10. Eis a oportunidade de compreender o quarto
questionamento. Como é possível que o sistema das forças impuras e das Klipot
venham da pureza do Criador? Como é possível que o Criador o preencha e
sustente quando, de fato, o sistema das forças impuras é o extremo oposto da
Sua pureza?
Além disso, podemos imaginar os mundos de cima para baixo: AK (o Mundo
do Infinito), depois Atzilut, Beriá, Yetzirá, Assiyá (os mundos puros), e
Beriá, Yetzirá e Assiyá (Klipot). A Parsá econtra-se logo abaixo do Mundo de
Atzilut, e o nosso mundo está abaixo das Klipot. Tudo o que desce de Malchut do
mundo de Atzilut atravessando todos os Mundos para chegar aos mundos impuros
refere-se à Ner Dakik (uma pequena vela, uma pequena luminescência). Quando a
Ner Dakik atravessa a Maschom e nos alcança, recebemos o que chamamos de
"nossa vida".
Ou seja, tudo o que preenche, sustenta, revive e nos impulsiona para
frente no nosso mundo é recebido através do sistema de forças impuras.
Baal HaSulam pergunta: “Como pode uma propriedade do nível Espiritual
do Criador (total altruísmo) criar desejos impuros (incluindo a nós mesmos, que
somos os mais baixos e insignificantes)? E como não bastasse serem criados por
Ele, Ele também os nutre, ainda que com uma pequena Luz. Além disso, Ele
constantemente os sustenta e mantém contato com eles”.
Vamos clarificar essa questão: “Como o Criador pode agir dessa
maneira? Essa pergunta surge a partir da perspectiva da nossa definição
anterior. Se dizemos que no Mundo Espiritual categorias como unificação,
separação, aproximação e afastamento ocorrem na mesma medida da semelhança de
forma, isso significa que não há conexão entre o Criador e esse sistema, já que
o sistema das forças impuras é absolutamente contrário ao Criador. Portanto,
como pode ter sido criado por Ele?
Suponha que tenha se dado uma ação não-recorrente de nascimento. Mas
tal conceito não existe no Espiritual, onde tudo existe permanentemente (isto
é, nasce, é suprido e nutrido permanentemente). Isso difere do nosso mundo,
onde há um evento de criação através do qual o corpo passa a existir e, depois,
morrer. O corpo existe e morre justamente porque o ato de criação terminou. No
Mundo Espiritual é diferente: tudo o que lá ocorre é permanentemente nutrido e,
portanto, eterno. Todas as ações existem constantemente em todos os níveis.
Assim, se o Criador cria, nutre e mantém forças impuras, isso
contradiz a conclusão anterior. Como é possível reconciliar isso?
Primeiro, é preciso compreender a essência do
sistema de forças impuras e Klipot. Saiba que o enorme desejo de receber, sobre
o qual falamos antes, é a essência das almas criadas. Esse desejo está pronto
para receber todo o preenchimento previsto no Plano da Criação, mas ele não
permanece nas almas da mesma forma, pois se o fizesse (se permanecesse em uma
forma contrária ao Criador), as almas estariam separadas do Criador para
sempre. Essa dessemelhança de forma sempre as excluiria do Criador.
Para corrigir esse afastamento inicial, Ele
criou os Mundos e os dividiu em dois sistemas: os quatro Mundos puros de ABYA,
e os quatro Mundos impuros de ABYA.
Além disso, Ele posicionou as almas entre eles.
Em nosso avanço, continuamente escolhemos a linha do meio - a
combinação de forças puras e impuras. A alma ascende ao Criador precisamente
por essa linha intermediária.
Ao criar o sistema de forças puras e impuras, ou seja, esse imenso e
impuro egoísmo inicial oposto a Si Mesmo, Ele também criou um sistema com o
qual podemos transformar esse egoísmo - mantendo os mesmos desejos, mas
corrigindo sua intenção. Portanto, ocorre que, enquanto subimos a escada
intermediária entre os dois sistemas, de forças puras e impuras (altruísta e
egoísta), escolhemos como agir.
Extraímos do nosso sistema egoísta, da nossa essência, tudo o que
pudermos a fim de adaptar nossos desejos ao Criador e, assim, avançar.
Vejamos um exemplo.
Há dois sistemas: “Eu” na sua forma original (um ego absoluto), e um
sistema oposto a mim, o qual concordamos em chamar de Criador. Eles são opostos
e totalmente separados. Entre nós existe um sistema de comunicação, o qual
chamamos de sistema das forças puras e impuras.
O que ele me proporciona? Para existir, eu recebo Dele uma pequena
porção de Luz, chamada Ner Dakik. Além disso, dela eu recebo o famoso ponto no
coração. Ao receber a Ner Dakik, eu recebo meu coração.
Ao receber o ponto no coração, depois de uma série de esforços, eu
alcanço determinado nível base. Nesse nível zero, chamado “Ibur” (embrião), é possível
comparar-se a todas as propriedades do Criador apenas como um pequeno ponto.
Esse ponto encontra-se no meio dessas propriedades, e ele significa que tudo o
que eu possa conectar às qualidades do Criador não é maior que um ponto.
Se eu separo 10% dos meus desejos e os integro de acordo com 10% dos
desejos do Criador, então o ponto médio entre eles será o meu nível seguinte. E
assim sucessivamente. Isto é, eu sempre avanço a partir da linha do meio, onde
comparo meu egoísmo às propriedades do Criador até que eu trabalhe
integralmente com 100% dos meus desejos. Só então eu alcanço 100% de semelhança
de forma com o Criador.
Isso revela que o sistema de forças puras e impuras não se constitui
nem de bem nem de mal. Eles existem apenas em relação ao observador, que
necessita desses níveis gradativos para suas próprias comparações, associações,
uniões com o Criador (a terminologia exata não é importante). Tal sistema
interno existe em mim unicamente por esse motivo. Esses mundos não existem
fora; eles são a essência da minha estrutura interior.
Com a ajuda desses níveis - esses limites sensoriais - podemos nos
sentir tanto mais afastados do Criador como também mais próximos Dele. É
impossível sentir a metade ou um terço de cada nível. Internamente, somos nivelados
de tal forma que apenas percebemos certas mudanças no limite das sensações,
chamadas de degraus dos mundos. Naturalmente, isso tudo ocorre dentro de uma
pessoa, pois nada disso existe fora dela. No geral, não conhecemos o que existe
“fora”, logo, o que está fora não existe. Falamos somente do que existe dentro
de nós. Isso é o que sentimos e esse é o nosso mundo, a nossa vida.
Assim, Baal Ha Sulam diz que o Criador criou o
desejo de receber egoísta… e Ele conferiu Suas qualidades ao sistema dos Mundos
Puros para serem disseminadas, retirou deles o desejo de receber para si mesmo
e os entregou aos Mundos Impuros. Como resultado, esse sistema tornou-se
completamente separado do Criador e de toda a Pureza.
Portanto, as Klipot são chamadas de mortas,
assim como os pecadores (nós, que estamos abaixo delas), pois nosso desejo de
receber, que é o oposto do Criador, não permite à Luz de Vida, a Luz do Prazer,
manifestar-se em nós (por isso, experimentamos apenas uma pequena parcela da
influência dessa Luz, ou seja, nossa vida animal). Além disso, estamos
totalmente afastados do Criador, já que Nele não há desejo de receber, somente
a qualidade de doação. Contudo, nas Klipot (e em nós), naturalmente não existe
o conceito de doação, apenas o desejo de receber, o desejo de autogratificação.
Nossa separação espiritual em relação ao
Criador começa com uma pequena diferença de qualidade com o Superior, e termina
na mais completa oposição.
Nós emergimos dos Mundos Espirituais e então, gradualmente, nos
diferenciamos. No nível do nosso mundo, estamos na mais absoluta oposição ao
Criador. Ao superarmos o abismo entre o Criador e a Criação, alcançamos o
Infinito Superior, a percepção ilimitada do Criador.
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