1. Nessa introdução, meu desejo é clarificar
questões que parecem simples à primeira vista. Muitos tentaram explicá-las e
muita tinta já foi gasta nessas tentativas (por toda história da humanidade). Mas
ainda hoje não alcançamos um entendimento suficientemente claro sobre esses
assuntos.
As questões são as seguintes:
Muitos filósofos e cientistas, tanto antigos como modernos, tem sido
confundidos por elas. Que questões são essas? Elas são fundamentais e
necessárias para nossa essência e existência.
Primeira questão:
O que é a nossa essência?
Quem somos? Somos animais ou humanos? Somos seres inteligentes? Nós
realmente existimos ou imaginamos que existimos? É muito provável que sejamos
completamente diferentes do que imaginamos ser. De fato, quando olhamos para
qualquer outro animal pequeno, tal como um cachorro ou um gato, nossa impressão
sobre ele, sobre sua natureza, é completamente diferente.
Como podemos nos enxergar objetivamente, como se nos víssemos de fora?
O que significa "ver de fora"? A começar por: Onde podemos imaginar a
nós mesmos? A questão em relação à nossa essência consiste de muitos critérios.
Segunda questão:
Qual é o nosso papel na grande cadeia da
realidade, na qual não passamos de pequenos elos?
Conseguimos ver que passamos por certos estados. Esse mundo passou por
vários estados com ou sem a nossa interferência. Possivelmente, talvez ele
exista por si mesmo ou nós, por algum motivo, existimos nele. De qualquer
forma, nós enxergamos tudo sob o viés da histórica, a cadeia de causas e
efeitos da realidade.
Nós temos algum papel nisso? Essa cadeia existe por uma razão e o
mesmo se aplica a nós. Existimos paralelamente a essa cadeia ou estamos
inseridos nela? Nós que determinamos o desenvolvimento dessa cadeia e suas
consequências? Podemos influenciar a realidade ou fazer algo em relação a ela?
Qual é o nosso papel? A resposta para essas questões inclui o conhecimento de
todo o desenvolvimento potencial, de causa e efeito, princípio e fim, de todos
os processos, todos os níveis intermediários e o conhecimento sobre o nosso
impacto potencial nesse processo.
Terceira questão:
Quando nos enxergamos, sentimos que somos tão
baixos e mesquinhos que nenhum outro ser é tão desprezível quanto nós.
Baal HaSulam refere-se, aqui, a um recebimento interno específico em
que realmente nos percebemos. Sentimos nossa insignificância e mesquinhez com a
ajuda da Luz Circundante, a Ohr Makif, na direta proporção da descida da Luz
Superior. Se A atraímos através do grupo e de um estudo sério, a Luz Superior
nos mostra a insignificância da nossa essência.
Qual é a verdadeira questão aqui? A questão é
que além da essência animal, nós temos algo que está acima da existência
animal. Esse "algo" é chamado de "nosso egoísmo". Ele é
baseado nos nossos desejos por riqueza, honra, fama, poder e conhecimento. Os
animais não têm tais desejos. Isso se chama "Kina",
"Ta'avah" e "Kavod" - inveja, inclinação aos prazeres e
desejos de honra. Essas aspirações elevam a pessoa a um nível acima do nível
animal. Já que elas estão acima das qualidades animais, essas aspirações e
qualidades são louváveis, mas, por outro lado, sua utilização comum natural nos
coloca abaixo dos outros níveis.
Portanto, Baal HaSulam diz:
Quando nos enxergamos, sentimos que somos tão
baixos e mesquinhos que nenhum outro ser é tão desprezível quanto nós.
Animais matam outros animais porque isso está incorporado neles no
nível do instinto. Um leão mata apenas para satisfazer seu pequeno desejo de
saciar-se. Entretanto, o egoísmo no homem é tão mais elevado que, para o seu
próprio bem, os seres humanos querem destruir todos os outros.
Consequentemente, o egoísmo adicional que nos eleva acima dos animais, na
verdade, nos torna mais baixos.
Entretanto, se pensarmos Naquele Que nos
criou, chegaremos à conclusão de que deveríamos ter nos tornado a coroa de
tudo, mais elevados que todo o resto, pois um Criador Perfeito realiza apenas
ações perfeitas.
Baal HaSulam fala, aqui, sobre as pessoas que mal podem imaginar o que
o Criador, a Perfeição e o Desejo de Doar significam.
Ainda assim, como pôde um Criador Perfeito criar um ser tão mesquinho
que é tão mais baixo que todos os outros? Como Ele é, já que Ele é Perfeito?
Além disso, somos perfeitos ou imperfeitos? Sabemos, pelas Leis Universais, que
a imperfeição jamais emana da perfeição.
Quarta questão:
A mente nos faz reconhecer a absoluta bondade
do Criador, e que Ele age apenas com bondade e, portanto, não há nada acima
Dele.
Na sua essência, nossa mente não concorda com isso. Muitos acreditam
que o mundo é governado por uma única "força má". Os cabalistas falam
sobre a essência do Criador. Eles estão em outro nível de recebimento. Baal Ha Sulam
nos provoca com questões que ainda não se materializaram em nós. Entretanto,
para ele, elas já estão resolvidas.
Assim, ele adequa o que recebeu no Nível Perfeito Superior para a
nossa condição imperfeita, a partir da fundação desses dois pontos, em que o
primeiro ponto é ele mesmo no Nível do Criador, e o segundo somos nós no nosso
nível atual. Ele demonstra uma diferença entre esses dois níveis que são
chamados "questões". Todas as nossas dúvidas derivam da discrepância
e oposições em relação ao seu nível. Então, ele diz:
A mente nos faz reconhecer (a partir da sua percepção) o fato de que o Criador é o puro Bem e age
apenas com Bondade, e, portanto, não há nada acima Dele. Entretanto, como Ele
pôde criar tantas formas que, desde o princípio, estão destinadas a passar
todos os dias da sua existência em um estado de sofrimento e dor? (Aqui,
ele está perguntando no nosso nível). Se
isso não foi feito em bondade, ao menos poderia ter sido feito com menos
maldade (Ele nos criou)?!
Por que Ele nos criou para sofrer? E, além disso, por que mesmo agora
que estamos começando a estudar o Caminho que devemos percorrer para alcançar o
Propósito da Criação, vemos que cada passo desse Caminho consiste de contínuas
quedas e acertos? E que, quanto mais baixo caímos, mais alto nos elevamos?
Nada disso é perceptível a menos que um Kli seja percebido primeiro:
sofrimento, sensação de inutilidade, inferioridade, depressão, vazio e oposição
ao Criador. Somente então vem a revelação do Criador e a Unificação com Ele.
Quinta questão:
Como é possível que formas tão
insignificantes, transitórias e impuras derivem do Infinito (nosso "estágio final", conforme
concebido por Baal Ha Sulam) que não tem
início nem fim?
Como isso pode ser? A quinta questão parece semelhante à terceira. Ele
diz que: "Quando nos enxergamos, sentimos que somos tão baixos e mesquinhos
que nenhum outro ser é tão desprezível quanto nós. Quando pensamos em Quem nos
criou, percebemos que deveríamos ter nos tornado a coroa de tudo, mais elevados
que todo o resto, pois um Criador Perfeito realiza apenas ações
perfeitas".
Aqui ele diz algo semelhante: Quando
nos enxergamos, sentimos que somos tão baixos e mesquinhos que nenhum outro ser
é tão desprezível quanto nós.
As cinco questões que ele expõe tratam do nosso nível em relação ao
nível do Criador. Essas perguntas somente podem ser levantadas e solucionadas
por alguém que esteja no nível Dele, quando comparado com o nosso. Baal Ha Sulam
nos fala sobre as diferenças entre esses dois níveis. Ele deseja nos explicar
por que é necessário haver essa diferença e como podemos alcançar a Perfeição.
Esse é o nosso desafio, perceber onde estamos, onde o Criador está, e como
superar esse abismo entre nós e Ele.
Por que ele traz essas questões?
Nesta Introdução ele as explica parcialmente mas, na verdade, ele as
coloca a fim de compreendê-las. Durante as lições, descobriremos que não só
devemos compreendê-las enquanto estivermos estudando essa Introdução, como
também realizá-las dentro de nós mesmos e, depois, aplicá-las com o objetivo de
chegarmos ao nível em que precisamos estar. Por isso precisamos estudar o Livro
do Zohar. Consequentemente, ele utiliza essa explicação na sua Introdução para
este livro.
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