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A ordem descendente do “desejo de
receber”, mencionada acima, é dividida em quatro níveis (Behinot). Essa ordem
está codificada no Mistério do Nome do Criador. O Universo submete-se à ordem
dessas quatro letras, HaVaYaH (Yud-Hey-Vav-Hey). Essas letras correspondem às
dez Sefirot: Chochmá, Biná, Tiferet (ou Zeir Anpin), Malchut e sua raiz. Por
que são dez? Porque a Sefirá Tiferet inclui 6 Sefirot: Chessed, Guevurá, Tiferet,
Netzach, Hod e Yesod.
A raiz de todas essas Sefirot é
chamada de Keter, mas geralmente ela não é incluída na contagem das Sefirot,
portanto, se diz ChuB-TuM. Esses quatro Behinot correspondem aos quatro Mundos:
Atzilut, Beriá, Yetzirá e Assiyá. O Mundo de Assyiá também inclui Esse Mundo
(Olam Hazeh). Não existe um único ser criado neste mundo cuja raiz não esteja
no Mundo do Infinito, no Plano da Criação. O Plano da Criação é o desejo do
Criador de dar prazer a todos os seres criados.
O Plano inclui tanto a Luz quanto o Vaso. A Luz emana diretamente
do Criador, enquanto que o desejo de receber prazer foi algo novo criado pelo
Criador, criado a partir do nada. Para que o ‘desejo de receber prazer” atinja
o seu desenvolvimento final, ele deve passar por todos os mundos de Atzilut,
Beriá, Yetzirá e Assiyá (ABYA), juntamente com a Luz. Então, o desenvolvimento
da Criação finaliza-se com a formação, dentro de si, da Luz e do Vaso, chamados
de “Luz de Vida” e “Corpo”.
A conexão entre o Criador e a Criação é chamada de “Mundo do
Infinito” (Ein Sof). A medida em que
os objetos espirituais mais baixos a compreendem, eles passam a chamá-la pelos
nomes das Luzes Superiores. Já que o desejo do Criador era doar prazer para os
seres criados, Ele criou alguém que fosse capaz de receber esse prazer Dele.
Para tanto, foi suficiente a Criação do desejo de receber prazer chamado “Malchut” ou “Mundo do Infinito”.
Uma vez que neste estado Malchut
recebe para si mesma sem fazer qualquer restrição sobre a recepção,
posteriormente, Malchut realiza uma
restrição sobre a recepção da Luz-prazer.
Está dito que o “desejo de receber”
foi finalizado no Mundo de Assyiá.
Então isso significa que o maior “desejo de receber” existe nesse Mundo de Assiyá? Apesar disso, ainda que o Mundo
de Assiyá seja apenas Behina Shoresh
e possua a Luz mais fraca, no Mundo de AK
existe a Luz de Keter. O conceito “Mundo
de Assiyá” possui dois significados:
a. Todo o Behina Dalet é chamado de Mundo de Assyiá.
b.
O Mundo de Assyiá
por si mesmo.
Para compreender o significado do primeiro conceito, é preciso
saber que o vaso finalizado é chamado de “Behina
Dalet”, mas, na verdade, o verdadeiro vaso (Kli) já está presente no Behina Aleph. Keter é “o desejo de doar prazer à criação”; Chochmá é “o desejo de receber esse prazer” e está totalmente
preenchido pela Luz. Ainda assim, o Kli
deve passar por mais quatro níveis até o seu desenvolvimento final.
Estudamos tudo sob a perspectiva
da nossa natureza, pois todas as leis derivam das raízes espirituais. Em nosso
mundo, a medida do prazer do homem depende da intensidade dos seus esforços por
esse prazer. Uma paixão avassaladora gera um grande prazer, enquanto que um
pequeno desejo gera um pequeno prazer. Para que o homem alcance um desejo
verdadeiro duas condições são necessárias:
a. O homem não é capaz de
empenhar-se por algo do qual nunca ouviu falar antes. Ele deve saber o que
quer, ou seja, alguma uma vez ele já deve tê-lo possuído.
b. Mas ele também não é capaz de
se empenhar por algo que já possua. Portanto, quatro níveis de desenvolvimento
do Kli são necessários para que ele
atinja sua forma final.
Malchut detinha toda a Luz do Mundo do
Infinito. Entretanto, o vaso é caracterizado pela diferença entre as suas
propriedades e as do Criador, o que não existe no Mundo do Infinito. Com o seu
desenvolvimento subsequente, percebemos que o vaso verdadeiro é a ausência da
Luz.
No Mundo de Assiyá, o Kli não recebe absolutamente nada, pois
tudo o que deseja é receber; portanto, é definido como um vaso genuíno. Ele
está tão distante do Criador que não sabe nada sobre sua Raiz. Como resultado,
o homem deve acreditar que foi criado pelo Criador, apesar de ser incapaz de
sentir isso.
Conclusão: o vaso não é algo ou alguém que tem muito, pelo
contrário, é algo ou alguém que está muito distante. Ele está totalmente
desconectado da Luz. Enquanto ainda receber apenas para si mesmo, o vaso não
possui o “desejo de doar”. Tudo o que pode fazer é crer que este desejo existe…
O homem é de fato incapaz de compreender por que deve se esforçar para doar.
Qual o sentido da existência para um vaso que não tem uma faísca
da Luz e está extremamente distante do Criador? Esses vasos devem começar a
trabalhar pelo propósito de doar com objetos que são, até então, irreais. Baal
HaSulam traz o seguinte exemplo: No passado, tudo era muito caro, então, as
crianças eram ensinadas primeiro a escrever com giz sobre uma lousa, pois
poderiam apagar o que haviam escrito errado, e apenas aquelas que tinham
aprendido a escrever corretamente recebiam papel.
O mesmo se aplica a nós: Primeiro, recebemos ferramentas de
brinquedo e, depois, caso tenhamos aprendido a adicionar ao nosso desejo a
intenção pelo Criador, seremos capazes de ver a Luz verdadeira. O Kli foi criado dessa maneira a fim de
que se acostume ao trabalho real.
Antes do aparecimento das almas, todas as ações são realizadas
pelo Criador. Com isso, Ele mostra a elas como devem agir. Por exemplo: Como
alguém aprende a jogar xadrez? As jogadas são realizadas para que o aluno
observe e, dessa maneira, ele aprende. Por isso os Mundos descendem de Cima: o
Criador realiza todas as ações relacionadas tanto aos níveis mais altos quanto
aos mais baixos. Então, em um segundo estágio, as almas passam a subir por si
mesmas.
Nesse ínterim, nos esforçamos para receber brinquedos, não
espiritualidade. Como consequência, a Luz da Torá está oculta de nós. O homem
seria incapaz de receber, para o Criador, os grandes prazeres que lhe são
oferecidos.
Baal HaSulam nos traz um outro exemplo: Um homem deposita todos os
seus objetos de valor sobre uma mesa - ouro, prata, diamantes. De repente,
alguns estranhos vêm à sua casa. E ele teme que seus tesouros sejam roubados.
Então, o que ele faz? Desliga as luzes para que ninguém veja que há objetos
preciosos na casa.
O desejo pela espiritualidade não existe em nós por não termos o “desejo
de receber”, pelo contrário, ele não existe porque não conseguimos enxergar
nada. Não conseguimos ver as árvores na madeira. Quanto mais o homem se purifica,
mais ele começa a enxergar. Então seu Kli
(o “desejo de receber”) cresce de forma gradual, pois ele passa a desejar
sentir prazeres maiores.
Por exemplo, se a pessoa consegue receber ½ kg de prazer com o
propósito de doar, então ela recebe 1 kg. Depois, se essa quantidade também for
recebida com a intenção pelo Criador, então ela receberá 2 kg de prazer, e
assim por diante.
A esse respeito, os sábios dizem que: “Aquele que alcançou níveis
mais elevados de Torá, possui desejos maiores”. Ainda assim, não somos capazes
de enxergar nada até que nossos desejos adquiram a intenção de receber com o
propósito de doar. Nesse sentido, a única distinção entre um leigo e um
religioso é que o primeiro aspira receber apenas os prazeres deste mundo
enquanto que o último, além destes prazeres, também deseja receber o prazer do
Mundo Vindouro.
O poder que o desejo de receber exerce sobre todas as criaturas é
tão grande que os sábios, referindo-se a isso, dizem que: “A lei que governa as
pessoas é esta 'o que é meu é meu e o que é seu é seu' e só o medo impede o
homem de dizer 'o que é seu é meu'”.
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