segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Três conceitos essenciais da Kabbalah (5)

 

Conforme o que foi dito acima, a Criação se desenvolve de acordo com quatro fases, Behinot, codificadas no nome HaVaYaH e chamadas de Chochmá, Biná, Tiferet e Malchut. Behina Aleph (fase 1) é chamada de "Chochmá" e contém tanto a Luz como o Vaso, formado pelo "desejo de receber". Esse vaso contém toda a Luz, chamada Ohr Chochmá (Luz de Sabedoria) e Ohr Chayá (Luz de Misericórdia), pois essa é toda a Luz de Vida no interior da Criação.

 

Mesmo assim, ainda se considera que Behina Aleph seja Luz, uma vez que o vaso ainda não se manifestou, existindo potencialmente. Ele ainda está conectado à Luz de forma inseparável, em um estado de auto-anulação. Depois disso, surge Behina Beit (fase 2), pois ao fim do seu desenvolvimento Chochmá deseja adquirir a equivalência de forma com a Luz existente no seu interior. O "desejo de doar" ao Criador despertou nele.

 

A natureza da Luz é o puro "desejo de doar". Em resposta ao despertar deste desejo, o Criador envia uma nova Luz chamada "Ohr Chassadim" (Luz de Misericórdia). Com isso, Behina Aleph expulsa quase que completamente a Ohr Chochmá dada pelo Criador. A Ohr Chochmá só pode estar presente em um vaso adequado, isto é, no "desejo de receber". Tanto a Luz quanto o Vaso em Behina Beit são totalmente diferentes daqueles em Behina Aleph, uma vez que o vaso de Behina Beit é o "desejo de doar" e a Luz é Ohr Chassadim. A Ohr Chassadim consiste no prazer de ser semelhante ao Criador.

 

O "desejo de doar" leva à equivalência de forma com o Criador, o que, nos Mundos Espirituais, leva à unificação com Ele. Então, surge Behina Guímel. Depois que a Luz no interior da Criação chega ao nível de Ohr Chassadim, quase sem Ohr Chochmá (como sabemos, a Ohr Chochmá é a principal força na Criação), Behina Beit sente a sua ausência. Ao fim do seu desenvolvimento, ela atrai uma porção de Ohr Chochmá a fim de que ela possa começar a brilhar no interior da sua Ohr Chassadim. Para tanto, ela atrai novamente uma porção do seu desejo de receber interior e forma um novo vaso chamado Behina Guímel, ou, Tiferet. A Luz no seu interior é Ohr Chassadim com a luminosidade de Ohr Chochmá, pois a parte principal dessa Luz é Ohr Chassadim, sendo a Ohr Chochmá menos significativa. Behina Dalet surge logo depois, já que o vaso de Behina Guímel também desejou atrair Ohr Chochmá ao final do seu desenvolvimento, mas desta vez ele a desejou na sua totalidade, como havia desejado em Behina Aleph.

 

Ocorre que o despertar desse desejo leva a uma situação em que Behina Dalet sente o mesmo desejo ardente que Behina Aleph sentia. Além disso, agora, depois de ter expulsado a Luz, a Criação sabe o quão ruim isso é, então ela deseja a Luz ainda mais que no primeiro estágio de Behina Aleph.

 

Portanto, a emanação da Luz e sua subsequente expulsão criam um vaso. Caso o vaso agora receba novamente a Luz, ele a precederá. Assim, Behina Dalet é a fase final da criação do Vaso, chamado Malchut.

 

Por que a própria Luz se torna a causa do desejo de doar do Kli? Observamos que existe uma lei em nossa natureza: Cada ramo deseja ser como a sua raiz. Por isso, assim que a Luz de Chochmá aparece, o Kli a recebe. Entretanto, quando ele sente que a Luz vem do Doador, o vaso deseja ser como a Fonte e não a recebe. Isso significa que duas ações derivam de Keter:

 

a.     O desejo de doar prazer à criação, que gera o "desejo de receber" e é Behina Aleph.

 

b.    O desejo de doar atua na criação, pois esta sente que a Luz que recebe vem do desejo do Doador Superior e, com isso, ela também deseja doar.

 

Vejamos um exemplo disso em nosso mundo. Uma pessoa presenteia outra e esta recebe o presente. Depois, ela pensa sobre isso e começa a compreender o seguinte: "Ela é um doador e eu sou um recebedor. Eu não posso aceitar esse presente!". Por isso que ela devolve o presente. No início, ao recebê-lo, ela está sob a influência do outro e não sente que é um receptor. Entretanto, depois de receber, ela começa a sentir que é um receptor, o que faz com que recuse o presente.

 

É necessário salientar que essa pessoa tem um "desejo de receber", pois ela recebeu o presente no início. Mas ela não pediu por ele e, por isso, esse desejo não se chama Kli. O Kli é um estado em que a pessoa sente que o prazer existe, pede e implora ao Doador que lhe dê esse presente.

 

Por que o Aviut de Biná é maior que o de Chochmá, isto é, por que Biná possui um "desejo de receber" maior, mas deseja apenas doar? Chochmá é o vaso que ainda não se sente um receptor, o Doador o controla totalmente. Entretanto, Biná se sente um receptor e, portanto, seu Aviut é maior.

 

         Existem dois tipos de Luz:

 

a.     A Luz do Propósito da Criação, chamada de Ohr Chochmá e que emana do Criador (o "desejo de doar" para a Criação), é Behina Aleph.

 

b.    A Luz da Correção da Criação, chamada de Ohr Chassadim e que se expande graças à Criação, é Behina Beit.

 

Como se pode dizer que a Ohr Chassadim se expande graças à Criação? O Criador não é a fonte de Luz e Prazer? Isso ocorre porque o prazer do Criador chega à Criação carregando sua unificação com a Fonte do Prazer.

 

O início da Criação ocorre do seguinte modo:

 

A Luz emana do Criador, Ohr (prazer). Essa emanação da Luz do Criador é chamada de fase zero (0), ou Raiz (Shoresh).

 

A Luz cria o Kli, o qual é capaz de sentir e absorver todo o prazer contido na Luz. Vamos supor que o Criador desejou doar à criação 1 kg de prazer. Nesse caso, tudo que Ele precisaria fazer seria criar o "desejo de receber" esse prazer (Kli) com capacidade para 1 kg, então esse desejo poderia absorver todo o prazer. Esse estado de preenchimento total do Kli pela Luz do Criador é chamado de fase Aleph (1). Essa fase é caracterizada pelo desejo de receber prazer. A Luz que transporta o prazer é chamada de "Ohr Chochmá". E o Kli nessa fase recebe a Ohr Chochmá, portanto, a própria fase se chama "Chochmá".

 

O Kli recebe a Luz do Criador, sente um prazer absoluto e adquire sua propriedade ("o desejo de doar") para agradá-Lo. Já que um novo desejo, contrário ao desejo inicial, surge no Kli, ele passa para um novo estado, que se chama fase Beit (2), o "desejo de doar", Biná.

 

O Kli deixa de receber a Luz. A Luz, por sua vez, continua a interagir com ele dizendo que a recusa de receber a Luz não satisfaz nem o Propósito da Criação nem o desejo do Criador. O Kli, então, analisa essa informação e chega à conclusão de que isso de fato não corresponde ao desejo do Criador.

 

Além disso, o Kli sente que a Luz é uma força vital, e que ele não pode viver sem ela. Portanto, mesmo ainda desejando doar, o Kli decide aceitar receber uma porção da Luz. Ocorre que o Kli aceita receber a Luz por dois motivos: Primeiro, porque ele deseja satisfazer o desejo do Criador, este sendo o desejo principal, e, segundo, ele sente que realmente não pode existir sem a Luz.

 

O surgimento de um novo "desejo de receber" a Luz no Kli, ainda que muito pequeno, gera uma nova fase chamada Behina Guímel" (3), Zeir Anpin. Enquanto na fase Guímel o Kli simultaneamente doa e recebe um pouco, ele começa a perceber que o desejo do Criador é preencher totalmente o Kli com Luz, de forma que ele possa ser capaz de senti-la sem limitações. Uma vez que o Kli já tenha adquirido uma pequena porção da Luz de Chochmá, necessária à sua existência, ele agora decide receber o restante da Luz. Esse é o desejo do Criador, então o Kli volta a receber a Luz do Criador da forma como recebia na fase 1. Essa nova fase é chamada de Behina Dalet (4). Ela se diferencia da fase 1 pelo fato de que, agora, o Kli expressa de forma independente o seu "desejo de receber".

 

Na primeira fase, o Kli era preenchido pela Luz de forma inconsciente, pelo desejo do Criador. Ele não possuía qualquer desejo seu. A 4º fase é chamada de "o Reino dos Desejos", ou, Malchut. Esse estado, Malchut, é chamado de "o Mundo do Infinito" (Olam Ein Sof): Um desejo infinito e ilimitado de receber prazer, de ser preenchido pela Luz.

 

Behina Shoresh (0) é o desejo do Criador de criar a Criação e lhe dar o máximo de prazer. Nessa fase, da mesma forma que uma semente ou feto, toda a criação subsequente já está incluída desde o princípio até o fim, abrangendo a atitude do Criador em relação à criação futura.

 

Behina Shoresh (0) é o Pensamento de toda a criação. Todos os processos posteriores são apenas a realização desse Pensamento. Cada fase subsequente é a consequência lógica da fase anterior. O desenvolvimento ocorre de cima para baixo e cada fase precedente é "mais elevada" que a seguinte, isto é, a fase precedente inclui todas as fases subsequentes.

 

No decorrer desse desenvolvimento, do Criador até o nosso Mundo, surgem novos níveis, tudo se desenvolvendo do perfeito ao imperfeito. O Criador criou a Luz (prazer) a partir de Si Mesmo, da Sua Essência. Dessa forma, diz-se que a Luz é criada "Yesh mi Yesh" (criada a partir da existência), ou seja, que a Luz existe eternamente. Entretanto, com o surgimento da fase 1 do desejo de receber prazer, o vaso, Kli, é chamado "Yesh Mi Ayn" (existência a partir da não existência), ou seja, o Criador criou-a a partir do nada, pois não pode haver nem o menor traço do "desejo de receber" no Criador.

 

O primeiro desejo independente da Criação ocorre na fase dois. Nessa fase, o "desejo de doar" surge pela primeira vez. Esse desejo surge sob a influência da Luz que foi recebida do Criador e já estava inclusa no Pensamento da Criação. Entretanto, o Kli sente-a como se fosse o seu próprio desejo independente. O mesmo ocorre aos nossos outros desejos: Todos eles nos são enviados de cima, do Criador, mas os consideramos como sendo nossos. Ao sentir o "desejo de doar" na fase dois, oposto ao "desejo de receber", o Kli para de sentir prazer na recepção, para de sentir prazer em receber, para de sentir a Luz como prazer. A Luz, então, é refletida deixando o seu interior vazio.

 

Na fase 1, o desejo de receber prazer foi criado. Este é o único desejo que se encontra ausente no Criador. Esse mesmo desejo é a Criação, por consequência, em todo o Universo existem apenas variações desse desejo da fase 1: O desejo de receber prazer seja na recepção ou na doação ou, ainda, na combinação de ambos. Além do Criador, só existe uma única coisa: O desejo de receber prazer.

 

O vaso (Kli) sempre deseja receber. A matéria da qual o Kli é feito não muda. O homem só consegue entender isso quando percebe o mal e compreende sua natureza egoísta. Tudo o que está incorporado em nossa natureza, em cada célula do nosso corpo, nada mais é que o desejo de receber prazer.

 

A fase dois, agora vazia, deixa de sentir que existe. Ela foi criada pela Luz e, sem Luz, ela sente como se estivesse morrendo, deixando de existir. Por isso, ela deseja receber ao menos um pouco da Luz do Criador. O prazer na recepção da Luz é chamado de "Ohr Chochmá", enquanto que o prazer na doação é chamado de "Ohr Chassadim".

 

A fase dois (Biná) deseja doar, mas descobre que não possui nada para doar, por isso ela sente que "morre" sem Ohr Chochmá. Então, decide receber um pouco de Ohr Chochmá.

 

Isso é o que constitui a terceira fase, Behina Guímel (3). Nessa fase, existem dois desejos diferentes no vaso: O "desejo de receber" e o "desejo de doar". Mas o "desejo de doar" prevalece. Apesar do fato de não haver nada para doar ao Criador, ainda assim, o "desejo de doar" existe. Esse desejo é preenchido pela Luz de Chassadim. Ele também possui um pouco da Luz de Chochmá, que preenche o "desejo de receber".

 

Pouco a pouco, a quarta fase (Malchut) nasce a partir da terceira. O "desejo de receber" se fortalece e expulsa o "desejo de doar. Depois, o "desejo de receber" permanece como único desejo. Portanto, essa fase é chamada de "Malchut", isto é, o Reino do Desejo, o desejo de absorver tudo, todo o prazer (Ohr Chochmá).

 

Essa fase é a finalização da Criação e, uma vez que ela recebe tudo de forma infinita e ilimitada, ela é chamada de "o Mundo do Infinito".

 

Estas são as quatro fases da Luz Direta que emana do Criador. O restante da Criação, todos os Mundos, Anjos, Sefirot, Almas - tudo - é apenas uma parte de Malchut. Já que Malchut deseja ser como as fases que a precedem, toda a criação torna-se um reflexo dessas 4 fases.

 

Para compreender isso, para explicar como essas quatro fases se refletem em cada um dos Mundos e como isso afeta o nosso mundo ou como nós, ao trabalhar de forma ativa e com o auxílio das respostas de Cima, podemos afetá-los e nos associar ao processo geral de todo o Universo, existe a Ciência chamada Kabbalah, e este é o seu propósito. E o nosso objetivo é compreendê-la na sua totalidade.

 

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Três conceitos essenciais da Kabbalah (4)


4


A necessidade de que o “desejo de receber” se desenvolva em quatro níveis (Behinot) através dos Mundos de ABYA deve-se à existência da regra que diz que apenas a expansão da Luz, e sua subsequente expulsão, deixa o vaso adequado para o uso.

 

Uma explicação: Quando o vaso é preenchido pela Luz, Luz e Vaso conectam-se de forma inseparável. Na verdade, o vaso torna-se inexistente, ele anula-se, da mesma forma que a chama de uma vela desaparece frente à chama de uma tocha.

 

O desejo é satisfeito e, portanto, deixa de existir. Ele só pode reaparecer depois que a Luz que existe nele deixar de preenchê-lo. A Luz emana diretamente da Essência do Criador, do Pensamento da Criação. Essa Luz é um “desejo de doar” e em nada se assemelha com o “desejo de receber”. O vaso é absolutamente oposto a ela: ele consiste de um enorme “desejo de receber” a Luz.

 

O vaso é uma raiz, a fonte de algo muito recente, que não existia antes da Criação. O vaso não possui qualquer “desejo de doar”. Uma vez que a Luz e o Vaso estiverem conectados de forma inseparável, o “desejo de receber” é anulado pela Luz. O vaso adquire uma forma determinada somente depois de expulsar a Luz do seu interior. Só então o vaso começa a ansiar pela Luz. Esse desejo fervoroso determina a forma necessária do “seu 'desejo de receber'”. Quando a Luz penetra novamente o vaso, eles se tornam dois objetos separados - vaso e Luz, ou, corpo e vida. Anote bem isso, pois estes são conceitos muito profundos.

 

Quando o Kli começa a receber, ele deve sentir que “agora eu estou recebendo prazer”. Mas a Luz que carrega esse prazer não permite a este “eu” mostrar-se e ser sentido pelo Kli. Dessa forma, o “eu” se anula. Isso significa que o Kli não sente que está recebendo, ainda que esteja.

 

O Rabi Baruch Ashlag traz o seguinte exemplo: Um homem já velho ganha $100.000,00 na loteria, mas seus amigos têm medo de lhe dar a notícia, achando que ele pode ter um ataque cardíaco e morrer devido ao grande entusiasmo. Entretanto, um deles diz que pode dar a notícia sem lhe causar qualquer dano. Ele vai até o velho e lhe pergunta: “Você compartilharia $10,00 comigo se você ganhasse na loteria?”. “É claro que sim!”, responde o velho. “E se fosse $100,00, ainda assim você compartilharia o prêmio comigo?”. “Ora, por que não?”, respondeu o velho. Isso continuou até que a soma alcançou o valor de $100.000,00, e então o convidado perguntou: “Você está pronto para oficializar o nosso acordo?”. “Sim, certamente estou!”, exclamou o velho. Nesse mesmo instante, o convidado teve um colapso e morreu.

 

Com este exemplo, vemos que o homem pode vir a falecer devido a um grande prazer, uma vez que uma Luz tão poderosa anula o “desejo de receber”. Nesse caso, o Kli desaparece e a Luz é forçada a se retirar a fim de incentivar o Kli a empenhar-se para obtê-la.

 

Por que, então, a Luz não anula o Kli, o Behina Dalet, ao retornar a ele? Quando a Ohr e o Kli estão juntos no Behina Aleph, tanto o “desejo de doar” quanto o “desejo de receber” devem se expandir. Entretanto, já que eles são opostos entre si, o “desejo de doar” anula o “desejo de receber”, ou seja, o impede de se expandir.

 

Depois que o Behina Dalet se forma, a Luz não pode anulá-lo, uma vez que eles representam duas forças existentes. No Behina Aleph, a Luz não permite que o “desejo de receber” se expanda e cresça, entretanto, uma vez que ele já se desenvolveu, a Luz não pode intervir.

 

Por exemplo, dois homens estão brigando. Um deles impede o outro de entrar na sua casa. Faz diferença se eles estiverem brigando fora da casa ou se o intruso já estiver lá dentro? Se dizemos que não existe nada além do Criador, que deseja doar prazer, e da Criação, que se empenha por ele, é suficiente termos Keter como doador e Chochmá como receptor.

 

Na fase Chochmá, o “desejo de receber” está unificado com a Luz, que o impede de sentir que é um receptor. Esse estado não é perfeito, já que o Kli precisa sentir que recebe. Por exemplo, um homem dá algo ao seu amigo, mas ele não consegue sentir isso. Nesse caso, o doador viola o mandamento “Não destruirás”.

 

Dessa forma, fica claro por que não recebemos coisas importantes (preciosas). Uma vez que estamos satisfeitos com pequenos prazeres, não somos dignos de receber coisas valiosas. Portanto, o desenvolvimento em quatro fases é necessário para o nascimento do Kli, que sente quando recebe.

  

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Três conceitos essenciais da Kabbalah (3)

 

                                                        3

        

A ordem descendente do “desejo de receber”, mencionada acima, é dividida em quatro níveis (Behinot). Essa ordem está codificada no Mistério do Nome do Criador. O Universo submete-se à ordem dessas quatro letras, HaVaYaH (Yud-Hey-Vav-Hey). Essas letras correspondem às dez Sefirot: Chochmá, Biná, Tiferet (ou Zeir Anpin), Malchut e sua raiz. Por que são dez? Porque a Sefirá Tiferet inclui 6 Sefirot: Chessed, Guevurá, Tiferet, Netzach, Hod e Yesod.

 

A raiz de todas essas Sefirot é chamada de Keter, mas geralmente ela não é incluída na contagem das Sefirot, portanto, se diz ChuB-TuM. Esses quatro Behinot correspondem aos quatro Mundos: Atzilut, Beriá, Yetzirá e Assiyá. O Mundo de Assyiá também inclui Esse Mundo (Olam Hazeh). Não existe um único ser criado neste mundo cuja raiz não esteja no Mundo do Infinito, no Plano da Criação. O Plano da Criação é o desejo do Criador de dar prazer a todos os seres criados.

 

O Plano inclui tanto a Luz quanto o Vaso. A Luz emana diretamente do Criador, enquanto que o desejo de receber prazer foi algo novo criado pelo Criador, criado a partir do nada. Para que o ‘desejo de receber prazer” atinja o seu desenvolvimento final, ele deve passar por todos os mundos de Atzilut, Beriá, Yetzirá e Assiyá (ABYA), juntamente com a Luz. Então, o desenvolvimento da Criação finaliza-se com a formação, dentro de si, da Luz e do Vaso, chamados de “Luz de Vida” e “Corpo”.

 

A conexão entre o Criador e a Criação é chamada de “Mundo do Infinito” (Ein Sof). A medida em que os objetos espirituais mais baixos a compreendem, eles passam a chamá-la pelos nomes das Luzes Superiores. Já que o desejo do Criador era doar prazer para os seres criados, Ele criou alguém que fosse capaz de receber esse prazer Dele. Para tanto, foi suficiente a Criação do desejo de receber prazer chamado “Malchut” ou “Mundo do Infinito”.

 

Uma vez que neste estado Malchut recebe para si mesma sem fazer qualquer restrição sobre a recepção, posteriormente, Malchut realiza uma restrição sobre a recepção da Luz-prazer.

 

Está dito que o “desejo de receber” foi finalizado no Mundo de Assyiá. Então isso significa que o maior “desejo de receber” existe nesse Mundo de Assiyá? Apesar disso, ainda que o Mundo de Assiyá seja apenas Behina Shoresh e possua a Luz mais fraca, no Mundo de AK existe a Luz de Keter. O conceito “Mundo de Assiyá” possui dois significados:

a.     Todo o Behina Dalet é chamado de Mundo de Assyiá.

b.    O Mundo de Assyiá por si mesmo.

 

Para compreender o significado do primeiro conceito, é preciso saber que o vaso finalizado é chamado de “Behina Dalet”, mas, na verdade, o verdadeiro vaso (Kli) já está presente no Behina Aleph. Keter é “o desejo de doar prazer à criação”; Chochmá é “o desejo de receber esse prazer” e está totalmente preenchido pela Luz. Ainda assim, o Kli deve passar por mais quatro níveis até o seu desenvolvimento final.

 

Estudamos tudo sob a perspectiva da nossa natureza, pois todas as leis derivam das raízes espirituais. Em nosso mundo, a medida do prazer do homem depende da intensidade dos seus esforços por esse prazer. Uma paixão avassaladora gera um grande prazer, enquanto que um pequeno desejo gera um pequeno prazer. Para que o homem alcance um desejo verdadeiro duas condições são necessárias: 

a. O homem não é capaz de empenhar-se por algo do qual nunca ouviu falar antes. Ele deve saber o que quer, ou seja, alguma uma vez ele já deve tê-lo possuído.

b. Mas ele também não é capaz de se empenhar por algo que já possua. Portanto, quatro níveis de desenvolvimento do Kli são necessários para que ele atinja sua forma final.

 

Malchut detinha toda a Luz do Mundo do Infinito. Entretanto, o vaso é caracterizado pela diferença entre as suas propriedades e as do Criador, o que não existe no Mundo do Infinito. Com o seu desenvolvimento subsequente, percebemos que o vaso verdadeiro é a ausência da Luz.

 

No Mundo de Assiyá, o Kli não recebe absolutamente nada, pois tudo o que deseja é receber; portanto, é definido como um vaso genuíno. Ele está tão distante do Criador que não sabe nada sobre sua Raiz. Como resultado, o homem deve acreditar que foi criado pelo Criador, apesar de ser incapaz de sentir isso.

 

Conclusão: o vaso não é algo ou alguém que tem muito, pelo contrário, é algo ou alguém que está muito distante. Ele está totalmente desconectado da Luz. Enquanto ainda receber apenas para si mesmo, o vaso não possui o “desejo de doar”. Tudo o que pode fazer é crer que este desejo existe… O homem é de fato incapaz de compreender por que deve se esforçar para doar.

 

Qual o sentido da existência para um vaso que não tem uma faísca da Luz e está extremamente distante do Criador? Esses vasos devem começar a trabalhar pelo propósito de doar com objetos que são, até então, irreais. Baal HaSulam traz o seguinte exemplo: No passado, tudo era muito caro, então, as crianças eram ensinadas primeiro a escrever com giz sobre uma lousa, pois poderiam apagar o que haviam escrito errado, e apenas aquelas que tinham aprendido a escrever corretamente recebiam papel.

 

O mesmo se aplica a nós: Primeiro, recebemos ferramentas de brinquedo e, depois, caso tenhamos aprendido a adicionar ao nosso desejo a intenção pelo Criador, seremos capazes de ver a Luz verdadeira. O Kli foi criado dessa maneira a fim de que se acostume ao trabalho real.

 

Antes do aparecimento das almas, todas as ações são realizadas pelo Criador. Com isso, Ele mostra a elas como devem agir. Por exemplo: Como alguém aprende a jogar xadrez? As jogadas são realizadas para que o aluno observe e, dessa maneira, ele aprende. Por isso os Mundos descendem de Cima: o Criador realiza todas as ações relacionadas tanto aos níveis mais altos quanto aos mais baixos. Então, em um segundo estágio, as almas passam a subir por si mesmas.

 

Nesse ínterim, nos esforçamos para receber brinquedos, não espiritualidade. Como consequência, a Luz da Torá está oculta de nós. O homem seria incapaz de receber, para o Criador, os grandes prazeres que lhe são oferecidos.

 

Baal HaSulam nos traz um outro exemplo: Um homem deposita todos os seus objetos de valor sobre uma mesa - ouro, prata, diamantes. De repente, alguns estranhos vêm à sua casa. E ele teme que seus tesouros sejam roubados. Então, o que ele faz? Desliga as luzes para que ninguém veja que há objetos preciosos na casa.

 

O desejo pela espiritualidade não existe em nós por não termos o “desejo de receber”, pelo contrário, ele não existe porque não conseguimos enxergar nada. Não conseguimos ver as árvores na madeira. Quanto mais o homem se purifica, mais ele começa a enxergar. Então seu Kli (o “desejo de receber”) cresce de forma gradual, pois ele passa a desejar sentir prazeres maiores.

 

Por exemplo, se a pessoa consegue receber ½ kg de prazer com o propósito de doar, então ela recebe 1 kg. Depois, se essa quantidade também for recebida com a intenção pelo Criador, então ela receberá 2 kg de prazer, e assim por diante.

 

A esse respeito, os sábios dizem que: “Aquele que alcançou níveis mais elevados de Torá, possui desejos maiores”. Ainda assim, não somos capazes de enxergar nada até que nossos desejos adquiram a intenção de receber com o propósito de doar. Nesse sentido, a única distinção entre um leigo e um religioso é que o primeiro aspira receber apenas os prazeres deste mundo enquanto que o último, além destes prazeres, também deseja receber o prazer do Mundo Vindouro.

 

O poder que o desejo de receber exerce sobre todas as criaturas é tão grande que os sábios, referindo-se a isso, dizem que: “A lei que governa as pessoas é esta 'o que é meu é meu e o que é seu é seu' e só o medo impede o homem de dizer 'o que é seu é meu'”.

 

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Três conceitos essenciais da Kabbalah (2)


Portanto, o “desejo de receber” em toda sua variabilidade já estava no Pensamento da Criação desde o começo, conectado de forma inseparável ao prazer que o Criador preparou para nós. O “desejo de receber” é um vaso, enquanto que a Shefa é a Luz que preenche esse vaso. Essas Luzes e Vasos são os únicos componentes dos Mundos Espirituais. Eles estão conectados intrinsecamente. Juntos, eles descendem de cima, nível a nível.


Quanto mais distantes estes níveis estiverem do Criador, maior e mais rudimentar o “desejo de receber” se torna. Por outro lado, quanto maior e mais rudimentar se tornar o “desejo de receber”, mais afastado estará do Criador. Isso ocorre até que ele atinja o ponto mais baixo, onde o “desejo de receber” alcança o máximo do seu tamanho. Essa condição é desejável e necessária para que se inicie a subida em direção à correção.


Esse local é chamado de “Mundo de Assiyá”. Nesse Mundo, o “desejo de receber” é definido como “o corpo do homem”, enquanto que a Luz é chamada de “a vida do homem”. A diferença entre os Mundos Superiores e este Mundo (Olam Hazeh) é que nos Mundos Superiores o “desejo de receber” ainda não é rudimentar o suficiente, e ainda não está completamente separado da Luz. Em nosso mundo, o “desejo de receber” alcança o seu desenvolvimento final e torna-se totalmente separado da Luz.

 

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Três conceitos essenciais da Kabbalah (1)


Três conceitos essenciais da Kabbalah

 

Conceito 1

 

O Rabi Hanania ben Akashia disse: “O Criador desejou recompensar Israel, portanto lhes deu a Torá e os Mandamentos…".

 

Em hebraico, “recompensar” (“Lizkot”) é semelhante à palavra “purificar” (“Lezakot”). O Midrash “Bereshit Rabbah” diz: “Os mandamentos apenas são enviados para que, através deles, Israel seja purificado”.

 

Com isso, surgem duas questões:

 

“Qual o benefício com o qual o Criador recompensou Israel?”

 

O que é essa “impureza” e essa “rudeza” que existe em nós e das quais devemos nos purificar com o auxílio da Torá e dos mandamentos?

 

Essas questões foram discutidas em meus livros Panim Meirot uMasbirot e O Estudo das Dez Sefirot. Vamos revisá-las brevemente.

 

A intenção do Criador é doar prazer aos seres criados. Para tanto, Ele preparou nas almas um enorme desejo de receber esse prazer contido na Shefa (a abundância que o Criador deseja doar a nós). O “desejo de recebe” é um vaso para a recepção do desejo contido na Shefa.

 

Quanto maior for o “desejo de receber”, mais prazer penetra o vaso. Essas duas ideias se interconectam de tal forma que é impossível separá-las.

 

É possível apenas destacar que o prazer refere-se à Shefa (isto é, ao Criador) enquanto que o “desejo de receber” refere-se à Criação.

 

Essas duas ideias vêm diretamente do Criador e estão incluídas no Pensamento da Criação. Enquanto que a abundância descende diretamente do Criador, o “desejo de recebê-la”, também incluso na Shefa, é a raiz, a fonte dos seres criados.

 

O “desejo de receber” é algo essencialmente novo, algo que nunca antes existiu, pois não há vestígios do “desejo de receber” no Criador. Ocorre que o “desejo de receber” é a essência da Criação do início ao fim, o único “material” do qual a Criação é feita. Todos os diversos seres criados são apenas “porções” diferentes do “desejo de receber”. Além disso, todos os eventos que ocorrem a eles são as mudanças que acontecem nesse “desejo de receber”.

 

Tudo o que preenche os seres criados e satisfaz o seu “desejo de receber” vem diretamente do Criador. Portanto, tudo o que existe ao nosso redor, na verdade, deriva do Criador, seja de forma direta como a abundância, ou de forma indireta, por exemplo, o “desejo de receber”, que não existe no Criador Ele Mesmo mas foi criado por Ele para deleitar Suas Criaturas.

 

Já que o desejo do Criador era deleitar os seres criados, Ele teve que criar alguém capaz de receber essa abundância. Como consequência, Ele integrou na Criação o desejo de receber prazer. Por quê? Porque existe uma regra: O Criador criou tudo o que existe em nossa natureza. A pergunta “Por que recebemos essa natureza?” refere-se ao estado do ser anterior ao início da Criação e está além do nosso alcance. Somos capazes apenas de receber aquilo que se refere à Criação, mas não o que corresponde a antes ou depois dela. Portanto, nossa natureza permite-nos receber apenas os prazeres que estão em equilíbrio com o nosso desejo por eles.

 

Por exemplo, se um homem está com fome, ele sente prazer na refeição, ao passo em que se lhe oferecerem comida quando não estiver com fome, então ele não sentirá prazer algum. Todas as coisas consistem da combinação de uma carência e a sua satisfação. Quanto mais forte for o desejo, maior o prazer sentido quando for satisfeito.

 

Shamati (127)

    127. A diferença entre o núcleo central, a essência e a abundância agregada ( Su cot Inter 4, Tav - Shin - Guimel , 30 de setembro d...