terça-feira, 19 de abril de 2022

A Experiência Cabalística (3)

  

Pergunta

O que é a conexão entre o Rav e seu grupo de discípulos?

  

Michel Laitman: Um grupo é um termo espiritual que está sempre ligado a um Rav. Nós todos decidimos que queremos, até certo nível, nos unir ao Criador. Aquele pequeno desejo de cada um e de todos nós se une para formar um desejo coletivo, e isto é chamado de “um grupo”. Não importa se um de nós está impregnado com esta ideia neste exato minuto porque nós constantemente mudamos interiormente. Se esta decisão foi tomada uma vez, ela existe para sempre, porque nada é perdido no mundo espiritual. Nós 

podemos subir ou cair com relação à nossa decisão, mas a decisão em si 

mesma permanece intacta.

 

Um grupo é como uma parceria. Você pode cair e não ter nada da situação espiritual anterior, mas o grupo continuará a existir, e assim também sua parte nele, a despeito de seu estado presente.

 

Se alguém deixa espaço para outro, então o grupo existe em um reino espiritual. Você investiu suas aspirações, sua força e seu objetivo no grupo, mas como será capaz de receber ajuda do grupo quando precisar?

 

Você só receberá ajuda se for capaz de anular seu ego e se submeter à opinião do grupo em tudo: o objetivo, a ideia, a maneira de alcançar a ideia, em todos os valores e ordem de importância.

 

Apenas então você fará sua marca no grupo e se tornará como ele, como se você o tivesse criado.

 

Rav Yehuda Aslag escreve sobre isso em seu artigo “Um discurso para a conclusão do Zohar”. Ele diz: “Com efeito, o entendimento suficiente de Sua Exaltação, que é suficiente para transformar a doação em recepção, como foi mencionado acima com respeito à importante personalidade, não é de modo algum difícil, pois todos conhecem a grandeza do Criador que cria tudo e finaliza tudo sem começo ou sem fim, cuja sublimidade é infinita”.

 

Mas a dificuldade está no fato de que o valor da sublimidade não depende do indivíduo, mas do ambiente. Por exemplo: mesmo se estivermos cheios de boas qualidades, se nosso ambiente não nos considera assim, sempre permaneceremos desanimados e não seremos capazes de ter orgulho de nossas virtudes, embora estejamos bem conscientes da sua validade.

E, ao contrário, se não possuímos qualidades boas e somos apreciados por aqueles ao nosso redor como se tivéssemos muitas e excelentes qualidades, nós ficaríamos cheios de orgulho, já que a importância e a glorificação estão inteiramente nas mãos do ambiente.

 

E quando vemos que nosso ambiente insulta o Seu trabalho e não aprecia Sua grandeza, nós também nos tornamos incapazes de alcançar a Sua grandeza, e insultamos Sua adoração como fazem os demais.

 

E uma vez que não temos base para o entendimento de Sua grandeza, é óbvio que nós não seremos capazes de trabalhar com o propósito de trazer contentamento ao nosso Fazedor, ao invés de para nós mesmos. Isto porque não temos o combustível para o esforço, e para “você trabalhou e não encontrou, não acredite”.

 

Portanto, não temos escolha a não ser trabalhar para nós mesmos, ou não trabalhar de forma alguma, já que trazer contentamento para nosso Fazedor não servirá como combustível para nós sob essas condições.

 

Agora você pode entender as palavras “na multidão de pessoas está a glória do Rei”, já que o valor da glória vem do ambiente sob duas condições:

 

1. Apreciação do ambiente.

 

2. O tamanho do ambiente.

 

Por isso, “na multidão de pessoas está a glória do Rei”.

 

E devido à grande dificuldade neste assunto, nossos sábios nos aconselharam a “fazer para si um Rav e comprar para si um amigo”. Isto significa que nós devemos escolher por nós mesmos uma pessoa importante e famosa e fazer dela nosso Rav, através do que podemos chegar à prática da Torá e Mitzvot com o propósito de trazer contentamento ao nosso Fazedor.

 

Aqui, há duas servidões ao nosso Rav:

 

1. Uma vez que pensamos que nosso Rav é uma personalidade importante, podemos trazer contentamento a ele, baseado em sua grandeza. Isto porque a doação ainda não foi transformada em recepção, a qual é um combustível natural que pode produzir mais atos de doação a cada vez. E depois que nos acostumamos a doar a nosso Rav, podemos transferir esta doação à prática da Torá e Mitzvot em nome Dela, ou seja, para o Criador, pois o hábito terá se tornado uma segunda natureza em nós.

 

2. A equivalência de forma com o Criador não nos faz bem algum se não é eterna, ou seja, até que “Ele que conhece todos os mistérios irá testemunhar que ele não voltará à insensatez”. Mas, dado que nosso Rav está neste mundo e sem os limites do tempo, a equivalência de forma ajuda mesmo quando ela é temporária e mesmo que mais tarde nós retornemos à insensatez. Portanto, toda vez que equalizamos nossa forma com nosso Rav, nós temporariamente nos unimos a ele. Assim, nós recebemos seu conhecimento e seus pensamentos, dependendo do entendimento dele, como nós mostramos na parábola sobre o órgão que foi cortado do corpo e então colocado de volta.

 

Assim, o discípulo pode usar o entendimento da grandeza do Criador, que é do Rav, o qual transforma doação em recepção e produz combustível suficiente para grande devoção. Então o discípulo também será capaz de praticar Torá e Mitzvot em Seu nome com seu coração e alma, o que é o remédio para o entendimento da eterna adesão com o Criador.

 

Agora você pode entender o que nossos sábios disseram: “A prática da Torá é preferível ao estudo da Torá”. Como está escrito, “Elisha, o filho de Shaphat, está aqui, o qual derramou água nas mãos de Elijah”.

 

Ele não diz “aprendeu”, mas “derramou”. Isto parece um tanto absurdo, pois como podem simples atos serem maiores do que o estudo da sabedoria e do conhecimento?

 

No entanto, o texto acima deixa claro que servir o Rav em carne e osso com grande devoção para trazer a ele contentamento nos traz adesão com nosso Rav, ou seja, equivalência de forma. E assim nós recebemos a sabedoria e os pensamentos de nosso professor, “boca a boca”, que é a adesão de um espírito com outro.

 

Desta forma, nós alcançamos nossa própria grandeza em grau suficiente para transformar doação em recepção, que se torna o combustível suficiente para a devoção completa, até que nós alcancemos adesão com o Criador.

 

Porque estudar a Torá com nosso Rav deve ser para nós mesmos, e isto não induz à adesão e é considerado “boca a ouvido”. E o serviço ao Rav induz no discípulo os pensamentos do Rav, enquanto que o estudo é apenas as palavras do Rav. O serviço é melhor que o estudo, assim como o pensamento do Rav é maior que suas palavras, e “boca a boca” supera “boca a ouvido”.

 

Mas tudo isso é verdadeiro se o serviço tem o propósito de trazer contentamento para o Rav. Se, no entanto, o serviço é para si mesmo, tal serviço não pode nos levar à adesão com nosso Rav, e então estudar com nosso Rav é mais importante do que servi-lo.

 

Mas assim como falamos sobre o entendimento de Sua Grandeza (que o ambiente que não O considera grandioso nos enfraquece e nos impede de alcançar Sua Grandeza), isto certamente também é verdade com relação a nosso professor: o ambiente que não considera o Rav grandioso impede que o discípulo alcance a grandeza de seu Rav, como deveria.

 

Por isso nossos sábios disseram: “Faz para si um Rav e compra para si um amigo”. Isto significa que nós devemos fazer para nós mesmos um novo ambiente que nos ajude a alcançar a grandeza de nosso Rav, através do amor dos amigos que valorizam nosso Rav.

 

Isto porque as palavras dos amigos que louvam o Rav dão a cada um deles a sensação de sua grandeza. Assim, doar ao Rav se torna recepção e um combustível que é suficiente para nos levar a estudar a Torá e Mitzvot em nome Dela.

 

E está escrito a respeito disso que a Torá é obtida em 48 virtudes, e no serviço e na necessidade de nossos amigos. Pois, além de servir ao Rav, nós também precisamos da necessidade dos nossos amigos, ou seja, da influência deles para trabalhar em nós mesmos a fim de alcançar a grandeza do nosso Rav, já que o entendimento da grandeza depende exclusivamente do ambiente e uma pessoa sozinha não pode de maneira alguma ter qualquer influência nele, como explicamos acima.

 

Assim, há duas condições para o entendimento da grandeza:

 

1. Que nós sempre escutemos e aceitemos a apreciação do ambiente quando eles louvam o Criador.

 

2. Que o ambiente consistirá de muitas pessoas, como está escrito: “Na multidão de pessoas está a glória do Rei”.


Para que a primeira condição seja aceita, cada discípulo deve sentir que ele é o menos poderoso entre todos os amigos. Então, o discípulo será capaz de ser influenciado pela apreciação de todos pela grandeza, pois o grande não pode receber do pequeno, muito menos ser impressionado por suas palavras. Apenas o pequeno se impressiona com a apreciação do grande.

Para que a segunda condição seja aceita, todo discípulo deve avaliar a virtude de cada amigo e apreciar aquela pessoa como se ela fosse a maior da geração. Então o ambiente terá o impacto que um grande ambiente deve ter, pois a qualidade é mais importante que a quantidade.

Nenhum comentário:

Shamati (130)

    130. Tiberias dos nossos sábios, boa é a sua visão (Ouvi em 1 º de Adar, Tav - Shin - Zayin , 21 de fevereiro de 1947, em uma via...