terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (16)



16. Agora que explicamos minuciosamente essas quatro categorias com exemplos simples, fica claro que:



1.    A princípio, não existe qualquer possibilidade de compreender a quarta categoria, que é a Essência;

2.    Estudar a terceira categoria pode levar a conclusões falaciosas;

3.    Apenas o primeiro tipo de conhecimento Matéria e o segundo Forma na Matéria nos permitem o recebimento claro e adequado da Providência Superior.



Se a nossa Matéria, isto é, o nosso egoísmo inicial (desejo de receber) assume a Forma de doação (altruísmo), a intenção para o Criador, significa que fazemos parte da realidade dos Mundos Superiores.



Com a ajuda desses três discernimentos, também é possível apreender a realidade dos níveis espirituais dos Mundos Superiores de ABYA. Até o menor dos componentes terá essas quatro categorias. Por exemplo, cada componente do Mundo de Beriá possui um vaso de cor vermelha…



O Mundo de Beriá é completamente vermelho (Biná). Chochmá é branco, Biná é vermelho, ZA ou Yetzirá é verde, e Malchut ou Assiya é preto.



Baal HaSulam diz que se tomarmos qualquer um dos nossos recebimentos ou sensações do Mundo de Beriá "sentiremos neles os Kelim da cor vermelha, cuja Luz se revela àqueles que estão no Mundo de Beriá". Ou seja, enquanto a Luz Incolor atravessa os Kelim do Mundo de Beriá (através das minhas próprias qualidades, filtros), ela é percebida como vermelha.



O que é "vermelho" na espiritualidade? No nosso mundo, o ramo dessa raiz corresponde à cor vermelha.



Os vasos do Mundo de Beriá, que possuem a cor vermelha, representam uma Forma que está "vestida" em uma Essência. Isso se refere ao primeiro tipo de recebimento. Embora seja apenas uma cor, ou seja, um detalhe e uma manifestação das ações da Essência, nunca seremos capazes de compreender a Essência ela mesma, apenas a manifestação de suas ações. Chamamos tal manifestação de "Essência", "Matéria", "Corpo", ou "Vaso" (ou seja, recebemos a Essência inapreensível como Matéria).



A Luz do Criador que atravessa os Mundos "vestindo" a cor vermelha representa uma Forma que está "vestida" em uma Essência. Esse é o segundo tipo de recebimento. Por isso ela surge como uma luz vermelha, que indica que ela está sendo "vestida" e emanada por uma Essência, ou seja, o Corpo e a Matéria da cor vermelha.



Em outras palavras, existe a Matéria e há níveis espirituais que são percebidos por essa Matéria, que assume diferentes Formas. Se ela está no Mundo de Beriá, ela assume a cor vermelha.



Entretanto, se ainda existir o desejo de separar a Luz Superior da sua Essência, da sua cor vermelha (isto é, separar a cor vermelha que surge no Mundo de Beriá a partir da Luz interna incolor), ou se se começa a estudar apenas a Luz, imaterializada, isso se relaciona ao terceiro tipo de recebimento, ou seja, a Forma Abstrata, e certamente resultará em falácias.



Não é possível falar sobre o Criador, apenas sobre aquelas qualidades que são semelhantes a Ele. Não posso dizer que Ele é benevolente. E qual é mesmo a minha ideia de "benevolência"? Minha ideia de "benevolência" é a mesma que eu atribuo a Ele? Se me torno semelhante ao Criador em dez por cento na categoria "benevolência", então, nessa mesma medida posso afirmar que ele é benevolente. Eu O compreendo, pois sou semelhante a Ele, igual a Ele. Somente a partir dos meus próprios Kelim corrigidos é que eu posso falar sobre semelhança com o Criador. Isso significa permanecer dentro dos limites da Matéria, mesmo na expressão da sua Forma.



Entretanto, se apenas falarmos sobre a categoria abstrata de "benevolência", então a modificarei da mesma forma que fiz com a categoria de "verdade". Prontamente sacrificarei a humanidade inteira para preservar essa categoria. Ou seja, ela estará totalmente abstraída da realidade.



Por que isso é possível? O fato é que nós formamos um Kli gigantesco, do qual apenas uma parte está corrigida. E é somente nessa parte que eu posso perceber o Criador corretamente enquanto que, no restante do meu Kli, eu O imaginarei abstratamente e não vestido nas minhas propriedades. Por isso, sem sombra de dúvida, a imagem que faço Dele estará equivocada, pois as propriedades nas quais eu desejo imaginá-Lo ainda são opostas às Dele.



Assim, sob hipótese alguma devemos nos concentrar excessivamente na Forma Abstrata. Entretanto, somos levados a isso porque temos um grande número de Kelim não corrigidos, opostos à forma do Criador.



É característico do homem especular sobre a Forma vestida na Matéria, isto é, sobre o desejo e a intenção de doar que uma parte de seus Kelim adquiriu, sobre as propriedades do Criador que ainda não se tornaram suas. Tudo isso existe em nossa Alma, que, presumivelmente, é dividida em duas partes, corrigida e não corrigida.



Então, O Livro do Zohar trata do quê?



A Luz preenche a parte corrigida da nossa Alma, a qual se assemelha ao Criador nas suas propriedades. É possível caracterizar qualquer coisa que aconteça nela como a Forma equivalente ao Criador, pois suas propriedades estão vestidas na Matéria.



Por outro lado, ainda possuímos muitos Kelim não corrigidos, que ainda devem ser preenchidos pela Luz do Criador, mas, se continuarmos especulando sobre a Luz que ainda está fora dos Kelim, estaremos lidando com a Forma Abstrata do Criador e, nesse caso, estaremos sempre errados. Isso se deve ao fato de que é impossível pensar sobre a Luz fora dos vasos já corrigidos.



As Formas Abstratas levam, sempre, a conclusões equivocadas. Por isso, o Zohar afirma claramente que apenas quando alcançamos Semelhança de Forma com o Criador podemos realmente falar sobre Ele.



Vemos como a Cabalá nos direciona à compreensão e a conhecimentos práticos, protegendo-nos de muitos erros. Infelizmente, não raro falamos sobre o que não está em nós, e, por isso, não conseguimos determinar nossa posição.



Muitas vezes, as pessoas me dizem que elas já estão no Mundo de Beriá ou Atzilut, ou até que alcançaram a Gmar Tikkun. Eu as compreendo, é claro, nada pode ser provado ou reprovado. Eu apenas posso lhes aconselhar a ler alguma coisa, mostrar-lhes, de algum modo, a direção correta, e tentar produzir sensações nelas mais ou menos apropriadas.



Cada um de nós pode, por si mesmo, comprovar como é frequente termos pensamentos confusos e que nunca temos certeza de onde realmente estamos.



Quando alcançamos os Mundos Superiores, é impossível ficarmos parados, estamos continuamente percorrendo um longo caminho de realização, acúmulo de conhecimento, e estudando várias Formas vestidas na Matéria.



Apenas quando alcançamos o Mundo de Atzilut e elevamos os Kelim dos mundos de BYA (Gadlut da Alma), podemos dizer que estamos acima do erro comum de especular sobre as Formas Abstratas.



Logo, a proibição mais rigorosa refere-se ao estudo dos Mundos Superiores, e nenhum cabalista autêntico o faria, muito menos aqueles que estudam o Zohar. Em nada ajuda mencionar a "Essência", mesmo da mais ínfima parte da criação, pois somos incapazes de compreendê-la. Uma vez que não conseguimos compreender a essência dos objetos no nosso mundo corpóreo, compreenderemos menos ainda quando tentarmos apreender manifestações espirituais.



Não posso compreender sequer a Essência e a Forma Abstrata de uma caneta (pois não consigo imaginar a ideia de uma caneta dissociada da sua matéria), quanto mais os Mundos Superiores. Apenas a Forma vestida na Matéria e a própria Matéria são uma fonte de conhecimento totalmente confiável.



Dessa forma, temos os quatro aspectos do nosso exemplo do Mundo de Beriá:



1.    O Vaso de Beriá, que representa a cor vermelha e é definido como essência ou matéria do Mundo de Beriá;

2.    O preenchimento do vaso do Mundo de Beriá com a Luz Superior, que é a forma na matéria;

3.    A própria Luz Superior, dissociada da matéria de Beriá;

4.    A Essência.



Assim, clarificamos em detalhe a primeira restrição: O Livro do Zohar aborda apenas o primeiro e o segundo tipos de conhecimento. Em relação ao terceiro e o quarto tipos, nenhuma palavra é mencionada em todo o Livro.



Então, quando estudamos livros cabalísticos, não devemos imaginar nada que não esteja lá. Caso contrário, nós simplesmente deixaremos de aproveitar o que nos é oferecido e interpretaremos mal as palavras do autor. Devemos apenas confiar nos primeiros dois níveis de conhecimento, Matéria e Forma na Matéria.


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