sexta-feira, 5 de junho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (54)




11. Os Mundos descem ao nível da realidade desse mundo, isto é, ao local onde o corpo e a alma existem. Essa é a hora de estar não corrigido e também é a hora da correção. O corpo é o desejo de receber, que tem sua raiz no Pensamento da Criação. Enquanto atravessa o sistema dos Mundos Impuros, ele permanece sob a influência desse sistema até que comece o processo de correção.



Como você já deve saber, na Cabalá, o corpo do Partzuf refere-se ao desejo de receber prazer. Via de regra, o cabalista interpreta o corpo como o Kli e a alma como a Luz.



Frequentemente, a palavra “alma” implica tanto o Kli quanto a Luz e, às vezes, a palavra “alma” é utilizada, de maneira informal, para referir-se ao Kli sem Luz. Entretanto, enquanto estivermos estudando os degraus espirituais acima do nível deste mundo, não devemos pensar sobre o nosso corpo físico, pois ele não está conectado à alma de forma alguma.



Todas as nossas propriedades e desejos, tudo o que podemos utilizar a fim de influenciar nossa alma e o nosso avanço espiritual, em nada se referem ao nosso corpo. Os poderes que desejamos desenvolver em nós não são biológicos, mas espirituais. Devemos recebê-los de Cima, pois só assim seremos capazes de ajudar nossa alma a alcançar o Criador. Somos incapazes de influenciar o estado da alma através das nossas propriedades animais.



Portanto, as qualidades do homem são irrelevantes. Ele pode ser saudável ou doente, inteligente ou não, ou possuir qualquer outro traço de caráter. Isso não faz a menor diferença. Nada que se relacione ao nosso corpo físico, ou que possa caracterizar, no homem, sua propriedade humana, refere-se ao espiritual. Essas propriedades não influenciam nosso desejo egoísta, que é oposto ao Criador, nem a revelação da Luz em nós.



A fim de expor minha alma, minha parte interior ainda inexistente em mim, a essa influência, eu preciso adquirir novos Kelim que ajudem minha alma a crescer e me permitam revelar o Criador.



O instrumento para o desenvolvimento da minha alma é chamado de masach, tela. Eu preciso recebê-la de Cima, pois não posso alcançar o objetivo com as propriedades animais que possuo.



A compreensão de que não sou capaz de utilizar os instrumentos que tenho à minha disposição, isto é, minha mente, força de vontade, ou até meu enorme desejo e a total incapacidade de mudar espiritualmente, é chamada de Revelação do Mal: a consciência da insignificância da minha própria natureza. Não se trata do mal em si mesmo, mas o considero falho, pois ele me impede de descobrir o Criador e me fundir com Ele.



De fato, essa consciência não pode ser chamada de “mal”, a “Revelação do Mal” é apenas uma definição. Quando eu alcanço esse estado, na verdade eu descubro um milagre. Eu vejo que há Alguém a Quem recorrer, e que eu posso receber força do Criador, a Luz que me corrige ao me conferir uma tela.



Por um lado, a sensação da minha própria insignificância é chamada de “Revelação do Mal”, mas, por outro, ela me leva a receber uma tela.



Eis outra definição que demonstra a ausência do mal. Os cabalistas nos chamam de pecadores porque existimos abaixo do sistema das forças impuras. Na verdade, não somos realmente pecadores. Como poderíamos pecar se estamos totalmente inconscientes disso? Em outras palavras: esse nome é utilizado de maneira puramente alegórica.



Os Mundos descem ao nível da realidade desse mundo, ao local onde o corpo e a alma existem (o Kli constitui-se de desejos egoístas impuros, o corpo e a alma são uma parte da Essência, uma pequena partícula de Luz, um ponto no coração, o núcleo da alma). Essa é a hora de estar não corrigido e também é a hora da correção (em nosso mundo, percebemos os níveis de correção a partir de um fator temporal).



Pois o corpo, que é o desejo de receber egoísta, estende-se da sua raiz no Pensamento da Criação (a partir do Criador, Yesh mi Ayin, algo a partir do nada), através do sistema dos Mundos Impuros, e permanece sob a influência desse sistema pelos treze primeiros anos, que é o tempo da corrupção.



O que significa “o tempo em que a pessoa permanece sob a influência do sistema de forças impuras”? Isso se refere a milhares e milhares de anos, quando passamos por determinadas correções de maneira inconsciente, através das nossas sucessivas reencarnações.



Dos 13 anos em diante… Ou seja, quando o desejo pela Evolução Espiritual começa a se manifestar através dos mandamentos, isto é, com a ajuda da correção dos desejos. Ao todo, temos 620 desejos. É claro que não compreendemos todos eles ao mesmo tempo. Onde estão esses desejos? Talvez possamos identificar 10 ou 20 desejos, mas certamente não 620. Mais tarde, descobriremos que a correção de cada desejo, da intenção para si mesmo para a intenção pelo Criador, é chamada de cumprimento dos mandamentos do Criador.



Se o homem observar bem, ele começará a purificar seu desejo de receber e, pouco a pouco, ele se transformará no desejo de receber pelo Criador. Assim, a Alma Superior desce de sua raiz no Pensamento da Criação, passando pelo sistema de Mundos Puros, e “veste-se” na sua alma.



O que isso significa? Assim, a Alma Superior (isto é, a Luz Espiritual) a partir da sua raiz no Pensamento da Criação atravessa os sistemas de Mundos Puros (começa a manifestar-se em nós através do sistema das nossas correções graduais). Ao nos corrigir, construímos nosso Kli puro. A Luz que será revelada nele já o preenche, mas ainda não a sentimos.



Isso é descrito pelas palavras: Ela passa através do sistema de Mundos Puros e “veste-se” na sua alma. Isso é chamado de “tempo de correção”.



Há um período preliminar chamado de “estado não corrigido” que dura até que a pessoa receba o ponto em seu coração. Esse ponto começa a impulsioná-lo em direção ao espiritual. A partir desse momento, inicia-se o período de correção.



Dessa forma, o homem avança e recebe os níveis do Pensamento da Criação estando no Infinito do Criador, até que ele transforme seu desejo de receber para si mesmo em desejo de receber pelo Criador.



O homem gradualmente recebe novas porções da Luz que reforma. Com a ajuda dessa Luz, ele gradativamente revela sua alma, e o grau da sua semelhança com o Criador determina a medida dessa revelação. Em outras palavras: tanto quanto for capaz de criar uma tela em si mesmo, assim ele revelará sua alma, seu Kli. O homem sente a Luz dentro do seu Kli. Isso é o que os cabalistas definem como os graus de semelhança do homem em relação ao Criador, os níveis da sua ascensão espiritual.



Esses níveis se auxiliam mutuamente: o mais baixo ajuda o mais alto, e o mais alto ajuda a revelar completamente a alma do homem a partir da sua unificação com a Luz Superior.



As qualidades do homem tornam-se equivalentes às do Criador, já que a recepção com o propósito de doar é uma forma “pura”, uma doação.



O que é a revelação do Kli e da Luz que o preenche? Se desejo revelar e sentir essa luz não para o meu próprio prazer, mas para agradar Aquele Que me preencheu (quando eu vejo o prazer que minhas revelações trazem a Ele), então meu recebimento será considerado doação e se realizará.



O homem alcança a completa unificação com o Criador… Onde ele a alcança? No interior daquilo que ele revela. Lá ele descobre a si mesmo, seu Kli, sua intenção e o Criador que o preenche. Ele não precisa mais olhar para o Criador e revelar o Kli, agora ele vê tanto a si mesmo como o Criador no interior desse Pensamento comum.



O homem alcança a completa unificação com o Criador, pois a unificação espiritual nada mais é do que a equivalência de forma. Nossos sábios perguntaram: “Como é possível fundir-se com o Criador?” - e responderam a própria pergunta: “Ao fundir-se com Suas propriedades”.



Em outras palavras, isso pode ser expresso da seguinte maneira: “Eu Te conhecerei a partir da minha semelhança Contigo”. Ou seja, se pouco a pouco eu revelo o Criador de acordo com a minha crescente semelhança com Ele, então, por fim, me tornarei exatamente como Ele. Ocorre que a revelação do Criador, a semelhança com Ele, a correção do Kli e a recepção da Sua Luz são a mesma ação.



Por isso, o homem descobre que não existe divisão entre ele, a ação que ele faz e o Criador. Tudo isso é um conjunto único e indivisível (como se o vaso fosse uma coisa, a Luz que o preenche fosse outra, a reação do vaso em relação à Luz e a reação da Luz em relação ao vaso, uma terceira). Nada disso existe. Subitamente, a pessoa percebe que tudo isso é uma única coisa indissociável. Essa condição é chamada de Unificação com o Criador.


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