quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (95)

 

 

57. A partir do que acabamos de mencionar, podemos compreender a escuridão e ignorância que prevalece muito mais na nossa geração que nas antigas. Pois todos aqueles que estudam a Torá negligenciam os Segredos de Torá (isto é, não estudam Cabalá).

 

Portanto, o Rambam nos traz o seguinte exemplo: “Se mil pessoas cegas estão andando à beira da estrada e, entre eles, há uma única pessoa à frente de todos que é capaz de enxergar, então todos os cegos confiam que nenhum deles se perderá. Contudo, se entre eles não há um guia que possa enxergar, eles certamente se perderão”.

 

O mesmo se refere a nós. Imagine que existem pessoas que estudam Cabalá e atraem a Luz do Infinito, guiam a geração posterior à sua e as pessoas os seguem, então, todos terão a certeza de que ninguém mais errará o seu caminho. Mas caso a pessoa prefira estudar os outros aspectos da Torá, que não a Cabalá (aspectos estes que não corrigem a alma), não é de se surpreender que toda a geração erre devido a isso.

 

Consequentemente, as pessoas (do povo Judeu) não cumprem sua missão. Tão profunda é a minha tristeza que sou incapaz de continuar a falar sobre isso.

 

Nos itens 155 e 156 do Introdução ao Estudo das Dez Sefirot, Baal HaSulam explica que sem o estudo da Cabalá, a pessoa não é capaz de alcançar nem o mínimo NaRaNHaY. A Cabalá tem sido negligenciada desde a destruição do Segundo Templo, isto é, por cerca de 2000 anos. Esse grande cabalista inicia a sua Introdução com as seguintes palavras: “Venho sentindo uma grande necessidade de pôr abaixo o muro de ferro que nos separa da Sabedoria da Cabalá. A menos que façamos isso, acabaremos caindo no abismo. Todos os nossos problemas e sofrimentos são causados pela nossa incapacidade de atrair a Luz Superior de correção através da Cabalá”.

 

Então, ele segue explicando o motivo que causou a negligência da Cabalá.

 

58. Na verdade, eu sei o motivo: Isso se deve principalmente ao fato de que, de um modo geral, a fé diminuiu, principalmente a fé nos homens santos, os sábios de todas as gerações. E que os livros de Cabalá e o Zohar estão cheios de parábolas corpóreas.

 

Ou seja, a linguagem dos livros cabalísticos é tão confusa que o homem imagina que a Cabalá trata do nosso mundo e não dos Mundos Superiores. Essa linguagem utiliza as palavras do nosso mundo.

 

Portanto, as pessoas temem falhar ao materializar (criando ídolos) e, assim, perder mais do que ganhariam (ao estudar os livros desse modo).

 

Ou seja, as pessoas pensariam que o mundo é governado não pelo Criador, mas que alguma Força Suprema estaria nos objetos do nosso mundo. O leitor pensaria que todos os livros da Torá falam deste mundo.

 

E é isso o que me impulsionou a escrever uma extensa interpretação dos escritos do ARI e, agora, do Sagrado Zohar (o Comentário HaSulam). Com isso, removi toda essa preocupação (o medo de imaginar o nosso mundo ao invés do Mundo Espiritual), pois revelei a mensagem espiritual que existe por trás de tudo, que é abstrata e desprovida de qualquer semelhança física, acima do tempo e do espaço, como os leitores poderão comprovar, de forma a permitir a todos o estudo da Cabalá e do Zohar e de serem aquecidos pela sua Luz Sagrada.

 

Dei o nome de HaSulam (a Escada) a esse comentário, a fim de mostrar que o propósito dele é o mesmo de qualquer escada: se você tem um sótão cheio de riquezas, então tudo o que você precisa é de uma escada para alcançá-las, e então toda a abundância do mundo estará em suas mãos. Mas a escada não é um objetivo em si e por si mesma pois se você pausar no meio do caminho e não entrar no sótão, o objetivo não terá sido cumprido.

 

O mesmo ocorre com o meu comentário sobre o Zohar, pois ainda não se criou um modo de clarificar essas palavras tão profundas. Mas, apesar disso, construí um caminho e uma entrada para todos: ao utilizá-lo, é possível elevar-se e escrutinizar a fundo o Livro do Zohar (isto é, tudo o que o Zohar revela), pois somente assim o objetivo desse comentário será alcançado.

 

O Comentário sobre o Livro do Zohar foi escrito para elevar o homem ao cume chamado Zohar.

 

No capítulo "Bereshit", aprendemos que o Zohar corresponde ao Partzuf de Arik Anpin, que é Keter do Mundo de Atzilut, o qual inclui todo o Mundo Superior circundante, assim como o Mundo do Infinito. Em relação a nós, AA é o Mundo do Infinito e é chamado de Zohar (ou Zihara Ila'a). A tarefa do Livro do Zohar é elevar-nos até este nível.

 

59. Todos aqueles que compreendem o que está escrito no Livro do Zohar concordam que ele foi escrito pelo consagrado sábio Rabi Shimon Bar Yochai. Só aqueles que se encontram distantes dessa sabedoria duvidam de sua origem e tendem a dizer, acreditando em histórias criadas por seus oponentes, que ele foi escrito pelo Rabi Moshe De Leon (que viveu em uma época diferente).

 

A princípio, isso não é tão importante para nós, mas ele deseja destacar que o Livro do Zohar é muito mais antigo e valioso do que alguns tendem a crer. Por isso, ele deseja deixar clara a questão da autoria do livro.

 

Rabi Moshe de Leon viveu no século XI. Ele foi um grande cabalista e escreveu numerosos livros de Cabalá. Conforme escrevi no prólogo, o Livro do Zohar foi perdido e mais tarde redescoberto por acaso (certamente, não foi por acaso). Dos pedaços do livro, alguns excertos e páginas avulsas foram compilados no que hoje chamamos de O Livro do Zohar.

 

O Rabi Moshe de Leon herdou-o do seu professor que, por sua vez, também havia recebido do seu professor. Inicialmente, o livro foi encontrado por um comerciante, no século VII d.C.. Ele foi utilizado para embalar especiarias no mercado de Jafa.

 

O comerciante, que era judeu, evidentemente sabia um pouco de Cabalá, pois descobriu alguns escritos muito importantes no folio de pergaminho que continha as especiarias adquiridas. Ele correu de volta ao mercado e começou a revirar os lixos até finalmente encontrar todas as páginas. Posteriormente, toda a compilação foi passada para um de seus alunos, que seguiu esse exemplo, e, então, os textos chegaram ao Rabi Moshe de Leon, no século XI.

 

O cabalista reescreveu o livro, encadernou-o bem e o guardou. Ele sabia que era muito cedo para publicá-lo, pois as pessoas ainda não estavam preparadas para ele.

 

Sua esposa não sabia de nada disso. Etão, quando o Rabi faleceu, ela vendeu o livro na esperança de conseguir sair das suas dificuldades econômicas. Certamente, ele foi comprado por um bom negociador, pois ele mandou reescrevê-lo e o colocou à venda. O livro foi um sucesso, pois naquela época não existiam  obras semelhantes, exceto o Livro da Criação (Sefer Yetzirá), de autoria de Abraão. Entretanto, o Livro da Criação era muito difícil de ser estudado, já que ele traz apenas alguns vagos indícios. Portanto, o Zohar foi realmente como uma luz radiante, um esplendor, para aquela época.

 

Um grande número de cópias reescritas se espalharam instantaneamente. Embora se soubesse que ele fazia parte do legado do famoso Rabi de Leon, os verdadeiros cabalistas sabiam que, na verdade, ele havia sido escrito pelo Rabi Shimon Bar Yochai, com o auxílio do Rabi Aba, no século II ou III da Era Comum.

 

Por isso, ele diz: Todos aqueles que compreendem o que está escrito no Livro do Zohar concordam que ele foi escrito pelo consagrado sábio Rabi Shimon Bar Yochai. Só aqueles que se encontram distantes dessa sabedoria duvidam de sua origem e tendem a dizer, acreditando em histórias criadas por seus oponentes, que ele foi escrito pelo Rabi Moshe De Leon.

 

Esse livro não poderia ter sido escrito por um homem que viveu 5 ou 6 séculos depois do grande Rabi Shimon pois, como sabemos, as gerações descenderam gradualmente dos níveis mais altos até o nosso, quando começamos do zero. Em geral, não há nenhum cabalista desse nível entre nós. Meu Rabi foi o último deles, a descida terminou nele. E começamos essa ascensão por nós mesmos.

 

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