segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (15)




15. A terceira restrição é a Forma Abstrata. Significa que a Forma Abstrata revela-se para nós como Matéria. O poder da nossa imaginação é que nos permite destacá-la completamente da Matéria.



Aqui, Baal HaSulam não se refere a abstrações absolutas que nunca vimos antes (isto é, anjos e forças sobrenaturais). Afirma que mesmo que vejamos algo e, em seguida, desvirtuemos nossa atenção do objeto ou do fenômeno observado, imaginamos este algo na Forma Abstrata. Não devemos imaginar de maneira abstrata algo que previamente teve forma.



Pode-se enxergar de maneira abstrata ou destacada qualquer matéria. Por exemplo, virtudes e qualidades louváveis de que tratam os livros de questões de moral. Quando abordamos qualidades tais como verdade, falsidade, raiva e heroísmo temos em mente suas formas abstratas, livres de qualquer representação em matéria. Nós dotamos as formas abstratas de virtudes ou defeitos.



Hoje, precisamente, fui questionado: “Como pode um cabalista como Rabi Shimon ficar bravo?” Isto é, como pode uma pessoa tão elevada espiritualmente ter qualidades não espirituais? De onde vem esta incompreensão? A resposta está na separação entre a Forma (qualidades, propriedades) e a Matéria. Se combinarmos as duas, todas as contradições vão desaparecer. Entretanto, para vermos como isto ocorre realmente precisamos antes de tudo assumir as propriedades.



Sabemos que cientistas sérios respeitam a terceira restrição com cautela máxima. Pois é impossível confiar na Forma Abstrata com 100% de segurança. Isto porque é fácil cair em erro tratando-se de algo destacado da Matéria. Por exemplo, um idealista não-religioso que louva, exalta a verdade em uma categoria abstrata pode vir a concluir que não proferiria intencionalmente qualquer inverdade, nem mesmo para salvar vidas, se, para tanto, o mundo tiver que perecer.



Existem muitos idealistas que abstraem alguma categoria da vida real e do homem e colocam-na acima de tudo. Em outras palavras, eles destacam uma categoria da matéria na qual ela estaria vestida, isto é, destacam-na do que a faz realmente existir. Tais pessoas, apaixonadas pelas verdades, prontas para sacrificar o mundo, não entendem que, de fato, a categoria abstrata da verdade torna-se o seu oposto, a falsidade.



A Torah proíbe isto em suas Leis, sentenciando que não temos o direito de aceitar a Forma Abstrata como conhecimento absoluto, nem devemos nela confiar.



Mas isto é o contrário da opinião da Torah que diz: “Nada está acima de salvar uma alma”, mesmo que para tanto você tenha que morrer.



De fato, tivesse ele (o idealista não-religioso) examinado verdade e falsidade vestidas pela Matéria, poderia então julgar estas categorias de acordo com o certo e o errado nelas originados quando Matéria. E então, tendo conduzido numerosos experimentos neste mundo, ele poderia ver o grande número de vítimas e de perdas causadas por mentirosos e suas inverdades. Mais adiante, ele poderia perceber o grande benefício recebido por aqueles que preservam a verdade e por quem observa a regra de falar somente a verdade. Ele, o idealista, poderia aceitar que não existe valor maior que a verdade e nenhum mais baixo que a falsidade.



Se um idealista entendesse isto, certamente concordaria com a opinião da Torah e aceitaria que uma falsidade, mesmo que cometida com o intuito de salvar um ser humano da morte, é muito maior em valor e importância que uma verdade abstrata. Isto porque falta clareza às categorias abstratas que pertencem à terceira restrição. Não vale a pena discutir Formas Abstratas que ainda não se materializaram neste mundo, é somente perda de tempo.



Existem períodos na vida em que definimos alguns ideais pessoais. Mais tarde, ao defrontarmo-nos com os ideais na vida real, vemos que eles não existem, e que, no instante em que são vestidos em Matéria, adquirem uma inesperada, imprevisível e, muitas vezes, nada atraente Forma.



Logo, precisamos aceitar estas limitações antecipadamente, isto é, não devemos usar noções abstratas ou definir regras abstratas quando em relação ao mundo espiritual. Não temos nenhuma ideia de como é o mundo espiritual. O nível seguinte jamais foi vestido por alguma forma concreta.



De onde estamos não temos o direito de racionalizar sobre o nível superior; pelo contrário, iremos nos iludir e nunca alcançá-lo. Deste modo, podemos falar apenas sobre Matéria e a Forma que esta Matéria assume.



Que outra conclusão positiva tiramos disso? A Cabalá empurra-nos em direção à Matéria, isto é, em direção à sensação física do espiritual. A Cabalá adverte-nos sobre a Forma Abstrata, sobre as ações imaginárias e, ao mesmo tempo, instrui-nos a sentir Formas espirituais que nossa própria Matéria virá a assumir. Quer dizer, as diferentes formas da tela vestidas pelos meus desejos devem criar várias imagens espirituais em mim, e, sem destacar uma ou outra, existir nelas. É o que virá a ser chamado de meu mundo espiritual.



Se, agora, abstraio uma da outra, vou imaginar a mim mesmo no mundo espiritual hoje. Muito provável, me sentirei ótimo enquanto estiver voando na minha imaginação, mas será pura fantasia. Ao forçar-nos à conexão com a Matéria, mesmo em momentos em que estivermos estudando uma Forma, a Cabalá obriga-nos a vestir nossa Matéria (vontade de receber) de maneira adequada (vontade de doar).


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