quarta-feira, 3 de junho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (52)




9.  Assim, na espiritualidade, a dessemelhança de forma age como um machado em nosso mundo, separando a matéria. O grau de divergência é determinado pelo nível da dessemelhança de forma.



Não devemos nos ater a nada mais - nem aos meus parâmetros, nem aos parâmetros do Criador, ou a qualquer outra condição. Devemos pensar uma única coisa: "Como posso me assemelhar ao máximo com Ele? Dessa forma, irei descobri-Lo e sentirei em mim mesmo o Seu preenchimento, e é nessa medida que receberei a sensação de prazer, Luz, vida, Eternidade e Perfeição".



E disso se apreende que, já que o desejo [egoísta] de receber prazer é inerente às almas e, como já vimos, essa propriedade não se encontrae no Criador, podemos concluir que é exatamente essa dessemelhança de forma (o desejo egoísta de receber prazer), adquirida pelas almas, que age como um machado, separando-as do Criador. Portanto, é através da diferença de forma que a alma torna-se separada do Criador e vem a ser conhecida como "criada".



Até que a alma sinta a sua completa separação do Criador, é impossível falar da existência da Criação. Neste ponto, ela ainda é simplesmente o desejo de receber prazer, que não deixou o Criador e não foi separado Dele para tornar-se algo que exista independentemente. Portanto, ao olhar o mundo ao nosso redor, para esses 7 bilhões de "homo sapiens", não podemos dizer que eles são criações (e tampouco podemos falar sobre os níveis mineral, vegetal e animal, pois eles não tem a sensação de contraste em relação ao Criador).



No momento, ainda nos falta essa propriedade, essa análise. A primeira coisa que devemos alcançar é a tão famosa "revelação do mal" (Akarat Ha Rah), que é a compreensão da polaridade inversa à do Criador. É aqui que a Criação começa. Assim que a alcançamos em todas as nossas propriedades fundamentais, sentiremos, nessas propriedades, o quão opostas elas são do Criador. Então essas propriedades são percebidas como independentes, totalmente remotas, cortadas, podadas Dele com esse machado (essa alteração do Criador). Assim, elas já são consideradas Criação.



Entretanto, tudo o que as almas recebem da Luz do Criador é recebido da Essência do Criador, daquilo que é existente. A Luz do Criador recebida pelo Kli (alma, desejo de receber) não difere da Sua Essência. De fato, ela vem diretamente do Criador, como de algo existente. Toda a distinção entre as almas e a Essência do Criador provém do fato de que as almas são apenas uma parte da Essência do Criador. A medida de Luz recebida dentro do desejo de receber prazer (essa parte que foi excluída do Criador, já que ela não é totalmente semelhante a Ele) separa-se do Criador pela dessemelhança de forma, assume a forma de estar separada do todo, e é chamada de alma. De fato, não há diferença entre elas exceto que uma é o todo enquanto a outra é sua parte, como uma pedra cinzelada de uma rocha.



Reflita sobre a profundidade do que foi mencionado acima, já que é impossível explicar esse assunto elevado mais detalhadamente.



Mesmo assim, tentaremos acrescentar umas poucas palavras sobre o assunto.



A percepção mais inofensiva sobre a Criação é a de que existimos no estado final mais perfeito, pois esta é a única coisa criada pelo Criador, a única maneira em que existimos. Somente nós percebemos o estado final, muito embora tenha existido um estado inicial e um intermediário. Na verdade, esta é a única condição existente. Ou seja, quando o Criador considerou criar criações, Sua ideia instantaneamente tornou-se ação.



O fato de que estamos inseridos no Criador, totalmente preenchidos pela Luz do Infinito, é ocultado. Na verdade, essa é a nossa condição natural, única e verdadeira. Se é assim que a percebemos, então outra relação torna-se clara: como descobrir a medida de conexão entre nós. Eu me encontro em uma condição estática, completamente preenchida pelo Criador, e o que me separa do Criador (impede a sensação de proximidade com o Criador) é o meu egoísmo, meu desejo interior, que é oposto ao Dele. Na mesma medida em que consigo mudar meu desejo interior, meu direcionamento, imediatamente sentirei o Criador, me sentirei como que preenchido por uma vida de outro tipo e com outra dimensão.



A ínfima medida da sensação do Criador que está em nós, chamada "Ner Dakik" ("Ner", vela; "Dakik", da palavra "Dak",  muito fino, parte mínima), é uma porção de Luz que nos permite existir no estado biológico animal em que estamos.



Se pudermos mudar a quantidade de Luz que percebemos dentro de nós, mudaremos drasticamente a nossa vida - elevaremos a vida ao próximo nível e, quanto maior nossa percepção de Luz dentro de nós, maior o nível que alcançaremos. A única coisa que precisamos fazer é permitir que a Luz que existe em nós faça o seu trabalho, nos abrir e deixá-la brilhar em nós. Podemos facilitar esse processo somente a partir da nossa atitude em relação ao Criador, da nossa semelhança com Ele. Portanto, ascender aos níveis Espirituais não é um movimento mecânico, pelo contrário: é uma semelhança interna crescente em relação à Luz, a sensação de uma vida plena, perfeita e eterna.



O homem não deve contentar-se com aquela pequena partícula de Luz que sustenta apenas a condição animal da existência. Antes, devemos receber uma grande porção de Luz que poderia sustentar o homem em uma condição de vida acima daquela do corpo biológico. Esse é o nosso desafio.



 O passo seguinte, a próxima porção de Luz que receberemos, já será uma Luz Espiritual, que nos elevará ao nível Espiritual da existência. Isso é o que devemos ter em mente hoje.


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