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A necessidade de que o “desejo de receber” se desenvolva em quatro
níveis (Behinot) através dos Mundos de ABYA deve-se à existência da regra que
diz que apenas a expansão da Luz, e sua subsequente expulsão, deixa o vaso
adequado para o uso.
Uma explicação: Quando o vaso é preenchido
pela Luz, Luz e Vaso conectam-se de forma inseparável. Na verdade, o vaso
torna-se inexistente, ele anula-se, da mesma forma que a chama de uma vela
desaparece frente à chama de uma tocha.
O desejo é satisfeito e, portanto,
deixa de existir. Ele só pode reaparecer depois que a Luz que existe nele
deixar de preenchê-lo. A Luz emana diretamente da Essência do Criador, do
Pensamento da Criação. Essa Luz é um “desejo de doar” e em nada se assemelha
com o “desejo de receber”. O vaso é absolutamente oposto a ela: ele consiste de
um enorme “desejo de receber” a Luz.
O vaso é uma raiz, a fonte de algo muito recente, que não existia
antes da Criação. O vaso não possui qualquer “desejo de doar”. Uma vez que a
Luz e o Vaso estiverem conectados de forma inseparável, o “desejo de receber” é
anulado pela Luz. O vaso adquire uma forma determinada somente depois de
expulsar a Luz do seu interior. Só então o vaso começa a ansiar pela Luz. Esse
desejo fervoroso determina a forma necessária do “seu 'desejo de receber'”.
Quando a Luz penetra novamente o vaso, eles se tornam dois objetos separados -
vaso e Luz, ou, corpo e vida. Anote bem isso, pois estes são conceitos muito
profundos.
Quando o Kli começa a
receber, ele deve sentir que “agora eu estou recebendo prazer”. Mas a Luz que
carrega esse prazer não permite a este “eu” mostrar-se e ser sentido pelo Kli. Dessa forma, o “eu” se anula. Isso
significa que o Kli não sente que
está recebendo, ainda que esteja.
O Rabi Baruch Ashlag traz o seguinte exemplo: Um homem já velho
ganha $100.000,00 na loteria, mas seus amigos têm medo de lhe dar a notícia,
achando que ele pode ter um ataque cardíaco e morrer devido ao grande
entusiasmo. Entretanto, um deles diz que pode dar a notícia sem lhe causar
qualquer dano. Ele vai até o velho e lhe pergunta: “Você compartilharia $10,00
comigo se você ganhasse na loteria?”. “É claro que sim!”, responde o velho. “E
se fosse $100,00, ainda assim você compartilharia o prêmio comigo?”. “Ora, por
que não?”, respondeu o velho. Isso continuou até que a soma alcançou o valor de
$100.000,00, e então o convidado perguntou: “Você está pronto para oficializar
o nosso acordo?”. “Sim, certamente estou!”, exclamou o velho. Nesse mesmo
instante, o convidado teve um colapso e morreu.
Com este exemplo, vemos que o homem pode vir a falecer devido a um
grande prazer, uma vez que uma Luz tão poderosa anula o “desejo de receber”.
Nesse caso, o Kli desaparece e a Luz
é forçada a se retirar a fim de incentivar o Kli a empenhar-se para obtê-la.
Por que, então, a Luz não anula o Kli, o Behina Dalet, ao
retornar a ele? Quando a Ohr e o Kli estão juntos no Behina Aleph, tanto o “desejo de doar” quanto o “desejo de receber”
devem se expandir. Entretanto, já que eles são opostos entre si, o “desejo de
doar” anula o “desejo de receber”, ou seja, o impede de se expandir.
Depois que o Behina Dalet
se forma, a Luz não pode anulá-lo, uma vez que eles representam duas forças
existentes. No Behina Aleph, a Luz
não permite que o “desejo de receber” se expanda e cresça, entretanto, uma vez
que ele já se desenvolveu, a Luz não pode intervir.
Por exemplo, dois homens estão brigando. Um deles impede o outro
de entrar na sua casa. Faz diferença se eles estiverem brigando fora da casa ou
se o intruso já estiver lá dentro? Se dizemos que não existe nada além do
Criador, que deseja doar prazer, e da Criação, que se empenha por ele, é
suficiente termos Keter como doador e
Chochmá como receptor.
Na fase Chochmá, o “desejo
de receber” está unificado com a Luz, que o impede de sentir que é um receptor.
Esse estado não é perfeito, já que o Kli precisa
sentir que recebe. Por exemplo, um homem dá algo ao seu amigo, mas ele não
consegue sentir isso. Nesse caso, o doador viola o mandamento “Não destruirás”.
Dessa forma, fica claro por que
não recebemos coisas importantes (preciosas). Uma vez que estamos satisfeitos
com pequenos prazeres, não somos dignos de receber coisas valiosas. Portanto, o
desenvolvimento em quatro fases é necessário para o nascimento do Kli, que sente quando recebe.
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