quarta-feira, 20 de maio de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (46)




3. Quarta Pergunta



Já que o sistema de forças impuras e das Klipot estão tão distantes da Pureza do Criador que nada mais remoto pode ser concebido, como pode ser que elas emanem do Criador e ainda sejam sustentadas por Ele?



Os cabalistas desejam tornar nossa vida mais fácil, então eles nos dizem tudo com antecedência. Além das perguntas comuns, eles fazem muitas outras, sobre as quais nunca pensaríamos. Aqui, Baal Ha Sulam trata sobre o sistema das forças impuras (Klipot) que são completamente opostas ao Criador. Ele gera esse sistema de mundos impuros e os sustenta continuamente com a Sua Pureza. Que conexão pode existir entre eles se eles são opostos?



Dizemos que se duas ou mais propriedades espirituais são opostas entre si, não há contato entre elas. Se elas se sobrepõem parcialmente, significa que algumas das suas qualidades são semelhantes. Se elas se sobrepõem completamente então elas são equivalentes. A Criação é, inicialmente, oposta ao Criador e está separada Dele. O mesmo ocorre com as forças impuras: existe o Criador e existem as Klipot.



As Klipot são criadas e mantidas pelo Criador, ainda que, de fato, estejam completamente separadas Dele. Como isso pode ser? O Criador gera e mantém as Klipot ao mesmo tempo em estão completamente separados. Essa questão exige uma explicação.



A Quinta Pergunta refere-se à "Ressurreição dos Mortos".



Baal Ha Sulam diz que existe um estado chamado "Ressurreição dos Mortos". Mas, antes, é preciso que algumas definições sejam estabelecidas: Por "alma", nos referimos à doação ou intenção de doar. Por "corpo", nos referimos ao Guf do Partzuf ou ao desejo. Por "Ressurreição dos Mortos", nos referimos à elevação dos corpos mortos (desejos).



Já que o corpo é tão desprezível, ele está fadado a perecer e ser enterrado.



O que significa "fadado a perecer" e "ser enterrado"? Em relação ao corpo, nos referimos a desejos existentes no momento do nascimento, pois eles têm intenções egoísticas. "Fadados a perecer", significa ser totalmente erradicado da Luz, morrer. A pessoa considera que seus "desejos com intenções egoístas" estejam mortos. Ela não consegue e nem quer utilizá-los, ela deseja enterrá-los. Depois disso, os desejos passam por correções, isto é, a intenção para si mesmo (que é a intenção das Klipot) é transformada na intenção pelo Criador, o propósito de doar. Esse processo é chamado de “Ressurreição dos Corpos Mortos”.



O corpo (dos desejos) não muda, somente a sua intenção. O corpo em si é neutro. Há a intenção egoísta "para si mesmo" ou a tela que gera Ohr Hozer (Luz Refletida), a intenção "para o Criador". A intenção "para si mesmo" é chamada de Klipá. A intenção "pelo Criador" é chamada de Kedushá. É preciso chegar ao ponto em que a intenção "para si mesmo" morra em nós. Se alcançamos a intenção "pelo Criador", esta será a ressurreição.



Vejamos o que Baal Ha Sulam escreve. Quando lemos o texto sem os comentários, pode-se lembrar dos contos fantásticos em que corpos mortos saem das tumbas e perambulam por aí.



Por que então o corpo retorna e se eleva na "Ressurreição dos Mortos"? O Criador não poderia dar prazer às almas sem isso?



A pergunta de Baal Ha Sulam não diz respeito nem ao corpo nem à alma, mas ao motivo por que precisamos atravessar todas essas transformações. Por que precisamos permanecer nas Klipot até as considerarmos mortas e as enterrarmos e esperarmos até que se decomponham completamente? Nós somente podemos utilizar o corpo (desejo) e trabalhar com esse desejo "pelo Criador" depois de nos libertar da intenção egoísta.



Vamos supor que eu tenho um desejo com intenções inicialmente egoístas, faço tudo exclusivamente para o meu bem estar. Esse é o meu primeiro estado. Meu segundo estado é quando, sob a influência da Luz Superior que atraio ao ler os textos cabalísticos, esses desejos começam, pouco a pouco, a desaparecer. Eu começo a sentir minha condição como o "mal" e ele lentamente começa a sair de mim. Eu sinto que eles (desejos) estão morrendo e eu alcanço a condição em que estou totalmente livre deles. No meu próximo nível, eu começo a adotar as propriedades do Criador e a desejá-Lo. Isso é chamado de “Ressurreição do Corpo”.



Por "corpo", sempre nos referimos ao desejo. Ele permanece o mesmo, nada acontece a ele, é somente a intenção que muda. O corpo sempre consiste dos mesmos desejos: eu sempre terei 620 desejos no meu corpo.



Em geral, conseguimos entender isso facilmente. A dúvida sempre surge sobre outro assunto: Para começo de conversa, por que somos obrigados a receber más intenções, "para mim mesmo"? Por que precisamos vê-las como más e então desejar nos libertar completamente delas, e assim adquirir a intenção boa?



Baal Ha Sulam diz:



Por que então o corpo retorna e eleva-se na "Ressurreição dos Mortos”? O Criador poderia dar prazer às almas sem isso?



Por que não podemos receber boas qualidades desde o início e já estarmos unidos com o Criador? Por que devemos descobri-Lo através das más qualidades?



Além disso, no Zohar está dito que antes do corpo apodrecer completamente, enquanto ainda houver vestígios dele, a alma não pode ascender ao seu lugar Celestial. Ou seja, até que toda a intenção “para si mesmo” desapareça a alma não será ressuscitada e não se fundirá com o Criador na semelhança de Suas propriedades.



Ainda mais impactante é o que os nossos sábios falam sobre os corpos mortos que estão destinados a retornar com todas as suas deficiências para que eles não sejam confundidos com os outros.



Embora eles digam que os corpos, os desejos, a morte e a ressurreição referem-se às intenções, ainda assim é muito difícil alcançar a percepção correta do que se fala. E então surge uma dúvida: Por que devemos passar por tudo isso? A morte de nossas intenções parece suficientemente clara. A transformação da intenção “para mim mesmo” na intenção “para o Criador” também é clara. O problema é diferente: A menos que o corpo permaneça com suas deficiências, nós não somos capazes de nos tornar semelhantes ao Criador.



O Criador, então, corrigirá suas deficiências. Mas devemos entender por que é importante, para Ele, que eles não sejam confundidos com outros corpos que reconstituirão suas deficiências e as corrigirão.



Além da ressurreição do corpo, deve existir a revelação das deficiências. Quando elas estão mortas e nada mais resta delas em nós, devemos resgatá-las, tê-las manifestas em nós a fim de deixarmos de usá-las e então corrigi-las.



Como se dá esse processo?



Inicialmente, eu possuo intenções egoístas, sobre as quais faço um Tzimtzum (Restrição). Eu não tenho o menor desejo de me conectar com elas. Adquiri a força necessária e obtive a tela. Enquanto escavo do chão cada uma das minhas intenções egoístas, eu digo: “Essa é minha propriedade original verdadeira - a intenção para mim mesmo. Agora irei transformar essa intenção ‘para mim mesmo’ na intenção ‘para o Criador’”.



Em outras palavras, minha intenção egoísta retorna à vida e eu a corrijo em uma intenção positiva, pois é necessário fazer um Tzimtzum no meio do caminho.



Previamente, todas as minhas intenções interiores eram 100% negativas, então eu as eliminei. Fiquei vazio, isto é, parei de usar cada uma das minhas intenções e elas “apodreceram”. Então eu as ressuscito.  De que forma? Eu as reanimo na sua forma negativa, mas não na totalidade da sua negatividade. Eu primeiro corrijo apenas 1% e, pouco a pouco, chego aos 100% de correção.



1.    Eu alcanço a Revelação do Mal

2.    Eu me esvazio, faço o Tzimtzum Aleph.



A pessoa deve passar por esses estágios. A Ressurreição dos Mortos deve acontecer dentro dela depois de ela ter feito o Tzimtzum e obtido a tela.



Vamos ler novamente.



A Quinta Pergunta refere-se à “Ressurreição dos Mortos”.

Já que o corpo é tão desprezível, ele está condenado a perecer e ser enterrado.



Isso inclui uma Revelação do Mal completa dos meus desejos egoístas primordiais.



Por que então o corpo retorna e se eleva na “Ressurreição dos Mortos” (depois de ter sido enterrado e ficar vazio)? O Criador não pode dar prazer às almas sem isso?



Não, Ele não pode.



Além disso, no Zohar está escrito que antes que o corpo apodreça completamente (até que todos os meus desejos morram e apodreçam na terra), enquanto ainda restar algo dele, a alma não pode acender ao seu lugar Celestial (serei incapaz de ser preenchido pela Luz).



Ainda mais impressionante é o que nossos sábios dizem dos corpos mortos que estão destinados a retornar com todas as suas deficiências…



Por que preciso reanimar todos os meus desejos negativos? Isso parece me levar de volta às minhas propriedades negativas.



… para que eles não sejam confundidos com os outros. Eu preciso perceber que nunca serei capaz de corrigir essas deficiências por mim mesmo. Elas só podem ser corrigidas se eu as revelo como mal e peço a correção ao Criador.



Precisamos compreender por que é tão importante ao Criador que eles não sejam confundidos com outros corpos para que Ele possa restituir suas deficiências e então corrigi-las (por que esses desejos devem ser os mesmos de antes?).



Devemos compreender a Ressurreição dos Mortos nesse caso específico, e o modo como ela será realizada.



Portanto, pouco a pouco, nos acostumamos aos escritos do Baal Ha Sulam e tentamos compreender o fluxo dos seus pensamentos. Apenas precisamos absorver tudo o que lemos. Não importa o quanto compreendemos. Nós apenas queremos nos aproximar dele e, na medida do nosso desejo, a Luz descerá sobre nós a partir do nível em que ele nos explica tudo isso.



Nosso desejo de estar nesse nível se chama “discernimento”, “recebimento”. Enquanto estudamos “A Introdução ao Estudo das Dez Sefirot”, lemos o famoso parágrafo 155 que diz: “A Ohr Makif brilha sobre a pessoa que deseja alcançar o nível superior. Tal recebimento pode apenas ser alcançado se ascendermos a ele e nos tornarmos parte daquele nível”.



Quando falamos de formas espirituais, objetos, condições, ações e estados, devemos tentar estar naquele nível, e não no nível desse mundo. Deixe sua “cabeça” nesse mundo. Você pode tentar apenas elevar-se até lá nos seus desejos. Esse esforço estimulará a emanação, o fluxo da Luz Superior que nos levará até lá. É preciso aprender a trabalhar com o coração, não com a cabeça.



Sexta Pergunta



Nossos sábios dizem que o homem é o centro da realidade, que os Mundos Superiores e esse mundo material, com tudo o que nele existe, foram criados apenas para ele (Zohar, Tazriya, 40).



O homem é o centro do universo.



[Os cabalistas] levam o homem a acreditar que o mundo foi criado para ele (Sanhedrin, 37). É aparentemente difícil de compreender que por esse pequeno ser humano…



Pelo seu tamanho físico e poder neste mundo, neste Universo, o homem é completamente insignificante. Indiferente do nível em que esteja (vegetal, animal ou humano), ele não representa nada em especial. Em comparação com a pobre natureza, ele é muito mais egoísta e cruel. Então qual é sua vantagem?

Além disso, para quê ele precisa de todo o Universo?



A respeito do valor do homem em relação ao Universo, Baal Ha Sulam diz:



A ele, que não compreende mais que um punhado da realidade do nosso mundo e muito menos dos Mundos Superiores, cuja altura é imensurável, o Criador preocupou-Se em criar tudo isso. Ainda assim, por que o homem iria querer tudo isso?



Galáxias enormes e infinitos Mundos Espirituais: Por que tudo isso é necessário? Se tudo é feito para o homem, em algum momento ele deve usá-los, operá-los, e de alguma forma estabelecer contato com eles. Entretanto, onde está ele nesta Terra, com seus diversos cataclismos? Onde está ele na nossa pequena (em comparação com as outras) galáxia, em todo esse Universo infinito? Se levarmos em consideração todo o nosso Universo, ou o nosso mundo, e o compararmos com os Mundos Superiores, ele será como uma pequena partícula desaparecendo no Infinito.



Como resultado, o homem, único ser inteligente de todo o nosso Universo, ainda que desprezível, é o centro de todos os mundos! Ele está destinado a comandá-los no futuro. Depende do homem em que condição eles estarão. Os cabalistas dizem que o homem está diretamente conectado a eles. Ele está neste estado agora? Para que ele precisa deles? O que ele ganha com isso?



Por que o universo foi criado para o homem?



Por que o Criador fez tudo isso para que a pessoa não compreendesse o que ela pode ganhar se ela puder dominar todo o Universo e todos os Mundos Superiores? Afinal, ela não sente a necessidade disso para ser feliz. Entretanto, tudo isso foi criado para o homem. Apenas ao utilizá-lo, ele alcançará o seu estado supremo.



Esta é a última pergunta que temos que fazer. Se completamos essa pesquisa, seremos capazes de responder as perguntas que Baal Ha Sulam nos traz no início dessa Introdução e compreenderemos por que precisamos do Livro do Zohar. Este é apenas o Prefácio para o Livro.



Depois, enquanto estivermos lendo o Livro do Zohar, saberemos o que devemos fazer com a ajuda do Livro a fim de alcançar todos esses estados.




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