domingo, 3 de maio de 2020

Baal Ha Sulam (6)


  

O ensino da Cabalá e sua Essência



O que é a sabedoria da Cabalá? Como um todo, a sabedoria da Cabalá diz respeito à revelação da Divindade, arranjada em seus caminhos em todos os seus aspectos – aqueles que foram revelados nos mundos e aqueles que estão destinados a serem revelados, e em todas as maneiras que podem ser revelados nos mundos, até o final dos tempos.



O propósito da Criação



Posto que não há ação sem propósito, é certo que o Criador teve um propósito na criação disposta diante de nós. A coisa mais importante em toda essa realidade diversa é a sensação dada aos animais – de que cada um deles sente a própria existência. E a sensação mais importante é a sensação noética (intelectual), dada somente ao homem, através da qual a pessoa sente o que está no outro – as dores e prazeres dos outros. Por isso, é certo que se o Criador tem um propósito em sua criação, seu sujeito é o homem. Está dito a este respeito: “Todos os trabalhos do Senhor são para ele.”



Mas nós ainda devemos compreender qual foi o propósito para o qual o Criador criou esta porção. De fato, é para elevá-lo a um grau mais elevado e importante, para sentir seu Criador como a sensação humana, a qual já foi dada a ele. E assim como alguém conhece e sente os desejos de seu amigo, assim ele aprenderá os caminhos do Criador, como está escrito sobre Moisés: “E o Senhor falou com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo.”



Qualquer pessoa pode ser como Moisés. Sem dúvida, qualquer um que examine a evolução da criação diante de nós verá e entenderá o grande prazer do Operador, cuja operação evolui até que ele adquire aquela maravilhosa sensação de ser capaz de conversar e lidar com o seu Criador assim como quem fala com seu amigo.



De Cima para baixo



É sabido que o fim do ato está no pensamento preliminar. Antes que uma pessoa comece a pensar sobre como construir uma casa, ela contempla o aposento na casa, o qual é o propósito. Subsequentemente, ela examina o projeto para torná-lo adequado à tarefa.



Assim é com o nosso assunto. Uma vez que tenhamos aprendido sobre o propósito, também fica claro para nós que todas as condutas da criação, em cada canto, entrada e saída, são completamente pré-arranjadas para o propósito de nutrir a espécie humana, de dentro dela, para melhorar suas qualidades até que ela possa sentir o Criador do mesmo modo que uma pessoa sente seu próprio amigo.



Essas ascensões são como degraus de uma escada, arranjadas grau por grau até que ela esteja completa e alcance seu propósito. E você deve saber que a qualidade e quantidade destes degraus é estabelecida em duas realidades: 1) a existência de substâncias materiais; 2) a existência de conceitos espirituais.

        

Na linguagem da Cabalá, elas são chamadas “de cima para baixo” e “de baixo para cima.” Isto significa que as substâncias corpóreas são uma sequência de revelações de Sua Luz de cima para baixo – da primeira fonte, quando uma medida de Luz foi cortada de Sua essência e restringida tzimtzum a tzimtzum [restrição a restrição] até que o mundo corpóreo foi formado a partir dela com criaturas corpóreas no seu ponto mais distante.



De baixo Para cima



Em seguida começa uma ordem de baixo para cima. Estes são todos os degraus da escada através da qual a raça humana se desenvolve e sobe até alcançar o propósito da criação. Estas duas realidades são explicadas em cada um de seus detalhes na sabedoria da Cabalá.



A necessidade de se estudar Cabalá



Um opositor pode dizer: “Portanto, essa sabedoria é para aqueles que já foram recompensados com uma medida da revelação da Divindade, mas que necessidade a maioria das pessoas pode ter de conhecer essa sabedoria sublime?”



De fato, há uma opinião comum de que o objetivo principal da religião e da Torá é apenas a purificação dos atos, que tudo que se deseja diz respeito a observar as Mitzvot [mandamentos] físicas sem acréscimos ou qualquer coisa que pudesse resultar disso. Se fosse assim, aqueles que dizem que estudar o revelado é suficiente estão corretos em assuntos que dizem respeito à prática.



Ainda assim, esse não é o caso. Nossos sábios já disseram: “Por que o Criador se importaria se uma pessoa corta a garganta ou atrás do pescoço? Afinal de contas, as mitzvot foram dadas apenas para purificar as pessoas.” Portanto, há um propósito além da observância das práticas, pois as práticas são meramente preparações para esse propósito. Por isso, claramente, se as ações não são arranjadas para o objetivo desejado, é como se nada existisse. E ainda está escrito no Zohar: “Uma mitzva [mandamento] sem uma intenção é como um corpo sem uma alma.” Consequentemente, a intenção também deve acompanhar o ato.



Ainda, está claro que a intenção deve ser uma intenção verdadeira, merecedora do ato, como nossos sábios disseram a respeito do verso: “’E eu te separarei das pessoas, pois tu deves ser Meu’, assim sua separação será em Meu Nome. Não deixe ninguém dizer sobre a carne de porco: ‘É impossível.’ Ao invés disso, deixe que digam: ‘É possível, mas o que eu posso fazer que meu Pai no céu me determinou?’”



Assim, se alguém evita a carne de porco por causa da abominação ou por algum dano corporal, essa intenção não ajuda em nada para ser considerada uma mitzva, a menos que a pessoa tenha a única e apropriada intenção de seguir o que a Torá proibiu. Assim é com toda mitzva, e apenas então o corpo da pessoa é gradualmente purificado pela observação das mitzvot, que é o propósito desejado.



Por isso, o estudo das condutas físicas não é suficiente; nós precisamos estudar aquelas coisas que produzem a intenção desejada: observar tudo com fé na Torá e no Doador da Torá, e que existe um julgamento e existe um Juiz. Quem é tolo o suficiente a ponto de não entender que a fé na Torá e na recompensa e castigo, que tem a Segulá [poder/mérito/qualidade] para produzir esta grande coisa, requer muito estudo nos livros apropriados? Portanto, mesmo antes do ato, um estudo que qualifica o corpo é requerido, para se acostumar à fé no Criador, na Sua lei, e na Sua Providência. Nossos sábios disseram a este respeito: “Eu criei a inclinação ao mal; Eu criei para ela a Torá como um tempero.” Eles não disseram: “Eu criei para ela as mitzvot como um tempero,” já que “Seu fiador precisa de um fiador também ele,” já que a inclinação ao mal deseja licenciosidade e não permitirá que ele observe as mitzvot.



A Torá como um tempero



A Torá é o único tempero a anular e subjugar a inclinação ao mal, como nossos sábios disseram: “A luz nela os reformou.”





A maioria das palavras da Torá são para estudo



Isto explica por que a Torá fala longamente sobre partes que não dizem respeito à parte prática, mas apenas ao estudo, ou seja, a introdução com o trabalho da criação, todo o livro de Beresheet [Gênesis], o livro de Shemot [Êxodo], a maior parte de Devarim [Deuteronômio], e desnecessário dizer, lendas e comentários. Ainda, já que eles são aquilo em que a Luz está armazenada, seu corpo será purificado, a inclinação ao mal será subjugada, e ele virá a ter fé na Torá e na recompensa e castigo. Este é o primeiro grau na observância do trabalho.



Uma vela é uma mitzva e a Torá é Luz



Está escrito: “Uma vela é uma mitzva e a Torá é Luz.” Assim como aquele que tem velas mas nenhuma luz para acendê-las se senta no escuro, aquele que tem mitzvot mas nenhuma Torá senta-se no escuro. Isto porque a Torá é a Luz através da qual a escuridão no corpo é iluminada e acesa.



Nem todas as porções da Torá são de igual luminosidade



De acordo com a Segulá [poder/mérito] mencionada na Torá, ou seja, considerando a medida de Luz nela, é certo que a Torá deveria ser dividida em graus de acordo com a medida de Luz que uma pessoa pode receber ao estudá-la. Claramente, quando se pondera e contempla as palavras da Torá que dizem respeito à revelação do Criador aos nossos pais, elas trazem ao examinador mais Luz do que quando examinam assuntos práticos.



Embora elas sejam mais importantes no que diz respeito às práticas, com relação à Luz a revelação do Criador aos nossos pais é certamente mais importante. Qualquer um com um coração honesto que tentou pedir para receber a Luz da Torá irá admitir isso.



Necessidade e desdobramento/revelação da expansão da Sabedoria



Uma vez que toda a sabedoria da Cabalá fala sobre a revelação do Criador, naturalmente não existe ensino/instrução mais bem sucedido para essa tarefa. Foi isso que os cabalistas almejaram – arranjá-la para que fosse adequada para o estudo.



E então eles a estudaram até o tempo da ocultação (foi combinado ocultá-la por uma certa razão). No entanto, isso foi apenas por um certo tempo, e não para sempre, como está escrito n’O Zohar: “Esta sabedoria está destinada a ser revelada no final dos dias, e até mesmo para as crianças.”



Daqui resulta que a Sabedoria acima mencionada não é de modo algum limitada à linguagem da Cabalá, já que sua essência é uma Luz espiritual que emerge da essência Dele, como está escrito: “Possa você enviar adiante um raio, que eles possam ir e dizer a você, ‘Aqui estamos  nós’”, referindo-se aos dois caminhos mencionados: de cima para baixo e de baixo para cima.



Esses assuntos e graus se expandem de acordo com uma linguagem adequada a eles, e eles são verdadeiramente todos os seres e suas condutas neste mundo, as quais são seus ramos. Isso é assim porque “Não há uma folha de grama abaixo que não tenha um anjo acima, que bate nela e lhe diga: ‘Cresça!’” Portanto, os mundos emergem e são impressos de um ao outro como um carimbo e sua impressão, e tudo que está em um está no outro até abaixo, no mundo corpóreo,  o qual é o último ramo deles, mas contém o mundo acima de si como uma impressão de um carimbo.



Assim, é fácil saber que nós podemos falar dos mundos superiores apenas através de seus ramos corpóreos mais baixos, os quais se estendem a partir deles, ou de suas condutas, as quais são a linguagem da Bíblia, ou através de ensinamentos seculares ou pelas pessoas, o qual é a linguagem dos cabalistas, ou de acordo com nomes combinados. Esta foi a conduta na Cabalá do Ge’onim desde a ocultação d’O Zohar.



Deste modo, foi esclarecido que a revelação do Criador não é uma revelação única, mas um assunto em andamento que é revelado ao longo de um período de tempo, suficiente para a abertura de todos os grandes graus que são revelados de cima para baixo e de baixo para cima. No topo deles, e no final deles, aparece o Criador.



É como uma pessoa proficiente em todos os países e pessoas no mundo. Ela não pode dizer que o mundo inteiro foi revelado a ela antes que ela tenha completado seu exame da última pessoa e do último país. Até que alguém tenha alcançado isto, ele não alcançou o mundo inteiro.



Similarmente, o attainment (a recepção) do Criador se revela de modos pré-ordenados. O buscador deve alcançar/receber (attain) todos aqueles modos tanto no superior quanto no inferior. Claramente, os mundos superiores são os que importam aqui, mas eles são alcançados juntos porque não há diferença em suas formas, apenas nas suas substâncias. A substância de um mundo superior é mais refinada, mas as formas são impressas de um para o outro, e o que existe no mundo mais elevado necessariamente existe em todos os mundos abaixo dele, já que o inferior é impresso por ele. Saiba que estas realidades e suas condutas, que o buscador do Criador atinge, são chamadas “níveis”, já que sua conquista é organizada uma sobre a outra, como os degraus de uma escada.



Expressões espirituais



O espiritual não tem imagem; consequentemente, ele não tem letras com as quais se possa contemplá-lo. Mesmo se declararmos de modo geral que é a Luz simples, descendo e se estendendo ao buscador até que alguém a vista e a receba na quantidade suficiente para a revelação Dele, isto também é uma expressão emprestada. Isto é assim porque tudo que é chamado de "Luz" no mundo espiritual não é como a luz do sol ou de uma vela.



Aquilo a que nos referimos como Luz no mundo espiritual é emprestado da mente humana cuja natureza é tal que, quando uma dúvida é solucionada por uma pessoa, descobre-se um tipo de abundância de Luz e prazer no corpo todo. É por isso que às vezes dizemos “a luz da mente,” embora isto não seja assim. A Luz que brilha naquelas partes da substância do corpo que não são adequadas para receber determinados escrutínios é certamente algo inferior à mente. Por isso, aqueles órgãos inferiores, mais baixos, podem recebê-la e alcançá-la também.



Ainda, para sermos capazes de nomear a mente por algum nome, nós a chamamos de “a luz da mente.” De maneira análoga, nós chamamos os elementos da realidade dos mundos superiores “Luzes,” posto que eles trazem aos que os alcançam abundância de Luz e prazer no corpo todo, da cabeça aos pés. Por esta razão, nós podemos chamar alguém que recebe/alcança (attain) de “vestimenta”, pois ele vestiu aquela Luz.



Nós podemos perguntar: Não seria mais correto chamá-los por nomes usados no escrutínio, tais como “observação” ou “attainment”, ou nos expressarmos com expressões que enfatizam os fenômenos da mente contemplativa? O caso é que isto não é nada semelhante às condutas dos fenômenos intelectuais, já que a mente é um ramo particular entre todos os elementos da realidade. Consequentemente, ela tem seus próprios meios de manifestação.



Isto não é assim com os graus, posto que eles são um todo completo, o qual contém todos os elementos que existem em um mundo. Cada elemento tem seus meios particulares. Para a maior parte, a percepção de assuntos em graus é similar à percepção de corpos animados: Quando alguém atinge/recebe alguma essência, atinge-a completamente, da cabeça aos pés.



Se nós julgamos pelas leis da mente contemplativa, podemos dizer que a pessoa alcançou tudo que poderia alcançar naquela essência, e mesmo se ela a contemplasse por outros mil anos, não acrescentaria nem mesmo um yud a ela. Assim, significa que ela vê tudo, mas não entende nada do que vê. Porém, com o passar do tempo ela terá que alcançar assuntos adicionais, similares ao Ibur [concepção/impregnação], Yenika [amamentação], Mochin [idade adulta] e Ibur Bet [segundo Ibur], e então ela começa a sentir e usar seus attainments de todas as maneiras que deseja.



Entretanto, ela não acrescentou nada aos attainments que tinha alcançado no começo. Ao invés disso, é como um amadurecimento: Antes estava imaturo, então ela não podia compreender, e agora seu amadurecimento foi completado.



Assim, você vê a grande diferença dos comportamentos dos fenômenos da mente. Por essa razão, as definições a que estamos acostumados não irão bastar para os fenômenos da mente. Nós somos compelidos a usar apenas os comportamentos que se aplicam aos assuntos corpóreos, já que as formas deles são completamente similares, embora a substância deles seja totalmente remota.



Quatro linguagens são usadas na Sabedoria da Verdade:



1.    A Linguagem da Bíblia, seus nomes e denominações;



2. A Linguagem das Leis. Esta linguagem é muito próxima à linguagem da Bíblia;



3. A Linguagem das Lendas, a qual é muito distante daquela da Bíblia, já que ela não leva a realidade em consideração. Nomes estranhos e denominações são atribuídos a esta linguagem, e ela tampouco se relaciona a conceitos por meio da raiz e seu ramo;



4. A Linguagem das Sefirot e dos Partzufim. Em geral, os sábios tinham uma forte tendência a ocultá-la dos ignorantes, pois eles acreditavam que sabedoria e ética andam de mãos dadas. Por isso, os primeiros sábios ocultaram a sabedoria na escrita, usando linhas, pontos, partes superiores e inferiores. Foi assim que o alfabeto hebraico foi formado com as vinte e duas letras.



A Linguagem da Bíblia



A Linguagem da Bíblia é a linguagem primária, rudimentar, perfeitamente adequada para seu propósito, já que em sua maior parte contém uma relação de raiz e ramo e é a linguagem mais fácil de entender. Esta linguagem é também a mais antiga. É a Língua Sagrada, atribuída a Adam ha Rishon.



Essa linguagem tem duas vantagens e uma desvantagem. Sua primeira vantagem é que ela é fácil de compreender, e mesmo iniciantes em attainments imediatamente compreendem tudo o que eles necessitam. A segunda vantagem é que ela clarifica os assuntos mais extensiva e profundamente do que todas as outras linguagens.



Sua desvantagem é que ela não pode ser utilizada para discutir questões particulares ou conexões de causa e efeito porque todo assunto deve ser clarificado em toda a sua medida, já que não é auto-evidente a qual elemento ele se refere, a menos que se apresente o assunto em sua inteireza. Consequentemente, para enfatizar o menor dos detalhes, uma história completa deve ser apresentada. É por isto que ela (a linguagem) não é adequada para pequenos detalhes ou para conexões de causa e efeito.



Ainda, a Linguagem das Orações e Bênçãos é retirada da Linguagem da Bíblia.





A Linguagem das Leis



A Linguagem das Leis não é da realidade, mas apenas da existência da realidade. Esta linguagem é retirada inteiramente da Linguagem da Bíblia de acordo com as raízes das leis apresentadas aqui. Ela tem uma vantagem sobre a Bíblia: ela elabora longamente sobre cada assunto e por isso aponta para as raízes superiores com maior precisão.



No entanto, sua grande desvantagem comparada à Linguagem da Bíblia é que ela é muito difícil de compreender e é a mais difícil de todas as linguagens. Apenas um sábio completo, chamado “entrando e saindo sem danos”, irá atingi-la. É claro, ela também contém a primeira desvantagem, pois é retirada da Bíblia.



A Linguagem das Lendas



A Linguagem das Lendas é fácil de entender através das alegorias que se encaixam perfeitamente no significado desejado. Em um exame superficial, ela é ainda mais fácil de entender do que a Linguagem da Bíblia. Todavia, para uma compreensão completa, ela é uma linguagem muito difícil, pois não se limita a falar em sequências de raiz e ramo, mas apenas em alegorias e maravilhosa inteligência. No entanto, ela é muito rica em se tratando de resolver conceitos abstrusos e estranhos que se referem à essência do grau em seu estado, por si mesmo, o que não pode ser explicado nas Linguagens da Bíblia e das Leis.



A Linguagem dos cabalistas



A Linguagem dos cabalistas é uma linguagem no sentido completo da palavra: é muito precisa, tanto em termos de raiz e ramo quanto no que se refere às causa e efeitos. Ela tem o mérito único de ser capaz de expressar detalhes sutis nessa linguagem sem quaisquer limites. Ainda, através dela, é possível abordar o assunto desejado diretamente, sem a necessidade de conectá-lo com o que o precede ou sucede.



No entanto, apesar de todos os méritos sublimes que você encontra nela, há um grande inconveniente, e é que ela é difícil de alcançar. É quase impossível de recebê-la, exceto de um sábio cabalista e de um sábio que compreende com sua própria mente. Isto significa que mesmo quem compreende o resto dos graus de baixo para cima e de cima para baixo com sua própria mente, ainda assim não compreenderá coisa alguma nessa linguagem até que a receba de um mestre que já recebeu a linguagem de seu professor face a face.



A Linguagem da Cabalá está contida em todas elas



Os nomes, denominações e gematriot pertencem inteiramente à Sabedoria da Cabalá. A razão pela qual eles também são encontrados no resto das linguagens é que todas as linguagens estão incluídas na Sabedoria da Cabalá, já que todas elas são casos particulares com as quais as outras linguagens devem ser auxiliadas.



Não se deve pensar que essas quatro linguagens, as quais servem para explicar a Sabedoria da Revelação da Divindade, evoluíram uma de cada vez ao longo do tempo, mas é verdade que todas as quatro aparecem diante dos sábios da Verdade simultaneamente.



Na realidade, cada uma consiste de todas as outras. A Linguagem da Cabalá existe na Bíblia, tal como a posição sobre a Tzur [rocha], os treze atributos da misericórdia na Torá e em Micah. Até certo ponto, ela é sentida em todo e cada verso. Há ainda as merkavot [carruagens/estruturas] em Isaías e Ezequiel, e acima de todos eles O Cântico dos Cânticos, o qual é puramente a Linguagem da Cabalá em sua inteireza. Isto é similar em Leis e em Lendas, e ainda mais com a questão dos inatingíveis Nomes Sagrados, os quais possuem o mesmo significado em todas as Linguagens.



A ordem da evolução das Linguagens



Há um desenvolvimento gradual em tudo, e a linguagem mais fácil de se usar é aquela cujo desenvolvimento é completado antes das outras. Por isso, os primeiros produtos foram na Linguagem da Bíblia, já que ela é a linguagem mais conveniente e era muito prevalente na época.



Sucedendo-a, veio a Linguagem das Leis, já que ela está completamente imersa na Linguagem da Bíblia, além de que ela era necessária para mostrar às pessoas como implementar as Leis.



A terceira foi a Linguagem das Lendas. Embora ela seja encontrada em muitos lugares na Bíblia também, ela é apenas como que uma linguagem auxiliar, porque sua inteligência acelera a percepção das questões. No entanto, ela não pode ser usada como uma linguagem básica, já que não tem a precisão da raiz e seu ramo. Portanto, ela raramente é usada e por isso não se desenvolveu.



Muito embora as lendas fossem usadas extensivamente durante o tempo dos tanaítas e dos amoraítas, isso acontecia apenas em conjunção com a Linguagem da Bíblia, para abrir as palavras de nossos sábios: ”Rabbi começou” e etc. (e outras expressões). Na verdade, o uso expansivo desta linguagem por nossos sábios começou após a ocultação da Linguagem da Cabalá durante os dias do Rabbi Yochanan Ben Zakai e pouco depois de sua época, ou seja, setenta anos antes da destruição do Templo.



A última a evoluir foi a Linguagem da Cabalá. Isto foi assim devido às dificuldades em compreendê-la: além da recepção (attainment), é necessário entender o significado de suas palavras. Consequentemente, mesmo aqueles que a compreendiam não a podiam usar, posto que, em sua maioria, eles estavam sós em sua geração e não tinham ninguém com quem estudar. Nossos sábios chamaram aquela Linguagem de Maase Merkavá [estrutura/carruagem], já que ela é uma linguagem especial através da qual se pode discutir os detalhes das Harkavot [estruturas/composições] dos graus um no outro, e de modo algum com qualquer outro.



A Linguagem da Cabalá é como qualquer outra língua falada, e sua vantagem está no significado contido em uma única palavra

        

À primeira vista, a Linguagem da Cabalá parece uma mistura das três linguagens mencionadas acima. No entanto, quem entende como utilizá-la descobrirá que ela é uma linguagem única do começo ao fim. Isto não se deve às palavras, mas às suas instruções. Esta é toda a diferença entre elas.



Nas três primeiras Linguagens, quase não há instruções em uma única palavra, permitindo ao examinador compreender em que a palavra implica. Apenas ao juntar várias palavras, e algumas vezes também porções, o conteúdo e as instruções delas podem ser compreendidas. A vantagem na Linguagem da Cabalá é que toda e cada palavra nela revela seu conteúdo e instruções ao examinador com absoluta precisão, não menos do que em qualquer língua humana: cada palavra carrega sua definição própria e precisa, que não pode ser substituída por outra.



Esquecendo a Sabedoria



Desde a ocultação d’OZohar, essa importante Linguagem foi gradualmente esquecida, já que seus usuários diminuíram. Além disso, houve a cessação de uma geração onde o sábio que a recebeu não a repassou a um receptor que a compreendesse. Desde então, houve um déficit imensurável.



Você pode ver evidentemente que o cabalista Rabi Moshe de Leon, que foi o último a possuí-la e através do qual ela foi revelada ao mundo, não compreendeu uma única palavra dela, já que nos livros em que ele apresenta partes d’O Livro do Zohar, é evidente que ele não compreendeu as palavras de modo algum, já que ele as interpretou de acordo com a Linguagem da Bíblia. Ele confundiu completamente o entendimento, embora ele mesmo tivesse tido um maravilhoso attainment, como suas composições o demonstram.



Assim tem sido por gerações: todos os cabalistas dedicaram suas vidas inteiras a compreenderem a Linguagem d’O Zohar, mas não conseguiram encontrar nem pé nem cabeça, já que eles forçaram a Linguagem da Bíblia nele. Assim, esse livro estava selado diante deles como esteve para o próprio Rabi Moshe de Leon.



A Cabalá do Ari



Isso foi assim até a chegada do cabalista único, o ARI. O attainment dele foi acima e além de qualquer limite, e ele abriu a Linguagem d’O Zohar para nós e pavimentou nosso caminho nela. Se ele não tivesse morrido tão jovem, é difícil imaginar a quantidade de Luz que teria sido extraída d’O Zohar. O pouco que nos foi dado pavimentou um caminho e uma entrada, e a verdadeira esperança de que ao longo das gerações nossa compreensão irá aumentar até a compreensão total.



Ainda, você deve entender a razão pela qual todos os grandes sábios que seguiram o ARI abandonaram todos os livros que eles tinham compilado sobre esta Sabedoria e sobre os comentários d’O Zohar, e quase proibiram a si mesmos de vê-los, e dedicaram suas vidas às palavras do ARI. Isto não se deveu a eles não acreditarem na santidade dos sábios que precederam o ARI; Deus proíba que pensemos assim. Qualquer pessoa com olhos na Sabedoria podia ver que o attainment daqueles grandes sábios na Sabedoria da Verdade era imensurável. Apenas um tolo ignorante poderia duvidar deles. No entanto, a lógica deles na Sabedoria seguia as três primeiras linguagens.



Embora cada Linguagem seja verdadeira e adequada em seu devido lugar, não é completamente adequado, e é até mesmo enganador, compreender a Sabedoria da Cabalá contida n’O Zohar usando esses ordenamentos, já que esta é uma Linguagem completamente diferente, desde que foi esquecida. Por essa razão, nós não usamos essas explicações, nem as do próprio Rabi Moshe de Leon ou as de seus sucessores, já que as palavras deles interpretando O Zohar não são verdadeiras, e até hoje nós temos apenas um comentarista – o ARI.



À luz do exposto, segue que a internalidade da Sabedoria da Cabalá não é diferente da internalidade da Bíblia, do Talmude e das Lendas. A única diferença entre elas está em suas explicações.



Isso é similar a uma sabedoria que foi traduzida para quatro línguas. Naturalmente, a essência da sabedoria não mudou nada pela mudança de língua. Tudo que precisamos pensar é qual tradução é a mais conveniente para levar a sabedoria ao leitor.



Assim é com relação a este assunto: a Sabedoria da Verdade, ou seja, a Sabedoria da Revelação da Santidade em Seus caminhos aos seres criados, como ensinamentos seculares, deve ser passada de geração a geração. Cada geração acrescenta um elo aos seus antecessores, e assim a Sabedoria evolui. Além disso, ela se torna mais adequada para expansão para o público.



Consequentemente, cada sábio deve passar a seus estudantes e às gerações seguintes tudo que ele herdou da Sabedoria de gerações anteriores, bem como as adições com as quais ele mesmo foi recompensado. Claramente, o attainment espiritual – da forma que é recebido através da recepção – não pode ser passado de um para outro, e ainda mais ser escrito em um livro, já que objetos espirituais não podem vir em letras da imaginação de modo algum (mesmo que esteja escrito: “.e pelo ministério dos profetas eu usei similitudes,” isto não é literal.)



A ordem de transmitir a Sabedoria



Assim, como alguém que recebe pode transmitir suas recepções (attainments) para as gerações e para os estudantes? Saiba que só há uma maneira para fazê-lo: o caminho da raiz e ramo. Todos os mundos e tudo que os preenche, em cada um de seus detalhes, emergiram do Criador em um único pensamento unificado. E aquele pensamento sozinho suspendeu e criou todos os muitos mundos, criações e seus comportamentos, como explicado n’A Árvore da Vida e no Tikkuney Zohar.



Por isso, eles são todos iguais uns aos outros, como o selo e seu carimbo, onde o primeiro selo é impresso em todos eles. Como resultado, nós chamamos os mundos mais próximos ao pensamento sobre o propósito de “raízes”, e chamamos os mundos mais afastados do propósito de “ramos.” Isto é assim porque o fim do ato está no pensamento preliminar.



Agora podemos entender o idioma comum nas Lendas dos nossos sábios: “E o observa do fim do mundo até o seu fim.” Eles não deveriam ter dito: “Do começo do mundo até o seu fim”? Todavia, há dois fins: 1) um fim de acordo com a distância do propósito, ou seja, os últimos ramos neste mundo; e 2) um fim chamado “o propósito final”, já que o propósito é revelado no final do assunto.



Mas, conforme explicamos: “O fim do ato está no pensamento preliminar.” Consequentemente, nós encontramos o propósito no começo dos mundos. É a isto que nos referimos como “o primeiro mundo”, ou “o primeiro selo.” Todos os outros mundos derivam dele, e é por isso que todas as criações – mineral, vegetal, animal e falante – em todos os seus incidentes existem em sua forma completa já no primeiro mundo. E o que não existe lá não pode aparecer no mundo, já que não se pode dar o que não se tem.



Raiz e Ramo nos Mundos



Agora é fácil entender o assunto de raiz e ramo nos mundos. Cada um dos diversos minerais, vegetais, animais e falantes neste mundo têm sua parte correspondente no mundo acima dele, sem nenhuma diferença em sua forma, apenas em sua substância. Portanto, um animal ou uma pedra neste mundo é uma questão corporal, e seu correspondente animal ou pedra no mundo mais elevado é uma questão espiritual, que não ocupa espaço ou tempo. No entanto, suas qualidades são totalmente as mesmas.



E aqui nós certamente deveríamos acrescentar a questão da relação entre matéria e forma, a qual é naturalmente condicionada na qualidade da forma, também. Similarmente, com a maioria dos minerais, vegetais, animais e falantes no mundo superior, você encontrará suas similitudes e semelhanças no mundo acima do superior. Isto continua até o primeiro mundo, onde todos os elementos são completados, como está escrito: “E Deus viu tudo que Ele tinha feito, e vejam, era muito bom.”



É por isso que os cabalistas escreveram que o mundo está no centro de tudo, indicando o acima, que o fim do ato é o primeiro mundo, ou seja, o propósito. Ainda, a distância do propósito é chamada “a descida dos mundos do seu Emanador” até abaixo, neste mundo corpóreo, o mais distante do propósito.



No entanto, o fim de tudo que é corpóreo é gradualmente se desenvolver e alcançar o propósito que o Criador estabeleceu para ele, ou seja, o primeiro mundo. Comparado a este mundo, no qual estamos, ele é o último mundo, ou seja, o fim da matéria. É por isso que parece que o mundo do propósito é o último mundo, e nós, pessoas deste mundo, estamos entre eles.



A Essência da Sabedoria da Verdade



Agora está claro que, assim como a emergência das espécies vivas neste mundo e a conduta das suas existências são uma sabedoria maravilhosa, a aparição da abundância Divina no mundo, os níveis e a conduta de suas ações se unem para criar uma sabedoria maravilhosa, muito mais do que a ciência da física. Isto é assim porque a ciência da física é meramente o conhecimento dos arranjos de um tipo particular existentes em um mundo particular. Ela é única para seu assunto, e nenhuma outra ciência está incluída nela.



Isto não é assim com a Sabedoria da Verdade. Porque ela é o conhecimento de todo o mineral, vegetal, animal e falante em todos os mundos, em todas as suas instâncias e condutas, posto que elas foram incluídas no Pensamento do Criador, isto é, nos assuntos intencionais, por esta razão, todos os ensinamentos no mundo, do menor deles até o maior, são maravilhosamente incluídos nela, já que ela equaliza todos os variados ensinamentos, os mais diferentes e os mais remotos uns dos outros, como o Leste do Oeste. Ela os torna todos iguais, ou seja, até as ordens de cada ensinamento são compelidas a seguir seus caminhos.



Por exemplo, a ciência da física é arranjada precisamente pela ordem dos mundos e das Sefirot. Do mesmo modo, a ciência da astronomia é arranjada pela mesma ordem, e assim é a ciência da música etc. Assim, descobrimos que todos os ensinamentos estão organizados nela e seguem uma única conexão e uma única relação, e elas todas são como a relação da criança com seu progenitor. Portanto, eles são dependentes uns dos outros; ou seja, a Sabedoria da Verdade depende de todos os ensinamentos, e todos os ensinamentos dependem dela. É por isso que não encontramos um único cabalista genuíno sem conhecimento abrangente de todos os ensinamentos do mundo, já que eles os adquirem da própria Sabedoria da Verdade, posto que estes estão incluídos nela.



O significado da Unidade



A maior maravilha a respeito desta Sabedoria é a integração que existe nela: Todos os elementos da vasta realidade estão incorporados nela até que eles se tornam uma única coisa – o Todo-Poderoso, que contém todos eles juntos.



No começo, você descobrirá que todos os ensinamentos do mundo estão refletidos nela. Eles estão dispostos nela precisamente por suas ordens. Subsequentemente, nós descobrimos que todos os mundos e ordens na própria Sabedoria da Verdade, os quais são imensuráveis, unem-se sob apenas dez realidades chamadas de “Dez Sefirot.”



Mais tarde, estas dez Sefirot se organizam de quatro maneiras, as quais são o nome de quatro letras. Então, estas quatro maneiras são incluídas na ponta do Yud, o que implica o Ein Sof [Infinito/Sem Fim].



Desta forma, o iniciante na Sabedoria deve começar com a ponta do Yud, e de lá para as dez Sefirot no primeiro mundo, chamado “o mundo de Adam Kadmon.” De lá, vê-se como os numerosos detalhes no mundo de Adam Kadmon necessariamente se estendem por meio de causa e efeito pelas mesmas leis que nós encontramos na astronomia e na física, ou seja, leis constantes e inquebráveis que necessariamente derivam umas das outras, penduradas umas às outras, da ponta do Yud descendo a todos os elementos no mundo de Adam Kadmon. De lá elas são impressas umas pelas outras dos quatro mundos por meio de selo e carimbo até que nós chegamos a todos os elementos neste mundo. Mais tarde, elas são reintegradas umas nas outras até que todas elas vêm ao mundo de Adam Kadmon, então para as dez Sefirot, depois para o Nome de quatro letras [HaVaYah], até a ponta do Yud.



Nós poderíamos perguntar: “Se o material é desconhecido, como podemos escrutinizá-lo racionalmente”? De fato, coisas assim você encontrará em todas as ciências. Por exemplo, ao estudar anatomia – os vários órgãos e como eles impactam uns aos outros – estes órgãos não têm similaridade com o assunto geral, que é o ser humano inteiro, completo. No entanto, com o tempo, quando você conhece a sabedoria completamente, você pode estabelecer uma relação geral de todos os detalhes sobre os quais o corpo está condicionado.



Da mesma forma é aqui: O assunto geral é a Revelação da Santidade às Suas criaturas, por meio do propósito, como está escrito: “E a terra estará cheia do conhecimento do Senhor.” No entanto, um iniciante certamente não tem conhecimento deste assunto geral, o qual é condicionado por todos eles. Por esta razão, a pessoa deve adquirir todos os detalhes e como eles impactam uns aos outros, assim como suas causas por meio de causa e efeito, até que ela complete toda a Sabedoria. Quando uma pessoa conhece tudo completamente, se ela tem uma alma refinada, é certo que ela finalmente será recompensada com o assunto geral.



Mesmo que ela não seja recompensada, ainda assim é uma grande recompensa adquirir qualquer percepção desta grande Sabedoria cuja vantagem sobre todos os outros ensinamentos é tal qual o valor dos seus assuntos. À medida que a vantagem do Criador sobre Suas criaturas é valorizada, assim esta Sabedoria, cujo assunto é Ele, é muito mais valiosa do que a sabedoria cujo assunto é Suas criaturas.



Não é por ela ser imperceptível que o mundo se abstém de contemplá-la. Afinal, um astrônomo não tem percepção das estrelas ou dos planetas, mas apenas de seus movimentos, os quais eles realizam com maravilhosa sabedoria que é pré-determinada com maravilhosa orientação. De modo similar, o conhecimento da Sabedoria da Verdade não é mais oculto que isto, já que mesmo iniciantes compreendem inteiramente os movimentos. Pelo contrário, toda a prevenção foi porque os cabalistas muito sabiamente a ocultaram do mundo.



Dando Permissão



Estou feliz de ter nascido em uma geração na qual é permitido revelar a sabedoria da verdade. E caso você pergunte como eu sei que é permitido, eu responderei que é porque eu recebi permissão para revelar. Ou seja, até agora, as formas pelas quais é possível envolver publicamente e explicar completamente cada palavra não foi revelada a nenhum sábio. E eu também jurei por meu professor não revelar, como fizeram todos os discípulos antes de mim. No entanto, esta promessa e esta proibição se aplicam apenas àquelas maneiras que são dadas oralmente de geração para geração, desde os profetas e antes deles. Se estes caminhos tivessem sido revelados para o público, teriam causado muitos danos, por motivos conhecidos apenas por nós.



No entanto, a maneira como me envolvo em meus livros é permitida. Além do mais, fui instruído por meu professor a expandi-la o máximo que conseguir. Nós a chamamos de “a maneira de vestir os assuntos.” Você verá nos escritos de Rabi Shimon Bar Yochai que ele chama esta maneira de “dando permissão,” e isto é o que o Criador me deu em sua extensão máxima. Nós a consideramos como dependente não da grandeza do sábio, mas do estado da geração, como nossos sábios disseram: “O Pequeno Samuel era merecedor etc., mas sua geração não era merecedora." É por isto que eu disse que eu ser recompensado com a maneira de revelar a Sabedoria é apenas por causa de minha geração.



Nomes Abstratos



É um grave erro pensar que a linguagem da Cabalá usa nomes abstratos. Pelo contrário, ela toca apenas no que é real. De fato, há coisas no mundo que são reais mesmo que não tenhamos percepção delas, como o magnetismo e a eletricidade. Ainda assim, quem seria tolo o suficiente para dizer que estes são nomes abstratos? Afinal, nós conhecemos completamente suas ações, e não nos importamos de modo algum por não conhecermos suas essências.  No final das contas, nós nos referimos a eles como sujeitos das ações relacionadas a eles, e isto é um nome real. Mesmo uma criança que está apenas aprendendo a falar pode nomeá-los, se ela apenas começar a sentir suas ações. Esta é nossa lei: Tudo o que não recebemos (attain) não definimos por um nome.



A Essência não é percebida pelos seres corpóreos



Além do mais, mesmo as coisas que nós imaginamos atingir em suas essências, como pedras e árvores, depois de um exame honesto somos deixados com zero recepção de suas essências, já que nós só recebemos suas ações, as quais ocorrem em conjunto com o encontro de nossos sentidos com elas.



Alma



Por exemplo, quando a Cabalá afirma que há três forças: 1) Corpo, 2) Alma animada, 3) Alma de Kedushá [santidade], isto não se refere à essência da alma. A essência da alma é fluida; é o que os psicólogos chamam de “self” e os materialistas de “eletricidade.”



É uma perda de tempo falar de sua essência, já que ela não está preparada para impressão através do toque de nossos sentidos, como é com todos os objetos corpóreos. No entanto, ao observar na essência desse fluido três tipos de ações nos mundos espirituais nós distinguimos completamente entre eles por diferentes nomes, de acordo com suas operações reais nos mundos superiores. Assim, não há nomes abstratos aqui, e sim tangíveis, no sentido pleno da palavra.



A vantagem de meu comentário sobre comentários prévios



Podemos ser ajudados por ensinamentos seculares ao interpretar assuntos da Sabedoria da Cabalá, já que a Sabedoria da Cabalá é a raiz de todas as coisas e todas elas estão incluídas nela (Sabedoria). Alguns assuntos foram auxiliados pela anatomia, como está escrito: “De minha carne verei a Deus,” e alguns foram ajudados pela filosofia. Ultimamente, há uso extensivo da sabedoria da psicologia. Mas todos estes não são considerados verdadeiros comentários, já que eles não interpretam nada da Sabedoria da Cabalá em si mesma, mas apenas nos mostram como o resto dos ensinamentos são incluídos nela. É por isso que os leitores não podem ser auxiliados por nada além da própria Cabalá. Mesmo a sabedoria de servir o Criador, cuja sabedoria é a mais próxima à sabedoria da Cabalá, dentre todos os ensinamentos externos.



E é desnecessário dizer, é impossível ser assistido por intepretações de acordo com a ciência da anatomia, ou pela filosofia. Por essa razão, eu disse que sou o primeiro intérprete por raiz e ramo, causa e efeito. Consequentemente, se alguém compreender algum assunto através de meu comentário, ele pode estar certo que encontrará esse assunto no Zohar ou nos Tikkunim, e lá ele poderá ser ajudado pelo meu comentário, assim como por outros comentários literais.



O estilo de interpretar de acordo com ensinamentos externos é uma perda de tempo porque isto não é nada mais que um testemunho da genuinidade de um estilo sobre o outro. Um ensinamento externo não precisa de testemunho, já que a Providência preparou cinco sentidos para testemunhar por ele, e na Cabalá a pessoa deve, não obstante, entender o argumento do litigante antes de trazer testemunho ao argumento.





O estilo de interpretar de acordo com ensinamentos externos



Esta é a fonte do engano de Baal Shem Tov: Ele interpretou O Guia dos Perplexos de acordo com a Sabedoria da Cabalá, e ele não sabia, ou fingiu não saber, que a sabedoria da medicina, ou qualquer outra sabedoria, poderia ser interpretada de acordo com a Sabedoria da Cabalá, não menos que a sabedoria da filosofia. Isto é assim porque todos os ensinamentos estão incluídos nela e foram impressos por seu selo.



É claro, O Guia dos Perplexos não se referia de modo algum ao que o Baal Shem Tov interpretou, e ele não viu como n’O Livro da Criação interpretou a Cabalá de acordo com a filosofia. Eu já provei que tal estilo de comentários é uma perda de tempo, já que ensinamentos externos não precisam de testemunho, e é sem sentido testemunhar pela veracidade da Sabedoria da Cabalá antes que suas palavras sejam interpretadas.



É como um promotor que traz testemunhas para verificar suas palavras antes que tenha explicado seus argumentos (exceto pelos livros que lidam com o trabalho do Criador, já que a Sabedoria de servir o Criador realmente necessita de testemunhas da sua veracidade e sucesso, e nós deveríamos ser auxiliados pela Sabedoria da Verdade).



No entanto, todas as composições neste estilo não são de modo algum um desperdício. Depois de compreendermos completamente a Sabedoria em si mesma, seremos capazes de receber muita assistência de analogias, como todos os ensinamentos estão incluídos nela, assim como as maneiras pelas quais buscá-los.



Alcançando a Sabedoria





Há três ordens na Sabedoria da Verdade:



1.  A originalidade na Sabedoria. Ela não requer assistência humana, já que ela é inteiramente um presente do Criador, e nenhum estranho deve interferir com ela.



2. A compreensão dessas fontes, a qual a pessoa recebe de cima. É como alguém diante de quem o mundo inteiro é disposto, e ainda assim ela deve tentar e estudar para compreender este mundo. Embora ela veja tudo com seus próprios olhos, há os tolos e há os sábios. Esta compreensão é chamada “A Sabedoria da Verdade,” e Adam Ha Rishon foi o primeiro a receber uma sequência de conhecimento suficiente através do qual pôde compreender e utilizar com sucesso o máximo de todas as coisas que ele viu e alcançou com seus olhos.



A ordem desses conhecimentos é dada apenas de boca a boca. E há ainda uma ordem de evolução neles, onde cada um pode acrescentar ao seu amigo ou retroceder (enquanto que no primeiro discernimento todos recebem igualmente sem adição ou subtração, como Adão, em compreensão da realidade deste mundo. Em termos de visão, todos são iguais, mas isto não é assim em se tratando de compreensão – alguns evoluem de geração em geração e alguns retrocedem). E a ordem de sua transmissão é, às vezes, chamada “transmitindo o Nome Explícito”, e é dada sob muitas condições, mas apenas oralmente e não por escrito.



3) Esta é uma ordem escrita. É algo completamente novo, já que além de conter muito espaço para o desenvolvimento da Sabedoria, através da qual cada um herda todas as expansões de suas recepções (attainments) para as gerações seguintes, há outro poder magnífico nela: Todos que se envolvem nela, embora ainda não compreendam o que está escrito nela, são purificados por ela, e as Luzes superiores se aproximam deles. Esta ordem contém quatro Linguagens, conforme explicamos acima, e a linguagem da Cabalá ultrapassa todas elas.





A ordem de transmitir a Sabedoria



A maneira mais bem-sucedida para quem deseja aprender a Sabedoria é procurar por um cabalista genuíno e seguir todas as suas instruções, até que seja recompensado com a compreensão da Sabedoria em sua mente, ou seja, o primeiro discernimento. Depois, a pessoa será recompensada com a sua transmissão boca a boca, que é o segundo discernimento, e depois disso, a compreensão por escrito, que é o terceiro discernimento. Então, a pessoa terá herdado toda a Sabedoria e seus instrumentos de seu professor com facilidade e será deixada com todo o seu tempo para se desenvolver e se expandir.



No entanto, na realidade há uma segunda maneira: Através do grande desejo da pessoa, as visões do paraíso se abrirão diante dele e ele alcançará todas as origens por si mesmo. Este é o primeiro discernimento. No entanto, mais tarde, a pessoa ainda deve trabalhar e se esforçar extensivamente até que encontre um sábio cabalista diante do qual ela possa se curvar e obedecer, e de quem possa receber a Sabedoria através da transmissão face a face, a qual é o segundo discernimento.



Então vem o terceiro discernimento. Dado que ele não está ligado a um sábio cabalista desde o princípio, as recepções (attainments) vêm com grandes esforços e consomem muito tempo, deixando pouco tempo para que ele se desenvolva nelas. Ainda, algumas vezes a Sabedoria vem depois do fato, como está escrito: “E eles morrerão sem sabedoria.” Estes são noventa e nove por cento e é o que nós chamamos de “entrando, mas não saindo.” Eles são como tolos e ignorantes neste mundo, que vêem o mundo disposto diante deles, mas não entendem nada dele, exceto pelo pão em suas bocas.



De fato, na primeira maneira, também, nem todos têm sucesso, já que após serem recompensados com a recepção (attainment), a maioria deles se torna complacente e não consegue subjugar a si mesmos diante de seu professor suficientemente, já que não são merecedores da transmissão da sabedoria. Neste caso, o sábio deve ocultar a essência da Sabedoria deles, e “eles morrerão sem sabedoria”, “entrando mas não saindo.”



Isto é assim porque há condições duras e estritas para a transmissão da Sabedoria, as quais derivam de razões necessárias. Por isso, muito poucos são considerados suficientemente elevados por seus professores para que esses os considerem merecedores desta coisa, e felizes são os recompensados.


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