quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Acherim Omerim (2)


Fofoca: a rede informal do ódio



A fofoca, ou a transmissão mal-intencionada de informações, é uma das redes mais importantes de preservação e transporte do rancor.

A fofoca assume 3 diferentes formas e veste 3 tipos de pessoas:

1.    Rechil ou repassador de histórias;

2.    Lashon há-rá ou má-língua;

3.    Há-motsi shem rá ou caluniador.

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1.    O repassador de histórias, ou segundo o Talmude, o sombra da má-língua, faz o repasse involuntário de informações comprometidas com interesses escusos.

A mais nociva das fofocas é exatamente a produzida pelo repassador de histórias. Sua natureza enquadra-se na categoria dos perversos. Usando uma falsa imparcialidade, o repassador de histórias dissimula os seus próprios interesses. Passa adiante fatos que deixa para os seus ouvintes julgarem. Exatamente a conveniênciade repassar essas informações num determinado momento, e de uma determinada forma, potencializa a manutenção de ódios e rixas. E ele deixa de ser suspeito de possuir qualquer interesse no que conta.

Este elemento subliminar faz com que o ouvinte da fofoca assimile a informação infectada com rancor e ódio e acredite, ingenuamente, depois de decodificá-la, que é seu o julgamento que, na verdade, já estava embutido na própria informação recebida. 

No trecho conhecido como Kedoshim (sagrados), o Levítico (19:16) recomenda: “Não andarás repassando histórias entre teu povo”.

A maioria das pessoas desconhece o poder destrutivo do repasse de histórias, que é a mais nociva e endêmica espécie de fofoca. Vestida de falsa ingenuidade e boa intenção, assemelha-se a uma maçã envenenada.

Mas a fofoca depende de quem se presta a ouvi-la.  Assim, há que se ter cuidado não só em não repassá-la, mas também em recusar-se a ouvi-la.

O ShaareiTeshuva diz: “Saiba que aquele que escuta uma afirmação maldosa é tão perverso quanto aquele que a transmite. Até mesmo se o ouvinte apenas volta seu rosto em direção ao fofoqueiro, e dá a impressão de lhe estar prestando atenção, ajuda a propagar a intriga e encoraja-o a prosseguir com sua malícia”.

Com sabedoria e disciplina é possível romper essa rede organizada de rancor e ódio coletivos. Em primeiro lugar, é preciso perceber que a sua eficácia está nas artimanhas sutis com que ela desvia energia de nosso discurso e comportamento, logrando-nos constantemente. Somos, então, hospedeiros, receptáculos do rancor. Os embustes da intriga não estão na essência do que é dito, mas na forma com que isso é transmitido.

Mesmo a lisonja e o elogiopodem conter tanto veneno quanto blasfêmia. A adulação é uma incitação à inveja. Tanto o que expressa o elogio tanto os que o ouvem sentem-se seduzidos pelo desejo de diminuir aquele a quem se destina a lisonja. Às vezes, através do louvor, abrimos caminho para a malícia.

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2.    O caluniador é o caso simples de alguém que propaga uma mentira em relação a outra pessoa. Ele assume o desejo de difamar alguém que, segundo seus próprios princípios, “merece ser difamado”. Justifica a si mesmo dizendo que não se pode deixar passar uma oportunidade de “denunciar aqueles que agem erroneamente”. Está na categoria de um nada, pois sua mentira é a saída e o recurso que reabilitará aquele que é caluniado. Uma vez desmascarada a sua mentira, a reputação do caluniado será restaurada imediatamente. No que tange à malícia, o intento do caluniador é infinitamente menos sutil do que o intento do má-língua.

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3.    O má-língua transmite uma informação verdadeira, porém com a única intenção de difamar. Ele se utiliza da verdade como instrumento para agravar uma intriga, sofisticando a sua malícia. No momento em que aquilo que diz pode ser verificado e comprovado, o intuito subjetivo da intriga tem um potencial maior de propagar o rancor.



O má-língua assume a posição de tolo. Seu desejo de difamar é neutralizável por qualquer pessoa que tenha um mínimo de senso críticoe que consiga questionar os interesses que teriam levado alguém a relatar tais fatos a outras pessoas.



(Texto elaborado por CK, com base em A cabala da Inveja, de Nilton Bonder).

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