Fofoca: a rede informal
do ódio
A fofoca, ou a transmissão mal-intencionada de informações, é uma das redes mais
importantes de preservação e transporte do rancor.
A fofoca assume 3 diferentes formas e veste 3 tipos de pessoas:
1. Rechil ou repassador de histórias;
2. Lashon há-rá
ou má-língua;
3. Há-motsi shem rá ou caluniador.
*
1. O repassador de histórias, ou segundo o Talmude, o sombra da má-língua, faz o repasse
involuntário de informações comprometidas com interesses escusos.
A mais
nociva das fofocas é exatamente a produzida pelo repassador de histórias. Sua natureza enquadra-se na categoria dos perversos. Usando uma falsa imparcialidade, o repassador de
histórias dissimula os seus próprios
interesses. Passa adiante fatos que deixa para os seus ouvintes julgarem.
Exatamente a conveniênciade repassar
essas informações num determinado momento, e de uma determinada forma,
potencializa a manutenção de ódios e rixas. E ele deixa de ser suspeito de
possuir qualquer interesse no que conta.
Este elemento subliminar faz com que o
ouvinte da fofoca assimile a informação
infectada com rancor e ódio e acredite, ingenuamente, depois de
decodificá-la, que é seu o julgamento que, na verdade, já estava embutido na
própria informação recebida.
No trecho
conhecido como Kedoshim (sagrados),
o Levítico (19:16) recomenda: “Não andarás repassando histórias entre teu
povo”.
A maioria
das pessoas desconhece o poder destrutivo do repasse de histórias, que é a mais nociva e endêmica espécie de
fofoca. Vestida de falsa ingenuidade e boa intenção, assemelha-se a uma maçã
envenenada.
Mas a fofoca
depende de quem se presta a ouvi-la.
Assim, há que se ter cuidado não só em não repassá-la, mas também em recusar-se
a ouvi-la.
O ShaareiTeshuva diz: “Saiba que aquele
que escuta uma afirmação maldosa é tão perverso quanto aquele que a transmite.
Até mesmo se o ouvinte apenas volta seu rosto em direção ao fofoqueiro, e dá a
impressão de lhe estar prestando atenção, ajuda a propagar a intriga e
encoraja-o a prosseguir com sua malícia”.
Com
sabedoria e disciplina é possível romper essa rede organizada de rancor e ódio
coletivos. Em primeiro lugar, é preciso perceber que a sua eficácia está nas
artimanhas sutis com que ela desvia energia de nosso discurso e comportamento,
logrando-nos constantemente. Somos, então, hospedeiros,
receptáculos do rancor. Os embustes
da intriga não estão na essência do que é dito, mas na forma com que isso é
transmitido.
Mesmo a lisonja e o elogiopodem conter tanto veneno quanto blasfêmia. A adulação é uma
incitação à inveja. Tanto o que expressa o elogio tanto os que o ouvem
sentem-se seduzidos pelo desejo de diminuir aquele a quem se destina a lisonja.
Às vezes, através do louvor, abrimos caminho para a malícia.
*
2. O caluniador é o caso simples de alguém que propaga uma mentira em
relação a outra pessoa. Ele assume o desejo de difamar alguém que, segundo seus
próprios princípios, “merece ser difamado”. Justifica a si mesmo dizendo que
não se pode deixar passar uma oportunidade de “denunciar aqueles que agem
erroneamente”. Está na categoria de um nada,
pois sua mentira é a saída e o recurso que reabilitará aquele que é caluniado.
Uma vez desmascarada a sua mentira, a reputação do caluniado será restaurada
imediatamente. No que tange à malícia,
o intento do caluniador é infinitamente menos sutil do que o intento do má-língua.
*
3.
O má-língua transmite uma informação verdadeira, porém com a única
intenção de difamar. Ele se utiliza
da verdade como instrumento para
agravar uma intriga, sofisticando a sua malícia. No momento em que aquilo que
diz pode ser verificado e comprovado, o intuito
subjetivo da intriga tem um potencial maior de propagar o rancor.
O má-língua assume a posição
de tolo. Seu desejo de difamar é
neutralizável por qualquer pessoa que tenha um mínimo de senso críticoe que consiga questionar os interesses que teriam
levado alguém a relatar tais fatos a outras pessoas.
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