9.
Assim, na espiritualidade, a dessemelhança de forma age como um machado
em nosso mundo, separando a matéria. O grau de divergência é determinado pelo
nível da dessemelhança de forma.
Não devemos nos ater a nada mais - nem aos meus parâmetros, nem aos
parâmetros do Criador, ou a qualquer outra condição. Devemos pensar uma única
coisa: "Como posso me assemelhar ao máximo com Ele? Dessa forma, irei
descobri-Lo e sentirei em mim mesmo o Seu preenchimento, e é nessa medida que
receberei a sensação de prazer, Luz, vida, Eternidade e Perfeição".
E disso se apreende que, já que o desejo
[egoísta] de receber prazer é inerente às almas e, como já vimos, essa
propriedade não se encontrae no Criador, podemos concluir que é exatamente essa
dessemelhança de forma (o desejo egoísta de receber prazer), adquirida pelas
almas, que age como um machado, separando-as do Criador. Portanto, é através da
diferença de forma que a alma torna-se separada do Criador e vem a ser
conhecida como "criada".
Até que a alma sinta a sua completa separação do Criador, é impossível
falar da existência da Criação. Neste ponto, ela ainda é simplesmente o desejo
de receber prazer, que não deixou o Criador e não foi separado Dele para
tornar-se algo que exista independentemente. Portanto, ao olhar o mundo ao
nosso redor, para esses 7 bilhões de "homo sapiens", não podemos
dizer que eles são criações (e tampouco podemos falar sobre os níveis mineral,
vegetal e animal, pois eles não tem a sensação de contraste em relação ao
Criador).
No momento, ainda nos falta essa propriedade, essa análise. A primeira
coisa que devemos alcançar é a tão famosa "revelação do mal" (Akarat Ha Rah), que é a compreensão da
polaridade inversa à do Criador. É aqui que a Criação começa. Assim que a
alcançamos em todas as nossas propriedades fundamentais, sentiremos, nessas
propriedades, o quão opostas elas são do Criador. Então essas propriedades são
percebidas como independentes, totalmente remotas, cortadas, podadas Dele com
esse machado (essa alteração do Criador). Assim, elas já são consideradas
Criação.
Entretanto, tudo o que as almas recebem da Luz
do Criador é recebido da Essência do Criador, daquilo que é existente. A Luz do
Criador recebida pelo Kli (alma, desejo de receber) não difere da Sua Essência.
De fato, ela vem diretamente do Criador, como de algo existente. Toda a
distinção entre as almas e a Essência do Criador provém do fato de que as almas
são apenas uma parte da Essência do Criador. A medida de Luz recebida dentro do
desejo de receber prazer (essa parte que foi excluída do Criador, já que ela
não é totalmente semelhante a Ele) separa-se do Criador pela dessemelhança de
forma, assume a forma de estar separada do todo, e é chamada de alma. De fato,
não há diferença entre elas exceto que uma é o todo enquanto a outra é sua
parte, como uma pedra cinzelada de uma rocha.
Reflita sobre a profundidade do que foi
mencionado acima, já que é impossível explicar esse assunto elevado mais
detalhadamente.
Mesmo assim, tentaremos acrescentar umas poucas palavras sobre o
assunto.
A percepção mais inofensiva sobre a Criação é a de que existimos no
estado final mais perfeito, pois esta é a única coisa criada pelo Criador, a
única maneira em que existimos. Somente nós percebemos o estado final, muito
embora tenha existido um estado inicial e um intermediário. Na verdade, esta é
a única condição existente. Ou seja, quando o Criador considerou criar
criações, Sua ideia instantaneamente tornou-se ação.
O fato de que estamos inseridos no Criador, totalmente preenchidos pela
Luz do Infinito, é ocultado. Na verdade, essa é a nossa condição natural, única
e verdadeira. Se é assim que a percebemos, então outra relação torna-se clara:
como descobrir a medida de conexão entre nós. Eu me encontro em uma condição
estática, completamente preenchida pelo Criador, e o que me separa do Criador
(impede a sensação de proximidade com o Criador) é o meu egoísmo, meu desejo
interior, que é oposto ao Dele. Na mesma medida em que consigo mudar meu desejo
interior, meu direcionamento, imediatamente sentirei o Criador, me sentirei
como que preenchido por uma vida de outro tipo e com outra dimensão.
A ínfima medida da sensação do Criador que está em nós, chamada
"Ner Dakik" ("Ner", vela; "Dakik", da palavra
"Dak", muito fino, parte
mínima), é uma porção de Luz que nos permite existir no estado biológico animal
em que estamos.
Se pudermos mudar a quantidade de Luz que percebemos dentro de nós,
mudaremos drasticamente a nossa vida - elevaremos a vida ao próximo nível e,
quanto maior nossa percepção de Luz dentro de nós, maior o nível que
alcançaremos. A única coisa que precisamos fazer é permitir que a Luz que
existe em nós faça o seu trabalho, nos abrir e deixá-la brilhar em nós. Podemos
facilitar esse processo somente a partir da nossa atitude em relação ao
Criador, da nossa semelhança com Ele. Portanto, ascender aos níveis Espirituais
não é um movimento mecânico, pelo contrário: é uma semelhança interna crescente
em relação à Luz, a sensação de uma vida plena, perfeita e eterna.
O homem não deve contentar-se com aquela pequena partícula de Luz que
sustenta apenas a condição animal da existência. Antes, devemos receber uma
grande porção de Luz que poderia sustentar o homem em uma condição de vida
acima daquela do corpo biológico. Esse é o nosso desafio.
O passo seguinte, a próxima
porção de Luz que receberemos, já será uma Luz Espiritual, que nos elevará ao
nível Espiritual da existência. Isso é o que devemos ter em mente hoje.
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