domingo, 1 de janeiro de 2023

Shamati (99)

 

99. Não digas perverso ou justo

(Ouvi em 21 de Iyar, Jerusalém)

 

O rabino Chanina Bar Papa disse: ‘Aquele Anjo, nomeado na concepção, seu nome é Laila (Noite). Ele pega uma gota e a coloca diante do Criador e diz a Ele: ‘Mestre do Mundo, o que essa gota deverá se tornar, um herói ou um fraco, um sábio ou um tolo, um rico ou um indigente?’ Mas ele não diz ‘Um perverso ou um justo’” (Nidá, 16b).

 

Devemos interpretar isso de acordo com a regra que diz que um tolo não pode ser justo, como disseram nossos sábios: “O indivíduo não peca a não ser que um espírito de tolice tenha entrado nele.” Isso é ainda mais verdadeiro no caso de alguém que foi um tolo a vida inteira. Por isso, aquele que nasce tolo não tem escolha, pois ele foi sentenciado a ser um tolo. Portanto, ao dizer “Ele não disse ‘Um perverso ou um justo’, é como se ele tivesse escolha. Mas qual é o benefício se ele não disse “Um justo ou um tolo”? Afinal, se ele é sentenciado a ser um tolo, é o mesmo que ser sentenciado a se tornar um perverso!

 

Também devemos entender as palavras dos nossos sábios: “O rabino Yochanan disse: ‘O Criador viu que os justos são poucos, Ele se levantou e os plantou em cada geração, como foi dito: ‘Pois os Pilares da Terra são do Eterno, e Ele colocou o mundo sobre eles.’’” O Rashi interpreta: “‘Ele colocou o mundo sobre eles’, ou seja, Ele os dispersou em todas as gerações para serem uma infraestrutura e sustento e fundação para amparar o mundo” (Yoma, 38b).

 

Eles são poucos” significa que estão diminuindo. Por isso, o que Ele fez para multiplicá-los? “Ele se levantou e os plantou em cada geração.” Devemos perguntar: “Qual é o benefício de plantá-los em cada geração, pelas quais eles se multiplicam?” Devemos entender a diferença entre todos os justos estarem em uma única geração ou estarem dispersos por todas as gerações, como o Rashi interpreta. Estar em múltiplas gerações sugere multiplicar os justos?

 

Para entender o que está acima, devemos expandir e interpretar as palavras dos nossos sábios, de que o Criador sentencia uma gota a ser um sábio ou um tolo, no sentido de que um indivíduo que nasce fraco, sem força para superar sua inclinação, e nasce com um desejo fraco e sem talentos, pois durante a Iniciação, quando começa o Trabalho do Criador, deve estar apto a receber a Torá e a Sabedoria, como está escrito: “Dará Sabedoria aos sábios”. Ele perguntou: “Se eles já são inteligentes, por que eles ainda precisam de Sabedoria? Deveria ter dito ‘Dará Sabedoria aos tolos.’”

 

Ele explica que “sábio” quer dizer aquele que anseia pela Sabedoria apesar de ainda não tê-la. Mas porque ele tem um desejo, e um desejo é chamado um Kli, segue-se que aquele que tem um desejo e anseia pela Sabedoria é o Kli no qual a Sabedoria brilha. Portanto, segue-se que um tolo significa aquele que não tem anseio pela Sabedoria, cujo anseio é apenas por suas próprias necessidades. Em termos de doação, um tolo é completamente incapaz de alcançar qualquer doação, seja qual for.

 

Portanto, aquele que nasce com tais qualidades, como ele pode alcançar o nível de um justo? Segue-se que ele não tem escolha. Assim, qual é o benefício quando diz “Ele não disse ‘Um justo ou um perverso’”? É para que ele tenha a possibilidade de escolha. Afinal, já que nasceu insensato e fraco, ele não é mais capaz de ter uma escolha, pois é completamente incapaz de qualquer superação e de ansiar pela Sua Sabedoria.

 

Para entender isso, que mesmo um tolo pode ter uma escolha, o Criador fez uma correção, a qual nossos sábios chamam de “O Criador viu que os sábios eram poucos; Ele se levantou e os plantou em cada geração”. Nós perguntamos: “Qual é o benefício disso?”

 

Agora vamos entender essa questão. Sabe-se que é proibido criar laços com os perversos, mesmo quando não se age como eles, como está escrito: “Nem participa da reunião dos insolentes” (Salmos 1:1). Isso significa que o pecado ocorre principalmente porque ele participa da reunião dos insolentes, mesmo que se sente e aprenda Torá e cumpra Mitzvot. Caso contrário, a proibição seria devido ao cancelamento da Torá e das Mitzvot. Mas, antes, até mesmo se sentar com eles é proibido, pois o homem toma os pensamentos e os desejos da pessoa de quem gosta.

 

E vice-versa: Se o indivíduo não tem nenhum desejo ou anseio por espiritualidade, e se encontra entre pessoas que têm um desejo e anseio por espiritualidade, se ele gosta dessas pessoas, também ele tomará a força delas para prevalecer, bem como os desejos e aspirações delas, apesar de que, pela própria qualidade, ele não tem esses desejos e anseios, nem o poder para supercar as suas inclinações. Mas, de acordo com a graça e a importância que ele atribui a essas pessoas, ele recebe novos poderes.

 

Agora podemos entender as palavras: “O Criador viu que os justos eram poucos”, no sentido de que não é qualquer pessoa que pode se tornar um justo, por falta de qualidades para tanto, como está escrito que ele nasceu um tolo ou um fraco. Também ele tem uma escolha e as suas próprias qualidades não são uma desculpa. Isso  porque o Criador plantou os justos em cada geração.

 

Assim, uma pessoa tem a escolha de ir para um lugar onde há justos. Ela pode aceitar a autoridade deles, e então receberá todos os poderes que lhe faltam pela natureza de suas próprias qualidades. Ela as receberá dos justos. Esse é o benefício em “Os plantou em cada geração”, para que cada geração tivesse alguém a quem se voltar, a quem aderir, e de quem receber a força necessária para se elevar ao nível de um justo. Portanto, eles também se tornam, subsequentemente, justos.

 

Segue-se que “Ele não disse ‘Um perverso ou um justo’” significa que ele tem uma escolha: Ele pode aderir aos justos para orientação, e através deles receber a força pela qual, também eles, depois se tornarão justos.

 

No entanto, se todos os justos estivessem na mesma geração, os tolos e os fracos não teriam esperança de se aproximar do Criador. Portanto, eles não teriam uma escolha. Mas ao dispersar os justos em cada geração, cada pessoa tem o poder de escolha para se aproximar e ser atraída pelos justos que existem em cada geração. Caso contrário, a Torá de um indivíduo seria uma “Poção de morte”.

 

Podemos entender isso a partir de um exemplo corpóreo. Quando duas pessoas ficam de frente uma para a outra, a mão direita de uma está oposta à mão esquerda da outra, e a mão esquerda da outra está oposta à mão direita da primeira. Há duas maneiras: A direita, o caminho dos justos, que é apenas doar; e o caminho da esquerda, dos que querem apenas receber para si mesmos, através do que se separam do Criador, que é apenas doação. Portanto, eles são naturalmente separados da Vida das Vidas.

 

É por isso que os perversos nas suas vidas são chamados “mortos”. Segue-se, portanto, que enquanto o indivíduo não for premiado com a Dvekut (Adesão) ao Criador, ele é dois. Então, quando o indivíduo aprende Torá, que é chamada direta, mas está à esquerda do Criador, ou seja, está aprendendo Torá para receber para si mesmo, isso o separa Dele, e a sua Torá se torna uma “Poção de morte” já que ele permanece separado, pois quer que a sua Torá vista o seu corpo. Isso significa que ele quer que a Torá aumente o seu corpo, e através disso a sua Torá se torna uma “Poção de morte”.

 

Contudo, quando uma pessoa adere a Ele, um única autoridade é criada, e essa pessoa se une à Sua singularidade. Então, o lado direito da pessoa é o lado direito do Criador, e então o corpo se torna uma vestimenta para a alma da pessoa.

 

A maneira de saber se o indivíduo está andando no Caminho da Verdade é que quando ele se envolve em necessidades corporais deveria ver que não se envolve nelas mais do que o necessário para as necessidades da alma. Quando ele pensa que tem mais do que necessita para vestir as necessidades da sua alma, é como uma vestimenta que a pessoa coloca sobre seu corpo. Nesse momento, ele é meticuloso em manter o traje não muito longo nem muito largo, mas vestindo seu corpo com precisão. Da mesma forma, ao se envolver com as necessidades corporais, ele deveria ser meticuloso em não ter mais do que necessita para a sua alma, ou seja, para vestir a sua alma.

 

Quanto à Dvekut com o Criador, nem todos que desejam ficar com o Senhor podem chegar e ficar, pois isso é contra a natureza humana, que foi criada com um desejo de receber, que é o amor próprio. É por isso que precisamos dos justos da geração.

 

Quando uma pessoa adere a um Rav de verdade, cujo único desejo é fazer boas ações, mas ela sente que não consegue fazer boas ações, e que o objetivo será levar Contentamento ao Criador ao aderir a um Rav verdadeiro e querer o carinho do rav, então essa pessoa faz coisas que seu rav gosta, e odeia as coisas que seu rav odeia. Assim, ela pode ter Dvekut com o seu Rav e receber os poderes do seu Rav, mesmo aqueles que ela não tem de nascimento. Esse é o significado de plantar os justos em cada geração.

 

No entanto, de acordo com isso é difícil ver porque plantar justos em cada geração. Dissemos que foi pelos tolos e pelos fracos. Mas Ele poderia ter resolvido de outra forma: Não criar tolos! Quem O fez dizer que essa gota será um fraco ou um tolo? Ele poderia ter criado todos sábios.

 

A resposta é que os tolos também são necessários, pois eles são os transportadores do desejo de receber. Eles vêem que não têm conselho próprio pelo qual se aproximar do Criador, então eles são como aqueles sobre quem está escrito: "Sai­rão e verão os cadáveres dos que se rebelaram contra mim; o verme destes não morre­rá, e o seu fogo não se apagará, e causarão repugnância a toda a humanidade" (Isaías 66:24). Ele se tornaram cinzas sob os pés dos justos, pelas quais os justos podem perceber o bem que o Criador lhes fez ao criá-los sábios e fortes, e pelo que Ele os aproximou de Si.

 

Portanto, agora eles podem agradecer e louvar ao Criador, pois eles vêem o estado humilde em que estão. Isso é chamado “Cinzas sob os pés dos justos”, no sentido de que os justos andam sobre elas e, assim, agradecem ao Criador.

 

Mas devemos saber que os níveis inferiores também são necessários. A Katnut (Pequenez) de um nível não é considerada supérflua, como se fosse melhor que os níveis de Katnut nascessem imediatamente com a Gadlut (Grandeza).

 

É como um corpo físico. Há órgãos importantes, certamente, como o cérebro e os olhos, e assim por diante, e há os órgãos que não são tão importantes, como o estômago, os intestinos, os dedos das mãos e os dedos dos pés. Mas não podemos dizer que seja redundante um órgão que executa uma função não tão importante. Ao contrário, tudo é importante. É o mesmo com a espiritualidade: Também precisamos dos tolos e dos fracos.

 

Agora podemos entender o que está escrito, que o Criador disse: “Voltai agora para Mim e Eu voltarei para vós” (Malaquias 3:7). Significa que o Criador diz “Voltai” e Israel diz o oposto: “Faze-nos retornar a Ti para que retornemos” (Lamentações 5:21).

 

O significado é que, durante o declínio do Trabalho, o Criador diz “Voltai” primeiro. Isso leva uma pessoa a ascender no Trabalho do Criador, e ela começa a chorar (“Faze-nos retornar”). Mas, durante o declínio, ela não chora (“Faze-nos retornar”). Ao contrário, ela foge do Trabalho.

 

Portanto, a pessoa deveria saber que quando chora (Faze-nos retornar”), isso deriva de um Despertar de Cima, pois o Criador disse anteriormente “Voltai”, pelo qual ela tem uma ascensão e pode dizer Faze-nos retornar.

 

Esse é o significado de “E quando a Arca se punha em marcha, Moisés dizia: ‘Levanta-te, ó Eterno, e dissipem-se os Teus inimigos’” (Números 10:35). “Se punha em marcha” quer dizer quando avançava na servidão ao Criador, que é uma ascensão. Então Moisés disse “Levanta-te”. E quando eles descansavam, ele dizia “Volte, Eterno”. E durante o resto do Trabalho do Criador, precisamos que o Criador diga “Voltai”, ou seja, “Voltai para Mim”, no sentido de que o Criador dá o despertar. Portanto, a pessoa deveria saber quando dizer “Levanta-te” ou “Volte”.

 

Esse é o significado do que está escrito em Parashá Akev: E deverás lembrar por todo o caminho… De saber o que estava no seu coração, se guardaria os mandamentos Dele ou não”. “Guardaria os mandamentos Dele” é discernido como “Voltai”. “Ou não” é discernido como “Levanta-te”, e nós precisamos de ambos. E o Rav sabe quando “Levantar-se” e quando “Voltar”, pois as quarenta e duas jornadas são ascensões e descensos que se desenrolam no Trabalho do Criador.

 

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