3. Quarta Pergunta
Já que o sistema de forças impuras
e das Klipot estão tão distantes da Pureza do Criador que nada mais remoto pode
ser concebido, como pode ser que elas emanem do Criador e ainda sejam
sustentadas por Ele?
Os cabalistas desejam tornar nossa vida mais fácil, então eles nos
dizem tudo com antecedência. Além das perguntas comuns, eles fazem muitas
outras, sobre as quais nunca pensaríamos. Aqui, Baal Ha Sulam trata sobre o
sistema das forças impuras (Klipot)
que são completamente opostas ao Criador. Ele gera esse sistema de mundos
impuros e os sustenta continuamente com a Sua Pureza. Que conexão pode existir
entre eles se eles são opostos?
Dizemos que se duas ou mais propriedades espirituais são opostas
entre si, não há contato entre elas. Se elas se sobrepõem parcialmente,
significa que algumas das suas qualidades são semelhantes. Se elas se sobrepõem
completamente então elas são equivalentes. A Criação é, inicialmente, oposta ao
Criador e está separada Dele. O mesmo ocorre com as forças impuras: existe o
Criador e existem as Klipot.
As Klipot são criadas e
mantidas pelo Criador, ainda que, de fato, estejam completamente separadas
Dele. Como isso pode ser? O Criador gera e mantém as Klipot ao mesmo tempo em estão completamente separados. Essa
questão exige uma explicação.
A Quinta Pergunta
refere-se à "Ressurreição dos
Mortos".
Baal Ha Sulam diz que existe um estado chamado "Ressurreição
dos Mortos". Mas, antes, é preciso que algumas definições sejam estabelecidas:
Por "alma", nos referimos à doação ou intenção de doar. Por
"corpo", nos referimos ao Guf do Partzuf ou ao desejo. Por
"Ressurreição dos Mortos", nos referimos à elevação dos corpos mortos
(desejos).
Já que o corpo é tão desprezível,
ele está fadado a perecer e ser enterrado.
O que significa "fadado a perecer" e "ser
enterrado"? Em relação ao corpo, nos referimos a desejos existentes no
momento do nascimento, pois eles têm intenções egoísticas. "Fadados a
perecer", significa ser totalmente erradicado da Luz, morrer. A pessoa
considera que seus "desejos com intenções egoístas" estejam mortos.
Ela não consegue e nem quer utilizá-los, ela deseja enterrá-los. Depois disso,
os desejos passam por correções, isto é, a intenção para si mesmo (que é a
intenção das Klipot) é transformada
na intenção pelo Criador, o propósito de doar. Esse processo é chamado de “Ressurreição
dos Corpos Mortos”.
O corpo (dos desejos) não muda, somente a sua intenção. O corpo em
si é neutro. Há a intenção egoísta "para si mesmo" ou a tela que gera
Ohr Hozer (Luz Refletida), a intenção
"para o Criador". A intenção "para si mesmo" é chamada de Klipá. A intenção "pelo
Criador" é chamada de Kedushá. É
preciso chegar ao ponto em que a intenção "para si mesmo" morra em
nós. Se alcançamos a intenção "pelo Criador", esta será a
ressurreição.
Vejamos o que Baal Ha Sulam escreve. Quando lemos o texto sem os
comentários, pode-se lembrar dos contos fantásticos em que corpos mortos saem
das tumbas e perambulam por aí.
Por que então o corpo retorna e se
eleva na "Ressurreição dos Mortos"? O Criador não poderia dar prazer
às almas sem isso?
A pergunta de Baal Ha Sulam não diz respeito nem ao corpo nem à
alma, mas ao motivo por que precisamos atravessar todas essas transformações.
Por que precisamos permanecer nas Klipot
até as considerarmos mortas e as enterrarmos e esperarmos até que se
decomponham completamente? Nós somente podemos utilizar o corpo (desejo) e
trabalhar com esse desejo "pelo Criador" depois de nos libertar da
intenção egoísta.
Vamos supor que eu tenho um desejo com intenções inicialmente
egoístas, faço tudo exclusivamente para o meu bem estar. Esse é o meu primeiro
estado. Meu segundo estado é quando, sob a influência da Luz Superior que
atraio ao ler os textos cabalísticos, esses desejos começam, pouco a pouco, a
desaparecer. Eu começo a sentir minha condição como o "mal" e ele
lentamente começa a sair de mim. Eu sinto que eles (desejos) estão morrendo e
eu alcanço a condição em que estou totalmente livre deles. No meu próximo nível,
eu começo a adotar as propriedades do Criador e a desejá-Lo. Isso é chamado de “Ressurreição
do Corpo”.
Por "corpo", sempre nos referimos ao desejo. Ele
permanece o mesmo, nada acontece a ele, é somente a intenção que muda. O corpo
sempre consiste dos mesmos desejos: eu sempre terei 620 desejos no meu corpo.
Em geral, conseguimos entender isso facilmente. A dúvida sempre
surge sobre outro assunto: Para começo de conversa, por que somos obrigados a
receber más intenções, "para mim mesmo"? Por que precisamos vê-las
como más e então desejar nos libertar completamente delas, e assim adquirir a
intenção boa?
Baal Ha Sulam diz:
Por que então o corpo retorna e
eleva-se na "Ressurreição dos Mortos”? O Criador poderia dar prazer às
almas sem isso?
Por que não podemos receber boas qualidades desde o início e já
estarmos unidos com o Criador? Por que devemos descobri-Lo através das más
qualidades?
Além disso, no Zohar está dito que
antes do corpo apodrecer completamente, enquanto ainda houver vestígios dele, a
alma não pode ascender ao seu lugar Celestial. Ou seja, até que toda a intenção
“para si mesmo” desapareça a alma não será ressuscitada e não se fundirá com o
Criador na semelhança de Suas propriedades.
Ainda mais impactante é o que os
nossos sábios falam sobre os corpos mortos que estão destinados a retornar com
todas as suas deficiências para que eles não sejam confundidos com os outros.
Embora eles digam que os corpos, os desejos, a morte e a
ressurreição referem-se às intenções, ainda assim é muito difícil alcançar a
percepção correta do que se fala. E então surge uma dúvida: Por que devemos
passar por tudo isso? A morte de nossas intenções parece suficientemente clara.
A transformação da intenção “para mim mesmo” na intenção “para o Criador”
também é clara. O problema é diferente: A menos que o corpo permaneça com suas
deficiências, nós não somos capazes de nos tornar semelhantes ao Criador.
O Criador, então, corrigirá suas
deficiências. Mas devemos entender por que é importante, para Ele, que eles não
sejam confundidos com outros corpos que reconstituirão suas deficiências e as
corrigirão.
Além da ressurreição do corpo, deve existir a revelação das
deficiências. Quando elas estão mortas e nada mais resta delas em nós, devemos
resgatá-las, tê-las manifestas em nós a fim de deixarmos de usá-las e então
corrigi-las.
Como se dá esse processo?
Inicialmente, eu possuo intenções egoístas, sobre as quais faço um
Tzimtzum (Restrição). Eu não tenho o
menor desejo de me conectar com elas. Adquiri a força necessária e obtive a
tela. Enquanto escavo do chão cada uma das minhas intenções egoístas, eu digo:
“Essa é minha propriedade original verdadeira - a intenção para mim mesmo.
Agora irei transformar essa intenção ‘para mim mesmo’ na intenção ‘para o
Criador’”.
Em outras palavras, minha intenção egoísta retorna à vida e eu a
corrijo em uma intenção positiva, pois é necessário fazer um Tzimtzum no meio do caminho.
Previamente, todas as minhas intenções interiores eram 100%
negativas, então eu as eliminei. Fiquei vazio, isto é, parei de usar cada uma
das minhas intenções e elas “apodreceram”. Então eu as ressuscito. De que forma? Eu as reanimo na sua forma
negativa, mas não na totalidade da sua negatividade. Eu primeiro corrijo apenas
1% e, pouco a pouco, chego aos 100% de correção.
1.
Eu
alcanço a Revelação do Mal
2.
Eu me
esvazio, faço o Tzimtzum Aleph.
A pessoa deve passar por esses estágios. A Ressurreição dos Mortos
deve acontecer dentro dela depois de ela ter feito o Tzimtzum e obtido a tela.
Vamos ler novamente.
A Quinta Pergunta refere-se à “Ressurreição dos Mortos”.
Já que o corpo é tão desprezível,
ele está condenado a perecer e ser enterrado.
Isso inclui uma Revelação do Mal completa dos meus desejos
egoístas primordiais.
Por que então o corpo retorna e se
eleva na “Ressurreição dos Mortos” (depois de ter sido enterrado e ficar vazio)? O Criador não pode dar prazer às almas sem isso?
Não, Ele não pode.
Além disso, no Zohar está escrito
que antes que o corpo apodreça completamente (até que todos os meus desejos morram e
apodreçam na terra), enquanto ainda
restar algo dele, a alma não pode acender ao seu lugar Celestial (serei
incapaz de ser preenchido pela Luz).
Ainda mais impressionante é o que
nossos sábios dizem dos corpos mortos que estão destinados a retornar com todas
as suas deficiências…
Por que preciso reanimar todos os meus desejos negativos? Isso
parece me levar de volta às minhas propriedades negativas.
… para que eles não sejam
confundidos com os outros. Eu preciso perceber que nunca serei capaz de corrigir essas
deficiências por mim mesmo. Elas só podem ser corrigidas se eu as revelo como
mal e peço a correção ao Criador.
Precisamos compreender por que é
tão importante ao Criador que eles não sejam confundidos com outros corpos para
que Ele possa restituir suas deficiências e então corrigi-las (por que esses desejos devem ser
os mesmos de antes?).
Devemos compreender a Ressurreição dos Mortos nesse caso
específico, e o modo como ela será realizada.
Portanto, pouco a pouco, nos acostumamos aos escritos do Baal Ha Sulam
e tentamos compreender o fluxo dos seus pensamentos. Apenas precisamos absorver
tudo o que lemos. Não importa o quanto compreendemos. Nós apenas queremos nos
aproximar dele e, na medida do nosso desejo, a Luz descerá sobre nós a partir
do nível em que ele nos explica tudo isso.
Nosso desejo de estar nesse nível se chama “discernimento”,
“recebimento”. Enquanto estudamos “A Introdução ao Estudo das Dez Sefirot”,
lemos o famoso parágrafo 155 que diz: “A Ohr
Makif brilha sobre a pessoa que deseja alcançar o nível superior. Tal
recebimento pode apenas ser alcançado se ascendermos a ele e nos tornarmos
parte daquele nível”.
Quando falamos de formas espirituais, objetos, condições, ações e
estados, devemos tentar estar naquele nível, e não no nível desse mundo. Deixe
sua “cabeça” nesse mundo. Você pode tentar apenas elevar-se até lá nos seus
desejos. Esse esforço estimulará a emanação, o fluxo da Luz Superior que nos
levará até lá. É preciso aprender a trabalhar com o coração, não com a cabeça.
Sexta Pergunta
Nossos sábios dizem que o homem é
o centro da realidade, que os Mundos Superiores e esse mundo material, com tudo
o que nele existe, foram criados apenas para ele (Zohar, Tazriya, 40).
O homem é o centro do universo.
[Os cabalistas] levam o homem a
acreditar que o mundo foi criado para ele (Sanhedrin, 37). É aparentemente
difícil de compreender que por esse pequeno ser humano…
Pelo seu tamanho físico e poder neste mundo, neste Universo, o
homem é completamente insignificante. Indiferente do nível em que esteja
(vegetal, animal ou humano), ele não representa nada em especial. Em comparação
com a pobre natureza, ele é muito mais egoísta e cruel. Então qual é sua
vantagem?
Além disso, para quê ele precisa de todo o Universo?
A respeito do valor do homem em relação ao Universo, Baal Ha Sulam
diz:
A ele, que não compreende mais que
um punhado da realidade do nosso mundo e muito menos dos Mundos Superiores,
cuja altura é imensurável, o Criador preocupou-Se em criar tudo isso. Ainda
assim, por que o homem iria querer tudo isso?
Galáxias enormes e infinitos Mundos Espirituais: Por que tudo isso
é necessário? Se tudo é feito para o homem, em algum momento ele deve usá-los,
operá-los, e de alguma forma estabelecer contato com eles. Entretanto, onde
está ele nesta Terra, com seus diversos cataclismos? Onde está ele na nossa
pequena (em comparação com as outras) galáxia, em todo esse Universo infinito?
Se levarmos em consideração todo o nosso Universo, ou o nosso mundo, e o
compararmos com os Mundos Superiores, ele será como uma pequena partícula
desaparecendo no Infinito.
Como resultado, o homem, único ser inteligente de todo o nosso Universo,
ainda que desprezível, é o centro de todos os mundos! Ele está destinado a
comandá-los no futuro. Depende do homem em que condição eles estarão. Os
cabalistas dizem que o homem está diretamente conectado a eles. Ele está neste
estado agora? Para que ele precisa deles? O que ele ganha com isso?
Por que o universo foi criado para o homem?
Por que o Criador fez tudo isso para que a pessoa não
compreendesse o que ela pode ganhar se ela puder dominar todo o Universo e
todos os Mundos Superiores? Afinal, ela não sente a necessidade disso para ser
feliz. Entretanto, tudo isso foi criado para o homem. Apenas ao utilizá-lo, ele
alcançará o seu estado supremo.
Esta é a última pergunta que temos que fazer. Se completamos essa
pesquisa, seremos capazes de responder as perguntas que Baal Ha Sulam nos traz
no início dessa Introdução e compreenderemos por que precisamos do Livro do
Zohar. Este é apenas o Prefácio para o Livro.
Depois, enquanto estivermos lendo o Livro do Zohar, saberemos o
que devemos fazer com a ajuda do Livro a fim de alcançar todos esses estados.
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