no trabalho?
(Ouvi em Sucot Inter 1, Tav-Shin-Gimel,
27 de
setembro de 1942)
Está escrito: “E tomareis para vós, no
primeiro dia, o fruto da árvore formosa (Étrog), palmas de palmeira, ramos de
murto e de salgueiro de ribeiras” (Levítico 23:40). E devemos interpretar
“fruto da árvore formosa”: Uma árvore é considerada justa, chamada uma “árvore
do campo”. O “fruto” é a descendência da árvore, ou seja, a progênie do justo,
que são as boas ações, as quais devem ser na forma de adorno nessa árvore.
“De ano a ano” significa um ano inteiro,
que são “seis meses com óleo de mirra e seis meses com especiarias” (Ester
2:12). Os perversos, no entanto, são “como o feno que o vento espalha” (Salmos
1:4).
“Palmas de palmeira” são duas panelas, as quais são os dois Heys, o
primeiro Hey e o último Hey, pelos quais o indivíduo é
recompensado com “Uma taça de dez siclos de ouro cheia de incenso” (Números
7:50).
Kapot (Panelas) significam Kefia (Coerção), quando o
indivíduo assume o Reino dos Céus de forma coercitiva. Isso significa que,
mesmo quando a razão discorda, ele vai Acima da Razão. Isso é chamado de “Acasalamento
coercitivo”. Tamarim (Palmeiras) vem da palavra Morá (Medo), que
é Temor (por meio de “E Deus assim o fez para impor Seu temor” - Eclesiastes
3:14).
Por causa disso é chamado Lulav (palma de
palmeira). Isso significa que, antes de ser recompensado, o indivíduo tem dois
corações. E isso é chamado Lo Lev (Sem coração), no sentido de que o coração
não é devotado somente ao Criador. Quando ele é recompensado com o Lo (“Não”
ou “Para Ele”), ou seja, com um coração que é para o Criador, isso é o Lulav.
Além disso, o indivíduo deve dizer: “Quando
as minhas ações vão ser como as ações dos meus pais?” Através disso, ele é
recompensado com ser um ramo dos pais sagrados, e esse é o significado de “Ramos
de árvores grossas”, as quais são as três murtas.
Contudo, ao mesmo
tempo, o indivíduo deve
ser na forma de “Salgueiros de ribeiras”, sem gosto e sem cheiro. E deve se
deleitar no seu trabalho, ainda que não sinta sabor ou fragrância no seu
trabalho. E então esse trabalho é chamado “As letras do Seu Nome Unificado”,
pelas quais somos recompensado com a completa Unificação com o Criador.
86. E eles construíram Arei Miskenot
(Ouvi do meu pai, 3 de Shevat,Tav-Shin-Aleph,
31 de
janeiro de 1941)
A escritura diz: “E edificou para o Faraó Arei Miskenot[6], as cidades-armazém Pitom e Ramsés” (Êxodo
1:11). Deveríamos perguntar: “Pitom e Ramsés significa que são cidades bonitas,
enquanto as palavras Arei Miskenot sugerem pobreza e escassez (ver nota de rodapé), e elas também sugerem
perigo!” E devemos entender também o que Abraão, o Patriarca, perguntou: “E
disse… Como saberei que hei de herdá-la?” (Gênesis 15:8). O que o Criador
respondeu? Está escrito: “E disse (Deus): ‘Sabe com certeza que tua
descendência será peregrina em terra que não lhe pertence, e a farão servir e a
afligirão por 400 anos’” (Gênesis 15:13).
O sentido literal é difícil de entender, já que a questão
era que ele queria garantias sobre a herança, e não há garantia aparente na
resposta do Criador - que a sua semente ficará no exílio -, mas parece ser
resposta suficiente para Abraão. Além disso, vemos que quando Abraão teve uma
discussão com o Criador a respeito do povo de Sodoma, foi uma longa discussão,
e ele repetia “E se…”. Aqui, no entanto, quando o Criador disse que a sua
semente ficaria no exílio, ele imediatamente aceitou isso como resposta
suficiente e não argumentou ou disse “E se…”. Ao contrário, ele aceitou isso
como uma garantia para a herança da terra.
Devemos entender essa
resposta, e devemos também entender o que o Zohar interpreta sobre o verso “O Faraó se
aproximou” (Êxodo 14:10). Interpreta que ele os aproximou do arrependimento.
Pode ser que o perverso Faraó desejaria aproximá-los do arrependimento?
A fim de entender tudo
isso, devemos entender o que os nossos sábios disseram (Sucá 52a): “Rabi Yehuda
diz: ‘No futuro, o Criador traz a Inclinação ao Mal diante dos Jstos e diante
dos perversos e a mata. Para os justos, parece uma alta montanha e para os
perversos parece um fio de cabelo. Esses choram e aqueles choram. Os Justos
choram e dizem ‘Como poderíamos dominar uma montanha tão alta?’, e os perversos
choram e dizem ‘Como não poderíamos dominar esse fio de cabelo?’’”
Esse verso é desconcertante por completo:
1. Se a Inclinação ao Mal já começou a ser massacrada, como ainda
existem perversos?
2. Por que os Justos
choram? Muito pelo contrário, deveriam estar felizes!
3. Como pode haver
duas opiniões quando
ambas chegaram ao Estado de Verdade? Esses versos falam do Final dos Tempos, o
que certamente é um Estado de Verdade, então como pode haver tamanha diferença
na realidade entre um fio de cabelo e uma alta montanha?
Ele explica isso com
as palavras dos nossos sábios: “Rabi Assi diz, ‘No começo, a Inclinação ao Mal parece uma teia
de aranha e, no final, parece com cordas de carroça’, como foi dito, ‘Ai dos
que se prendem à iniquidade com cordas vãs, e ao pecado com as correntes da
falsidade’ (Isaías 5:18)”.
Há uma grande regra que devemos saber.
Nosso trabalho, o qual nos foi dado para ser baseado na Fé Acima da Razão, não
se dá porque somos indignos de um alto nível. Assim, isso nos foi dado a fim de
que tudo seja colocado em um Kli (vaso) de fé. Parece-nos ignomínia e
inutilidade, e ficamos ansiosos pelo momento de nos livrarmos desse fardo
chamado “Fé Acima da Razão”. No entanto, é um nível grandioso e muito
importante, cuja exaltação é imensurável.
A razão por que nos parece ignomínia é devido
ao desejo de receber que existe em nós. Devemos discernir um Rosh (Cabeça)
e um Guf (Corpo) no desejo de receber. O Rosh é chamado “Saber” e
o Guf é chamado “Receber”. Por isso, consideramos qualquer coisa que
seja contrária ao saber como inferior e bestial.
Agora podemos
interpretar o que Abraão, o Patriarca, perguntou ao Criador: “Como saberei que hei de herdá-la?” Pois
como eles serão capazes de aceitar o fardo da fé se ele é contrário à razão, e
quem pode ir contra a razão? Portanto, como eles chegarão a receber a Luz da Fé,
já que a perfeição depende apenas disso?
Sobre isso, o Criador
respondeu: “Saiba com certeza que teus descendentes serão
estrangeiros numa terra que não é deles”. Isso significa que Ele preparou a Klipá
(Casca), que é a Inclinação ao Mal, uma pessoa má, o Faraó, Rei do Egito. As
letras da palavra Paró (Faraó) são as mesmas de Oref (Nuca).
O ARI escreveu em Shaar HaKavanot para Pesach que o Faraó é considerado o Oref do
Egito. Ele procura absorver a Shefa (Abundância) que desce aos níveis
inferiors com a seguiunte questão (Êxodo 5:2): “Quem é o Eterno para que eu escute a
Sua voz?” Por meio dessa pergunta, eles já estão nas mãos das Klipot (Cascas),
tal como diz Maimônides em Hilchot Deot sobre não se adorar ídolos, já que apenas por fazer-se essa pergunta já
se caiu na transgressão da proibição da adoração dos ídolos.
A Inclinação ao Mal deseja sugar a abundância da Kedushá
(Santidade). Portanto, o que ela faz para sugar a abundância da Kedushá?
A escritura nos diz: “E o Faraó se aproximou. “O Zohar interpreta que ele os
aproximou do arrependimento. E pergunta como podemos dizer que o Faraó os
aproximou do arrependimento se a conduta das Klipot é afastar o
indivíduo do Criador?
Devemos entender isso
por meio do que está escrito no Zohar (“Introdução ao Livro do Zohar”: “A transgressão se
oculta dentro de você, como a serpente que ataca e esconde sua cabeça dentro do
seu corpo.” Também, no Sulam (“Escada”, comentário no Zohar): “Porque
essa transgressão está oculta, a força da serpente que ataca as pessoas do
mundo e traz morte ao mundo ainda está com todo o seu poder e não pode ser revogada.
É como uma serpente que pica uma pessoa e imediatamente coloca a cabeça dentro
do seu corpo, e então é impossível matá-la.”
Há ainda outro ditado no Zohar, que a
serpente inclina a cabeça e ataca com a cauda. Isso significa que, às vezes,
ela deixa o indivíduo tomar sobre si o Fardo da Fé, que é Acima da Razão e que
é o inclinar da cabeça, mas então ataca com a cauda. A cauda pode ser
interpretada como “O fim”, no sentido de que inclinou a cabeça apenas para, no
final de contas, receber a fim de receber. Em outras palavras, primeiro deu
permissão para tomar sobre si a fé, para que depois tomasse tudo sob sua
própria autoridade, pois a Klipá (Casca) sabe que não há como receber
abundância a não ser por meio da Kedushá (Santidade).
Esse é o significado de o Faraó tê-los
aproximado. Explica-se que ele trouxe Israel ao arrependimento de propósito, a
fim de que depois tomasse tudo deles sob sua própria autoridade. É por isso que
o ARI escreveu que o Faraó sugou toda a abundância que desceu aos inferiores.
Ele sugou a partir do Oref e a partir da garganta, a qual é considerada
a cabeça do corpo, no sentido de que tomaria tudo nos seus Vasos de Recepção.
Esse é o significado de “E edificou para o
Faraó Arei Miskenot”, no sentido de que isso era para Israel.
Em outras palavras, todo o seu trabalho durante o exílio foi levado sob a
custódia do Faraó, e Israel permanece pobre, pois Miskená significa
pobre.
Também devemos interpretar Miskenot a
partir da palavra Sakana (Perigo), no sentido de que eles estavam em
grande perigo de permanecer naquele estado pelo resto de suas vidas. No
entanto, para o Faraó, o trabalho de Israel era Pitom e Ramsés, cidades muito
bonitas.
Portanto, o
significado de “E edificou Arei Miskenot” é para Israel, e Pitom e Ramsés para o Faraó. Isso é porque todo o
trabalho de Israel caiu nas Klipot, e eles não viram nenhuma bênção no
seu trabalho.
Quando eles
prevaleceram na fé e na doação no seu trabalho, eles viram fertilidade. E no momento em
que caíram ao saber e receber, eles caíram nas mãos da Klipá do Faraó.
Finalmente, eles chegaram a uma determinada resolução de que o trabalho deve
ser feito na Fé Acima da Razão e na doação.
Contudo, eles viram
que não eram
capazes de sair do poder do Faraó por si mesmos. É por isso que está escrito:
“E os filhos de Israel suspiraram pelo trabalho” (Êxodo 2:23), pois ele temiam
que poderiam ficar no exílio para sempre. Então, “Os seus clamores subiram a
Deus”, e eles foram recompensados com a saída do exílio no Egito.
Acontece que, antes de
verem a situação - que
estão nas mãos das Klipot, sofrendo e temendo ficar ali para sempre -, se não sentem a
deficiência e o
detrimento causados por eles, se não sentem que isso é tudo o que os obstrui de aderir ao Criador, então eles não têm necessidade da ajuda do
Criador a partir dos Vasos de Recepção. Isso é porque, ao contrário, o
indivíduo tem uma consideração maior pelo trabalho na forma do conhecimento e
da recepção, e a fé é considerada humildade. Eles preferem o conhecimento e a
recepção, pois isso é o que a mente externa do homem necessita.
Portanto, lhes foi
dado o exílio, para
que não progredissem na aproximação ao Criador, e para que todo o seu trabalho
se afundasse na Klipá do Egito. Finalmente, eles viram que não tinham
outra opção senão tomar sobre si o trabalho da humildade, que é a Fé Acima da Razão,
e ansiar pela doação. Caso contrário, eles sentem que estão no domínio da Sitra
Achra (Outro Lado).
Acontece que tomaram a
fé sobre si
porque viram que, caso contrário, não teriam aconselhamento, e assim
concordaram com um trabalho de humildade. Isso é chamado “Trabalho Condicional”,
pois aceitaram esse trabalho para que não caíssem na rede das Klipot. É
por isso que haviam tomado sobre si esse trabalho.
No entanto, se a razão é revogada, o amor por esse trabalho
também é revogado. Isso significa que a Inclinação ao Mal é cancelada, e não há
nada que lhes traga pensamentos de não se voltar a ídolos, e então o amor pelo
trabalho na humildade é cancelado.
Agora podemos entender
o que os nossos sábios escreveram: “No começo, a Inclinação ao Mal parece uma teia de
aranha e, no final, parece com cordas de carroça.” Sabemos que há um
discernimento de “Coercitivo”, “Enganado” e “Deliberado”. O desejo de receber
que está impresso no homem é considerado “Coercitivo”, pois ele não pode
revogá-lo, e portanto não é considerado um pecado, mas uma iniquidade, como
está escrito: “Ai dos que se
prendem à iniquidade
com cordas vãs”. A Inclinação ao Mal não pode ser
rejeitada ou odiada, já que ele não sente que ela será um pecado.
Contudo, depois, ela
se torna um “pecado,
como era com cordas de carroça”, e então as Klipot foram feitas desse
desejo de receber, que tem uma estrutura completa, como em “Deus fez um oposto
ao outro”. Daqui vem a Inclinação ao Mal, ou seja, tudo vem desse fio de
cabelo.
Como já foi revelado que isso é um pecado, então
todos sabem que devem se proteger desse fio de cabelo, e entendem que não há
outra escolha, se desejam entrar na Kedushá, a não ser decidir trabalhar
em humildade, ou seja, na fé e na doação. Caso contrário, eles vêem que estão
sob o controle da Klipá do Faraó, Rei do Egito.
Segue-se que o benefício do exílio foi sentir que o desejo de
receber é um pecado, e essa é a razão para decidir que não há outra escolha a
não ser tentar e adquirir Vasos de Doação. Esse é o sentido da resposta do
Criador a Abraão, o Patriarca, sobre o seu pedido de garantias para a herança
da terra: “Saiba com certeza que tua descendência (…) e a afligirão (…) etc.”
Através do exílio, eles descobririam que o fio de cabelo é um pecado, e então
aceitariam o trabalho real a fim de se desligarem do pecado.
Esse é o significado do que o Rabi Yehuda
disse, que no futuro a morte será engolida para sempre, no sentido de que o
Criador vai massacrar a Inclinação ao Mal, e tudo que restará dela não será
mais que um fio de cabelo, o qual nem é sentido como um pecado (o fio de cabelo
é algo que não pode ser visto com o olho).
Porém, alguns perversos e justos permanecem,
e todos querem aderir a Ele. Os perversos ainda não corrigiram o seu fio de
cabelo, quando a Inclinação ao Mal ainda existia e eles podiam senti-la como pecado.
Agora, contudo, quando não há Inclinação ao Mal, tudo o que resta não é mais
que um fio de cabelo, então eles não tem razão para fazê-los transformar seus Vasos
de Recepção em Vasos de Doação, pois um fio de cabelo não é sentido. Mas, mesmo
assim, eles não podem aderir a Ele porque há disparidade de forma, e “Ele e eu
não podemos habitar na mesma morada”.
A sua correção é ser pó sob os pés dos justos. Isso
significa que, como a Inclinação ao Mal foi cancelada, os justos não têm razão
para seguir com Fé Acima da Razão. Assim, como não têm nenhuma razão, quem os
obrigaria?
Eles vêem que os perversos são deixados com o
fio de cabelo, e que não o corrigiram enquanto havia Inclinação ao Mal, e era o
momento de corrigi-lo pois, então, o desejo de receber era evidentemente um
pecado, enquanto agora ele não se parece com um pecado, mas com um fio de
cabelo. Portanto, se não há razão, não há lugar para corrigir.
Ainda assim, também não há lugar para a Dvekut (Adesão),
pois a disparidade de forma permanece, e toda a correção dos perversos é que os
justos caminhem sobre eles. Isso significa que agora eles vêem que não há medo
da rede das Klipot, pois a Inclinação ao Mal foi massacrada.
Portanto, por que agora
eles precisam trabalhar com Fé Acima da Razão? Agora eles vêem que os perversos não conseguem
alcançar a Dvekut, porque agora eles não têm uma razão para isso - ou
seja, uma Inclinação ao Mal que seja distinguida como um pecado -, mas mesmo
assim eles ficam do lado de fora, pois ainda há disparidade de forma.
Consequentemente,
quando os justos vêem isso, eles entendem o quanto foi bom para eles que tivessem uma
razão para trabalhar em doação. Eles pensaram que estavam envolvidos na doação
apenas devido à Inclinação ao Mal, mas eles vêem que o pecado que viram foi
para o seu próprio bem. Em outras palavras, esse é o trabalho real, e eles não
o fazem por medo de cair nas mãos das Klipot. A evidência disso é que
eles vêem que os perversos, os quais não corrigiram o fio de cabelo, agora não
têm razão para fazê-lo, e permanecem do lado de fora e não conseguem chegar à Dvekut
com o Criador.
Segue-se que os justos
recebem a força para
seguir de força em força, através dos perversos - os perversos se tornaram pó
sob os pés dos justos, e os justos caminham sobre os discernimentos que
permanecem como perversos.
Assim, em retrospecto,
esse trabalho é
especificamente importante. E isso não é devido à coerção, como parecia antes,
enquanto eles tinham a Inclinação ao Mal. Agora eles vêem que, mesmo sem a Inclinação
ao Mal, vale a pena trabalhar na doação e na fé.
Sobre “Esses choram e aqueles choram”, sabe-se
que chorar é Katnut (Pequenez), VAK. Há uma diferença entre GAR
e VAK. Os Mochim de VAK iluminam a partir do passado,
ou seja, eles tomam Sustento e Luz do que experienciaram no passado. Os Mochim
de GAR, no entanto, brilham no presente por meio da união de Zivug
(Cópula).
Esse é o sentido dos justos chorando e dizendo
“Como poderíamos conquistar uma montanha tão alta?” Agora eles vêem o que havia
antes do massacre da Inclinação ao Mal, pois o seu domínio era de fato grande,
como está escrito: “Deus fez um oposto ao outro”. E eles receberam grande
misericórdia do Criador, que lhes deu o poder de vencer a guerra contra a Inclinação
ao Mal, e agora eles se alegram no milagre que tinham então, ou seja, no passado.
Isso é chamado Mochim de Katnut.
Os perversos choram
porque agora eles não têm como aderir a Ele, mesmo que agora vejam que é apenas um fio de
cabelo. Mas como agora não há Inclinação ao Mal, eles não têm razão para
transformar os Vasos de Recepção em Vasos de Doação; eles podem apenas ver que
estão do lado de fora; é por isso que eles choram.
No entanto, a sua
correção é se
tornar pó sob os pés dos justos. Em outras palavras, quando os justos vêem que,
mesmo sem a Inclinação ao Mal, os perversos ainda não conseguem atingir a Dvekut,
eles revelam seu pensamento de que tiveram que seguir o caminho da doação
apenas devido à Inclinação ao Mal, e vêem que esse é o vaso verdadeiro. Isso
significa que, mesmo se não existisse a Inclinação ao Mal, o caminho ainda é
verdadeiro, o caminho da fé é um caminho maravilhoso.
Agora entendemos
porque os perversos permanecem após o massacre da Inclinação ao Mal; é assim para que eles se tornem pó
sob os pés dos justos. Se nenhum perverso permanecesse, não haveria ninguém
para mostrar essa questão grandiosa, de que o caminho da fé não se dá devido ao
amor condicional. Ou seja, não é por causa da Inclinação ao Mal que devemos
seguir o caminho da fé, mas devido ao amor incondicional, pois agora não há
mais qualquer Inclinação ao Mal e, ainda assim, apenas por meio da fé podemos
atingir a Dvekut com o Criador.
Ouvi em outra ocasião: A razão por que precisamos da fé,
especificamente, é o orgulho dentro de nós, pois ele torna difícil a aceitação
da fé. Apesar de a fé ser um nível exaltado e maravilhoso, o Inferior não pode atingi-lo nem entender sua preciosidade e sublimidade. E isso ocorre apenas devido ao nosso orgulho, ou seja, o
desejo de receber. Imaginamos isso como inferior e bestial, e por essa razão nos foi dada
a pessoa má.
E ouvi em outra ocasião: Vemos que, quando não queremos aceitar
a fé, caímos do nosso estado. Levantamos e caímos todas as vezes até que
decidimos que não temos outra escolha senão estabelecer a fé permanentemente.
Isso ocorre a fim de receber a fé, e isso é “E edificou (para Israel) para o
Faraó Arei Miskenot”.
87. Shabat Shekalim
(Ouvi em 26 de Adar, Tav-Shin-Het, 07 de março de 1948)
No Shabat Shekalim (nome de uma porção semanal), quando
entrou para o Kidush[7] (…), ele disse: “Havia um costume entre
os Admorim (rabinos, chefes de congregações) na Polônia, de que todos os
homens ricos viriam no Shabat Shekalim para receberem Shekalim
(moedas) dos seus rabinos.”
Isso sugere, ele
disse, que não pode
haver a eliminação de Amalek sem Shekalim. É assim porque antes de
receber Shekalim, ainda não há Klipá (Casca) de Amalek. Ao
contrário, a grande Klipá chamada “Amalek” vem quando se pega Shekalim,
e então começa o trabalho de eliminar Amalek. No entanto, antes disso, o
indivíduo não tem nada a apagar.
E ele adicionou uma
explicação a
respeito do que o Profeta de Kuznitz disse sobre o que é dito na oração
final: “Tu separaste o homem desde o início e Tu o reconhecerás para se
levantar diante de Ti.” Sobre isso, o profeta perguntou: “Como é possível se
levantar sem um Rosh (Cabeça)? Isso significa que ele separou o Rosh do
homem, e como pode ser uma coisa assim?” A explicação é: “Quando contares as
cabeças dos filhos de Israel”, pelo qual atraímos o discernimento do Rosh.
Se damos o meio Shekel, através disso somos recompensado com o Rosh.
E depois ele
perguntou: “Por que ele
prepara mais bebida do que comida para o Kidush? Essa não é a ordem
correta, pois a ordem deveria ser comer mais do que beber, já que a bebida vem
apenas como um complemento para a comida, por meio de ‘E comerás, te fartarás e
louvarás’ (Deuteronômio 8:10). No entanto, não é assim quando se bebe mais do
que se come.” E ele interpretou que comer sugere Chassadim (Misericórdia)
e beber sugere Chochmá (Sabedoria).
E ele disse mais: que
o Shabat anterior ao mês de Adar contém todo do mês de Adar. Assim, “quando entra Adar, há
muita alegria”. E ele disse que há uma diferença entre um Shabat e um dia bom.
O Shabat é chamado “amor”, e um dia bom é chamado “alegria”. A diferença entre
alegria e amor é que o amor é uma essência, e a alegria é apenas um resultado,
nascido de alguma razão. A razão é a essência, e o resultado é apenas o produto
da essência. Assim, o Shabat é chamado “amor e boa vontade”, e um dia bom é
chamado “alegria e regozijo”.
Ele também explicou a respeito do que o Rabi
Yochanan ben Zakai respondeu à sua esposa, sobre ser como um ministro perante o
Rei, e ele, Rabi Hanina ben Dosa, ser como um escravo perante o Rei. É por isso
que ele conseguia rezar. Parece que deveria ser o oposto, que o ministro teria
mais força para induzir sua opinião sobre o Rei, e não o escravo.
No entanto, um “Ministro” é alguém que já foi
recompensado com a Providência Particular. Nesse estado, ele não vê espaço para
a oração, pois tudo é bom. Mas um escravo é alguém que está no nível de
recompensa e castigo, e então ele tem espaço para rezar, pois ele vê que tem
mais a corrigir.
E ele adicionou uma
explicação a
partir de um artigo apresentado (Baba Metzia 85a). Lá está escrito: “Um bezerro estava sendo levado para o abatimento. O
animal foi, colocou sua cabeça no colo do rabino, e chorou. O rabino disse ao
bezerro: ‘Vá, é para isso que você foi feito.’ Eles disseram: ‘Como ele não tem
piedade, o sofrimento se abaterá sobre ele.’”
“É para isso que você foi feito” significa
Providência Particular, no sentido de que não há nada para adicionar ou
retirar, pois ali também os sofrimentos são considerados méritos. É por isso
que ele atraiu sofrimentos.
E a Guemará diz que ele estava livre do sofrimento
através de um ato, dizendo “E Suas
misericórdias se manifestam em todos os Seus trabalhos”. Um dia, a empregada do rabino estava varrendo
a casa. Havia pequenos ratos lá e ela os estava varrendo para longe. Ele
disse: “Deixe-os!” Está escrito: “E Suas misericórdias se manifestam em todos os Seus trabalhos.” Ao
alcançar o entendimento de que uma oração também permanece na eternidade, agora
ele criou espaço para a sua oração. É por isso que os sofrimentos o
abandonaram.
Ao final do Shabat,
ele compartilhou uma interpretação a respeito do que o Zohar diz sobre o verso: “A Jacó escolheu para
Si o Eterno” (Salmos 135:4). Quem escolheu quem? E o Zohar responde: “O Eterno
escolheu Jacó.” Segue-se que Jacó não fez nada, tudo ocorreu sob a Providência
Particular. E se Jacó, de fato, escolheu, isso significa que Jacó é o executor,
ou seja, uma questão de recompensa e castigo.
E ele respondeu que,
no início, o
indivíduo deveria começar pelo caminho da recompensa e castigo. Quando completa
essa fase de recompensa e
castigo, ele é
recompensado com a visão de que tudo está sob a Providência Particular, que
“Ele sozinho faz e fará todas as ações”. No entanto, antes de completar o
trabalho no nível recompensa e castigo é impossível entender a Providência
Particular.
E, no domingo à noite, após a lição, ele explicou a questão
da astúcia de Jacó. Está escrito sobre Jacó: “Teu irmão veio com esperteza”
(Gênesis 27:35). Certamente, não havia questão de falsidade aqui. Caso
contrário, o texto não diria sobre Jacó, o patriarca escolhido, que ele era um
mentiroso.
Ao contrário, “esperteza” é quando o indivíduo
executa um ato de sabedoria sem a intenção de sabedoria, mas para extrair um
benefício de que ele necessita. Ele vê que não pode ser obtido diretamente e,
portanto, executa um ato de sabedoria para obter aquilo que precisa. Isso é
chamado “sabedoria”.
Esse é o significado do verso “seja astuto com
razão”, ou seja, sabedoria através da razão. Isso significa que a sabedoria que
ele quer obter não é para o propósito da sabedoria, mas através de outra coisa
que o força a atrair sabedoria. Em outras palavras, ele deve atrair a fim de
complementar os Chassadim.
Porque antes de os Chassadim obterem Chochmá, eles são
discernidos como Katnut (Pequenez). No entanto, depois, quando ele atrai
Chochmá, mas ainda assim prefere Chassadim a Chochmá, fica
aparente que os Chassadim são mais importantes que Chochmá. Isso
é chamado GAR de Biná, o qual significa que ele usa os Chassadim
devido a uma escolha.
Esse é o sentido de Chochmá através de Daat,
que a Chochmá aparece na forma de VAK em YESHUT. E, em
AVI, Chochmá aparece por meio do aperfeiçoamento dos Chassadim
e da permanência em Chassadim. Contudo, apesar de Biná ser
considerada a correção de “Desejar misericórdia”, a escolha de Chassadim não
é aparente devido ao Tzimtzum Beit, onde não há Chochmá. No
entanto, em Gadlut (Grandeza), quando Chochmá vem, os Chassadim
são usados devido a uma escolha.
88. Todo o trabalho se dá apenas onde há dois caminhos - 1
(Ouvi depois de Shabat BeShalach,
Tav-Shin-Het, 24 de janeiro de 1948)
Todo o trabalho se dá apenas onde há dois caminhos, como está
escrito: “E viverá por eles, e não morrerá por eles. E a questão de ‘morrerá e
não os violará’ se aplica apenas a três Mitzvot: idolatria, derramamento
de sangue e incesto.” E, ainda assim, descobrimos que os primeiros Chassadim
dariam suas vidas pelos mandamentos positivos.
E devemos saber que
todo o trabalho e o labor se dão apenas quando o indivíduo deveria observar a Torá. Nesse momento, o
indivíduo sente o fardo pesado de que o corpo não concorda com as condições da
Torá. Mas quando uma pessoa é recompensada, e a Torá a protege, ela não sente
nenhum peso no trabalho do Criador, pois a Torá protege uma pessoa, como está
escrito: “A sua alma lhe ensinará.”
89. Para entender as palavras do Zohar
(Ouvi em 5 de Adar, Tav-Shin-Het, 15 de fevereiro de 1948)
Para entender as palavras do Zohar devemos primeiro
entender o que o Zohar quer dizer. Entender o que o Zohar quer dizer depende da
dedicação do indivíduo à Torá e às Mitzvot, a fim de que a Torá e as Mitzvot
lhe tragam pureza, para ser purificado do amor-próprio. É por isso que ele
se envolve na Torá e nas Mitzvot. E, nessa medida, podemos entender a
verdade do que o Zohar quer dizer. Caso contrário, existem as Klipot (Cascas),
que escondem e bloqueiam a verdade nas palavras do Zohar.
90. No Zohar, Beresheet
(Ouvi em 17 de Adar, Tav-Shin-Het, 28 de março de 1948)
No Zohar, Beresheet: “Nos segredos da Torá, os defensores dos
ministros são erguidos de Cima. E a lâmina da espada flamejante é apontada
sobre todos os exércitos e campos. E nesse discernimento, diversos outros
discernimentos são interpretados para vários outros níveis.”
Ele explicou que
quando a coluna da esquerda atrai ela deve ser adoçada pela coluna da direita. Isso se
propaga a três lugares:
1. A AVI, o qual é a raiz;
2. A Malchut;
3. Aos Anjos de Deus.
Em AVI, eles são chamados “Defensores dos Ministros”,
e em Malchut eles são chamados “A lâmina da espada rodopiante”. E Nos
anjos, eles são chamados “Eles estão em muitos lados, diversas outras maneiras
são interpretadas em diversos outros níveis”.
91. Sobre o que é substituível
(Ouvi em 9 de Nissan, Tav-Shin-Het, 18 de abril de 1948)
O Sagrado Zohar explica
a razão pela
qual Rubem foi concebido dentro de Lea, enquanto Jacó pensava em Raquel durante
o ato. A lei indica que se se pensa em outra, a criança é chamada de “Substituível”.
E o Sagrado Zohar explica isso, pois ele estava pensando em Raquel, porque
realmente acreditava que era Raquel. Por outro lado, o conceito de
“Substituível” se aplicaria somente se seu pensamento tivesse estado com Raquel
enquanto que, no tocante ao ato, soubesse que estava com Lea. No entanto, neste
caso, seu pensamento estava com Raquel, e quanto ao ato, também
acreditava que estava com Raquel.
O Zohar explica isso
da seguinte maneira: Sabe-se que na espiritualidade é como o que ocorre com o
carimbo e a estampa, onde cada nível fica estampado pelo seu nível superior. E
o comportamento do carimbo e da estampa consiste em que sempre são opostos
entre si: a estampa é sempre oposta ao carimbo. Disso se depreende que aquilo que é considerado Klipá (Casca) em Beriá
é Kedushá (Santidade) em Yetzirá, e o que é Kedushá em
Yetzirá é Klipá em Assiá.
Portanto, se o Tzadik
(Justo) se une a um certo grau, certamente está em Kedushá nesse grau. E se durante o ato pensa num
outro grau ou nível, e aquilo que é considerado Kedushá nesse nível se
considera Klipá em outro nível, isso recebe o nome de “Substituível”. Isso quer
dizer que a prole dessa união é “Substituível” por que os graus ou níveis são
opostos entre si.
No entanto, Jacó estava pensando em Raquel. Ou seja, na Kedushá
do discernimento de Raquel. E, quanto ao ato, também acreditou que se tratava
de Raquel. Assim, tanto o pensamento era de Kedushá de Rachel como o ato
pretendia ser do grau de Raquel. Por isso, aqui não há discernimento de Lea que
seja considerado “Substituível”.
92. Explicando o discernimento de Sorte
(Ouvi em 7 de Sivan,Tav-Shin-Het, 14 de junho de 1948)
“Sorte” é algo que está Acima da Razão. Ou
seja, embora fosse razoável que seria de forma tal e tal, a sorte fez com que
suas ações tivessem sucesso. A Razão se refere à Causa e Consequência, no
sentido de que uma causa faz o resultado sair como sai. Quando a causa inicial
não é a causa da consequência é chamado “Acima da Razão”. Referimo-nos a isso
como “sorte”, que causa resultado.
Sabe-se que todas as
doações vêm
da Luz de Chochmá (Sabedoria). E quando Chochmá brilha é chamada
de “Coluna da Esquerda” e “Escuridão”. A abundância é bloqueada, e isso é
chamado “Gelo”. Isso é chamado “Mérito”, porque o indivíduo é recompensado.
Isso significa que a Razão que causa a Luz da Sabedoria é chamada “Mérito”, o
qual é Causa e Consequência. Mas “filhos, vida e nutrição não dependem de Mérito,
mas de Sorte”. Isso significa que a Chochmá brilha especificamente
através da coluna do meio, onde a Chochmá
é reduzida, e especificamente por meio da diminuição chamada Masach de
Hirik. Assim, ela não brilha com causa e consequência, no sentido de que a Chochmá
brilha através da Coluna da Esquerda, mas precisamente por meio da diminuição.
Isso é chamado “Acima da Razão”, e isso é “Sorte”.
93. Sobre barbatanas e escamas
(Ouvi em Tav-Shin-Hey,
1944-1945)
Para entender o que os
nossos sábios disseram:
“O que quer que tenha escamas é conhecido por ter barbatanas. E o que quer que
tenha barbatanas não é conhecido por ter escamas.”
No Trabalho, devemos
interpretar a questão de Kaskeset (Escamas) como Kushiot (Perguntas) que o
indivíduo tem no Trabalho do Criador. As Kushiot são vasos nos quais é
possível receber respostas, pois as respostas não são preenchidas na mente
externa, mas especificamente na mente interna, a qual é a Luz Superior vestida
dentro do ser humano. E, dessa forma, todos os questionamentos se assentam
nele.
Assim, na medida em
que as perguntas aumentam, nessa medida a Luz Superior se veste dentro do
homem. É por isso
que as escamas estão entre os sinais de pureza, pois através delas o indivíduo
pode se purificar por não querer ter perguntas. Portanto, o indivíduo faz
aquilo que pode para se purificar, a fim de que seja premiado com a Luz Superior.
E uma barbatana também está entre os sinais de pureza. Snapir
(Barbatana) indica Soneh-Peh-Ohr
Elyon (Boca-odienta-Luz-
Superior). Ter perguntas se deve ao fato de se sentir ódio pela Luz Superior.
Mas aquele que tem barbatanas não precisa de perguntas. O indivíduo pode odiar
a Luz Superior não por ter perguntas, mas simplesmente porque é invejoso e é
capaz de dizer: “De qualquer forma, não irei”.
Esse é o sinal de pureza: ou seja, quando ele
tem um peixe. Um peixe indica carne que é vestida por barbatanas e escamas.
Isso significa que a Luz Superior brilha nesses dois sinais.
Mas quando se faz o
Trabalho sem quaisquer perguntas,
isso não representa um sinal de pureza. Isto se deve a que dessa forma a pessoa
não tem espaço para a Luz Superior no seu interior, pois não tem uma razão que
o force a atrair a Luz Superior, já que mesmo sem ela ele acredita que se
encontra bem.
É por isso que o Faraó, o Rei do Egito,
quando quis manter o povo de Israel sob seu domínio, emitiu uma ordem de não se
fornecer Kash (Palha), como está escrito: “Então o povo se espalhou por
toda a terra do Egito para recolher restolho em
lugar de palha”. (Êxodo 5:12). Desse modo, eles nunca precisariam que o
Criador lhes livrasse do domínio da Tuma’a (Impureza) e lhes levasse
para a Kedushá (Santidade).
94. E deverás guardar as tuas almas
(Ouvi emTav-Shin-Hey,
1944-1945)
No verso “E deverás guardar as tuas almas”, guardar
se refere principalmente à alma espiritual. Contudo, o indivíduo guarda a alma
corpórea mesmo sem Mandamentos da Torá. Isso porque a regra é que uma Mitzvá
é primariamente evidente, ou seja, é evidente que ele faz o que faz pelo propósito
de uma Mitzvá quando ele não o faria se não fosse pela Mitzvá.
Antes, a razão de ele fazer isso é porque é uma Mitzvá.
Por isso, com uma Mitzvá que executa, se ele
não faria isso mesmo que não fosse uma Mitzvá, ele precisa de cuidado
especial, para encontrar um lugar onde possa dizer que faz isso apenas devido a
uma Mitzvá. Isso é chamado “fazer um Kli com a Mitzvá”, no
qual a Luz Superior pode existir. Assim, guardar se refere principalmente à
alma espiritual.
95. Sobre remover o prepúcio
(Ouvi durante uma refeição em celebração a uma circuncisão, Tav-Shin-Gimel,
1942-1943, Jerusalém)
Malchut em si é chamada “Chochmá inferior”, e a
respeito de sua conexão com Yesod é chamada “Fé”. Há um prepúcio sobre Yesod,
cujo papel é separar Malchut de Yesod, e não deixar que se
conecte a Yesod. O poder do prepúcio está em retratar a Fé como pó. Esse
é o significado de a Shechiná estar no pó.
Quando essa força representativa é removida, e se diz que
a força representativa é pó, isso é chamado “Circuncisão”, quando o prepúcio é
cortado e jogado ao pó.
Nesse estado, a Shechiná sai do pó, e o Mérito da Fé se torna
aparente. Isso é chamado “Redenção”, ser recompensado com elevar a Shechiná do
pó. Por isso, devemos focar todo o trabalho em remover a força representativa,
e apenas a Fé é considerada inteira.
“Eles são meticulosos consigo mesmos tanto
quanto uma azeitona e tanto quanto um ovo.” Uma “azeitona” é como disse a
pomba: “Prefiro que meu alimento seja amargo como uma azeitona vinda do Alto.”
E o “ovo” significa que, por enquanto, não tem vida, mas um animal vivo sairá
dele. E eles são meticulosos consigo mesmos, e preferem trabalhar, embora a
situação seja como uma azeitona.
Além disso, quando eles não vêem vitalidade
no Trabalho, e toda a sua força para trabalhar tem o único objetivo de elevar a
Shechiná do pó, então, por meio desse Trabalho, eles são premiados com a
Redenção. Então eles vêem que essa refeição, a qual anteriormente era como uma
azeitona e um ovo, agora se tornou alegre e doce e extremamente agradável.
Esse é o significado de “Um prosélito
convertido é como uma criança recém-nascida”. Naquele momento, ele também deve
manter o estado do “Pacto”, e então ficará feliz.
Assim, quando a criança é circuncidada, apesar de estar
sofrendo, os convidados e os pais estão felizes, pois eles acreditam que a alma
do menino está feliz. De forma similar, no Trabalho do Pacto, devemos ficar
felizes mesmo se sentimos um estado de sofrimento. Mesmo assim, devemos
acreditar que nossa alma está feliz.
Todo o nosso Trabalho
deve ser com alegria. E a evidência para isso vem do primeiro mandamento dado ao homem. A Mitzvá
é feita pelos pais, e os pais e os convidados estão felizes. Assim deveria ser
com todas as Mitzvot que o indivíduo executa: apenas com alegria.
96. O que significam o desperdício do celeiro e da adega no Trabalho
Espiritual?
(Ouvi na véspera de Sukkot, dentro da Sucá,Tav-Shin-Gimel,
1942-1943)
Um celeiro representa
os Dinim (Julgamentos) masculinos, como em “Oculto
e não contaminado”, quando ele sente que está em um estado de Goren (Celeiro)
no Trabalho, ou seja, Guer (Estrangeiro/Não convertido).
Uma adega representa os Dinim femininos, como
em “Oculto e contaminado”. Yékev (Adega) é considerado Nekev (Orifício).
E há dois tipos de Sukot: 1) Nuvens de
glória, e 2) Desperdício de celeiro e adega.
Uma nuvem é considerada Ocultação, quando o
indivíduo sente a Ocultação sobre a Kedushá (Santidade). Se uma pessoa
supera a nuvem, ou seja, a Ocultação que sente, ela é, portanto, recompensada
com Nuvens de Glória. Isso é chamado MAN de Ima, o qual se aplica
durante seis mil anos. É considerado um Sod (Segredo), pois ainda não se tornou
uma natureza, chamada de pshat (simples, comum, literal).
E os desperdícios de celeiro e adega são chamados “Literal
e Natureza”, os quais são considerados MAN de Malchut, corrigidos
especificamente através da Fé, chamada “Itorerut (Despertar) de baixo”.
E MAN de Ima é considerado um Despertar
de Cima, o qual não é discernido como Natureza. Isso significa que, a respeito
da Natureza, quando o indivíduo não está pronto para receber a Shefa (Abundância),
ele não recebe qualquer Doação.
Porém, da perspectiva do Itorerut de Cima,
que é acima da Natureza, a Luz é de fato despejada aos inferiores, por meio de
“Eu sou o Eterno, que vive com eles no meio de sua impureza”, como está escrito
no Zohar: “Embora ele tenha pecado, é como se não tivesse pecado algum.”
No entanto, com um Itorerut
de baixo a Luz não é dispensada. Em vez disso, é precisamente quando o indivíduo é
qualificado por natureza - ou seja, por si mesmo, e isso é chamado MAN de
Nukva - que ele pode se corrigir pela Fé. Isso é chamado “Por si mesmo”,
considerado o Sétimo Milênio, chamado “E está arruinado”, no sentido de “Ela
não tem nada próprio”, considerado Malchut. Quando isso é corrigido, o
indivíduo é recompensado com o Décimo Milênio, que corresponde a GAR.
Semelhante alma somente
é
encontrada uma em dez gerações. Contudo, há um discernimento do Sétimo Milênio,
a partir da perspectiva dos seis mil anos, chamada “Particular” ou “Individual”,
pois o geral e o particular são sempre iguais. Mas isso é considerado MAN
de Ima, chamado “Nuvens de Glória”.
O propósito do Trabalho está no Literal e na Natureza,
já que nesse Trabalho não há espaço para o indivíduo cair ainda mais baixo,
pois ele já está no chão. É assim porque ele não precisa de Gadlut (Grandeza)
pois para ele é como se sempre fosse algo novo.
Ou seja, ele sempre
trabalha como se tivesse recém começado a trabalhar. E ele trabalha na forma de aceitar o Fardo do Reino
dos Céus Acima da Razão. A base sobre a qual ele construiu a ordem do Trabalho
foi a maneira mais baixa, e tudo estava verdadeiramente Acima da Razão. Apenas
alguém realmente ingênuo pode ser tão baixo a ponto de proceder sem nenhuma
base na qual estabelecer sua Fé, literalmente sem nenhum suporte.
Além disso, ele aceita esse Trabalho com
grande alegria, como se houvesse tido um verdadeiro conhecimento e uma visão
sobre os quais estabelecer a certeza da Fé. E na exata medida em que vai Acima
da Razão, nessa mesma medida é como se tivesse razão. Assim, se ele persiste
nesse caminho, ele nunca cairá. Em vez disso, ele pode estar sempre em alegria,
por acreditar que está servindo a um grande Rei.
Esse é o significado do verso “Oferecerás um
dos cordeiros pela manhã, e o outro cordeiro oferecerás pela tarde e também a
oferecenda do cereal e a própria libação da manhã como aroma agradável, uma oferenda queimada
ao Senhor” (Êxodo 29:39-41). Isso significa que essa alegria que sentia
enquanto oferecia seu sacrifício era para ele como a manhã. Isso se explica
pelo fato de que a manjhã se associa com a Luz, e faz referência ao fato da Luz
da Torá estar brilhando para ele com total claridade. Nesse mesmo estado de
felicidade ele estava realizando o seu sacrifício, seu trabalho, embora para
ele fosse como a noite.
Isso significa que
mesmo ser ter recebido iluminação alguma da Torá e do Trabalho, ele ainda assim fez tudo com
alegria, pois trabalhava Acima da Razão.
Desse modo, ele não poderia discernir qual dos dois estados satisfaz mais o
Criador.
Esse é o significado da pregação do rabino
Shimon ben Menasia a respeito de um certo “tipo de matéria”. Matéria significa que
é um elemento “sem razão e sem conhecimento”. “Um ouvido que ouviu no Monte
Sinai, não roubar.” Isso significa não receber nada para si mesmo, mas, em vez
disso, tomar sobre si o Fardo do Reino dos Céus sem qualquer Gadlut (Grandeza),
inteiramente Acima da Razão. E foi e roubou certo grau de irradiação da Luz para
si mesmo. Ou seja, ele disse: “Agora posso ser um servo do Senhor, porque já recebi
razão e conhecimento do Trabalho, e entendo que vale a pena ser um servo do
Criador. E agora eu não preciso mais de Fé Acima da Razão.”
E sobre isso ele nos
conta o seguinte: “E foi vendido à Corte.” “Corte” se refere à razão e ao conhecimento do
homem, que são os que julgam suas ações, determinando se eram aptas ou não a
serem executadas. “Vendido” significa que ele se tornou um estranho no Trabalho
do Criador, e que sua mente vem e lhe faz a pergunta conhecida: “O que esperas
ou pretendes com esse Trabalho?” E isso vem apenas de roubar, tendo recebido
alguma ajuda com respeito à Fé. Enfim, vem e quer cancelar a ajuda com suas
perguntas. Mas isso é apenas por “seis”, ou seja, “ele foi vendido por seis
anos”, o que se considera Dinim masculinos.
“Mas se o servo disser claramente: “Eu amo
o meu Mestre, não vou me libertar Dele’”, no sentido de que não quer se
libertar das Mitzvot, então a correção consiste em “Seu Mestre há de
trazê-lo”, ou seja, o Senhor há de ajudá-lo “através da porta ou da Mezuzá”. Dito
de outro modo, é revogado seu impedimento de entrar no Reino dos Céus. E “seu Mestre
há de furar seu ouvido”. Se diz que se perfura seu ouvido, pois um outro
orifício lhe será feito com a finalidade de que possa ouvir novamente o que
havia ouvido no Monte Sinai: “Não hás de roubar” e “Hás de servir-me para
sempre”. Nesse momento ele se torna, verdadeiramente, um servo do Criador.
Sukot representa uma residência temporária. Isso significa
que, para quem já foi premiado com residência permanente e não tem mais nada a
fazer, como na questão de ser o primeiro a contar iniquidades, o conselho é que
saia para uma residência temporária como quando estava no seu caminho para a
casa de Deus, antes de ter chegado à residência permanente. Naquele tempo,
quando seu Trabalho se parecia ao do “visitante de passagem”, precisava
alcançar o Palácio de Deus constantemente, e, além disso, recebia visitas.
E agora sim, ele pode continuar
com seu Trabalho passado, quando se sentia sempre agradecido com o Criador e
era feliz e O louvava por atraía-lo cada vez mais para Ele. E agora, em Sukot, pode continuar com
essa sensação de felicidade que tinha então, e esse é o sentido da residência
temporária. É por isso que os sábios disseram: “Saia da residência permanente e
more na residência temporária.”
“O mais importante não é o estudo, mas o
ato.” Isso significa que um ato é como uma espécie de matéria. O rabino Shimon
ben Menasia pregava sobre uma “certa matéria”, que consistia em que o mais
importante é o ato, e que a mente não é mais que um certo tipo de “espelho”.
Contudo, o ato é considerado “vivente” e a mente é
considerada “falante”. A questão é que se há integridade no ato, então o ato é
tão grande que traz consigo a “mente da Torá”. E a “mente da Torá” recebe o
nome de “falante”.
97. Desperdício de celeiro e de adega
(Eu ouvi)
Goren (Celeiro) significa redução de boas ações, quando uma
pessoa sente Gronot (Gargantas, que soa como Gueronot [Deficiências])
a respeito do Criador). Por causa disso, diminui as suas boas ações, e logo chega
a um estado de Yékev (Adega), e isso se refere ao versículo que diz: “E
aquele que blasfemou o nome do Senhor”.
Sukot implica alegria, e se refere às “Guevurot em
júbilo”, que vem a ser o “Arrependimento por amor”, ou quando os pecados se
tornam Méritos, e mesmo o celeiro e a adega acabam sendo admitidos na Kedushá.
Isso é o que significa que o principal discernimento da Sucot é Isaac, mas
todos estão incluídos dentro dele (a Páscoa hebraica é considerada Chessed, que
é a direita). Esse é o sentido da expressão “Abraão gerou Isaac”.
Isto se deve a que a questão de pai e filho é causa e efeito,
razão e resultado. Se não tivesse havido um discernimento de Abraão, que representa
a direita, não poderia ter havido o discernimento de Isaac, que representa a
esquerda, porém a esquerda esta incluída e integrada na direita, como em “Pois
Tu és o meu pai”.
Abraão disse: “Serão destruídos diante da Santidade
do Teu Nome”. E Jacó também disse que isso significa que os pecados serão
destruídos pela Santidade do Seu nome. E se permanece assim, então há uma lacunba
no meio. Em outras palavras, os pecados em toda Israel representam uma lacuna na
Kedushá.
Isaac, no entanto,
disse: “Metade
sobre mim e metade sobre você”. Ou seja, a parte dos pecados e a parte das Mitzvot
entrarão ambas na Kedushá. E isso se pode conseguir através do Arrependimento
por Amor, quando os pecados de uma pessoa se transformam em Méritos. Nesse estado
não existe lacuna, como está escrito: “Não haverá brecha nem ataque” (Salmos
144:14), senão que tudo é corrigido em prol da Kedushá.
Esse é o significado das palavras dos nossos
sábios, que dizem assim: “O esterco e as mulas de Isaac são maiores que o
dinheiro e o ouro de Abimelech.” Esterco representa algo inferior e sem valor.
Isto sugere que, para ele, sua servidão é como se fosse esterco. Depois, chega a
um estado de separação. Porque não aprecia o seu trabalho, cai num estado de separação.
E isso recebe o nome de “o esterco e as mulas de Isaac”. E posto que Isaac
corrigiu tudo sob a forma de “arrependimento por meio do amor”, e seus pecados
se transformaram em méritos, o benefício que obteve por meio do “esterco e
mulas” é maior que “o dinheiro e o ouro de Abimelech”.
Seu Kesef (Dinheiro) corresponde a Kisufim (Anseios)
pelo Criador. E Zahav (Ouro) corresponde a Ze Hav (Dê isto), referindo-se
ao anseio pela Torá, ou seja, o anseio por receber a Torá. Como Isaac corrigiu
tudo e alcançou o “arrependimento através do amor” também os seus pecados passaram
a ser considerados Méritos. E, deste modo, se tornou muito rico, já que não
existem mais do que 613 Mitzvot, mas os pecados e as transgressões são ilimitados.
POrtanto, Isaac se tornou rico, tal como está escrito: “E ele encontrou cem
portas”. O que significa que ele obteve cem por cento de Kedushá, sem
desperdício algum, pois também o desperdício foi corrigido nele.
É por isso que o teto da Sucá é feito com as
sobras do celeiro e da adega (e podem repetir o que disseram os nossos sábios: que
Moisés ficou rico com as sobras). Por fim, Sukot deve seu nome principalmente
a Isaac, que corresponde às Guevurot que se regozijam, e Sukot também
recebe seu nome de Moisés.
98. Espiritualidade é aquilo que nunca se
perde
(Eu ouvi em 1948)
Denomina-se Espiritualidade aquilo que nunca se perde. Portanto, o desejo de receber, com sua
intenção de receber para si mesmo, que é a forma sob a qual se encontra, é chamado “material”. É assim porque nessa forma ele será extinto e irá adotar a forma de “Com intenção de outorgar”.
Na espiritualidade, um lugar verdadeiro se denomina “o lugar da realidade”, pois
todos aqueles que entram ali, nesse espaço, vem e percebem as mesmas coisas. No
entanto, algo imaginário não se denomina de “um lugar verdadeiro” já que por
ser imaginário todos o imaginam de forma diferente.
Quando nos referimos às Setenta Faces da Torá, isso significa que ela tem setenta níveis. Em cada nível, a Tora é interpretada de acordo com o estado em que alguém se encontra. No entanto, um mundo representa
uma realidade, o que significa que qualquer um que alcance qualquer um dos setenta níveis naquele mundo, o atinge da mesma forma que todos os outros que venham a atingi-lo.
A partir disso é que se entende o que dizem os nossos sábios, que interpretaram os versículos da Torá. Eles afirmam que “isso é o que Abraão disse a Isaac”, e outros ditos similares de nossos sábios. Dizem o que se disse, e o que se explica nos versículos.
Assim, surge a seguinte pergunta: “Como é que eles souberam o que um disse ao outro?” Porque
aqueles que alcançaram o nível de Abraão (ou de qualquer outro) podem
ver e conhecer aquilo que Abraão viu e conheceu.
Por esta razão, eles sabem o que Abraão disse. E ocorre o mesmo com todos os demais ditos
de nossos sábios ao interpretar os versículos da Torá. Tudo isso porque eles também atingiram esse nível, e na espiritualidade cada
nível representa um nível de realidade. Cada um deles vê aquela realidade como todos aqueles que chegam a Londres, na Inglaterra, e
veem o que existe na cidade e o que se diz na cidade.
99. Não digas perverso ou justo
(Ouvi em 21 de Iyar, Jerusalém)
“O rabino Chanina Bar Papa disse: ‘Aquele Anjo,
nomeado na concepção, seu nome é Laila (Noite). Ele pega uma gota e a
coloca diante do Criador e diz a Ele: ‘Mestre do Mundo, o que essa gota deverá
se tornar, um herói ou um fraco, um sábio ou um tolo, um rico ou um indigente?’
Mas ele não diz ‘Um perverso ou um justo’” (Nidá, 16b).
Devemos interpretar isso
de acordo com a regra que diz que um tolo não pode ser justo, como disseram nossos
sábios: “O indivíduo não peca a não ser que um espírito de tolice tenha entrado
nele.” Isso é ainda mais verdadeiro no caso de alguém que foi um tolo a vida
inteira. Por isso, aquele que nasce tolo não tem escolha, pois ele foi
sentenciado a ser um tolo. Portanto, ao dizer “Ele não disse ‘Um perverso ou um
justo’, é como se ele tivesse escolha. Mas qual é o benefício se ele não disse
“Um justo ou um tolo”? Afinal, se ele é sentenciado a ser um tolo, é o mesmo
que ser sentenciado a se tornar um perverso!
Também devemos entender as palavras dos nossos
sábios: “O rabino Yochanan disse: ‘O Criador viu que os justos são poucos, Ele
se levantou e os plantou em cada geração, como foi dito: ‘Pois os Pilares da Terra
são do Eterno, e Ele colocou o mundo sobre eles.’’” O Rashi interpreta: “‘Ele
colocou o mundo sobre eles’, ou seja, Ele os dispersou em todas as gerações para
serem uma infraestrutura e sustento e fundação para amparar o mundo” (Yoma, 38b).
“Eles são poucos” significa que estão
diminuindo. Por isso, o que Ele fez para multiplicá-los? “Ele se levantou e os
plantou em cada geração.” Devemos perguntar: “Qual é o benefício de plantá-los
em cada geração, pelas quais eles se multiplicam?” Devemos entender a diferença
entre todos os justos estarem em uma única geração ou estarem dispersos por
todas as gerações, como o Rashi interpreta. Estar em múltiplas gerações sugere
multiplicar os justos?
Para entender o que
está acima,
devemos expandir e interpretar as palavras dos nossos sábios, de que o Criador
sentencia uma gota a ser um sábio ou um tolo, no sentido de que um indivíduo
que nasce fraco, sem força para superar sua inclinação, e nasce com um desejo
fraco e sem talentos, pois durante a Iniciação, quando começa o Trabalho do
Criador, deve estar apto a receber a Torá e a Sabedoria, como está escrito: “Dará
Sabedoria aos sábios”. Ele perguntou: “Se eles já são inteligentes, por que
eles ainda precisam de Sabedoria? Deveria ter dito ‘Dará Sabedoria aos tolos.’”
Ele explica que “sábio” quer dizer aquele que anseia pela Sabedoria
apesar de ainda não tê-la. Mas porque ele tem um desejo, e um desejo é chamado
um Kli, segue-se que aquele que tem um desejo e anseia pela Sabedoria é
o Kli no qual a Sabedoria brilha. Portanto, segue-se que um tolo
significa aquele que não tem anseio pela Sabedoria, cujo anseio é apenas por
suas próprias necessidades. Em termos de doação, um tolo é completamente
incapaz de alcançar qualquer doação, seja qual for.
Portanto, aquele que
nasce com tais qualidades, como ele pode alcançar o nível de um justo? Segue-se que ele
não tem escolha. Assim, qual é o benefício quando diz “Ele não disse ‘Um justo
ou um perverso’”? É para que ele tenha a possibilidade de escolha. Afinal, já
que nasceu insensato e fraco, ele não é mais capaz de ter uma escolha, pois é
completamente incapaz de qualquer superação e de ansiar pela Sua Sabedoria.
Para entender isso,
que mesmo um tolo pode ter uma escolha, o Criador fez uma correção, a qual nossos sábios chamam de “O
Criador viu que os sábios eram poucos; Ele se levantou e os plantou em cada
geração”. Nós perguntamos: “Qual é o benefício disso?”
Agora vamos entender
essa questão.
Sabe-se que é proibido criar laços com os perversos, mesmo quando não se age
como eles, como está escrito: “Nem participa da reunião dos insolentes” (Salmos
1:1). Isso significa que o pecado ocorre principalmente porque ele participa da
reunião dos insolentes, mesmo que se sente e aprenda Torá e cumpra Mitzvot.
Caso contrário, a proibição seria devido ao cancelamento da Torá e das Mitzvot.
Mas, antes, até mesmo se sentar com eles é proibido, pois o homem toma os
pensamentos e os desejos da pessoa de quem gosta.
E vice-versa: Se o
indivíduo não
tem nenhum desejo ou anseio por espiritualidade, e se encontra entre pessoas
que têm um desejo e anseio por espiritualidade, se ele gosta dessas pessoas,
também ele tomará a força delas para prevalecer, bem como os desejos e
aspirações delas, apesar de que, pela própria qualidade, ele não tem esses
desejos e anseios, nem o poder para supercar as suas inclinações. Mas, de
acordo com a graça e a importância que ele atribui a essas pessoas, ele recebe
novos poderes.
Agora podemos entender
as palavras: “O Criador
viu que os justos eram poucos”, no sentido de que não é qualquer pessoa que
pode se tornar um justo, por falta de qualidades para tanto, como está escrito
que ele nasceu um tolo ou um fraco. Também ele tem uma escolha e as suas
próprias qualidades não são uma desculpa. Isso
porque o Criador plantou os justos em cada geração.
Assim, uma pessoa tem
a escolha de ir para um lugar onde há justos. Ela pode aceitar a autoridade deles, e então
receberá todos os poderes que lhe faltam pela natureza de suas próprias
qualidades. Ela as receberá dos justos. Esse é o benefício em “Os plantou em
cada geração”, para que cada geração tivesse alguém a quem se voltar, a quem
aderir, e de quem receber a força necessária para se elevar ao nível de um
justo. Portanto, eles também se tornam, subsequentemente, justos.
Segue-se que “Ele não disse ‘Um perverso ou um justo’”
significa que ele tem uma escolha: Ele pode aderir aos justos para orientação,
e através deles receber a força pela qual, também eles, depois se tornarão
justos.
No entanto, se todos
os justos estivessem na mesma geração, os tolos e os fracos não teriam esperança de se
aproximar do Criador. Portanto, eles não teriam uma escolha. Mas ao dispersar
os justos em cada geração, cada pessoa tem o poder de escolha para se aproximar
e ser atraída pelos justos que existem em cada geração. Caso contrário, a Torá
de um indivíduo seria uma “Poção de morte”.
Podemos entender isso
a partir de um exemplo corpóreo. Quando duas pessoas ficam de frente uma para a outra, a mão
direita de uma está oposta à mão esquerda da outra, e a mão esquerda da outra está
oposta à mão direita da primeira. Há duas maneiras: A direita, o caminho dos
justos, que é apenas doar; e o caminho da esquerda, dos que querem apenas
receber para si mesmos, através do que se separam do Criador, que é apenas
doação. Portanto, eles são naturalmente separados da Vida das Vidas.
É por isso que os perversos nas suas vidas
são chamados “mortos”. Segue-se, portanto, que enquanto o indivíduo não for
premiado com a Dvekut (Adesão) ao Criador, ele é dois. Então, quando o
indivíduo aprende Torá, que é chamada direta, mas está à esquerda do Criador,
ou seja, está aprendendo Torá para receber para si mesmo, isso o separa Dele, e
a sua Torá se torna uma “Poção de morte” já que ele permanece separado, pois
quer que a sua Torá vista o seu corpo. Isso significa que ele quer que a Torá
aumente o seu corpo, e através disso a sua Torá se torna uma “Poção de morte”.
Contudo, quando uma
pessoa adere a Ele, um única autoridade é criada, e essa pessoa se une à Sua singularidade.
Então, o lado direito da pessoa é o lado direito do Criador, e então o corpo se
torna uma vestimenta para a alma da pessoa.
A maneira de saber se
o indivíduo está
andando no Caminho da Verdade é que quando ele se envolve em necessidades corporais
deveria ver que não se envolve nelas mais do que o necessário para as
necessidades da alma. Quando ele pensa que tem mais do que necessita para
vestir as necessidades da sua alma, é como uma vestimenta que a pessoa coloca
sobre seu corpo. Nesse momento, ele é meticuloso em manter o traje não muito
longo nem muito largo, mas vestindo seu corpo com precisão. Da mesma forma, ao
se envolver com as necessidades corporais, ele deveria ser meticuloso em não
ter mais do que necessita para a sua alma, ou seja, para vestir a sua alma.
Quanto à Dvekut com o Criador, nem todos
que desejam ficar com o Senhor podem chegar e ficar, pois isso é contra a
natureza humana, que foi criada com um desejo de receber, que é o amor próprio.
É por isso que precisamos dos justos da geração.
Quando uma pessoa
adere a um Rav de verdade, cujo único desejo é fazer boas ações, mas ela sente que não consegue fazer
boas ações, e que o objetivo será levar Contentamento ao Criador ao aderir a um
Rav verdadeiro e querer o carinho do rav, então essa pessoa faz coisas que seu
rav gosta, e odeia as coisas que seu rav odeia. Assim, ela pode ter Dvekut
com o seu Rav e receber os poderes do seu Rav, mesmo aqueles que ela não tem de
nascimento. Esse é o significado de plantar os justos em cada geração.
No entanto, de acordo
com isso é difícil
ver porque plantar justos em cada geração. Dissemos que foi pelos tolos e pelos
fracos. Mas Ele poderia ter resolvido de outra forma: Não criar tolos! Quem O
fez dizer que essa gota será um fraco ou um tolo? Ele poderia ter criado todos
sábios.
A resposta é que os tolos também são necessários,
pois eles são os transportadores do desejo de receber. Eles vêem que não têm
conselho próprio pelo qual se aproximar do Criador, então eles são como aqueles
sobre quem está escrito:
"Sairão e verão os cadáveres dos que se rebelaram contra mim; o verme
destes não morrerá, e o seu fogo não se apagará, e causarão repugnância a toda
a humanidade" (Isaías 66:24). Ele se tornaram cinzas sob os pés dos justos, pelas
quais os justos podem perceber o bem que o Criador lhes fez ao criá-los sábios
e fortes, e pelo que Ele os aproximou de Si.
Portanto, agora eles
podem agradecer e louvar ao Criador, pois eles vêem o estado humilde em que estão. Isso é
chamado “Cinzas sob os pés dos justos”, no sentido de que os justos andam sobre
elas e, assim, agradecem ao Criador.
Mas devemos saber que
os níveis
inferiores também são necessários. A Katnut (Pequenez) de um nível não é
considerada supérflua, como se fosse melhor que os níveis de Katnut
nascessem imediatamente com a Gadlut (Grandeza).
É como um corpo físico. Há órgãos
importantes, certamente, como o cérebro e os olhos, e assim por diante, e há os
órgãos que não são tão importantes, como o estômago, os intestinos, os dedos
das mãos e os dedos dos pés. Mas não podemos dizer que seja redundante um órgão
que executa uma função não tão importante. Ao contrário, tudo é importante. É o
mesmo com a espiritualidade: Também precisamos dos tolos e dos fracos.
Agora podemos entender
o que está escrito,
que o Criador disse: “Voltai agora para Mim e Eu voltarei para vós” (Malaquias
3:7). Significa que o Criador diz “Voltai” e Israel diz o oposto: “Faze-nos
retornar a Ti para que retornemos” (Lamentações 5:21).
O significado é que, durante o declínio do Trabalho, o
Criador diz “Voltai” primeiro. Isso leva uma pessoa a ascender no Trabalho do
Criador, e ela começa a chorar (“Faze-nos retornar”). Mas, durante o declínio,
ela não chora (“Faze-nos retornar”). Ao contrário, ela foge do Trabalho.
Portanto, a pessoa
deveria saber que quando chora (“Faze-nos retornar”), isso deriva de um Despertar de Cima, pois o Criador disse
anteriormente “Voltai”, pelo qual ela tem uma ascensão e pode dizer “Faze-nos retornar”.
Esse é o significado de “E quando a Arca se
punha em marcha, Moisés dizia: ‘Levanta-te, ó Eterno, e dissipem-se os Teus
inimigos’” (Números 10:35). “Se punha em marcha” quer dizer quando avançava na
servidão ao Criador, que é uma ascensão. Então Moisés disse “Levanta-te”. E
quando eles descansavam, ele dizia “Volte, Eterno”. E durante o resto do Trabalho
do Criador, precisamos que o Criador diga “Voltai”, ou seja, “Voltai para Mim”,
no sentido de que o Criador dá o despertar. Portanto, a pessoa deveria saber
quando dizer “Levanta-te” ou “Volte”.
Esse é o significado do que está escrito em Parashá
Akev: “E deverás lembrar por todo o caminho… De
saber o que estava no seu coração, se guardaria os mandamentos Dele ou não”.
“Guardaria os mandamentos Dele” é discernido como “Voltai”. “Ou não” é
discernido como “Levanta-te”, e nós precisamos de ambos. E o Rav sabe quando “Levantar-se”
e quando “Voltar”, pois as quarenta e duas jornadas são ascensões e descensos
que se desenrolam no Trabalho do Criador.
100. A Torá escrita e a Torá oral – 1
(Ouvi em Mishpatim, Tav-Shin-Gimel,
1943)
A Torá escrita é considerada “Despertar de Cima”,
e a Torá oral é considerada um “Despertar de baixo”. Juntas, são chamadas de “Ele
servirá por seis anos, e no sétimo sairá livre” (Êxodo 21:2).
É assim porque a essência do Trabalho está
especificamente onde há resistência. E isso é chamado Alma (Em aramaico:
Mundo), da palavra He’elem (Ocultação). Então, onde há ocultação, há
resistência, e então ali há espaço para o Trabalho. Esse é o significado das
palavras dos nossos sábios: “Por seis mil anos o mundo, e um arruinado.” Isso
significa que a ocultação será arruinada e não haverá mais Trabalho. Antes, o
Criador lhe cria asas, que são coberturas, para que ele tenha Trabalho.
101. Um comentário sobre o salmo “Para um líder entre rosas”
(Ouvi em 23 de Aleph Adar, Tav-Shin-Gimel, 28 de fevereiro de 1943)
“Para o líder” se refere a alguém que já venceu.
“Entre Shoshanim” (Rosas) se refere à Santa Shechiná (Divindade),
que diz respeito à passar de um estado de luto para um estado de Sasson
(Júbilo). Como há muitos estados de ascensões e descensos, e os descensos são
chamados Shoshanim, que vem das palavras “Morder seus Shinaim (dentes)”,
então as questões sobre os perversos não deveriam ser respondidas, mas, ao
invés disso, deixar que “Mordam os dentes”. A partir de múltiplos golpes, ou
seja, depois de muitas “Mordidas de dentes”, chegamos às rosas. Por isso, há
muitos discernimentos de Sasson aqui, e por isso está dito no plural, “Rosas”.
Sobre os filhos de Korah, da palavra Karachah (calvo), no sentido
de que o cabelo se tornou calvo. Se’arot significam Hastarot (Ocultações),
da palavra Se’ara (Tempestade). Sabe-se que “A recompensa vem de acordo
com o sofrimento”. Isso significa que, quando há Se’arot há espaço para
trabalhar. E quando está corrigido, o cabelo vem pela tempestade, por meio de:
“Esse é o portão do Eterno”. Quando já foram corrigidas todas as tempestades, e
não há mais ocultações, então não há mais espaço para trabalhar e, portanto,
não há lugar para recompensa.
Assim, quando uma
pessoa chega ao estado de Korah, ela não pode mais atrair fé, chamada “O portão do Eterno”. É assim
porque, se não há portão, ela não pode entrar no Palácio do Rei, pois ele é a Fundação,
já que toda a estrutura é construída sobre fé.
“Filhos de Korah” vem da palavra Biná.
Eles entenderam que Korah é considerado esquerda, da qual se estende o
Inferno. É por isso que quiseram continuar a amizade de antes, do tempo em que
eles estavam na forma de “Eterno, ouvi o relato sobre Ti e tenho medo” (Zohar,
Beresheet 4:7). Ou seja, com a força que haviam atraído do passado, eles podiam
suportar os estados e avançar de força em força. Esse é o significado de “Os
filhos de Korah não morreram”. Ou seja, eles entenderam que não poderiam atrair vida se permanecessem no
estado de Korah, então eles não morreram.
“Maskil (Aprendeu) uma canção de amores”, no
sentido de que aprenderam que é completa a medida da amizade com o Criador.
“Meu coração transborda.” O transbordamento
no coração ocorre por meio de “Não revela do coração à boca”. Isso significa
que não há nada a extrair da boca, que é apenas recepção no coração, como
sussurro nos lábios.
“Uma coisa boa”. A fé é chamada de “Uma
coisa boa”.
“Eu digo, ‘meu trabalho é para o rei.’”
Quando recebe a Luz da fé, ele diz “Meu trabalho é para o rei”, e não para mim
mesmo. E então ele é recompensado com “Minha língua é a caneta de um escritor
apressado”, quando é premiado com o discernimento da Torá escrita, que é a
linguagem de Moisés.
“Você é mais bela que os filhos dos homens”,
quando ele diz à Shechiná que a sua beleza vem das pessoas, ou seja, do
que as pessoas pensam sobre ela, que é considerado insignificante. A beleza
nasce, precisamente, disso.
“A graça é derramada em seus lábios.” A
graça pertence especialmente a matérias sobre as quais o louvor não pode ser
dito, mas ainda as queremos. Então dizemos que é graciosa.
“Sobre seus Sfataim (Lábios)” se
refere ao Sof (Fim), ou seja, que ele viu desde o Fim do Mundo até onde
esse termina.
101. Um comentário sobre o salmo “Para um líder entre rosas”
(Ouvi em 23 de Aleph Adar, Tav-Shin-Gimel, 28 de fevereiro de 1943)
“Para o líder” se refere a alguém que já venceu.
“Entre Shoshanim” (Rosas) se refere à Santa Shechiná (Divindade),
que diz respeito à passar de um estado de luto para um estado de Sasson
(Júbilo). Como há muitos estados de ascensões e descensos, e os descensos são
chamados Shoshanim, que vem das palavras “Morder seus Shinaim (dentes)”,
então as questões sobre os perversos não deveriam ser respondidas, mas, ao
invés disso, deixar que “Mordam os dentes”. A partir de múltiplos golpes, ou
seja, depois de muitas “Mordidas de dentes”, chegamos às rosas. Por isso, há
muitos discernimentos de Sasson aqui, e por isso está dito no plural, “Rosas”.
Sobre os filhos de Korah, da palavra Karachah (calvo), no
sentido de que o cabelo se tornou calvo. Se’arot significam Hastarot
(Ocultações), da palavra Se’ara (Tempestade). Sabe-se que “A recompensa
vem de acordo com o sofrimento”. Isso significa que, quando há Se’arot há
espaço para trabalhar. E quando está corrigido, o cabelo vem pela tempestade,
por meio de: “Esse é o portão do Eterno”. Quando já foram corrigidas todas as
tempestades, e não há mais ocultações, então não há mais espaço para trabalhar
e, portanto, não há lugar para recompensa.
Assim, quando uma
pessoa chega ao estado de Korah, ela não pode mais atrair fé, chamada “O portão do Eterno”. É assim
porque, se não há portão, ela não pode entrar no Palácio do Rei, pois ele é a Fundação,
já que toda a estrutura é construída sobre fé.
“Filhos de Korah” vem da palavra Biná.
Eles entenderam que Korah é considerado esquerda, da qual se estende o
Inferno. É por isso que quiseram continuar a amizade de antes, do tempo em que
eles estavam na forma de “Eterno, ouvi o relato sobre Ti e tenho medo” (Zohar,
Beresheet 4:7). Ou seja, com a força que haviam atraído do passado, eles podiam
suportar os estados e avançar de força em força. Esse é o significado de “Os
filhos de Korah não morreram”. Ou seja, eles entenderam que não poderiam atrair vida se permanecessem no
estado de Korah, então eles não morreram.
“Maskil (Aprendeu) uma canção de amores”, no
sentido de que aprenderam que é completa a medida da amizade com o Criador.
“Meu coração transborda.” O transbordamento
no coração ocorre por meio de “Não revela do coração à boca”. Isso significa
que não há nada a extrair da boca, que é apenas recepção no coração, como
sussurro nos lábios.
“Uma coisa boa”. A fé é chamada de “Uma
coisa boa”.
“Eu digo, ‘meu trabalho é para o rei.’”
Quando recebe a Luz da fé, ele diz “Meu trabalho é para o rei”, e não para mim
mesmo. E então ele é recompensado com “Minha língua é a caneta de um escritor
apressado”, quando é premiado com o discernimento da Torá escrita, que é a
linguagem de Moisés.
“Você é mais bela que os filhos dos homens”,
quando ele diz à Shechiná que a sua beleza vem das pessoas, ou seja, do
que as pessoas pensam sobre ela, que é considerado insignificante. A beleza
nasce, precisamente, disso.
“A graça é derramada em seus lábios.” A
graça pertence especialmente a matérias sobre as quais o louvor não pode ser
dito, mas ainda as queremos. Então dizemos que é graciosa.
“Sobre seus Sfataim (Lábios)” se
refere ao Sof (Fim), ou seja, que ele viu desde o Fim do Mundo até onde
esse termina.
102. E tomareis para vós o fruto da árvore
formosa (Etrog)
(Ouvi em Ushpizin de Yosef Sucót)
O verso “E tomarás para vós o fruto da árvore
formosa (Etrog)” (Levítico 23:40) se refere a um justo, chamado “Árvore Frutífera”.
Essa é a completa diferença entre a Kedushá (Santidade) e a Sitra
Achra (Ooutro Lado), pois “o outro deus é estéril e não dá frutos”.
Por outro lado, um
justo é chamado Hadar
(citrus, ornamento) porque ele dá frutos. Ele Dar (vive) na sua
árvore ano após ano. É por isso que está escrito sobre José: “Era ele quem Mashbir
(vendia) para todas as pessoas da terra”, pois ele os Shover (dividia, alimentava)
com as frutas que tinha, enquanto eles não tinham frutas. Por isso, cada um
sentiu seu próprio estado, fosse do lado bom ou do lado contrário.
Esse é o significado de “José sustentou com
pão, de acordo com os bebês.” Os “bebês” são considerados GAR, como em “E
serão por filactérios entre os teus olhos” (Deuteronômio 6:8), que é o Tefilin
da cabeça. Por essa razão, José é chamado “O filho mais novo, um filho sábio”.
Esse é o significado de “Para preservar vossa vida Deus me mandou adiante”
(Gênesis 45:5), que é a “Luz de Haya”, considerada GAR.
Esse é o significado do verso “Te dou uma porção (da terra) a
mais sobre teus irmãos, que tomei com minha espada e com meu arco da mão do Amoreu”
(Gênesis 48:22). (Seus filhos tomaram duas partes. E, de acordo com RASHI,
“porção” significa parte.) Ou seja, através dos filhos, pois os filhos são
chamados “Frutos”, Jacó deu isso a José.
Esse é o significado do que está escrito sobre Saul: “Dos
ombros para cima sobressaía-se em sua altura frente a todo o povo” (Samuel 1,
9:2). E esse é o significado de “Toma este manto e torna-se nosso governante”
(Isaías 3:6). Esse também é o significado de “Bebês, por que eles vêm? Para
recompensar aqueles que os trazem.” Ele perguntou: “Por que eles precisam de Sabedoria
se o importante não é saber, mas agir?” Ele respondeu: “Para recompensar
aqueles que os trazem”, pois a Sabedoria leva à ação.
Sobre a disputa entre
Saul e Davi, não havia
defeito em Saul. É por isso que ele tinha um ano de idade quando reinou, e não
precisou prolongar o reinado, pois completou tudo em um curto período. Davi, no
entanto, precisava governar por quarenta anos. Davi era filho de Judá, o filho
de Léa, o mundo oculto, enquanto Saul vinha de Benjamin, o filho de Raquel, o
mundo revelado, e portanto oposto a Davi. É por isso que Davi disse “Eu sou
paz”, no sentido de que alcanço a todos e amo a todos, “Mas mesmo quando lhes
falo de paz, eles preferem a guerra” (Salmos 120:7).
Da mesma forma, Absalão era o oposto de Davi. Esse é o
significado do pecado de Jeroboão, filho de Nebate: O Criador o segurou por
suas vestes e lhe disse “Eu e você e o filho de Yishai (Jessé)
caminharemos no Jardim do Éden”. Ele perguntou: “Quem vai liderar?” E o Criador
lhe disse: “O filho de Yishai vai liderar.” E então ele respondeu: “Não
quero.”
A questão é a ordem dos níveis: O mundo oculto
vem primeiro, e então vem o mundo revelado. Esse é o significado de “Eu tenho o
suficiente”, “Eu tenho tudo”. “Suficiente” é GAR, e “Tudo” é VAK.
Esse também é o significado de “Como Jacó poderá se sustentar, sendo ele tão
pequeno” (Amós 7:5). Esse é o sentido de Jacó ter tirado a primogenitura de
Esaú. Depois, tudo lhe foi dado, pois ele também tinha GAR, que chegou a
ele através de José, por meio de “E José sustentou”.
Esse é o significado de “Léa era odiada”, de
quem se estende todo o ódio e todas as disputas entre discípulos sábios. Esse
também é o significado da controvérsia entre Shamai e Hillel. No futuro, quando
os dois campos se unirem, o campo de José e o campo de Judá, esse é o sentido
do que Judá disse a José: “Ó, meu senhor”, pois então havia a unificação entre
Judá e José. Mas Judá deve liderar.
Isso explica o fato de
o ARI ser o Messias, filho de José. É por isso que ele pôde revelar tamanha Sabedoria, pois ele tinha
permissão do mundo revelado. Essa disputa vem de “E os filhos lutavam no seu
ventre” (Gênesis 25:22), pois Esaú tinha as boas vestes que estavam com Rebeca.
103. Aquele cujo coração o impelir
(Ouvi na véspera do Shabat, Beresheet, Tav-Shin-Gimel,
Outubro de 1942)
No verso “E tomarei Minha oferenda de todo homem
cujo coração o compelir a isso” (Êxodo 25:2) está o significado de “A
substância de uma doação da Santidade”. Em outras palavras, como o indivíduo
chega a um estado de oferenda? Através da Santidade.
Isso significa que, se
o indivíduo se
santifica com aquilo que é permitido, ele então chega a um estado de doação, o
qual é a Shechiná (Divindade), chamada “Minha Doação”. Esse é o
significado de “De todo homem
cujo coração o compelir a isso”, com todo o seu coração, ou seja, ele é recompensado com “Minha Doação”
se doa todo o seu coração, para aderir à Shechiná.
No verso “No dia do seu casamento e no dia do
júbilo do seu coração” (Cântico dos Cânticos 3:11), “Casamento” significa estar
num nível inferior, que é humildade. Se o indivíduo toma sobre si a servidão ao
Criador em um estado de humildade, e, ao mesmo tempo, se é feliz com esse
trabalho, esse é um nível importante. Então, ele é chamado de “Noivo” da Shechiná.
104. E o sabotador estava sentado
(Ouvi na véspera do Shabat, Beresheet, Tav-Shin-Gimel,
Outubro de 1942)
No Zohar, na porção Noah: “Houve um dilúvio, e o sabotador
estava sentado no meio dele”. Ele perguntou: “Um dilúvio significa uma
inundação de água. Isso, em si, é mortal e sabotador. Então, o que significa
que o sabotador estava sentado no meio dele, no meio do dilúvio? E ainda, qual
é a diferença entre o dilúvio e o sabotador?”
Ele respondeu que o
dilúvio são os
tormentos corpóreos, ou seja, os tormentos do corpo. Dentro disso, ou seja, no
interior dos tormentos do corpo, há ainda um outro sabotador, que sabota a
espiritualidade. Isso significa que as aflições do corpo lhe trazem pensamentos
invasivos até que esses pensamentos invasivos sabotem e matem a sua
espiritualidade.
105. Um discípulo sábio e bastardo precede um Sumo Sacerdote comum
(Ouvi em 15 de Cheshvan, Tav-Shin-Hey,
1º de novembro de 1944, Tel-Aviv)
“Um discípulo sábio e bastardo precede um
Sumo Sacerdote comum.”
Um bastardo significa
um deus estrangeiro, cruel. Isso se refere à ilegitimidade. Quando o indivíduo viola
a proibição de se voltar a outros deuses, eles geram dele um bastardo.
Voltar-se a outros
deuses significa que copula com a Sitra Achra (Outro Lado), que é desnuda. A respeito
disso é dito: “Aquele que se aproxima da desnuda e engendra bastardo dela”.
A regra dos patrões é oposta à visão da Torá.
Assim, há uma disputa entre plebeus e discípulos sábios. E aqui há uma grande
diferença se a pessoa gerou o bastardo. Um discípulo sábio afirma que também
isso vem do Criador, e que Ele é o causante dessa nova forma que é o bastardo.
O perverso, no entanto, diz que é apenas um pensamento
invasivo que chegou devido a um pecado, e ele não precisa de nada além do que
corrigir seus pecados.
Um discípulo sábio, porém, tem a força para
acreditar que também isso, ou seja, a sua forma presente, precisa ser vista em
sua essência verdadeira. Ao mesmo tempo, ele deve tomar sobre si o fardo do
Reino dos Céus ao ponto da devoção.
Isso significa que
também sobre o
que é considerado de pouca importância, o mais baixo e mais oculto, ainda
assim, em tal momento, deve ser atribuído ao Criador, pois o Criador criou nele
tal imagem da Providência, chamada “Pensamentos Invasivos”. E ele trabalha
acima da razão em algo tão pequeno, como se tivesse grande Daat (Conhecimento)
na Kedushá (Santidade).
E um grande
sacerdote é aquele
que serve ao Criador por meio de “E eles são muitos” ou seja, eles têm muita
Torá e muitas Mitzvot e não lhes falta nada. Assim, se o indivíduo se
conecta e aceita certo grau de ordem no trabalho, a regra indica que um
bastardo que seja um discípulo sábio vem primeiro. Isso quer dizer que a pessoa
aceita a bastardia na forma de um discípulo sábio.
“Sábio” é o
nome do Criador. Seu discípulo é aquele que aprende do Criador. Apenas um
discípulo sábio pode dizer que tudo, todas as formas que lhe aparecem durante o
trabalho, apareceram por que “porque vieram do Criador”.
Mas um sacerdote
comum, apesar de servir ao Criador e ser excelente na Torá e no Trabalho, não foi recompensado com “Aprender
da boca do Criador”, e este ainda não é considerado um “Discípulo sábio”.
Portanto, esse estado
não pode
ajudá-lo de maneira alguma a alcançar a verdadeira perfeição, já que é regido
pela regra dos patrões, e a regra da Torá é somente aquela que se aprende da
boca do Criador. Somente um discípulo sábio conhece a verdade, que o Criador é
o causante de todas questões.
Agora podemos entender
as palavras dos nossos sábios. “O rabino Shimon ben Menasia estava estudando todo o Etin
(“o”, na forma plural) na Torá”. Et significa inclusão. Isso significa
que todos os dias ele adicionava Torá e Mitzvot mais do que no dia
anterior. E mais tarde ele alcançou o estado de “Temerás o Senhor teu Deus”, que
implica que não pode mais seguir incrementando. Chegou a um ponto em que não
conseguia acrescentar mais nada e chegava, Deus não o permita, ao conbtrário.
E o Rashi fez a
seguinte interpretação: “Ben Menasia sugere que compreendeu Menusá (Fuga), que significa fugir e se retirar do
labor. Também Ben[8] Haamsuny compreendeu a Verdade, e a forma que a Verdade
tem, e ele permanecia em guarda e não podia avançar até que o rabino Akiva
viesse e explicasse Et (o), incluindo os sábios discípulos. Isso
significa que é possível receber alguma ajuda através da adesão com discípulos
sábios.
Em outras palavras, apenas
um discípulo
sábio pode te ajudar, e nada mais. Mesmo se o indivíduo for excelente em Torá,
ele ainda será chamado “Um comum” se não tiver sido recompensado com aprender
da boca do Criador.
Portanto, o indivíduo deve se render perante um discípulo sábio
e aceitar que o discípulo sábio lhe acrescente, sem discutir e acima da razão.
Daí que “Sua medida seja maior que a terra” (Jó
11:9). Isso significa que a Torá começa depois da terra. Ou seja, se é maior
que a terra, então há uma regra de que nada pode começar no meio. Portanto, se
o indivíduo quer começar, o começo é depois da terra, depois do mundanismo (E
esse é o significado de “Um Sumo Sacerdote comum”, no sentido de que mesmo se o
trabalho do indivíduo é nobre, ele ainda estará no mundanismo caso não tenha
recebido a luz da Torá).
Atingir Lishmá (Em Seu nome) requer aprender muito em Lo
Lishmá (Não em Seu nome). Isso significa que o indivíduo deveria se
esforçar e exercer Lo Lishmá, e então poderá enxergar a Verdade de que
ele ainda não foi premiado com Lishmá. No entanto, quando o indivíduo
não quer se esforçar com grandes empenhos ele não consegue enxergar a Verdade.
Em outra ocasião, ele disse que o homem deveria estudar
muita Torá Lishmá a fim de ser recompensado com a visão da Verdade: de
que está trabalhando em Lo Lishmá. O trabalho Lishmá é
considerado Recompensa e Castigo, o qual é considerado Malchut. E a Torá
Lo Lishmá é considerada ZA, considerado Providência Particular.
É por isso que os reis de Israel, todos os
quais foram premiados com Providência Particular, não tinham nada mais a fazer,
pois não tinham nada a acrescentar. É por isso que nossos sábios disseram “Um
rei de Israel não julga nem é julgado”. Assim, eles não têm lugar nenhum no
próximo mundo pois já que vêem que o Criador faz tudo eles não fazem nada.
Esse é o significado de Izevel (Jezebel),
esposa de Ahav. Eles interpretaram que a sua esposa discutiu, Ei Zevel (Onde
há rejeição), no sentido de “Onde há rejeição no mundo?” Ela viu que tudo era
bom. E Ah Av (Ahav) significa que ele era Ah (Irmão) do Av (Pai)
no Céu. Mas os reis da casa de Davi são julgados porque os reis da casa de Davi
tinham o poder de unir o Criador e a Sua Shechiná (Divindade), apesar de
serem mutualmente contraditórios, pois a Providência é oposta ao discernimento
de Recompensa e Castigo.
Esse é o poder dos grandes justos, pois eles
podem unir o Criador à Shechiná, ou seja, a Providência Particular com Recompensa
e Castigo. E justamente a partir dos dois emerge a perfeição completa e
desejável.
106. O que sugerem as doze chalot no Shabat
(Ouvi em Elul, Agosto de 1942)
Nas canções de Shabat, está escrito: “Nos
revelará o sabor de doze chalot (O pão do Shabat), as quais são uma letra em
Seu nome, multiplicada e enfraquecida.”
Devemos interpretar as
palavras do Santo ARI.
Sabe-se que dois Vavs foram criados pelo segundo Tzimtzum (Restrição),
o lado direito e o lado esquerdo. Esse é o significado da multiplicação, a
partir da palavra “Multiplicar”. E a partir disso, do poder de correção do
segundo Tzimtzum, quando havia a associação da qualidade de misericórdia
com o julgamento, o julgamento se tornou mais fraco do que era antes do adoçamento.
Depois, os dois Vav brilharam em Malchut, o que
significa “Os Zayins reunidos”. Os Zayins são Malchut,
chamada “Setes”, que reúnem em si os dois Vavs.
O sétimo dia é considerado Gmar Tikkun (O
Fim da Correção), discernido como o Fim dos Dias. No entanto, ele também brilha
nos seis mil anos. Esse é o significado de seis dias de trabalho, discernidos
como “Pois Deus criou para fazer”. E o Shabat é chamado “Descanso” como está
escrito: “E no sétimo dia não trabalhei, descansei” (Êxodo 31:17).
Isso é considerado Shabat, o qual brilha
nos seis mil anos, pois então o Shabat é considerado descanso, como uma pessoa
que carrega um fardo e pára no caminho para descansar e recuperar sua força.
Depois, ele deve carregar o peso mais uma vez. Mas no Shabat de Gmar Tikkun não
há nada mais a adicionar. Assim, não há mais qualquer trabalho.
107. A respeito dos dois anjos
(Ouvi em Tetzavê, Tav-Shin-Gimel, Fevereiro de 1943, Jerusalém)
Sobre os dois anjos
que acompanham o indivíduo na véspera do Shabat, um anjo bom e um anjo mau. Um anjo bom é
chamado “Direita”, pela qual o indivíduo se aproxima da servidão ao Criador.
Isso é chamado “A direita aproxima”. E o anjo mau é considerado “Esquerda”, que
afasta. Isso significa que traz pensamentos invasivos, seja na mente ou no
coração.
Quando o indivíduo prevalece sobre o anjo mau e se
aproxima do Criador, no sentido de que a cada vez ele supera o mal e se conecta
ao Criador, quer dizer que, através dos dois anjos, ele chegou mais próxima da Dvekut
(adesão) com o Criador. Isso significa que ambos executaram uma única tarefa, fizeram
com que ele aderisse ao Criador. Nesse estado, o indivíduo diz “Venha em paz”.
E quando completou
todo o seu trabalho e colocou toda a esquerda na Kedushá (Santidade), como está escrito, “Não há
onde se esconder de Ti”, o anjo mau não tem mais nada a fazer, pois a pessoa já
superou todas as dificuldades apresentadas pelo mal. Nesse momento, o anjo mau
está ocioso. Nesse momento, a pessoa diz “Vá em paz”.
108. Se você me deixar por um dia, eu te deixarei por dois
(Ouvi em 1943, Tav-Shin-Gimel,
Jerusalém)
Toda pessoa se
encontra afastada
do Criador por causa do seu desejo de receber. Essa é a única coisa que a
mantém distante Dele. Contudo, como a pessoa não anseia pela espiritualidade,
mas pelos prazeres mundanos, a sua distância do Criador é “de um dia”, ou seja,
a distância de um dia, o que significa que está afastada Dele em apenas um aspecto:
Por estar imersa no desejo de receber os desejos deste mundo.
No entanto, quando uma
pessoa se aproxima do Criador e recusa a recepção neste mundo ela é considerada próxima
ao Criador. Mas, se depois, ela falha na recepção do próximo mundo, então está
afastada do Criador porque quer receber os prazeres do próximo mundo, e também
cai na recepção dos prazeres deste mundo. Assim, ela se torna distante do
Criador por dois dias: 1) Ao receber prazeres deste mundo, ao qual caiu
novamente; e 2) Quando tem o desejo de receber a Coroa do próximo mundo. Isso é
assim porque, ao se envolver com Torá e Mitzvot, a pessoa força o
Criador a lhe recompensar pelo seu trabalho na Torá e nas Mitzvot.
Acontece que, no início, caminhou um dia e se aproximou de
servir ao Criador, e depois andou para trás por dois dias. Assim, agora, essa
pessoa se tornou necessitada de dois tipos de recepção: 1) Deste mundo, 2) Do
próximo mundo. Portanto, ela passou a caminhar no estado oposto.
O conselho para isso é ir sempre pelo Caminho da Torá, o qual
significa doação. A ordem deveria ser que primeiro a pessoa deveria ter cuidado
com as duas bases: 1) O cumprimento da Mitzvá; 2) A sensação de prazer a
partir da Mitzvá. A pessoa deveria acreditar que o Criador obtém prazer
quando guardamos os Seus mandamentos.
Portanto, a pessoa
deveria sempre guardar a Mitzvá na prática, e acreditar que o Criador obtém prazer quando o inferior
guarda Suas Mitzvot. Nisso não há diferença entre uma grande Mitzvá e
uma pequena Mitzvá. Ou seja, o Criador obtém prazer mesmo dos menores
atos que são feitos por Ele.
Depois, há um resultado, o qual é o principal objetivo que se deveria perseguir. Em
outras palavras, uma pessoa deveria sentir deleite e prazer por causar
contentamento ao seu Fazedor. Essa é a principal ênfase do Trabalho, e isso é
chamado “Servir ao Criador com alegria”. Essa deveria ser a recompensa pelo
trabalho de alguém, receber deleite e prazer por ter sido recompensado com
deleitar o Criador.
Esse é o significado de “O peregrino que está
no meio de ti se elevará acima de ti, muito acima… Ele te emprestará e tu não
lhe emprestarás” (Deuteronômio 28:43-4). O “estrangeiro” é o desejo de receber
(quando se começa a servir ao Criador, o desejo de receber é chamado
“estrangeiro”. E, antes disso, é um gentio completo).
“Ele te emprestará.” Quando ele dá força
para trabalhar, ele dá a força por meio de empréstimo. Isso significa que
quando se passa um dia de Torá e Mitzvot, apesar de não recebido
instantaneamente a recompensa, “o estrangeiro” ainda acredita que, depois, ele
pagará pelos poderes concedidos pelo Trabalho.
Por isso, após o Dia de Trabalho, o desejo de receber
vem ao indivíduo e pede pela dívida prometida, a recompensa pelos poderes que o
corpo lhe deu a fim de se envolver com a Torá e as Mitzvot. Mas o
indivíduo não concede e então o “estrangeiro” chora: “O que é esse trabalho?
Trabalhar sem recompensa?” Por isso, mais tarde, o “estrangeiro” não quer dar a
Israel a força para trabalhar.
“E tu não lhe emprestarás.” Se tu o
alimentares e pedires que ele te dê força para trabalhar, então ele diz que não
tem nenhuma dívida a te pagar pela comida que estás oferecendo, já que “Anteriormente,
eu te dei força para o trabalho sob a condição que tu me comprasses posses.
Assim, o que estás me dando agora é inteiramente de acordo com a condição
prévia. Portanto, agora vens a mim para te dar mais força para o trabalho, para
que tu me tragas novas posses?”
Assim, o desejo de
receber se tornou esperto e usa a esperteza para calcular a lucratividade da
questão. Às
vezes, ele diz que se contenta com pouco, que suas posses são o suficiente,
então ele não quer dar força ao indivíduo. E, às vezes, ele diz que o caminho
que o indivíduo está tomando é perigoso, e que talvez seus esforços sejam em
vão. às vezes, ele diz que o esforço é maior que a recompense e, portanto, “eu
não darei força para o trabalho”.
Então, quando o indivíduo pede força para
andar no Caminho do Criador, a fim de doar, e que tudo seja apenas para
aumentar a Glória dos Céus, o “estrangeiro” diz: “O que eu vou ganhar com
isso?” Então ele vem com os famosos argumentos, tais como “Quem” e “O quê”, no
sentido de “Quem é o Eterno para que eu escute a Sua voz?” (Êxodo 5:2), como
argumentou o Faraó, ou “O que é esse trabalho para você?”, o argumento dos
perversos.
Tudo isso é porque ele tem um argumento justo, de
que esse era o acordo firmado entre eles. E isso é chamado “Se não ouvires a
voz do Eterno” (Deuteronômio 28:15), e então ele reclama porque as condições
não foram mantidas.
Mas quando se obedece à voz do Criador logo na entrada (entrada
é algo constante, porque sempre que há uma queda é preciso recomeçar. É por
isso que é chamada uma “entrada”. Naturalmente, há muitas saídas e muitas
entradas), o indivíduo diz ao seu corpo: “Saiba que eu quero começar a servir
ao Criador e a minha intenção é apenas doar, e não receber qualquer recompensa.
Não deves esperar que vá receber qualquer coisa pelos teus esforços, pois é
tudo a fim de doar.”
E se o corpo pergunta:
“Qual é o
seu benefício a partir desse trabalho?”, ou seja, “Quem é o beneficiário desse
trabalho pelo qual quero me esforçar e labutar?” Ou ele pergunta de forma mais
simples, “Por quem estou trabalhando tanto?” A resposta deveria ser: “Eu tenho
fé nos sábios, e eles disseram que eu deveria acreditar na fé abstrata, acima
da razão, pois o Criador assim nos ordenou, a tomar sobre nós a fé, pois Ele
nos ordenou a guardar a Torá e as Mitzvot. E devemos também acreditar
que o Criador recebe prazer quando guardamos a Torá e as Mitzvot com fé
acima da razão. Além disso, um indivíduo deveria se alegrar com o prazer do
Criador a partir do seu trabalho.”
Portanto, há quatro coisas aqui:
1. Acreditar nos sábios, que é verdade o que disseram.
2. Acreditar que o
Criador ordenou o envolvimento com a Torá e as Mitzvot apenas através da fé
acima da razão.
3. Há contentamento quando as criaturas
guardam a Torá e as Mitzvot com base na fé.
4. O indivíduo deveria receber deleite, prazer e
alegria por ter sido recompensado com agradar ao Rei. E a medida da grandeza e
da importância do trabalho do homem é mensurada pela medida de contentamento
que recebe durante o seu trabalho. Isso depende da medida de fé com que ele
acredita no Superior.
Assim, quando se
obedece à voz do
Criador, todos os poderes recebidos do corpo não são considerados recebimento
de um empréstimo que deva ser devolvido, isto é, a modo de “se não ouvires a
voz do Eterno”. E se o corpo reclamar: “Por que eu
deveria dar força para o trabalho quando não me prometes nada em troca?”, o
indivíduo deveria responder: “Porque é para isso que foste criado. O que posso
fazer se o Criador te odeia, como está escrito no santo Zohar, que o Criador
odeia os corpos.”
Por outro lado, quando o Zohar diz que o Criador odeia
os corpos, refere-se especificamente aos corpos dos servos do Criador, pois ele
querem ser eternos receptores, assim como querem receber também a Coroa do
próximo mundo.
E isso é considerado “E tu não lhe emprestarás.”
Isso significa que não precisas dar nada pela força que o corpo te deu para o
trabalho. Mas se tomares emprestado, se deres a ele qualquer prazer, será
apenas como um empréstimo, e ele te dará força para o trabalho, mas não de graça.
Ele deve sempre dar
força para o
trabalho, de graça. Não dês a ele qualquer prazer e sempre demandes dele força
para o trabalho, pois “O devedor é servo do credor.” Assim, ele será sempre o
servo e tu serás o mestre.
109. Dois tipos de carne
(Ouvi em 20 de Cheshvan)
Geralmente,
distinguimos entre dois tipos de carne: carne de animal e carne de peixe, e em
ambas há sinais
de Tuma’a (Impureza). A Torá nos dá sinais pelos quais saber como
evitá-las a fim de não cair no domínio da Tuma’a que há nelas.
No peixe, há os sinais das barbatanas e das escamas.
Quando esses sinais são vistos no peixe, sabe-se como ser cuidadoso e não cair
nas mãos da Tuma’a. Snapir (Barbatana) indica Soneh-Peh-Ohr (Odiar-Boca-Luz). Isso se refere a Malchut,
chamada “Boca”, e todas as Luzes vêm dela, a qual é discernida como fé.
Quando o indivíduo vê que está no estado de um sabor de
poeira, num momento em que deveria acreditar, ele sabe, com certeza, que
deveria corrigir suas ações. Isso é chamado “Shechiná (Divindade) no pó”,
e o indivíduo deveria rezar para levantar a Shechiná do pó.
Kaskeset (Escamas) significa que num momento de Snapir ele
não é capaz de nenhum Trabalho. Mas quando superar o Snapir, uma questão
a respeito da Providência aparece na sua mente. Isso é chamado Kash (Palha),
e então ele cai do Trabalho. Depois, ele se fortalece e começa a trabalhar
acima da razão, e outra dúvida sobre a Providência aparece na sua mente.
Assim, ele tem Kash duas vezes, as quais são Kas-Keset.
Sempre que supera acima da razão, ele ascende e depois descende. Então, o
indivíduo vê que não consegue superar devido à proliferação de dúvidas. Nesse
estado, ele não tem outra escolha a não ser chorar ao Criador, como está
escrito: “E os filhos de Israel suspiraram pelo trabalho e gemeram, e os seus
clamores pelo trabalho subiram a Deus” (Êxodo 2:23), e Ele os retirou do Egito,
ou seja, de todos as dificuldades.
Nossos sábios declararam uma regra famosa, de que
o Criador diz “Ele e Eu não podemos habitar na mesma morada”, pois estão em
oposição um ao outro. É assim porque há dois corpos no homem, o corpo interno e
o corpo externo. O sustento espiritual veste o corpo interno, discernido como
fé e doação, chamado “Mente e Coração”. E o corpo externo tem o sustento
corpóreo, que é Saber e Receber.
No meio, entre o corpo
interno e o corpo externo, há um corpo intermediário, o qual não carrega o próprio nome. Ao invés
disso, se o indivíduo faz boas ações, o corpo intermediário se une ao corpo
interno. E se o indivíduo faz más ações, o corpo intermediário se une ao corpo
externo. Portanto, ou o indivíduo tem sustento corpóreo ou sustento espiritual.
Assim, como há oposição entre o interno e o externo, se
o corpo intermediário se une ao corpo interno, isso é considerada a morte do
corpo externo. E se ele se une ao corpo externo, é a morte do corpo interno,
pois nesse estado a escolha está no corpo intermediário: continuar a aderir à Kedushá
(Santidade) ou o contrário.
110. Um campo que o Eterno abençoou
(Ouvi emTav-Shin-Gimel,
1942-1943)
“Um campo que o Eterno abençoou.” A Shechiná
(Divindade) é chamada “Um campo”. Às vezes, um Sadeh (Campo) se torna um
Sheker (Mentira). O Vav no interior do Hey é a alma, e o Dalet
é a Shechiná (Divindade). Quando a alma está vestida nela, é chamada Hey,
e quando o indivíduo quer acrescentar à fé, ele atrai o Vav inferior e
ele se torna um Kof.
Nesse momento, o Dalet se torna Reish, na forma de pobre e
escasso, que quer acrescentar. Então se transforma em Reish, através de
“Um pobre nasceu no seu reino”, quando o escasso se tornou pobre. Em outras
palavras, ao inserir o mau olhado em si mesmo, tanto na mente quanto no
coração, por meio de “Devasta-a (a vinha) o javali da floresta” (Salmos 80:13),
o olho fica pendurado pois retorna às sobras, já que a Sitra Achra (Outro
Lado) está destinada a ser um Anjo Sagrado.
Esse é o significado de “Perpétua é a glória do
Eterno” (Salmos 104:31). Porque o indivíduo chegou a um estado do animal da Yaar
(Floresta), que vem da palavra Iro (Sua cidade), e significa que
toda a sua vitalidade foi despejada, e ainda
assim ele se torna constantemente mais forte, então é premiado com o
estado “Um campo que o Eterno abençoou”, quando o mau olhado se torna um olho
bom.
Esse é o significado de “Um olho pendurado”, no
sentido de que se pendura numa dúvida, seja com olho bom ou com um olho mau. E
esse é o significado de retornar às sobras, e de “Um, para receber um”, como
disseram nossos sábios: “Não havia contentamento diante Dele, como no dia em
que o céu e a terra foram criados”. É assim porque, enfim, “O Eterno será um e
Seu Nome, um” (Zacarias 14:9), que é o propósito da criação.
Porém, para o Criador, passado e presente são
a mesma coisa. Assim, o Criador observa a criação na sua forma final, como será
na Gmar Tikkun (Correção Final), quando todas as almas serão incluídas
no mundo de Ein Sof em sua completa perfeição, como será na Gmar
Tikkun. A sua forma perfeita já está lá, e não falta nada.
Mas, para os
receptores, é evidente
que eles ainda precisam completar o que devem completar. Isso é “O qual Deus
criou para fazer”, ou seja, as deficiências e a petulância. Esse é o
significado do que disseram os nossos sábios: “A petulância não leva a nada
além da petulância” e também “Todos que são gananciosos, têm raiva”.
Essa é a verdadeira forma do desejo de receber
em sua verdadeira forma, tão obsceno quanto é. E todas as correções são a fim
de transformá-lo em desejo de receber, o qual é todo o trabalho dos inferiores.
Antes de ser criado, o mundo estava na forma “O Eterno é um e Seu Nome, um”.
Isso significa que, apesar de o Seu Nome já ter se afastado Dele, e ter se
tornado revelado e já ser chamado “Seu Nome”, Ele ainda é Um. Esse é o
significado de “Um, para receber um”.
111. Respiração, Som e Fala
(Ouvi em 29 de Sivan, Tav-Shin-Gimel,
2 de julho
de 1943, Jerusalém)
Há um discernimento de “Respiração”, “Som”
e “Fala”, e há um discernimento de “Gelo”, e há um discernimento de “Terrível”.
“Respiração” significa Ohr Hozer (Luz
Refletida), a qual sai da Masach (Tela). Essa é uma força limitadora.
Enquanto não estiver acumulada na medida de “Que não mais se entreguem à
insensatez” (Salmos 85:8), é chamada “Respiração”.
Quando sua medida está completa, essa limitação, a Masach com
a Luz Refletida, é chamada de “Som”. O som é como um aviso para o indivíduo não
infringir as regras da Torá. E se vier a infringir, assim que comete a infração
ele pára de sentir o sabor. Assim, quando ele sabe que certamente vão cessar as
sensações se infringir, ele retém a limitação.
E então ele chega a um estado de “Fala”, que
representa Malchut. Nesse momento, pode ocorrer o Zivug
(Acasalamento) do Criador com a Sua Shechiná (Divindade), e a Iluminação
de Chochmá (Sabedoria) é atraída para baixo.
Sabe-se que há dois níveis:
1) Doação sem qualquer recepção;
2) Recepção a fim de doar.
Então, quando ele vê que já chegou a um nível
em que consegue receber a fim de doar, por que ele precisa da servidão que
existe apenas na forma de doação a fim de doar? Afinal, o Criador tem mais
contentamento a partir da recepção a fim de doar, já que a Luz da Sabedoria, a
qual entra nos vasos de recepção, é a Luz do Propósito da Criação. Assim, por
que ele deveria se envolver no trabalho de doação a fim de doar, que é a Luz da
Correção da Criação?
Nesse momento, ele
imediatamente pára de sentir o sabor e é deixado nu e destituído. É assim porque a Luz
de Chassadim (Misericórdia) é a Luz que veste a Luz de Chochmá. E
se não há vestimenta, mesmo que haja Luz de Chochmá, ele ainda não tem
nada com que vestir a Chochmá.
Nesse momento, ele
chega ao estado chamado “O gelo terrível”. Isso é assim porque Yesod de Aba, que
concede Chochmá, que é chamado de “Restrito de Chassadim
e estendido de Chochmá”, é Gelo. É como a água que se cristalizou.
Apesar de haver água no gelo, ela não se expande para baixo.
Yesod de Ima é chamado “Terrível”, considerado curto e
largo. É chamado de “Curto” porque há um bloqueio sobre Chochmá, pois
ali há ausência de Chochmá devido ao segundo Tzimtzum (Restrição).
E isso é “Terrível”. Assim, é exato para os dois: Chochmá se estende
através de Yesod de Aba e Chassadim se estende através de Yesod
de Ima.
112. Os três anjos
(Ouvi em Vaierá, Tav-Shin-Gimel, Outubro de
1942)
Compreenda:
1. A questão dos três anjos que vieram visitar
Abraão durante a circuncisão;
2. A questão da visita do Criador e o que Ele lhe
disse durante a visita;
3. Que os nossos sábios disseram que o visitante toma um
sexagésimo da doença;
4. A separação de Lot;
5. A destruição de Sodoma e Gomorra;
6. O pedido de Abraão para não destruir Sodoma;
7. A questão de a esposa de Lot olhar para trás e se
transformar num pilar de sal;
8. A questão de Shimon e Levi enganarem o povo de
Shechem a respeito da circuncisão, quando eles disseram “Pois é uma desgraça
para nós”;
9. A questão das duas separações que ocorreram por
causa de Lot e que foram apagadas nos dias de Davi e Salomão, separações estas
que são opostas uma a outra.
Para entender o que
está acima,
devemos primeiro dizer que sabemos que existem discernimentos de Olam (Mundo),
Shaná (Ano) e Nefesh (alma animal) em tudo. Portanto, também a
respeito da circuncisão, que é a realização do pacto da pele, aplica-se a
questão de Olam, Shaná e Nefesh. (Há quatro pactos: dos olhos, da
língua, do coração e da pele; e a pele inclui todos os outros).
A pele, considerada o
prepúcio, é Behiná
Dalet (Fase Quatro), a qual deveria ser removida até o seu lugar, ao pó.
Isso é considerado Malchut em seu lugar, ou seja, rebaixar Malchut
a um estado de pó. Isso segue as palavras “Aba (Pai) dá o branco”, no
sentido de que rebaixa Malchut até o seu lugar a partir de todos os
trinta e dois caminhos. E percebe-se que as Sefirot foram esbranquiçadas
das suas qualidades de Julgamento a partir do Aviut (Espessura) de Malchut,
pois a quebra ocorreu por causa dessa Malchut.
Posteriormente, Ima (Mãe) dá o vermelho, quando ele recebe a Malchut,
que é adoçada por Biná, chamada “Terra” e não “Pó”. É assim porque
fazemos dois discernimentos em Malchut: 1) Terra, 2) Pó.
Terra é Malchut adoçada em Biná, chamada
“Malchut que se elevou a Biná”. Pó é chamado Malchut no
lugar de Malchut, o qual é Midat ha Din (A qualidade do Julgamento).
Quando Abraão precisou gerar Isaac, discernido como a
Israel inteira, ele precisou se purificar com a circuncisão para que Israel
emergisse pura. A circuncisão, com respeito a sua Nefesh, é chamada “Circuncisão”
e diz respeito à remoção do prepúcio e ao ato de jogá-lo num lugar de pó.
O Olam (Mundo) na Circuncisão é chamado “A
destruição de Sodoma e Gomorra.”
O Hitkalelut (Mistura, Integração) das almas no mundo (um mundo significa Hitkalelut de muitas almas) é chamado “Lot”, e a Circuncisão no mundo é chamada “A
destruição de Sodoma e Gomorra”. A cura da Dor da Circuncisão é chamada “A
salvação de “Lot”. Lot deriva da palavra “Terra amaldiçoada”, chamada Behiná
Dalet.
Devemos saber que,
quando o indivíduo é
premiado com a Dvekut (Adesão) com o Criador, quando ele tem Equivalência
de Forma e seu único desejo é doar e não receber nada em seu próprio benefício,
ele chega a um estado onde não há espaço para trabalhar. Isso é assim porque essa pessoa não precisa de
nada para si mesmo; e sobre o Criador, ela vê que o Criador não tem deficiências.
Assim, ela permanece onde está, sem trabalho. Isso lhe causa a grande dor da
circuncisão, pois a circuncisão lhe deu espaço para trabalhar, já que a circuncisão
é a remoção do desejo de receber para si mesmo.
Acontece que, ao
remover o desejo de receber, quando essa condição não controla mais o indivíduo, ele não
tem mais nada a adicionar ao seu trabalho. Mas há uma correção para isso: Mesmo
após ter sido recompensado com a circuncisão do desejo de receber, ainda restam
faíscas de Behiná Dalet nele, e elas também aguardam a correção. Essas faíscas são adoçadas apenas
pela atração das luzes de Gadlut (Grandeza, Maturidade), e, portanto, há
espaço para trabalhar.
Esse é o significado das dores de Abraão, o
Patriarca, após a circuncisão, e da visita do Criador. Esse também é o
significado de o Anjo Rafael tê-lo curado de sua dor (e não podemos dizer isso
sobre os quatro anjos, pois a ordem é que Miguel fica na direita, Gabriel na
esquerda, e Uriel à frente, e atrás, que é Malchut, implícito no oeste,
fica Rafael, que cura Malchut após a remoção do prepúcio, para que haja
mais espaço para o trabalho).
E o segundo anjo veio
para destruir Sodoma. Isso significa que a remoção do prepúcio na qualidade da Nefesh é
chamado “Circuncisão”, e na qualidade de Olam é chamado “Destruição de
Sodoma e Gomorra”. Como eles disseram, após a remoção do prepúcio, a dor
permanece, e então precisamos curar essa dor. Da mesma forma, na destruição de
Sodoma e Gomorra, a cura é chamada “A salvação de Lot” devido às duas boas
separações que estavam prestes a ocorrer.
Aparentemente, é difícil entender a questão da boa
separação. Se é separação, como pode ser boa? E mais, após a remoção do
prepúcio, há dor. Isso é assim porque o indivíduo não tem espaço para o
trabalho. E essas separações, as faíscas de Behiná Dalet que permanecem,
dão espaço para o trabalho no qual o indivíduo precisa corrigi-las.
Elas não podem ser corrigidas antes da remoção
do prepúcio, pois antes as 248 faíscas precisam ser “elevadas e corrigidas”. Posteriormente,
se corrigem as 32 faíscas que correspondem ao “Coração de Pedra”. Assim, primeiro,
o prepúcio deve ser removido completamente.
Esse é o significado da necessidade de ter um
segredo, no sentido de que o indivíduo não deve saber antes do tempo, pois deve
permanecer na forma de um Reshimo (Lembrança). E esse é o significado de
Som (Segredo): Por meio da Correção da Circuncisão, a qual é o
rompimento de Yesod (Fundação), ou seja, o rompimento do Yud (a
primeira letra de Yesod). Então, o Sod se torna Yesod.
Esse é o significado de, em seguida, o anjo
Rafael ir salvar Lot devido às “Boas separações”. Esse é o significado de Rute
e Naomi, consideradas “Mente” e “Coração”. Rute deriva da palavra Re’uia
(Digna), quando o Aleph é pronunciado. E Naomi deriva da palavra Noam
(Agradabilidade), algo que é agradável ao coração. Essas “separações” foram
então adoçadas em Davi e Salomão.
Porém, anteriormente, o anjo disse: “Não
olhes para trás de ti” (Gênesis 19:17), pois “Lot” é Behiná Dalet, mas
ela ainda está conectada a Abraão. No entanto, “Atrás de ti”, após a Behiná
Dalet, há apenas a Behiná Dalet crua, sem adoçamento. Esse é o
significado dos “Grandes monstros marinhos”, sobre os quais os nossos sábios
disseram que é um Leviatã (Baleia) e sua esposa, os quais mataram a Nukva
e a salgaram para os sábios no futuro. “No futuro” significa depois de todas as
correções.
Esse é o significado de a esposa de Lot olhar
para trás, como está escrito: “E sua mulher olhou para trás e converteu-se num
bloco de sal” (Gênesis 19:26). Contudo, primeiro ela precisava ser morta, que é
a destruição de Sodoma e Gomorra. Mas Lot, que é considerado o Leviatã (A
conexão entre Behiná Dalet e Abraão) precisava ser salvo.
Isso explica uma
pergunta frequente: Como poderia o anjo que curou Abraão salvar Lot? Afinal, há uma regra: Um
anjo não executa duas missões. Porém, essa é a mesma questão, pois um Reshimo
de Behiná Dalet precisa permanecer. Mas isso precisa ser um segredo.
Quer dizer que antes
de circuncidar a si mesmo não havia necessidade de saber nada disso. Ao contrário, ela precisava ser
morta. E o Criador a salgou para os justos no futuro, quando o Sod se tornar Yesod.
Esse é o significado do conflito entre os
pastores do gado de Abraão e os pastores do gado de Lot (Miknê [gado]
significa Kinyanim [posses] espirituais). É porque o gado de Abraão
tinha o propósito de aumentar a qualidade de Abraão (Fé). Isso significa que,
dessa maneira, ele tomou para si forças maiores a fim de subir Acima da Razão,
pois ele viu que, especificamente, nesse caminho da Fé Acima da Razão o
indivíduo é recompensado com todas as posses.
Assim, a razão pela qual ele queria as posses é que
elas atestariam o caminho chamado “Fé Acima da Razão”, que representa o caminho
verdadeiro. Isto se evidencia pelo fato de que, posto que as posses espirituais
são optidas de Cima, por meio delas ele se esforça em seguir somente pelo
caminho da Fé Acima da Razão, por que seu interesse nas posses espirituais não
se baseia nos grandes níveis e recebimentos que estas implicam.
Ou seja, não é que ele acredita no Criador a fim de
atingir grandes conhecimentos por meio da fé. Ao contrário, ele precisa de
grandes conhecimentos a fim de saber que está trilhando um caminho verdadeiro.
Portanto, depois de toda Gadlut, ele quer, especificamente, andar no
caminho da fé, pois através dele o indivíduo vê que está fazendo alguma coisa.
Porém, a única intenção dos pastores do gado
de Lot era atingir grandes posses e conhecimentos. Isso é chamado “Aumentar a
qualidade de Lot”. Lot é chamado “A terra amaldiçoada”, que é o desejo de
receber, chamado Behiná Dalet, seja na mente ou no coração. É por isso
que Abraão disse “Separa-te, rogo, de mim” (Gênesis 13:9), ou seja, que a Behiná Dalet se separasse dele, a partir da Behiná
de Olam-Shaná-Nefesh. Esse é o significado da remoção do prepúcio. A
remoção de Behiná Dalet na Nefesh é chamada “Circuncisão”. Na Behiná
de Olam, a remoção do prepúcio é chamada “A destruição de Sodoma”; e
a partir da Behiná de Shaná ocorre o Hitkalelut de muitas
almas, e isso é chamado Shaná (Ano). Essa é a qualidade de Lot, a partir
da palavra “Maldição”, chamado “A terra amaldiçoada”.
Portanto, quando Abraão disse a Lot “Separa-te, rogo, de mim”, por
outro lado, Lot era filho de Haran, uma referência à Segunda Restrição, chamada
“Um rio que corre desde o Éden para regar o Jardim”. E há o discernimento de “Além
do rio”, fora do rio, no sentido do primeiro Tzimtzum (Restrição), e há uma diferença entre o
primeiro Tzimtzum e o segundo Tzimtzum.
No primeiro Tzimtzum, os Dinim (Julgamentos)
ficam abaixo de todas as Sefirot da Kedushá (Santidade), assim
como emergiram no início, de acordo com a ordem descendente dos Mundos. No segundo Tzimtzum,
no entanto, eles se elevaram ao lugar da Kedushá e se sujeitam a
ela. Assim, neste sentido, esses Dinim são piores do que eram no
primeiro Tzimtzum. Eles não podem continuar a se expandir.
A “Terra de Canaã” deriva do segundo Tzimtzum,
cujos Dinim são muito ruins porque estão sob o controle da Kedushá.
É por isso que está escrito sobre eles: “Não deixaram nada com vida”. A
qualidade de Lot, no entanto, a Behiná Dalet, deve ser salva. Portanto,
os três anjos vieram como Um: Um para abençoar a semente, considerada toda a
Israel, sugerindo também a multiplicação da Torá. Esse é o significado de “Revelar
os Segredos da Torá”, que é chamado Banim (Filhos), derivado da palavra Havaná
(Entendimento). Somente é possível atingir isso a Correção da Circuncisão.
Esse é o significado das palavras do Criador: “Esconderei
de Abraão o que farei?” (Gênesis 18:17). Abraão tinha medo da destruição de
Sodoma e Gomorra, com receio de que perderia todos os Vasos de Recepção. É por
isso que ele disse: “Talvez haja cinquenta justos dentro da cidade” (Gênesis
18:24), porque um Partzuf completo tem cinquenta níveis. E,
posteriormente, ele perguntou: “Talvez haja quarenta e cinco justos”, ou seja, Aviut
de Behiná Guímel, o qual é quarenta, e o Dalet de Hitlabshut
(Vestimenta), o qual é VAK, meio nível, cinco Sefirot etc. Finalmente,
ele perguntou “Talvez haja dez justos”, ou seja, o nível de Malchut, que
é apenas dez. Assim, quando Abraão viu que mesmo o nível de Malchut não
podia emergir dali, ele concordou com a destruição de Sodoma e Gomorra.
Acontece que quando o
Criador veio visitá-lo, ele rezou por Sodoma e Gomorra, como está escrito “Conforme o
clamor”, no sentido de que estavam todos imersos no desejo de receber. “E do
contrário, o saberei” (Gênesis 18:21). Isso significa que, se há neles discernimentos de doação, então
saberemos. Isso é uma questão de vínculo, ou seja, Ele vai conectá-los à Kedushá.
Como Abraão viu que nenhum bem viria deles, concordou com a destruição.
É por isso que, depois de Lot se separar de
Abraão, está escrito: “Armou suas tendas até chegar a Sodoma” (Gênesis 13:12),
o local de moradia do desejo de receber para si mesmo. E isso acontece apenas na Terra de Israel.
No entanto, após o rio, que é o primeiro Tzimtzum,
a dominação da Behiná Dalet, não há espaço para trabalhar. É assim
porque ela comanda e prevalece no seu próprio lugar, e apenas na Terra de
Israel, considerada o segundo Tzimtzum, há todo o trabalho. Esse é o
significado do nome de Abraão com o Hey Bera’am (Criou a eles com o Hey).
Isso significa que o Yud de Sarai se dividiu em dois Heys - o Hey
inferior e o Hey superior, e Abraão tomou da Hikalelut (Integração)
do Hey inferior com o Hey superior.
Agora podemos entender
Shimon e Levi, que enganaram os homens de Shechem. Como Shechem queria Diná, pois toda a sua intenção era o desejo
de receber, eles disseram que precisavam ser circuncidados, no sentido de
cancelar seus Vasos de Recepção. Já que seu único objetivo era o desejo de
receber, eles foram mortos pela circuncisão, pela perda do desejo de receber
por meio da circuncisão. Para eles, isso era considerado a morte.
Portanto, segue-se que
eles mesmos se enganaram, pois toda a sua intenção estava em Diná, sua irmã. Eles
pensaram que poderiam receber Diná em seus Vasos de Recepção. Assim, uma vez
que foram circuncidados, e então quiseram receber Diná, eles só poderiam usar
os Vasos de Doação, pois tinham perdido os Vasos de Recepção pela circuncisão.
Mas como eles não tinham a faísca da doação, pois Shechem era o filho de Hamor,
que não conhece nada além dos Vasos de Recepção, eles não podiam receber Diná
nos Vasos de Doação, pois isso é contra a sua raiz, já que sua raiz é apenas Hamor,
o desejo de receber. Por isso, terminaram perdendo de todas as formas. Isso se
chama: “Shimon e Levi causaram suas mortes”. Mas, na verdade, foi culpa deles
mesmos e não de Shimon e de Levi.
Esse é o significado das palavras dos nossos
sábios: “Se você cruzar com um vilão, atraia-o para o seminário.” Devemos
entender o que significa “Se você cruzar”. Quer dizer que um vilão, ou seja, o
desejo de receber, nem sempre é encontrado. Antes, significa que nem todo mundo
considera o seu desejo de receber um “Vilão”. Mas se alguém sente o desejo de
receber como um vilão e quer se livrar dele deve atuar como está escrito: “Sempre
deve sobrepor a inclinação ao bem sobre a inclinação ao mal”. E: “Se ele
triunfa, bom; e se não, ele deve se envolver com a Torá, e se não, deve ler o Shemá,
e se não, deve se lembrar do dia da sua morte (Berachot,
p 5). Nesse
estado, ele tem três conselhos juntos, e cada um está incompleto sem os outros.
Agora, podemos
entender a pergunta frequente com a qual termina a Guemará: Se o primeiro conselho, “Atraia-o para o
seminário”, não ajudar, então “Leia o Shemá”. E se isso não ajudar, “Lembre-se
do dia da sua morte”. Portanto, se há dúvida sobre a ajuda, por que ele precisa
dos dois primeiros conselhos? Por que ele não deveria tomar logo o último
conselho, ou seja, lembrar-se do dia da sua morte? Ele responde que isso não
significa que um conselho apenas ajudará, mas que requer todos os três
conselhos juntos.
E isso significa:
1. Atraia-o para o
seminário, ou
seja, a Torá;
2. Leia o Shemá, ou seja, o Criador e a Dvekut (Adesão)
com o Criador;
3. Lembre-se do dia da
sua morte, o que significa devoção. Isso é considerado Israel, que é comparado a uma pomba que estica o
seu pescoço. Em outras palavras, todos os três discernimentos são uma unidade
chamada “A Torá, Israel e o Criador são Um”.
O indivíduo pode receber ajuda de um Rav (Pessoa
elevada, professor) quanto ao discernimento da Torá e quanto à leitura do Shemá.
No entanto, quanto a Israel, que é a circuncisão, que é a devoção, ele precisa
trabalhar sozinho. E embora também para isso haja ajuda vinda de Cima, tal como
disseram os nossos sábios em “E fez um pacto com ele”, ou seja, que o Criador o
ajudou, ainda assim quem deve tomar a iniciativa é o homem. A isso se refere a
frase que diz “Lembre-se do dia da sua morte”. Devemos sempre lembrar e não
esquecer disso, pois essa é a essência do trabalho do homem.
E sobre as Reshimot que devemos deixar ao modo de “A salvação
de Lot”… Isto se faz por causa das “boas separações”, que representam o
significado de Haman e Mordechai. Mordechai quer apenas doar, pois ele não tem
necessidade de atrair as Luzes de Gadlut. “Mas através de Haman, que deseja
engolir todas as Luzes para dentro de sua autoridade e domínio, através dele o
homem pode puxar as Luzes de Gadlut”.
Contudo, depois que atraiu essas Luzes, é proibido recebê-las
nos Kelim de Haman, que são chamados “Vasos de Recepção”, mas apenas se
pode atraí-las para os Vasos de Doação. Esse é o significado do que está
escrito, sobre o que o rei disse a Haman: “E faz isso a Mordechai, o judeu”
(Ester 6:10). Isso é: “As Luzes de Haman brilhando nos vasos de Mordechai”.
113. A décima oitava oração
(Ouvi em 15 de Kislev, Shabat)
Na Shmone Esrei (Décima oitava Oração) se diz: “Pois Tu
ouves a oração de todas as bocas do Teu povo, Israel, com misericórdia”. Isso parece
desconcertante, já que primeiro dizemos “Pois Tu ouves a oração de todas as
bocas”, ou seja, até mesmo da boca indigna o Criador ainda ouve. Está escrito “Toda
boca”, ou seja, até mesmo a indigna. Depois, diz: “Do Teu povo, Israel, com
misericórdia”, ou seja, isto se refere especificamente a oração que esteja em
Chessed. Do contrário, não é ouvida.
A questão é que devemos saber que todo o peso no Trabalho
do Criador é devido à oposição que existe em cada passo. Por exemplo, há uma
regra de que o homem deve ser humilde. Mas se seguirmos esse caminho, apesar de
nossos sábios terem dito “Seja muito, muito humilde”, ainda não significa que
deveria ser uma regra, pois sabe-se que o indivíduo deve ir contra o mundo
inteiro e não ser cancelado pela proliferação de opiniões que abundam no mundo,
como está escrito “E o seu coração foi levantado nos caminhos do Eterno” (2
Crônicas 17:6). Portanto, essa regra não é uma regra que podemos chamar de
completa.
E se formos pelo outro
caminho, que é o
orgulho, ele também está errado, pois “Aquele que é orgulhoso”, diz o Criador,
“Ele e Eu não podemos viver na mesma morada”. E podemos ver também a oposição
na questão do sofrimento. Ou seja, se o Criador envia sofrimento a uma pessoa,
e devemos acreditar que o Criador é bom e faz o bem, então o sofrimento que Ele
enviou é necessariamente para o benefício daquela pessoa. Assim, por que
rezamos para que o Criador remova o sofrimento de nós?
E a respeito do
sofrimento, devemos saber que o sofrimento vem apenas para nos corrigir a fim
de que sejamos qualificados para receber a Luz do Criador. O papel do
sofrimento é apenas
limpar o corpo, como nossos sábios disseram: “Como o sal purifica a carne, o
sofrimento limpa o corpo”. A respeiro da oração, eles levaram a cabo essa
correção em lugar do sofrimento. Portanto, vemos que a oração também purifica o
corpo.
No entanto, uma oração é chamada “O caminho da Torá”. Por
isso, a oração é mais efetiva em purificar o corpo do que o sofrimento.
Portanto, é uma Mitzvá rezar pelo sofrimento, já que isso resulta em
benefício adicional para o indivíduo e para o conjunto dos seres humanos.
Por essa razão, esse estado de oposição causa o peso e
as interrupções no Trabalho do Criador. Então, o indivíduo não consegue
continuar o Trabalho e se sente mal. Parece-lhe que não é digno de assumir o Fardo
do Reino dos Céus “como um boi com seu fardo e como o burro com a sua carga”.
Nesse momento, portanto, se lhe diz: “Não desejado”.
Contudo, a única intenção do indivíduo é atrair fé,
chamada Malchut, no sentido de elevar a Shechiná do pó. Seu
objetivo é glorificar o Seu Nome no mundo, a Sua grandeza, para que a Santa Shechiná
não assuma a forma de “pobreza e escassez”. Deste modo, o Criador ouve “A
oração de toda a boca”, mesmo de quem não é tão digno Dele, mesmo de quem ainda
se sente longe do Trabalho de Deus.
Esse é o significado de “Pois Tu ouves a oração
de todas as bocas”. Quando Ele ouve todas as bocas? Quando o Seu povo, Israel,
ora com misericórdia, com simples misericórdia, quando alguém reza para elevar
a Shechiná do pó, para receber fé.
É como alguém que não come há três dias.
Então, quando pede que outro lhe dê algo para comer, não pede luxos nem coisas supérfluas,
senão que pede simplesmente que se lhe dê algo para reviver a sua alma.
De forma semelhante,
no Trabalho do Criador, quando o indivíduo se encontra entre o céu e a terra, ele não pede
ao Criador por algo redundante, mas apenas pela Luz da fé, que o Criador lhe
abra os olhos para que ele pode tomar sobre si a qualidade da fé. Isso é
chamado “Elevar a Shechiná do pó”. Essa oração é aceita de “Todas as
bocas”. Ou seja, não importa o estado da pessoa, se ela pedir para reviver a
sua alma com fé, a sua oração será atendida.
E isso se chama “Com misericórdia”, quando a oração
de alguém é digna de compaixão de Cima para que possa manter sua vitalidade. E
a isso se refere o que está escrito no Zohar, que a oração do pobre é
imediatamente aceita. Ou seja, quando é para e pela Shechiná, é
imediatamente aceita.
114. Oração
(Ouvi em Tav-Shin-Bet, 1941-1942)
Devemos entender por
que uma oração é
considerada “Misericórdia”. Afinal, há uma regra: “Encontrei e não trabalhei,
não acredite.” O conselho é que o indivíduo deveria prometer ao Criador que vai
Lhe dar o trabalho depois.
115. Mineral, Vegetal, Animal e Falante
(Ouvi emTav-Shin,
1939-1940, Jerusalém)
Mineral é algo que não tem autoridade própria. Ao
contrário, está sob autoridade do seu senhorio e deve satisfazer todo anseio e
desejo dele. Por isso, como o Criador fez a Criação para a Sua glória, como
está escrito, “Todo aquele que é chamado pelo Meu Nome e que enaltece Minha
glória, Eu o formei e o criei” (Isaías 43:7), significa que o Criador fez a Criação
para Suas próprias necessidades. A natureza do senhorio está impressa nas
criaturas, no sentido de que nenhuma criatura pode trabalhar em benefício de
outros, mas apenas em benefício próprio.
Vegetal é aquele que já tem autoridade própria em
algum nível. Já pode fazer algo contrário à opinião do senhorio. Isso significa
que já pode fazer coisas não apenas em benefício próprio, mas a fim de doar.
Isso já é o oposto do que existe no desejo do senhorio, que Ele imprimiu nos
inferiores, de trabalhem apenas com o desejo de receber para si mesmos.
Porém, como podemos ver em plantas corpóreas,
mesmo que sejam móveis e se expandam em comprimento e largura, ainda assim
todas as plantas têm uma propriedade única. Em outras palavras, não há uma
única planta que pode ir contra o método de todas as plantas. Ao invés disso,
elas devem obedecer as regras das plantas e são incapazes de fazer qualquer
coisa contra os seus contemporâneos.
Portanto, elas não têm vida própria, mas são partes da
vida de todas as plantas. Isso significa que todas as plantas têm uma forma
única de vida, que a forma de vida é a mesma para todas as plantas. Todas as
plantas são uma única criatura, e as plantas individuais são órgãos específicos
daquele ser.
De forma semelhante,
na espiritualidade há pessoas que já adquiriram a força para superar o seu desejo de receber
em algum nível, mas são escravas do seu entorno. Elas não podem fazer o oposto do
ambiente em que vivem, mas elas fazem o oposto do que quer o seu desejo de
receber. Isso significa que elas já trabalham com o desejo de doar.
Animal tem sua própria característica: Ele não é escravo do
entorno e cada um deles tem suas próprias sensações e características. Os
animais certamente podem trabalhar contra a vontade do senhorio, no sentido de
que podem trabalhar em doação e também não são escravos do ambiente. Ao invés
disso, eles vivem suas próprias vidas, e sua vitalidade não depende das vidas
dos seus amigos. Ainda assim, eles não conseguem sentir mais do que o seu
próprio ser. Em outras palavras, eles não têm sensação do outro. Naturalmente,
eles não se importam com os outros.
O falante tem virtudes:
1 - Age contra a vontade do senhorio;
2 - Não está confinado aos seus contemporâneos como o
vegetal, ou seja, é independente do entorno;
3 - Sente também os outros e consegue, portanto,
importar-se com eles e complementá-los ao sentir e lamentar com o público, e
ser capaz de se alegrar no conforto do público. Além disso, eles podem receber
do passado e do futuro, enquanto os animais sentem apenas o presente e apenas o
seu próprio ser.
116. Aquele que disse: “Mitzvot não exigem intenção”
(Eu ouvi)
“Mitzvot (Mandamentos) não exigem intenção”, e “A
recompensa por uma Mitzvá (singular de Mitzvot) não está neste
mundo”. Isso significa que aquele que diz que as Mitzvot não exigem
intenção acredita que a recompensa por uma Mitzvá não está neste mundo.
Uma intenção é a razão e o sabor na Mitzvá. E essa é a verdadeira
recompensa da Mitzvá.
Se uma pessoa sente o
sabor de uma Mitzvá e entende o seu raciocínio, não precisa de nenhuma recompensa maior.
Portanto, se as Mitzvot não exigem intenção, de qualquer forma a
recompensa por uma Mitzvá não está neste mundo, pois o indivíduo não
sente qualquer sabor ou qualquer razão na Mitzvá.
Segue-se que, se o
indivíduo está
num estado em que não tem nenhuma intenção, então ele está num estado em que a
recompensa por uma Mitzvá não está neste mundo. Porque a recompensa por
uma Mitzvá é o sabor e a razão. Se ele não tem isso, ele certamente não
tem nenhuma recompensa por uma Mitzvá neste mundo.
117. Trabalhou e não encontrou? Não acredite.
(Eu ouvi)
A necessidade do Trabalho
é uma
exigência. Já que o Criador dá um presente ao homem, Ele quer que o homem sinta
o benefício nesse presente. Senão, a pessoa seria como um tolo, como disseram
os nossos sábios: “Quem é um tolo? Aquele que perde o que lhe foi dado.” Porque
não aprecia a importância da questão ele não presta atenção na preservação do
presente.
Há uma regra de que o indivíduo não sente
importância em nada se ele não tem necessidade por alguma coisa. Na medida da
necessidade e do sofrimento, se ela não é atendida, nessa exata medida o
indivíduo sente alegria, prazer e contentamento na satisfação da necessidade. É
como alguém que recebe todo tipo de boas bebidas, mas se ele não está com sede,
não vai sentir nada, como está escrito, “Como água gelada para uma alma fraca.”
Portanto, há um costume quando refeições são servidas
a fim de agradar as pessoas: Quando preparamos carne e peixe, e todo tipo de
coisas boas, tratamos de servir também coisas amargas e quentes, como mostarda,
pimentas, comidas azedas e salgadas. Tudo isso é para evocar o sofrimento da
fome, pois quando o coração sente um sabor apimentado e amargo, ele evoca a
fome e a deficiência, as quais o indivíduo precisa satisfazer com a refeição
das coisas boas.
Ninguém perguntaria: “Por que eu preciso
despertar a fome? Afinal, não deveria o anfitrião preparar apenas a satisfação
para a necessidade, ou seja, a refeição, e não preparar coisas que evocam a
necessidade de saciação?” A resposta óbvia é que, como o anfitrião quer que as
pessoas apreciem a refeição, é na mesma medida em que elas têm uma necessidade
pela comida que vão apreciar a refeição. Segue-se que, se ele fornece muitas
coisas boas, isso ainda não as ajudará a apreciar a refeição devido à razão
acima de que não há preenchimento sem uma falta.
Portanto, para ser
recompensado com a Luz do Criador, é preciso também haver uma necessidade. E a
necessidade para isso é o Trabalho. Na medida em que o indivíduo se esforça e
pede pelo o Criador durante a maior Ocultação, nessa medida ele se torna
necessitado do Criador, para que o Criador lhe abra os olhos a fim de andar no Caminho
do Criador. Então, quando o indivíduo tem esse Kli (Vaso) de uma
deficiência, quando o Criador lhe dá alguma ajuda de Cima, ele saberá como
guardar esse presente. Acontece que o Trabalho é considerado Achoraim (Posterior,
de costas). E quando ele recebe o Achoraim, ele tem um lugar no qual ser
recompensado com o Panim (Face, de frente).
Sobre isso, é dito: “Um tolo não tem desejo pela Sabedoria.”
Isso significa que ele não tem uma necessidade forte para se esforçar a fim de
obter Sabedoria. Portanto, ele não tem Achoraim, e, naturalmente, não
pode ser premiado com o Discernimento de Panim.
Esse é o significado de “Assim como é o sofrimento
será a recompensa”. Ou seja, o sofrimento, chamado “Trabalho”, faz o Kli
(Vaso), para que o indivíduo seja premiado com a Recompensa. Isso significa
que, na medida em que ele se arrepende, nessa medida ele pode, depois, ser
recompensado com alegria e prazer.
118. Para entender a questão dos joelhos que se dobraram para Baal
(Eu ouvi)
Há o discernimento de uma esposa, e há o
discernimento de um marido. Considera-se que a esposa “Não tem nada além do que
o marido dá a ela”, e considera-se que o marido atrai abundância para o seu
próprio aspecto. Joelhos são considerados “Dobrar”, como está escrito: “A Ti
todo joelho se dobrará.”
Há dois discernimentos sobre “Dobrar”:
1. Aquele que se
ajoelha perante de quem é maior, e apesar de não saber o seu mérito, acredita que ele é maior, e
então se curva perante ele;
2. Quando sabe da sua
grandeza e mérito com
total clareza.
Há também dois discernimentos a respeito da
“Fé na grandeza do Superior”:
1. Ele acredita que é elevado porque não tem outra escolha, ou
seja, não tem como saber a sua grandeza;
2. Ele tem uma maneira
de saber a sua grandeza com total certeza, mas ainda assim escolhe o Caminho da
Fé porque “Ocultar
algo é a glória de Deus”. Isso significa que,
mesmo havendo faíscas no corpo que querem especificamente conhecer a Sua
grandeza, e não ser como uma besta, ele ainda assim escolhe a “Fé Acima da Razão”.
Assim, aquele que não tem outra escolha, e escolhe a fé, é
considerado uma mulher, feminina (“Tornou-se fraco como uma mulher”), e ela
apenas recebe do seu marido. Mas aquele que tem uma escolha e ainda assim luta
para seguir pelo Caminho da Fé é chamado “Um homem de guerra”. Portanto,
aqueles que escolhem a fé quando tinham a opção de andar pelo Caminho do Conhecimento
(chamado Baal, marido, deus cananita), são chamados “Aqueles que não se
ajoelharam para Baal”. Isso significa que eles não se renderam ao Trabalho de Baal,
considerado “Saber”, mas escolheram o Caminho da Fé.
119. Aquele discípulo que aprendeu em segredo
(Ouvi em 5 de Tishrei, Tav-Shin-Guimel,
16 de
setembro de 1942)
Aquele discípulo que aprendeu em segredo, Bruria
bateu nele e disse: Existe “Ordenado em todas as coisas”, se ordenado nas 248.
Em segredo significa Katnut (Pequenez, infância), derivado da palavra Chash-Mal.
Chash significa Kelim de Panim (Vasos
anteriores), e Mal significa Kelim de Achor (Vasos
posteriores), os Kelim abaixo de Chazeh (Peito), os quais induzem
à Gadlut (Grandeza, idade adulta).
Aquele discípulo pensou que se fosse premiado com o
estado de Chash, um desejo de doar, e se todas as suas intenções fossem apenas
para doar, então ele seria premiado com tudo. Mas o Propósito da Criação dos Mundos
foi fazer o bem às Suas criações, receber todos os prazeres sublimes, para que
o homem atinja sua estatura completa, mesmo abaixo de Chazeh, ou seja, a
totalidade de 248. É por isso que Bruria lhe disse o versículo “Ordenado em
todas as coisas”, em todas as 248.
Isso significa que ele
estenderia abaixo do Chazeh também, no sentido de que deveria também atrair Gadlut. Isso é Mal,
fala, considerado Revelação, ou seja, revelar o nível inteiro. No entanto,
para evitar prejuízo, o indivíduo deve primeiro receber Katnut, chamado Chash,
o qual está em segredo, ainda não revelado. Depois, o indivíduo precisa fazer o
escrutínio também do discernimento de Mal, Gadlut, e então o nível
completo será revelado.
Isso é “Ordenado e Seguro”, quando Katnut
já está estabelecida nele e o indivíduo já pode atrair a Gadlut sem
medo.
120. A razão para não comer nozes em Rosh Hashaná
(Ouvi no final de Rosh Hashaná, Tav-Shin-Guimel,
1942, Jerusalém)
A razão para não comer nozes em Rosh Hashaná
(o ano novo judaico) é que a Gemátria de Egoz (Noz) é Chet
(Pecado). E ele perguntou: “Mas Egoz, na Gemátria, é Tov (Bom)?”
E ele disse que Egoz indica a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
E antes que o indivíduo se arrependa a partir do amor, o Egoz
nele ainda é um pecado. E aquele a quem já foi concedido o arrependimento a
partir do amor, os seus pecados se tornam méritos. Segue-se que o pecado se
tornou bom, e então é permitido que ele coma nozes. É por isso que devemos ver
que comemos apenas coisas que não têm qualquer vestígio de pecado, as quais são
consideradas Árvore da Vida. Porém, coisas que têm Gemátria de Chet
indicam a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
121. Ela é como navios mercantes
(Eu ouvi)
No versículo “Como as naves mercantes, de longe provê
seus mantimentos” (Provérbios 31:14), quando o indivíduo exige e insiste “Ela é
toda minha”, que todos os desejos sejam dedicados ao Criador, a Sitra Achra
(Outro Lado) desperta contra ele e afirma “Ela é toda minha” também. Então, há
uma troca. Uma troca significa que uma pessoa quer comprar determinado objeto,
e o debate entre comprador e vendedor é sobre seu valor, no sentido de que cada
um afirma ter razão.
E aqui o corpo examina
a quem vale a pena escutar: Ao receptor ou ao que dá a força. Ambos argumentam claramente: “Ela
é toda minha”. E no momento em que pessoa vê a sua humildade, que nela também
há faíscas que não concordam em observar a Torá e as Mitzvot nem mesmo
como um ponto no nada, e que o corpo inteiro argumenta “Ela é toda minha”,
então “De longe provê seus mantimentos”.
Mantimentos significa
fé. Nesse
estado, o indivíduo é premiado com fé permanente, pois “Deus assim o fez para
impôr Seu temor” (Eclesiastes 3:14). Isso significa que todos os afastamentos
que o indivíduo sente foram trazidos pelo Criador, para que ele tenha a
necessidade de tomar sobre si o Temor dos Céus.
Esse é o significado de “Nem só de pão vive o
homem, senão de tudo o que sai da boca do Eterno” (Deuteronômio 8:3). Isso
significa que a vida de Kedushá numa pessoa não vem especificamente da
aproximação, das entradas, das admissões na Kedushá, mas também das
saídas, dos afastamentos. É assim porque ao vestir a Sitra Achra, e as suas reclamações de que “Ela é toda minha”, no próprio corpo, com um argumento
justo, o indivíduo é premiado com a fé permanente para superar esses estados.
Isso significa que ele
deveria dedicar tudo ao Criador, ou seja, saber que mesmo as saídas emanam Dele. Quando é recompensado,
ele vê que tanto as saídas como as entradas vieram todas Dele. Isso força o
indivíduo a ser humilde, pois ele vê que o Criador faz tudo, as saídas bem como
as entradas.
Esse é o significado do que é dito sobre
Moisés, que ele era humilde e paciente. O indivíduo deve tolerar a humildade,
no sentido de que deve manter a humildade em cada nível. No momento em que
deixa de ser humilde, ele imediatamente perde todos os níveis de Moisés que já
havia atingido.
Esse é o significado da paciência. A humildade
existe em todo mundo, mas nem toda pessoa sente a humildade como uma coisa boa.
Acontece que não queremos sofrer. No entanto, Moisés tolerou a humildade, e por
isso ele era chamado “Humilde”, pois a humildade o fazia feliz.
Essa é a regra: “Onde não há alegria, a Shechiná
não habita.” Portanto, durante o período de purificação, não pode haver a Shechiná,
apesar de a purificação ser algo necessário (Como quando entra banheiro. Apesar
de precisar entrar lá, o indivíduo está certo de que ali não é o Palácio do
Rei).
Esse é o significado de Brachá (Bêncão) e Bechorá
(Antiguidade, Classificação), cujas letras são as mesmas em hebraico. Bechorá
representa GAR, e a Sitra Achra quer as GAR (Guímel
Rishonot, as 3 primeiras Sefirot), mas não as Bênçãos, já que uma Bênção representa
a Vestimenta dos Mochim. E Esaú queria a primogenitura sem a Vestimenta,
mas é proibido receber Mochim sem Vestimenta. Esse é o significado das
palavras de Esaú: “Mas certamente reservaste para mim uma Bênção?” (Gênesis
27:36). “Uma Bênção” é o oposto de “bênçãos”, isto é, uma infâmia. Sobre isso é
dito: “Sim, amava injuriar e condenar, e foi apresentado; e não se regozijava
na bênção”.
122. Para entender o que está escrito no Shulchan Aruch
(Ouvi na véspera do Shabat, Nitzavim, 22 de Elul, Tav-Shin-Bet, 4 de setembro de 1942)
Entenda o que é explicado no Shulchan Aruch [Mesa Posta - o Código Judaico da
Lei]: A regra é que o indivíduo deveria refletir repetidamente sobre as orações
dos “Dias Terríveis” para que esteja acostumado a rezar quando o tempo delas
chegar.
A questão é que a oração deveria estar no
coração. Esse é o significado do “Trabalho no Coração”, que o coração concorde
com o que diz a boca do indivíduo (senão, é enganoso, ou seja, a boca e o
coração do indivíduo não são iguais). Portanto, no mês de Elul, o
indivíduo deveria se acostumar ao grande trabalho.
E a coisa mais
importante é que o
indivíduo possa dizer “Escreva-nos no Livro da Vida”. Isso significa que,
quando diz “Escreva-nos no Livro da vida”, também o
coração deve concordar (para que não seja como uma adulação) que a boca e o
coração sejam iguais, “Porque o homem vê o que está diante dos seus olhos, mas
o Eterno olha para o coração” (Samuel 16:7).
Da mesma forma, quando
o indivíduo chora
ao dizer “Escreva-nos no Livro da vida”, “vida”
significa Dvekut (Adesão) com a Vida das Vidas, a qual se dá
especificamente pelo desejo da pessoa de trabalhar inteiramente na forma de
doação, de modo que todos os seus pensamentos e o seu próprio prazer sejam
revogados. Então, quando sente o que está dizendo, seu coração pode temer que
sua oração seja aceita, no sentido de que não tenha mais qualquer desejo para
si mesmo.
E sobre o prazer próprio, surge um estado em que parece que o
indivíduo abandona todos os prazeres deste mundo, junto com todas as pessoas,
amigos, sua família, todas as suas posses, e se retira para o deserto onde não
há nada além de feras selvagens, sem que ninguém saiba dele ou de sua
existência. Parece que ele perde o seu mundo de uma só vez, e sente que está
perdendo um mundo cheio de vida, e o troca por uma morte que vem desse mundo.
Quando percebe essa imagem, sente como se estivesse cometendo suicídio.
Às vezes, a Sitra Achra (o Outro Lado) o ajuda a visualizar o seu estado com todas as cores
escuras. Então, o corpo repele essa oração e, em tal estado, a sua oração não
pode ser aceita, pois ele mesmo não quer que sua oração seja aceita.
Por essa razão, deve haver preparação para a oração,
para que o indivíduo se acostume a ela, como se sua boca e o seu coração fossem
iguais. E o coração pode vir a concordar por meio do costume, para que entenda
que a recepção significa separação, e que o mais importante é a Dvekut
com a Vida das Vidas, a qual é doação.
O indivíduo deve sempre mergulhar no trabalho de Malchut,
chamado “Escrever”, considerado “Tinta” e Shacharit (Escuridão).
Isso significa que ele não deve querer que o seu trabalho seja na forma de “Livni
e Shimei”[9], e que apenas no tempo da brancura ele
deve aderir à Torá e às Mitzvot, mas incondicionalmente. Seja no branco
ou no preto, deve ser sempre o mesmo para ele e, seja o que for, ele vai aderir
aos mandamentos da Torá e das Mitzvot.
123. Seu divórcio e sua mão vêm como um
(Eu ouvi memórias de Baal HaSulam)
O Sagrado Hey nos Eynaim (Olhos) aludem a que uma Masach (Tela)
e um véu foram postos sobre os olhos. Olhos significa “Ver” e “Providência”, quando o indivíduo enxerga a Providência
oculta.
“Experimentar”
significa que o indivíduo não consegue decidir de forma alguma, que não consegue clarificar o
desejo do Criador e a intenção do seu Rav. Embora não possa trabalhar de forma
devotada, ele não consegue decidir se esse trabalho em devoção está no seu
lugar ou se, ao contrário, esse árduo trabalho será contra as visões do seu Rav
e do Criador.
E, para determiner
isso, o indivíduo
escolhe o caminho que adiciona trabalho. Isso significa que ele deveria
trabalhar de acordo com uma linha em que o trabalho é tudo o que há para se
fazer, e nada mais. Portanto, o indivíduo não tem espaço para duvidar de suas
ações e pensamentos e palavras, mas deve sempre aumentar o trabalho.
124. A Shabbat de Bereshit e os seis mil
anos
(Eu ouvi)
Há dois discernimentos da Shabat:
1) Sobre Bereshit (Gênesis, Início);
2) Sobre os seis mil anos.
A diferença entre eles é: Sabe-se que há uma parada, e
há um descanso. Uma parada é onde não há mais nada a adicionar. Um descanso,
porém, deriva das palavras: “Ele se levantou e descansou”, no sentido de que o
indivíduo está no meio do seu Trabalho, e como não tem força para continuar,
ele se levanta e descansa para reviver a si mesmo, e depois continua o seu Trabalho.
Uma Shabat de Bereshit é um estado de não ter nada mais a adicionar.
Isso é chamado “Uma parada”. Uma Shabat de seis mil anos é considerado
descanso, pelo qual o indivíduo recebe força para continuar o seu Trabalho nos
dias de semana.
Agora podemos entender
as palavras dos nossos sábios: “Shabat disse: ‘Deste a todos um parceiro, mas a mim Tu não
deste.’” E o Criador respondeu: “Israel será teu parceiro.” Um parceiro
significa ZA. Se há uma Nukva, pode haver um Zivug (Acasalemento),
e do Zivug vem a prole, ou seja, a “Renovação” e os “Acréscimos”.
Nukva é uma deficiência. Se há uma deficiência em algum
lugar, há espaço para corrigir a deficiência, e todas as correções são
consideradas como tendo sido cumpridas ao atrair a Luz Superior no lugar da
falta. Segue-se que não havia deficiência aqui para começar, mas todas as
faltas previamente consideradas deficiências vieram em forma de “Correção para
começar”, no sentido de que assim a Abundância Superior pudesse fluir de Cima.
É como alguém que mergulha em alguma questão
e se esforça para entendê-la. Quando obtém o significado, é o contrário: Ele
não sente que estava sofrendo anteriormente, quando não entendia a questão. Ao
invés disso, ele está feliz porque agora tem alegria. A alegria é medida pela
extensão do esforço que ele fez antes de entender a questão.
Portanto, o “Tempo de
mergulhar” é chamado Nukva,
uma deficiência. E quando o indivíduo se une com a deficiência, ele produz a Prole,
a Renovação. É isso que a Shabat argumentou, “Como não há trabalho na Shabat,
não haverá Prole e Renovações.”
125. Aquele que se deleita na Shabat
(Ouvi em 8 de Sivan, Tav-Shin-Tet,
15 de junho
de 1949, Tel-Aviv)
“Qualquer um que se deleite na Shabat
recebe um domínio ilimitado, como está dito: ‘Então te deleitarás no Eterno, e
Te farei cavalgar sobre as alturas da terra; e Te sustentarei com a herança de
teu pai, Jacó’ (Isaías 58:14) etc. Diferentemente de Abraão, sobre quem está
escrito: ‘Levanta-te, passeia pela Terra, por seu comprimento’ (Gênesis 13:17)
etc. E não como Isaac, como está escrito: ‘Porque toda a terra que tu vês, a ti
darei e à tua descendência’ (Gênesis 13:15). Mas como Jacó, sobre quem está
escrito: ‘E te fortalecerás ao Oeste, ao Leste, ao Norte e ao Sul’ (Gênesis
28:14).” (Shabat 118).
É difícil entender a Guemará assim como ela
é. Cada um de Israel deveria receber o mundo inteiro, um domínio ilimitado?
Devemos começar com as palavras dos nossos sábios: “No
futuro, o Criador irá retirar o Sol da sua funda e o escurecerá. Os perversos
são julgados assim, e os justos são curados assim, como está escrito: ‘Pois
aproxima-se o dia que se abrasará como um forno, no qual todos os ímpios e
malévolos serão como a palha; e neste dia serão queimados a tal ponto, diz o
Eterno dos Exércitos, que deles não sobrará nem raiz e nem ramo algum’
(Malaquias 3:19), nem uma raiz neste mundo e nem um ramo no mundo vindouro.” Os
justos são curados assim, como está escrito: “‘Mas para aqueles de vós que
temem o Meu Nome, levantar-se-á o sol da justiça trazendo saúde (eterna) em
seus raios’ (Malaquias 3:20). E, aliás, eles serão refinados assim” (Avodá
Zarah 3b).
E devemos entender a
seguinte interrogação que os nossos sábios fizeram: “O que é um “Sol”, o que é uma “Funda”,
e de onde vem essa oposição?” Além disso, o que é “Nem uma raiz neste mundo e
nem um ramo no mundo vindouro”? E o que significa “Aliás, eles são refinados assim”? Ele deveria
ter dito “Curados e refinados através disso”, mas o que quer dizer com “E,
aliás”?
Agora podemos entender
as palavras dos nossos sábios: “Israel é contada pela Lua e as nações do mundo, pelo Sol” (Sucá
29). Portanto, a luz do sol é um ditado para o conhecimento mais claro, como
está escrito: “É claro como o Sol.” E sobre as nações do mundo, que não
receberam a Torá e as Mitzvot, dizem as Escrituras que o Criador as
ofereceu a todas as nações e às todas as línguas, mas estas não desejaram deleitar-se
na Luz da Torá, considerada como a “Lua”, que recebe a sua Luz do Sol, a Luz
regular. Ainda assim, elas têm a aspiração e o desejo de estudar o Nome e de
chegar a conhecê-lo também.
Israel é contado pela Lua, que é a Torá e as Mitzvot,
onde a luz do sol está vestida no seu interior. Portanto, a Torá é a funda do
Criador.
Está escrito no Zohar que “A Torá e o Criador
são um”. Isso significa que a Luz do Criador está vestida na Torá e nas Mitzvot,
e Ele e a Sua funda são Um. Assim, Israel é contato pela Lua para complementar
a si mesmo na Torá e nas Mitzvot. Portanto, eles são naturalmente
premiados também com o Criador. Contudo, como as nações do mundo não guardam a
Torá e as Mitzvot, ou seja, a funda, elas não têm nem a Luz do Sol.
Esse é o significado de “No futuro, o Criador irá retirar o sol
da sua funda”. E eles
disseram: “Shechiná nos inferiores; uma necessidade sublime”, no sentido
de que o Criador deseja e anseia por isso.
Esse é o significado dos “Seis dias de trabalho”,
no sentido do trabalho na Torá e nas Mitzvot, pois “Tudo foi criado pelo
Eterno para alcançar Seus propósitos” (Provérbios 16:4). E mesmo o trabalho nos
dias da semana ainda é o Trabalho do Criador, como está escrito: “E a
estabeleceu, não para ser deserta e, sim, para ser habitada” (Isaías 45:18). É
por isso que é chamada “Uma funda”.
E a Shabat é a Luz do Sol, o dia do descanso na vida
eterna. Ou seja, Ele preparou o mundo em dois níveis:
1) Que a Sua Shechiná
fosse revelada pela Torá e pelas Mitzvot nos seus dias de trabalho;
2) Que
Ele seja revelado no mundo sem Torá e Mitzvot.
Esse é o significado de “Farei isto a seu
tempo, ou o apressarei” (Isaías 60:22). Recompensado: Eu o apressarei, no
sentido de através da Torá e das Mitzvot. Não recompensado: No seu
tempo, pois a evolução da criação com todo o sofrimento traz a correção final e
a redenção da humanidade, até que o Criador coloque a Sua Shechiná sobre
os inferiores. Isso é chamado “No seu tempo”, através da evolução pelo tempo.
126. Um sábio vem à cidade
(Ouvi durante a refeição de Shavuot, Tav-Shin-Zayin,
Maio de 1947, Tel-Aviv)
“Um sábio vem à cidade.” O Criador é
chamado de “Sábio”. Ele vem à cidade, pois em Shavuot (Banquete das
Semanas) Ele mostra a Si Mesmo para o mundo.
“O preguiçoso diz: ‘Há um leão no caminho’,
e se o sábio não estiver em casa? E se a porta estiver trancada?” Nossos sábios
disseram que a questão é: “Se você trabalhou e não encontrou, não acredite.”
Portanto, se ele vê que não encontrou a aproximação do Criador, então lhe é
dito que ele não deve ter trabalhado o suficiente. É por isso que o versículo o
chama de “preguiçoso”.
E qual é a razão de ele não ter trabalhado? Se
ele está buscando a aproximação com o Criador, por que ele não quer fazer um
esforço? Afinal, mesmo se você quiser obter algo corpóreo, você ainda não pode
fazê-lo sem trabalho. Na verdade, é que a pessoa não quer trabalhar. O problema
não é aquele que declara que “Há um leão no caminho”, mas que a Sitra Achra
seja, de acordo com o que está escrito,
“um leão que espreita em lugares secretos”. Isso quer dizer que aquele
que começa a andar pela Senda do Criador, acaba se encontrando com o leão no
caminho. E aqueles que fracassam nisso não conseguem se recuperar.
É por isso que ele tem medo de começar, pois
quem pode derrotar o leão? Então lhe é dito “Não há leão no caminho”, ou seja,
“Não há ninguém além Dele”, como está escrito. É assim porque não há outra
força além Dele, por meio de “E Deus fez com que Ele seja temido”.
Então o indivíduo encontra outra desculpa: “E
se o Sábio não estiver em casa?” A Sua casa é a Nukva, a Shekiná
(Divindade). Então ele não pode ter certeza se está andando ou não no caminho
da Kedushá (Santidade).
É por isso que ele diz que talvez o Sábio,
ou seja, o Criador, não esteja em Sua casa. Ou seja, isso não é Dele, não é da Kedushá,
então como ele pode saber se está avançando na Kedushá? Então lhe é
dito: “O Sábio está em Sua casa”, no sentido de “A alma lhe ensinará”, e por
fim ele saberá que está avançando na Kedushá.
Então ele diz: “E se a porta estiver trancada
e for impossível entrar no palácio, como em ‘Nem todos que desejam ter o
Criador virão a tê-lo’?” Então lhe é dito: “A porta não está trancada.” Afinal,
vemos que muitas pessoas foram recompensadas com a entrada no palácio.
Então ele responde: “De qualquer maneira, eu
não irei.” Isso significa que, se ele é preguiçoso e não quer se esforçar, ele
se torna argumentativo e astuto, e pensa que estão apenas tornando o trabalho
mais pesado para ele.
Mas, na verdade,
aquele que deseja se esforçar vê o contrário. Ele vê que muitos tiveram sucesso. E aqueles que não
querem se esforçar vêem que há pessoas que não tiveram sucesso. E mesmo que não
tenham tido sucesso é porque descobriram que não queriam se esforçar. Mas como
ele é preguiçoso e quer justificar suas ações, ele prega como um homem sábio.
Na verdade, o fardo da Torá e das Mitzvot deve ser aceito nem qualquer
argumento ou reclamação, e então ele terá sucesso.
127. A diferença entre o núcleo central, a essência e a abundância agregada
(Sucot Inter 4, Tav-Shin-Guimel,
30 de
setembro de 1942, Jerusalém)
Sabe-se que a partida dos
Mochin e a cessação do Zivug ocorrem
somente às adições de Mochin, e que o núcleo do nível em ZON é Vav
e uma Nekudá (Ponto). Isso significa que, em essência, Malchut
não tem mais que um ponto, um ponto preto sem nada branco nele.
Se o indivíduo aceita esse ponto como o núcleo, e
não como algo supérfluo do qual deseja se livrar, mas, além disso, o aceita
como um adorno, isso é chamado de “Uma bela morada no seu coração”. Isso é
porque ele não condena essa servidão, mas a torna essencial para si mesmo. Isso
é chamado “Elevar a Shechiná do pó”. Quando o indivíduo mantém a base e
a considera essencial, jamais cai do seu nível, pois não há partida alguma
nessa essência.
E quando alguém assume
trabalhar como um ponto preto, inclusive no lugar
mais escuro do mundo, a Santa Shechiná diz: “Não há onde se esconder de
ti”. Assim, “Estou atado a Ele num único nó”, “e jamais será separado”. Por
causa disso, a pessoa não tem interrupção da Dvekut (Adesão).
Se alguma Iluminação, chamada “Adição”, vem a ele de Cima,
ele a aceita por meio de “Inevitável e não intencional”, pois isso vem do
Emanador, sem o despertar do inferior. Esse é o significado de “Eu sou preto,
mas lindo”, porque quem puder aceitar a escuridão, verá que “Eu sou lindo”.
Esse é o significado de “Aquele que crê, que
venha aqui”. Quando o indivíduo se afasta de todos os seus compromissos e quer
apenas trabalhar a fim de beneficiar o Criador, e trabalha por meio de “Eu fui
uma besta com Você”, então ele é recompensado com a visão da perfeição final.
Esse é o significado de “Um indivíduo sem coração, ela lhe disse”. Isso
significa que, como não tinha coração, precisava ser imprudente; senão, ele não
poderia se aproximar.
Mas, às vezes, nos encontramos num estado de “Shechiná
no exílio”, quando o ponto descende até o conjunto de BYA (Beriá,
Yetzirá e Assyiá) separado. Nesse momento, ele é chamado “Como uma rosa entre
espinhos”, pois tem a forma de espinhos e cardos. Nesse estado, ele não pode
ser aceito, já que ali dominam as Klipot (Cascas).
Isso vem através das ações do homem, já que as ações do
homem abaixo afetam a raiz da sua alma acima, na Shechiná. Isso
significa que se uma pessoa abaixo é escrava do desejo de receber ela faz a Klipá
reinar sobre a Kedushá acima.
Esse é o significado do Tikun Chatzot (Correção
da meia-noite). Rezamos para elevar a Shechiná do pó, para elevá-la em
importância, posto que as noções de “Acima” e “Abaixo” implicam cálculos de
importância e de transcendência. E isso é considerado um ponto preto.
No Tikun Chatzot o ponto preto prevalece e diz que quer guardar
o versículo de “Libni e Shimei”. Libni allude a Lavan (Branco), e não
preto, e Shimei alude a Shmi’a (Ouvir), isto é, à razoabilidade, que implica
que assumir o “Fardo do Reino dos Céus” é para ele uma questão razoável e
aceitável. E o Tikun Chatzot é o Tikun da Mehitza (Divisória),
a correção de separar a Kedushá da Klipá, ou seja, corrigir o mau
sentimento contido no desejo de receber, e conectá-lo ao desejo de doar.
Golah (Exílio) tem as mesmas letras de Ge’ulah (Redenção).
Esse é o significado de “Aquele que pode proteger os daninhos deve compensar o
prejudicado com o melhor que tiver”. E isso se refere ao versículo que diz: “Quando
há julgamento abaixo, não há julgamento Acima”.
128. O orvalho pinga de Galgalta a Zeir Anpin
(Ouvi em Mishpatim
3, Tav-Shin-Guimel,
27 de
fevereiro de 1943)
O orvalho pinga de Galgalta a Zeir Anpin. E a respeito do
cabelo pálido, há um entalhe embaixo de cada cabelo, e esse é o significado de
“Ele que me alquebrou com uma tempestade” (Jó 9:17). E esse é o significado de
“Então, de dentro de um turbilhão, o Eterno respondeu a Jó” (Jó 38:1). E esse é o significado de “Isso dará cada um que possa para o número dos que são contados: metade
de um siclo (shékel) segundo o siclo da santidade” (Êxodo 30:13). E esse é o significado de “uma Beka (entalhe) por cabeça”, “para expiar pelas vossas
almas” (Êxodo 30:16).
Para entender a questão do cabelo, é o preto e a
tinta. Isso significa que, quando o indivíduo se sente longe do Criador, porque
tem pensamentos invasivos, isso é chamado “cabelo”. E “pálido” significa
brancura. Isso significa que, quando a Luz do Criador é despejada nele, ele se
aproxima do Criador, e ambos juntos são chamados “Luz e Kli (vaso)”.
A ordem do trabalho é que, quando o indivíduo desperta para o
trabalho do Criador, isso ocorre por lhe ser concedida palidez. Nesse momento,
ele sente vitalidade e Luz no trabalho do Criador. Depois, vem um pensamento
invasivo, pelo qual ele cai do seu nível e se afasta do trabalho. O pensamento
invasivo é chamado Se’ara (tempestade/cabelo). E há um entalhe embaixo
do cabelo, o qual é um entalhe e uma deficiência no crânio.
Antes de os
pensamentos invasivos chegarem, ele tinha um Rosh (cabeça) completo e estava próximo do
Criador, e através dos pensamentos invasivos ele se afastou do Criador. Isso é
considerado ter uma deficiência. E, pelo sofrimento, quando se arrepende, ele
atrai um fluxo de água. Portanto, o cabelo se torna um duto para transferir a
abundância, pelo qual se considera que ele foi premiado com a brancura.
E depois os
pensamentos invasivos voltam de novo, e assim ele se afasta do Criador mais uma
vez. Isso cria um entalhe novamente, um buraco e uma deficiência no crânio, e através do sofrimento,
do arrependimento, ele atrai um fluxo de água mais uma vez, e o cabelo se torna
um duto para transferir a abundância.
Essa ordem continua
repetidamente, por meio de altos e baixos, até que os cabelos sejam acumulados na
medida completa. Isso significa que, a cada vez que se corrige, ele atrai
abundância. Essa abundância é chamada “orvalho”, como em “Minha cabeça está
cheia de orvalho” (Cântico dos Cânticos 5:2). Isso é assim porque a abundância
vem de forma intermitente, e a cada vez é como se ele recebesse uma gota.
Quando o trabalho do indivíduo está completo e ele atinge a quantia máxima, até
“que não mais se entreguem à insensatez” (Salmos 85:9), considera-se que, a
partir do orvalho, os mortos ressuscitarão.
Esse é o significado do entalhe, no sentido de
que os pensamentos invasivos fazem buracos na cabeça.
E, também, a respeito da questão do meio shekel,
no sentido de que ele é meio culpado e meio inocente. Mas devemos entender que
as metades não existem ao mesmo tempo. Ao invés disso, a cada vez existe uma
coisa completa. Isso é assim porque se ele descumpriu uma Mitzvá e não a
guardou, ele não é mais considerado beinoni (meio, mesclado), mas um rachá
(um perverso completo).
No entanto, isso
ocorre em duas fases. Num momento ele é justo, aderido ao Criador, e então é completamente
inocente. E, quando está em descenso, ele é um perverso. Esse é o significado
de “O mundo foi criado ou para o justo completo ou para o perverso completo”. E
é por isso que é chamado “Metade”, pois são duas partes, duas fases.
E isso é “Para expiar pelas vossas almas”. Por meio do entalhe, quando o indivíduo
sente que a cabeça está incompleta devido à chegada de um pensamento invasivo,
a sua mente não está inteiramente com o Criador. E quando ele se arrepende,
isso o faz expiar por sua alma. É assim porque se ele se arrepende toda vez ele
atrai abundância até que a abundância seja preenchida por meio de “Minha cabeça
está cheia de orvalho”.
129. A Shechiná no pó
(Eu ouvi)
“Você gosta de sofrer. Então ele disse ‘nem
eles nem o a sua recompensa’, sobre essa beleza, a qual se desgasta no pó”.
Sofrer está primariamente em um lugar acima da razão. E a medida do sofrimento
depende da extensão em que contradiz a razão. Isso é chamado “Fé acima da
razão”, e esse trabalho leva contentamento ao Criador. Assim, a recompensa é
que, por meio desse trabalho, há contentamento para o seu Fazedor.
Porém, no entremeio, antes que o indivíduo
possa prevalecer e justificar a Sua orientação, a Shechiná (Divindade)
está no pó. Isso significa que o trabalho por meio da fé, chamado Shechiná,
está no exílio, cancelado no pó. E ele disse sobre isso “nem eles nem a sua
recompensa”. Isso significa que ele não pode aguentar o período intermediário.
E esse é o significa da resposta a ele, “estou chorando por isso e por aquilo”.