quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (24)




24. Permita-me dar um exemplo do nosso mundo. Digamos que uma pessoa deseja construir uma boa casa. Seu projeto inicial mostra uma casa com todos os quartos e comodidades que ela terá quando a construção estiver terminada. Depois disso, ela desenha o projeto de construção com todos os seus detalhes e explica-o aos construtores, um detalhe por vez: madeira, tijolos, vigas de metal etc. É apenas depois disso que ela inicia de fato a construção da casa e continua a construí-la até que fique pronta, conforme havia planejado inicialmente.



Você já deve saber que no Mundo do Infinito, que é o mistério do projeto inicial, toda a Criação é preparada na sua completa perfeição. Entretanto, essa alegoria não expressa totalmente o seu significado, pois o futuro e o passado são um só para o Criador, e o projeto inicial está sendo implementado Nele. Ele não precisa de instrumento algum para a ação, como nós precisamos. Portanto, a verdadeira realidade está Nele.



Nós percebemos nossa oposição ao Criador como Infinito. Se tentarmos combinar dentro de nós ideias opostas, de forma que todas elas se unifiquem em uma única noção, nós entraremos no Mundo do Infinito, que então deixará de ser infinito e se tornará real, onde o presente, o passado e o futuro se unificam.



Devemos nos esforçar ao máximo para transformar nossas noções comuns de eternidade e infinito em definições mais concretas, corretas e espirituais. Todos os conceitos espirituais existem dentro de nós, mas somente os compreendemos quando eles se tornam opostos entre si: bem e mal, branco e preto, limitado e ilimitado, recepção e doação etc. Se tentarmos sobrepor essas noções em nossas propriedades internas, o Infinito gradualmente se tornará nossa realidade.



Isso é exatamente o que ocorre no Criador, e é por isso que, para Ele, pensamento e ação são a mesma coisa. No decorrer do nosso avanço, tentaremos conectar todas as noções com uma única fonte. Nós entraremos em um único estado, absoluto e constante, em que o tempo torna-se irrelevante. Pouco a pouco, precisamos nos acostumar com esse estado. No artigo "O Hábito Torna-se uma Segunda Natureza", presente no livro intitulado Shamati (Eu Ouvi), Baal HaSulam escreve que todas as qualidade e estados ocultos, implícitos, estão dentro de nós, pois estamos no nosso estado atual apenas na nossa percepção. Sob o ponto de vista do Criador, nós já estamos em um estado de perfeição e eternidade, no único estado criado por Ele. Nossa tarefa é corrigir nossas sensações, sentir nossa verdadeira condição.



Baal HaSulam diz que podemos alcançar esse estado com a ajuda de exercício contínuo, ao desenvolvermos um hábito, que se tornará nossa segunda natureza. Cada ação no nosso mundo entra no nosso campo de visão ou permanece fora dele dependendo somente do quanto conseguimos nos sintonizar com tal ação. Enquanto aprendemos e adquirimos os hábitos corretos, começamos a perceber toda sorte de eventos que, antes, passavam despercebidos. O mesmo ocorre com o espiritual: primeiro, adquirimos gradualmente sentidos adicionais, então passamos a perceber a realidade espiritual.



O Livro do Zohar diz que a categoria do Infinito se baseia em contrastes, que a espiritualidade é onde o passado, o presente e o futuro se unem. O Zohar nos encoraja a desenvolver o rudimento dessas sensações.



Baal HaSulam segue utilizando o exemplo da casa: o Mundo de Atzilut é como um projeto cuidadoso e detalhado do que será realizado.



O objetivo é construir uma casa (ou seja, os Mundos do Infinito e o Mundo de Adam Kadmon). O Mundo de Atzilut é uma forma, que pode claramente ser imaginada. Esse é o projeto detalhado da casa, com desenhos e especificações, tudo o que existe no papel, mas ainda não foi materializado.



Você já deve saber que tanto o projeto inicial, que é o Mundo do Infinito, e o projeto detalhado e deliberativo, que a seu tempo será construído na realidade, não tem nada a ver com as criaturas, pois tudo permanece estático no estágio do planejamento, onde nada ainda foi implementado na prática. Isto é, os Mundos do Infinito, de Adam Kadmon e de Atzilut são totalmente independentes das Almas, de você e de mim.



O mesmo ocorre com uma pessoa: embora ela tenha pensado em todos os detalhes (tijolos, peças de metal, madeira) que ela precisará durante a construção, ela ainda não tem nada além da sua própria imagem mental da casa.



A principal diferença é que o projeto mental de uma pessoa não é a realidade, enquanto que o projeto do Criador é a realidade em si mesma, e é incomparavelmente maior que a realidade das criaturas.



Portanto, o terceiro estado da Criação é absolutamente real. Em comparação com ele (os Mundos de Atzilut, Adam Kadmon e do Infinito), o nosso estado é espiritualmente ilusório e é percebido apenas dentro de nós. Isso se assemelha a uma pessoa doente, deitada inconsciente na sua cama. Embora ela ainda esteja neste mundo, ela não pode senti-lo. Ou ainda, imagine uma pessoa em uma sala escura, inconsciente do mundo enorme em volta dela.



Com isso, explicamos o mistério do Mundo do Infinito e do Mundo de Atzilut. Tudo o que eles expressam relaciona-se apenas com a criação das criaturas, como todas elas existem no projeto, mas sua essência ainda não foi revelada. Assim como no nosso exemplo da casa, não há nada no projeto de construção da humanidade: nem tijolos, nem madeira, nem vigas de metal.


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