16. Agora que explicamos
minuciosamente essas quatro categorias com exemplos simples, fica claro que:
1. A princípio, não existe qualquer possibilidade de compreender a
quarta categoria, que é a Essência;
2. Estudar a terceira categoria pode levar a conclusões falaciosas;
3. Apenas o primeiro tipo de conhecimento – Matéria– e o segundo – Forma na Matéria – nos permitem o recebimento claro e adequado da Providência Superior.
Se a nossa Matéria, isto é, o nosso egoísmo inicial (desejo de
receber) assume a Forma de doação (altruísmo), a intenção para o Criador,
significa que fazemos parte da realidade dos Mundos Superiores.
Com a ajuda desses três
discernimentos, também é possível apreender a realidade dos níveis espirituais
dos Mundos Superiores de ABYA. Até o menor dos componentes terá essas quatro
categorias. Por exemplo, cada componente do Mundo de Beriá possui um vaso de
cor vermelha…
O Mundo de Beriá é completamente vermelho (Biná). Chochmá é
branco, Biná é vermelho, ZA ou Yetzirá é verde, e Malchut ou Assiya é preto.
Baal HaSulam diz que se tomarmos qualquer um dos nossos
recebimentos ou sensações do Mundo de Beriá "sentiremos neles os Kelim da
cor vermelha, cuja Luz se revela àqueles que estão no Mundo de Beriá". Ou seja, enquanto a Luz Incolor
atravessa os Kelim do Mundo de Beriá (através das minhas próprias qualidades,
filtros), ela é percebida como vermelha.
O que é "vermelho" na espiritualidade? No nosso mundo, o
ramo dessa raiz corresponde à cor vermelha.
Os vasos do Mundo de Beriá, que
possuem a cor vermelha, representam uma Forma que está "vestida" em
uma Essência. Isso se refere ao primeiro tipo de recebimento. Embora seja
apenas uma cor, ou seja, um detalhe e uma manifestação das ações da Essência,
nunca seremos capazes de compreender a Essência ela mesma, apenas a
manifestação de suas ações. Chamamos tal manifestação de "Essência",
"Matéria", "Corpo", ou "Vaso" (ou seja, recebemos a Essência
inapreensível como Matéria).
A Luz do Criador que atravessa os
Mundos "vestindo" a cor vermelha representa uma Forma que está
"vestida" em uma Essência. Esse é o segundo tipo de recebimento. Por
isso ela surge como uma luz vermelha, que indica que ela está sendo
"vestida" e emanada por uma Essência, ou seja, o Corpo e a Matéria da
cor vermelha.
Em outras palavras, existe a Matéria e há níveis espirituais que
são percebidos por essa Matéria, que assume diferentes Formas. Se ela está no
Mundo de Beriá, ela assume a cor vermelha.
Entretanto, se ainda existir o
desejo de separar a Luz Superior da sua Essência, da sua cor vermelha (isto é,
separar a cor vermelha que surge no Mundo de Beriá a partir da Luz interna
incolor), ou se se começa a estudar apenas a Luz, imaterializada, isso se relaciona
ao terceiro tipo de recebimento, ou seja, a Forma Abstrata, e certamente
resultará em falácias.
Não é possível falar sobre o Criador, apenas sobre aquelas
qualidades que são semelhantes a Ele. Não posso dizer que Ele é benevolente. E
qual é mesmo a minha ideia de "benevolência"? Minha ideia de
"benevolência" é a mesma que eu atribuo a Ele? Se me torno semelhante
ao Criador em dez por cento na categoria "benevolência", então, nessa
mesma medida posso afirmar que ele é benevolente. Eu O compreendo, pois sou
semelhante a Ele, igual a Ele. Somente a partir dos meus próprios Kelim
corrigidos é que eu posso falar sobre semelhança com o Criador. Isso significa
permanecer dentro dos limites da Matéria, mesmo na expressão da sua Forma.
Entretanto, se apenas falarmos sobre a categoria abstrata de
"benevolência", então a modificarei da mesma forma que fiz com a
categoria de "verdade". Prontamente sacrificarei a humanidade inteira
para preservar essa categoria. Ou seja, ela estará totalmente abstraída da
realidade.
Por que isso é possível? O fato é que nós formamos um Kli
gigantesco, do qual apenas uma parte está corrigida. E é somente nessa parte que
eu posso perceber o Criador corretamente enquanto que, no restante do meu Kli,
eu O imaginarei abstratamente e não vestido nas minhas propriedades. Por isso,
sem sombra de dúvida, a imagem que faço Dele estará equivocada, pois as
propriedades nas quais eu desejo imaginá-Lo ainda são opostas às Dele.
Assim, sob hipótese alguma devemos nos concentrar excessivamente
na Forma Abstrata. Entretanto, somos levados a isso porque temos um grande
número de Kelim não corrigidos, opostos à forma do Criador.
É característico do homem especular sobre a Forma vestida na Matéria,
isto é, sobre o desejo e a intenção de doar que uma parte de seus Kelim
adquiriu, sobre as propriedades do Criador que ainda não se tornaram suas. Tudo
isso existe em nossa Alma, que, presumivelmente, é dividida em duas partes,
corrigida e não corrigida.
Então, O Livro do Zohar
trata do quê?
A Luz preenche a parte corrigida da nossa Alma, a qual se assemelha
ao Criador nas suas propriedades. É possível caracterizar qualquer coisa que
aconteça nela como a Forma equivalente ao Criador, pois suas propriedades estão
vestidas na Matéria.
Por outro lado, ainda possuímos muitos Kelim não corrigidos, que
ainda devem ser preenchidos pela Luz do Criador, mas, se continuarmos
especulando sobre a Luz que ainda está fora dos Kelim, estaremos lidando com a Forma
Abstrata do Criador e, nesse caso, estaremos sempre errados. Isso se deve ao
fato de que é impossível pensar sobre a Luz fora dos vasos já corrigidos.
As Formas Abstratas levam, sempre, a conclusões equivocadas. Por
isso, o Zohar afirma claramente que apenas quando alcançamos Semelhança de Forma
com o Criador podemos realmente falar sobre Ele.
Vemos como a Cabalá nos direciona à compreensão e a conhecimentos
práticos, protegendo-nos de muitos erros. Infelizmente, não raro falamos sobre
o que não está em nós, e, por isso, não conseguimos determinar nossa posição.
Muitas vezes, as pessoas me dizem que elas já estão no Mundo de
Beriá ou Atzilut, ou até que alcançaram a Gmar
Tikkun. Eu as compreendo, é claro, nada pode ser provado ou reprovado. Eu
apenas posso lhes aconselhar a ler alguma coisa, mostrar-lhes, de algum modo, a
direção correta, e tentar produzir sensações nelas mais ou menos apropriadas.
Cada um de nós pode, por si mesmo, comprovar como é frequente
termos pensamentos confusos e que nunca temos certeza de onde realmente
estamos.
Quando alcançamos os Mundos Superiores, é impossível ficarmos
parados, estamos continuamente percorrendo um longo caminho de realização,
acúmulo de conhecimento, e estudando várias Formas vestidas na Matéria.
Apenas quando alcançamos o Mundo de Atzilut e elevamos os Kelim
dos mundos de BYA (Gadlut da Alma), podemos dizer que estamos acima do erro
comum de especular sobre as Formas Abstratas.
Logo, a proibição mais rigorosa
refere-se ao estudo dos Mundos Superiores, e nenhum cabalista autêntico o
faria, muito menos aqueles que estudam o Zohar. Em nada ajuda mencionar a
"Essência", mesmo da mais ínfima parte da criação, pois somos
incapazes de compreendê-la. Uma vez que não conseguimos compreender a essência
dos objetos no nosso mundo corpóreo, compreenderemos menos ainda quando tentarmos
apreender manifestações espirituais.
Não posso compreender sequer a Essência e a Forma Abstrata de uma
caneta (pois não consigo imaginar a ideia de uma caneta dissociada da sua
matéria), quanto mais os Mundos Superiores. Apenas a Forma vestida na Matéria e
a própria Matéria são uma fonte de conhecimento totalmente confiável.
Dessa forma, temos os quatro
aspectos do nosso exemplo do Mundo de Beriá:
1. O Vaso de Beriá, que representa a cor vermelha e é definido como
essência ou matéria do Mundo de Beriá;
2. O preenchimento do vaso do Mundo de Beriá com a Luz Superior, que
é a forma na matéria;
3. A própria Luz Superior, dissociada da matéria de Beriá;
4. A Essência.
Assim, clarificamos em detalhe a
primeira restrição: O
Livro do Zohar aborda apenas o primeiro e
o segundo tipos de conhecimento. Em relação ao terceiro e o quarto tipos,
nenhuma palavra é mencionada em todo o Livro.
Então, quando estudamos livros cabalísticos, não devemos imaginar
nada que não esteja lá. Caso contrário, nós simplesmente deixaremos de
aproveitar o que nos é oferecido e interpretaremos mal as palavras do autor.
Devemos apenas confiar nos primeiros dois níveis de conhecimento, Matéria e Forma
na Matéria.
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