2. Para clarificar tudo isso
verdadeiramente, é preciso que antes se estude certas questões que não sejam da
"área proibida", ou seja, da essência do Criador. De forma alguma é
possível compreendê-Lo com a nossa mente e, portanto, não temos nem ideia nem
conceitos sobre Ele. O campo de pesquisa obrigatório é o estudo das ações do
Criador.
No geral, conseguimos entender as questões: "O que é a
Essência?"; "Qual é o nosso papel na cadeia da realidade?";
"Por que somos imperfeitos se o Criador é Perfeito?" e assim por
diante. Então por que precisamos de estudos preliminares?
Precisamos deles para entender essas questões com mais precisão.
Em outras palavras, devemos abordá-las de um modo diferente, pois é dito:
"Muitos (no curso da história)
tentaram elucidar essas questões e muita tinta já foi gasta".
Portanto, no fim, essas questões continuam sem decifração.
Como podemos resolver essas questões, encontrar as respostas e nos
tornar de fato conscientes delas internamente? A fim de examinar essas questões
e resolvê-las é necessário nos colocarmos numa posição ambígua em relação a
elas. E é isso o que Baal HaSulam faz nos seus estudos. Ele diz:
Para clarificar tudo isso
verdadeiramente, precisamos fazer certas investigações preliminares, de tal
forma que o assunto não entre na "área proibida", isto é, na Essência
do Criador…
Por que é proibido estudar a Essência do Criador? Mais adiante,
ele responde o seguinte: …que, de forma
alguma, pode ser compreendida pela nossa mente.
Já que não podemos compreender a Essência do Criador, não devemos
estudá-la. Isso seria inalcançável para nós no nosso nível atual de
desenvolvimento. Portanto, a única coisa que devemos fazer é estudar tudo o que
talvez possamos compreender. Além disso, se estudamos o que podemos receber,
nós nos aproximaremos da área incompreensível, a Essência do Criador.
Sobre isso, Baal HaSulam diz: A
Essência do Criador não pode ser compreendida pela nossa mente, portanto, não
pensamos nem conceituamos sobre Ele... O campo de pesquisa obrigatório (isto é,
a instrução do Criador) é o estudo das ações do Criador. Da forma como nos é dito: "Conhece o
Criador e sirva a Ele".
Se O recebo, se recebo Suas ações e Suas instruções, eu
internamente me adapto à correção. Eu me coloco em semelhança com Ele, é isso
que chamamos de "Eu compreendo Suas ações e sirvo a Ele", ou seja,
compreendo o trabalho "pelo Criador".
Também é dito que "pelas Suas ações, O conhecerei".
Eu O alcanço ao ajustar minhas ações às Dele e ao me tornar
semelhante a Ele. Se começo minha investigação diretamente a partir Dele, isso
se chama "filosofia". E nada será conseguido dessa forma. Eu só
poderei compreender e receber o Criador a partir do momento em que me tornar
semelhante a Ele, e então todos os estados e qualidades que existem Nele serão
formados em mim. Assim, serei capaz de compreender Suas intenções, o que
precede Suas qualidades e ações. Do Guf (corpo)
do Partzuf, alcançarei seu Rosh (Cabeça).
Se o meu corpo, isto é, todos os meus desejos, se tornarem
semelhantes a todas as ações do Criador, então o corpo interno da minha alma,
meus desejos, o corpo do Partzuf,
será formado. O Toch (parte interna)
ou Sof (fim) do Partzuf será semelhante à influência do Criador sobre mim. Isso se
chama "nove das minhas Sefirot opostas, tornam-se semelhantes a nove das
Suas Sefirot diretas", o que me permite encontrar o completo equilíbrio
com o Criador e apreender Seus pensamentos, o Rosh do Partzuf.
Só assim chegamos a uma compreensão do Criador. Se a pessoa age
expressamente dessa forma, ela revela no seu estudo a oportunidade de elevar-se
do nível da Criação ao Nível do Criador.
Se desejamos fazer isso, que tipo de perguntas precisamos fazer?
Primeira Pergunta:
Como podemos ver a Criação como
algo recém formado? Algo novo, algo que não existia no Criador antes de ter
sido criado? Como é possível que alguém, em sã consciência, imagine que não
havia nada no Criador? O simples senso comum nos faz acreditar nisso. Ninguém
pode dar alguma coisa sem, antes, possuí-la.
Se o Criador cria alguma coisa, é preciso que essa coisa exista
Nele de alguma forma. Como seria possível que alguma coisa subitamente surgisse
do nada, a partir do nada? O que significa "a partir do nada"? Ele
pensou nisso? Fez algum plano? O que O induziu a isso? De onde Ele tirou os
materiais - pensamentos, sentimentos e ações - para construir a criação? Havia
algum ponto Nele a partir do qual tudo isso começou? Como é possível que seja
assim sem que nada existisse Nele, nem um ponto de partida? Não deveria existir
um princípio? Se sim, como é possível acreditar que não viemos Dele, mas do
nada?
Eu recomendo que você pare agora e tente recordar de tudo o que eu
falei até aqui. Não se esforce internamente para adaptar o material e colocá-lo
inteiro dentro de você, em prateleiras determinadas. Por favor, não faça isso!
É preciso ir com calma, senão nada disso entrará em você. Não há
razão para ficar nervoso, estude livremente e com amor. Não tente memorizar
nada! Talvez nem possamos nos lembrar de tudo o que aprendemos.
De repente, sentiremos que só conseguimos compreender algo novo se
esse algo nos penetra por dentro, torna-se a nossa natureza. Não faça como os
filósofos que "derramaram muita tinta" por milhares de anos. Nada
resultou disso.
Precisamos reproduzir todas essas ações dentro de nós mesmos.
Quando elas tornarem-se nossas propriedades internas, nós saberemos, sentiremos
e veremos todas elas. Do contrário, nossas tentativas inúteis de guardar essas
informações falharão.
Enquanto estivermos estudando, tente se concentrar no que
desejamos alcançar, onde queremos estar. O mais importante não é saber, mas
atrair a Luz da Correção, que nos eleva a todos esses estados. É nisso que
devemos pensar durante o nosso estudo.
Ao estabelecer um objetivo, tentamos direcionar sobre nós mesmos a
Luz Circundante. Para isso, lemos o que o autor escreveu enquanto estava no
alto nível de recebimento em que ele fundiu-se com o Criador. Ele não escreveu
seus livros para elucidar pobres filósofos ou a nós. Ele nos instrui a "conhecer
o Criador e servir a Ele", a ajustar Suas ações em nós mesmos e nos tornar
semelhantes a Ele. O resultado será o que disse o Rei David: "Pelas Suas
ações, eu O conhecerei". Aqui é onde o nosso foco deve estar. Portanto,
vamos parar de torturar em vão o nosso cérebro e tentar ativar nossos corações
e, acima disso, o ponto neles.
Segunda Pergunta
Pode-se dizer que, do ponto de
vista da Onipotência do Criador, Ele pode criar algo a partir do nada, ou seja,
algo novo, que não esteja presente Nele?
Se dizemos que Ele pode fazer
qualquer coisa, então, é claro que Ele pode criar algo a partir do nada, ou
seja, algo novo que não estava presente Nele. Então surge a dúvida, que tipo de
realidade podemos dizer que não existia no Criador, mas que possui uma nova formação?
Suponha que aceitamos nossa primeira pergunta como um axioma: Sim,
o Criador criou algo a partir do nada. Nós ainda vamos chegar a essa conclusão,
mas, por agora, vamos admitir que já a obtivemos e, nesse caso, que Ele criou
algo que estava completamente fora de Si Mesmo.
Então surge a dúvida, que tipo de
realidade podemos dizer que não existia no Criador, mas que possui uma nova
formação?
Então foi isso que o Criador decidiu criar, algo que não está
presente Nele e do qual Ele sentiu uma súbita necessidade? Isso não sugere que
existe uma certa ausência de perfeição Nele? Que algo estava faltando e que,
agora, esse algo é uma necessidade? Ou ainda, se Ele era Perfeito antes e
depois, por que Ele fez algo novo? Se assim é, obviamente essa nova “criação”
nada tem a ver com a Perfeição.
Terceira Pergunta
Os cabalistas dizem que a alma
humana é uma parte do Criador e, portanto, não há diferença entre Ele e a alma.
Dentro de cada pessoa existe uma alma animal, uma força vital que
sustenta tanto os animais como nós humanos e, além disso, temos uma pequena
partícula do Criador Ele Mesmo. A alma está dentro de nós, mas é uma pequena
faísca de Cima. Quando ela está Acima, ela é uma pequena faísca, quando está em
nós, é uma alma.
A diferença é que Ele é o “todo” e
a alma é uma “parte”. É como uma pedra que é retirada de uma rocha: não há
diferença entre a pedra e a rocha exceto pelo fato de que a rocha é um “todo” e
a pedra é uma “parte”. Com isso, perguntamos: Ainda que a pedra retirada da
rocha tenha sido separada dela por um machado, criado para esse fim, causando a
separação da “parte” e do “todo”, como podemos imaginar que o Criador separa
uma parte da Sua Essência para se tornar independente Dele, ou seja, uma alma,
a ponto de ela apenas ser compreendida como uma parte da Sua Essência?
O machado é o Kli, uma
ferramenta, uma força material que separa uma “parte” do “todo”.
Então o que é o machado espiritual que extrai uma parte do todo?
Por que a parte retirada permanece imutável, com as mesmas propriedades que
existem no Criador? O Criador sofre com esse processo? Afinal, uma parte Sua
foi retirada! Essa parte retirada foi reduzida da Sua Perfeição? É possível que
Ele se torne imperfeito? Falta algo Nele? Qual é a conexão entre uma parte (uma
alma) separada do Criador e o Criador Ele Mesmo? Ou ainda, essa parte está
totalmente separada Dele?
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