quarta-feira, 18 de março de 2020

A Ciência da Cabalá (Introdução ao Preâmbulo)






Introdução ao artigo

"Preâmbulo à Sabedoria da Cabalá"





Todas as introduções elaboradas pelo Rabi Yehuda Ashlag (Baal HaSulam) foram escritas de forma a permitir que o leitor acesse o material essencial, o compreenda e o absorva. Do mesmo modo, todas as introduções são composições cabalísticas independentes, tendo o seu próprio poder espiritual e profundidade.



(1)

Está dito no Livro do Zohar (capítulo semanal Tzarya, p. 40): “Todos os mundos, Superiores e inferiores, estão dentro do homem. Tudo o que foi criado no mundo é para o seu benefício e tudo vive e se desenvolve por sua causa”.



É preciso compreender: o homem está tão insatisfeito com este mundo e com tudo o que nele se encontra e que existe para servi-lo e desenvolvê-lo, que ele deseja também os Mundos Superiores?



A Torá é um livro cabalístico. Ela foi escrita pelo grande cabalista Moisés. O Livro do Zohar é um comentário cabalístico da Torá. O Livro do Zohar, assim como a Torá, é dividido em cinco livros e capítulos semanais. Um dos capítulos semanais chama-se “Tzariya”.



Está dito que: “O Criador criou o homem com um nome completo. E tudo o que foi criado é absolutamente perfeito, tudo se encontra dentro dele”. A partir desta afirmação, vemos que todos os Mundos, os Superiores e os inferiores, tudo aquilo que os preenche e os anima, tudo, exceto o Criador, encontra-se dentro do homem.



(2)

A fim de explicar o que foi dito acima, é preciso expor toda a sabedoria da Cabalá. Através de estudos adicionais, o significado destas afirmações será revelado em um estágio posterior.



A questão é que a intenção do Criador é doar prazer. No momento em que o Criador pensou em criar as almas e deleitá-las, elas instantaneamente apareceram diante Dele na sua perfeição e elevação. Elas foram preenchidas com prazer infinito, o qual o Criador pensou em lhes outorgar. Apenas o seu Pensamento completou toda a Criação, nenhuma ação física foi necessária.



Com isso, também nasce uma pergunta: Por que Ele criou os mundos, restrição após restrição, até o nosso mundinho ínfimo e então inseriu as almas (os seres criados) em corpos insignificantes deste mundo?



Se o Criador é Onipotente, por que Ele não provê o homem com tudo o que lhe é necessário? Por que Ele não permite que cada um de nós faça o que tem vontade? Se apenas o desejo fosse suficiente, cada um de nós teria criado um mundo muito melhor que este. Por que então o Criador o criou desta maneira?



Se sofremos agora, seja da forma que for, a fim de nos beneficiarmos no futuro, isso também indica uma imperfeição.



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A resposta encontra-se no livro A Árvore da Vida, do Ari: “(...) Foi criado por Ele para demonstrar a perfeição de Suas ações”. Entretanto, devemos compreender o seguinte: Como tal ação imperfeita emana do Criador, sendo Ele perfeito? Além disso, os seres criados devem corrigir-se e elevar-se espiritualmente através de ações neste mundo.



Por que Ele criou um mundo aparentemente tão baixo, com corpos imperfeitos e inseriu neles almas infinitas? Isso foi feito para que, depois, elas pudessem descobrir o que significa a perfeição? Isso significa que o Criador criou o mundo mais insignificante e o homem mais insignificante sendo que ele, por si mesmo, deve se esforçar para alcançar a perfeição. Esse é o objetivo e a perfeição das ações do Criador?



A questão é que duas partes devem ser discriminadas nas almas: a Luz e o Vaso. A essência da Alma é o seu Vaso (Kli), e a abundância com a qual o Criador desejou deleitar as almas é a Luz (Ohr) que preenche o Vaso.



Uma vez que o Criador desejou doar prazer às almas, foi preciso que Ele o projetasse na forma de um desejo de receber prazer. O tamanho do desejo de receber determina a quantidade de prazer recebido. É preciso saber que o desejo de receber prazer constitui a essência da alma. Ele foi criado a partir do nada, e é chamado de Kli - o Vaso da Alma. A abundância e o prazer que preenchem o Vaso são definidos como a Luz da Alma, que emana do Criador.



Essa Luz propaga-se do Criador. Apenas o desejo (o Kli), o Vaso, foi criado. A Luz emana do Criador Ele Mesmo como prazer e preenche o Vaso. Em outras palavras, o primeiro objetivo foi doar, o segundo foi criar alguém que desejasse receber esse prazer. No geral, há dois componentes na criação:

1.    O Vaso - o desejo de receber prazer, a Alma, Adam HaRishon, Criação.

2.    O prazer que emana do Criador.



(4)

A Criação é algo que não existia, isto é, algo criado a partir do nada. Ainda assim, como é possível imaginar algo que não exista no Criador? Ele deve abranger absolutamente tudo. Está dito que toda a criação nada mais é que um Vaso (Kli) da Alma, um desejo de receber prazer. Portanto, está claro que tal desejo não existe no Criador. Assim, o desejo de receber é uma criação totalmente nova, que não existia anteriormente, e é definida como criada a partir do nada.

Não podemos imaginar o que seja o “nada”. Tudo o que existe em nosso mundo possui sua pré-história, sua forma anterior: tudo surgiu a partir de algo. Por exemplo, a matéria sólida é formada de gás. O que significa ser formada a partir do nada? Somos incapazes de compreender isso. Posteriormente, quando apreendermos a Espiritualidade, nos tornaremos participantes na compreensão deste processo.



(5)

É preciso saber que, na Espiritualidade, distância e proximidade são determinadas pela semelhança ou diferença de propriedades. Se dois objetos espirituais têm a mesma forma, isto é, as mesmas propriedades, eles estão conectados constituindo um todo único. Se não há diferença entre esses dois objetos, eles não podem ser divididos. Essa divisão somente é possível se existe disparidade entre suas propriedades.



O grau de distinção das propriedades determina o grau de distanciamento. Caso todas as propriedades desses dois objetos espirituais sejam opostas, então eles estão infinitamente afastados um do outro, isto é, em um estado de total distanciamento.



Em nosso mundo, quando dizemos que um objeto assemelha-se a outro, isso significa que ambos existem individualmente e que, apesar disso, são idênticos. No Mundo Espiritual, isso é impossível. Tudo o que lá existe se diferencia pela distinção de suas propriedades. Se não há distinção, então esses dois objetos se unem e formam um único objeto. Se há uma semelhança parcial de propriedades, então eles se unem nas suas propriedades comuns, como dois círculos que se sobrepõem: um segmento de um dos círculos sobrepõe-se a um segmento do outro círculo, formando, assim, uma área comum.



No Mundo Espiritual, existem duas propriedades: (1) “Receber prazer” e (2) “Doar prazer”. Não existe nada mais além disso. Se aproximarmos uma da outra, veremos que elas são completamente opostas e não possuem qualquer ponto de contato entre si. Entretanto, se a propriedade de "recepção" for transformada na propriedade de “doação”, ou seja, se a criação e o Criador tiverem desejos comuns, então eles se aproximam e se unificam nessas propriedades. Os desejos que continuarem opostos permanecem distantes. Inicialmente, a criação foi criada sendo absolutamente oposta ao Criador.



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O pensamento humano é incapaz de apreender a Perfeição Infinita do Criador. Não há meios de expressá-lo ou descrevê-Lo. Contudo, ao sentir Sua Influência, compreendemos que Ele deseja nos dar prazer, pois Seu único objetivo é nos deleitar, preencher-nos de satisfação.



As propriedades da Alma são absolutamente opostas às do Criador. Enquanto Ele é um doador sem qualquer traço do desejo de receber, as almas foram criadas com o único desejo de receber prazer. Dessa forma, não existe maior antítese de propriedades e distanciamento que esta. Portanto, se as almas tivessem permanecido em seu desejo egoísta de receber prazer, elas ficariam para sempre separadas do Criador.



Nenhuma palavra da nossa língua pode descrevê-Lo, pois estamos separados d´Ele nas nossas propriedades, por isso não conseguimos senti-Lo.



Vale destacar, aqui, que essa Introdução foi escrita por um homem, Baal HaSulam, que alcançou isso por si mesmo. Ele diz que sentiu o Criador e Suas Ações, viu Sua Absoluta Bondade. Em nosso nível de compreensão, ainda somos incapazes de sentir isso.



Por que não é suficiente apenas desejar o prazer a fim de recebê-lo? Por que eu preciso me aproximar do Criador, tornar minhas propriedades semelhantes às d´Ele, unificar-me completamente com Ele? Por que Ele não criou um estado em que, por um lado, a Criação pudesse receber prazer e, por outro, doar prazer, assim como Ele Mesmo faz? De fato, se assim fosse, a Correção Final viria imediatamente e a criação se unificaria com o Criador sendo preenchida pela Sua Luz, tornando-se igual a Ele.



Por que devemos passar por todo esse processo evolutivo de nossos sentidos, perceber cada desejo como egoísta e oposto ao Criador, então corrigi-los e torná-los altruístas, semelhantes a Ele? Por que precisamos sentir a maneira como nos aproximamos Dele, nos unificamos com Ele? O que ganhamos com isso?



(7)

Agora podemos compreender o que está escrito no livro A Árvore da Vida.  A criação de todos os Mundos é uma consequência da Perfeição do Criador em todas as Suas Ações. Entretanto, se Ele não tivesse revelado Seus poderes nas ações que Ele pratica aos seres criados, Ele não teria sido chamado “Perfeito”. Mas, ainda assim, não está claro como ações imperfeitas podem partir de um Criador Perfeito.



Além disso, as ações do Criador são tão imperfeitas que elas precisam ser corrigidas pelo homem. Por essas observações, fica claro que a criação é um desejo de receber prazer. Mesmo que esse desejo seja imperfeito devido a sua total oposição e distanciamento do Criador, ainda assim ele consiste dessa propriedade de recepção especialmente criada e necessária para que a Criação receba o prazer do Criador.



Então, eis que surge a questão: “Para que o Criador criou todas as coisas?”



Um cabalista, que fala apenas do que já recebeu, afirma que Ele nos criou a fim de nos doar o Seu prazer.



Por exemplo, digamos que eu vá visitar uma pessoa e vejo, diante de meus olhos, um palácio maravilhoso. O anfitrião sai do palácio para me receber dizendo: “Esperei por você minha vida inteira. Entre e veja o que preparei para você.” Então, ele passa a mostrar várias iguarias e as oferece para mim. Eu lhe pergunto:



“Por que você fez tudo isso?”



“Fiz para lhe satisfazer.”



“O que você ganha com a minha satisfação?”



“Não preciso de nada além de lhe ver satisfeito.”



“Como você pode não precisar de nada?”



“Você tem o desejo de receber prazer e eu não. Portanto, meu prazer consiste em lhe dar prazer.”



Do nosso nível humano limitado, não somos capazes de compreender o que significa doar sem receber nada em troca. Essa propriedade é totalmente oposta à nossa natureza. Portanto, está dito que “Apenas em minhas sensações posso conhecê-Lo”. Acima disso, não consigo alcançar. Não possuo meios com os quais saber se o anfitrião tem qualquer ideia ou intenção ocultas.



Se o Criador tiver qualquer intenção em relação a nós, mas não as revelar, somos incapazes de conhecê-las. Cada um de nós, tendo sido criado como um vaso, pode compreender apenas o que o preenche. Isso é o que ocupa nossa mente e nosso coração. Quando desenvolvermos ao máximo os nossos vasos, receberemos neles tudo o que emana do Criador. Então, sentiremos que Ele é absolutamente bom e que não possui outra intenção além da de deleitar o homem.



Os chamados sétimo, oitavo, nono e décimo milênios seguirão após o sexto milênio (os seis mil níveis de recebimento do Criador). Eles revelam os Seus pensamentos, unificam-se tão profundamente com Ele que nenhuma dúvida permanece. Isso não ocorre porque o vaso é preenchido, mas porque o Criador permite que o vaso exista dentro de Si Mesmo.



Essa equivalência de forma pode ser alcançada de duas maneiras: ou aprimoramos nossas propriedades, ou o Criador inferioriza as Suas. A correção das Almas ocorre quando o Criador desce até o nível em que elas se encontram ao rebaixar Suas propriedades até fundir-Se com elas. Então, Ele volta a aperfeiçoar Suas propriedades ao mesmo tempo em que aperfeiçoa a propriedade das Almas, como se as puxasse da sua mancha.



Por exemplo, um professor junta-se a um grupo de jovens fingindo ser tão irresponsável quanto eles. Ele passa a aproximar suas propriedades das deles e então, quando voltar a aperfeiçoar-se, ele os aperfeiçoará junto. Dessa forma, ele os corrige, os eleva de seu nível inferior em direção à Luz da verdadeira inteligência.



Portanto, deve haver uma piora inicial das propriedades do Criador, a fim de torná-Lo equivalente à criação, seguida de um aperfeiçoamento e subsequente correção das Almas criadas.



Esse processo depende do Criador, é realizado por Ele, e por isso é definido como O Trabalho do Criador (Avodat Hashem). Contudo, o homem deve aceitar submeter-se a esse processo se ele deseja que o Criador o transforme. Dessa forma, ele deve preparar-se e ter a força e o entendimento para justificar o trabalho do Criador. Tal pessoa é chamada de justo, pois ela é capaz de justificar as ações do Criador.



O desejo de receber e o desejo de doar constituem dois vetores opostos de intenções, moral e espiritual. Um está direcionado para dentro, e o outro para fora. Mas o fato é que, depois, durante o processo de evolução da criação, esses desejos assumem diversas formas diferentes.



Cada Sefirá e Partzuf representa diferentes tipos de desejo. Estudamos os desejos na sua forma “pura” mas, na verdade, quando um cabalista os alcança, ele sente-os de forma muito mais complexa. Mesmo assim, o desejo de receber prazer será sempre o centro da criação, enquanto que o desejo de doar constitui a essência da influência do Criador sobre os seres criados.



Aparentemente, o Criador pode agir como se quisesse receber, como ilustra o exemplo de Baal HaSulam a respeito do anfitrião e do convidado. Este exemplo inclui todos os elementos de nossas relações. O anfitrião diz: “Eu preparei tudo isso para você, escolha só o que você gosta, ficarei muito feliz em vê-lo comer. Você me daria essa satisfação?” Com isso, ele faz o convidado sentar-se e comer. Com tal persuasão, o convidado sente-se obrigado a comer e aproveitar a refeição, senão como o convidado retribuiria o anfitrião por todos os seus esforços?



Entretanto, o convidado tem um problema diferente: não importa o que faça, o desejo de receber prazer está sempre queimando dentro dele. É assim que ele foi criado e não há como fugir disso, ele só sente prazer ao receber. Como ele poderia doar? Recebendo: Doar a fim de receber. Como resultado, seu ato de doação nada mais é que um meio de receber o que deseja.



De acordo com a minha natureza, eu posso receber em ação e em intenção. Minha ação tanto pode ser dar quanto receber, mas meu objetivo é sempre o mesmo: receber prazer. O homem inconscientemente busca satisfação, este é o nosso desejo natural. Em outras palavras: a essência de qualquer ação depende apenas das minhas intenções.



Por intermédio da intenção, posso inverter a essência da ação: posso receber ao doar, como no exemplo do anfitrião e do convidado. Em todo caso, eu só posso receber, sou incapaz de doar qualquer coisa, mas com o auxílio da intenção posso receber tanto “para mim mesmo” quanto “para outra pessoa”.



Assim, as relações entre o Criador e o homem podem assumir diversas formas. Elas se modificam em cada nível do crescimento espiritual do homem. O Criador muda em relação a nós através de um sistema de Ocultações, manifestando apenas uma de Suas propriedades por vez, de acordo com a nossa capacidade de nos assemelhar a Ele.



Se o Criador manifestasse Suas propriedades genuínas, absolutamente perfeitas, da forma como Ele É, nós não seríamos capazes de nos assemelhar a Ele. Por isso, Ele diminui-Se, inferioriza-Se e adapta-Se a nós. Precisamos apenas ascender a este pequeno nível, assemelharmo-nos ao Criador em uma propriedade ínfima.



Assim que isso ocorre, o Criador começa a revelar-Se nessa propriedade em um nível um pouco superior, e também em outras propriedades. Através de um sistema de Mundos, Ele oculta Sua Perfeição, o que nos permite alcançar a semelhança com Ele e ascender espiritualmente.



O Olam Hazeh (Nosso Mundo) é a sensação interior do homem ao descobrir-se em um estado de absoluto egoísmo. É neste estado que o homem sente que existe um Criador que Está totalmente afastado e oculto dele.



Tendo em vista suas propriedades criadas, o homem é totalmente oposto ao Criador e está espiritualmente distante d´Ele. Tal sensação interior é chamada Olam Hazeh. Uma pessoa pode estar em seu quarto e, ao mesmo tempo, estar no Olam Hazeh, ou nos Mundos de Assiyá, Yetzirá, Beriá e Atzilut - estados interiores do homem que o conectam aos Níveis Espirituais.



O Criador está em um estado contínuo de calma absoluta. O que isso quer dizer? Significa que o Anfitrião, quando descobriu o que você mais gosta, preparou uma refeição especialíssima e está só lhe aguardando. Quando você se aproximar d´Ele, Ele o induzirá a aceitar o seu convite. Apesar de todas essas ações, ainda dizemos que o Criador encontra-se em um estado de calma absoluta, já que Sua intenção de “doar à criação” é invariável.



Por “calma absoluta” nos referimos a um desejo constante e imutável. Ele existe apenas no Criador, em todas as Suas ações. Essas ações são inumeráveis, infinitas e abrangentes. Uma vez que toda essa diversidade de ações permanece imutável e almeja um único objetivo, as definimos como um estado de calma absoluta.



Nesse estado, não vemos nenhum movimento, já que não há qualquer mudança. Ainda assim, como podemos doar com o propósito de receber prazer? Em nosso mundo, fazemos isso constantemente. Por exemplo: Alguém me traz uma xícara de chá. Por que isso aconteceu? Porque essa pessoa sente prazer nisso, do contrário, ela nunca agiria dessa forma. Na verdade, nossa ação de dar ou receber não importa, ações mecânicas não determinam nada.



Tudo é determinado apenas pela intenção. Há quatro combinações entre intenção e ação:

·       Receber com o propósito de receber;

·       Doar com o propósito de receber;

·       Doar com o propósito de doar;

·       Receber com o propósito de doar.



As primeiras duas combinações, “ação-intenção”, existem em nosso mundo. A terceira e a quarta existem no Mundo Espiritual. Se o homem consegue alcançar essas intenções, isso significa que ele está no Mundo Espiritual. A Espiritualidade começa quando a pessoa doa a fim de doar. Doar a fim de doar é algo que nós não compreendemos. Onde eu entro nisso? Eu sou separado do meu ego, do meu desejo de receber. Eu dôo alguma coisa e satisfaço a alguém sem receber nada em troca… Isso é possível?



Há também “receber com o propósito de doar”. Quando estudamos os objetos espirituais - Galgalta, AB, SAG - isso parece muito simples, mas, na verdade, somos incapazes de imaginar esse fenômeno em nossa vida.



O fato é que receber prazer através da doação não é proibido, entretanto, a doação deve ser puramente espiritual, sem qualquer traço de “para si mesmo”. Primeiro, o homem realiza um Tzimtzum (uma restrição), “ascende” a esse Nível Espiritual, e adquire a propriedade de total indiferença pelas suas próprias necessidades. Só então ele pode doar e sentir prazer, receber prazer através da doação, ou seja, a satisfação que ele sente não é o resultado de sua doação, mas a consequência de alguém beneficiar-se dela.



O Tzimtzum Aleph (A Primeira Restrição) não é apenas uma ação realizada no Mundo do Infinito. Se o homem for capaz de restringir-se e não pensar no seu próprio benefício, então ele começa a ascender, a “contar” seus Níveis Espirituais.



Um movimento é definido como uma mudança no desejo ou, mais precisamente, um desejo ao qual ele pode adicionar a intenção “pelo Criador” e não “para si mesmo”. Se o seu desejo é constante em tamanho e direção, considera-se que você está imóvel. Suponha que você deseje o meu bem em vinte por cento da sua intenção. Se o seu desejo é apenas isso, então você está absolutamente estático, mas se ele se modifica em relação a mim, então você está em movimento.



Enquanto avança os Níveis Espirituais, o homem permanece em constante movimento em relação ao Criador. E também lhe parece que, em relação a si mesmo, o Criador está constantemente se aproximando. Isso ocorre porque na medida em que ele ascende a um nível mais alto, a revelação do Criador aumenta, isto é, ele vê que o Criador é cada vez mais bondoso e deseja doar a ele. Nas sensações do homem, a aproximação é mútua.



Apesar disso, foi dito que “a Luz Superior é absolutamente estática”, isto é, a Luz Superior e não o que incide sobre o homem, ou seja, a intenção do Criador, não a Sua Luz. Não podemos sentir a Luz Superior até que ela penetre no vaso. No interior do Kli, conseguimos sentir diversas variedades de Luz, assim como a maneira com que Elas nos afetam. Entretanto, o Criador, a Luz Superior, é absolutamente estática, pois Seu desejo, único e constante, é nos doar prazer.



Como sabemos disso? Há pessoas que ascenderam a este alto Nível, onde puderam alcançar plenamente o desejo do Criador em relação à Criação. Eles alcançaram o nível do maior Kli e o preencheram completamente com a Luz do Criador. Eles não podem ascender ainda mais, mas podem compreender que tudo o que o Criador transfere à Criação é bondade absoluta.



O que é ser absolutamente bom? Não nos referimos ao Criador Ele Mesmo, mas sim, às Suas qualidades em relação ao homem. O Criador Ele Mesmo é incompreensível. Quando o homem, no seu Kli, seja Baal HaSulam, o Ari ou Rabi Shimon, alcança a Correção Final (Gmar Tikun) e recebe do Criador tudo o que puder, ele torna-se o único recebedor! Talvez apenas ele se beneficie da atitude do Criador e os outros não. Assim, vemos que em nosso mundo o Criador trata bem a um e a outro não. Como podemos afirmar que Ele é absolutamente bom para todos?



O fato é que, enquanto o homem ascende os Níveis Espirituais, ele absorve todos os vasos de todas as almas, conecta todas as almas criadas à dele. Ele absorve seus sofrimentos e realiza suas correções. Isso se denomina “aquele que sofre pelo mundo inteiro é recompensado com o mundo inteiro”. O homem recebe a Luz que desce a todas as almas. Portanto, no seu último estágio, todo cabalista recebe essas sensações como se apenas ele tivesse sido criado, sendo ele mesmo Adam Ha-Rishon. Dessa forma, ele sabe e sente o que o Criador faz para cada alma.



Nós todos existimos em um estado perfeito, mas não o sentimos dessa forma. Nossas sensações são falhas e distorcidas. De acordo com elas, nosso estado é imperfeito. Nossas emoções são tão grosseiras que mesmo o estado mais abençoado é percebido como imperfeito. Mesmo agora, estamos em um estado absolutamente perfeito. Entretanto, somos levados a pensar e sentir de tal forma que nos parece um estado diferente, ruim, como está dito: “Quando retornarmos ao Criador, veremos que tudo isso era um sonho”.



Então perceberemos que nossas sensações eram muito primárias, que víamos a realidade de maneira muito diferente daquilo que ela realmente é. Não conseguíamos percebê-la corretamente, pois nossos sentidos estavam sintonizados de maneira errada.



Na verdade, todas as almas estão em um estado perfeito. Nenhum estado ruim foi criado pelo Criador. Ele criou uma alma perfeita que está em absoluta confluência com Ele, completamente preenchida de Luz e regozijando-se na Sua Grandeza e Poder.



Por que então existem outros estados? Porque, neste momento, não temos as ferramentas para sentir essa Perfeição. Por que todos os mundos estão dentro de nós? Porque a menos que essas ocultações e distorções interiores sejam corrigidas, não seremos capazes de sentir onde estamos de verdade.



Na realidade, nós já estamos lá e sentimos isso, mas não em nosso estado atual. Um cabalista, neste mundo, está constantemente realizando correções. Ele sofre e se preocupa enquanto faz essas correções em si mesmo. Além disso, existem almas especiais em nosso mundo que tomam para si as correções gerais do mundo inteiro e, assim, o “empurram” na direção do bem universal.



Mesmo em nossos estados mais “sem vida”, passamos por grandes mudanças. Não podemos senti-las. Muitas vezes, o dia passa como se fosse um instante e em outras se arrasta pela eternidade…



Pergunta: O que significa quando o Partzuf recebe a Luz e então a rejeita?



Em nosso mundo, é impossível devolver o que já foi recebido internamente. Ainda assim, quando falamos sobre Espiritualidade, nos referimos a sensações. Imagine sentir-se muito bem e depois muito infeliz, e então muito bem e novamente miserável. De certa forma, isso é como receber a Luz e rejeitá-la. Esse exemplo demonstra a impossibilidade de equiparar ações espirituais e o nosso corpo material, pois eles têm forma muito diferente.



O desejo do Kli de adquirir uma tela e assemelhar suas qualidades às do Criador, depois da Primeira Restrição, é apenas uma das inúmeras correções “externas”, chamadas “vestimentas”. A propriedade interior, o desejo de receber prazer, mantém-se inalterada, conforme a Lei Espiritual que diz: “O desejo permanece inalterado”. Em outras palavras: O tamanho do desejo criado nunca se modifica.



O Criador criou o desejo em absoluta conformidade com a Luz com que Ele deseja prover a criação. Nem o tamanho desse desejo, nem sua qualidade, estão sujeitas à mudança. Altera-se apenas a intenção da criação durante a recepção. A recepção pode ser tanto “Para o Criador” quanto “Para mim mesmo". Existe um anfitrião, mas não posso vê-lo nem senti-lo, tudo o que eu vejo utilizo em benefício próprio. Esse estado é chamado de “Meu mundo”.



Sentir o Criador e ser capaz de rejeitar o que Ele oferece significa que a pessoa cruzou a Machsom - uma barreira entre o Mundo Espiritual e o nosso. Ela já possui a intenção de não utilizar o seu egoísmo: o desejo permanece, e de forma alguma é diminuído, mas seu uso foi transformado de “Para mim mesmo” em “Para o Criador”.           



Primeiro, eu apenas me restrinjo de receber “Para mim mesmo”. Depois, posso corrigir minha intenção e deixar minha tela tão forte que serei capaz de utilizar meu egoísmo “Para o Criador”, isto é, passar a receber “Para Ele”.



Meu Nível Espiritual, meu lugar nos Mundos Espirituais, depende do quanto eu posso receber pelo Criador. Dessa forma, se eu puder receber um quinto da Luz destinada para mim, então estou no Mundo de Assiyá; se eu puder receber dois quintos, estou no Mundo de Yetzirá; se recebo três quintos, estou no Mundo de Beriá; se recebo quatro quintos, estou no Mundo de Atzilut; e se eu receber cinco quintos, estou no Mundo de Adam Kadmon. Uma vez que sou capaz de receber tudo o que emana do Criador, retorno ao Olam Ein Sof (o Mundo do Infinito), isto é, o Mundo da Recepção Ilimitada.



Este era o Mundo da Recepção Ilimitada sem a tela, antes do Tzimtzum Aleph (TA). Nesse momento, eu também posso receber sem limitações, mas com a ajuda da tela. Esse estado, tão diferente da recepção anterior ao TA, é chamado de Correção Final. Não existem níveis no Mundo do Infinito, embora surjam cada vez mais condições para a recepção.



Nós não estudamos o estado da criação quando o Mundo do Infinito é alcançado, uma vez que tudo o que se refere ao estado posterior à Correção Final é chamado de Sitrey Torah (Segredos de Torá). E tudo o que se refere ao estado anterior à Correção Final é chamado Ta'amey Torah (Sabores de Torá). Ta'amey Torah pode, e deve, ser estudado por todos, pois todos são compelidos a alcançá-lo. Esse estado pode ser apreendido de duas maneiras (mais frequentemente na sua combinação): pelo “Caminho do sofrimento” ou pelo “Caminho da Torá”. Em qualquer caso, o resultado será o mesmo, diferindo apenas no tempo e nas sensações. Todas as pessoas terão que apreender a Ta'amey Torah, isto é, dominar a Cabalá, a ciência de receber a Luz da Torá.



Dessa forma, como foi dito acima, o desejo em si mesmo permanece inalterado. Apenas a tela é que muda. De acordo com a resistência da tela, eu recebo apenas a parcela do meu desejo que posso utilizar pelo Criador. Ainda assim, independente da parte do desejo que é utilizada, eu sempre recebo uma certa porção da Luz em todos os cinco níveis da alma.



Suponha que há cinco pratos sobre a mesa à minha frente. Me sirvo um pouco de cada prato, sendo que a quantidade da porção depende da resistência da minha tela. Eu sempre sinto o NaRaNHaY - cinco "Luzes-Prazer" (Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yehidá) - nas cinco partes do meu desejo de receber prazer (Keter, Chochmá, Biná, Zeir Anpin e Malchut). Quando a Luz é recebida em um dos meus desejos significa que essa Luz penetra as cinco partes desse desejo (cinco Sefirot) que tenham o mesmo nível de Aviut. Isso quer dizer que a recepção da Luz (Partzuf) surge (nasce) de um Zivug de Haká (a interação da tela com a Luz).



É como pedir o menu de um restaurante. Há vários tipos de comida que custam dez, vinte, trinta, cem ou mil reais, mas cada um deles consiste de cinco pratos, já que eu sempre tenho uma combinação de cinco desejos. É dessa forma que meu desejo de receber foi originalmente projetado. Coincidentemente, possuo cinco sentidos. Cada prato consiste de meus cinco desejos Keter, Chochmá, Biná, ZA e Malchut, e dentro deles eu recebo as Luzes Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yechidá.



Os Vasos e as Luzes têm nomes comuns, mas os Partzufim têm nomes específicos. Por exemplo, os Partzufim do Mundo de Adam Kadmon são chamados de Galgalta, AB, SAG, MA e BON; os do Mundo de Atzilut são chamados de Atik, Arich Anpim, Aba ve Ima, ZON etc.



Depois da “Queda”, a Criação, a Alma Comum, Adam HaRishon, dividiu-se em milhares de almas. Durante o processo de correção, as almas ascendem e ocupam certos lugares nos Mundos Espirituais. Afim de denominar esses níveis com nomes breves e precisos, foram utilizados os nomes Abraão, Isaac, Jacó, Beit HaMikdash (o Templo), Cohen HaGadol (o Sumo Sacerdote), Shemesh (o Sol), Yareach (a Lua). Semelhante a estes níveis e estados, os dias da semana, sábados, feriados etc. também receberam nomes conforme os Mundos e as Almas que ascendem e descendem de cada um.



Agora podemos compreender sobre o que realmente a Torá fala. Ela descreve apenas a realidade Espiritual: Mundos, Partzufim, Sefirot e Almas. Para descrever as Almas e o que ocorre a elas, utilizamos a “Linguagem dos Ramos”. Dessa forma, na Torá não existem termos cabalísticos como Keter, Chochmá, Biná, Atik e Arich Anpim. São utilizados nomes mais específicos e precisos para designar um nível específico ou parte deste nível, em determinado estado. Nesse caso, ela seria chamada, por exemplo, de um lugar de descanso no deserto ou alguma ação etc.



Independente dos ascensos e descensos do mundo, a Alma sempre é revestida por uma casca externa. No momento, chamamos nossa casca “Este mundo”, ou “Nosso mundo”. Se o homem trabalha em si mesmo e atravessa a Machsom, ele sentirá outro mundo paralelo a este, isto é, forças mais exteriores, uma maior manifestação do Criador. O homem verá claramente a Luz emanando Dele e estabelecerá um contato tangível com Ele.



O homem atinge este ou aquele nível de acordo com a força da tela adquirida, pois cada Mundo e cada Nível representa um filtro: do Mundo do Infinito até o nosso mundo existem 125 Níveis, ou seja, 125 filtros entre o Mundo do Infinito e o nosso mundo.



Eu estava totalmente preenchido pela Luz no Mundo do Infinito. No nosso mundo, estou totalmente separado da Luz. Não posso vê-la nem senti-la, pois esses filtros ocultam-na de mim. Supostamente, cada filtro oculta 1 parte de 125 partes da Luz. Uma vez que existem cinco Mundos, cada qual contendo cinco Partzufim que, por sua vez, contém cinco Sefirot, todos juntos equivalem a 125 níveis (5x5x5=125). O que significam esses níveis?



Assim como um vidro colorido, cada mundo restringe a Luz. Por exemplo, tomemos como exemplo um pedaço de vidro vermelho. Por que ele é vermelho? Porque ele restringe a cor vermelha. Como posso fazer com que esse nível deixe de restringir a cor vermelha que vem a mim? É muito simples: Preciso me assemelhar às propriedades dele. Em outras palavras: Ele restringe a Luz para mim, pois não me é permitido recebê-la.



Se a Luz me atingir sem ser diminuída pelo filtro, eu a receberei “para mim mesmo”, já que eu não possuo uma tela adequada para ela. Portanto, minha tela deve corresponder às propriedades do filtro daquele nível e, nesse caso, eu serei capaz de enfraquecer a Luz. Assim, se eu adquirir uma tela tão forte quanto este nível específico, eu me assemelho às suas propriedades e todas as restrições desaparecem, elas deixam de existir.



Portanto, pouco a pouco, nível a nível, eu elimino todos esses níveis-filtro até que todos desapareçam e reste apenas a Luz. Tal estado significa o recebimento do Mundo do Infinito. Ele é infinito e não possui limitações, já que eu neutralizo todas elas.



Quando eu atinjo determinado nível, passo a senti-lo e compreende-lo de forma muito diferente. Eu mesmo me torno uma qualidade deste nível. Assim, a Torá diz que “todos devem ser como Moisés”, isto é, devem elevar-se ao nível alcançado por ele, já que nos Mundos Espirituais “Moisés” é o nome de um nível, e todos que o alcançam são considerados “Moisés”.



A cada vez, o homem aumenta a força da sua tela de acordo com as qualidades do nível diante dele. Qualquer nível acima de onde me encontro é definido como o Criador. Eu não posso ver nada além dele já que, para mim, ele é a Sua manifestação. Portanto, cada vez mais, devo assemelhar minhas propriedades ao Criador diante de mim. A cada nível Ele é diferente, revelando-Se cada vez mais.



Qual é o limite? Suponha que uma pessoa roube mil reais que estejam na sua frente, mas que se fosse apenas cem, ela não o faria. Isso significa que essa pessoa já tem uma tela para cem, então essa quantia pode ser posta diante de si: ela será capaz de rejeitá-la e de trabalhar com ela de forma altruísta. Assim, ela não é afetada pela proibição de “não roubar” quando se tratar de cem.



Se ela for capaz de fortalecer sua tela e não roubar mil, então essa quantia não será mais uma limitação e poderá ser colocada diante dela. Do mesmo modo, o homem deve fortalecer sua tela antes que a Luz Infinita destinada a preenchê-lo seja “colocada” à sua frente.



Quando o homem for capaz de receber toda essa Luz pelo Criador, ele experimentará um prazer 625 vezes maior no Mundo do Infinito que em Malchut (criação). Por que ele receberá mais prazer? Por que a descida de Malchut (das Almas) do Mundo do Infinito ao nosso mundo foi necessária? Qual o objetivo da separação do Criador e do retorno gradual a Ele?



Assim foi feito de forma que, através do livre arbítrio, por desejo e força, o homem possa alcançar um estado tão elevado quanto o Mundo do Infinito. Estar no Mundo do Infinito foi, inicialmente, determinado pelo Criador, não pelo homem. Ao alcançar este estado por si mesmo, ele adquire seus próprios vasos, sua própria tela, suas próprias sensações, e recebe sua própria Eternidade e Perfeição.

         A questão é que, devido aos esforços independentes do homem, ele se prepara para sentir o que realmente lhe está sendo doado do Mundo do Infinito. Quando Malchut do Mundo do Infinito nasceu, a partir do Pensamento do Criador, recebeu a Luz e, posteriormente, absteve-se de receber mais, o homem sentiu apenas uma ínfima parte de tudo isso, pois seu vaso ainda não estava pronto.



Conforme a criação começa a ascender de um ponto totalmente oposto ao Criador, da pura escuridão, quando a fome e o desejo de sentir a Sua Luz for pouco a pouco se acumulando, consequentemente, a criação começará a satisfazer-se com essa mesma Luz, mas o prazer já será 625 vezes maior do que no início da correção.



A Luz não muda, tudo depende da fome, do desejo de receber a Luz. Se o homem não estiver com fome, ele não será capaz de apreciar nem mesmo as melhores iguarias. Se ele estiver faminto, até uma casca de pão será a fonte de um grande prazer. Assim, tudo depende de quão intensa é a fome, e não a Luz. A pessoa pode receber uma mínima parcela de Luz, mas o vaso sentirá um imenso prazer.



Do contrário, a Luz pode preencher tudo ao redor, mas se o vaso não sentir fome, ele sentirá, de toda essa Luz, apenas a Ohr Nefesh, uma Luz muito pequena. Todo o Universo e seu domínio foram projetados de forma a preparar o Kli para receber o prazer perfeito. Em outras palavras: para que ele realmente sinta o que o Criador doa a ele. Para isso, ele deve se afastar e, então, aproximar-se de forma gradual e independente.



A Linguagem das Raízes e dos Ramos existe apenas em hebraico, mas ela pode ser construída sobre a base de qualquer outra língua. Em outras línguas, a relação entre a raiz espiritual e suas consequências em nosso mundo não podem ser identificadas. Isso ocorre até com o hebraico moderno. Entretanto, se consideramos o hebraico básico, com todas as suas raízes, então perceberemos uma conexão evidente entre a raiz e a consequência.



Tal conexão existe em todas as línguas, mas, nelas, ninguém ainda tentou encontrá-la. Nenhum cabalista aponta a conexão entre o Espiritual e o material nos caracteres chineses ou nas letras latinas. Em hebraico, graças aos cabalistas, essas correspondências são conhecidas, por exemplo, a razão por que a letra Aleph é escrita de uma forma e não de outra.



O que de fato é expresso através disso? Sensações humanas. Podemos utilizar a linguagem da música, da cor, ou qualquer outra linguagem. Tudo o que puder ser usado para expressar sensações humanas, ideias, compreensão, pode ser utilizado como uma linguagem. É possível falar sobre espiritualidade em qualquer língua. O hebraico é singular nisso, pois possui um código estabelecido. Entretanto, se existir um cabalista que conheça as raízes de qualquer outra língua, ele será capaz de fazer o mesmo com ela.



As forças por trás das letras hebraicas formam combinações, visíveis na forma de uma determinada letra. O hebraico encontra-se na raiz de outras línguas. Na verdade, a inscrição das letras dessas outras línguas vem da mesma raiz das letras hebraicas. Contudo, elas foram modificadas, por isso a conexão entre essas letras e suas raízes espirituais são diferentes.



Quando compreendemos um determinado nível espiritual ou sensação, quando sentimos algo do Mundo Espiritual, sabemos como nomear essa sensação específica. Então o que podemos fazer se ainda não compreendemos o Espiritual? Quando as sensações não podem ser expressas em palavras? Quando ainda não temos a linguagem apropriada? O que podemos fazer para encontrar essa linguagem?



No Mundo Espiritual, não há linguagem, nem mundos, nem letras, apenas a sensação da Luz no Vaso. O fato é que cada vaso espiritual possui seu ramo neste mundo, tudo desce do Mundo do Infinito até o nosso mundo, portanto, todas as sensações do nosso mundo elevam-se ao Mundo do Infinito. Dessa forma, de qualquer ponto do Mundo do Infinito podemos traçar uma linha reta que atravessa todos os mundos até o nosso, seu ramo.



Assim, é possível dizer que a alma de Adam HaRishon, dividida em 600 mil partes, existe em cada um dos Mundos Espirituais. A disposição dos Mundos é idêntica, a diferença reside apenas no material do qual cada um se constitui. Em qualquer Mundo, a alma sente a sua condição, influência e interação com determinado nível espiritual.



Se tomarmos a projeção dessa alma em nosso mundo, podemos encontrar no hebraico conceitos correspondentes às condições espirituais. Então podemos utilizar as palavras do nosso mundo, assumindo que, através delas, não nos referimos a objetos do nosso mundo, mas sim a forças, objetos e ações do Mundo Espiritual. Essa perfeita correspondência é o resultado do uso de uma mesma e única língua. A diferença existe apenas no plano deste ou “daquele” mundo, no qual o conceito pretendido se origina.



Nossa língua é a descrição de objetos, ações, sensações, reações e interações.



Tudo o que temos em nosso mundo existe no Mundo Espiritual: a mesma imagem nos 5 níveis. Com isso, em cada estágio, em qualquer um dos 125 níveis, indiferente de onde você esteja, você sempre pode utilizar nossa língua e descrever o que está acontecendo naquele nível. Entretanto, apenas alguém que já passou por esse nível pode realmente compreendê-lo. Aquele que ainda não chegou lá assumirá que você está falando sobre o nosso mundo ou sobre o nível em que se encontra no momento em que lê ou escuta o seu relato.



A Torá está escrita na Linguagem das Raízes e dos Ramos do nível do Mundo de Atzilut. Entretanto, pessoas despreparadas entenderão o que está escrito na Torá de forma literal, assumindo que ela se refere ao nosso mundo. Elas tomam-na por uma coleção de histórias. Assim, a Linguagem das Raízes e dos Ramos descreve ações espirituais que ocorrem ao mesmo tempo em todos os níveis.



O “Preâmbulo à Sabedoria da Cabalá” estuda o nascimento, desenvolvimento e posicionamento dos Mundos. Quando os Mundos Superiores propagam-se até o nível do nosso mundo, as almas começam a elevar-se do nosso mundo ao Mundo do Infinito.



A alma se eleva, pois absorve todas as qualidades, conhecimento e revelações de todos os níveis anteriores. Portanto, ela sabe exatamente o que ocorre em cada um dos níveis inferiores. Os cabalistas estão no Mundo de Atzilut. Mas então como eles nomeiam ações que acontecem lá com palavras do nosso mundo?



A questão é que eles não perdem a conexão com o nosso mundo, mas vivem em ambos os mundos sentindo, ao mesmo tempo, o que ocorre no Mundo de Atzilut e no nosso mundo. Eles conhecem a correspondência exata entre um e outro. Portanto, nomeiam os objetos do Mundo de Atzilut de acordo com as propriedades que aparecem em nosso mundo, como uma projeção dos Mundos Espirituais.



No Mundo de Atzilut, não há objetos criados pelo homem (por exemplo, aparelhos de rádio, computadores etc), mas todos os outros objetos e forças estão presentes. Os cabalistas vêem que determinado objeto do nosso mundo é a consequência desse mesmo objeto no Mundo de Atzilut. Assim, ele designa o objeto (a raiz) do Mundo de Atzilut com o mesmo nome que o objeto correspondente (ramo) traz em nosso mundo.



Não existe relação entre a compreensão cabalística e a meditação ou qualquer outra ideia “mística”. Tudo o que é estudado por especialistas esotéricos, místicos e pseudo-cabalistas pertence ao campo da psique humana, e de forma alguma se relaciona com espiritualidade, recebimento do Criador ou Cabalá.



A maioria dessas pessoas não faz a menor ideia do que seja uma tela e, sem ela, a Espiritualidade não pode ser alcançada. Os pseudo-cabalistas que já ouviram falar sobre a tela, acreditam que já a possuem, e imaginam que já estão no Mundo do Infinito. A Cabalá é uma ciência secreta; ela não pode ser “falada” a qualquer um, mas apenas àquele que sente que é capaz de compreender.



Portanto, todos os métodos, ensinamentos, e religiões pertencem à compreensão das qualidades latentes da psique humana, são resultado da atividade do cérebro humano. Essas pessoas podem fazer muito. Eles podem realmente curar, prever o futuro, e ver o passado - tudo o que se refere ao corpo.



O homem tem poderes potenciais para fazer o que quiser com seu corpo físico. Entretanto, para entrar no Mundo Espiritual, é preciso ter uma tela. É por isso que os inúmeros tipos de previsões, truques, milagres, inclusive aqueles que realmente existem, não devem ser confundidos com Cabalá. Uma pessoa pode predizer o futuro da mesma forma que fizeram Wolf Messing e Nostradamus, ou pode adivinhar o passado de alguém ao olhar para essa pessoa, mas nada disso tem a ver com Espiritualidade.



Tudo o que se refere ao corpo, ao nosso mundo, pode ser previsto e modificado, não há nada de sobrenatural nisso. Cada um de nós, se assim desejar, pode se retirar dos transtornos da civilização e passar a cultivar tais poderes e habilidades. Nós perdemos essas capacidades porque elas foram substituídas pelos frutos da civilização.



Todo mundo tem essas inclinações naturais. As pessoas que possuem tais habilidades, que são capazes de olhar a si mesmas de forma crítica, dizem que existe um Criador, mas que nada sabem sobre Ele, ou possuem qualquer relação com Ele. Entretanto, prever o futuro do homem, ver seu passado, ou fazer qualquer coisa contra a sua vontade, não tem nenhuma relação com o Espírito. Uma vez que essas habilidades estão dissociadas da Alma, elas morrem junto com a pessoa.



A Alma é um Vaso criado com a ajuda da tela. Se não há tela, não há Alma. Enquanto não houver tela, há apenas um ponto no coração, o embrião da Alma. Durante o processo de aquisição da tela, as primeiras (e ainda muito pequenas) dez Sefirot começam a surgir. Quanto maior se tornar a tela, maiores também ficarão as dez Sefirot abaixo dela, mas sempre serão 10.



Se o homem não tiver uma tela, então ele morrerá da mesma forma que nasceu, independente das grandes habilidades que tenha desenvolvido enquanto esteve neste mundo. Você acha que, por não respirar, um yogi torna-se Espiritual? Para entrar no Mundo Espiritual, o homem deve dedicar toda a sua força, tempo e desejos para este fim. Apenas os desejos necessários para a existência neste mundo precisam ser supridos. Para que o Mundo Espiritual se abra, um desejo verdadeiro é necessário. Apenas aquele que realmente desejar entrar entrará no Mundo Espiritual. Se você mistura os estudos de Cabalá com outras coisas, além do suprimento das necessidades de sua existência, significa que seu desejo está dividido.



Inclusive agora, o homem pode julgar apenas a partir do nível em que está. É impossível saber como será no próximo nível. Tudo muda completamente num outro nível. Todo o mundo interior do homem, pensamentos, desejos, reações e aparência - tudo isso muda. Tudo é tirado dele, restando apenas a carne, sua casca externa; o restante é reinstalado outra vez.



Por isso, não conseguimos compreender como esse desejo pode ser o único desejo. Não conseguimos compreender isso agora, já que ainda não estamos neste nível. Quando ascendermos, de forma gradual, a um nível mais alto, sentiremos que esse desejo é realmente formado. Esse desejo é o único requisito para entrar nos Mundos Espirituais. Uma vez que você alcança essa condição, os portões da Espiritualidade se abrirão à sua frente.



Deve-se destacar que mesmo um grande cabalista não consegue prever as habilidades em potencial do homem. Um cartomante pode prever corretamente seu futuro terreno, material, mas não o futuro Espiritual do homem. Além disso, quando confrontado com um cabalista, um cartomante genuíno sente que qualquer previsão sobre o seu futuro está além de suas habilidades.



Um cabalista não se interessa em desenvolver a habilidade de prever o seu futuro. As forças do mundo são necessárias para isso e, via de regra, elas são completamente não desenvolvidas em um cabalista.



Um cartomante pode descrever todas as doenças e problemas corporais de um cabalista. Mas nada pode dizer sobre o seu self. Ele pode apenas determinar sua condição física em um dado momento.



Um cabalista está constantemente buscando a conexão com o Criador e não tenta adivinhar como ou o que ele deve fazer para melhorar o seu futuro. Tal pensamento nem cruzaria a mente de um cabalista. Esse desejo pertence às forças impuras e não à Cabalá. Ao compreender o Mundo Superior, um cabalista compreende os caminhos de correção de todas as almas.



Toda informação no Mundo Espiritual consiste de cinco partes (Behinot). Um Zivug de Haká no Peh de Rosh, ainda que envolva apenas um tipo de Luz, permite a formação de um Partzuf composto de cinco partes. O que significa “uma Luz”? Uma Luz é um estado geral. Esse estado consiste de cinco partes que se diferenciam quantitativa e qualitativamente. Entretanto, elas devem sempre estar unidas, como um conjunto. É como a sensação que resulta da combinação de cinco sub-sensações dos nossos cinco sentidos: tato, olfato, visão, audição e paladar.



Já que cinco Luzes chegam a mim, deve haver cinco desejos em mim. A diferença entre eles encontra-se tanto em qualidade quanto em quantidade. Entretanto, todos eles agem juntos. Eu não posso tornar um desejo maior e outro menor. Eles formam um determinado conjunto. A Luz que entra no Vaso passa por quatro níveis. Por sua vez, o Vaso consiste de cinco níveis do desejo de receber prazer.



Vamos rever o tópico 7:



E então podemos compreender o que está escrito na primeira parte do livro A Árvore da Vida: "A criação de todos os mundos é uma consequência da perfeição do Criador em todas as Suas ações. Entretanto, se Ele não tivesse revelado Seus poderes nas ações que pratica aos seres criados, Ele não teria sido chamado “perfeito”.



Assim, já que o Criador é perfeito, todas as Suas ações devem ser perfeitas, por isso Ele criou os Mundos. Mas, apesar disso, os Mundos são a ocultação do Criador, o distanciamento Dele.



À primeira vista, entretanto, não fica claro como ações imperfeitas poderiam surgir de um Criador perfeito. Além disso, as ações do Criador são tão imperfeitas que elas precisam ser corrigidas pelo homem. A partir dessa afirmação, compreenda que já que a essência da criação é o desejo de receber prazer, ela é de fato imperfeita devido a sua total oposição em relação ao Criador (enquanto Ele é perfeito e doador, a criação apenas recebe, é imperfeita, e suas propriedades são opostas às Dele). Por um lado, ela está absolutamente distante e separada Dele e, por outro, ela é algo novo, criado a partir do nada. A Criação foi criada para receber e se satisfazer com o prazer do Criador.



Isso significa que o desejo de receber prazer, ainda que seja oposto ao Criador e absolutamente imperfeito, é, apesar disso, exatamente o que o Criador precisou criar.



Entretanto, se as criaturas estivessem distantes do Criador nas suas propriedades, Ele não teria sido chamado de Aquele que é Perfeito, uma vez que ações imperfeitas não podem surgir de alguém Perfeito. Portanto, o Criador restringiu a Sua Luz, criou os Mundos, restrição após restrição, até o nosso mundo, e vestiu as almas em corpos do nosso mundo.



Por “nosso mundo” não nos referimos ao mundo físico, mas ao conjunto de desejos egoístas que correspondem ao estágio mais baixo do desenvolvimento dos mundos.



“Estudar a Torá” significa aprender com o propósito de corrigir-se, e não ler um livro chamado Torá. “Observar os mandamentos” significa realizar ações espirituais com uma tela, e não fazer ações mecânicas. Através do estudo da Torá e do cumprimento dos mandamentos, a alma atinge uma perfeição que lhe faltava no princípio da criação. Ela significa a equivalência de suas propriedades com as do Criador. Assim, a Alma merece receber todo o prazer que estava no Pensamento da Criação, e então ela unifica-se completamente com o Criador.



Isso significa que, apesar do desejo, uma recompensa adicional aguarda a Alma, chamada “unificação com o Criador”. Dessa forma, não se trata apenas de receber toda a Luz, mas sim da unificação com o Criador, a recepção da Luz que ocorre devido à equivalência de propriedades.



A equivalência de propriedades e a unificação com o Criador são muito mais elevadas do que receber a Luz, uma vez que, devido à semelhança de forma, a Alma eleva-se ao nível do Criador. Ela não apenas recebe a Luz do Criador, mas também ascende ao Seu nível. Dessa forma, ela ascende do nível da criação ao nível do Criador e também compreende aquilo que está acima da sua natureza.



(8)

Apenas ao entregar-se à Torá e aos Mandamentos não com a intenção de receber qualquer recompensa, mas de agradar ao Criador, gera-se um poder especial (Segula) que permite que a alma alcance o estado de unidade absoluta com o Criador. Gradualmente, a alma avança ao adquirir cada vez mais propriedades semelhantes às do Criador, como está dito no artigo "Preâmbulo à Sabedoria da Cabalá".



Essa ascensão, a unificação com o Criador, consiste de cinco níveis: Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yechidá. Os quais são recebidos de cinco Mundos: AK, Atzilut, Beriá, Yetzirá e Assiyá.                         

Quando a alma se eleva ao Mundo de Assiyá, recebe a Luz de Nefesh. Quando se eleva ao Mundo de Yetzirá, recebe a Luz de Ruach. No Mundo de Beriá, ela recebe a Luz de Neshamá. No Mundo de Atzilut, a Luz de Chayá; e, no Mundo de Adam Kadmon, a Luz de Yechidá.



Cada um desses cinco níveis é dividido, por sua vez, em cinco subníveis, também chamados de Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yechidá. Ele os recebe dos cinco Partzufim que formam cada um dos cinco mundos. Cada subnível possui seu próprio NaRaNHaY, que é recebido das dez Sefirot que formam cada Partzuf.



Pela observação da Torá e dos Mandamentos com a intenção de agradar o Criador, os seres criados pouco a pouco adquirem vasos-desejo dos níveis acima mencionados até que se unifiquem completamente com o Criador.



Assim, um desejo maior de doar forma-se gradualmente na alma. À medida que isso ocorre, cada vez mais a alma preenche-se de Luz, até atingir a absoluta equivalência de forma com o Criador.



Nesse estágio, ocorre a realização do Pensamento da Criação nas almas: a recepção de todo o prazer que o Criador preparou a elas. Além disso, já que as almas adquiriram o desejo de doar, elas se unificam completamente (Dvekut) com o Criador e experimentam um prazer perfeito, eterno e infinito, muito maior que o da recepção da Luz.



Portanto, a criação obtém:

                                              

1.    A recepção do prazer preparado para ela na forma do NaRaNHaY.

2.    A equivalência de forma com o Criador, isto é, eleva-se ao nível do Criador e adquire uma perfeição igual à Dele.



Não somos capazes nem de imaginar este nível. Estamos acostumados a operar com noções como a vida, morte, tempo e prazer. Entretanto, quando se trata de níveis espirituais, não temos palavras nem sensações para imaginar ou descrever esses estados.



No processo de aquisição da tela, o homem passa a modificar suas qualidades, de acordo com a recepção da Luz e sua gradual ascensão. Cinco grandes níveis (Mundos) são divididos em cinco subníveis (Partzufim), os quais, por sua vez, possuem seus próprios cinco níveis (Sefirot), e todos eles se caracterizam por uma semelhança cada vez maior com o Criador.



Enquanto o homem ainda permanece não corrigido, cada um desses cinco níveis é, para ele, uma ocultação do Criador. Quando o homem recebe a correção, esse mesmo nível torna-se uma revelação do Criador e uma Luz para ele. Em outras palavras: por um lado, cada estágio é uma ocultação do Criador e, por outro, Sua revelação.



Cada estágio consiste de determinado nível das propriedades do Criador. Vamos considerar que o Mundo do Infinito corresponde a cem por cento das propriedades do Criador, além de ser o nível mais alto. Então, o nosso mundo corresponde a zero por cento das propriedades do Criador. O Universo Espiritual remanescente encontra-se entre eles e é dividido em 125 níveis, que correspondem a 125 porções das propriedades do Criador.



Como foi dito, devemos nos libertar do egoísmo, pois o egoísmo é um Kli, ou vaso, inferior. No momento em que ele começa a sentir prazer, a sensação elimina o desejo e, como resultado, o prazer também é eliminado. Isso significa que no momento em que o desejo é satisfeito o prazer imediatamente desaparece. Dessa forma, um Kli egoísta nunca pode ser satisfeito. Portanto, o egoísmo nos é dado apenas para que o corrijamos, para que possamos ser capazes de sentir, nele, o prazer perfeito e eterno.



O homem sente que alcançou determinado nível apenas quando estiver lá. Então ele sabe em qual nível está e por qual nível já passou. Ele vê o nível seguinte diante de si, aquele que ainda resta alcançar. Enquanto estudar de forma séria a Cabalá genuína, a partir de livros autênticos, ele começa a perceber o nível seguinte de sua ascensão.



No início, ele sente apenas a ocultação deste nível, isto é, que o Criador oculta dele neste nível. Então, o homem começa a compreender quais propriedades o Criador possui e como ele pode adquiri-las. Há muitos estágios nesse processo, mas o primeiro é o mais difícil. Comparado ao primeiro, a compreensão dos outros é muito mais fácil.



Isso se deve ao fato de que no primeiro nível nascem os maiores Kelim-desejos; precisamente aqueles Kelim que aparecem no primeiro nível e que, depois, aparecem no último. Isso ocorre devido a assim chamada relação inversa entre Luzes e Vasos.   Mesmo agora estamos em uma condição em que não sabemos realmente quais Kelim estamos utilizando. Embora já estejamos utilizando Kelim muito complexos, eles ainda não se manifestaram em nossas sensações. O maior Aviut de Shoresh, Aleph, Beit, Guímel e Dalet encontra-se no mundo de Assiyá. Entretanto, a maior tela está no Mundo de AK - que é a tela Dalet, em Atzilut - a tela de Shoresh.



É preciso sempre prestar atenção ao quê nos referimos: se à tela ou ao desejo no qual essa tela está “vestida”. Portanto, esse é o estágio mais difícil do nosso trabalho. Penetrar o Mundo Espiritual é a questão principal de toda a busca Espiritual do homem.



Depois disso, o homem enfrenta outros problemas e o trabalho se torna totalmente diferente. Ele já sabe exatamente o que fazer, tem uma ideia das 10 Sefirot adquiridas e certa compreensão verdadeira sobre o Universo. O Universo é construído de acordo com um único princípio, portanto, se o homem adquire suas próprias (ainda que pequenas) 10 Sefirot, então ele sabe prontamente sobre o quê a Torá fala, mesmo que no nível de suas 10 Sefirot. Por exemplo, se um homem que nasceu na selva fosse trazido ao mundo civilizado, ele não saberia utilizar os aparelhos tecnológicos. Já uma pessoa que cresceu em um país desenvolvido talvez não saiba os processos internos desses aparelhos, mas certamente sabe como utilizá-los, pois vive em meio a esses objetos. O mesmo princípio se aplica à pessoa que alcançou o menor nível do Mundo Espiritual: ela já tem uma noção da Espiritualidade e já possui Kelim (ainda que os menores). Os processos mais internos são percebidos nos níveis mais altos.



Quando o homem adquire a tela, ele faz um Zivug de Haka'a e recebe a Luz Interna dentro de si, o que lhe dá uma noção da Espiritualidade. Não sentimos nada fora de nós, sentimos o Mundo em nosso interior, o Mundo Espiritual. A Luz Interna, que preenche o Kli, nos confere a medida, que chamamos de “nível” ou Luz: os níveis de Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yechidá.



Para avançar, o homem deve constantemente absorver e revisar os textos cabalísticos na mente e no coração, estar preenchido por eles em todos os momentos. Não há outro método além de estudar Cabalá com os livros adequados, guiado por um professor, e trabalhar em um grupo. Esforços coletivos são muito importantes. Mesmo um grupo de iniciantes já constitui uma força espiritual, apesar do fato de seus membros nem imaginarem para quê estão estudando Cabalá e quais são seus objetivos. Por meio de seus esforços individuais, futuramente esse grupo será capaz de atrair uma Luz Espiritual realmente poderosa.



O Rei Davi descreveu todos os Estados Espirituais pelos quais a Alma ou o homem passam, do mais baixo ao mais alto. O Rei Davi (David HaMelech, Malchut) é assim chamado pois ele mesmo passou por todos os Estados Espirituais e os descreveu. Seu livro Tehilim (Salmos) é o nível mais alto na Cabalá, que inclui todos os estados possíveis da Alma.



Se o homem adquire as qualidades do Criador, todos os Seus desejos e hábitos, tal estado é chamado de Unificação com o Criador. Isso significa que o homem torna-se igual a Ele. E o que ele cria? Ao agradar o Criador, ele cria a si mesmo, gera a tela, ou ainda torna-se o sócio horizontal do Criador na criação de si mesmo.   



O Criador criou o egoísmo, o homem, e o homem realiza o altruísmo, o Criador, sem egoísmo, fora de si mesmo. Naturalmente, ele não cria isso a partir do nada (Yesh mi Ayin), assim como o Criador criou o nosso desejo de receber prazer, o egoísmo, a partir do nada. Entretanto, o objetivo do homem é transformar o egoísmo no seu oposto. Esse processo é chamado de “correção” (Tikun). Na verdade, é o nascimento de uma qualidade totalmente nova. Aliás, o Criador cria o egoísmo do homem e o homem cria o Criador.



O que significa a Criação ser gerada a partir do nada? Sabemos disso através dos cabalistas. Eles estudam todas as propriedades do Criador e vêem que Ele é absolutamente bom e completo. Portanto, Ele fez a Criação a partir do nada. Quando o homem se eleva, tornando suas propriedades semelhantes às do Criador nos níveis mais altos, chamadas de décimo milênio (no qual os segredos da Torá são revelados), ele vê a Criação por si mesmo, assim como a forma pela qual o Criador a criou.



As únicas fontes das quais estudamos são os livros do Zohar, os livros do Ari, os livros escritos por Baal HaSulam e Rabash. Nada mais pode ser lido de forma independente. Pode-se ler os livros da série Cabalá, a Ciência Secreta e nada mais. O Pentateuco pode ser lido apenas quando o homem consegue compreender que ele tem um significado profundo, cabalístico, e não que se trata apenas de uma narrativa histórica.



Muito tempo passará até que o homem comece a ver automaticamente ações espirituais por trás das palavras da Torá. É melhor ler o Livro dos Salmos, pois ao menos ali descrevem-se sentimentos humanos. Ainda que a intenção dos Salmos seja referir-se a sentimentos espirituais, de certa forma, eles são semelhantes aos sentimentos do nosso mundo. Por isso, aquele que o ler não ficará tão desorientado quanto ao ler a Torá.



É preciso estudar como se deve observar os mandamentos em nosso mundo. Para isso existe o Shulchan Aruch. Os mandamentos devem ser mantidos no nível “simples”. Josef Caro escreveu o Shulchan Aruch especialmente para aqueles que desejam estudar Cabalá e querem saber como os preceitos devem ser observados sem que seja necessário estudar os fólios da Guemará, o que não deixaria intervalo algum para o estudo da Cabalá. Não se deve ler o Zohar em aramaico, apenas os comentários de Baal HaSulam.          



(9)

Agora será mais fácil para você compreender o que está escrito no Livro do Zohar, que todos os mundos - Superiores e Inferiores - e tudo o que neles existe foi criado apenas para o homem. Todos esses níveis foram criados apenas para completar as almas, direcioná-las à Perfeição, ao nível de unificação com o Criador, o qual não está presente no momento do Pensamento da Criação.



No início da Criação, Cinco Mundos foram formados desde o nível do Criador até o nosso mundo com o propósito de inserir a alma no corpo material do nosso mundo. O corpo material é o desejo de receber sem dar nada em troca. Essa é a forma final do desejo de receber prazer para si mesmo. Por isso que as qualidades do homem em nosso mundo são completamente opostas às do Criador.



Ao estudar Cabalá, o homem pouco a pouco começa a compreender as propriedades de doação. De acordo com sua compreensão, ele gradualmente ascende, aprendendo as propriedades dos níveis descendentes, que possuem a propriedade de doação. Então ele alcança o nível de desejar apenas a doação, sem receber nada em troca. Como resultado, o homem unifica-se completamente com o Criador, isto é, alcança o estado para o qual foi criado. Portanto, todos os mundos foram criados para o bem do homem.



Dessa forma, todos os Mundos são criados a fim de ajudar o homem a ascender do ponto Zero, oposto ao Criador, subindo, até finalmente alcançar o último ponto, a unificação com o Criador. E, dessa forma, cumprir todo o Caminho, começando pela mais completa ocultação do Criador e passando por 125 níveis, cada um representando uma maior revelação do Criador.



Já falamos sobre o fato de que o Criador deliberadamente ocultou-Se por trás de cinco Mundos, que consistem de cinco Partzufim, sendo que cada Partzuf possui cinco Sefirot, o que totaliza 125 níveis de ocultação. Tudo isso foi feito a fim de que o homem ficasse totalmente afastado do Criador.



O homem é incapaz de sentir o Criador, ele acha que é independente, acredita que possui livre arbítrio, a liberdade de desenvolver e utilizar seu egoísmo como desejar. Tal condição é chamada de “Nosso mundo”. Na verdade, ele consiste das forças do Criador nos afetando em um estado de completa ocultação. Tudo o que nos circunda neste mundo é apenas o último nível das diversas forças que nos influenciam em favor do Criador. O que quer que o homem sinta, dentro e fora de si mesmo, tudo o que chamamos “Nosso mundo”, é o último nível que existe no Universo.



Assim que o homem, com o auxílio do seu trabalho interno, for capaz de eliminar o nível de ocultação do Criador mais próximo de si, de abrir essa cortina, ele passa imediatamente a sentir o Criador nessa ínfima 125º parte.



Isso não significa que os 125 níveis ocultam, proporcionalmente, o Criador de nós. Quanto mais baixo o nível, mais ele oculta o Criador. Assim que o homem afasta as cortinas mais baixas que o separam do nível seguinte, a Luz do Criador imediatamente começa a brilhar sobre ele, e ele passa a ver o Criador por trás de tudo o que existe ao seu redor, neste mundo.



Os níveis mineral, vegetal, animal e humano da natureza, tudo o que se encontra ao redor e dentro do homem - todos os seus anseios animais e desejos de poder, honra, fama, aspiração por conhecimento - tudo é, agora, a manifestação do Criador.



Ele sente como o Criador o afeta, seu self, com a ajuda das suas propriedades internas e externas. O primeiro nível de revelação, embora o mais difícil, é o mais importante, pois ao superá-lo, o homem imediatamente estabelece contato com o Criador, ainda que mínimo, e nunca mais o perde. Não há retorno. Assim, o início correto é fundamental.



Às vezes, o homem parece ter perdido tudo o que conquistou, parece ter caído do seu nível. Contudo, essa sensação é enviada deliberadamente de forma a permitir que ele se eleve ainda mais. Os níveis espirituais estão estruturados de tal forma que a ocultação do Criador em cada um deles depende da correção do homem. A ocultação lhe é enviada em um nível que lhe seja possível superá-la.



Vamos supor que o homem corrigiu dez por cento da sua intenção de receber. Isso significa que ele recebe prazer nesses dez por cento não para si mesmo, mas pelo Criador. Portanto, a medida de ocultação e revelação do Criador está no mesmo nível, sua frente e suas costas. Em outras palavras, não há nada fora do homem, todos os níveis são construídos para ele e estão dentro dele.



Todos os Mundos Espirituais estão dentro da alma do homem, construindo uma escada entre ele e o Criador. Ou seja, eles são os 125 níveis das nossas propriedades. Ao nosso redor existe apenas uma única coisa: a qualidade completamente altruísta de doar e nos satisfazer. Chamamos a essa qualidade de Criador. Entretanto, nossa qualidade interna é absolutamente egoísta.



A correção gradual das propriedades interiores do homem é o objetivo da sua existência no mundo. Todos devem corrigir-se. A sensação do Criador que o homem alcança durante sua correção é chamada de “Elevação espiritual” de um nível a outro, ou de um Mundo ao próximo. Tudo isso ocorre apenas internamente.



Já dissemos que o mundo que nos rodeia é apenas a reação de nossas propriedades à influência do Criador, isto é, todos os Mundos, Partzufim, Sefirot, tudo sobre o qual sempre falamos, encontra-se dentro da pessoa, não há nada fora dela. Pode-se dizer que, fora, existem apenas as quatro propriedades da Luz Direta.



A Luz descendente cria o homem, assim como todas as suas propriedades. Todos os Mundos Espirituais em nós são apenas as medidas da percepção do Criador. Todos os Anjos, Demônios, Forças Escuras e da Luz são nada mais nada menos que as forças internas do homem nele criadas especialmente pelo Criador a fim de ajudá-lo a corrigir-se constantemente e superar seu egoísmo natural.



No início, elas eram sistematicamente restritas, mundo a mundo, e descendiam ao nível desse mundo material com o propósito de inserir a alma no corpo, vestir o self humano em propriedades absolutamente egoístas, infinitamente opostas ao Criador, o mais distante das Suas propriedades.



Elas são chamadas de “As qualidades desse mundo”. Isso não se refere às propriedades materiais que nos cercam, os líquidos, os gases, os sólidos. Por “Mundo material” nos referimos a qualidades absolutamente egoístas, da menos desenvolvida à mais desenvolvida, indiferente se se tratar de um bebê ou do maior egoísta adulto do mundo. Quando os cabalistas dizem “Corpos desse mundo”, eles se referem ao desejo de receber. Há o corpo do nosso mundo, um desejo de receber egoísta, e o corpo espiritual, o mesmo desejo de receber, mas que já possui a tela, que significa um desejo egoísta transformado em um desejo altruísta.



Conforme foi dito, a fim de transformar o desejo do homem de apenas receber, o Criador inseriu a alma em um corpo desse mundo. Esse é o chamado “Estado animal”, como diz o provérbio: “O homem nasce como um asno selvagem”. Assim, quando o homem desce a esse mundo, ele recebe desejos egoístas chamados “Corpo” e suas propriedades tornam-se totalmente opostas ao Criador, infinitamente distantes Dele.

O Criador dá ao homem apenas uma pequena qualidade altruísta chamada “Alma”. Se o homem passa a se inclinar para a Torá e para os mandamentos com a intenção correta, ele gradualmente adquire o desejo do Criador de “doar”.



O nível mais alto é o desejo de apenas doar, sem receber nada para si mesmo. Ao alcançar esse estado, o homem completa seu caminho ao Criador e unifica-se com Ele. A distância ou proximidade dos objetos espirituais ocorre devido à diferença ou equivalência de qualidades. Portanto, ao alcançar o estado do desejo de doar absoluto, isto é, o 125º nível, o homem é recompensado com a completa revelação do Criador.



Assim, todos os mundos e tudo o que os preenche são criados apenas pelo bem do homem e pela sua correção. Ao observar a Torá e os mandamentos, com a intenção de doar prazer ao Criador sem receber nada em troca, significa a aderência às leis espirituais que o homem aprende à medida que sobe esses degraus.                                              



Quando o homem estiver em um determinado estado espiritual, cada vez haverá uma escolha à sua frente sobre o que fazer, o que pensar, o que sentir, de forma a escolher seus pensamentos, intenções, decisões interiores. Embora o Criador ainda não tenha Se revelado, devemos tentar avaliar todos os nossos pensamentos, decisões e opções com relação à intenção de adquirir Seu desejo de doar.



O modo como analisamos e escolhemos cada opinião e decisão é chamada de “Um mandamento” (Mitzvah). Quando o homem cumpre essa lei da maneira correta, ele estimula a vela, permitindo que um pouco mais de Luz entre no seu desejo espiritual.



Nos níveis mais altos, quando ocorre a entrada do homem nos Mundos Espirituais, ele corrige seu desejo absolutamente egoísta e, através de um Zivug de Haka'a (Cópula de Impacto), recebe uma porção da Luz. A Luz que ele recebe é chamada de “Torá”, “Criador” ou “Luz da Alma”.                                                    



Existe também a assim chamada Essência do Criador (Atzmuto HaBoré). Não sentimos a Essência do Criador, apenas a Sua influência. Somos como uma caixa preta: o que quer que penetre nossos cinco sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar) ou o que, com a ajuda desses mecanismos, só expande o alcance das nossas sensações gera uma imagem desse mundo dentro de nós, semelhante a que existe fora de nós.



Entretanto, esse mundo é apenas um produto das nossas sensações interiores, algo que nos pressiona de fora. É como construir um corpo de argila e lhe dar uma certa sensibilidade. Se o pressionar, ele produzirá uma reação interior. Ele sentirá essa pressão nas suas sensações; de certa forma, ela se reflete nele. O corpo qualifica essa influência externa (ou, antes, a sua reação a ela) de determinada forma. Agora, se for perfurado, o corpo chamará esse estímulo externo (ou sua reação a ele) de outra forma. Ele não faz ideia do que lhe afeta de fora, apenas sente suas reações ao que quer que o pressione.



Todas as reações da criação às inúmeras influências externas criam dentro de si a sensação do “Mundo circundante”. Se uma pessoa, desde o nascimento, não possui qualquer um dos seus sentidos, digamos, o sentido da visão, ela constrói uma imagem do mundo circundante a partir dos quatro sentidos restantes. A imagem final será diferente da nossa.



Se, de alguma forma, conseguirmos aumentar o alcance dos nossos sentidos (não podemos adicionar outros sentidos), então nossa imagem do mundo se modificará instantaneamente. De qualquer modo, percebemos apenas o que “entra” em nós (que é como chamamos nossas reações às influências externas), e não o que está fora de nós.



Um estímulo adicional, chamado de Luz do Criador, nos penetrará. Ele Mesmo entrará em nós, e não nos pressionará apenas de fora, como ocorre ao boneco de argila. Ele entrará e começará a nos preencher de acordo com a medida da equivalência das nossas propriedades em relação as Dele. Toda a nossa essência é “um pedaço de argila egoísta”. Se esse “pedaço” conseguir adquirir as qualidades do Criador, isto é, aprender a doar, então não haverá mais diferença entre ele e o Criador. Os limites externos entre eles desaparecerão e eles se fundirão em um único pedaço. O Criador preencherá essa “argila” de dentro para fora, e ela estará em completa harmonia, totalmente unificada com o que quer que exista fora dela.



Esse estado é o mais perfeito, confortável, eterno e absolutamente bom. O “pedaço de argila” deve alcançar esse nível. O homem deve alcançá-lo, começando com o nível mais baixo chamado “Nosso mundo”. A alma vestida no corpo força-o a trabalhar antes de ele poder ascender.



A alma, no seu estágio zero, é uma propriedade egoísta, mas no seu estado final, deve ser transformada em uma propriedade altruísta. Caso o homem esteja relutante em fazer isso por seu Livre Arbítrio, será ajudado de Cima e, então, incitado por duros sofrimentos “ele” será compelido a aceitar. Cada um desses “Pedaços de egoísmo” (almas) deve passar por todos os 125 níveis. Esses “pedaços” estão divididos apenas porque cada um deles sente seu próprio e ínfimo desejo.



Durante o processo de equalização das suas propriedades com as do Criador, eles começam a sentir a semelhança e a continuidade inseparável de suas massas, a unidade absoluta de todos esses fragmentos egoístas. Então compreendem que representam um todo único. Quanto mais o homem estiver corrigido, mais ele vê a si mesmo como uma parte absolutamente inseparável do todo, isto é, que ele depende de todos e todos dependem dele.



Se a criação é um único organismo, então não importa qual parte desse organismo recebe e qual doa. É mais fácil ser corrigido como uma pequena parte, pois então quando todas as partes tiverem sido corrigidas, elas fundem-se nas suas sensações em um único todo - isso é o que chamamos de “fusão das almas”.



Haverá muitas interferências, todas enviadas especialmente para nós. Por fim, apenas a persistência vence. O homem não deve possuir nenhuma inclinação especial, intelecto, qualidade particular, ou propriedades. Deve apenas ser persistente, ou, antes, demonstrar habilidade e coragem de suportar; apenas isso o levará à vitória. Cada um de nós encontra-se no caminho que o Criador fez para si, e nada pode ser feito a respeito disso. Todas as nossas mudanças interiores nos pensamentos, desejos e ambições - tudo isso é programado em nós de Cima, e todos eles devem ser corrigidos. É aquele mesmo material, aquele “pedaço de argila” com o qual devemos trabalhar.



Uma propriedade egoísta corrigida, na qual a Luz do Criador penetra, é chamada de Kli (vaso). Pode-se dizer qualquer coisa a uma pessoa que a pouco começou seu estudo de Cabalá, pois tudo entra nela, nada é esquecido e, por isso, nada desaparece. Quando for necessário ela lembrará, mas só o fará depois de corrigir-se. Quando ela já tiver os vasos interiores mínimos, e essa informação for necessária para o seu trabalho, ela irá emergir, “brotará” do seu subconsciente.



O próprio homem terá que buscar essa informação e trabalhar com ela. Nesse estágio, ele não deve receber respostas prontas aos seus questionamentos, mas deve buscar e encontrar as respostas.



Ao chegar aos níveis mais altos do desenvolvimento espiritual, o homem sofre não porque as almas mais baixas sentem-se mal, ele sofre por sua incapacidade de realizar o desejo do Criador em relação a essas almas, trazê-las ao seu estado atual. Isto é, ele sofre pelo fato de que nem todas as almas sentem a unificação com o Criador da forma como ele sente. Além disso, ele tenta acelerar esse processo naturalmente através da disseminação da Cabalá, ao difundir o conhecimento sobre a necessidade de correção, enquanto que outros interferem na sua missão.



O homem necessita do mundo inteiro para completar o seu trabalho espiritual, pois ele não consiste apenas de autocorreção, mas também de que em cada nível há certo trabalho mútuo a ser feito com as outras almas.



Um cabalista deve sentir o mundo inteiro, sentir todo o seu sofrimento, incorporá-lo ao seu nível e corrigi-lo. Além disso, a cada nível ocorre a inclusão de todas as almas na sua e a dele em todas as outras.



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Agora que você já compreende tudo isso, você pode estudar Cabalá sem medo de materializar o Espiritual. Os iniciantes na Cabalá confundem-se porque é dito que todas as 10 Sefirot e Partzufim, desde o Mundo de Atzilut até as 10 Sefirot do Mundo de Assiyá, são absolutamente divinas e Espirituais, ou seja, na verdade, eles são o Criador Ele Mesmo.



Por outro lado, é dito que todos esses Mundos foram criados devido ao Tzimtzum (restrição). Então como alguém pode dizer que as Sefirot divinas, que são o Criador, apareceram depois do Tzimtzum? Além disso, como devemos compreender tais noções como quantidade, acima, abaixo, ascensão, queda, unificação Espiritual, separação etc? Como tudo isso pode ser dito sobre o Divino e Perfeito?



Está dito que "Eu não mudo. Estou em tudo, O Único e Imutável Criador". Como é possível dizer que existem transformações e restrições Naquele Que É Perfeito, uma vez que qualquer mudança pressupõe imperfeição?



A questão é simples: O que chamamos de mundos, refere-se ao Criador ou à criação? Por que os iniciantes se confundem com isso? Porque, via de regra, eles os materializam. Eles tentam imaginar esses mundos sob a perspectiva dos objetos físicos. É uma reação natural do homem limitado pela sua realidade. Ainda assim, como é possível transmitir a ele a percepção correta? É realmente possível?



Há um risco para as pessoas que estudam Cabalá sem um verdadeiro guia, uma pessoa que as direciona constantemente e as impede de desviar do caminho correto e materializar a espiritualidade. Por esse motivo, a Cabalá foi mantida afastada das massas por séculos. Se no início o homem desviar um milionésimo de grau do caminho correto, então, com o tempo, esse desvio do objetivo aumentará gradualmente.



Como consequência, quanto mais ele avança e, conforme lhe parece, aproxima-se do objetivo, mais ele se desvia. Por isso os cabalistas estipularam determinadas exigências e restrições para aqueles que desejam estudar Cabalá. É melhor continuar no nível mecânico da observação dos mandamentos (no qual a Luz Circundante brilha sobre o homem e o purifica pouco a pouco) do que estudar Cabalá sozinho.



Infelizmente, conhecemos cabalistas auto-formados e sabemos a que isso os levou: eles fabricam seus próprios conceitos sobre o mundo espiritual e os preenchem com toda espécie de corpos, forças e interações, anjos com asas, demônios, bruxas, inferno, paraíso etc. Eles fazem isso sem compreender que o mundo espiritual encontra-se apenas no interior da alma do homem, enquanto que, fora disso, apenas o Criador está.



Os cabalistas estavam profundamente preocupados a respeito disso. O mandamento principal é não criar ídolos a partir do seu próprio egoísmo. Querendo ou não, você já o idolatra de qualquer forma: Ele é um ídolo criado dentro de você. Desde o seu nascimento, você idolatra apenas seus próprios desejos, pensando apenas em como satisfazê-los.



Não fazer ídolos significa não colocar seu próprio ídolo no lugar do Criador. Se você deseja verdadeiramente a espiritualidade, se deseja ter qualquer contato com ela, não crie uma imagem falsa dela na sua imaginação, pois isso o levará a desgarrar-se. Está dito que “sentar e não fazer nada é melhor do que cometer um erro”.



Então surge uma pergunta: Alguém que estuda Cabalá pode interferir nos assuntos de outras pessoas? Essa pessoa pode explicar qualquer coisa para elas? Ela pode e deve, mas muito cuidadosamente. Pode-se dar um livro para ler ou pode falar um pouco sobre Cabalá, mas sem discutir o tópico.



Isso pode lhe prejudicar. Você pode perder tudo o que conquistou com seus próprios esforços e estudos. A Cabalá deve ser popularizada sem impedimentos, nunca tente convencer alguém. Isso não ajudará nem um pouco. O egoísmo de um homem é mais forte que qualquer influência do exterior. Você nunca será capaz de fazer alguém mudar de ideia. Você pode direcioná-lo apenas se ele quiser. O homem apenas percebe algo quando sente que pode preencher esse desejo.



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A partir do que foi mencionado acima, podemos concluir que todos os Mundos, os Partzufim e os processos que neles ocorrem (subidas, descidas, restrições etc) nada mais são que os vasos de recepção interiores do homem, as propriedades da sua alma.



Ou seja, tudo aquilo sobre o qual a pessoa lê na Cabalá revela-se dentro da alma do homem e possui dois aspectos: o que ocorre no pensamento e o que ocorre na ação. É como uma situação na qual um homem constrói uma casa: o fim da ação já está integrado no seu planejamento original.



A imagem de uma casa, a própria noção de casa no pensamento do homem, é diferente da casa real, pois a estrutura existente apenas como projeto é feita do material das ideias. Conforme o processo de construção acontece, o projeto adquire outras qualidades, propriedades diferentes que, pouco a pouco, materializam-se e se tornam uma estrutura feita de madeira, pedra etc…



O pensamento se materializa cada vez mais até chegar na sua forma final, expresso na ideia materializada, a casa. Além disso, em relação às almas, a pessoa deve distinguir entre as suas duas partes: o projeto e a ação. O estado das almas no Mundo do Infinito, isto é, quando estavam unidas com o Criador antes de todas as restrições, unificadas com o Pensamento da Criação, é chamado de as almas no Pensamento da Criação.



 No Pensamento da Criação, essas almas estão no Criador sem qualquer distinção entre eles. Esse estado é chamado de Ein Sof, o Mundo do Infinito. Um estado semelhante ocorre nos Mundos de Adam Kadmon e Atzilut. O estado no qual as almas recebem e são separadas do Criador é chamado as almas no Ato da Criação. Essa separação ocorre no nível do Mundo de Beriá.



O Mundo de Beriá (a palavra Beriá deriva da mesma raiz da palavra bar, que significa sem, exceto por) é o primeiro mundo abaixo do Mundo de Atzilut, abaixo da Parsá. A partir do Mundo de Beriá, há uma transição das almas para o estado de ação.



O mundo de Beriá é o primeiro Mundo onde as almas, da forma como estavam, caem do projeto do Criador e tornam-se mais materializadas, existindo de forma “independente”.



Todos os pensamentos e desejos em nosso mundo e nos Mundos Espirituais vêm para nós de Cima. O que a pessoa faz com esses pensamentos e desejos no nosso mundo e nos mundos espirituais é o objeto dos nossos estudos.



Nada que está dentro ou fora de nós é criado por nós. Reagimos a cada provocação externa de acordo com a nossa natureza animal. Toda reação desse tipo pode ser previamente calculada e nossas ações podem ser previstas em qualquer situação que se apresente. Portanto, onde há, nesta situação, o menor sinal de liberdade de escolha ou Livre Arbítrio? A liberdade de escolha reside apenas no esforço para compreender como o Criador agiria em nosso lugar e então reagir de forma semelhante.



De uma forma ou de outra, o mundo inteiro obedece à vontade do Criador. Nem mesmo um átomo pode mover-se contrário a isso. A diferença está no fato de que um cabalista tenta conscientemente correlacionar suas ações às do Criador. Com todos os seus desejos, ele quer seguir o curso que o Criador estabeleceu para todo o Universo. Dessa forma, ele alcança o estado mais confortável, de “relaxamento” absoluto (liberdade e paz eterna).



O tempo para, tudo desaparece, exceto a sensação do Infinito, pois não há perturbações ou contradições entre você, todo o Universo e o Criador. É dito que cada alma está incluída na Malchut do Mundo do Infinito, chamada de ponto central, pois esse ponto é o Pensamento e todos os vasos derivam dele, todas as propriedades da alma em ação. Essa ação começa no Mundo de Beriá e continua nos mundos de Yetzirá e Assiyá.



Tudo o que se encontra nos Mundos do Infinito, Adam Kadmon e Atzilut ainda pertencem ao Pensamento do Criador. Sabemos disso pela emanação das quatro fases da Luz Direta. A Luz que emana do Criador é chamada de Behina Shoresh. Então a Luz completa a criação do Kli, mas ele não possui sensações independentes. Essa fase é chamada de Behina Aleph.



Na fase Shoresh, a Luz emana do Criador; na fase Aleph, o Kli emana do Criador. Ambas as fases ainda estão sob o completo poder do Criador, totalmente no interior do Seu Pensamento, elas ainda não estão separadas Dele. O Mundo de Adam Kadmon corresponde à fase Shoresh; o Mundo de Atzilut corresponde à fase Aleph (Galgalta é Shoresh le Ohrot, AB é Shoresh le Kelim).



O Tzimtzum Aleph (a Primeira Restrição) foi realizado nesse ponto central, isto é, na sua propriedade, na medida em que é um Pensamento no que se refere às almas futuras. Em relação ao Criador, não há restrições nesse momento, apenas no que diz respeito às almas que emanam desse ponto central.



É preciso ter em mente que todos esses vasos, Sefirot e Mundos até o Mundo de Beriá, o qual se origina desse ponto central como consequência do Zivug de Haká, são chamados Ohr Hozer (Luz Refletida). Todos eles são considerados Pensamento da Criação, sem se distinguirem como almas independentes. Entretanto, essas transformações já estão incluídas no projeto e, depois, concretizadas em ação durante o processo da descida das almas do Mundo de Beriá. Antes do Mundo de Beriá, elas ainda se encontram conectadas às propriedades do Criador de forma inseparável.



As introduções aos livros cabalísticos são muito complicadas; seu objetivo é fazer com que o homem que estuda Cabalá corretamente canalize seus esforços interiores na direção correta. Se o homem desvia desse caminho, ele é incapaz de compreender um livro cabalístico.



A tarefa do homem é perceber o que ocorre a si mesmo e como o Criador trabalha com ele de Cima, para que ele concorde integralmente com as ações do Criador. A pessoa justa é aquela que justifica as ações do Criador. Quando o homem doa de forma completa e sente prazer, ele permite que a Luz Superior desça através dele, a qual, então, retorna à sua Fonte. Esta é a Luz Refletida (Ohr Hozer) que vem de Cima como Luz Direta (Ohr Yashar) e então é refletida, preenchendo o vaso na sua totalidade. A Ohr Yashar veste-se na Ohr Hozer e, assim, o homem torna-se um todo único com o Criador.



O homem aproxima-se do Universo essencialmente de duas maneiras: a primeira chama-se Da’at Ba’alabaitim, que significa a opinião de um pequeno proprietário, isto é, a opinião das massas egoístas. A segunda chama-se Da'at Torah. A palavra Torah deriva da palavra Luz, Ohr, Ohra'a, o caminho do Criador. Essas duas aproximações são absolutamente opostas entre si.



O problema é que enquanto ainda estivermos presos às amarras do nosso mundo e não tivermos adquirido as propriedades espirituais, não somos capazes de compreender que essas duas aproximações em relação ao Universo são opostas. Isso ocorre porque à medida que o homem adquire as propriedades espirituais, o tempo e o espaço se fundem em um único ponto e todo o movimento para.



Nesse momento, ele passa a ver todas as coisas como se fossem absolutamente estáticas, nada ocorre ao seu redor, mas sim, dentro dele. De acordo com seu estado espiritual interior, suas qualidades espirituais e propriedades, o homem começa a ver um mundo totalmente diferente ao seu redor.



Toda vez que essas qualidades são transformadas dentro de si, o homem vê uma imagem totalmente diferente. Então ele descobre que todo o cenário à sua volta é, na verdade, absolutamente estático e se modifica apenas dentro de si mesmo, de acordo com as transformações de suas propriedades, os órgãos que recebem informações externas (externas, ilusórias, por que, na verdade, apenas o homem está mudando).



De fato, há uma Luz Espiritual amorfa e homogênea ao nosso redor, que é chamada de O Criador. Semelhante aos nossos cinco sentidos, temos cinco sentidos espirituais: olhos espirituais (visão), ouvidos (audição), nariz (olfato), boca (paladar) e mãos (tato). A depender de suas qualidades, sensibilidade e capacidade de suportar, o homem receberá constantemente impressões diferentes dessa Luz Espiritual homogênea. A impressão mais primitiva é a que recebemos hoje.



A Luz Espiritual homogênea é percebida pelos nossos sentidos, ela forma um quadro cumulativo do Universo em nossa consciência, que chamamos Nosso mundo ou Esse mundo. Se nossos sentidos mudarem um pouco, isto é, tornarem-se menos opostos à essa Luz, eles aproximam-se dela em suas propriedades e recebem propriedades altruístas, e, então, passam a percebê-la mais corretamente, da forma como ela realmente é.



Essas sensações complexas que a pessoa recebe através dos seus próprios sentidos lhe mostrarão uma imagem, que é chamada de Mundo de Assiyá. O Mundo de Assiyá é nada mais que a medida da sensação da sua correção ou da sua diferença em relação à Luz. Por isso está dito que todos os Mundos encontram-se dentro do homem.



Se refinarmos ainda mais nossos sentidos, ao transformar nosso egoísmo em altruísmo espiritual, receberemos uma imagem ainda mais correta da Luz, chamada Mundo de Yetzirá, e assim por diante. No nível mais alto, quando estivermos completamente corrigidos, perceberemos uma imagem da Luz Superior sem distorções, isto é, a Luz homogênea nos preencherá, se infiltrará pelos nossos cinco sentidos, e então sentiremos o Criador Ele Mesmo em todas as Suas Propriedades Verdadeiras, Pensamentos e Desejos em relação a nós.



O homem deve alcançar este estado de unificação total com o Criador enquanto ainda estiver em nosso mundo. Suas atitudes em relação a tudo o que está ao seu redor, assim como suas reações, são determinadas pelo nível em que ele se encontra, ou seja, tudo é determinado pelas suas propriedades parcialmente corrigidas e não corrigidas neste dado momento.



Você não é capaz de mudar sua atitude sobre o que está acontecendo, nem reagir de forma diferente em relação a isso, até que você mude a si mesmo. Então suas propriedades internas, novas e aprimoradas, lhe trarão naturalmente uma atitude diferente e melhor.



Quando o homem começa a estudar Cabalá lhe parece que será capaz de progredir com a ajuda da sua mente racional, analisando, pesquisando e tirando conclusões. Um escreve um resumo, outro grava as aulas. Isso é natural, pois a mente é nossa ferramenta de percepção e análise do mundo. Entretanto, isso se aplica apenas dentro dos limites do nosso mundo.



Na verdade, a compreensão espiritual ocorre de maneira diferente. Quando o homem se esforça, ainda que suas intenções ainda sejam absolutamente egoístas, ele atrai para si uma Emanação maior da Luz Circundante (Ohr Makif). Essa Emanação Circundante já é direcionada a determinada pessoa, e não às massas.



Uma pessoa que estuda de acordo com o método cabalístico, atrai sobre si uma Emanação pessoal da Luz Circundante. Essa Luz passa a empurrar o homem em direção à espiritualidade; ela o impulsiona para Cima. Esse é um método totalmente distinto: sem a participação da mente da pessoa. Na verdade, ele separa o homem da sua mente mundana: pouco a pouco lhe são enviadas situações que ele deve enfrentar. A Luz o leva a agir, ela joga-o de um lado para o outro, de uma situação a outra, a fim de despertar novas sensações nele, prepará-lo para sentir a espiritualidade.



A emanação da Luz Circundante intensifica-se e começamos a nos sentir pior que antes. Por quê? Sentimos que existe algo fora de nós, melhor e mais forte, que não pode entrar. Dessa forma, experimentamos períodos de depressão. Na verdade, isso significa que a verdadeira razão para a nossa depressão é que recebemos de Cima uma Emanação mais poderosa.



De forma alguma o homem pode prever, dentro da sua própria mente, o nível seguinte do seu desenvolvimento Espiritual. A perspectiva de, de algum modo, controlar conscientemente seus estados espirituais (na verdade, esses estados ainda não são espirituais) desaparece. De fato, isto ocorre a fim de fazer com que o homem se separe dessa mente mundana, permitindo-lhe que adquira um tipo diferente de mentalidade: A fé acima da razão. Isso é chamado de “iniciar um Ibur" (passar a um estado embrionário) dentro de um Partzuf Espiritual mais elevado.



Isso só pode acontecer quando o homem desligar totalmente suas propriedades intelectuais e analíticas, pertencentes a este mundo. Ele se rende de forma absoluta à Força Superior e deseja estar incluído Nela plenamente. As massas evitam essa abordagem. Na Cabalá, quando o homem avança pela fé acima da razão, ele primeiro controla o que ocorre com ele e então, de forma consciente, desliga a sua mente.



As massas vivem na fé abaixo da razão. O Zohar os chama de Domem de Kedushá. Domem significa imóvel, sem vida; e Kedushá significa sagrado, ou seja, "o nível do Mineral Sagrado".



O que isso significa?



Significa que há cinco níveis no Universo:

* Mineral

* Vegetal

*Animal

* Humano

* E ainda mais um, o nível mais elevado: o Divino.



Esses são os cinco níveis da Natureza. No Mundo Espiritual, de acordo com esta distinção, há também cinco níveis de desenvolvimento das propriedades interiores do homem.



Qual o sentido do nível espiritualmente mineral? Significa que a pessoa está nesse mesmo estado estático, imóvel, semelhante à vida mineral na Natureza, talvez até mesmo uma pedra. Isso ocorre porque fomos criados assim, e nos disseram como tudo tinha que ser feito.



A pessoa faz tudo em um nível mineral, sem qualquer atitude própria ou intenção espiritual pessoal, ela apenas cumpre certas ações espirituais correspondentes às leis espirituais, mas as realiza mecanicamente, sem envolver seu Self pessoal.



No Mundo Espiritual ocorre a interação entre a alma humana e o Criador. A interação geral entre o homem e o Criador é dividida em 620 ações distintas, chamadas de Mandamentos, 620 leis, ações Espirituais que o homem realiza enquanto atravessa todos os níveis, partindo do nosso mundo até o nível da adesão completa com o Criador.



Há 620 níveis que nos separam do Criador, cada um deles é transposto pela realização de determinadas ações Espirituais, chamadas Mandamentos (uma lei ou condição). A ação espiritual é realizada apenas pela intenção do homem, ou, antes, pela transformação da sua intenção de “para mim mesmo” em “para o Criador”. A medida da intenção altruísta com a qual o homem realiza a ação é determinada pelo nível espiritual que ele alcançou.



Se realizamos todas as 620 ações Espirituais apenas de maneira mecânica, sem corrigir a intenção, como fazem as massas, atraímos uma Luz Circundante que mantém essas massas no modo preservar, de uma certa forma, a natureza mineral. Essa Luz as inspira a continuar fazendo o que elas foram ensinadas a fazer, mas não as leva adiante, não as transforma de uma natureza espiritualmente mineral em uma natureza vegetal.



A fim de sair da natureza espiritualmente mineral para chegar à natureza espiritualmente vegetal, o homem deve ter o método específico que estudamos aqui. No momento em que o homem atravessa esse limiar e torna-se espiritualmente vegetal, ele já entrou no Mundo Espiritual. Então, mais tarde, assim que ele desenvolve sua natureza vegetal, ou seja, que realiza certas ações espirituais, ele constantemente corrige suas intenções e, dessa forma, executa digamos 100 preceitos, que referem-se à camada espiritual vegetal. Depois, ele realiza de 100 a 150 preceitos, que referem-se à camada espiritual animal. Depois, realiza de 200-300 preceitos, que referem-se à camada espiritual humana. Os preceitos restantes pertencem à camada Divina, Keter. Trago essa ideia como uma ilustração, não como um exemplo específico.



Todos os níveis espirituais, de 0 a 620, baseiam-se no princípio de que o homem transforma a si mesmo internamente desenvolvendo-se de forma constante, tornando-se cada vez mais semelhante ao Criador, até que não exista mais qualquer diferença em relação a Ele.



Entretanto, no nosso nível atual mais baixo, só podemos observar os mandamentos de forma mecânica. Uma ação mecânica nunca nos permitirá passar do nível espiritualmente mineral ao vegetal. Apenas através da Cabalá a pessoa pode romper com isso. Esse método atrai sobre nós uma Luz Circundante especial e nos empurra para fora deste mundo, transformando uma pedra em uma planta.



O homem nasce como qualquer outro animal deste mundo, e não há nada espiritual nele. A única coisa que se pode dizer sobre ele, com todas as complexidades advindas de todo tipo de ensinamentos orientais, é que tudo isso pertence ao nível mental (vamos dizer assim) interior de um animal chamado homem do nosso mundo. Essas diversas sabedorias tratam apenas de forças que acompanham nossos corpos físicos. Aura, Chacras etc, tudo isso existe, mas são coisas biológicas, estruturas bioenergéticas do corpo humano. Os animais também as possuem e, via de regra, eles são até mais sensíveis aos campos bio e psico energéticos do que o homem. Qualquer um pode desenvolver essas habilidades.



Tudo isso se refere ao corpo físico, mas a ciência não seguiu essas pesquisas. Hoje em dia, ela tem se desenvolvido mais e muitas coisas ainda não estão claras, mas, à princípio, tudo isso pode ser submetido a testes e pesquisas com embasamento absolutamente científico, sem resultar em correções no próprio homem. É claro, o homem influencia moralmente esses campos, mas ainda permanece um egoísta, ou, no máximo, um egoísta altruísta (que doa para seu próprio benefício).



Dessa forma, o homem nasce com todas essas disposições mentais, que ele pode desenvolver. Há apenas mais uma peculiaridade: além de seus desejos egoístas, o homem pode receber apenas um desejo a mais, que não existe em nosso mundo. Este é o desejo de doar, que é um desejo espiritual. Ele é chamado de Nekuda she baLev (Ponto no coração).



Posteriormente, examinaremos como ele é inserido no coração do homem. Na verdade, ele é inserido no Self egoísta do homem, ou seja, todo o nosso organismo é construído sobre o nosso Self egoísta. Subitamente, um ponto, um embrião do Self altruísta espiritual, penetra no egoísmo. No início, ele não tem nada a ver com o homem, pois o homem é uma criatura totalmente egoísta.



Biologicamente, o homem é muito semelhante aos animais. Ele se diferencia deles apenas por esse Ponto negro. Por que ele é chamado de "negro"? Ele não é espiritual? A razão é que ele ainda não foi preenchido pela Luz. Com a ajuda da Cabalá, quando a Luz Circundante individual começar a brilhar, ela iluminará esse Ponto negro e, com isso, ele começará a sentir a tensão, a disparidade entre ele e a Luz.



Ao continuar seus estudos, o homem começa a desenvolver esse ponto gradualmente. Ele se expande até que dez Sefirot se formem dentro dele. Assim que as dez primeiras Seifirot já existirem no interior do Ponto negro, elas são incluídas na estrutura do Partzuf Espiritual Superior, então, isso é chamado de Ibur (concepção). Esse ponto é um embrião da alma. As primeiras 10 Sefirot adquiridas pelo homem são chamadas de alma, o vaso da alma. A Luz que as preenche é chamada de a Luz da Alma.



O homem deve desenvolver esse ponto até o estágio em que consegue transformar todas as suas propriedades egoístas em altruístas. O Ponto negro começa a dilatar à medida que o homem lhe acrescenta mais egoísmo e o transforma em altruísmo. Esse ponto é a Sefirá de Keter. Fora dele, com a ajuda do egoísmo adicional, 10 Sefirot começam a se desenvolver. Quanto mais egoísmo o homem adiciona a ele, maior o Kli espiritual que recebe, chamado de alma, se torna.



Entretanto, se isso não ocorre, então da mesma forma que o homem nasceu, sendo um animal, assim morrerá. Por outro lado, se ele desenvolveu seu Kli espiritual ao menos um pouco, mesmo sem ter alcançado o Mundo Espiritual, e se este foi influenciado pela Luz Espiritual, isso permanece nele para sempre. Devido ao fato de que essa qualidade recém formada não se referir ao corpo, ela não morre com ele, pois pertence ao Ponto negro, que é espiritual, ou seja, eterno. Portanto, esse trabalho, esse esforço, não é perdido.



Como a pessoa pode desenvolver ao menos 10 das Sefirot menores a partir deste ponto? Vamos supor que separamos 10 gramas do nosso egoísmo e o cobrimos com uma tela. O egoísmo somado à tela e estes combinados com esse ponto resultam no menor Kli espiritual. Não há a necessidade de uma tela no que diz respeito ao Ponto negro, pois o homem o recebe de cima.



Agora vamos voltar à questão do Livre Arbítrio. No livro de Baal HaSulam, Pri Hacham Igrot, está escrito: "Como já disse, citando Baal Shem Tov, antes que a pessoa realize qualquer ação espiritual (quer dizer, um mandamento), não é preciso pensar na Previdência Particular do Criador, mas sim o contrário, o homem deve dizer: 'Se eu mesmo não me ajudar, quem irá?'"



Entretanto, depois de completar sua ação, com a confiança absoluta que tudo depende apenas de si mesmo e o Criador não existe, ele deve reunir seus pensamentos e acreditar que realizou essa ação espiritual não pelos seus esforços, mas apenas graças à presença do Criador, pois esta era Sua intenção inicial.



O homem deve agir de forma semelhante também em ações rotineiras e cotidianas, pois o espiritual e o mundano se assemelham. Assim, antes de sair de casa para fazer o que tiver que fazer durante o dia, o homem deve desligar totalmente o pensamento da Providência Particular do Criador dizendo: 'Se eu não for por mim, quem será?', e então fazer exatamente o que todas as outras pessoas que se sustentam fazem para sobreviver neste mundo.



Mas, à noite, quando retorna para casa com o que quer que tenha recebido, de forma alguma o homem deve pensar que a recepção ocorreu por seu próprio esforço, mas acreditar que, mesmo sem sair de casa, ele teria recebido a mesma coisa. Uma vez que, se tudo o que deveria receber naquele dia já havia sido previamente planejado pelo Criador, à noite, ele teria que receber a mesma coisa de qualquer forma.



Apesar de que, em nossa mente, essas duas abordagens para a mesma ação contradizem-se e, além disso, que nem a nossa mente nem o nosso coração as percebem, ainda assim devemos acreditar nisso. A nós parece contraditório, pois nossas propriedades são contrárias às do Criador e ainda não se inscreveram no espaço Espiritual, onde todos os opostos se unificam em um todo único e todas as contradições desaparecem, sugadas pela Unidade.



Existe uma Providência Divina chamada HaVaYaH, que significa que o Criador controla tudo e que o homem não pode, de forma alguma, participar desse controle, além de que todos os seus pensamentos, desejos, ações etc, lhe são conferidos de fora de si mesmo. E existe uma Providência Divina chamada Elokim, de Gematria (valor numérico das letras e palavras hebraicas) equivalente a Teva (Natureza). Esta é a Providência através da Natureza, quando o homem, apesar do controle absoluto do Criador, age de acordo com a sua própria natureza.



Se o homem tentar combinar esses dois tipos de Providência dentro de si mesmo (ainda que elas não façam sentido nem na sua mente nem no seu coração, ele de fato age acima da razão), essas tentativas, por fim, levarão à unificação e ele verá que não existe contradição. Contudo, até alcançarmos essa unidade, continuaremos fazendo a mesma pergunta o tempo todo: Quem fez isso, eu o Criador?. Além disso, não temos como nos livrar dessas perguntas até alcançarmos o nível em que HaVaYaH e Elokim coincidem. Somente então poderemos entender.



Estamos falando, aqui, sobre a atitude do homem frente à ação. Antes de agir, o homem decide, de forma consciente, estar sob o controle de Elokim. Isso lhe confere a oportunidade de analisar suas ações e atitudes em relação a esses dois sistemas. Dessa forma, ele os justapõe e aproxima seu Self da semelhança com o Criador, lembrando constantemente da sua existência.



Se o homem se esquece, ou não sabe da existência desses dois sistemas, ele é influenciado apenas pela Natureza (Elokim), não pela Providência Pessoal do Criador (HaVaYaH). Aceitar apenas um deles, sem justapor esses dois sistemas, (ou "Ele controla tudo" ou "Eu controlo"), faz com que ou o Criador ou o homem não exista. O avanço do homem em direção ao Criador somente é possível quando ele consegue combinar, de forma contundente, esses dois sistemas de providências em si mesmo antes de cada ação.





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Eu lhe darei um exemplo do nosso mundo. Imagine um homem que está se escondendo de estranhos para que ninguém possa vê-lo ou senti-lo, mas é incapaz de esconder-se de si mesmo. O mesmo ocorre com as 10 Sefirot, que chamamos Keter, Chochmá, Biná, Chessed, Guevurá, Tiferet, Netzach, Hod, Yessod e Malchut. Elas nada mais são que 10 cortinas atrás das quais o Mundo do Infinito está oculto. No futuro, as almas terão que receber toda Luz que as 10 Sefirot lhe transferirem do Mundo do Infinito.



Preste atenção: Há o Infinito, as 10 telas ocultas e as Almas. Se uma alma estiver atrás de todos os 10 véus, de forma alguma ela sentirá o Mundo do Infinito. À medida que a alma "retira" esses véus, ela se aproxima do Mundo do Infinito e passa a senti-lo cada vez mais.



A intensidade da sensação do Mundo do Infinito chama-se Mundos (Adam Kadmon, Atzilut, Beriá, Yetzirá) ou níveis da escada espiritual (620 níveis, 125 níveis, 10 níveis, Sefirot). Não importa como a pessoa os chame, o Caminho e a distância são os mesmos.



As Almas adquirem as propriedades da Luz conforme a quantidade e de que nível das 10 Sefirot elas recebem, por trás de qualquer véu que elas possam ter. A Luz de dentro das 10 Sefirot é absolutamente homogênea e estática em todos os níveis de todos os Mundos, enquanto que as Almas que recebem são divididas em 10 níveis, que correspondem às propriedades dos nomes desses níveis.



Isso significa que o Criador é indivisível e imutável no Infinito. Estando em algum dos níveis, a Alma recebe através das telas-ocultação do Criador e, naturalmente, ela já recebe uma Luz distorcida.



Cada um desses nomes - Keter, Chochmá, Biná, Chessed, Guevurá, Tiferet, Netzach, Hod, Yessod e Malchut - representa uma determinada propriedade que oculta e, ao mesmo tempo, revela. Por um lado, cada nome mostra o quanto oculta do Criador e, por outro, o quanto revela do Criador. Essas são duas direções opostas: a medida de ocultação e a medida de revelação.



Todas essas telas de ocultação, sobre as quais falamos agora, atuam apenas do Mundo de Beriá para baixo, pois as almas que recebem essa Luz encontram-se apenas nestes três Mundos: Beriá, Yetzirá e Assiyá.



O que isso significa? Significa que as almas podem chegar ainda mais alto que os Mundos de Beriá, Yetzirá e Assiyá, mas apenas na medida em que ascendem com esses Mundos. Em outras palavras, as almas estão sempre nesses três Mundos. A ideia da "ascensão dos Mundos" significa que, se o homem deixa este mundo, ele pode chegar ao Mundo de Assiyá, então ao Mundo de Yetzirá e depois ao Mundo de Beriá, mas ele não é capaz de elevar-se acima do Mundo de Beriá. Caso o faça, ele só ascende no interior destes Mundos. Através de seus esforços, ele faz com que esses Mundos elevem-se junto com ele. Os Mundos são sua vestimenta. Com eles, o homem ascende a Atzilut e, então, ao Mundo do Infinito.



Nos Mundos de Adam Kadmon e Atzilut, as almas existem apenas em Pensamento, sendo inseparáveis do Criador. Dessa forma, esses 10 véus atuam apenas nas 10 Sefirot dos Mundos de Beriá, Yetzirá e Assiyá. Apesar disso, mesmo nesses Mundos, e até a extremidade do Mundo de Assiyá, considera-se que os 10 véus sejam absolutamente divinos.



Não há qualquer distinção entre as Sefirot e o Criador, assim como era antes de todas as restrições. A diferença ocorre apenas nos Kelim dos quais as 10 Sefirot consistem, já que nos Mundos de Adam Kadmon e Atzilut o poder das 10 Sefirot ainda não é suficientemente manifesto, pois essas 10 Sefirot encontram-se apenas no Pensamento. Os Kelim começam a expressar seu poder de ocultação apenas nos Mundos de Beriá, Yetzirá e Assiyá.



Entretanto, devido aos véus, a Luz dessas 10 Sefirot permanece inalterada, como foi afirmado: “Eu nunca mundo”. O Criador diz sobre Si Mesmo: “Sou onipresente e apenas 'mudo' aos olhos do homem, a depender unicamente da sua capacidade de Me sentir e do grau de correção de suas propriedades, seus olhos”.  



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É provável que surjam questionamentos: “Se não há manifestação das almas recebendo a Luz nos Mundos de Adam Kadmon e Atzilut, então por que há 10 Sefirot nesses Mundos, os 10 Kelim? Para que servem os Mundos de Adam Kadmon e Atzilut, se neles não há almas? Se esses Mundos nada ocultam ou obstruem, então qual é o seu papel?



Além disso, se eles obstruem a Luz em diversas gradações, então em relação a quem eles existem?



Para isso, há duas respostas:



a.     Todos os Mundos e Sefirot devem evoluir dessa forma.

b.     No futuro, as almas deverão receber das 10 Sefirot nos Mundos de Adam Kadmon e Atzilut, devido à ascensão dos Mundos de Beriá, Yetzirá e Assiyá ao Mundo de Atzilut e, depois, ao de Adam Kadmon.



Dessa forma, devem existir degraus, locais preparados previamente nestes Mundos para que os Mundos de Beriá, Yetzirá e Assiyá possam elevar-se até eles, penetrá-los e receber uma maior revelação do Criador.



Do contrário, uma Alma não é capaz de ascender, ela o fará apenas nos Mundos de Beriá, Yetzirá e Assiyá, pois este é o modo pelo qual as Almas terão que ascender até lá e, quando isso acontecer, esses Mundos brilharão sobre as Almas. Então, cada qual receberá o seu nível dentre essas 10 Sefirot.     



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Assim, vemos que a Cabalá trata sobre todos os Mundos e níveis, tudo menos sobre o Criador. Ela se refere aos Kelim, aos vasos, que demarcam os estados de ocultação das almas para que, posteriormente, elas possam receber a Luz do Mundo do Infinito de acordo com seus níveis. Todas essas cortinas encobridoras afetam apenas aqueles que devem receber a Luz e não Aquele que, assim como a Fonte, Se oculta atrás delas, isto é, elas não influenciam o Criador.



Os Mundos são níveis como filtros inanimados em nosso mundo: eles bloqueiam a Luz mas, em contraste com as almas viventes, eles não podem participar ativamente no processo de comunicação com o Criador. Por si mesma, cada Sefirá (tela, mundo) é um mecanismo inanimado que oculta das Almas a Luz Espiritual. Que tipo de mecanismo é este? Já falamos sobre isso: esse mecanismo, dentro de nós, é o nosso egoísmo.



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Dessa forma, podemos dividir as Sefirot e Partzufim em três partes: a Essência do Criador, os Vasos e a Luz. De modo algum somos capazes de compreender ou sentir o Criador Ele Mesmo, seja em nossas sensações, seja em nossa mente.



Sempre haverá duas propriedades opostas, ocultação e revelação. Primeiro, o vaso oculta o Criador, portanto, esses 10 Vasos, chamados 10 Sefirot, representam os níveis de ocultação. Entretanto, depois que as almas são corrigidas, de acordo com as condições espirituais ditadas pelas 10 Sefirot, esses níveis de ocultação transformam-se em níveis de Revelação, de recebimento do Criador.



Assim, ocorre que os Vasos consistem de duas propriedades opostas entre si, e o grau de revelação no interior do Vaso (homem, a alma) equivale ao grau de ocultação. Quanto mais rudimentar for o vaso (a alma), isto é, quanto mais ele oculta o Criador, e quanto mais egoísta ele fica durante o processo de correção, mais poderosa será a Luz revelada nele ao fim da correção. Consequentemente, essas duas propriedades opostas são, de fato, apenas uma.



A Luz no interior das Sefirot é uma parcela da Luz do Criador recebida pelas Almas de acordo com suas propriedades corrigidas. Tudo emana do Criador: tanto o vaso quanto a Luz que o preenche. Portanto, sempre há 10 Luzes dentro de 10 Vasos, ou seja, 10 níveis de revelação de acordo com as propriedades dos Vasos.



Não somos capazes de distinguir entre o Criador e Sua Luz. Fora do Vaso, Ele é imperceptível, impossível de ser apreendido. Podemos apenas receber o que penetra em nossos Vasos, nossas propriedades corrigidas. Só compreendemos o que emana Dele, o que se veste em nossos vasos, isto é, nossas propriedades, que consistem de 10 Sefirot. Com isso, o que quer que percebamos do Criador, chamamos de Luz, ainda que esta seja uma sensação subjetiva no interior das propriedades corrigidas de nossas almas.



O Vaso sente que existe de modo independente, mas isso é uma ilusão. O que conseguimos entender a respeito do Criador? O que revelamos nas nossas próprias propriedades corrigidas. Conforme o modo com que as chamamos, bondade, misericórdia, atribuímos essas propriedades ao Criador. O objetivo da Criação, o grau de nossa adesão com o Criador, reside na semelhança absoluta com Ele, na revelação de toda a Sua Grandeza, Eternidade e Perfeição.

                                              


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