quarta-feira, 16 de maio de 2018

Tiul (7)

Estou vivendo aqui, no Mar Morto, uma interessante experiência pessoal, ou revivendo uma mesma experiência...



Um dia, há muitos anos, acordei com dores lancinantes por todo o corpo, na pele, nas articulações e nos ossos. Apenas os cabelos não doíam. Minha vida ficou difícil, muito difícil. Médicos, exames, médicos, exames, médicos, exames, e as dores lá, em cada centímetro do corpo, exceto nos cabelos.



De alguma forma, eu entendo o Rabi Akiva, que foi escalpelado vivo. De alguma forma, eu entendo os zelotes, que se refugiaram no alto de Masada e decidiram matar-se para preservar a dignidade e a liberdade. Quando a dor é muito intensa, e o sofrimento não tem limites, a morte não é uma maldição, mas uma benção.



Eu estava nesse limite, nesse frágil limite, quando encontrei a Marta. Talvez a Marta sozinha não tivesse sido capaz de me dar a coragem necessária para continuar vivendo com as minhas dores (sim, as dores já eram minhas, porque eu as conhecia completamente, ia dormir com elas, e acordava com elas), e aí Elohim enviou a Sofia, para a Marta e para mim. Quando eu vi os olhos da Sofia pela primeira vez, no Hospital Divina Providência (que nome!), jurei a mim mesmo que eu resistiria, que eu suportaria aquelas dores, e que eu criaria a minha segunda filha.



Durante anos, acordei chorando. De dor. E nesses anos a Marta me confortou, me acolheu e me suportou. Eu não era cabalista e reclamava muito das minhas dores. Depois de duas cirurgias (a medicina tentava, também, aliviar as minhas dores), tive um colapso hipovolêmico e uma parada cardíaca, já no Hospital São Lucas. Digo porque eu estava morrendo em casa, na Avenida Independência, mas fui levado pela Marta ao hospital e lá fui salvo, com a ajuda da minha filha Maíra. Enquanto a Marta tratava da burocracia da re-entrada no hospital (eu tinha feito uma cirurgia uma semana antes e tinha dado alta), a Maíra me levava de cadeira-de-rodas até o Centro Cirúrgico (tive a parada cardíaca dentro do elevador)... A ação combinada das duas, Marta e Maíra, salvou a minha vida.



Na morte, que eu conheci, conheci também a Verdade (que a vida não termina com a morte do corpo físico) e aceitei, lá, o encargo de retornar ao corpo e de ensinar essa Verdade milenar, que foi esquecida pela civilização moderna. Escrevi dois livros de ficção sobre essa minha EQM (Experiência de quase-morte, como a ciência a chama): A revolta das coisas, um livro infantil; e Dia de matar porco, um romance. E, agora, estou escrevendo 32 livros de kabbalah (o número 32 corresponde aos 32 Caminhos de Sabedoria, os 32 níveis de consciência que o ser humano precisa alcançar para fazer a Dvekut com o seu Criador.



Hoje de manhã, subimos à Fortaleza de Masada. A história e o local são impressionantes. Para não repetir o óbvio, não vou tratar desse assunto. Uma busca no Google e Wikipedia lhes trará mais conhecimento sobre essa história do que eu posso elaborar aqui. Quero retornar à estranha experiência que estou vivendo aqui, ou revivendo.



Desde que chegamos ao Mar Morto, as minhas dores voltaram. Todas. E eu as conheço uma a uma. Eu não estava com saudades delas, mas parece que elas estavam com saudade de mim. Assim que meus pés tocaram o solo desértico dessa terra, as dores voltaram. E, mais uma vez, a Marta está grávida. Desta vez, da Hanna. Estou prometendo a mim mesmo, mais uma vez, que vou criar a minha nova filha. Sou diferente, agora. Sou outro. Agora, eu sei o que essas dores significam, e eu as aceito com todos os meus atos, como todas as minhas emoções e com todos os meus pensamentos. Eu aceito essas dores com todos os 125 níveis do meu Naranchay. E prometo que não vou reclamar, como fiz pela primeira vez.



Damidbar. No deserto. Voltei para o deserto. Na sexta-feira, será Shavuot, a Festa que comemora a Outorga da Torah. Estarei lá mais uma vez, mas desta vez eu trouxe comigo muitos outros, membros e não-membros do Grupo Kadosh.

Um comentário:

Danieli Pimentel disse...
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