A primeira visita
Deus chamou a Alma Primordial e apresentou-lhe um vídeo.
Na Terra, macacos brigavam numa savana.
(Quinhentos mil anos depois, uma cena semelhante apareceria
num filme magnífico, chamado “2001: Uma Odisseia no Espaço”, dirigido por
Stanley Kubrick, baseado no romance de mesmo nome, escrito por Arthur C. Clarke).
O macaco mais forte, com uma clava na mão, espancava outro
macaco até espalhar fragmentos de seu crâneo pela ravina, sob o olhar assustado
de uma fêmea cheirosa.
“Eu”, disse o Altíssimo, “gostaria de passar as férias de
verão na Guarda do Embaú, em Santa Catarina, onde pretendo plantar alguns pés
de erva para a alegria dos bichos-grilhos com piolhos no cabelo e tatuagens
horríveis pelo corpo que venderão incenso e quinquilharias por lá, mas, se a
violência correr solta entre os macacos, eles não conseguirão evoluir. Como
sabes, Eu não gosto de violência e de sangue derramado”.
“Hineni”, exclamou a Alma Primordial, pronta para o
sacrifício.
“É trabalho pesado, Adam Kadmon, ensinar àqueles ignorantes o
amor ao macaco-próximo”, suspirou o Altíssimo.
“Deixa comigo”, disse a Alma Primordial, sempre pronta a
atender aos apelos do Altíssimo, e se fragmentou em seiscentos mil pedaços.
A primeira centelha a cair na Terra despertou o Ruivo Adão
que, no meio da noite, saiu da caverna, olhou para o céu coalhado de estrelas
na Mesopotâmia, e se questionou:
“Por que acordei com o coração acelerado? Quem sou eu? O que
estou fazendo aqui? Qual o propósito da minha vida?”
Quase seis mil anos depois, quando os macacos já estavam mais
amestrados e tinham trocado a clava por tanques, mísseis, e aviões de guerra, o
Altíssimo visitou pela primeira vez o Gan Eden, e pela primeira vez sentiu o
cheiro adocicado que baforavam os emaciados membros da tribo Canabis.
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