domingo, 23 de agosto de 2020

Prefácio ao Preâmbulo à Sabedoria da Kabbalah


Prefácio

ao 

Preâmbulo à Sabedoria da Kabbalah

 

O artigo “Preâmbulo à Sabedoria da Kabbalah” foi escrito por Baal HaSulam como uma das introduções ao Livro do Zohar. No total, Baal HaSulam escreveu três introduções ao Livro do Zohar: “Introdução ao Livro do Zohar”, “Prefácio ao Livro do Zohar” e “Preâmbulo à Sabedoria da Kabbalah”.

 

Para uma correta compreensão do Livro do Zohar, devemos conhecer toda a estrutura da Criação, a forma como todos os Mundos foram criados, as Leis que regem o seu funcionamento, como eles influenciam as Almas, como as Almas influenciam os Mundos, como o Criador governa todo o Universo e como os Seres Criados influenciam Sua Providência.                  

 

O objetivo de estudar Kabbalah é sentir os Mundos Espirituais e a esfera do Universo na sua totalidade, experimentar sensações para além do poder do nascimento e da morte, transcender o tempo, alcançar em alguma das encarnações certo estado em que o homem viva simultaneamente em todos os Mundos, completamente unificado com a Força Suprema, compreender o Criador na Sua Totalidade (isto é, alcançar o propósito da existência do homem neste Mundo), e tudo isso enquanto o homem ainda estiver vivendo neste mundo.

 

O estudo da Kabbalah oferece ao homem respostas a todos os seus questionamentos. Ele estuda todas as conexões de causa e efeito deste mundo e também o Mundo Superior, do qual tudo deriva até chegar ao nosso. A revelação do Mundo Superior ocorre de forma constante e gradual, no interior do homem, pois ele cria dentro de si mesmo sentidos adicionais, mais sensíveis que os naturais, e que lhe permitem sentir as forças adicionais do Universo, a parcela que está oculta da maioria das pessoas.

 

A Kabbalah é chamada de Sabedoria Oculta porque somente para aquele que compreende e sente a verdadeira conjuntura do Universo é que essa ciência se torna óbvia. A Kabbalah sempre se distinguiu da religião comum pois ela educa o homem de forma muito diferente. Ela desenvolve nele um senso crítico, de análise, de pesquisa consciente, clara e intuitiva de si mesmo e do seu entorno. Sem essas qualidades, o homem não consegue pesquisar nem este mundo, nem o Superior.

 

Pode-se perceber o quão distante a Kabbalah se encontra da religião geral pelo fato de que os maiores peritos em leis religiosas e mandamentos do nosso mundo, muitos rabinos e líderes das massas religiosas, não estudam e nem sabem nada sobre Kabbalah. De forma alguma essa ignorância os impede de observar fisicamente os mandamentos ou de levar uma vida religiosa. Isso se deve ao fato de que a Kabbalah não trata da realização de algo na ação, mas do modo de se criar a intenção correta “para o Criador”, o que nada tem a ver com a religião geral.

                                     

A educação cabalística é totalmente individual e contradiz completamente a educação das massas. A um cabalista é necessário garantir a liberdade do autoconhecimento e as ferramentas através das quais ele pode se desenvolver de maneira constante. De modo algum seu desenvolvimento interno deve ser limitado. Se o homem recebe todo tipo de instruções, ele deixa de ser livre, pois o modelo de outrem é imposto sobre o seu “self”. A Torá diz que “o conhecimento (opinião) da Torá é contrário ao conhecimento (opinião) das massas egoístas”. Dessa forma, os cabalistas representam um grupo inteiramente separado e autônomo, ainda que sejam formalmente associados à comunidade religiosa.

 

Nos últimos anos, a atitude geral em relação aos cabalistas mudou de maneira drástica. Se durante os séculos anteriores seus livros foram queimados e eles mesmos perseguidos pelas massas religiosas, hoje, a situação é diferente e o mundo religioso trata os cabalistas autênticos com muito mais tolerância. Há razões espirituais para isso, já que tudo o que ocorre no nosso mundo é uma consequência do fenômeno espiritual nos Mundos Superiores.

 

Estamos no término do período do desenvolvimento humano, às portas da entrada de toda a humanidade no Mundo Espiritual. Nunca antes houve um número tão grande de pessoas manifestando interesse pela Kabbalah. Hoje em dia, os estudos de Kabbalah são considerados honoráveis e prestigiosos. Tudo isso mostra que grandes mudanças têm sido enviadas de Cima.

 

Há apenas 200 anos, durante o período do chamado Iluminismo (Haskala), houve um retrocesso na religião tradicional. Isso foi enviado de Cima para que, depois, essas mesmas almas pudessem retornar por si mesmas à Torá, mas não apenas a sua parte aberta, a religiosa, mas também à oculta, a Kabbalah.

 

Cada geração consiste das almas das gerações anteriores vestidas em novos corpos. Essas almas descem ao nosso mundo acumulando experiência em cada reencarnação. Além disso, com o tempo, as condições espirituais externas também mudam.

 

Há 400 anos, um grande cabalista conhecido como Ari fundou a Kabbalah Moderna. Seus escritos se destinam às almas que começaram a descer a este mundo a partir da sua época. Desde então, começou uma mudança qualitativa nas almas que vêm ao nosso mundo. Há um anseio evidente por espiritualidade entre elas. No livro do Ari, chamado “Prefácio ao livro ´Portões da Ascensão´”, ele diz que da sua época em diante a Kabbalah deveria ser estudada por qualquer um que desejasse.

 

Hoje, uma disseminação em massa da Kabbalah deve iniciar-se por todo o mundo. O mundo chegou ao ponto em que todas as raízes espirituais já desceram de Cima e tudo o que a Torá descreve já ocorreu em nosso mundo. Já houve exílios e destruições. A única coisa que ainda não ocorreu é o recebimento da espiritualidade pelas almas, a elevação deste mundo ao nível do Mundo Espiritual e a unificação de ambos. Esse processo iniciou na década de 20 do século 20, e agora o ritmo vem aumentando como uma bola de neve.

 

Através da Internet podemos ver como o interesse pela Kabbalah tem crescido rapidamente entre aqueles que, até pouco tempo atrás, nada tinham a ver com isso. As pessoas já compreendem que a Kabbalah não é um ensinamento sobre uma força astrológica-espiritual. Elas começaram a perceber claramente que a Kabbalah oferece um entendimento do Universo inteiro: Quais são as forças que regem o mundo? Elas percebem que apenas esse conhecimento salvará a humanidade de um desastre iminente.

 

As pessoas que não conseguem se satisfazer com o nível deste mundo chegam à Kabbalah na esperança de receberem respostas às suas questões mais vitais. No futuro, milhões de pessoas estudarão Kabbalah. Aqueles que estudam hoje a ensinarão para as gerações seguintes.

 

No decorrer da vida do homem, suas intenções passam por constantes mudanças. Elas passam de desejos semelhantes aos dos animais para os de estabelecer-se de forma confortável neste mundo, beneficiar-se de tudo, aspiração por conhecimento e, depois, à elevação espiritual.

 

Fomos criados desta maneira. Ao estudar Kabbalah, pouco a pouco o homem troca seus desejos deste mundo por desejos mais elevados, espirituais, de descobrir o mundo espiritual e ingressar nele. Consequentemente, as propriedades do homem tornam-se altruístas. Um vaso egoísta é muito pequeno e não consegue incluir todo o prazer preparado para nós pelo Criador. Portanto, ao transformar nossas propriedades egoístas em altruístas, expandimos infinitamente a capacidade do nosso vaso de receber em si toda informação espiritual e de alcançar um estado de eternidade e perfeição.

 

Existe uma ideia equivocada de que a pessoa que percebe o espiritual, principalmente aquela que já alcançou determinado nível espiritual, deveria parecer como se flutuasse, como se não “fosse desse mundo” ou como se não tivesse qualidades negativas. O homem ascende ao Mundo Espiritual internamente na medida da sua “descida”, na medida em que sente e compreende seu próprio egoísmo. O homem ascende conforme seu egoísmo natural lhe é revelado. Ao corrigi-lo até certo ponto, o homem eleva-se a um nível espiritual mais alto, que corresponde à medida da sua correção.                                            

 

Quanto mais elevada a pessoa se torna, cada vez mais egoístas serão as suas propriedades. Entretanto, elas recebem correção. Meu Rabi era um grande cabalista. Ao mesmo tempo, ele era capaz de se irritar ou de se alegrar muito mais que qualquer ser humano comum. O egoísmo é o estofo do qual somos feitos. Ele é a única coisa criada pelo Criador e o Universo inteiro é feito exclusivamente deste material egoístico. Não somos capazes de corrigir o egoísmo por nós mesmos, podemos apenas modificar o modo como o utilizamos. Ao se corrigir, o homem não se separa do seu Kli egoísta. Ele modifica a intenção com a qual o utiliza.

 

Um Kli com uma intenção altruísta é chamado de Espiritual. Esse Kli é um vaso de recepção de prazer e conhecimento que se modifica, passa por correções e aumenta de tamanho durante o processo de desenvolvimento espiritual.

 

Um cabalista não é reconhecível pela sua aparência externa. Todos são pessoas enérgicas e objetivas que não abdicam deste mundo e nem se escondem (exceto em casos especiais, quando for por ordem expressa do Criador). Muitas tentações permanecem à espreita à medida que um cabalista avança na espiritualidade, e muitos contratempos imprevisíveis aparecem no seu caminho de modo repentino. Só ao alcançar um nível mais alto ele vê por que lhe foram enviadas todas essas dificuldades. Nada é feito em vão, tudo nos é enviado para um maior avanço espiritual. O que quer que seja enviado ao homem, em determinado nível, deve ser aceito com a fé acima da razão, lembre-se bem disso.

 

Uma pessoa que está pronta para largar tudo, que não precisa de nada, não consegue avançar. Enquanto estiver estudando Kabbalah, o homem torna-se cada vez mais egoísta, todas as suas qualidades negativas vêm à tona, chega a ser detestável aos seus próprios olhos. Isso continua desse modo até que ele não seja mais capaz de suportar suas próprias características. Depois, ele finalmente é obrigado a clamar ao Criador por ajuda. Nesse momento, ele implora que o Criador o liberte do seu egoísmo e o substitua por altruísmo, pois vê claramente o quanto ele perde por causa das suas qualidades egoístas.

 

Por outro lado, aquele que não se sente assim não consegue ver essas qualidades negativas em si mesmo. E não consegue nem acreditar que alguém seja capaz de pedir algo desse tipo. Dessa forma, não há pressão ou coerção na Kabbalah, apenas o método levando um aluno à percepção das suas qualidades negativas através da sensação do quão oposto ele é da Eternidade e Perfeição.

 

Apenas a Kabbalah pode levar o homem a transformar suas propriedades de forma que estejam de acordo com as propriedades Espirituais mais altas. A Torá possui duas partes: a óbvia e aberta, e a secreta e oculta. A parte aberta fala sobre o cumprimento mecânico dos Mandamentos. Ela se chama “aberta” porque o modo como o homem a observa é evidente. Essa parte da Torá é estudada e executada pelas massas.

 

Sendo assim, uma restrição é imposta sobre essa parte: “Nada a acrescentar e nada a diminuir”. Por exemplo: a pessoa não pode acrescentar mais Tzitzit (franjas do manto ritual) às suas roupas, ou fixar mais uma Mezuzah (receptáculo que é fixado no batente da casa Judaica e que contém um excerto das Sagradas Escrituras), ou ainda checar a adequação dos alimentos com um microscópio sendo que é dito que a pessoa deve checá-la a olho nu, e assim por diante. Com muita freqüência, aqueles que não compreendem a essência da Torá e seu propósito nesse mundo concentram-se mais nas ações mecânicas.

 

A segunda parte da Torá, a secreta, fala sobre a intenção do homem (Kavaná) em todas as suas ações. Apenas essa intenção concentrada pode transformar as ações do homem no seu oposto, sem repressão, utilizando o seu egoísmo natural. Já que a intenção do homem está oculta daqueles ao seu redor, a parte da Torá que ensina a intenção correta é chamada de “oculta”, ou Kabbalah. Ela instrui a pessoa em como receber tudo o que foi preparado para ela pelo Criador.

 

Essa parte da Torá estimula um aumento constante da intenção a fim de que, quanto maior ela for, mais o homem recebe do Mundo Espiritual. Ele sente o Mundo Espiritual na medida da sua intenção, começando pelo nível mais baixo do Universo até a intenção completa sobre todo o seu verdadeiro egoísmo, o nível mais alto do Universo, a unificação plena com o Criador.

 

Durante os últimos 6000 anos, diversos tipos de almas desceram ao nosso mundo, das mais puras (nas primeiras gerações do mundo) até as mais corruptas (na nossa época). Para a correção das primeiras almas, nem a Torá foi necessária. Só por existirem, seu sofrimento animal já realizou sua correção. O processo de acumular sofrimentos durante a existência da alma em um corpo do nosso mundo leva à necessidade espiritual (oculta da alma) de entrar no Mundo Superior enquanto ainda existir nesse corpo.

 

Entretanto, as primeiras almas não haviam acumulado sofrimentos suficiente para sentir a necessidade de abdicar do seu próprio egoísmo. Seu modo de pensar primitivo e animal (Aviut insuficiente) não seria capaz de gerar, nelas, a necessidade pela elevação espiritual, não as faria avançar na direção do Criador.

 

Todas as experiências emocionais pessoais, sofrimentos e conhecimentos das almas que descem são acumulados em um vaso espiritual coletivo, uma alma geral chamada “Adam”. Depois de dois mil anos acumulando essa experiência coletiva, a humanidade sentiu a necessidade do cumprimento mecânico e inconsciente dos Mandamentos, mas as regras do Mundo Espiritual, que não possuem correspondentes em nosso mundo, nada tem a ver com isso. Como consequência, aos que não conhecem a verdadeira origem espiritual dos Mandamentos, estes lhes parecem muito estranhos.

 

Nessa época, a Torá foi entregue à humanidade, mas apenas a um pequeno grupo de pessoas. Durante o seguinte e último período de dois mil anos, um desejo consciente pelo espiritual e uma necessidade de autocorreção começam a se manifestar. Isso se tornou especialmente forte na época do grande cabalista Ari, e continua a se fortalecer até a nossa geração.

 

O último estado de todo o Universo é a Correção Final (Gmar Tikkun), no qual o ponto mais baixo da Criação alcança o mesmo estado que o mais alto. O Criador, de uma só vez, criou esse estado. Todos já estamos lá. Então por que nos foi dado instruções para o recebermos? Isso se refere ao fato de que não sentimos nosso verdadeiro estado através dos nossos desejos egoístas atuais.

 

De acordo com a Kabbalah, se não evoluirmos ou corrigirmos nossos sentidos conforme a instrução (“Torá” deriva da palavra “Ohra'a”, instrução), começaremos a ser apressados, empurrados por sofrimentos e pressão. A instrução é dada para encurtar o período de sofrimento por acelerar a velocidade desse rito de passagem, tornando o sofrimento diferente em natureza e substituindo o sofrimento de ódio pelo sofrimento de amor.

 

Por que o Criador necessita do nosso sofrimento? Ele poderia ter feito o nosso processo de crescimento espiritual indolor. Claro que Ele poderia. Entretanto, Seu desejo era que tivéssemos algum tipo de queixa contra Ele para que pudéssemos nos dirigir a Ele pedindo ajuda, entrar em contato com Ele, sentir necessidade Dele. Essa conexão com Ele é o verdadeiro objetivo da Criação, enquanto que a correção é apenas um meio para este fim.

 

O surgimento da necessidade pela ajuda do Criador, no que se refere à conexão com Ele, só é possível quando sentimos uma verdadeira avidez pelo prazer espiritual. A sensação da falta de perfeição deve anteceder a sensação de perfeição. Tudo na Criação só é compreendido a partir do seu estado oposto. Primeiro, um desejo é criado, e só então a pessoa pode sentir prazer na satisfação desse desejo pela coisa desejada. Não conseguiremos sentir nossa condição final e perfeita agora sem que ela seja precedida por sofrimento pela ausência dessa perfeição.

 

Todos nós sentimos nossa condição atual como imperfeita devido à ausência dos Kelim (desejos) correspondentes corrigidos. Se começarmos a corrigi-los, então, para cada Kli corrigido, começaremos a sentir uma fração do estado perfeito verdadeiro. Do mesmo modo, uma vez que corrigirmos todos os nossos Kelim sentiremos a completa perfeição. A fim de completar nossa correção, devemos criar em nós mesmos a possibilidade de sentir cada nuance dessa perfeição.

 

Esse longo processo demora 6000 anos, isto é, 6000 níveis de correção que se chamam “o período de existência deste mundo”, em outras palavras, o período em que sentimos nossa imperfeição. Todos nós existimos em corpos biológicos nos quais um “computador biológico” é instalado. O nosso “computador” é muito mais sofisticado que o dos organismos animais, pois o nosso comporta um egoísmo maior. Esse “computador” é a nossa mente, que nada mais é que uma calculadora mecânica que nos permite escolher o melhor estado, e o mais confortável, em qualquer situação.

 

Isso nada tem a ver com espiritualidade. A espiritualidade começa quando um “ponto negro no coração”, que é instalado de Cima dentro do homem, começa a buscar pelo Mundo Superior. Ele deve ser desenvolvido até o estado de um completo desejo espiritual, o “Partzuf”, no qual, depois, a pessoa recebe informações e sensações espirituais. Se esse ponto não existe em uma pessoa, ela até pode ser um gênio, mas, de acordo com os critérios espirituais, continua sendo nada mais que um animal bem desenvolvido para os parâmetros do mundo espiritual.

 

Afirmamos que a Kabbalah lida com a pergunta mais importante da vida do homem. Existimos em um mundo absolutamente incompreensível, que investigamos com a ajuda dos nossos cinco sentidos. O que quer que nos atinja através desses sentidos é processado em nossa mente, que sintetiza e nos apresenta essa informação como uma representação do mundo. Portanto, o que nos parece ser a realidade que nos cerca, nada mais é que a interpretação da Luz externa a partir dos nossos sentidos incautos.

 

Claro que isso é apenas um fragmento do Universo. Isso significa que o que percebemos é uma pequena fração do que nos cerca. Se tivéssemos sentidos diferentes, perceberíamos outro fragmento, isto é, sentiríamos esse mundo de maneira diferente. Seria como se o mundo ao nosso redor tivesse mudado sendo que, na verdade, toda mudança teria ocorrido em nós, na nossa percepção, enquanto que o mundo continuaria o mesmo. Isso ocorre porque, fora de nós, só existe a Luz Superior e Simples do Criador.

 

Percebemos a maneira com que o nosso organismo reage às influências externas. Tudo depende da sensibilidade dos nossos órgãos. Se eles fossem mais sensíveis, sentiríamos os átomos penetrando o nosso corpo. Compreenderíamos, sentíriamos e perceberíamos não os objetos em si mesmos mas sua interação, não a sua essência, mas sua forma externa e material. Do mesmo modo, nenhum aparelho criado por nós é capaz de registrar uma ação em si mesma, apenas a reação a ela.

 

Nada do que gostaríamos de saber sobre o nosso mundo a fim de entender o significado da nossa existência nele depende da estrutura da nossa compreensão, do tipo de perguntas que fazemos. Nossa natureza, nossas qualidades inatas, determinam o nível da nossa curiosidade intelectual. O Criador, tendo programado nossas propriedades, de certa forma nos diz, internamente, o que deve nos interessar, o que devemos pesquisar, compreender ou descobrir. Portanto, no fim, o Criador nos leva à revelação de Si Mesmo.

 

As diversas ciências que estudam o homem revelam apenas questões sobre o próprio homem. Tudo o que o excede permanece inacessível. Portanto, a questão sobre o significado da nossa vida não pode ser solucionada através da ciência, pois a ciência nada descobre fora de nós, apenas o que está em conexão conosco, com nossos sentidos, nossos equipamentos, nossas reações e as reações dos nossos equipamentos que se comunicam com o mundo exterior.

 

Os questionamentos humanos mais globais acerca do nascimento, do sentido da vida e da morte podem ser solucionados apenas ao compreendermos o que se encontra fora de nós. Não ao descobrir e pesquisar nossas reações ao mundo exterior, mas através do conhecimento objetivo referente a esse mundo. É exatamente isso que é inacessível à pesquisa científica. Só quando o homem adentra o Mundo Espiritual que ele recebe o dom de compreender a realidade objetiva, como e o quê realmente existe fora de nós.

 

Há um método através do qual a pessoa é capaz de receber a informação completa sobre o Universo inteiro, ou seja, o que existe além das barreiras das sensações e sentimentos humanos, o que acontece fora de si mesmo. Esse método se chama Kabbalah. Aquele que o domina é chamado de cabalista.

 

Este é um método muito antigo e especial. Ele foi criado por pessoas que, enquanto ainda viviam em nosso mundo, conseguiram sentir os Mundos Espirituais e nos transmitir suas sensações. O método cabalístico que eles utilizaram por séculos foi sendo descrito com cada vez mais detalhamento, levando em consideração as propriedades das gerações para as quais era destinado. Foi assim até chegar à forma que somos capazes estudar hoje. Esse é o resultado de cinco mil anos de desenvolvimento espiritual.

 

Cada geração posterior de cabalistas, guiada pela experiência anterior, trabalhou no desenvolvimento de um método para alcançar o Mundo Espiritual externo que fosse adequado à sua geração. Os livros que eles usavam para estudar Kabbalah há 2 ou 3 mil anos, mesmo há 400 ou 500 anos, já não são mais adequados para nós. Podemos utilizá-los apenas de forma limitada. O último grande cabalista que adaptou a Kabbalah para o uso da nossa geração foi o Rabi Yehuda Leib Halevi Ashlag (1885-1955). Ele escreveu o Comentário ao Livro do Zohar e aos livros do Ari. Seu livro O Estudo das Dez Sefirot, de 6 volumes, é a principal obra de Kabbalah e é a única instrução prática para alcançarmos a espiritualidade.

 

A fim de auxiliar o iniciante a estudar essa obra fundamental, o Rabi Yehuda Ashlag escreveu o "Preâmbulo à Sabedoria da Cabalá", que é um sumário conciso do que se encontra no Estudo das Dez Sefirot. Ele oferece uma compreensão da estrutura do Universo erguendo levemente o véu para este fim, além de explicar o papel do nosso mundo na compreensão de todo o Universo.

 

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