O “bom” propósito do “mal”
Talvez não nos surpreenda que muitos desses níveis de desejo,
apesar de não serem maus em sentido intrínseco, conduzem as pessoas a atos aos
quais os cabalistas se referem como “egoísmo", através dos quais as
pessoas trabalham para si mesmas em vez de trabalhar na tentativa de serem
semelhantes ao Criador. Não há nada de mau nisso, em seu sentido lato. O
Criador começou a criação. Para sermos mais exatos, Ele criou o desejo de
receber prazer (criação) que nós transformamos em mal ou corrupção ao
transformar a vontade de receber em egoísmo.
No capítulo anterior falamos sobre o reconhecimento do mal.
Dissemos que se consideramos o nosso estado como completamente nocivo, e Seu
estado como completamente desejável, cruzaremos a barreira e entraremos no
mundo espiritual. A pergunta que permanece aberta é qual é a melhor maneira de
reconhecer nossa maldade, fazendo-o de uma forma rápida e inócua. Aqui é que a
Kabbalah entra em jogo. A vantagem da Kabbalah é que ela te ensina sobre a
natureza humana sem a necessidade de experimentares o mal no nível físico. Esta
é a razão pela qual os cabalistas dizem que não precisamos sofrer. Em seu
lugar, podemos estudar.
Definição: Na Kabbalah, o correto se refere à correção. Ninguém te dirá se
o que és ou o que fazes é correto ou incorreto, mas sim se satisfizeste o teu
desejo de assemelhar-te ao Criador. Se o fizeste, então fizeste o que é
correto. Os cabalistas referem-se à correção como o fato de sincronizarmos a
intenção com que abordamos um desejo de “para mim” a “para o Criador”.
Neste sentido, os humanos terminam a criação do Criador, o
que significa que a corrigem. Dado que nós, humanos, temos a capacidade
de sermos como o Criador, Ele nos delega a liderança da criação, uma vez que
tenhamos nos corrigido. Assim, o bom propósito do mal se realiza somente se o
egoísmo se converte numa força impulsionadora em direção ao Criador, o que
sabemos que não é o caso mais comum. Pelo contrário, o mal é mau em si mesmo, e
produz o mal, como o demonstram os atos egoístas ao longo da história.
O Criador incrementa a pressão sobre nós para que tomemos o
comando sobre nós mesmos. Esta é a razão pela qual o mundo parece fazer-se cada
vez mais hostil: o Criador o faz dessa maneira para que tu e eu comecemos a
corrigir o mundo e a nós mesmos. Se Ele não o tivesse feito desse jeito, nós
nos sentaríamos embaixo de uma árvore, ou ao sol, na praia, para nos bronzear.
Apesar de que isso possa parecer muito bom para ti, não te aproxima muito de
converter-te em um ser semelhante ao Criador, razão pela qual Ele nos criou,
antes de mais nada.
A meta do Criador é que os humanos corrijam a Sua criação. Se
te lembrares disso constantemente, todos os teus cálculos deixarão de ser
passivos e se converterão em vasos, ou intenções, com as quais serás capaz de
conectar-te com o Criador e o experimentar. Todo atributo maligno ou negativo
em ti se transformará num meio para um fim.
Na Kabbalah não existe outra maneira de se fazer contato com
o Criador, mas somente através dos nossos atributos negativos, através do mal.
O reconhecimento do mal é o princípio da revelação do bem.
Esta explicação da meta do Criador deixa aberta uma nova
pergunta: Se Ele deseja brindar-nos prazer, como dizem os cabalistas, o que há
de mau num bom bronzeado, se nós o desfrutamos? Bem, de acordo com os
cabalistas, não há nada de mau nisso se isso é realmente o que desejas. No
entanto, se uma pergunta perfura o fundo da tua mente (enquanto descansas na
praia) e já não podes desfrutar mais do teu banho de sol, então necessitas de
algo mais, e talvez esse algo seja a Kabbalah. Como o expressa o cabalista
Yehuda Ashlag: a Kabbalah é para aqueles que se perguntam (inclusive no nível
inconsciente): “Qual é o sentido da minha vida?”
Nenhum comentário:
Postar um comentário