22. Depois de tudo o que dissemos, resta-nos
descrever, com a ajuda das Dez Sefirot, todas as imagens materiais que estão no
Livro do Zohar. Tais imagens são: superior e inferior, ascensão e queda, contração e
expansão, estado pequeno e estado grande, separação e unificação, os números e
assim por diante – em
resumo, tudo aquilo que os inferiores causam nas Dez Sefirot com suas boas e
más ações (descritas em palavras mundanas no Zohar).
Como é possível traduzir o mesmo que expressam as palavras desse mundo
em Dez Sefirot? Não há palavras nos
Mundos Espirituais, apenas Sentimentos. Esses Sentimentos devem ser
transformados, vestidos em alguma imagem para que possamos transmiti-las uns
aos outros. Podemos escrevê-las ou expressá-las de alguma outra forma. Não
precisamos de uma linguagem dentro de nós mesmos, ela se torna necessária
apenas para transmitir informação.
O Livro do Zohar explica
como tais pares de palavras, como superior-inferior, expansão-contração,
quedas-ascensões, são suficientes para a sua correta interpretação e descrição
com a ajuda das Dez Sefirot. As Dez Sefirot abrangem a linguagem
físico-matemática do Mundo Espiritual.
À primeira vista, isso parece peculiar: como
podem os Mundos Superiores ser tão suscetíveis? Que mudanças ocorridas neles
podem ser descritas como causadas pelas ações de seres inferiores?
Ou seja, se modifico algo dentro de mim eu modifico o Universo
inteiro. Os Mundos, com todas as Forças e Entidades Espirituais que lá estão,
descem e se movem. Posso eu influenciar os Mundos Superiores a partir deste
mundo?
Mesmo que seja necessário dizer que nada na
Luz Superior é do tipo que "se veste" e que brilha nas Dez Sefirot, mas
somente nos vasos das Sefirot, que não são divinos, elas são,
apesar disso, criadas somente com a criação das Almas. Isso ocorre a fim de
ocultar ou revelar o grau de recebimento, na medida e rapidez que são
requeridas pelas Almas para que alcancem a desejada Correção Final. É como no
exemplo anterior, com um dispositivo óptico que consiste de quatro lâminas de
vidro colorido –
branco, vermelho, verde e preto.
O que Baal HaSulam está tentando transmitir nesse grande parágrafo?
Ele diz o seguinte: mesmo que nada aconteça na Luz do Criador, mas somente nas
nossas Almas, nós expressamos a influência da Luz com essas palavras. Essa
influência é constante, mas ela gera cada vez mais mudanças em nós.
Por exemplo: se eu coloco um copo d'água na geladeira, a temperatura
da água no copo será de 20ºC, enquanto que a temperatura dentro da geladeira é
de apenas 10ºC. Isso significa que a influência constante da geladeira resfria
a água até que ela atinja sua própria temperatura. Ou seja, a influência da
geladeira é invariável, enquanto que a temperatura do copo está em constante
variação. O mesmo ocorre conosco: a Luz Superior exerce em nós uma pressão
constante, mas essa pressão penetra gradualmente nossa matéria, nosso desejo de
receber prazer, e o modifica de acordo com seus próprios critérios.
A Cabalá descreve todas as transformações que ocorrem dentro de nós
pela influência constante da Luz. É dito que: "Eu, o Criador, não mudo Meu
Nome". Sua atitude em relação a nós é absolutamente boa, e Ele está
constantemente nos pressionando para que nos elevemos ao nível do Bem Absoluto.
Entretanto, já que Sua influência nos penetra cada vez mais profundamente, nós
passamos a nos adaptar a ela e começamos a sentir nossos estados como
imperfeitos e distantes Dele. Nós começamos a aspirar um estado mais elevado e
desejar que a luz nos purifique e nos torne semelhantes a ela.
Acontece que, por Sua constante pressão gentil, o Criador invoca em
nós sensações cada vez piores em relação a nossa própria condição, e
sentimentos cada vez melhores em relação a Ele. A Cabalá descreve as constantes
mudanças pelas quais passamos.
Basicamente, a Cabalá não faz isso para nos dizer o que mais iremos
experimentar sob a influência constante da Luz, desde o nosso estado atual até
a completa equivalência de forma com a Luz chamada Gmar Tikkun, mas sim para nos encorajar a fazer nossos próprios
esforços e encurtar esse processo através da nossa participação pessoal e
independente.
Com isso, passamos pelas mesmas transformações, mas elas tornam-se desejadas
e, assim, antecipando os futuros estados luminosos, nós percebemos nossa
ascensão espiritual, bem como nossa vida, como positiva e agradável. Em outras
palavras: uma participação ativa no processo de correção eleva o homem a um bom
nível no instante em que ele toma essa decisão.
Mesmo que seja necessário dizer que nada na
Luz Superior é do tipo que "se veste" e que brilha nas Dez Sefirot,
mas somente nos vasos das Sefirot, que não são divinos, elas são, apesar disso,
criadas somente com a criação das Almas. Isso ocorre a fim de ocultar ou
revelar o grau de recebimento.
A Luz está constantemente jogando conosco, entretanto, na verdade, não
se trata de um jogo. Uma vez que consistimos de Reshimo de Yitlabshut e Reshimo
de Aviut (informação sobre a Luz e o Kli), consequentemente, diferentes
Kelim informacionais são ativados em nós alternadamente. Dessa forma, avaliamos
nossos estados seja do ponto de vista da Luz ou do ponto de vista do Kli.
Portanto, parece que passamos por estados diferentes. A Luz, entretanto, age de
acordo com a medida e rapidez que são
requeridas pelas Almas para alcançar a desejada Correção.
Isso se assemelha ao caso em que a cor branca
de um livro e o material que forma suas letras somente são possíveis nos três
Mundos de BYA, nos quais há vasos das Sefirot que foram criados, mas não há
divindade. Entretanto, seria totalmente infundado opinar que eles existem no
Mundo de Atzilut, onde os vasos das Dez Sefirot tanto representam a completa
divindade como também se fundem com a Luz Superior que os preenche.
Baal HaSulam deseja dizer o seguinte: tudo possui três componentes, o
Criador, a Luz, que é emanada Dele, e o Kli, que se modifica sob a influência
da Luz para alcançar Equivalência de Forma com o Criador. Tanto o Criador como
Sua Luz são imutáveis, enquanto que todas as mudanças ocorrem em nós a fim de
nos tornar similares a Ele.
Tudo isso existe em absoluta unidade.
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