O sexto sentido
O “como” do recebimento na Kabbalah trata de perceber o mundo
espiritual, um mundo invisível aos cinco sentidos, mas que, de alguma forma, nós,
cabalistas, experimentamos. Se tudo o que percebemos depende dos nossos
sentidos, parece razoável que tudo de que necessitamos para sentir o mundo
espiritual seja um sentido especial, um sentido extra. Noutras palavras, não é
necessário buscar nada fora de nós mesmos, mas apenas cultivar uma percepção
que já existe em nós e que permanece adormecida. Na Kabbalah, essa percepção
extra chama-se “sexto sentido”.
De fato, essa etiqueta é confusa, já que em português
confunde-se com “intuição”. Não é um sentido de acordo com a acepção cotidiana
e fisiológica da palavra. No entanto, dado que isso nos permite perceber algo
que de outra forma não perceberíamos, os cabalistas decidiram chamá-lo de
“sexto sentido”.
Esta é a peça-chave da Kabbalah: nossos cinco sentidos estão
“programados” para servir a nossos interesses pessoais. Por esse motivo, tudo o
que percebemos é o que parece servir aos nossos melhores interesses. Se, de
alguma maneira, os nossos sentidos estivessem programados para servir aos
interesses do mundo inteiro, então isso seria o que perceberíamos. Desta forma,
cada um de nós seríamos capazes de captar o que percebem todas as outras pessoas,
animais, plantas e minerais do Universo. Nos transformaríamos em criaturas de
percepção ilimitada, isto é, oniscientes. Seríamos pessoas semelhantes a Deus.
Em tal estado ilimitado, inclusive os cinco sentidos seriam
utilizados de modo muito distinto. Ao invés de enfocarmos tanto nos interesses
pessoais, os sentidos serviriam de forma mais plena como meio de comunicação
com os demais. O fato é que, em termos cabalísticos, o sexto sentido, que
permite a percepção dos mundos espirituais, não é um sentido segundo o
significado usual da palavra, senão a intenção com a qual utilizamos os
nossos sentidos. Na Kabbalah, essa intenção se chama kavaná. A
intenção é um conceito cabalístico crucial que exploraremos com maior
profundidade nos capítulos 4 e 15.
No caminho: Outra forma de explicar como a kavaná (ou intenção)
expande a nossa percepção é pensar nela como uma “meta” pela qual atuamos. Se
queremos beneficiar a nós mesmos, então tudo o que vemos é a nós mesmos. Pelo
contrário, se queremos beneficiar o mundo e o seu Criador, então tudo o que
veremos será o mundo e o seu Criador.