sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Três conceitos essenciais da Kabbalah (4)


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A necessidade de que o “desejo de receber” se desenvolva em quatro níveis (Behinot) através dos Mundos de ABYA deve-se à existência da regra que diz que apenas a expansão da Luz, e sua subsequente expulsão, deixa o vaso adequado para o uso.

 

Uma explicação: Quando o vaso é preenchido pela Luz, Luz e Vaso conectam-se de forma inseparável. Na verdade, o vaso torna-se inexistente, ele anula-se, da mesma forma que a chama de uma vela desaparece frente à chama de uma tocha.

 

O desejo é satisfeito e, portanto, deixa de existir. Ele só pode reaparecer depois que a Luz que existe nele deixar de preenchê-lo. A Luz emana diretamente da Essência do Criador, do Pensamento da Criação. Essa Luz é um “desejo de doar” e em nada se assemelha com o “desejo de receber”. O vaso é absolutamente oposto a ela: ele consiste de um enorme “desejo de receber” a Luz.

 

O vaso é uma raiz, a fonte de algo muito recente, que não existia antes da Criação. O vaso não possui qualquer “desejo de doar”. Uma vez que a Luz e o Vaso estiverem conectados de forma inseparável, o “desejo de receber” é anulado pela Luz. O vaso adquire uma forma determinada somente depois de expulsar a Luz do seu interior. Só então o vaso começa a ansiar pela Luz. Esse desejo fervoroso determina a forma necessária do “seu 'desejo de receber'”. Quando a Luz penetra novamente o vaso, eles se tornam dois objetos separados - vaso e Luz, ou, corpo e vida. Anote bem isso, pois estes são conceitos muito profundos.

 

Quando o Kli começa a receber, ele deve sentir que “agora eu estou recebendo prazer”. Mas a Luz que carrega esse prazer não permite a este “eu” mostrar-se e ser sentido pelo Kli. Dessa forma, o “eu” se anula. Isso significa que o Kli não sente que está recebendo, ainda que esteja.

 

O Rabi Baruch Ashlag traz o seguinte exemplo: Um homem já velho ganha $100.000,00 na loteria, mas seus amigos têm medo de lhe dar a notícia, achando que ele pode ter um ataque cardíaco e morrer devido ao grande entusiasmo. Entretanto, um deles diz que pode dar a notícia sem lhe causar qualquer dano. Ele vai até o velho e lhe pergunta: “Você compartilharia $10,00 comigo se você ganhasse na loteria?”. “É claro que sim!”, responde o velho. “E se fosse $100,00, ainda assim você compartilharia o prêmio comigo?”. “Ora, por que não?”, respondeu o velho. Isso continuou até que a soma alcançou o valor de $100.000,00, e então o convidado perguntou: “Você está pronto para oficializar o nosso acordo?”. “Sim, certamente estou!”, exclamou o velho. Nesse mesmo instante, o convidado teve um colapso e morreu.

 

Com este exemplo, vemos que o homem pode vir a falecer devido a um grande prazer, uma vez que uma Luz tão poderosa anula o “desejo de receber”. Nesse caso, o Kli desaparece e a Luz é forçada a se retirar a fim de incentivar o Kli a empenhar-se para obtê-la.

 

Por que, então, a Luz não anula o Kli, o Behina Dalet, ao retornar a ele? Quando a Ohr e o Kli estão juntos no Behina Aleph, tanto o “desejo de doar” quanto o “desejo de receber” devem se expandir. Entretanto, já que eles são opostos entre si, o “desejo de doar” anula o “desejo de receber”, ou seja, o impede de se expandir.

 

Depois que o Behina Dalet se forma, a Luz não pode anulá-lo, uma vez que eles representam duas forças existentes. No Behina Aleph, a Luz não permite que o “desejo de receber” se expanda e cresça, entretanto, uma vez que ele já se desenvolveu, a Luz não pode intervir.

 

Por exemplo, dois homens estão brigando. Um deles impede o outro de entrar na sua casa. Faz diferença se eles estiverem brigando fora da casa ou se o intruso já estiver lá dentro? Se dizemos que não existe nada além do Criador, que deseja doar prazer, e da Criação, que se empenha por ele, é suficiente termos Keter como doador e Chochmá como receptor.

 

Na fase Chochmá, o “desejo de receber” está unificado com a Luz, que o impede de sentir que é um receptor. Esse estado não é perfeito, já que o Kli precisa sentir que recebe. Por exemplo, um homem dá algo ao seu amigo, mas ele não consegue sentir isso. Nesse caso, o doador viola o mandamento “Não destruirás”.

 

Dessa forma, fica claro por que não recebemos coisas importantes (preciosas). Uma vez que estamos satisfeitos com pequenos prazeres, não somos dignos de receber coisas valiosas. Portanto, o desenvolvimento em quatro fases é necessário para o nascimento do Kli, que sente quando recebe.

  

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