Os muitos anos de ocultação
Nem sempre a Kabbalah foi tão popular e nem os cabalistas
eram tão abertos. Durante muitos séculos a Kabbalah se manteve em segredo,
escondida do olhar do público nos lugares sombrios de reuniões de cabalistas,
que selecionavam a cada estudante de forma meticulosa e ensinavam somente em
grupos bem reduzidos. Por exemplo, o Grupo de Ramchal, a cargo do rabino Moshe
Chaim Luzzato, que ensinou no século XVIII, fazia o ingresso nas aulas algo
muito difícil. O coletivo obrigava o candidato a aceitar um rigoroso pacto de
estilo de vida e de estudo que precisava ser cumprido durante todo o dia, todos
os dias, durante todo o tempo em que o indivíduo se mantivesse como membro do
grupo. Outros grupos, como o de Kotz (nomeado assim em homenagem a uma cidade
da Polônia), costumavam vestir roupas esfarrapadas, e tratavam aos não-membros
com um cinismo ofensivo. De modo deliberado, se afastavam da comunidade ao
aparentar que desobedeciam os costumes judaicos mais sagrados, como o do Dia do
Perdão. Os membros do grupo salpicavam migalhas de pão em suas barbas para
aparentar que haviam comido nesse dia de jejum. Naturalmente, a maioria das
pessoas sentia repulsa por eles.
Não obstante, os mesmos cabalistas que ocultaram a Sabedoria
também fizeram tremendos esforços para escrever os livros que seguem sendo os
pilares da Kabbalah até os dias de hoje. O rabino Isaac Lúria (o Santo Ari),
por exemplo, instruiu a apenas um estudante, mas a publicação de seus livros fez
com que o seu aluno, o rabino Chaim Vital, declarasse que, a partir daquele
momento, o estudo do Livro do Zohar estava permitido a todo aquele que
assim o desejasse. Por esse motivo, ao largo de sua vida o Ari ensinou a um
grupo de estudantes, mas, em seu leito de morte, ordenou a todos, exceto a
Chaim Vital, que deixassem de estudar. O Ari afirmou que somente Chaim Vital
compreendia os ensinamentos de forma apropriada e que temia que, sem um mestre
adequado, o restante dos alunos se desviaria.
Para entendermos esse longo tempo de ocultação dos
cabalistas, é preciso compreender que foi durante o século XVI que o Ari chegou
a Safed, a capital dos cabalistas daquela época. Ele suplicou ao seu único
discípulo, Chaim Vital, que se abstivesse de convidar outras pessoas a estudar.
Chaim Vital, que se transformou num grande cabalista por direito próprio, não
acedeu ao pedido de seu mestre e convidou outros indivíduos a estudar em grupo.
Enquanto ensinava nesse grupo, o Ari produziu um dos textos mais
extraordinários da Kabbalah e da lei judaica até os dias de hoje. De fato, a
kabbalah luriânica que o Ari fundou constitui a maior parte da Kabbalah que
temos na atualidade.
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