O ápice de dar é receber
Mas se o Criador fez o mundo com o fim de brindar Sua
abundância aos seres criados, então o que há de mau em querer receber tudo para
“si mesmo”? Por que receber para si mesmo é percebido como o mal ou como
egoísmo? Por que foi necessário criar um mundo tão imperfeito e uma criação tão
corrupta que devessem ser corrigidos?
Os cabalistas tem buscado as respostas a estas perguntas ao
longo dos séculos. Eles explicam que o Criador recebe prazer outorgando prazer
às pessoas. Se essas pessoas se deleitam com o fato de que ao receberem esse
prazer estão dando ao Criador a possibilidade de outorgar esse deleite, assim,
tanto o Criador como as pessoas coincidem nas qualidades e nos desejos. Todos
estão contentes com o processo de dar. O Criador dá o prazer, enquanto as
pessoas criam as condições para recebê-lo. Todo mundo pensa no outro, não em si
mesmo, e todo o mundo recebe prazer de igual maneira. Essa é uma situação de
benefício mútuo.
Contudo, dado que nós, seres humanos, somos egoístas, somos,
em nosso estado inicial, incapazes de pensar nos demais, pensamos somente em
nós mesmos. Nós, seres humanos, somente somos capazes de dar em situações nas
quais detectamos um benefício pessoal, maior que aquele que oferecemos. Nesse
sentido, o ser humano encontra-se a grande distância do Criador, e, por isso,
não o percebe.
Podemos comparar isso com um comerciante em sua loja: o
vendedor sorri a todos os seus clientes e procura fazer com que se sintam bem
enquanto estão na loja. Tanto os clientes quanto o vendedor sabem que a meta
deste na realidade é fazê-los sentirem-se bem para motivá-los a gastar o seu
dinheiro. Logo, somente porque o vendedor é agradável não necessariamente
pensamos que se trate de uma pessoa de bom coração, mas sim, podemos pensar que
o vendedor é um profissional.
Noutras palavras, o “preço” que o vendedor “paga” pelo teu
dinheiro é um sorriso e um comportamento amável. Não obstante, isto é uma
oferta egoísta. Sem a perspectiva de ganhar dinheiro, o vendedor não seria
sorridente porque não teria esse incentivo. Esse é o nosso comportamento
natural e é por esta razão que os cabalistas dizem que todos nós somos, em
princípio, egoístas.
A meta de um indivíduo é transcender esse egoísmo e avançar
para o Criador emulando as Suas qualidades de doação. Somente então uma pessoa
poderá receber prazer tanto de atos altruístas como de atos egoístas a serviço
de si mesmo. (Mas não te esqueças que, dado que não estamos separados, mas que
somos parte do mundo, o altruísmo é a forma de cuidar do todo que nos inclui.
As ações em benefício próprio que não levam isso em consideração retornam
contra nós próprios). Se um indivíduo aprende a desfrutar do ato de dar porque
isto o faz mais semelhante ao Criador, então esse indivíduo terá alcançado um
estado conhecido na Kabbalah como “dar com o fim de dar”. A gratificação da
pessoa vem somente de ter a capacidade de fazer algo para o Criador.
O desejo por esse nível espiritual está presente em todas as pessoas, embora, na maioria, de modo inconsciente. Quando aparece pela primeira vez, os cabalistas dizem que se sente como que um ponto no coração, o centro de todos os desejos. O que esse ponto significa é algo que devemos descobrir por nós mesmos.
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