15. A terceira
restrição é a Forma Abstrata. Significa que a Forma Abstrata revela-se para nós
como Matéria. O poder da nossa imaginação é que nos permite destacá-la
completamente da Matéria.
Aqui, Baal
HaSulam não se refere a abstrações absolutas que nunca vimos antes (isto é,
anjos e forças sobrenaturais). Afirma que mesmo que vejamos algo e, em seguida,
desvirtuemos nossa atenção do objeto ou do fenômeno observado, imaginamos este
algo na Forma Abstrata. Não devemos imaginar de maneira abstrata algo que
previamente teve forma.
Pode-se enxergar de maneira abstrata ou destacada qualquer
matéria. Por exemplo, virtudes e qualidades louváveis de que tratam os livros
de questões de moral. Quando abordamos qualidades tais como verdade, falsidade,
raiva e heroísmo temos em mente suas formas abstratas, livres de qualquer
representação em matéria. Nós dotamos as formas abstratas de virtudes ou
defeitos.
Hoje,
precisamente, fui questionado: “Como pode um cabalista como Rabi Shimon ficar
bravo?” Isto é, como pode uma pessoa tão elevada espiritualmente ter qualidades
não espirituais? De onde vem esta incompreensão? A resposta está na separação
entre a Forma (qualidades, propriedades) e a Matéria. Se combinarmos as duas, todas
as contradições vão desaparecer. Entretanto, para vermos como isto ocorre
realmente precisamos antes de tudo assumir as propriedades.
Sabemos que cientistas sérios respeitam a terceira restrição com
cautela máxima. Pois é impossível confiar na Forma Abstrata com 100% de
segurança. Isto porque é fácil cair em erro tratando-se de algo destacado da Matéria.
Por exemplo, um idealista não-religioso que louva, exalta a verdade em uma
categoria abstrata pode vir a concluir que não proferiria intencionalmente
qualquer inverdade, nem mesmo para salvar vidas, se, para tanto, o mundo tiver
que perecer.
Existem
muitos idealistas que abstraem alguma categoria da vida real e do homem e
colocam-na acima de tudo. Em outras palavras, eles destacam uma categoria da matéria
na qual ela estaria vestida, isto é, destacam-na do que a faz realmente
existir. Tais pessoas, apaixonadas pelas verdades, prontas para sacrificar o
mundo, não entendem que, de fato, a categoria abstrata da verdade torna-se o
seu oposto, a falsidade.
A Torah
proíbe isto em suas Leis, sentenciando que não temos o direito de aceitar a Forma
Abstrata como conhecimento absoluto, nem devemos nela confiar.
Mas isto é o contrário da opinião da Torah que diz: “Nada está
acima de salvar uma alma”, mesmo que para tanto você tenha que morrer.
De fato, tivesse ele (o idealista não-religioso) examinado verdade
e falsidade vestidas pela Matéria, poderia então julgar estas categorias de
acordo com o certo e o errado nelas originados quando Matéria. E então, tendo
conduzido numerosos experimentos neste mundo, ele poderia ver o grande número
de vítimas e de perdas causadas por mentirosos e suas inverdades. Mais adiante,
ele poderia perceber o grande benefício recebido por aqueles que preservam a
verdade e por quem observa a regra de falar somente a verdade. Ele, o
idealista, poderia aceitar que não existe valor maior que a verdade e nenhum
mais baixo que a falsidade.
Se um idealista entendesse isto, certamente concordaria com a
opinião da Torah e aceitaria que uma falsidade, mesmo que cometida com o
intuito de salvar um ser humano da morte, é muito maior em valor e importância
que uma verdade abstrata. Isto porque falta clareza às categorias abstratas que
pertencem à terceira restrição. Não vale a pena discutir Formas Abstratas que
ainda não se materializaram neste mundo, é somente perda de tempo.
Existem
períodos na vida em que definimos alguns ideais pessoais. Mais tarde, ao
defrontarmo-nos com os ideais na vida real, vemos que eles não existem, e que,
no instante em que são vestidos em Matéria, adquirem uma inesperada,
imprevisível e, muitas vezes, nada atraente Forma.
Logo,
precisamos aceitar estas limitações antecipadamente, isto é, não devemos usar
noções abstratas ou definir regras abstratas quando em relação ao mundo
espiritual. Não temos nenhuma ideia de como é o mundo espiritual. O nível
seguinte jamais foi vestido por alguma forma concreta.
De onde
estamos não temos o direito de racionalizar sobre o nível superior; pelo
contrário, iremos nos iludir e nunca alcançá-lo. Deste modo, podemos falar
apenas sobre Matéria e a Forma que esta Matéria assume.
Que outra
conclusão positiva tiramos disso? A Cabalá empurra-nos em direção à Matéria,
isto é, em direção à sensação física do espiritual. A Cabalá adverte-nos sobre
a Forma Abstrata, sobre as ações imaginárias e, ao mesmo tempo, instrui-nos a
sentir Formas espirituais que nossa própria Matéria virá a assumir. Quer dizer,
as diferentes formas da tela vestidas pelos meus desejos devem criar várias
imagens espirituais em mim, e, sem destacar uma ou outra, existir nelas. É o
que virá a ser chamado de meu mundo
espiritual.
Se, agora,
abstraio uma da outra, vou imaginar a mim mesmo no mundo espiritual hoje. Muito
provável, me sentirei ótimo enquanto estiver voando na minha imaginação, mas
será pura fantasia. Ao forçar-nos à conexão com a Matéria, mesmo em momentos em
que estivermos estudando uma Forma, a Cabalá obriga-nos a vestir nossa Matéria
(vontade de receber) de maneira adequada (vontade de doar).
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