quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Três conceitos essenciais da Kabbalah (3)

 

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A ordem descendente do “desejo de receber”, mencionada acima, é dividida em quatro níveis (Behinot). Essa ordem está codificada no Mistério do Nome do Criador. O Universo submete-se à ordem dessas quatro letras, HaVaYaH (Yud-Hey-Vav-Hey). Essas letras correspondem às dez Sefirot: Chochmá, Biná, Tiferet (ou Zeir Anpin), Malchut e sua raiz. Por que são dez? Porque a Sefirá Tiferet inclui 6 Sefirot: Chessed, Guevurá, Tiferet, Netzach, Hod e Yesod.

 

A raiz de todas essas Sefirot é chamada de Keter, mas geralmente ela não é incluída na contagem das Sefirot, portanto, se diz ChuB-TuM. Esses quatro Behinot correspondem aos quatro Mundos: Atzilut, Beriá, Yetzirá e Assiyá. O Mundo de Assyiá também inclui Esse Mundo (Olam Hazeh). Não existe um único ser criado neste mundo cuja raiz não esteja no Mundo do Infinito, no Plano da Criação. O Plano da Criação é o desejo do Criador de dar prazer a todos os seres criados.

 

O Plano inclui tanto a Luz quanto o Vaso. A Luz emana diretamente do Criador, enquanto que o desejo de receber prazer foi algo novo criado pelo Criador, criado a partir do nada. Para que o ‘desejo de receber prazer” atinja o seu desenvolvimento final, ele deve passar por todos os mundos de Atzilut, Beriá, Yetzirá e Assiyá (ABYA), juntamente com a Luz. Então, o desenvolvimento da Criação finaliza-se com a formação, dentro de si, da Luz e do Vaso, chamados de “Luz de Vida” e “Corpo”.

 

A conexão entre o Criador e a Criação é chamada de “Mundo do Infinito” (Ein Sof). A medida em que os objetos espirituais mais baixos a compreendem, eles passam a chamá-la pelos nomes das Luzes Superiores. Já que o desejo do Criador era doar prazer para os seres criados, Ele criou alguém que fosse capaz de receber esse prazer Dele. Para tanto, foi suficiente a Criação do desejo de receber prazer chamado “Malchut” ou “Mundo do Infinito”.

 

Uma vez que neste estado Malchut recebe para si mesma sem fazer qualquer restrição sobre a recepção, posteriormente, Malchut realiza uma restrição sobre a recepção da Luz-prazer.

 

Está dito que o “desejo de receber” foi finalizado no Mundo de Assyiá. Então isso significa que o maior “desejo de receber” existe nesse Mundo de Assiyá? Apesar disso, ainda que o Mundo de Assiyá seja apenas Behina Shoresh e possua a Luz mais fraca, no Mundo de AK existe a Luz de Keter. O conceito “Mundo de Assiyá” possui dois significados:

a.     Todo o Behina Dalet é chamado de Mundo de Assyiá.

b.    O Mundo de Assyiá por si mesmo.

 

Para compreender o significado do primeiro conceito, é preciso saber que o vaso finalizado é chamado de “Behina Dalet”, mas, na verdade, o verdadeiro vaso (Kli) já está presente no Behina Aleph. Keter é “o desejo de doar prazer à criação”; Chochmá é “o desejo de receber esse prazer” e está totalmente preenchido pela Luz. Ainda assim, o Kli deve passar por mais quatro níveis até o seu desenvolvimento final.

 

Estudamos tudo sob a perspectiva da nossa natureza, pois todas as leis derivam das raízes espirituais. Em nosso mundo, a medida do prazer do homem depende da intensidade dos seus esforços por esse prazer. Uma paixão avassaladora gera um grande prazer, enquanto que um pequeno desejo gera um pequeno prazer. Para que o homem alcance um desejo verdadeiro duas condições são necessárias: 

a. O homem não é capaz de empenhar-se por algo do qual nunca ouviu falar antes. Ele deve saber o que quer, ou seja, alguma uma vez ele já deve tê-lo possuído.

b. Mas ele também não é capaz de se empenhar por algo que já possua. Portanto, quatro níveis de desenvolvimento do Kli são necessários para que ele atinja sua forma final.

 

Malchut detinha toda a Luz do Mundo do Infinito. Entretanto, o vaso é caracterizado pela diferença entre as suas propriedades e as do Criador, o que não existe no Mundo do Infinito. Com o seu desenvolvimento subsequente, percebemos que o vaso verdadeiro é a ausência da Luz.

 

No Mundo de Assiyá, o Kli não recebe absolutamente nada, pois tudo o que deseja é receber; portanto, é definido como um vaso genuíno. Ele está tão distante do Criador que não sabe nada sobre sua Raiz. Como resultado, o homem deve acreditar que foi criado pelo Criador, apesar de ser incapaz de sentir isso.

 

Conclusão: o vaso não é algo ou alguém que tem muito, pelo contrário, é algo ou alguém que está muito distante. Ele está totalmente desconectado da Luz. Enquanto ainda receber apenas para si mesmo, o vaso não possui o “desejo de doar”. Tudo o que pode fazer é crer que este desejo existe… O homem é de fato incapaz de compreender por que deve se esforçar para doar.

 

Qual o sentido da existência para um vaso que não tem uma faísca da Luz e está extremamente distante do Criador? Esses vasos devem começar a trabalhar pelo propósito de doar com objetos que são, até então, irreais. Baal HaSulam traz o seguinte exemplo: No passado, tudo era muito caro, então, as crianças eram ensinadas primeiro a escrever com giz sobre uma lousa, pois poderiam apagar o que haviam escrito errado, e apenas aquelas que tinham aprendido a escrever corretamente recebiam papel.

 

O mesmo se aplica a nós: Primeiro, recebemos ferramentas de brinquedo e, depois, caso tenhamos aprendido a adicionar ao nosso desejo a intenção pelo Criador, seremos capazes de ver a Luz verdadeira. O Kli foi criado dessa maneira a fim de que se acostume ao trabalho real.

 

Antes do aparecimento das almas, todas as ações são realizadas pelo Criador. Com isso, Ele mostra a elas como devem agir. Por exemplo: Como alguém aprende a jogar xadrez? As jogadas são realizadas para que o aluno observe e, dessa maneira, ele aprende. Por isso os Mundos descendem de Cima: o Criador realiza todas as ações relacionadas tanto aos níveis mais altos quanto aos mais baixos. Então, em um segundo estágio, as almas passam a subir por si mesmas.

 

Nesse ínterim, nos esforçamos para receber brinquedos, não espiritualidade. Como consequência, a Luz da Torá está oculta de nós. O homem seria incapaz de receber, para o Criador, os grandes prazeres que lhe são oferecidos.

 

Baal HaSulam nos traz um outro exemplo: Um homem deposita todos os seus objetos de valor sobre uma mesa - ouro, prata, diamantes. De repente, alguns estranhos vêm à sua casa. E ele teme que seus tesouros sejam roubados. Então, o que ele faz? Desliga as luzes para que ninguém veja que há objetos preciosos na casa.

 

O desejo pela espiritualidade não existe em nós por não termos o “desejo de receber”, pelo contrário, ele não existe porque não conseguimos enxergar nada. Não conseguimos ver as árvores na madeira. Quanto mais o homem se purifica, mais ele começa a enxergar. Então seu Kli (o “desejo de receber”) cresce de forma gradual, pois ele passa a desejar sentir prazeres maiores.

 

Por exemplo, se a pessoa consegue receber ½ kg de prazer com o propósito de doar, então ela recebe 1 kg. Depois, se essa quantidade também for recebida com a intenção pelo Criador, então ela receberá 2 kg de prazer, e assim por diante.

 

A esse respeito, os sábios dizem que: “Aquele que alcançou níveis mais elevados de Torá, possui desejos maiores”. Ainda assim, não somos capazes de enxergar nada até que nossos desejos adquiram a intenção de receber com o propósito de doar. Nesse sentido, a única distinção entre um leigo e um religioso é que o primeiro aspira receber apenas os prazeres deste mundo enquanto que o último, além destes prazeres, também deseja receber o prazer do Mundo Vindouro.

 

O poder que o desejo de receber exerce sobre todas as criaturas é tão grande que os sábios, referindo-se a isso, dizem que: “A lei que governa as pessoas é esta 'o que é meu é meu e o que é seu é seu' e só o medo impede o homem de dizer 'o que é seu é meu'”.

 

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