terça-feira, 1 de novembro de 2022

Shamati (35)

 

 

35. Sobre a Vitalidade da Kedushá

(Ouvi em Tav-Shin-Hey, 1944-1945, Jerusalém)

 

O verso diz: “Eis o mar, amplo em sua vastidão imensa, habitado por um sem número de criaturas de todos os tamanhos” (Salmos, 104:25).

 

Devemos interpretar:

 

1.    “Eis o mar” significa o mar da Sitra Achra (Outro Lado).

2.     “Amplo em sua vastidão imensa” significa que ele se manifesta e grita “Doe! Doe!”, referindo-se aos grandes vasos de recepção.

3.    “Sem número” significa que há Luzes Superiores aqui, nas quais o indivíduo pisa e as esmaga com o pé.

 

É assim porque há uma regra que “de cima, eles doam doando, e pegar, eles não pegam” (assim como tudo que é doado de cima não é recebido de volta, mas fica abaixo). Assim, se o indivíduo atrai algo de cima de então o mancha, isso permanece abaixo, mas não com a pessoa. Ao invés disso, cai para o mar da Sitra Achra.

 

Em outras palavras, se o indivíduo atrai alguma iluminação e não consegue sustentá-la de forma permanente porque seus Kelim (vasos) ainda não estão limpos adequadamente para a luz - ou seja, de forma que ele receba a luz em vasos doação, como a luz que vem do Doador -, a iluminação deve se afastar dele.

 

Nesse momento, a iluminação cai nas mãos da Sitra Achra. Isso continua a ocorrer diversas vezes, ou seja, o indivíduo atrai a Luz e então ela se afasta dele.

 

Dessa forma, as Iluminações aumentam o mar da Sitra Achra até que o copo esteja cheio. Isso significa que, após revelar a medida máxima do esforço que o indivíduo é capaz de revelar, a Sitra Achra lhe devolve tudo o que ela levou para sua própria autoridade. Esse é o significado de “ele engoliu riquezas e deve vomitá-las novamente”. Segue-se que tudo o que a Sitra Achra recebeu para sua própria autoridade foi apenas como um depósito. Ou seja, foi apenas enquanto ela teve controle sobre o homem. E esse controle serve para que o indivíduo possa fazer um escrutínio sobre os seus vasos de recepção e levá-los à Kedushá (santidade).

 

Em outras palavras, se a Sitra Achra não tivesse controle sobre o indivíduo, ele se conformaria com pouco. Então, todos os seus vasos de recepção permaneceriam separados, e ele nunca seria capaz de reunir todos os Kelim que pertencem à raiz da sua alma, levá-los à Kedushá e atrair a Luz que pertence a ele.

 

Assim, cada vez que o indivíduo atrai algo e tem um descenso é uma correção, ele deve começar mais uma vez, fazer novos escrutínios. E o que ele tinha do passado caiu para a Sitra Achra, para que ela o mantenha sob sua autoridade como um depósito. Depois, o indivíduo recebe dela tudo o que recebeu dele durante todo o tempo.

 

Ainda assim, também devemos saber que se o indivíduo pudesse sustentar qualquer Iluminação, mesmo uma pequena, mas que fosse permanente, ele já seria considerado como inteiro. Ou seja, o indivíduo seria capaz de avançar com a sua Iluminação. Dessa forma, se ele perde a Iluminação, deve se arrepender disso.

 

É como uma pessoa que plantou uma semente no chão para que uma grande árvore crescesse, mas tirou a semente da terra logo em seguida. Portanto, qual é o benefício do trabalho de colocar a semente na terra?

 

Mais do que isso, podemos dizer que ele não só tirou a semente do chão e a estragou; podemos dizer que ele desenterrou uma árvore com frutos maduros e os estragou. É o mesmo aqui: Se ele não tivesse perdido sua pequena Iluminação, uma grande luz teria crescido dela. Segue-se que ele não necessariamente perdeu o poder de uma pequena Iluminação, mas é como se ele, de fato, tivesse perdido uma grande Luz.

 

Devemos saber que é uma regra o fato de que o indivíduo não pode viver sem vitalidade e prazer, pois isso deriva da raiz da Criação - é Seu desejo fazer o bem às Suas criaturas. Por isso, nenhuma criatura pode existir sem vitalidade e prazer. Portanto, toda criatura deve sair e procurar um lugar do qual pode receber deleite e prazer.

 

Mas o prazer é recebido em três vezes: no passado, no presente e no futuro. Contudo, a principal recepção do prazer é no presente. Embora vejamos que o indivíduo também recebe prazer do passado e do futuro, é porque o passado e o futuro brilham no presente.

 

Portanto, se o indivíduo não encontra uma sensação de prazer no presente, ele recebe vitalidade do passado, e pode contar aos outros como foi feliz em tempos passados. O indivíduo pode receber a vitalidade disso no presente, ou pode imaginar para si mesmo um futuro em que espera ser feliz. Mas medir a sensação de prazer do passado e do futuro depende da extensão em que brilham para ele no presente. Devemos saber que isso se aplica tanto aos prazeres materiais quanto aos prazeres espirituais.

 

Como vemos, quando um indivíduo trabalha, mesmo na corporalidade, a ordem é que durante o trabalho ele seja infeliz, pois está se esforçando. E ele é capaz de continuar o trabalho apenas porque o futuro brilha para ele, pois ele vai receber um pagamento pelo seu trabalho. Isso brilha no presente, e é por isso que ele pode continuar o trabalho.

 

No entanto, se ele é incapaz de visualizar a recompensa que vai receber no futuro, ele deve tomar prazer do futuro, e não da recompensa que vai receber pelo seu trabalho no futuro. Em outras palavras, ele não vai gozar da recompensa, mas não vai sentir o sofrimento do esforço. Isso é o que ele aproveita agora, no presente, o que ele vai ter no futuro.

 

O futuro brilha para ele no presente, no sentido de que logo o trabalho estará terminado, ou seja, o tempo que deve trabalhar, e então ele vai receber descanso. Portanto, o prazer do descanso que vai por fim receber ainda brilha para ele. Em outras palavras, o seu lucro será que ele não é afligido pelo que sente do trabalho agora, e isso lhe dá força para conseguir trabalhar agora.

 

Se o indivíduo é incapaz de visualizar que logo vai estar livre dos tormentos que sofre agora, ele vai chegar ao desespero e à tristeza num nível em que esse estado pode levá-lo a tirar a própria vida.

        

É por isso que os nossos sábios disseram: “Aquele que tira a própria vida não tem parte no Mundo Vindouro”, pois ele nega a Providência, que o Criador guia o mundo na forma do bem e de fazer o bem. Ao invés disso, o indivíduo deve acreditar que esses estados chegam a ele porque Acima eles querem que isso o leve à correção, ou seja, que ele colete Reshimot (lembranças) desses estados para que seja capaz de entender a conduta do mundo de forma mais intensa e com mais força.

 

Esses estados são chamados Achoraim (posterior, de costas). Quando o indivíduo supera esses estados, ele é recompensado com a qualidade de Panim (anterior, de frente), o que significa que a Luz vai brilhar dentro desses Achoraim.

 

Há uma regra de que o indivíduo não pode viver se não tem um lugar do qual receber deleite e prazer. Portanto, quando ele não é capaz de receber do presente, ele ainda deve receber vitalidade do passado e do futuro. Em outras palavras, o corpo busca vitalidade para si mesmo de todas as formas à sua disposição.

 

Então, se o indivíduo não concorda em receber vitalidade das coisas corpóreas, o corpo não tem escolha senão concordar em receber vitalidade das coisas espirituais, porque não tem outra escolha.

 

Assim, ele precisa concordar em receber deleite e prazer dos vasos de doação, pois é impossível viver sem vitalidade. Segue-se que quando o indivíduo está acostumado a observar a Torá e as Mitzvot (mandamentos) em Lo Lishmá (não em Seu nome), quando recebe prazer pelo seu trabalho, ele consegue visualizar para si mesmo que vai receber alguma recompensa mais tarde, e já pode trabalhar no cálculo de que vai receber deleite e prazer depois.

 

Contudo, se ele não trabalha a fim de receber recompensa, mas quer trabalhar sem qualquer recompensa, como ele pode visualizar para si mesmo alguma coisa da qual receber sustento? Afinal, ele não pode criar nenhuma imagem, pois não tem nada sobre o qual fazê-lo.

 

Assim, em Lo Lishmá, não há necessidade de conceder vitalidade de Cima ao indivíduo, pois ele tem vitalidade a partir da visualização do futuro, e apenas a necessidade é concedida de Cima, não a luxúria. Portanto, se o indivíduo quer trabalhar apenas para o Criador e não tem nenhum desejo de tomar vitalidade para outras coisas, não há outro caminho a não ser receber vitalidade de Cima, pois ele demanda apenas a vitalidade necessária para sobreviver. Então, ele recebe vitalidade da estrutura da Shechiná (Divindade).

 

É como os nossos sábios disseram: “Qualquer um que tenha pena do público é recompensado com a visão do conforto do público.” O público é chamado de “A Shechiná”, pois “público” significa um coletivo, ou seja, a Assembleia de Israel, pois Malchut é a coleção de todas as almas.

 

Já que a pessoa não quer qualquer recompensa para si mesma, mas quer trabalhar em nome do Criador - o que é chamado de “levantar a Shechiná do pó” -, então ela não vai ser tão degradada. Pois para aquele que não quer trabalhar em nome do Criador, e vê apenas o que vai produzir benefício para si mesmo, há combustível para o trabalho. E no que tange ao benefício do Criador, quando o indivíduo não vê qual recompensa vai receber em troca, o corpo contesta esse trabalho, pois sente um gosto de pó nesse trabalho.

 

E há a pessoa que quer trabalhar em nome do Criador, mas o corpo resiste. E ela pede ao Criador que lhe dê força para, apesar disso, ser capaz de trabalhar para levantar a Shechiná do pó. Dessa forma, ela é premiada com a Panim (Face) do Criador, Ele aparece e a ocultação se afasta da pessoa.

 

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