Introdução
ao artigo
"Preâmbulo
à Sabedoria da Cabalá"
Todas
as introduções elaboradas pelo Rabi Yehuda Ashlag (Baal HaSulam) foram escritas de forma a permitir que o leitor
acesse o material essencial, o compreenda e o absorva. Do mesmo modo, todas as
introduções são composições cabalísticas independentes, tendo o seu próprio
poder espiritual e profundidade.
(1)
Está dito no Livro do Zohar (capítulo semanal
Tzarya, p. 40): “Todos os mundos, Superiores e inferiores, estão dentro do
homem. Tudo o que foi criado no mundo é para o seu benefício e tudo vive e se
desenvolve por sua causa”.
É
preciso compreender: o homem está tão insatisfeito com este mundo e com tudo o
que nele se encontra e que existe para servi-lo e desenvolvê-lo, que ele deseja
também os Mundos Superiores?
A Torá
é um livro cabalístico. Ela foi escrita pelo grande cabalista Moisés. O Livro do Zohar é um comentário
cabalístico da Torá. O Livro do Zohar, assim como a Torá, é dividido em cinco livros e
capítulos semanais. Um dos capítulos semanais chama-se “Tzariya”.
Está
dito que: “O Criador criou o homem com um nome completo. E tudo o que foi
criado é absolutamente perfeito, tudo se encontra dentro dele”. A partir desta
afirmação, vemos que todos os Mundos, os Superiores e os inferiores, tudo
aquilo que os preenche e os anima, tudo,
exceto o Criador, encontra-se dentro do homem.
(2)
A fim
de explicar o que foi dito acima, é preciso expor toda a sabedoria da Cabalá.
Através de estudos adicionais, o significado destas afirmações será revelado em
um estágio posterior.
A
questão é que a intenção do Criador é doar prazer. No momento em que o Criador
pensou em criar as almas e deleitá-las, elas instantaneamente apareceram diante
Dele na sua perfeição e elevação. Elas foram preenchidas com prazer infinito, o
qual o Criador pensou em lhes outorgar. Apenas o seu Pensamento completou toda
a Criação, nenhuma ação física foi necessária.
Com isso, também nasce uma pergunta: Por que
Ele criou os mundos, restrição após restrição, até o nosso mundinho ínfimo e
então inseriu as almas (os seres criados) em corpos insignificantes deste
mundo?
Se o Criador é Onipotente, por que Ele
não provê o homem com tudo o que lhe é necessário? Por que Ele não permite que
cada um de nós faça o que tem vontade? Se apenas o desejo fosse suficiente, cada
um de nós teria criado um mundo muito melhor que este. Por que então o Criador
o criou desta maneira?
Se
sofremos agora, seja da forma que for, a fim de nos beneficiarmos no futuro,
isso também indica uma imperfeição.
(3)
A resposta encontra-se no livro A
Árvore da Vida, do Ari: “(...) Foi criado
por Ele para demonstrar a perfeição de Suas ações”. Entretanto, devemos
compreender o seguinte: Como tal ação imperfeita emana do Criador, sendo Ele
perfeito? Além disso, os seres criados devem corrigir-se e elevar-se
espiritualmente através de ações neste mundo.
Por
que Ele criou um mundo aparentemente tão baixo, com corpos imperfeitos e
inseriu neles almas infinitas? Isso foi feito para que, depois, elas pudessem
descobrir o que significa a perfeição? Isso significa que o Criador criou o
mundo mais insignificante e o homem mais insignificante sendo que ele, por si
mesmo, deve se esforçar para alcançar a perfeição. Esse é o objetivo e a
perfeição das ações do Criador?
A
questão é que duas partes devem ser discriminadas nas almas: a Luz e o Vaso. A
essência da Alma é o seu Vaso (Kli),
e a abundância com a qual o Criador desejou deleitar as almas é a Luz (Ohr) que preenche o Vaso.
Uma vez que o Criador desejou doar prazer às
almas, foi preciso que Ele o projetasse na forma de um desejo de receber
prazer. O tamanho do desejo de receber determina a quantidade de prazer
recebido. É preciso saber que o desejo de receber prazer constitui a essência
da alma. Ele foi criado a partir do nada, e é chamado de Kli - o Vaso da Alma. A abundância e o prazer
que preenchem o Vaso são definidos como a Luz da Alma, que emana do Criador.
Essa
Luz propaga-se do Criador. Apenas o desejo (o Kli), o Vaso, foi criado. A Luz emana do Criador Ele Mesmo como
prazer e preenche o Vaso. Em outras palavras, o primeiro objetivo foi doar, o
segundo foi criar alguém que desejasse receber esse prazer. No geral, há dois
componentes na criação:
1.
O Vaso - o desejo de receber prazer, a Alma, Adam HaRishon, Criação.
2. O
prazer que emana do Criador.
(4)
A Criação é algo que não existia, isto é, algo
criado a partir do nada. Ainda assim, como é possível imaginar algo que não
exista no Criador? Ele deve abranger absolutamente tudo. Está dito que toda a
criação nada mais é que um Vaso (Kli)
da Alma, um desejo de receber prazer. Portanto, está claro que tal desejo não
existe no Criador. Assim, o desejo de receber é uma criação totalmente nova,
que não existia anteriormente, e é definida como criada a partir do nada.
Não
podemos imaginar o que seja o “nada”. Tudo o que existe em nosso mundo possui
sua pré-história, sua forma anterior: tudo surgiu a partir de algo. Por
exemplo, a matéria sólida é formada de gás. O que significa ser formada a
partir do nada? Somos incapazes de compreender isso. Posteriormente, quando
apreendermos a Espiritualidade, nos tornaremos participantes na compreensão
deste processo.
(5)
É
preciso saber que, na Espiritualidade, distância e proximidade são determinadas
pela semelhança ou diferença de propriedades. Se dois objetos espirituais têm a
mesma forma, isto é, as mesmas propriedades, eles estão conectados constituindo
um todo único. Se não há diferença entre esses dois objetos, eles não podem ser
divididos. Essa divisão somente é possível se existe disparidade entre suas
propriedades.
O grau de distinção das propriedades determina
o grau de distanciamento. Caso todas as propriedades desses dois objetos
espirituais sejam opostas, então eles estão infinitamente afastados um do
outro, isto é, em um estado de total distanciamento.
Em nosso mundo, quando dizemos que um
objeto assemelha-se a outro, isso significa que ambos existem individualmente e
que, apesar disso, são idênticos. No Mundo Espiritual, isso é impossível. Tudo
o que lá existe se diferencia pela distinção de suas propriedades. Se não há
distinção, então esses dois objetos se unem e formam um único objeto. Se há uma
semelhança parcial de propriedades, então eles se unem nas suas propriedades
comuns, como dois círculos que se sobrepõem: um segmento de um dos círculos
sobrepõe-se a um segmento do outro círculo, formando, assim, uma área comum.
No
Mundo Espiritual, existem duas propriedades: (1) “Receber prazer” e (2) “Doar
prazer”. Não existe nada mais além disso. Se aproximarmos uma da outra, veremos
que elas são completamente opostas e não possuem qualquer ponto de contato
entre si. Entretanto, se a propriedade de "recepção" for transformada
na propriedade de “doação”, ou seja, se a criação e o Criador tiverem desejos
comuns, então eles se aproximam e se unificam nessas propriedades. Os desejos
que continuarem opostos permanecem distantes. Inicialmente, a criação foi
criada sendo absolutamente oposta ao Criador.
(6)
O
pensamento humano é incapaz de apreender a Perfeição Infinita do Criador. Não
há meios de expressá-lo ou descrevê-Lo. Contudo, ao sentir Sua Influência,
compreendemos que Ele deseja nos dar prazer, pois Seu único objetivo é nos
deleitar, preencher-nos de satisfação.
As propriedades da Alma são absolutamente
opostas às do Criador. Enquanto Ele é um doador sem qualquer traço do desejo de
receber, as almas foram criadas com o único desejo de receber prazer. Dessa
forma, não existe maior antítese de propriedades e distanciamento que esta.
Portanto, se as almas tivessem permanecido em seu desejo egoísta de receber
prazer, elas ficariam para sempre separadas do Criador.
Nenhuma palavra da nossa língua pode
descrevê-Lo, pois estamos separados d´Ele nas nossas propriedades, por isso não
conseguimos senti-Lo.
Vale destacar, aqui, que essa Introdução foi escrita por um homem,
Baal HaSulam, que alcançou isso por si mesmo. Ele diz que sentiu o Criador e
Suas Ações, viu Sua Absoluta Bondade. Em nosso nível de compreensão, ainda
somos incapazes de sentir isso.
Por que não é suficiente apenas
desejar o prazer a fim de recebê-lo? Por que eu preciso me aproximar do
Criador, tornar minhas propriedades semelhantes às d´Ele, unificar-me
completamente com Ele? Por que Ele não criou um estado em que, por um lado, a
Criação pudesse receber prazer e, por outro, doar prazer, assim como Ele Mesmo
faz? De fato, se assim fosse, a Correção Final viria imediatamente e a criação
se unificaria com o Criador sendo preenchida pela Sua Luz, tornando-se igual a
Ele.
Por
que devemos passar por todo esse processo evolutivo de nossos sentidos,
perceber cada desejo como egoísta e oposto ao Criador, então corrigi-los e
torná-los altruístas, semelhantes a Ele? Por que precisamos sentir a maneira
como nos aproximamos Dele, nos unificamos com Ele? O que ganhamos com isso?
(7)
Agora
podemos compreender o que está escrito no livro A
Árvore da Vida. A criação de todos os Mundos é uma
consequência da Perfeição do Criador em todas as Suas Ações. Entretanto, se Ele
não tivesse revelado Seus poderes nas ações que Ele pratica aos seres criados,
Ele não teria sido chamado “Perfeito”. Mas, ainda assim, não está claro como
ações imperfeitas podem partir de um Criador Perfeito.
Além disso, as ações do Criador são tão
imperfeitas que elas precisam ser corrigidas pelo homem. Por essas observações,
fica claro que a criação é um desejo de receber prazer. Mesmo que esse desejo
seja imperfeito devido a sua total oposição e distanciamento do Criador, ainda
assim ele consiste dessa propriedade de recepção especialmente criada e
necessária para que a Criação receba o prazer do Criador.
Então, eis que surge a questão: “Para
que o Criador criou todas as coisas?”
Um cabalista, que fala apenas do que
já recebeu, afirma que Ele nos criou a fim de nos doar o Seu prazer.
Por exemplo, digamos que eu vá visitar
uma pessoa e vejo, diante de meus olhos, um palácio maravilhoso. O anfitrião
sai do palácio para me receber dizendo: “Esperei por você minha vida inteira.
Entre e veja o que preparei para você.” Então, ele passa a mostrar várias
iguarias e as oferece para mim. Eu lhe pergunto:
“Por que você fez tudo isso?”
“Fiz para lhe satisfazer.”
“O que você ganha com a minha
satisfação?”
“Não preciso de nada além de lhe ver
satisfeito.”
“Como você pode não precisar de nada?”
“Você tem o desejo de receber prazer e
eu não. Portanto, meu prazer consiste em lhe dar prazer.”
Do nosso nível humano limitado, não
somos capazes de compreender o que significa doar sem receber nada em troca.
Essa propriedade é totalmente oposta à nossa natureza. Portanto, está dito que
“Apenas em minhas sensações posso conhecê-Lo”. Acima disso, não consigo
alcançar. Não possuo meios com os quais saber se o anfitrião tem qualquer ideia
ou intenção ocultas.
Se o Criador tiver qualquer intenção
em relação a nós, mas não as revelar, somos incapazes de conhecê-las. Cada um
de nós, tendo sido criado como um vaso, pode compreender apenas o que o
preenche. Isso é o que ocupa nossa mente e nosso coração. Quando desenvolvermos
ao máximo os nossos vasos, receberemos neles tudo o que emana do Criador.
Então, sentiremos que Ele é absolutamente bom e que não possui outra intenção
além da de deleitar o homem.
Os chamados sétimo, oitavo, nono e
décimo milênios seguirão após o sexto milênio (os seis mil níveis de
recebimento do Criador). Eles revelam os Seus pensamentos, unificam-se tão
profundamente com Ele que nenhuma dúvida permanece. Isso não ocorre porque o
vaso é preenchido, mas porque o Criador permite que o vaso exista dentro de Si
Mesmo.
Essa equivalência de forma pode ser
alcançada de duas maneiras: ou aprimoramos nossas propriedades, ou o Criador
inferioriza as Suas. A correção das Almas ocorre quando o Criador desce até o
nível em que elas se encontram ao rebaixar Suas propriedades até fundir-Se com
elas. Então, Ele volta a aperfeiçoar Suas propriedades ao mesmo tempo em que
aperfeiçoa a propriedade das Almas, como se as puxasse da sua mancha.
Por exemplo, um professor junta-se a
um grupo de jovens fingindo ser tão irresponsável quanto eles. Ele passa a
aproximar suas propriedades das deles e então, quando voltar a aperfeiçoar-se,
ele os aperfeiçoará junto. Dessa forma, ele os corrige, os eleva de seu nível
inferior em direção à Luz da verdadeira inteligência.
Portanto, deve haver uma piora inicial
das propriedades do Criador, a fim de torná-Lo equivalente à criação, seguida
de um aperfeiçoamento e subsequente correção das Almas criadas.
Esse processo depende do Criador, é
realizado por Ele, e por isso é definido como O Trabalho do Criador (Avodat
Hashem). Contudo, o homem deve aceitar submeter-se a esse processo se ele
deseja que o Criador o transforme. Dessa forma, ele deve preparar-se e ter a
força e o entendimento para justificar o trabalho do Criador. Tal pessoa é
chamada de justo, pois ela é capaz de
justificar as ações do Criador.
O desejo de receber e o desejo de doar
constituem dois vetores opostos de intenções, moral e espiritual. Um está
direcionado para dentro, e o outro para fora. Mas o fato é que, depois, durante
o processo de evolução da criação, esses desejos assumem diversas formas
diferentes.
Cada Sefirá e Partzuf
representa diferentes tipos de desejo. Estudamos os desejos na sua forma “pura”
mas, na verdade, quando um cabalista os alcança, ele sente-os de forma muito
mais complexa. Mesmo assim, o desejo de receber prazer será sempre o centro da
criação, enquanto que o desejo de doar constitui a essência da influência do
Criador sobre os seres criados.
Aparentemente, o Criador pode agir
como se quisesse receber, como ilustra o exemplo de Baal HaSulam a respeito do
anfitrião e do convidado. Este exemplo inclui todos os elementos de nossas
relações. O anfitrião diz: “Eu preparei tudo isso para você, escolha só o que
você gosta, ficarei muito feliz em vê-lo comer. Você me daria essa satisfação?”
Com isso, ele faz o convidado sentar-se e comer. Com tal persuasão, o convidado
sente-se obrigado a comer e aproveitar a refeição, senão como o convidado
retribuiria o anfitrião por todos os seus esforços?
Entretanto, o convidado tem um
problema diferente: não importa o que faça, o desejo de receber prazer está
sempre queimando dentro dele. É assim
que ele foi criado e não há como fugir disso, ele só sente prazer ao receber.
Como ele poderia doar? Recebendo: Doar a fim de receber. Como resultado, seu
ato de doação nada mais é que um meio de receber o que deseja.
De acordo com a minha natureza, eu
posso receber em ação e em intenção. Minha ação tanto pode ser dar quanto
receber, mas meu objetivo é sempre o mesmo: receber prazer. O homem
inconscientemente busca satisfação, este é o nosso desejo natural. Em outras
palavras: a essência de qualquer ação depende apenas das minhas intenções.
Por intermédio da intenção, posso
inverter a essência da ação: posso receber ao doar, como no exemplo do
anfitrião e do convidado. Em todo caso, eu só posso receber, sou incapaz de
doar qualquer coisa, mas com o auxílio da intenção posso receber tanto “para
mim mesmo” quanto “para outra pessoa”.
Assim, as relações entre o Criador e o
homem podem assumir diversas formas. Elas se modificam em cada nível do
crescimento espiritual do homem. O Criador muda em relação a nós através de um
sistema de Ocultações, manifestando apenas uma de Suas propriedades por vez, de
acordo com a nossa capacidade de nos assemelhar a Ele.
Se o Criador manifestasse Suas
propriedades genuínas, absolutamente perfeitas, da forma como Ele É, nós não
seríamos capazes de nos assemelhar a Ele. Por isso, Ele diminui-Se,
inferioriza-Se e adapta-Se a nós. Precisamos apenas ascender a este pequeno
nível, assemelharmo-nos ao Criador em uma propriedade ínfima.
Assim que isso ocorre, o Criador
começa a revelar-Se nessa propriedade em um nível um pouco superior, e também
em outras propriedades. Através de um sistema de Mundos, Ele oculta Sua
Perfeição, o que nos permite alcançar a semelhança com Ele e ascender
espiritualmente.
O Olam
Hazeh (Nosso Mundo) é a sensação interior do homem ao descobrir-se em um
estado de absoluto egoísmo. É neste estado que o homem sente que existe um
Criador que Está totalmente afastado e oculto dele.
Tendo em vista suas propriedades
criadas, o homem é totalmente oposto ao Criador e está espiritualmente distante
d´Ele. Tal sensação interior é chamada Olam
Hazeh. Uma pessoa pode estar em seu quarto e, ao mesmo tempo, estar no Olam Hazeh, ou nos Mundos de Assiyá, Yetzirá, Beriá e Atzilut - estados interiores do homem
que o conectam aos Níveis Espirituais.
O Criador está em um estado contínuo
de calma absoluta. O que isso quer dizer? Significa que o Anfitrião, quando
descobriu o que você mais gosta, preparou uma refeição especialíssima e está só
lhe aguardando. Quando você se aproximar d´Ele, Ele o induzirá a aceitar o seu
convite. Apesar de todas essas ações, ainda dizemos que o Criador encontra-se
em um estado de calma absoluta, já que Sua intenção de “doar à criação” é
invariável.
Por “calma absoluta” nos referimos a
um desejo constante e imutável. Ele existe apenas no Criador, em todas as Suas
ações. Essas ações são inumeráveis, infinitas e abrangentes. Uma vez que toda
essa diversidade de ações permanece imutável e almeja um único objetivo, as
definimos como um estado de calma absoluta.
Nesse estado, não vemos nenhum
movimento, já que não há qualquer mudança. Ainda assim, como podemos doar com o
propósito de receber prazer? Em nosso mundo, fazemos isso constantemente. Por
exemplo: Alguém me traz uma xícara de chá. Por que isso aconteceu? Porque essa
pessoa sente prazer nisso, do contrário, ela nunca agiria dessa forma. Na
verdade, nossa ação de dar ou receber não importa, ações mecânicas não
determinam nada.
Tudo
é determinado apenas pela intenção. Há quatro combinações entre intenção e
ação:
· Receber
com o propósito de receber;
· Doar
com o propósito de receber;
· Doar
com o propósito de doar;
· Receber
com o propósito de doar.
As primeiras duas combinações, “ação-intenção”,
existem em nosso mundo. A terceira e a quarta existem no Mundo Espiritual. Se o
homem consegue alcançar essas intenções, isso significa que ele está no Mundo
Espiritual. A Espiritualidade começa quando a pessoa doa a fim de doar. Doar a
fim de doar é algo que nós não compreendemos. Onde eu entro nisso? Eu sou
separado do meu ego, do meu desejo de receber. Eu dôo alguma coisa e satisfaço
a alguém sem receber nada em troca… Isso é possível?
Há também “receber com o propósito de
doar”. Quando estudamos os objetos espirituais - Galgalta, AB, SAG - isso parece muito simples, mas, na verdade,
somos incapazes de imaginar esse fenômeno em nossa vida.
O fato é que receber prazer através da
doação não é proibido, entretanto, a doação deve ser puramente espiritual, sem
qualquer traço de “para si mesmo”. Primeiro, o homem realiza um Tzimtzum (uma restrição), “ascende” a esse
Nível Espiritual, e adquire a propriedade de total indiferença pelas suas
próprias necessidades. Só então ele pode doar e sentir prazer, receber prazer
através da doação, ou seja, a satisfação que ele sente não é o resultado de sua
doação, mas a consequência de alguém beneficiar-se dela.
O Tzimtzum
Aleph (A Primeira Restrição) não é apenas uma ação realizada no Mundo do
Infinito. Se o homem for capaz de restringir-se e não pensar no seu próprio
benefício, então ele começa a ascender, a “contar” seus Níveis Espirituais.
Um movimento é definido como uma
mudança no desejo ou, mais precisamente, um desejo ao qual ele pode adicionar a
intenção “pelo Criador” e não “para si mesmo”. Se o seu desejo é constante em
tamanho e direção, considera-se que você está imóvel. Suponha que você deseje o
meu bem em vinte por cento da sua intenção. Se o seu desejo é apenas isso,
então você está absolutamente estático, mas se ele se modifica em relação a
mim, então você está em movimento.
Enquanto avança os Níveis Espirituais,
o homem permanece em constante movimento em relação ao Criador. E também lhe
parece que, em relação a si mesmo, o Criador está constantemente se
aproximando. Isso ocorre porque na medida em que ele ascende a um nível mais
alto, a revelação do Criador aumenta, isto é, ele vê que o Criador é cada vez
mais bondoso e deseja doar a ele. Nas sensações do homem, a aproximação é
mútua.
Apesar disso, foi dito que “a Luz
Superior é absolutamente estática”, isto é, a Luz Superior e não o que incide
sobre o homem, ou seja, a intenção do Criador, não a Sua Luz. Não podemos
sentir a Luz Superior até que ela penetre no vaso. No interior do Kli, conseguimos sentir diversas
variedades de Luz, assim como a maneira com que Elas nos afetam. Entretanto, o
Criador, a Luz Superior, é absolutamente estática, pois Seu desejo, único e
constante, é nos doar prazer.
Como sabemos disso? Há pessoas que
ascenderam a este alto Nível, onde puderam alcançar plenamente o desejo do
Criador em relação à Criação. Eles alcançaram o nível do maior Kli e o preencheram completamente com a
Luz do Criador. Eles não podem ascender ainda mais, mas podem compreender que
tudo o que o Criador transfere à Criação é bondade absoluta.
O que é ser absolutamente bom? Não nos
referimos ao Criador Ele Mesmo, mas sim, às Suas qualidades em relação ao
homem. O Criador Ele Mesmo é incompreensível. Quando o homem, no seu Kli, seja Baal HaSulam, o Ari ou Rabi
Shimon, alcança a Correção Final (Gmar
Tikun) e recebe do Criador tudo o que puder, ele torna-se o único
recebedor! Talvez apenas ele se beneficie da atitude do Criador e os outros
não. Assim, vemos que em nosso mundo o Criador trata bem a um e a outro não.
Como podemos afirmar que Ele é absolutamente bom para todos?
O fato é que, enquanto o homem ascende
os Níveis Espirituais, ele absorve todos os vasos de todas as almas, conecta
todas as almas criadas à dele. Ele absorve seus sofrimentos e realiza suas
correções. Isso se denomina “aquele que sofre pelo mundo inteiro é recompensado
com o mundo inteiro”. O homem recebe a Luz que desce a todas as almas.
Portanto, no seu último estágio, todo cabalista recebe essas sensações como se
apenas ele tivesse sido criado, sendo ele mesmo Adam Ha-Rishon. Dessa forma, ele sabe e sente o que o Criador faz
para cada alma.
Nós todos existimos em um estado
perfeito, mas não o sentimos dessa forma. Nossas sensações são falhas e
distorcidas. De acordo com elas, nosso estado é imperfeito. Nossas emoções são
tão grosseiras que mesmo o estado mais abençoado é percebido como imperfeito.
Mesmo agora, estamos em um estado absolutamente perfeito. Entretanto, somos
levados a pensar e sentir de tal forma que nos parece um estado diferente,
ruim, como está dito: “Quando retornarmos ao Criador, veremos que tudo isso era
um sonho”.
Então perceberemos que nossas
sensações eram muito primárias, que víamos a realidade de maneira muito
diferente daquilo que ela realmente é. Não conseguíamos percebê-la corretamente,
pois nossos sentidos estavam sintonizados de maneira errada.
Na verdade, todas as almas estão em um
estado perfeito. Nenhum estado ruim foi criado pelo Criador. Ele criou uma alma
perfeita que está em absoluta confluência com Ele, completamente preenchida de
Luz e regozijando-se na Sua Grandeza e Poder.
Por que então existem outros estados?
Porque, neste momento, não temos as ferramentas para sentir essa Perfeição. Por
que todos os mundos estão dentro de nós? Porque a menos que essas ocultações e
distorções interiores sejam corrigidas, não seremos capazes de sentir onde
estamos de verdade.
Na realidade, nós já estamos lá e
sentimos isso, mas não em nosso estado atual. Um cabalista, neste mundo, está
constantemente realizando correções. Ele sofre e se preocupa enquanto faz essas
correções em si mesmo. Além disso, existem almas especiais em nosso mundo que
tomam para si as correções gerais do mundo inteiro e, assim, o “empurram” na
direção do bem universal.
Mesmo em nossos estados mais “sem vida”,
passamos por grandes mudanças. Não podemos senti-las. Muitas vezes, o dia passa
como se fosse um instante e em outras se arrasta pela eternidade…
Pergunta: O
que significa quando o Partzuf recebe
a Luz e então a rejeita?
Em nosso mundo, é impossível devolver
o que já foi recebido internamente. Ainda assim, quando falamos sobre
Espiritualidade, nos referimos a sensações. Imagine sentir-se muito bem e
depois muito infeliz, e então muito bem e novamente miserável. De certa forma,
isso é como receber a Luz e rejeitá-la. Esse exemplo demonstra a
impossibilidade de equiparar ações espirituais e o nosso corpo material, pois
eles têm forma muito diferente.
O desejo do Kli de adquirir uma tela e assemelhar suas qualidades às do
Criador, depois da Primeira Restrição, é apenas uma das inúmeras correções “externas”,
chamadas “vestimentas”. A propriedade interior, o desejo de receber prazer,
mantém-se inalterada, conforme a Lei Espiritual que diz: “O desejo permanece
inalterado”. Em outras palavras: O tamanho do desejo criado nunca se modifica.
O Criador criou o desejo em absoluta
conformidade com a Luz com que Ele deseja prover a criação. Nem o tamanho desse
desejo, nem sua qualidade, estão sujeitas à mudança. Altera-se apenas a
intenção da criação durante a recepção. A recepção pode ser tanto “Para o
Criador” quanto “Para mim mesmo". Existe um anfitrião, mas não posso vê-lo
nem senti-lo, tudo o que eu vejo utilizo em benefício próprio. Esse estado é
chamado de “Meu mundo”.
Sentir o Criador e ser capaz de
rejeitar o que Ele oferece significa que a pessoa cruzou a Machsom - uma barreira entre o Mundo Espiritual e o nosso. Ela já
possui a intenção de não utilizar o seu egoísmo: o desejo permanece, e de forma
alguma é diminuído, mas seu uso foi transformado de “Para mim mesmo” em “Para o
Criador”.
Primeiro, eu apenas me restrinjo de
receber “Para mim mesmo”. Depois, posso corrigir minha intenção e deixar minha
tela tão forte que serei capaz de utilizar meu egoísmo “Para o Criador”, isto
é, passar a receber “Para Ele”.
Meu Nível Espiritual, meu lugar nos
Mundos Espirituais, depende do quanto eu posso receber pelo Criador. Dessa
forma, se eu puder receber um quinto da Luz destinada para mim, então estou no
Mundo de Assiyá; se eu puder receber
dois quintos, estou no Mundo de Yetzirá;
se recebo três quintos, estou no Mundo de Beriá;
se recebo quatro quintos, estou no Mundo de Atzilut;
e se eu receber cinco quintos, estou no Mundo de Adam Kadmon. Uma vez que sou capaz de receber tudo o que emana do
Criador, retorno ao Olam Ein Sof (o Mundo
do Infinito), isto é, o Mundo da Recepção Ilimitada.
Este era o Mundo da Recepção Ilimitada
sem a tela, antes do Tzimtzum Aleph (TA). Nesse momento, eu também posso
receber sem limitações, mas com a ajuda da tela. Esse estado, tão diferente da
recepção anterior ao TA, é chamado de
Correção Final. Não existem níveis no Mundo do Infinito, embora surjam cada vez
mais condições para a recepção.
Nós não estudamos o estado da criação
quando o Mundo do Infinito é alcançado, uma vez que tudo o que se refere ao
estado posterior à Correção Final é chamado de Sitrey Torah (Segredos de Torá). E tudo o que se refere ao estado
anterior à Correção Final é chamado Ta'amey
Torah (Sabores de Torá). Ta'amey
Torah pode, e deve, ser estudado por todos, pois todos são compelidos a
alcançá-lo. Esse estado pode ser apreendido de duas maneiras (mais
frequentemente na sua combinação): pelo “Caminho do sofrimento” ou pelo “Caminho
da Torá”. Em qualquer caso, o resultado será o mesmo, diferindo apenas no tempo
e nas sensações. Todas as pessoas terão que apreender a Ta'amey Torah, isto é, dominar a Cabalá, a ciência de receber a Luz
da Torá.
Dessa forma, como foi dito acima, o
desejo em si mesmo permanece inalterado. Apenas a tela é que muda. De acordo
com a resistência da tela, eu recebo apenas a parcela do meu desejo que posso
utilizar pelo Criador. Ainda assim, independente da parte do desejo que é
utilizada, eu sempre recebo uma certa porção da Luz em todos os cinco níveis da
alma.
Suponha que há cinco pratos sobre a
mesa à minha frente. Me sirvo um pouco de cada prato, sendo que a quantidade da
porção depende da resistência da minha tela. Eu sempre sinto o NaRaNHaY - cinco "Luzes-Prazer"
(Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yehidá)
- nas cinco partes do meu desejo de receber prazer (Keter, Chochmá, Biná, Zeir Anpin e Malchut). Quando a Luz é recebida em um dos meus desejos significa
que essa Luz penetra as cinco partes desse desejo (cinco Sefirot) que tenham o mesmo nível de Aviut. Isso quer dizer que a recepção da Luz (Partzuf) surge (nasce) de um Zivug
de Haká (a interação da tela com a Luz).
É como pedir o menu de um restaurante.
Há vários tipos de comida que custam dez, vinte, trinta, cem ou mil reais, mas
cada um deles consiste de cinco pratos, já que eu sempre tenho uma combinação
de cinco desejos. É dessa forma que meu desejo de receber foi originalmente
projetado. Coincidentemente, possuo cinco sentidos. Cada prato consiste de meus
cinco desejos Keter, Chochmá, Biná, ZA e
Malchut, e dentro deles eu recebo as Luzes Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yechidá.
Os Vasos e as Luzes têm nomes comuns,
mas os Partzufim têm nomes
específicos. Por exemplo, os Partzufim
do Mundo de Adam Kadmon são chamados
de Galgalta, AB, SAG, MA e BON; os do
Mundo de Atzilut são chamados de Atik, Arich Anpim, Aba ve Ima, ZON etc.
Depois da “Queda”, a Criação, a Alma
Comum, Adam HaRishon, dividiu-se em
milhares de almas. Durante o processo de correção, as almas ascendem e ocupam
certos lugares nos Mundos Espirituais. Afim de denominar esses níveis com nomes
breves e precisos, foram utilizados os nomes Abraão, Isaac, Jacó, Beit HaMikdash (o Templo), Cohen HaGadol (o Sumo Sacerdote), Shemesh (o Sol), Yareach (a Lua). Semelhante a estes níveis e estados, os dias da
semana, sábados, feriados etc. também receberam nomes conforme os Mundos e as
Almas que ascendem e descendem de cada um.
Agora podemos compreender sobre o que
realmente a Torá fala. Ela descreve apenas a realidade Espiritual: Mundos, Partzufim, Sefirot e Almas. Para descrever as Almas e o que ocorre a elas, utilizamos
a “Linguagem dos Ramos”. Dessa forma, na Torá não existem termos cabalísticos
como Keter, Chochmá, Biná, Atik e Arich Anpim. São utilizados nomes mais
específicos e precisos para designar um nível específico ou parte deste nível,
em determinado estado. Nesse caso, ela seria chamada, por exemplo, de um lugar de descanso no deserto ou
alguma ação etc.
Independente dos ascensos e descensos
do mundo, a Alma sempre é revestida por uma casca externa. No momento, chamamos
nossa casca “Este mundo”, ou “Nosso mundo”. Se o homem trabalha em si mesmo e
atravessa a Machsom, ele sentirá
outro mundo paralelo a este, isto é, forças mais exteriores, uma maior
manifestação do Criador. O homem verá claramente a Luz emanando Dele e
estabelecerá um contato tangível com Ele.
O homem atinge este ou aquele nível de
acordo com a força da tela adquirida, pois cada Mundo e cada Nível representa
um filtro: do Mundo do Infinito até o nosso mundo existem 125 Níveis, ou seja,
125 filtros entre o Mundo do Infinito e o nosso mundo.
Eu estava totalmente preenchido pela
Luz no Mundo do Infinito. No nosso mundo, estou totalmente separado da Luz. Não
posso vê-la nem senti-la, pois esses filtros ocultam-na de mim. Supostamente,
cada filtro oculta 1 parte de 125 partes da Luz. Uma vez que existem cinco
Mundos, cada qual contendo cinco Partzufim
que, por sua vez, contém cinco Sefirot,
todos juntos equivalem a 125 níveis (5x5x5=125). O que significam esses níveis?
Assim como um vidro colorido, cada mundo
restringe a Luz. Por exemplo, tomemos como exemplo um pedaço de vidro vermelho.
Por que ele é vermelho? Porque ele restringe a cor vermelha. Como posso fazer
com que esse nível deixe de restringir a cor vermelha que vem a mim? É muito
simples: Preciso me assemelhar às propriedades dele. Em outras palavras: Ele
restringe a Luz para mim, pois não me é permitido recebê-la.
Se a Luz me atingir sem ser diminuída
pelo filtro, eu a receberei “para mim mesmo”, já que eu não possuo uma tela
adequada para ela. Portanto, minha tela deve corresponder às propriedades do
filtro daquele nível e, nesse caso, eu serei capaz de enfraquecer a Luz. Assim,
se eu adquirir uma tela tão forte quanto este nível específico, eu me assemelho
às suas propriedades e todas as restrições desaparecem, elas deixam de existir.
Portanto, pouco a pouco, nível a
nível, eu elimino todos esses níveis-filtro até que todos desapareçam e reste
apenas a Luz. Tal estado significa o recebimento do Mundo do Infinito. Ele é
infinito e não possui limitações, já que eu neutralizo todas elas.
Quando eu atinjo determinado nível,
passo a senti-lo e compreende-lo de forma muito diferente. Eu mesmo me torno
uma qualidade deste nível. Assim, a Torá diz que “todos devem ser como Moisés”,
isto é, devem elevar-se ao nível alcançado por ele, já que nos Mundos
Espirituais “Moisés” é o nome de um nível, e todos que o alcançam são
considerados “Moisés”.
A cada vez, o homem aumenta a força da
sua tela de acordo com as qualidades do nível diante dele. Qualquer nível acima
de onde me encontro é definido como o Criador. Eu não posso ver nada além dele
já que, para mim, ele é a Sua manifestação. Portanto, cada vez mais, devo
assemelhar minhas propriedades ao Criador diante de mim. A cada nível Ele é
diferente, revelando-Se cada vez mais.
Qual é o limite? Suponha que uma
pessoa roube mil reais que estejam na sua frente, mas que se fosse apenas cem, ela
não o faria. Isso significa que essa pessoa já tem uma tela para cem, então
essa quantia pode ser posta diante de si: ela será capaz de rejeitá-la e de
trabalhar com ela de forma altruísta. Assim, ela não é afetada pela proibição
de “não roubar” quando se tratar de cem.
Se ela for capaz de fortalecer sua
tela e não roubar mil, então essa quantia não será mais uma limitação e poderá
ser colocada diante dela. Do mesmo modo, o homem deve fortalecer sua tela antes
que a Luz Infinita destinada a preenchê-lo seja “colocada” à sua frente.
Quando o homem for capaz de receber
toda essa Luz pelo Criador, ele experimentará um prazer 625 vezes maior no
Mundo do Infinito que em Malchut
(criação). Por que ele receberá mais prazer? Por que a descida de Malchut (das Almas) do Mundo do Infinito
ao nosso mundo foi necessária? Qual o objetivo da separação do Criador e do
retorno gradual a Ele?
Assim foi feito de forma que, através
do livre arbítrio, por desejo e força, o homem possa alcançar um estado tão
elevado quanto o Mundo do Infinito. Estar no Mundo do Infinito foi,
inicialmente, determinado pelo Criador, não pelo homem. Ao alcançar este estado
por si mesmo, ele adquire seus próprios vasos, sua própria tela, suas próprias
sensações, e recebe sua própria Eternidade e Perfeição.
A
questão é que, devido aos esforços independentes do homem, ele se prepara para
sentir o que realmente lhe está sendo doado do Mundo do Infinito. Quando Malchut do Mundo do Infinito nasceu, a
partir do Pensamento do Criador, recebeu a Luz e, posteriormente, absteve-se de
receber mais, o homem sentiu apenas uma ínfima parte de tudo isso, pois seu
vaso ainda não estava pronto.
Conforme a criação começa a ascender
de um ponto totalmente oposto ao Criador, da pura escuridão, quando a fome e o
desejo de sentir a Sua Luz for pouco a pouco se acumulando, consequentemente, a
criação começará a satisfazer-se com essa mesma Luz, mas o prazer já será 625
vezes maior do que no início da correção.
A Luz não muda, tudo depende da fome,
do desejo de receber a Luz. Se o homem não estiver com fome, ele não será capaz
de apreciar nem mesmo as melhores iguarias. Se ele estiver faminto, até uma
casca de pão será a fonte de um grande prazer. Assim, tudo depende de quão
intensa é a fome, e não a Luz. A pessoa pode receber uma mínima parcela de Luz,
mas o vaso sentirá um imenso prazer.
Do contrário, a Luz pode preencher
tudo ao redor, mas se o vaso não sentir fome, ele sentirá, de toda essa Luz,
apenas a Ohr Nefesh, uma Luz muito
pequena. Todo o Universo e seu domínio foram projetados de forma a preparar o Kli para receber o prazer perfeito. Em
outras palavras: para que ele realmente sinta o que o Criador doa a ele. Para
isso, ele deve se afastar e, então, aproximar-se de forma gradual e
independente.
A Linguagem
das Raízes e dos Ramos existe apenas em hebraico, mas ela pode ser
construída sobre a base de qualquer outra língua. Em outras línguas, a relação
entre a raiz espiritual e suas consequências em nosso mundo não podem ser
identificadas. Isso ocorre até com o hebraico moderno. Entretanto, se consideramos
o hebraico básico, com todas as suas raízes, então perceberemos uma conexão
evidente entre a raiz e a consequência.
Tal conexão existe em todas as línguas,
mas, nelas, ninguém ainda tentou encontrá-la. Nenhum cabalista aponta a conexão
entre o Espiritual e o material nos caracteres chineses ou nas letras latinas.
Em hebraico, graças aos cabalistas, essas correspondências são conhecidas, por
exemplo, a razão por que a letra Aleph
é escrita de uma forma e não de outra.
O que de fato é expresso através
disso? Sensações humanas. Podemos utilizar a linguagem da música, da cor, ou
qualquer outra linguagem. Tudo o que puder ser usado para expressar sensações
humanas, ideias, compreensão, pode ser utilizado como uma linguagem. É possível
falar sobre espiritualidade em qualquer língua. O hebraico é singular nisso,
pois possui um código estabelecido. Entretanto, se existir um cabalista que
conheça as raízes de qualquer outra língua, ele será capaz de fazer o mesmo com
ela.
As forças por trás das letras hebraicas
formam combinações, visíveis na forma de uma determinada letra. O hebraico
encontra-se na raiz de outras línguas. Na verdade, a inscrição das letras
dessas outras línguas vem da mesma raiz das letras hebraicas. Contudo, elas
foram modificadas, por isso a conexão entre essas letras e suas raízes
espirituais são diferentes.
Quando compreendemos um determinado
nível espiritual ou sensação, quando sentimos algo do Mundo Espiritual, sabemos
como nomear essa sensação específica. Então o que podemos fazer se ainda não
compreendemos o Espiritual? Quando as sensações não podem ser expressas em
palavras? Quando ainda não temos a linguagem apropriada? O que podemos fazer
para encontrar essa linguagem?
No Mundo Espiritual, não há linguagem,
nem mundos, nem letras, apenas a sensação da Luz no Vaso. O fato é que cada
vaso espiritual possui seu ramo neste mundo, tudo desce do Mundo do Infinito
até o nosso mundo, portanto, todas as sensações do nosso mundo elevam-se ao
Mundo do Infinito. Dessa forma, de qualquer ponto do Mundo do Infinito podemos
traçar uma linha reta que atravessa todos os mundos até o nosso, seu ramo.
Assim, é possível dizer que a alma de Adam HaRishon, dividida em 600 mil
partes, existe em cada um dos Mundos Espirituais. A disposição dos Mundos é idêntica,
a diferença reside apenas no material do qual cada um se constitui. Em qualquer
Mundo, a alma sente a sua condição, influência e interação com determinado
nível espiritual.
Se tomarmos a projeção dessa alma em
nosso mundo, podemos encontrar no hebraico conceitos correspondentes às
condições espirituais. Então podemos utilizar as palavras do nosso mundo,
assumindo que, através delas, não nos referimos a objetos do nosso mundo, mas
sim a forças, objetos e ações do Mundo Espiritual. Essa perfeita correspondência
é o resultado do uso de uma mesma e única língua. A diferença existe apenas no
plano deste ou “daquele” mundo, no qual o conceito pretendido se origina.
Nossa língua é a descrição de objetos,
ações, sensações, reações e interações.
Tudo o que temos em nosso mundo existe
no Mundo Espiritual: a mesma imagem nos 5 níveis. Com isso, em cada estágio, em
qualquer um dos 125 níveis, indiferente de onde você esteja, você sempre pode
utilizar nossa língua e descrever o que está acontecendo naquele nível.
Entretanto, apenas alguém que já passou por esse nível pode realmente
compreendê-lo. Aquele que ainda não chegou lá assumirá que você está falando
sobre o nosso mundo ou sobre o nível em que se encontra no momento em que lê ou
escuta o seu relato.
A Torá está escrita na Linguagem das
Raízes e dos Ramos do nível do Mundo de Atzilut.
Entretanto, pessoas despreparadas entenderão o que está escrito na Torá de
forma literal, assumindo que ela se refere ao nosso mundo. Elas tomam-na por
uma coleção de histórias. Assim, a Linguagem das Raízes e dos Ramos descreve
ações espirituais que ocorrem ao mesmo tempo em todos os níveis.
O “Preâmbulo à Sabedoria da Cabalá”
estuda o nascimento, desenvolvimento e posicionamento dos Mundos. Quando os
Mundos Superiores propagam-se até o nível do nosso mundo, as almas começam a
elevar-se do nosso mundo ao Mundo do Infinito.
A alma se eleva, pois absorve todas as
qualidades, conhecimento e revelações de todos os níveis anteriores. Portanto,
ela sabe exatamente o que ocorre em cada um dos níveis inferiores. Os
cabalistas estão no Mundo de Atzilut.
Mas então como eles nomeiam ações que acontecem lá com palavras do nosso mundo?
A questão é que eles não perdem a
conexão com o nosso mundo, mas vivem em ambos os mundos sentindo, ao mesmo
tempo, o que ocorre no Mundo de Atzilut e
no nosso mundo. Eles conhecem a correspondência exata entre um e outro.
Portanto, nomeiam os objetos do Mundo de Atzilut
de acordo com as propriedades que aparecem em nosso mundo, como uma projeção
dos Mundos Espirituais.
No Mundo de Atzilut, não há objetos criados pelo homem (por exemplo, aparelhos
de rádio, computadores etc), mas todos os outros objetos e forças estão
presentes. Os cabalistas vêem que determinado objeto do nosso mundo é a
consequência desse mesmo objeto no Mundo de Atzilut.
Assim, ele designa o objeto (a raiz) do Mundo de Atzilut com o mesmo nome que o objeto correspondente (ramo) traz em
nosso mundo.
Não existe relação entre a compreensão
cabalística e a meditação ou qualquer outra ideia “mística”. Tudo o que é
estudado por especialistas esotéricos, místicos e pseudo-cabalistas pertence ao
campo da psique humana, e de forma alguma se relaciona com espiritualidade,
recebimento do Criador ou Cabalá.
A maioria dessas pessoas não faz a
menor ideia do que seja uma tela e, sem ela, a Espiritualidade não pode ser
alcançada. Os pseudo-cabalistas que já ouviram falar sobre a tela, acreditam
que já a possuem, e imaginam que já estão no Mundo do Infinito. A Cabalá é uma
ciência secreta; ela não pode ser “falada” a qualquer um, mas apenas àquele que
sente que é capaz de compreender.
Portanto, todos os métodos,
ensinamentos, e religiões pertencem à compreensão das qualidades latentes da
psique humana, são resultado da atividade do cérebro humano. Essas pessoas
podem fazer muito. Eles podem realmente curar, prever o futuro, e ver o passado
- tudo o que se refere ao corpo.
O homem tem poderes potenciais para
fazer o que quiser com seu corpo físico. Entretanto, para entrar no Mundo
Espiritual, é preciso ter uma tela. É por isso que os inúmeros tipos de
previsões, truques, milagres, inclusive aqueles que realmente existem, não
devem ser confundidos com Cabalá. Uma pessoa pode predizer o futuro da mesma
forma que fizeram Wolf Messing e Nostradamus, ou pode adivinhar o passado de
alguém ao olhar para essa pessoa, mas nada disso tem a ver com Espiritualidade.
Tudo o que se refere ao corpo, ao
nosso mundo, pode ser previsto e modificado, não há nada de sobrenatural nisso.
Cada um de nós, se assim desejar, pode se retirar dos transtornos da
civilização e passar a cultivar tais poderes e habilidades. Nós perdemos essas
capacidades porque elas foram substituídas pelos frutos da civilização.
Todo mundo tem essas inclinações
naturais. As pessoas que possuem tais habilidades, que são capazes de olhar a
si mesmas de forma crítica, dizem que existe um Criador, mas que nada sabem
sobre Ele, ou possuem qualquer relação com Ele. Entretanto, prever o futuro do
homem, ver seu passado, ou fazer qualquer coisa contra a sua vontade, não tem
nenhuma relação com o Espírito. Uma vez que essas habilidades estão dissociadas
da Alma, elas morrem junto com a pessoa.
A Alma é um Vaso criado com a ajuda da
tela. Se não há tela, não há Alma. Enquanto não houver tela, há apenas um ponto no coração, o embrião da Alma.
Durante o processo de aquisição da tela, as primeiras (e ainda muito pequenas)
dez Sefirot começam a surgir. Quanto
maior se tornar a tela, maiores também ficarão as dez Sefirot abaixo dela, mas sempre serão 10.
Se o homem não tiver uma tela, então
ele morrerá da mesma forma que nasceu, independente das grandes habilidades que
tenha desenvolvido enquanto esteve neste mundo. Você acha que, por não
respirar, um yogi torna-se Espiritual? Para entrar no Mundo Espiritual, o homem
deve dedicar toda a sua força, tempo e desejos para este fim. Apenas os desejos
necessários para a existência neste mundo precisam ser supridos. Para que o
Mundo Espiritual se abra, um desejo verdadeiro é necessário. Apenas aquele que
realmente desejar entrar entrará no Mundo Espiritual. Se você mistura os
estudos de Cabalá com outras coisas, além do suprimento das necessidades de sua
existência, significa que seu desejo está dividido.
Inclusive agora, o homem pode julgar
apenas a partir do nível em que está. É impossível saber como será no próximo
nível. Tudo muda completamente num outro nível. Todo o mundo interior do homem,
pensamentos, desejos, reações e aparência - tudo isso muda. Tudo é tirado dele,
restando apenas a carne, sua casca externa; o restante é reinstalado outra vez.
Por isso, não conseguimos compreender
como esse desejo pode ser o único desejo. Não conseguimos compreender isso
agora, já que ainda não estamos neste nível. Quando ascendermos, de forma
gradual, a um nível mais alto, sentiremos que esse desejo é realmente formado.
Esse desejo é o único requisito para entrar nos Mundos Espirituais. Uma vez que
você alcança essa condição, os portões da Espiritualidade se abrirão à sua
frente.
Deve-se destacar que mesmo um grande cabalista
não consegue prever as habilidades em potencial do homem. Um cartomante pode
prever corretamente seu futuro terreno, material, mas não o futuro Espiritual
do homem. Além disso, quando confrontado com um cabalista, um cartomante
genuíno sente que qualquer previsão sobre o seu futuro está além de suas
habilidades.
Um cabalista não se interessa em
desenvolver a habilidade de prever o seu futuro. As forças do mundo são
necessárias para isso e, via de regra, elas são completamente não desenvolvidas
em um cabalista.
Um cartomante pode descrever todas as
doenças e problemas corporais de um cabalista. Mas nada pode dizer sobre o seu self. Ele pode apenas determinar sua
condição física em um dado momento.
Um cabalista está constantemente
buscando a conexão com o Criador e não tenta adivinhar como ou o que ele deve
fazer para melhorar o seu futuro. Tal pensamento nem cruzaria a mente de um
cabalista. Esse desejo pertence às forças impuras e não à Cabalá. Ao
compreender o Mundo Superior, um cabalista compreende os caminhos de correção
de todas as almas.
Toda informação no Mundo Espiritual
consiste de cinco partes (Behinot).
Um Zivug de Haká no Peh de Rosh, ainda que envolva apenas um tipo de Luz, permite a formação
de um Partzuf composto de cinco
partes. O que significa “uma Luz”? Uma Luz é um estado geral. Esse estado consiste
de cinco partes que se diferenciam quantitativa e qualitativamente. Entretanto,
elas devem sempre estar unidas, como um conjunto. É como a sensação que resulta
da combinação de cinco sub-sensações dos nossos cinco sentidos: tato, olfato,
visão, audição e paladar.
Já que cinco Luzes chegam a mim, deve
haver cinco desejos em mim. A diferença entre eles encontra-se tanto em
qualidade quanto em quantidade. Entretanto, todos eles agem juntos. Eu não
posso tornar um desejo maior e outro menor. Eles formam um determinado
conjunto. A Luz que entra no Vaso passa por quatro níveis. Por sua vez, o Vaso
consiste de cinco níveis do desejo de receber prazer.
Vamos rever o tópico 7:
E então podemos compreender o que está escrito
na primeira parte do livro A Árvore da Vida: "A criação de todos os mundos é uma consequência da perfeição do
Criador em todas as Suas ações. Entretanto, se Ele não tivesse revelado Seus
poderes nas ações que pratica aos seres criados, Ele não teria sido chamado “perfeito”.
Assim,
já que o Criador é perfeito, todas as Suas ações devem ser perfeitas, por isso
Ele criou os Mundos. Mas, apesar disso, os Mundos são a ocultação do Criador, o
distanciamento Dele.
À primeira vista, entretanto, não fica claro
como ações imperfeitas poderiam surgir de um Criador perfeito. Além disso, as
ações do Criador são tão imperfeitas que elas precisam ser corrigidas pelo
homem. A partir dessa afirmação, compreenda que já que a essência da criação é
o desejo de receber prazer, ela é de fato imperfeita devido a sua total
oposição em relação ao Criador (enquanto Ele é perfeito e doador, a criação
apenas recebe, é imperfeita, e suas propriedades são opostas às Dele). Por um
lado, ela está absolutamente distante e separada Dele e, por outro, ela é algo
novo, criado a partir do nada. A Criação foi criada para receber e se
satisfazer com o prazer do Criador.
Isso
significa que o desejo de receber prazer, ainda que seja oposto ao Criador e
absolutamente imperfeito, é, apesar disso, exatamente o que o Criador precisou
criar.
Entretanto, se as criaturas estivessem
distantes do Criador nas suas propriedades, Ele não teria sido chamado de
Aquele que é Perfeito, uma vez que ações imperfeitas não podem surgir de alguém
Perfeito. Portanto, o Criador restringiu a Sua Luz, criou os Mundos, restrição
após restrição, até o nosso mundo, e vestiu as almas em corpos do nosso mundo.
Por “nosso
mundo” não nos referimos ao mundo físico, mas ao conjunto de desejos egoístas
que correspondem ao estágio mais baixo do desenvolvimento dos mundos.
“Estudar a Torá” significa aprender com o
propósito de corrigir-se, e não ler um livro chamado Torá. “Observar os mandamentos” significa
realizar ações espirituais com uma tela, e não fazer ações mecânicas. Através
do estudo da Torá e do cumprimento dos mandamentos, a alma atinge uma perfeição
que lhe faltava no princípio da criação. Ela significa a equivalência de suas
propriedades com as do Criador. Assim, a Alma merece receber todo o prazer que
estava no Pensamento da Criação, e então ela unifica-se completamente com o
Criador.
Isso significa que, apesar do desejo,
uma recompensa adicional aguarda a Alma, chamada “unificação com o Criador”.
Dessa forma, não se trata apenas de receber toda a Luz, mas sim da unificação
com o Criador, a recepção da Luz que ocorre devido à equivalência de
propriedades.
A
equivalência de propriedades e a unificação com o Criador são muito mais
elevadas do que receber a Luz, uma vez que, devido à semelhança de forma, a
Alma eleva-se ao nível do Criador. Ela não apenas recebe a Luz do Criador, mas
também ascende ao Seu nível. Dessa forma, ela ascende do nível da criação ao
nível do Criador e também compreende aquilo que está acima da sua natureza.
(8)
Apenas
ao entregar-se à Torá e aos Mandamentos não com a intenção de receber qualquer
recompensa, mas de agradar ao Criador, gera-se um poder especial (Segula) que permite que a alma alcance o estado de
unidade absoluta com o Criador. Gradualmente, a alma avança ao adquirir cada
vez mais propriedades semelhantes às do Criador, como está dito no artigo
"Preâmbulo à Sabedoria da Cabalá".
Essa ascensão, a unificação com o Criador,
consiste de cinco níveis: Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yechidá. Os quais são
recebidos de cinco Mundos: AK, Atzilut, Beriá, Yetzirá e Assiyá.
Quando
a alma se eleva ao Mundo de Assiyá,
recebe a Luz de Nefesh. Quando se eleva
ao Mundo de Yetzirá, recebe a Luz de Ruach. No Mundo de Beriá, ela recebe a Luz de Neshamá.
No Mundo de Atzilut, a Luz de Chayá; e, no Mundo de Adam Kadmon, a Luz de Yechidá.
Cada
um desses cinco níveis é dividido, por sua vez, em cinco subníveis, também
chamados de Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yechidá. Ele os recebe dos cinco
Partzufim que formam cada um dos cinco mundos. Cada subnível possui seu próprio
NaRaNHaY, que é recebido das dez Sefirot que formam cada Partzuf.
Pela observação da Torá e dos Mandamentos com
a intenção de agradar o Criador, os seres criados pouco a pouco adquirem
vasos-desejo dos níveis acima mencionados até que se unifiquem completamente com
o Criador.
Assim,
um desejo maior de doar forma-se gradualmente na alma. À medida que isso
ocorre, cada vez mais a alma preenche-se de Luz, até atingir a absoluta
equivalência de forma com o Criador.
Nesse estágio, ocorre a realização do
Pensamento da Criação nas almas: a recepção de todo o prazer que o Criador
preparou a elas. Além disso, já que as almas adquiriram o desejo de doar, elas se
unificam completamente (Dvekut) com o Criador e experimentam um prazer
perfeito, eterno e infinito, muito maior que o da recepção da Luz.
Portanto, a criação obtém:
1.
A recepção do prazer preparado para ela na
forma do NaRaNHaY.
2.
A equivalência de forma com o Criador, isto é,
eleva-se ao nível do Criador e adquire uma perfeição igual à Dele.
Não somos capazes nem de imaginar este
nível. Estamos acostumados a operar com noções como a vida, morte, tempo e
prazer. Entretanto, quando se trata de níveis espirituais, não temos palavras
nem sensações para imaginar ou descrever esses estados.
No processo de aquisição da tela, o
homem passa a modificar suas qualidades, de acordo com a recepção da Luz e sua
gradual ascensão. Cinco grandes níveis (Mundos) são divididos em cinco
subníveis (Partzufim), os quais, por
sua vez, possuem seus próprios cinco níveis (Sefirot), e todos eles se caracterizam por uma semelhança cada vez
maior com o Criador.
Enquanto o homem ainda permanece não
corrigido, cada um desses cinco níveis é, para ele, uma ocultação do Criador.
Quando o homem recebe a correção, esse mesmo nível torna-se uma revelação do
Criador e uma Luz para ele. Em outras palavras: por um lado, cada estágio é uma
ocultação do Criador e, por outro, Sua revelação.
Cada estágio consiste de determinado
nível das propriedades do Criador. Vamos considerar que o Mundo do Infinito
corresponde a cem por cento das propriedades do Criador, além de ser o nível
mais alto. Então, o nosso mundo corresponde a zero por cento das propriedades
do Criador. O Universo Espiritual remanescente encontra-se entre eles e é
dividido em 125 níveis, que correspondem a 125 porções das propriedades do
Criador.
Como foi dito, devemos nos libertar do
egoísmo, pois o egoísmo é um Kli, ou
vaso, inferior. No momento em que ele começa a sentir prazer, a sensação
elimina o desejo e, como resultado, o prazer também é eliminado. Isso significa
que no momento em que o desejo é satisfeito o prazer imediatamente desaparece.
Dessa forma, um Kli egoísta nunca
pode ser satisfeito. Portanto, o egoísmo nos é dado apenas para que o
corrijamos, para que possamos ser capazes de sentir, nele, o prazer perfeito e
eterno.
O homem sente que alcançou determinado
nível apenas quando estiver lá. Então ele sabe em qual nível está e por qual
nível já passou. Ele vê o nível seguinte diante de si, aquele que ainda resta
alcançar. Enquanto estudar de forma séria a Cabalá genuína, a partir de livros
autênticos, ele começa a perceber o nível seguinte de sua ascensão.
No início, ele sente apenas a
ocultação deste nível, isto é, que o Criador oculta dele neste nível. Então, o
homem começa a compreender quais propriedades o Criador possui e como ele pode
adquiri-las. Há muitos estágios nesse processo, mas o primeiro é o mais
difícil. Comparado ao primeiro, a compreensão dos outros é muito mais fácil.
Isso se deve ao fato de que no
primeiro nível nascem os maiores Kelim-desejos;
precisamente aqueles Kelim que
aparecem no primeiro nível e que, depois, aparecem no último. Isso ocorre
devido a assim chamada relação inversa entre Luzes e Vasos. Mesmo agora estamos em uma condição em que não
sabemos realmente quais Kelim estamos
utilizando. Embora já estejamos utilizando Kelim
muito complexos, eles ainda não se manifestaram em nossas sensações. O maior Aviut de Shoresh, Aleph, Beit, Guímel
e Dalet encontra-se no mundo de Assiyá. Entretanto, a maior tela está no
Mundo de AK - que é a tela Dalet, em Atzilut - a tela de Shoresh.
É preciso sempre prestar atenção ao quê
nos referimos: se à tela ou ao desejo no qual essa tela está “vestida”.
Portanto, esse é o estágio mais difícil do nosso trabalho. Penetrar o Mundo
Espiritual é a questão principal de toda a busca Espiritual do homem.
Depois disso, o homem enfrenta outros
problemas e o trabalho se torna totalmente diferente. Ele já sabe exatamente o
que fazer, tem uma ideia das 10 Sefirot
adquiridas e certa compreensão verdadeira sobre o Universo. O Universo é
construído de acordo com um único princípio, portanto, se o homem adquire suas
próprias (ainda que pequenas) 10 Sefirot,
então ele sabe prontamente sobre o quê a Torá fala, mesmo que no nível de suas
10 Sefirot. Por exemplo, se um homem
que nasceu na selva fosse trazido ao mundo civilizado, ele não saberia utilizar
os aparelhos tecnológicos. Já uma pessoa que cresceu em um país desenvolvido
talvez não saiba os processos internos desses aparelhos, mas certamente sabe
como utilizá-los, pois vive em meio a esses objetos. O mesmo princípio se
aplica à pessoa que alcançou o menor nível do Mundo Espiritual: ela já tem uma
noção da Espiritualidade e já possui Kelim
(ainda que os menores). Os processos mais internos são percebidos nos níveis
mais altos.
Quando o homem adquire a tela, ele faz
um Zivug de Haka'a e recebe a Luz
Interna dentro de si, o que lhe dá uma noção da Espiritualidade. Não sentimos
nada fora de nós, sentimos o Mundo em nosso interior, o Mundo Espiritual. A Luz
Interna, que preenche o Kli, nos
confere a medida, que chamamos de “nível” ou Luz: os níveis de Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yechidá.
Para avançar, o homem deve
constantemente absorver e revisar os textos cabalísticos na mente e no coração,
estar preenchido por eles em todos os momentos. Não há outro método além de
estudar Cabalá com os livros adequados, guiado por um professor, e trabalhar em
um grupo. Esforços coletivos são muito importantes. Mesmo um grupo de
iniciantes já constitui uma força espiritual, apesar do fato de seus membros
nem imaginarem para quê estão estudando Cabalá e quais são seus objetivos. Por
meio de seus esforços individuais, futuramente esse grupo será capaz de atrair
uma Luz Espiritual realmente poderosa.
O Rei Davi descreveu todos os Estados
Espirituais pelos quais a Alma ou o homem passam, do mais baixo ao mais alto. O
Rei Davi (David HaMelech, Malchut) é assim chamado pois ele mesmo
passou por todos os Estados Espirituais e os descreveu. Seu livro Tehilim (Salmos) é o nível mais alto na Cabalá, que inclui todos os estados
possíveis da Alma.
Se o homem adquire as qualidades do
Criador, todos os Seus desejos e hábitos, tal estado é chamado de Unificação
com o Criador. Isso significa que o homem torna-se igual a Ele. E o que ele
cria? Ao agradar o Criador, ele cria a si mesmo, gera a tela, ou ainda torna-se
o sócio horizontal do Criador na criação de si mesmo.
O Criador criou o egoísmo, o homem, e
o homem realiza o altruísmo, o Criador, sem egoísmo, fora de si mesmo.
Naturalmente, ele não cria isso a partir do nada (Yesh mi Ayin), assim como o Criador criou o nosso desejo de receber
prazer, o egoísmo, a partir do nada. Entretanto, o objetivo do homem é
transformar o egoísmo no seu oposto. Esse processo é chamado de “correção” (Tikun). Na verdade, é o nascimento de
uma qualidade totalmente nova. Aliás, o Criador cria o egoísmo do homem e o
homem cria o Criador.
O que significa a Criação ser gerada a
partir do nada? Sabemos disso através dos cabalistas. Eles estudam todas as
propriedades do Criador e vêem que Ele é absolutamente bom e completo.
Portanto, Ele fez a Criação a partir do nada. Quando o homem se eleva, tornando
suas propriedades semelhantes às do Criador nos níveis mais altos, chamadas de décimo milênio (no qual os segredos da
Torá são revelados), ele vê a Criação por si mesmo, assim como a forma pela
qual o Criador a criou.
As únicas fontes das quais estudamos
são os livros do Zohar, os livros do
Ari, os livros escritos por Baal HaSulam e Rabash. Nada mais pode ser lido de
forma independente. Pode-se ler os livros da série Cabalá, a Ciência Secreta e nada mais. O Pentateuco pode ser lido
apenas quando o homem consegue compreender que ele tem um significado profundo,
cabalístico, e não que se trata apenas de uma narrativa histórica.
Muito tempo passará até que o homem
comece a ver automaticamente ações espirituais por trás das palavras da Torá. É
melhor ler o Livro dos Salmos, pois ao menos ali descrevem-se
sentimentos humanos. Ainda que a intenção dos Salmos seja referir-se a sentimentos espirituais, de certa forma,
eles são semelhantes aos sentimentos do nosso mundo. Por isso, aquele que o ler
não ficará tão desorientado quanto ao ler a Torá.
É
preciso estudar como se deve observar os mandamentos em nosso mundo. Para isso
existe o Shulchan Aruch. Os
mandamentos devem ser mantidos no nível “simples”. Josef Caro escreveu o Shulchan Aruch especialmente para
aqueles que desejam estudar Cabalá e querem saber como os preceitos devem ser
observados sem que seja necessário estudar os fólios da Guemará, o que não deixaria intervalo algum para o estudo da
Cabalá. Não se deve ler o Zohar em aramaico,
apenas os comentários de Baal HaSulam.
(9)
Agora
será mais fácil para você compreender o que está escrito no Livro
do Zohar, que todos os mundos -
Superiores e Inferiores - e tudo o que neles existe foi criado apenas para o
homem. Todos esses níveis foram criados apenas para completar as almas,
direcioná-las à Perfeição, ao nível de unificação com o Criador, o qual não
está presente no momento do Pensamento da Criação.
No
início da Criação, Cinco Mundos foram formados desde o nível do Criador até o nosso
mundo com o propósito de inserir a alma no corpo material do nosso mundo. O
corpo material é o desejo de receber sem dar nada em troca. Essa é a forma
final do desejo de receber prazer para si mesmo. Por isso que as qualidades do
homem em nosso mundo são completamente opostas às do Criador.
Ao estudar Cabalá, o homem pouco a pouco
começa a compreender as propriedades de doação. De acordo com sua compreensão,
ele gradualmente ascende, aprendendo as propriedades dos níveis descendentes,
que possuem a propriedade de doação. Então ele alcança o nível de desejar
apenas a doação, sem receber nada em troca. Como resultado, o homem unifica-se
completamente com o Criador, isto é, alcança o estado para o qual foi criado.
Portanto, todos os mundos foram criados para o bem do homem.
Dessa forma, todos os Mundos são
criados a fim de ajudar o homem a ascender do ponto Zero, oposto ao Criador,
subindo, até finalmente alcançar o último ponto, a unificação com o Criador. E,
dessa forma, cumprir todo o Caminho, começando pela mais completa ocultação do
Criador e passando por 125 níveis, cada um representando uma maior revelação do
Criador.
Já falamos sobre o fato de que o
Criador deliberadamente ocultou-Se por trás de cinco Mundos, que consistem de
cinco Partzufim, sendo que cada Partzuf possui cinco Sefirot, o que totaliza
125 níveis de ocultação. Tudo isso foi feito a fim de que o homem ficasse
totalmente afastado do Criador.
O homem é incapaz de sentir o Criador,
ele acha que é independente, acredita que possui livre arbítrio, a liberdade de
desenvolver e utilizar seu egoísmo como desejar. Tal condição é chamada de “Nosso
mundo”. Na verdade, ele consiste das forças do Criador nos afetando em um
estado de completa ocultação. Tudo o que nos circunda neste mundo é apenas o
último nível das diversas forças que nos influenciam em favor do Criador. O que
quer que o homem sinta, dentro e fora de si mesmo, tudo o que chamamos “Nosso
mundo”, é o último nível que existe no Universo.
Assim que o homem, com o auxílio do seu
trabalho interno, for capaz de eliminar o nível de ocultação do Criador mais
próximo de si, de abrir essa cortina, ele passa imediatamente a sentir o
Criador nessa ínfima 125º parte.
Isso não significa que os 125 níveis
ocultam, proporcionalmente, o Criador de nós. Quanto mais baixo o nível, mais
ele oculta o Criador. Assim que o homem afasta as cortinas mais baixas que o
separam do nível seguinte, a Luz do Criador imediatamente começa a brilhar
sobre ele, e ele passa a ver o Criador por trás de tudo o que existe ao seu
redor, neste mundo.
Os níveis mineral, vegetal, animal e
humano da natureza, tudo o que se encontra ao redor e dentro do homem - todos
os seus anseios animais e desejos de poder, honra, fama, aspiração por
conhecimento - tudo é, agora, a manifestação do Criador.
Ele sente como o Criador o afeta, seu self, com a ajuda das suas propriedades
internas e externas. O primeiro nível de revelação, embora o mais difícil, é o
mais importante, pois ao superá-lo, o homem imediatamente estabelece contato
com o Criador, ainda que mínimo, e nunca mais o perde. Não há retorno. Assim, o
início correto é fundamental.
Às vezes, o homem parece ter perdido
tudo o que conquistou, parece ter caído do seu nível. Contudo, essa sensação é
enviada deliberadamente de forma a permitir que ele se eleve ainda mais. Os
níveis espirituais estão estruturados de tal forma que a ocultação do Criador
em cada um deles depende da correção do homem. A ocultação lhe é enviada em um
nível que lhe seja possível superá-la.
Vamos supor que o homem corrigiu dez
por cento da sua intenção de receber. Isso significa que ele recebe prazer
nesses dez por cento não para si mesmo, mas pelo Criador. Portanto, a medida de
ocultação e revelação do Criador está no mesmo nível, sua frente e suas costas.
Em outras palavras, não há nada fora do homem, todos os níveis são construídos
para ele e estão dentro dele.
Todos os Mundos Espirituais estão
dentro da alma do homem, construindo uma escada entre ele e o Criador. Ou seja,
eles são os 125 níveis das nossas propriedades. Ao nosso redor existe apenas
uma única coisa: a qualidade completamente altruísta de doar e nos satisfazer.
Chamamos a essa qualidade de Criador. Entretanto, nossa qualidade interna é
absolutamente egoísta.
A correção gradual das propriedades
interiores do homem é o objetivo da sua existência no mundo. Todos devem
corrigir-se. A sensação do Criador que o homem alcança durante sua correção é
chamada de “Elevação espiritual” de um nível a outro, ou de um Mundo ao
próximo. Tudo isso ocorre apenas internamente.
Já dissemos que o mundo que nos rodeia
é apenas a reação de nossas propriedades à influência do Criador, isto é, todos
os Mundos, Partzufim, Sefirot, tudo sobre o qual sempre
falamos, encontra-se dentro da pessoa, não há nada fora dela. Pode-se dizer
que, fora, existem apenas as quatro propriedades da Luz Direta.
A Luz descendente cria o homem, assim
como todas as suas propriedades. Todos os Mundos Espirituais em nós são apenas
as medidas da percepção do Criador. Todos os Anjos, Demônios, Forças Escuras e
da Luz são nada mais nada menos que as forças internas do homem nele criadas
especialmente pelo Criador a fim de ajudá-lo a corrigir-se constantemente e
superar seu egoísmo natural.
No início, elas eram sistematicamente
restritas, mundo a mundo, e descendiam ao nível desse mundo material com o
propósito de inserir a alma no corpo, vestir o self humano em propriedades absolutamente egoístas, infinitamente
opostas ao Criador, o mais distante das Suas propriedades.
Elas são chamadas de “As qualidades
desse mundo”. Isso não se refere às propriedades materiais que nos cercam, os
líquidos, os gases, os sólidos. Por “Mundo material” nos referimos a qualidades
absolutamente egoístas, da menos desenvolvida à mais desenvolvida, indiferente
se se tratar de um bebê ou do maior egoísta adulto do mundo. Quando os
cabalistas dizem “Corpos desse mundo”, eles se referem ao desejo de receber. Há
o corpo do nosso mundo, um desejo de receber egoísta, e o corpo espiritual, o
mesmo desejo de receber, mas que já possui a tela, que significa um desejo
egoísta transformado em um desejo altruísta.
Conforme foi dito, a fim de
transformar o desejo do homem de apenas receber, o Criador inseriu a alma em um
corpo desse mundo. Esse é o chamado “Estado animal”, como diz o provérbio: “O
homem nasce como um asno selvagem”. Assim, quando o homem desce a esse mundo,
ele recebe desejos egoístas chamados “Corpo” e suas propriedades tornam-se
totalmente opostas ao Criador, infinitamente distantes Dele.
O Criador dá ao homem apenas uma
pequena qualidade altruísta chamada “Alma”. Se o homem passa a se inclinar para
a Torá e para os mandamentos com a intenção correta, ele gradualmente adquire o
desejo do Criador de “doar”.
O nível mais alto é o desejo de apenas
doar, sem receber nada para si mesmo. Ao alcançar esse estado, o homem completa
seu caminho ao Criador e unifica-se com Ele. A distância ou proximidade dos
objetos espirituais ocorre devido à diferença ou equivalência de qualidades.
Portanto, ao alcançar o estado do desejo de doar absoluto, isto é, o 125º
nível, o homem é recompensado com a completa revelação do Criador.
Assim, todos os mundos e tudo o que os
preenche são criados apenas pelo bem do homem e pela sua correção. Ao observar
a Torá e os mandamentos, com a intenção de doar prazer ao Criador sem receber
nada em troca, significa a aderência às leis espirituais que o homem aprende à
medida que sobe esses degraus.
Quando o homem estiver em um
determinado estado espiritual, cada vez haverá uma escolha à sua frente sobre o
que fazer, o que pensar, o que sentir, de forma a escolher seus pensamentos,
intenções, decisões interiores. Embora o Criador ainda não tenha Se revelado,
devemos tentar avaliar todos os nossos pensamentos, decisões e opções com
relação à intenção de adquirir Seu desejo de doar.
O modo como analisamos e escolhemos
cada opinião e decisão é chamada de “Um mandamento” (Mitzvah). Quando o homem cumpre essa lei da maneira correta, ele
estimula a vela, permitindo que um pouco mais de Luz entre no seu desejo
espiritual.
Nos níveis mais altos, quando ocorre a
entrada do homem nos Mundos Espirituais, ele corrige seu desejo absolutamente
egoísta e, através de um Zivug de Haka'a
(Cópula de Impacto), recebe uma porção da Luz. A Luz que ele recebe é chamada
de “Torá”, “Criador” ou “Luz da Alma”.
Existe também a assim chamada Essência
do Criador (Atzmuto HaBoré). Não
sentimos a Essência do Criador, apenas a Sua influência. Somos como uma caixa
preta: o que quer que penetre nossos cinco sentidos (visão, audição, tato,
olfato, paladar) ou o que, com a ajuda desses mecanismos, só expande o alcance
das nossas sensações gera uma imagem desse mundo dentro de nós, semelhante a
que existe fora de nós.
Entretanto, esse mundo é apenas um produto
das nossas sensações interiores, algo que nos pressiona de fora. É como
construir um corpo de argila e lhe dar uma certa sensibilidade. Se o
pressionar, ele produzirá uma reação interior. Ele sentirá essa pressão nas
suas sensações; de certa forma, ela se reflete nele. O corpo qualifica essa
influência externa (ou, antes, a sua reação a ela) de determinada forma. Agora,
se for perfurado, o corpo chamará esse estímulo externo (ou sua reação a ele)
de outra forma. Ele não faz ideia do que lhe afeta de fora, apenas sente suas
reações ao que quer que o pressione.
Todas as reações da criação às
inúmeras influências externas criam dentro de si a sensação do “Mundo
circundante”. Se uma pessoa, desde o nascimento, não possui qualquer um dos
seus sentidos, digamos, o sentido da visão, ela constrói uma imagem do mundo
circundante a partir dos quatro sentidos restantes. A imagem final será
diferente da nossa.
Se, de alguma forma, conseguirmos
aumentar o alcance dos nossos sentidos (não podemos adicionar outros sentidos),
então nossa imagem do mundo se modificará instantaneamente. De qualquer modo,
percebemos apenas o que “entra” em nós (que é como chamamos nossas reações às
influências externas), e não o que está fora de nós.
Um estímulo adicional, chamado de Luz
do Criador, nos penetrará. Ele Mesmo entrará em nós, e não nos pressionará
apenas de fora, como ocorre ao boneco de argila. Ele entrará e começará a nos
preencher de acordo com a medida da equivalência das nossas propriedades em
relação as Dele. Toda a nossa essência é “um pedaço de argila egoísta”. Se esse
“pedaço” conseguir adquirir as qualidades do Criador, isto é, aprender a doar,
então não haverá mais diferença entre ele e o Criador. Os limites externos
entre eles desaparecerão e eles se fundirão em um único pedaço. O Criador
preencherá essa “argila” de dentro para fora, e ela estará em completa
harmonia, totalmente unificada com o que quer que exista fora dela.
Esse estado é o mais perfeito,
confortável, eterno e absolutamente bom. O “pedaço de argila” deve alcançar
esse nível. O homem deve alcançá-lo, começando com o nível mais baixo chamado “Nosso
mundo”. A alma vestida no corpo força-o a trabalhar antes de ele poder
ascender.
A alma, no seu estágio zero, é uma
propriedade egoísta, mas no seu estado final, deve ser transformada em uma
propriedade altruísta. Caso o homem esteja relutante em fazer isso por seu Livre
Arbítrio, será ajudado de Cima e, então, incitado por duros sofrimentos “ele”
será compelido a aceitar. Cada um desses “Pedaços de egoísmo” (almas) deve
passar por todos os 125 níveis. Esses “pedaços” estão divididos apenas porque
cada um deles sente seu próprio e ínfimo desejo.
Durante o processo de equalização das
suas propriedades com as do Criador, eles começam a sentir a semelhança e a
continuidade inseparável de suas massas, a unidade absoluta de todos esses
fragmentos egoístas. Então compreendem que representam um todo único. Quanto
mais o homem estiver corrigido, mais ele vê a si mesmo como uma parte
absolutamente inseparável do todo, isto é, que ele depende de todos e todos
dependem dele.
Se a criação é um único organismo,
então não importa qual parte desse organismo recebe e qual doa. É mais fácil
ser corrigido como uma pequena parte, pois então quando todas as partes tiverem
sido corrigidas, elas fundem-se nas suas sensações em um único todo - isso é o
que chamamos de “fusão das almas”.
Haverá muitas interferências, todas
enviadas especialmente para nós. Por fim, apenas a persistência vence. O homem
não deve possuir nenhuma inclinação especial, intelecto, qualidade particular,
ou propriedades. Deve apenas ser persistente, ou, antes, demonstrar habilidade
e coragem de suportar; apenas isso o levará à vitória. Cada um de nós
encontra-se no caminho que o Criador fez para si, e nada pode ser feito a
respeito disso. Todas as nossas mudanças interiores nos pensamentos, desejos e
ambições - tudo isso é programado em nós de Cima, e todos eles devem ser
corrigidos. É aquele mesmo material, aquele “pedaço de argila” com o qual
devemos trabalhar.
Uma propriedade egoísta corrigida, na
qual a Luz do Criador penetra, é chamada de Kli
(vaso). Pode-se dizer qualquer coisa a uma pessoa que a pouco começou seu
estudo de Cabalá, pois tudo entra nela, nada é esquecido e, por isso, nada
desaparece. Quando for necessário ela lembrará, mas só o fará depois de
corrigir-se. Quando ela já tiver os vasos interiores mínimos, e essa informação
for necessária para o seu trabalho, ela irá emergir, “brotará” do seu
subconsciente.
O próprio homem terá que buscar essa
informação e trabalhar com ela. Nesse estágio, ele não deve receber respostas
prontas aos seus questionamentos, mas deve buscar e encontrar as respostas.
Ao chegar aos níveis mais altos do
desenvolvimento espiritual, o homem sofre não porque as almas mais baixas
sentem-se mal, ele sofre por sua incapacidade de realizar o desejo do Criador
em relação a essas almas, trazê-las ao seu estado atual. Isto é, ele sofre pelo
fato de que nem todas as almas sentem a unificação com o Criador da forma como
ele sente. Além disso, ele tenta acelerar esse processo naturalmente através da
disseminação da Cabalá, ao difundir o conhecimento sobre a necessidade de
correção, enquanto que outros interferem na sua missão.
O homem necessita do mundo inteiro
para completar o seu trabalho espiritual, pois ele não consiste apenas de
autocorreção, mas também de que em cada nível há certo trabalho mútuo a ser
feito com as outras almas.
Um cabalista deve sentir o mundo
inteiro, sentir todo o seu sofrimento, incorporá-lo ao seu nível e corrigi-lo.
Além disso, a cada nível ocorre a inclusão de todas as almas na sua e a dele em
todas as outras.
(10)
Agora
que você já compreende tudo isso, você pode estudar Cabalá sem medo de
materializar o Espiritual. Os iniciantes na Cabalá confundem-se porque é dito
que todas as 10 Sefirot e Partzufim, desde o Mundo de Atzilut até as 10 Sefirot
do Mundo de Assiyá, são absolutamente divinas e Espirituais, ou seja, na
verdade, eles são o Criador Ele Mesmo.
Por
outro lado, é dito que todos esses Mundos foram criados devido ao Tzimtzum
(restrição). Então como alguém pode dizer que as Sefirot divinas, que são o
Criador, apareceram depois do Tzimtzum? Além disso, como devemos compreender
tais noções como quantidade, acima, abaixo, ascensão, queda, unificação
Espiritual, separação etc? Como tudo isso pode ser dito sobre o Divino e
Perfeito?
Está
dito que "Eu não mudo. Estou em tudo, O Único e Imutável Criador".
Como é possível dizer que existem transformações e restrições Naquele Que É
Perfeito, uma vez que qualquer mudança pressupõe imperfeição?
A questão é simples: O que chamamos de
mundos, refere-se ao Criador ou à criação? Por que os iniciantes se confundem
com isso? Porque, via de regra, eles os materializam. Eles tentam imaginar
esses mundos sob a perspectiva dos objetos físicos. É uma reação natural do
homem limitado pela sua realidade. Ainda assim, como é possível transmitir a
ele a percepção correta? É realmente possível?
Há um risco para as pessoas que
estudam Cabalá sem um verdadeiro guia, uma pessoa que as direciona
constantemente e as impede de desviar do caminho correto e materializar a
espiritualidade. Por esse motivo, a Cabalá foi mantida afastada das massas por
séculos. Se no início o homem desviar um milionésimo de grau do caminho
correto, então, com o tempo, esse desvio do objetivo aumentará gradualmente.
Como consequência, quanto mais ele
avança e, conforme lhe parece, aproxima-se do objetivo, mais ele se desvia. Por
isso os cabalistas estipularam determinadas exigências e restrições para
aqueles que desejam estudar Cabalá. É melhor continuar no nível mecânico da
observação dos mandamentos (no qual a Luz Circundante brilha sobre o homem e o
purifica pouco a pouco) do que estudar Cabalá sozinho.
Infelizmente, conhecemos cabalistas
auto-formados e sabemos a que isso os levou: eles fabricam seus próprios
conceitos sobre o mundo espiritual e os preenchem com toda espécie de corpos,
forças e interações, anjos com asas, demônios, bruxas, inferno, paraíso etc.
Eles fazem isso sem compreender que o mundo espiritual encontra-se apenas no
interior da alma do homem, enquanto que, fora disso, apenas o Criador está.
Os cabalistas estavam profundamente
preocupados a respeito disso. O mandamento principal é não criar ídolos a
partir do seu próprio egoísmo. Querendo ou não, você já o idolatra de qualquer
forma: Ele é um ídolo criado dentro de você. Desde o seu nascimento, você
idolatra apenas seus próprios desejos, pensando apenas em como satisfazê-los.
Não fazer ídolos significa não colocar
seu próprio ídolo no lugar do Criador. Se você deseja verdadeiramente a
espiritualidade, se deseja ter qualquer contato com ela, não crie uma imagem
falsa dela na sua imaginação, pois isso o levará a desgarrar-se. Está dito que “sentar
e não fazer nada é melhor do que cometer um erro”.
Então surge uma pergunta: Alguém que
estuda Cabalá pode interferir nos assuntos de outras pessoas? Essa pessoa pode
explicar qualquer coisa para elas? Ela pode e deve, mas muito cuidadosamente.
Pode-se dar um livro para ler ou pode falar um pouco sobre Cabalá, mas sem
discutir o tópico.
Isso pode lhe prejudicar. Você pode
perder tudo o que conquistou com seus próprios esforços e estudos. A Cabalá
deve ser popularizada sem impedimentos, nunca tente convencer alguém. Isso não
ajudará nem um pouco. O egoísmo de um homem é mais forte que qualquer
influência do exterior. Você nunca será capaz de fazer alguém mudar de ideia.
Você pode direcioná-lo apenas se ele quiser. O homem apenas percebe algo quando
sente que pode preencher esse desejo.
(11)
A
partir do que foi mencionado acima, podemos concluir que todos os Mundos, os Partzufim
e os processos que neles ocorrem (subidas, descidas, restrições etc) nada mais
são que os vasos de recepção interiores do homem, as propriedades da sua alma.
Ou
seja, tudo aquilo sobre o qual a pessoa lê na Cabalá revela-se dentro da alma
do homem e possui dois aspectos: o que ocorre no pensamento e o que ocorre na
ação. É como uma situação na qual um homem constrói uma casa: o fim da ação já
está integrado no seu planejamento original.
A
imagem de uma casa, a própria noção de casa no pensamento do homem, é diferente da casa real, pois a estrutura
existente apenas como projeto é feita do material das ideias. Conforme o
processo de construção acontece, o projeto adquire outras qualidades,
propriedades diferentes que, pouco a pouco, materializam-se e se tornam uma
estrutura feita de madeira, pedra etc…
O
pensamento se materializa cada vez mais até chegar na sua forma final, expresso
na ideia materializada, a casa. Além disso, em relação às almas, a pessoa deve
distinguir entre as suas duas partes: o projeto e a ação. O estado das almas no
Mundo do Infinito, isto é, quando estavam unidas com o Criador antes de todas
as restrições, unificadas com o Pensamento da Criação, é chamado de as
almas no Pensamento da Criação.
No Pensamento
da Criação, essas almas estão no Criador
sem qualquer distinção entre eles. Esse estado é chamado de Ein Sof, o Mundo do Infinito. Um estado semelhante
ocorre nos Mundos de Adam Kadmon e Atzilut. O estado no qual as almas recebem e são
separadas do Criador é chamado as almas no Ato da Criação. Essa separação ocorre no nível do Mundo
de Beriá.
O Mundo de Beriá (a palavra Beriá
deriva da mesma raiz da palavra bar,
que significa sem, exceto por) é o primeiro mundo abaixo do
Mundo de Atzilut, abaixo da Parsá. A partir do Mundo de Beriá, há uma transição das almas para o
estado de ação.
O mundo de Beriá é o primeiro Mundo onde as almas, da forma como estavam, caem
do projeto do Criador e tornam-se mais materializadas, existindo de forma “independente”.
Todos os pensamentos e desejos em
nosso mundo e nos Mundos Espirituais vêm para nós de Cima. O que a pessoa faz
com esses pensamentos e desejos no nosso mundo e nos mundos espirituais é o
objeto dos nossos estudos.
Nada que está dentro ou fora de nós é
criado por nós. Reagimos a cada provocação externa de acordo com a nossa
natureza animal. Toda reação desse tipo pode ser previamente calculada e nossas
ações podem ser previstas em qualquer situação que se apresente. Portanto, onde
há, nesta situação, o menor sinal de liberdade de escolha ou Livre Arbítrio? A
liberdade de escolha reside apenas no esforço para compreender como o Criador
agiria em nosso lugar e então reagir de forma semelhante.
De uma forma ou de outra, o mundo
inteiro obedece à vontade do Criador. Nem mesmo um átomo pode mover-se
contrário a isso. A diferença está no fato de que um cabalista tenta
conscientemente correlacionar suas ações às do Criador. Com todos os seus
desejos, ele quer seguir o curso que o Criador estabeleceu para todo o Universo.
Dessa forma, ele alcança o estado mais confortável, de “relaxamento” absoluto
(liberdade e paz eterna).
O tempo para, tudo desaparece, exceto
a sensação do Infinito, pois não há perturbações ou contradições entre você,
todo o Universo e o Criador. É dito que cada alma está incluída na Malchut do Mundo do Infinito, chamada de
ponto central, pois esse ponto é o
Pensamento e todos os vasos derivam dele, todas as propriedades da alma em
ação. Essa ação começa no Mundo de Beriá
e continua nos mundos de Yetzirá e Assiyá.
Tudo o que se encontra nos Mundos do
Infinito, Adam Kadmon e Atzilut ainda pertencem ao Pensamento do
Criador. Sabemos disso pela emanação das quatro fases da Luz Direta. A Luz que
emana do Criador é chamada de Behina
Shoresh. Então a Luz completa a criação do Kli, mas ele não possui sensações independentes. Essa fase é
chamada de Behina Aleph.
Na
fase Shoresh, a Luz emana do Criador;
na fase Aleph, o Kli emana do Criador. Ambas as fases ainda estão sob o completo
poder do Criador, totalmente no interior do Seu Pensamento, elas ainda não
estão separadas Dele. O Mundo de Adam
Kadmon corresponde à fase Shoresh;
o Mundo de Atzilut corresponde à fase
Aleph (Galgalta é Shoresh le Ohrot,
AB é Shoresh le Kelim).
O
Tzimtzum Aleph (a Primeira Restrição) foi realizado nesse ponto central, isto
é, na sua propriedade, na medida em que é um Pensamento no que se refere às
almas futuras. Em relação ao Criador, não há restrições nesse momento, apenas
no que diz respeito às almas que emanam desse ponto central.
É preciso ter em mente que todos esses vasos,
Sefirot e Mundos até o Mundo de Beriá, o qual se origina desse ponto central
como consequência do Zivug de Haká, são chamados Ohr
Hozer (Luz Refletida). Todos eles são
considerados Pensamento da Criação,
sem se distinguirem como almas independentes. Entretanto, essas transformações
já estão incluídas no projeto e, depois, concretizadas em ação durante o
processo da descida das almas do Mundo de Beriá. Antes do Mundo de Beriá, elas
ainda se encontram conectadas às propriedades do Criador de forma inseparável.
As introduções aos livros cabalísticos
são muito complicadas; seu objetivo é fazer com que o homem que estuda Cabalá
corretamente canalize seus esforços interiores na direção correta. Se o homem
desvia desse caminho, ele é incapaz de compreender um livro cabalístico.
A tarefa do homem é perceber o que
ocorre a si mesmo e como o Criador trabalha com ele de Cima, para que ele
concorde integralmente com as ações do Criador. A pessoa justa é aquela que
justifica as ações do Criador. Quando o homem doa de forma completa e sente
prazer, ele permite que a Luz Superior desça através dele, a qual, então,
retorna à sua Fonte. Esta é a Luz Refletida (Ohr Hozer) que vem de Cima como Luz Direta (Ohr Yashar) e então é refletida, preenchendo o vaso na sua
totalidade. A Ohr Yashar veste-se na Ohr Hozer e, assim, o homem torna-se um
todo único com o Criador.
O homem aproxima-se do Universo
essencialmente de duas maneiras: a primeira chama-se Da’at Ba’alabaitim, que significa a opinião de um pequeno proprietário, isto é, a opinião das massas
egoístas. A segunda chama-se Da'at Torah.
A palavra Torah deriva da palavra Luz, Ohr,
Ohra'a, o caminho do Criador. Essas duas aproximações são absolutamente
opostas entre si.
O problema é que enquanto ainda
estivermos presos às amarras do nosso mundo e não tivermos adquirido as
propriedades espirituais, não somos capazes de compreender que essas duas
aproximações em relação ao Universo são opostas. Isso ocorre porque à medida
que o homem adquire as propriedades espirituais, o tempo e o espaço se fundem
em um único ponto e todo o movimento para.
Nesse momento, ele passa a ver todas
as coisas como se fossem absolutamente estáticas, nada ocorre ao seu redor, mas
sim, dentro dele. De acordo com seu estado espiritual interior, suas qualidades
espirituais e propriedades, o homem começa a ver um mundo totalmente diferente
ao seu redor.
Toda vez que essas qualidades são
transformadas dentro de si, o homem vê uma imagem totalmente diferente. Então
ele descobre que todo o cenário à sua volta é, na verdade, absolutamente
estático e se modifica apenas dentro de si mesmo, de acordo com as
transformações de suas propriedades, os órgãos que recebem informações externas (externas, ilusórias, por que, na
verdade, apenas o homem está mudando).
De fato, há uma Luz Espiritual amorfa e homogênea ao nosso redor, que é chamada de O Criador. Semelhante aos nossos cinco
sentidos, temos cinco sentidos espirituais: olhos espirituais (visão), ouvidos
(audição), nariz (olfato), boca (paladar) e mãos (tato). A depender de suas
qualidades, sensibilidade e capacidade de suportar, o homem receberá
constantemente impressões diferentes dessa Luz
Espiritual homogênea. A impressão mais primitiva é a que recebemos hoje.
A Luz
Espiritual homogênea é percebida pelos nossos sentidos, ela forma um quadro
cumulativo do Universo em nossa consciência, que chamamos Nosso mundo ou Esse mundo.
Se nossos sentidos mudarem um pouco, isto é, tornarem-se menos opostos à essa
Luz, eles aproximam-se dela em suas propriedades e recebem propriedades
altruístas, e, então, passam a percebê-la mais corretamente, da forma como ela
realmente é.
Essas sensações complexas que a pessoa
recebe através dos seus próprios sentidos lhe mostrarão uma imagem, que é
chamada de Mundo de Assiyá. O Mundo
de Assiyá é nada mais que a medida da
sensação da sua correção ou da sua diferença em relação à Luz. Por isso está
dito que todos os Mundos encontram-se dentro do homem.
Se refinarmos ainda mais nossos
sentidos, ao transformar nosso egoísmo em altruísmo espiritual, receberemos uma
imagem ainda mais correta da Luz, chamada Mundo de Yetzirá, e assim por diante. No nível mais alto, quando estivermos
completamente corrigidos, perceberemos uma imagem da Luz Superior sem
distorções, isto é, a Luz homogênea nos preencherá, se infiltrará pelos nossos
cinco sentidos, e então sentiremos o Criador Ele Mesmo em todas as Suas
Propriedades Verdadeiras, Pensamentos e Desejos em relação a nós.
O homem deve alcançar este estado de
unificação total com o Criador enquanto ainda estiver em nosso mundo. Suas
atitudes em relação a tudo o que está ao seu redor, assim como suas reações,
são determinadas pelo nível em que ele se encontra, ou seja, tudo é determinado
pelas suas propriedades parcialmente corrigidas e não corrigidas neste dado
momento.
Você não é capaz de mudar sua atitude
sobre o que está acontecendo, nem reagir de forma diferente em relação a isso,
até que você mude a si mesmo. Então suas propriedades internas, novas e
aprimoradas, lhe trarão naturalmente uma atitude diferente e melhor.
Quando o homem começa a estudar Cabalá
lhe parece que será capaz de progredir com a ajuda da sua mente racional,
analisando, pesquisando e tirando conclusões. Um escreve um resumo, outro grava
as aulas. Isso é natural, pois a mente é nossa ferramenta de percepção e
análise do mundo. Entretanto, isso se aplica apenas dentro dos limites do nosso
mundo.
Na verdade, a compreensão espiritual
ocorre de maneira diferente. Quando o homem se esforça, ainda que suas
intenções ainda sejam absolutamente egoístas, ele atrai para si uma Emanação
maior da Luz Circundante (Ohr Makif).
Essa Emanação Circundante já é direcionada a determinada pessoa, e não às
massas.
Uma pessoa que estuda de acordo com o
método cabalístico, atrai sobre si uma Emanação pessoal da Luz Circundante.
Essa Luz passa a empurrar o homem em direção à espiritualidade; ela o impulsiona para Cima. Esse é um método
totalmente distinto: sem a participação da mente da pessoa. Na verdade, ele
separa o homem da sua mente mundana: pouco a pouco lhe são enviadas situações
que ele deve enfrentar. A Luz o leva a agir, ela joga-o de um lado para o outro, de uma situação a outra, a fim de
despertar novas sensações nele, prepará-lo para sentir a espiritualidade.
A emanação da Luz Circundante
intensifica-se e começamos a nos sentir pior que antes. Por quê? Sentimos que
existe algo fora de nós, melhor e mais forte, que não pode entrar. Dessa forma,
experimentamos períodos de depressão. Na verdade, isso significa que a
verdadeira razão para a nossa depressão é que recebemos de Cima uma Emanação
mais poderosa.
De forma alguma o homem pode prever,
dentro da sua própria mente, o nível seguinte do seu desenvolvimento
Espiritual. A perspectiva de, de algum modo, controlar conscientemente seus
estados espirituais (na verdade, esses estados ainda não são espirituais)
desaparece. De fato, isto ocorre a fim de fazer com que o homem se separe dessa
mente mundana, permitindo-lhe que adquira um tipo diferente de mentalidade: A
fé acima da razão. Isso é chamado de “iniciar um Ibur" (passar a um estado embrionário) dentro de um Partzuf
Espiritual mais elevado.
Isso só pode acontecer quando o homem
desligar totalmente suas propriedades intelectuais e analíticas, pertencentes a
este mundo. Ele se rende de forma absoluta à Força Superior e deseja estar
incluído Nela plenamente. As massas evitam essa abordagem. Na Cabalá, quando o
homem avança pela fé acima da razão, ele primeiro controla o que ocorre com ele
e então, de forma consciente, desliga a sua mente.
As
massas vivem na fé abaixo da razão. O Zohar
os chama de Domem de Kedushá. Domem significa imóvel, sem vida; e Kedushá significa sagrado, ou seja, "o nível do Mineral Sagrado".
O que
isso significa?
Significa
que há cinco níveis no Universo:
* Mineral
* Vegetal
*Animal
* Humano
* E ainda mais um, o nível mais elevado: o
Divino.
Esses são os cinco níveis da Natureza.
No Mundo Espiritual, de acordo com esta distinção, há também cinco níveis de
desenvolvimento das propriedades interiores do homem.
Qual o sentido do nível espiritualmente mineral? Significa que a
pessoa está nesse mesmo estado estático, imóvel,
semelhante à vida mineral na Natureza,
talvez até mesmo uma pedra. Isso ocorre porque fomos criados assim, e nos
disseram como tudo tinha que ser feito.
A pessoa faz tudo em um nível mineral, sem qualquer atitude própria ou
intenção espiritual pessoal, ela apenas cumpre certas ações espirituais
correspondentes às leis espirituais, mas as realiza mecanicamente, sem envolver seu Self
pessoal.
No Mundo Espiritual ocorre a interação
entre a alma humana e o Criador. A interação geral entre o homem e o Criador é
dividida em 620 ações distintas, chamadas de Mandamentos, 620 leis, ações
Espirituais que o homem realiza enquanto atravessa todos os níveis, partindo do
nosso mundo até o nível da adesão completa com o Criador.
Há 620 níveis que nos separam do
Criador, cada um deles é transposto pela realização de determinadas ações
Espirituais, chamadas Mandamentos (uma lei ou condição). A ação espiritual é
realizada apenas pela intenção do homem, ou, antes, pela transformação da sua
intenção de “para mim mesmo” em “para o Criador”. A medida da intenção
altruísta com a qual o homem realiza a ação é determinada pelo nível espiritual
que ele alcançou.
Se realizamos todas as 620 ações
Espirituais apenas de maneira mecânica, sem corrigir a intenção, como fazem as
massas, atraímos uma Luz Circundante que mantém essas massas no modo preservar, de uma certa forma, a natureza mineral. Essa Luz as inspira a
continuar fazendo o que elas foram ensinadas a fazer, mas não as leva adiante,
não as transforma de uma natureza espiritualmente
mineral em uma natureza vegetal.
A fim de sair da natureza espiritualmente mineral para chegar à
natureza espiritualmente vegetal, o
homem deve ter o método específico que estudamos aqui. No momento em que o
homem atravessa esse limiar e torna-se espiritualmente
vegetal, ele já entrou no Mundo Espiritual. Então, mais tarde, assim que
ele desenvolve sua natureza vegetal, ou seja, que realiza certas ações
espirituais, ele constantemente corrige suas intenções e, dessa forma, executa
digamos 100 preceitos, que referem-se à camada espiritual vegetal. Depois, ele
realiza de 100 a 150 preceitos, que referem-se à camada espiritual animal.
Depois, realiza de 200-300 preceitos, que referem-se à camada espiritual
humana. Os preceitos restantes pertencem à camada Divina, Keter. Trago essa ideia como uma ilustração, não como um exemplo
específico.
Todos os níveis espirituais, de 0 a
620, baseiam-se no princípio de que o homem transforma a si mesmo internamente
desenvolvendo-se de forma constante, tornando-se cada vez mais semelhante ao
Criador, até que não exista mais qualquer diferença em relação a Ele.
Entretanto, no nosso nível atual mais
baixo, só podemos observar os mandamentos de forma mecânica. Uma ação mecânica
nunca nos permitirá passar do nível espiritualmente
mineral ao vegetal. Apenas
através da Cabalá a pessoa pode romper com isso. Esse método atrai sobre nós
uma Luz Circundante especial e nos empurra para fora deste mundo, transformando
uma pedra em uma planta.
O homem nasce como qualquer outro
animal deste mundo, e não há nada espiritual nele. A única coisa que se pode
dizer sobre ele, com todas as complexidades
advindas de todo tipo de ensinamentos orientais, é que tudo isso pertence ao
nível mental (vamos dizer assim)
interior de um animal chamado homem do
nosso mundo. Essas diversas sabedorias
tratam apenas de forças que acompanham nossos corpos físicos. Aura, Chacras
etc, tudo isso existe, mas são coisas biológicas, estruturas bioenergéticas do
corpo humano. Os animais também as possuem e, via de regra, eles são até mais
sensíveis aos campos bio e psico energéticos do que o homem. Qualquer um pode
desenvolver essas habilidades.
Tudo isso se refere ao corpo físico,
mas a ciência não seguiu essas pesquisas. Hoje em dia, ela tem se desenvolvido
mais e muitas coisas ainda não estão claras, mas, à princípio, tudo isso pode
ser submetido a testes e pesquisas com embasamento absolutamente científico,
sem resultar em correções no próprio homem. É claro, o homem influencia
moralmente esses campos, mas ainda permanece um egoísta, ou, no máximo, um
egoísta altruísta (que doa para seu próprio benefício).
Dessa forma, o homem nasce com todas
essas disposições mentais, que ele pode desenvolver. Há apenas mais uma
peculiaridade: além de seus desejos egoístas, o homem pode receber apenas um
desejo a mais, que não existe em nosso mundo. Este é o desejo de doar, que é um
desejo espiritual. Ele é chamado de Nekuda
she baLev (Ponto no coração).
Posteriormente, examinaremos como ele
é inserido no coração do homem. Na verdade, ele é inserido no Self egoísta do homem, ou seja, todo o
nosso organismo é construído sobre o nosso Self
egoísta. Subitamente, um ponto, um embrião do Self altruísta espiritual, penetra no egoísmo. No início, ele não
tem nada a ver com o homem, pois o homem é uma criatura totalmente egoísta.
Biologicamente, o homem é muito
semelhante aos animais. Ele se diferencia deles apenas por esse Ponto negro. Por que ele é chamado de
"negro"? Ele não é espiritual? A razão é que ele ainda não foi
preenchido pela Luz. Com a ajuda da Cabalá, quando a Luz Circundante individual
começar a brilhar, ela iluminará esse Ponto
negro e, com isso, ele começará a sentir a tensão, a disparidade entre ele
e a Luz.
Ao continuar seus estudos, o homem
começa a desenvolver esse ponto gradualmente. Ele se expande até que dez Sefirot se formem dentro dele. Assim que
as dez primeiras Seifirot já
existirem no interior do Ponto negro,
elas são incluídas na estrutura do Partzuf
Espiritual Superior, então, isso é chamado de Ibur (concepção). Esse ponto é um embrião da alma. As primeiras 10 Sefirot adquiridas pelo homem são
chamadas de alma, o vaso da alma. A Luz que as preenche é chamada de a Luz da Alma.
O homem deve desenvolver esse ponto
até o estágio em que consegue transformar todas as suas propriedades egoístas
em altruístas. O Ponto negro começa a
dilatar à medida que o homem lhe
acrescenta mais egoísmo e o transforma em altruísmo. Esse ponto é a Sefirá de Keter. Fora dele, com a ajuda do egoísmo adicional, 10 Sefirot começam a se desenvolver. Quanto
mais egoísmo o homem adiciona a ele, maior o Kli espiritual que recebe, chamado de alma, se torna.
Entretanto, se isso não ocorre, então
da mesma forma que o homem nasceu, sendo um animal, assim morrerá. Por outro
lado, se ele desenvolveu seu Kli
espiritual ao menos um pouco, mesmo sem ter alcançado o Mundo Espiritual, e se
este foi influenciado pela Luz Espiritual, isso permanece nele para sempre.
Devido ao fato de que essa qualidade recém formada não se referir ao corpo, ela
não morre com ele, pois pertence ao Ponto
negro, que é espiritual, ou seja, eterno. Portanto, esse trabalho, esse
esforço, não é perdido.
Como a pessoa pode desenvolver ao
menos 10 das Sefirot menores a partir
deste ponto? Vamos supor que separamos 10 gramas do nosso egoísmo e o cobrimos
com uma tela. O egoísmo somado à tela e estes combinados com esse ponto
resultam no menor Kli espiritual. Não
há a necessidade de uma tela no que diz respeito ao Ponto negro, pois o homem o recebe de cima.
Agora vamos voltar à questão do Livre Arbítrio.
No livro de Baal HaSulam, Pri Hacham
Igrot, está escrito: "Como já disse, citando Baal Shem Tov, antes que
a pessoa realize qualquer ação espiritual (quer dizer, um mandamento), não é
preciso pensar na Previdência Particular do Criador, mas sim o contrário, o
homem deve dizer: 'Se eu mesmo não me ajudar, quem irá?'"
Entretanto, depois de completar sua
ação, com a confiança absoluta que tudo depende apenas de si mesmo e o Criador
não existe, ele deve reunir seus pensamentos e acreditar que realizou essa ação
espiritual não pelos seus esforços, mas apenas graças à presença do Criador,
pois esta era Sua intenção inicial.
O homem deve agir de forma semelhante
também em ações rotineiras e cotidianas, pois o espiritual e o mundano se
assemelham. Assim, antes de sair de casa para fazer o que tiver que fazer
durante o dia, o homem deve desligar totalmente o pensamento da Providência
Particular do Criador dizendo: 'Se eu não for por mim, quem será?', e então
fazer exatamente o que todas as outras pessoas que se sustentam fazem para
sobreviver neste mundo.
Mas, à noite, quando retorna para casa
com o que quer que tenha recebido, de forma alguma o homem deve pensar que a
recepção ocorreu por seu próprio esforço, mas acreditar que, mesmo sem sair de
casa, ele teria recebido a mesma coisa. Uma vez que, se tudo o que deveria
receber naquele dia já havia sido previamente planejado pelo Criador, à noite,
ele teria que receber a mesma coisa de qualquer forma.
Apesar de que, em nossa mente, essas
duas abordagens para a mesma ação contradizem-se e, além disso, que nem a nossa
mente nem o nosso coração as percebem, ainda assim devemos acreditar nisso. A
nós parece contraditório, pois nossas propriedades são contrárias às do Criador
e ainda não se inscreveram no espaço Espiritual, onde todos os opostos se
unificam em um todo único e todas as contradições desaparecem, sugadas pela Unidade.
Existe uma Providência Divina chamada HaVaYaH, que significa que o Criador
controla tudo e que o homem não pode, de forma alguma, participar desse
controle, além de que todos os seus pensamentos, desejos, ações etc, lhe são
conferidos de fora de si mesmo. E existe uma Providência Divina chamada Elokim, de Gematria (valor numérico das letras e palavras hebraicas)
equivalente a Teva (Natureza). Esta é
a Providência através da Natureza, quando o homem, apesar do controle absoluto
do Criador, age de acordo com a sua própria natureza.
Se o homem tentar combinar esses dois
tipos de Providência dentro de si mesmo (ainda que elas não façam sentido nem
na sua mente nem no seu coração, ele de fato age acima da razão), essas
tentativas, por fim, levarão à unificação e ele verá que não existe contradição.
Contudo, até alcançarmos essa unidade, continuaremos fazendo a mesma pergunta o
tempo todo: Quem fez isso, eu o Criador?. Além disso, não temos como nos livrar
dessas perguntas até alcançarmos o nível em que HaVaYaH e Elokim
coincidem. Somente então poderemos entender.
Estamos falando, aqui, sobre a atitude
do homem frente à ação. Antes de agir, o homem decide, de forma consciente,
estar sob o controle de Elokim. Isso
lhe confere a oportunidade de analisar suas ações e atitudes em relação a esses
dois sistemas. Dessa forma, ele os justapõe e aproxima seu Self da semelhança com o Criador, lembrando constantemente da sua
existência.
Se o homem se esquece, ou não sabe da
existência desses dois sistemas, ele é influenciado apenas pela Natureza (Elokim), não pela Providência Pessoal do
Criador (HaVaYaH). Aceitar apenas um
deles, sem justapor esses dois sistemas, (ou "Ele controla tudo" ou
"Eu controlo"), faz com que ou o Criador ou o homem não exista. O
avanço do homem em direção ao Criador somente é possível quando ele consegue
combinar, de forma contundente, esses dois sistemas de providências em si mesmo
antes de cada ação.
(12)
Eu lhe darei um exemplo do nosso mundo.
Imagine um homem que está se escondendo de estranhos para que ninguém possa
vê-lo ou senti-lo, mas é incapaz de esconder-se de si mesmo. O mesmo ocorre com
as 10 Sefirot, que chamamos Keter, Chochmá, Biná, Chessed, Guevurá, Tiferet,
Netzach, Hod, Yessod e Malchut. Elas nada mais são que 10 cortinas atrás das
quais o Mundo do Infinito está oculto. No futuro, as almas terão que receber
toda Luz que as 10 Sefirot lhe transferirem do Mundo do Infinito.
Preste atenção: Há o Infinito, as 10
telas ocultas e as Almas. Se uma alma estiver atrás de todos os 10 véus, de forma alguma ela sentirá o
Mundo do Infinito. À medida que a alma "retira" esses véus, ela se aproxima do Mundo do
Infinito e passa a senti-lo cada vez mais.
A intensidade da sensação do Mundo do
Infinito chama-se Mundos (Adam Kadmon, Atzilut, Beriá, Yetzirá) ou
níveis da escada espiritual (620 níveis, 125 níveis, 10 níveis, Sefirot). Não importa como a pessoa os
chame, o Caminho e a distância são os mesmos.
As Almas adquirem as propriedades da
Luz conforme a quantidade e de que nível das 10 Sefirot elas recebem, por trás de qualquer véu que elas possam ter. A Luz de dentro das 10 Sefirot é absolutamente homogênea e
estática em todos os níveis de todos os Mundos, enquanto que as Almas que
recebem são divididas em 10 níveis, que correspondem às propriedades dos nomes
desses níveis.
Isso significa que o Criador é
indivisível e imutável no Infinito. Estando em algum dos níveis, a Alma recebe
através das telas-ocultação do Criador e, naturalmente, ela já recebe uma Luz
distorcida.
Cada
um desses nomes - Keter, Chochmá, Biná, Chessed, Guevurá, Tiferet, Netzach,
Hod, Yessod e Malchut - representa uma determinada propriedade que oculta e, ao
mesmo tempo, revela. Por um lado, cada nome mostra o quanto oculta do Criador
e, por outro, o quanto revela do Criador. Essas são duas direções opostas: a
medida de ocultação e a medida de revelação.
Todas essas telas de ocultação, sobre as quais
falamos agora, atuam apenas do Mundo de Beriá para baixo, pois as almas que
recebem essa Luz encontram-se apenas nestes três Mundos: Beriá, Yetzirá e
Assiyá.
O que
isso significa? Significa que as almas podem chegar ainda mais alto que os
Mundos de Beriá, Yetzirá e Assiyá, mas apenas na medida em que ascendem com
esses Mundos. Em outras palavras, as almas estão sempre nesses três Mundos. A
ideia da "ascensão dos Mundos" significa que, se o homem deixa este
mundo, ele pode chegar ao Mundo de Assiyá, então ao Mundo de Yetzirá e depois
ao Mundo de Beriá, mas ele não é capaz de elevar-se acima do Mundo de Beriá.
Caso o faça, ele só ascende no interior destes Mundos. Através de seus
esforços, ele faz com que esses Mundos elevem-se junto com ele. Os Mundos são
sua vestimenta. Com eles, o homem ascende a Atzilut e, então, ao Mundo do
Infinito.
Nos
Mundos de Adam Kadmon e Atzilut, as almas existem apenas em Pensamento, sendo
inseparáveis do Criador. Dessa forma, esses 10 véus atuam apenas nas 10 Sefirot dos Mundos de
Beriá, Yetzirá e Assiyá. Apesar disso, mesmo nesses Mundos, e até a extremidade
do Mundo de Assiyá, considera-se que os 10 véus sejam absolutamente divinos.
Não
há qualquer distinção entre as Sefirot e o Criador, assim como era antes de
todas as restrições. A diferença ocorre apenas nos Kelim dos quais as 10
Sefirot consistem, já que nos Mundos de Adam Kadmon e Atzilut o poder das 10
Sefirot ainda não é suficientemente manifesto, pois essas 10 Sefirot
encontram-se apenas no Pensamento. Os Kelim começam a expressar seu poder de
ocultação apenas nos Mundos de Beriá, Yetzirá e Assiyá.
Entretanto,
devido aos véus, a Luz dessas 10
Sefirot permanece inalterada, como foi afirmado: “Eu nunca mundo”. O Criador
diz sobre Si Mesmo: “Sou onipresente e apenas 'mudo' aos olhos do homem, a
depender unicamente da sua capacidade de Me sentir e do grau de correção de
suas propriedades, seus olhos”.
(13)
É
provável que surjam questionamentos: “Se não há manifestação das almas
recebendo a Luz nos Mundos de Adam Kadmon e Atzilut, então por que há 10
Sefirot nesses Mundos, os 10 Kelim? Para que servem os Mundos de Adam Kadmon e
Atzilut, se neles não há almas? Se esses Mundos nada ocultam ou obstruem, então
qual é o seu papel?
Além disso,
se eles obstruem a Luz em diversas gradações, então em relação a quem eles
existem?
Para
isso, há duas respostas:
a. Todos os Mundos e Sefirot devem evoluir dessa
forma.
b.
No
futuro, as almas deverão receber das 10 Sefirot nos Mundos de Adam Kadmon e
Atzilut, devido à ascensão dos Mundos de Beriá, Yetzirá e Assiyá ao Mundo de Atzilut
e, depois, ao de Adam Kadmon.
Dessa
forma, devem existir degraus, locais preparados previamente nestes Mundos para
que os Mundos de Beriá, Yetzirá e Assiyá possam elevar-se até eles, penetrá-los
e receber uma maior revelação do Criador.
Do
contrário, uma Alma não é capaz de ascender, ela o fará apenas nos Mundos de
Beriá, Yetzirá e Assiyá, pois este é o modo pelo qual as Almas terão que
ascender até lá e, quando isso acontecer, esses Mundos brilharão sobre as
Almas. Então, cada qual receberá o seu nível dentre essas 10 Sefirot.
(14)
Assim, vemos que a Cabalá trata sobre todos os
Mundos e níveis, tudo menos sobre o Criador. Ela se refere aos Kelim, aos
vasos, que demarcam os estados de ocultação das almas para que, posteriormente,
elas possam receber a Luz do Mundo do Infinito de acordo com seus níveis. Todas
essas cortinas encobridoras afetam apenas aqueles que devem receber a Luz e não
Aquele que, assim como a Fonte, Se oculta atrás delas, isto é, elas não
influenciam o Criador.
Os Mundos
são níveis como filtros inanimados em nosso mundo: eles bloqueiam a Luz mas, em
contraste com as almas viventes, eles não podem participar ativamente no
processo de comunicação com o Criador. Por si mesma, cada Sefirá (tela, mundo)
é um mecanismo inanimado que oculta das Almas a Luz Espiritual. Que tipo de
mecanismo é este? Já falamos sobre isso: esse mecanismo, dentro de nós, é o
nosso egoísmo.
(15)
Dessa
forma, podemos dividir as Sefirot e Partzufim em três partes: a Essência do
Criador, os Vasos e a Luz. De modo algum somos capazes de compreender ou sentir
o Criador Ele Mesmo, seja em nossas sensações, seja em nossa mente.
Sempre
haverá duas propriedades opostas, ocultação e revelação. Primeiro, o vaso
oculta o Criador, portanto, esses 10 Vasos, chamados 10 Sefirot, representam os
níveis de ocultação. Entretanto, depois que as almas são corrigidas, de acordo
com as condições espirituais ditadas pelas 10 Sefirot, esses níveis de
ocultação transformam-se em níveis de Revelação, de recebimento do Criador.
Assim,
ocorre que os Vasos consistem de duas propriedades opostas entre si, e o grau
de revelação no interior do Vaso (homem, a alma) equivale ao grau de ocultação.
Quanto mais rudimentar for o vaso (a alma), isto é, quanto mais ele oculta o
Criador, e quanto mais egoísta ele fica durante o processo de correção, mais
poderosa será a Luz revelada nele ao fim da correção. Consequentemente, essas
duas propriedades opostas são, de fato, apenas uma.
A Luz
no interior das Sefirot é uma parcela da Luz do Criador recebida pelas Almas de
acordo com suas propriedades corrigidas. Tudo emana do Criador: tanto o vaso
quanto a Luz que o preenche. Portanto, sempre há 10 Luzes dentro de 10 Vasos,
ou seja, 10 níveis de revelação de acordo com as propriedades dos Vasos.
Não somos capazes de distinguir entre o
Criador e Sua Luz. Fora do Vaso, Ele é imperceptível, impossível de ser
apreendido. Podemos apenas receber o que penetra em nossos Vasos, nossas
propriedades corrigidas. Só compreendemos o que emana Dele, o que se veste em
nossos vasos, isto é, nossas propriedades, que consistem de 10 Sefirot. Com
isso, o que quer que percebamos do Criador, chamamos de Luz, ainda que esta
seja uma sensação subjetiva no interior das propriedades corrigidas de nossas
almas.
O Vaso sente que existe de modo
independente, mas isso é uma ilusão. O que conseguimos entender a respeito do
Criador? O que revelamos nas nossas próprias propriedades corrigidas. Conforme
o modo com que as chamamos, bondade, misericórdia, atribuímos essas propriedades
ao Criador. O objetivo da Criação, o grau de nossa adesão com o Criador, reside
na semelhança absoluta com Ele, na revelação de toda a Sua Grandeza, Eternidade
e Perfeição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário