sexta-feira, 8 de maio de 2020

Shamati (38)



O temor a Deus é seu tesouro



Um tesouro é um vaso no qual se coloca o que se possui. O grão, por exemplo, se coloca no celeiro, e os objetos preciosos se põem em algum lugar mais protegido ainda. Assim, cada coisa que se recebe é denominada segundo a sua correlação com a Luz, e o vaso deve ser capaz de recebê-la. Isto obedece ao que temos aprendido: não existe Luz sem um vaso. E isto ocorre inclusive no mundo físico.



No entanto, o que representa na espiritualidade o vaso dentro do qual podemos receber a recompensa espiritual que o Criador deseja doar-nos, e que haverá de estar em correspondência com a Luz? Isto ocorre do mesmo modo que na corporalidade, quando o vaso necessita estar em correlação com o objeto que se encontra dentro dele.



Por exemplo, não podemos falar de um tesouro quando nos referimos ao vinho que tenha sido armazenado em sacos novos para protegê-lo e evitar que avinagre; nem tampouco quanto à farinha que tenha sido guardada em barris. Em vez disto, existe alguma regra segundo a qual o recipiente indicado para o vinho são barris e garrafas, enquanto que para a farinha são os sacos no lugar de barris etc.



Deste modo, surge a seguinte pergunta: Qual é o recipiente espiritual, os Kelim (vasos) a partir dos quais podemos acumular um grande tesouro com a Abundância Superior?



Existe uma regra que indica que o desejo da vaca de alimentar o terneiro é maior do que o desejo deste de comer. Isto corresponde à máxima que diz que “Seu desejo é o de fazer o bem às Suas criaturas”, e devemos crer que a razão do Tzimtzum (restrição) é para nosso próprio bem. E o motivo deve ser que não temos os vasos apropriados para alojar a Shefa (abundância), do mesmo modo que os vasos corporais devem estar aptos para aquilo que deve ser alojado neles. Portanto, devemos afirmar que se conseguimos os vasos, teremos algo com que receber a Shefa que há de adicionar-se.



A resposta que surge a isto é que na tesouraria do Criador existe somente o tesouro do temor a Deus (Berachot, 33).



No entanto, devemos elucidar o que é o temor. Este é um vaso, e o tesouro é feito deste vaso, e todas as coisas importantes se colocam ali. Foi dito que o temor é tal como está escrito sobre Moisés: Nossos sábios disseram: “A recompensa por ‘E Moisés escondeu sua face, pois temia O olhar’ foi ‘a semelhança do Senhor que lhe observa’ (Berachot p. 7).



O temor se refere ao temor que alguém sente por aqueles prazeres imensos que ali existem e aos quais não se poderia receber com a intenção de doar. A recompensa por isto, ou seja, por haver sentido este temor, é que deste modo se constrói para si mesmo um vaso dentro do qual se possa receber a Abundância Superior. Este há de ser o trabalho do homem, e tudo o mais há de atribuir-se ao Criador.



No entanto, não é assim com respeito ao temor, porque o significado de temor não é receber. E aquilo que o Criador doa, Ele doa para que seja recebido, e este é o significado de “tudo está nas mãos de Deus, menos o temor a Deus”.



Este é o vaso que necessitamos. Do contrário, seguiremos sendo uns tolos, tal como disseram nossos sábios: “Quem é considerado um tolo? Aquele que perde o que lhe é dado”. Quer dizer que a Sitra Achra nos usurpará a abundância se não pudermos dirigir nossa intenção até a doação, pois assim ela vai para os vasos de recepção, ou seja, para a Sitra Achra e a impureza.



Este é o significado de “E haverás de observar o banquete de Matza (pão sem fermento)”. Observar significa temor. E ainda que a natureza da Luz seja ter vontade própria, o que significa que a Luz parte antes que alguém deseje recebê-la dentro dos vasos de recepção, a pessoa deve atuar por conta própria em tudo que esteja ao seu alcance. A este respeito disseram nossos sábios: “Vós os observareis a vós mesmos somente um pouco aí embaixo, e eu os observarei muito aqui de Cima”.



A razão pela qual atribuímos temor às pessoas, segundo disseram nossos sábios, é que “tudo está nas mãos de Deus, exceto o temor a Deus”. Isto se deve a que Ele pode ofertar tudo, menos o temor. E por isto, o que o Criador dá é amor ao invés de temor.



O temor se adquire através do poder da Torá e das Mitzvot (preceitos). Isto quer dizer que quando se observa a Torá e as Mitzvot com o propósito de ser recompensado com o fato de poder satisfazer o Criador, essa intenção, que subjaz nos atos de suas Mitzvot em detalhe, permanece simplesmente no grau de Domem de Kedushá (Mineral Sagrado).



Disto resulta que a pessoa sempre deve recordar a razão que a obriga a observar a Torá e as Mitzvot. Sobre isto se referiram os sábios ao dizer “que vossa Divindade seja para Meu nome”. Isto implica que “Eu serei vossa causa, pois todo vosso trabalho consiste em querer deleitar a Mim, ou seja, que todas vossas ações devem apontar para a doação.”



Nossos sábios disseram (Berachot 20): “Todo o implícito em observar também está implícito em recordar”. Isto significa que todos aqueles que observam a Tora e as Mitzvot, o fazem com a intenção de alcançar a noção de “lembrar-se”, no sentido de “Quando eu me lembro Dele, Ele me impede de dormir”. Disto resulta que o observar tem como propósito principal ser recompensado com a ação de acordar-se (lembrar-se).



Portanto, o desejo da pessoa consiste em recordar que o Criador é a causa pela qual se observa a Torá e as Mitzvot. Isto é assim porque resulta que a razão e a causa de observar a Torá e as Mitzvot é o Criador Mesmo, já que sem isso não se pode aderir a Ele, porque “Ele e Eu não podemos habitar na mesma morada” devido à disparidade de forma.



A razão de que a recompensa e o castigo não sejam revelados, que somente devamos crer na recompensa e no castigo, se deve a que o Criador deseja que todos trabalhem para Ele e não para si mesmos. Isto se discerne como disparidade de forma com o Criador. Se a recompensa e o castigo estiverem revelados, a pessoa trabalharia por amor a si mesmo; ou seja, para que o Criador Lhe ame, ou por ódio a si mesmo, o que significa por temor a que o Criador lhe odeie. Isto implica que a razão para o trabalho é somente a pessoa, não o Criador, e o Criador deseja ser Ele o motivo determinante.



Assim, vemos que o temor se manifesta precisamente quando a pessoa reconhece o seu estado inferior, e diz que está servindo ao Rei; ou seja, que seu desejo de outorgar-Lhe é um grande privilégio, e isso é mais valioso que o que alguém possa expressar. Isto obedece à regra segundo a qual quando a pessoa pode outorgar algo a uma personalidade importante é como se ela mesma estivesse recebendo.



Na medida em que a pessoa sente seu estado inferior, nesta mesma proporção pode começar a apreciar a grandeza do Criador, e se despertará o desejo de servir a Ele. Mas se a pessoa é orgulhosa, o Criador diz: “ele e Eu não podemos habitar na mesma morada”.



Este é o sentido de “Um tolo, um malvado e um grosseiro vão juntos”. A razão disto é que ao não sentir o temor, o que significa que a pessoa não pode rebaixar-se diante do Criador, e reconhecer que para ela é uma grande honra poder servir a Ele sem nenhuma recompensa, não se pode receber sabedoria alguma do Criador, e a pessoa se mantém como um tolo. Então, aquele que é tolo, é malvado; tal como indicam nossos sábios: “Não se peca, a menos que se tenha sido alcançado pela insensatez”.


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