quinta-feira, 17 de março de 2022

Shamati (16)

16. O que é o “Dia do Senhor” e a “Noite do Senhor”, no Trabalho?

(Ouvi em Tav-Shin-Alehp, 1940-1941, Jerusalém)

 

Nossos sábios disseram sobre o verso “Ai daquele que deseja o dia do Eterno! Para que desejais o dia do Eterno? Ele é obscuridade, e não luz” (Amós 5:18): “Há uma alegoria sobre um galo e um morcego que estavam esperando a luz. O galo disse para o morcego: ‘Eu estou esperando a luz, pois a luz é minha. Mas e você, por que você precisa dessa luz?’”(Sanhedrin 98b).

 

A interpretação é a seguinte: como o morcego não tem olhos para ver, o que ele ganharia com a luz do sol? Ao contrário, para quem não tem olhos, a luz do sol apenas torna tudo mais escuro.

 

Nós devemos entender essa alegoria em relação a como os olhos estão conectados a contemplar a luz do Criador, o que o texto chama de “o dia do Eterno”. Eles criaram uma alegoria sobre um morcego, no sentido de que aquele que não tem olhos permanece no escuro.

 

Também devemos entender o que é o dia do Eterno, o que é a noite do Eterno e qual a diferença entre eles. Discernimos o dia das pessoas pelo nascer do sol, mas com o dia do Eterno, como fazemos?

 

A resposta é de acordo com a aparência do sol. Em outras palavras, quando o sol brilha no chão, chamamos de “dia”. Quando o sol não brilha, isso é chamado “escuridão”. É o mesmo com o Criador. Um dia é chamado de “Revelação”, e a escuridão é chamada de “Ocultação da face”.

 

Isso significa que, quando há revelação da face, quando está claro como o dia para uma pessoa, isso é chamado “um dia”. É como os nossos sábios disseram sobre o verso “Levanta-se com a luz para assassinar o pobre e o destituído e, ao escurecer, age como um ladrão” (Jó 24:14). Segue-se que luz é dia, pois ele disse “ao escurecer, age como ladrão”. Ali ele diz que, se para você a questão está clara como a luz que cobre as almas, ele é um assassino e é possível salvá-lo na sua alma” (Pesachim 2). Portanto, na questão do “dia”, a Guemará diz que é uma matéria tão clara quanto o dia.

 

O dia do Eterno, então, significa que a orientação com a qual o Criador lidera o mundo é claramente na forma do bem e de fazer o bem. Por exemplo, quando um indivíduo reza, a sua prece é imediatamente atendida e ele recebe aquilo pelo qual rezou, e tem sucesso para onde quer que se volte. Isso é chamado “o dia do Eterno”.

 

Inversamente, a escuridão, que é a noite, significa a ocultação da face. Isso gera dúvidas ao indivíduo sobre a orientação do bem e de fazer o bem, e traz pensamentos invasivos. Em outras palavras, é a ocultação dessa orientação que traz todas essas visões e pensamentos invasivos. Isso é chamado de “noite” e “escuridão”, quando o indivíduo vive um estado em que sente que o mundo se tornou escuro para ele.

 

Agora podemos interpretar o que está escrito: Ai daquele que deseja o dia do Eterno! Para que desejais o dia do Eterno? Ele é obscuridade, e não luz”. Aqueles que esperam o dia do Eterno estão esperando para ter a fé transmitida acima da razão, uma fé que será tão forte como se eles a vissem com seus olhos, com certeza de que é verdade, de que o Criador vigia o mundo de uma maneira boa e fazendo o bem.

 

Em outras palavras, eles não querem ver como o Criador comanda o mundo na forma do Bem que Faz o Bem, já que ver é contraditório à fé. Ou seja, a fé é precisamente contra a razão. E quando o indivíduo faz algo contra a sua razão, isso é chamado “fé acima da razão”.

 

Isso significa que eles acreditam que a orientação do Criador sobre as criaturas é na forma do bem e de fazer o bem. Mesmo que não possam ver com absoluta certeza, eles não dizem ao Criador “queremos ver a qualidade do bem e de fazer o bem dentro da razão”. Em vez disso, eles querem que permaneça neles a fé acima da razão, mas eles pedem ao Criador que lhes dê a força para que a fé seja tão forte como se eles a vissem dentro da razão. Assim, não haverá diferença entre fé e conhecimento da mente. Aqueles que desejam aderir ao Criador se referem a isso como “o dia do Eterno”.

 

Em outras palavras, se eles sentem isso como conhecimento, a luz do Criador, chamada de “abundância superior”, irá para os vasos de recepção, chamados “Kelim [vasos] da separação”. Eles não querem que seja assim, pois a luz irá para o desejo de receber, o qual é o oposto da Kedushá [santidade] – que, por sua vez, é contrária ao desejo de receber para si mesmo. Ao invés disso, eles querem aderir ao Criador e isso só pode ocorrer através da equivalência de forma.

 

Contudo, como é possível atingir o desejo e a súplica por aderir ao Criador se o indivíduo nasce com uma natureza de receber apenas para o próprio benefício? Como é possível atingir algo que é completamente contra essa natureza? Por essa razão, o indivíduo deve fazer grandes esforços até adquirir uma segunda natureza, que é o desejo de doar.

 

Quando é transmitido ao indivíduo o desejo de doar, ele está qualificado para receber a abundância superior sem manchá-la, já que todas as falhas vêm apenas pelo desejo de receber para si mesmo. Ou seja, mesmo quando faz algo a fim de doar, lá no fundo há um pensamento de que ele vai receber algo pelo ato de doação que está realizando.

 

Em uma palavra, o homem é incapaz de fazer qualquer coisa se ele não receber algo em troca pelo ato. Em outras palavras, ele precisa desfrutar. E qualquer prazer que o indivíduo recebe para si mesmo causa separação da Vida das Vidas.

 

Isso o impede de aderir ao Criador, já que a Dvekut [adesão] é medida pela equivalência de forma. É, portanto, impossível ter um desejo puro de doação sem uma mistura de recepção para os próprios poderes. Então, para que o indivíduo tenha poderes de doação, é preciso uma segunda natureza a fim de que ele tenha força para alcançar a equivalência de forma.

 

Em outras palavras, o Criador é o doador e não recebe nada, pois não Lhe falta nada. Tampouco o que Ele doa é devido a uma falta, como se sentisse uma falta caso não tivesse para quem doar.

 

Devemos antes perceber isso como um jogo. Ou seja, quando Ele quer doar, não significa que isso é algo de que Ele precisa. Ao contrário, é tudo como um jogo. É como nossos sábios disseram a respeito da rainha. Ela perguntou: “O que o Criador faz depois de ter criado o mundo?” A resposta foi: “Ele senta e brinca com uma baleia”, como está escrito: “Você criou essa baleia para brincar com ela” (Avodah Zará, p. 3).

 

A questão da baleia se refere a Dvekut e conexão (como está escrito “de acordo com a abertura do homem e das conexões”). Isso significa que o propósito, o qual é a conexão do Criador com as suas criaturas, é apenas um jogo, não é uma questão de desejo e necessidade.

 

A diferença entre um jogo e um desejo é que tudo que vem do desejo é uma necessidade. Se o indivíduo não obtém o seu desejo, ele fica deficiente. Mas, com jogos, mesmo quando ele não obtém a coisa, isso não é considerado uma falta. Como dizem: “Não é tão ruim não ter conseguido o que eu planejei, porque não era tão importante”. Isso é assim porque o desejo que ele tinha pela coisa era apenas um jogo, não era sério.

 

Segue-se que todo o propósito para o trabalho do indivíduo é que este seja inteiramente para doação, e que ele não tenha nenhum desejo ou ânsia por receber prazer pelo seu trabalho.

 

Isso é um nível alto, pois é o que ocorre no Criador. E isso é chamado “o dia do Senhor”. O dia do Senhor é chamado de “completude”, como está escrito: “Deixe que as estrelas da manhã sejam escuras; deixe que elas procurem pela luz, mas não a tenham”, pois a luz é considerada completude.

 

O indivíduo adquire a segunda natureza quando recebe o desejo de doar. Após a primeira natureza, que é o desejo de receber, o Criador lhe concede o desejo de doar, e então o indivíduo está qualificado para servir ao Criador em plenitude. Isso é considerado “o dia do Eterno”.

 

Portanto, alguém que não foi recompensado com a segunda natureza não é capaz de servir ao Criador na forma de doação. O indivíduo aguarda ser recompensado, pois já fez o que podia para obter aquela força. Considera-se que ele está esperando o dia do Eterno – a equivalência de forma com o Criador.

 

Quando o dia do Eterno chega, o indivíduo se exalta. Ele fica feliz, pois emergiu do controle do desejo de receber para si mesmo, o qual o separava do Criador. Agora, ele se agarra ao Criador e considera que subiu ao topo.

 

É o oposto para alguém cujo trabalho se dá apenas na auto-recepção: ele fica feliz apenas enquanto pensa que vai receber alguma recompensa pelo seu trabalho. Quando ele percebe que o desejo de receber não será recompensado pelo seu trabalho, ele se torna triste e ocioso. Às vezes, ele chega a duvidar do começo e diz “eu não jurei sobre isso”.

 

Portanto, o dia do Senhor é atingir o poder para doar. Se alguém fosse avisado que “este será o seu lucro pelo empenho na Torá e nas Mitzvot”, ele diria “eu considero isso escuridão, e não luz”, pois esse conhecimento leva o indivíduo à escuridão.

 

 

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