Conforme o que foi dito acima, a
Criação se desenvolve de acordo com quatro fases, Behinot, codificadas no nome
HaVaYaH e chamadas de Chochmá, Biná, Tiferet e Malchut. Behina Aleph (fase 1) é
chamada de "Chochmá" e contém tanto a Luz como o Vaso, formado pelo
"desejo de receber". Esse vaso contém toda a Luz, chamada Ohr Chochmá
(Luz de Sabedoria) e Ohr Chayá (Luz de Misericórdia), pois essa é toda a Luz de
Vida no interior da Criação.
Mesmo assim, ainda se considera
que Behina Aleph seja Luz, uma vez que o vaso ainda não se manifestou,
existindo potencialmente. Ele ainda está conectado à Luz de forma inseparável,
em um estado de auto-anulação. Depois disso, surge Behina Beit (fase 2), pois
ao fim do seu desenvolvimento Chochmá deseja adquirir a equivalência de forma
com a Luz existente no seu interior. O "desejo de doar" ao Criador
despertou nele.
A natureza da Luz é o puro
"desejo de doar". Em resposta ao despertar deste desejo, o Criador
envia uma nova Luz chamada "Ohr Chassadim" (Luz de Misericórdia). Com
isso, Behina Aleph expulsa quase que completamente a Ohr Chochmá dada pelo
Criador. A Ohr Chochmá só pode estar presente em um vaso adequado, isto é, no
"desejo de receber". Tanto a Luz quanto o Vaso em Behina Beit são
totalmente diferentes daqueles em Behina Aleph, uma vez que o vaso de Behina
Beit é o "desejo de doar" e a Luz é Ohr Chassadim. A Ohr Chassadim
consiste no prazer de ser semelhante ao Criador.
O "desejo de doar" leva
à equivalência de forma com o Criador, o que, nos Mundos Espirituais, leva à
unificação com Ele. Então, surge Behina Guímel. Depois que a Luz no interior da
Criação chega ao nível de Ohr Chassadim, quase sem Ohr Chochmá (como sabemos, a
Ohr Chochmá é a principal força na Criação), Behina Beit sente a sua ausência.
Ao fim do seu desenvolvimento, ela atrai uma porção de Ohr Chochmá a fim de que
ela possa começar a brilhar no interior da sua Ohr Chassadim. Para tanto, ela
atrai novamente uma porção do seu desejo de receber interior e forma um novo
vaso chamado Behina Guímel, ou, Tiferet. A Luz no seu interior é Ohr Chassadim
com a luminosidade de Ohr Chochmá, pois a parte principal dessa Luz é Ohr
Chassadim, sendo a Ohr Chochmá menos significativa. Behina Dalet surge logo
depois, já que o vaso de Behina Guímel também desejou atrair Ohr Chochmá ao
final do seu desenvolvimento, mas desta vez ele a desejou na sua totalidade,
como havia desejado em Behina Aleph.
Ocorre que o despertar desse
desejo leva a uma situação em que Behina Dalet sente o mesmo desejo ardente que
Behina Aleph sentia. Além disso, agora, depois de ter expulsado a Luz, a
Criação sabe o quão ruim isso é, então ela deseja a Luz ainda mais que no
primeiro estágio de Behina Aleph.
Portanto, a emanação da Luz e sua subsequente expulsão criam um
vaso. Caso o vaso agora receba novamente a Luz, ele a precederá. Assim, Behina
Dalet é a fase final da criação do Vaso, chamado Malchut.
Por que a própria Luz se torna a
causa do desejo de doar do Kli?
Observamos que existe uma lei em nossa natureza: Cada ramo deseja ser como a
sua raiz. Por isso, assim que a Luz de Chochmá
aparece, o Kli a recebe. Entretanto,
quando ele sente que a Luz vem do Doador, o vaso deseja ser como a Fonte e não
a recebe. Isso significa que duas ações derivam de Keter:
a. O desejo de doar prazer à criação,
que gera o "desejo de receber" e é Behina Aleph.
b.
O desejo de doar atua na criação, pois esta
sente que a Luz que recebe vem do desejo do Doador Superior e, com isso, ela
também deseja doar.
Vejamos um exemplo disso em nosso mundo. Uma pessoa presenteia outra
e esta recebe o presente. Depois, ela pensa sobre isso e começa a compreender o
seguinte: "Ela é um doador e eu sou um recebedor. Eu não posso aceitar
esse presente!". Por isso que ela devolve o presente. No início, ao
recebê-lo, ela está sob a influência do outro e não sente que é um receptor.
Entretanto, depois de receber, ela começa a sentir que é um receptor, o que faz
com que recuse o presente.
É necessário salientar que essa pessoa tem um "desejo de
receber", pois ela recebeu o presente no início. Mas ela não pediu por ele
e, por isso, esse desejo não se chama Kli.
O Kli é um estado em que a pessoa
sente que o prazer existe, pede e implora ao Doador que lhe dê esse presente.
Por que o Aviut de Biná é maior que
o de Chochmá, isto é, por que Biná possui um "desejo de
receber" maior, mas deseja apenas doar? Chochmá é o vaso que ainda não se sente um receptor, o Doador o
controla totalmente. Entretanto, Biná se sente
um receptor e, portanto, seu Aviut é
maior.
Existem dois tipos de Luz:
a. A Luz do Propósito da Criação,
chamada de Ohr Chochmá e que emana do
Criador (o "desejo de doar" para a Criação), é Behina Aleph.
b.
A Luz da Correção da Criação, chamada de Ohr Chassadim e que se expande graças à
Criação, é Behina Beit.
Como se pode dizer que a Ohr Chassadim se expande graças à
Criação? O Criador não é a fonte de Luz e Prazer? Isso ocorre porque o prazer
do Criador chega à Criação carregando sua unificação com a Fonte do Prazer.
O início da Criação ocorre do seguinte modo:
A Luz emana do Criador, Ohr
(prazer). Essa emanação da Luz do Criador é chamada de fase zero (0), ou Raiz (Shoresh).
A Luz cria o Kli, o qual
é capaz de sentir e absorver todo o prazer contido na Luz. Vamos supor que o
Criador desejou doar à criação 1 kg de prazer. Nesse caso, tudo que Ele
precisaria fazer seria criar o "desejo de receber" esse prazer (Kli) com capacidade para 1 kg, então
esse desejo poderia absorver todo o prazer. Esse estado de preenchimento total
do Kli pela Luz do Criador é chamado
de fase Aleph (1). Essa fase é caracterizada pelo desejo de receber prazer. A
Luz que transporta o prazer é chamada de "Ohr Chochmá". E o Kli
nessa fase recebe a Ohr Chochmá,
portanto, a própria fase se chama "Chochmá".
O Kli recebe a Luz do
Criador, sente um prazer absoluto e adquire sua propriedade ("o desejo de
doar") para agradá-Lo. Já que um novo desejo, contrário ao desejo inicial,
surge no Kli, ele passa para um novo
estado, que se chama fase Beit (2), o "desejo de doar", Biná.
O Kli deixa de receber a
Luz. A Luz, por sua vez, continua a interagir com ele dizendo que a recusa de
receber a Luz não satisfaz nem o Propósito da Criação nem o desejo do Criador.
O Kli, então, analisa essa informação
e chega à conclusão de que isso de fato não corresponde ao desejo do Criador.
Além disso, o Kli sente
que a Luz é uma força vital, e que ele não pode viver sem ela. Portanto, mesmo
ainda desejando doar, o Kli decide
aceitar receber uma porção da Luz. Ocorre que o Kli aceita receber a Luz por
dois motivos: Primeiro, porque ele deseja satisfazer o desejo do Criador, este
sendo o desejo principal, e, segundo, ele sente que realmente não pode existir
sem a Luz.
O surgimento de um novo "desejo de receber" a Luz no Kli, ainda que muito pequeno, gera uma
nova fase chamada Behina Guímel"
(3), Zeir Anpin. Enquanto na fase Guímel o Kli simultaneamente doa e recebe um pouco, ele começa a perceber
que o desejo do Criador é preencher totalmente o Kli com Luz, de forma que ele possa ser capaz de senti-la sem
limitações. Uma vez que o Kli já tenha
adquirido uma pequena porção da Luz de Chochmá,
necessária à sua existência, ele agora decide receber o restante da Luz. Esse é
o desejo do Criador, então o Kli
volta a receber a Luz do Criador da forma como recebia na fase 1. Essa nova
fase é chamada de Behina Dalet (4).
Ela se diferencia da fase 1 pelo fato de que, agora, o Kli expressa de forma independente o seu "desejo de
receber".
Na primeira fase, o Kli
era preenchido pela Luz de forma inconsciente, pelo desejo do Criador. Ele não
possuía qualquer desejo seu. A 4º fase é chamada de "o Reino dos
Desejos", ou, Malchut. Esse
estado, Malchut, é chamado de "o
Mundo do Infinito" (Olam Ein Sof):
Um desejo infinito e ilimitado de receber prazer, de ser preenchido pela Luz.
Behina Shoresh (0) é o desejo do Criador de
criar a Criação e lhe dar o máximo de prazer. Nessa fase, da mesma forma que
uma semente ou feto, toda a criação subsequente já está incluída desde o
princípio até o fim, abrangendo a atitude do Criador em relação à criação
futura.
Behina Shoresh (0) é o Pensamento de toda a
criação. Todos os processos posteriores são apenas a realização desse
Pensamento. Cada fase subsequente é a consequência lógica da fase anterior. O
desenvolvimento ocorre de cima para baixo e cada fase precedente é "mais
elevada" que a seguinte, isto é, a fase precedente inclui todas as fases
subsequentes.
No decorrer desse desenvolvimento, do Criador até o nosso Mundo,
surgem novos níveis, tudo se desenvolvendo do perfeito ao imperfeito. O Criador
criou a Luz (prazer) a partir de Si Mesmo, da Sua Essência. Dessa forma, diz-se
que a Luz é criada "Yesh mi Yesh"
(criada a partir da existência), ou seja, que a Luz existe eternamente.
Entretanto, com o surgimento da fase 1 do desejo de receber prazer, o vaso, Kli, é chamado "Yesh Mi Ayn" (existência a partir
da não existência), ou seja, o Criador criou-a a partir do nada, pois não pode
haver nem o menor traço do "desejo de receber" no Criador.
O primeiro desejo independente da Criação ocorre na fase dois.
Nessa fase, o "desejo de doar" surge pela primeira vez. Esse desejo
surge sob a influência da Luz que foi recebida do Criador e já estava inclusa
no Pensamento da Criação. Entretanto, o Kli
sente-a como se fosse o seu próprio desejo independente. O mesmo ocorre aos
nossos outros desejos: Todos eles nos são enviados de cima, do Criador, mas os
consideramos como sendo nossos. Ao sentir o "desejo de doar" na fase
dois, oposto ao "desejo de receber", o Kli para de sentir prazer na recepção, para de sentir prazer em
receber, para de sentir a Luz como prazer. A Luz, então, é refletida deixando o
seu interior vazio.
Na fase 1, o desejo de receber prazer foi criado. Este é o único
desejo que se encontra ausente no Criador. Esse mesmo desejo é a Criação, por
consequência, em todo o Universo existem apenas variações desse desejo da fase
1: O desejo de receber prazer seja na recepção ou na doação ou, ainda, na
combinação de ambos. Além do Criador, só existe uma única coisa: O desejo de
receber prazer.
O vaso (Kli) sempre
deseja receber. A matéria da qual o Kli
é feito não muda. O homem só consegue entender isso quando percebe o mal e
compreende sua natureza egoísta. Tudo o que está incorporado em nossa natureza,
em cada célula do nosso corpo, nada mais é que o desejo de receber prazer.
A fase dois, agora vazia, deixa de sentir que existe. Ela foi
criada pela Luz e, sem Luz, ela sente como se estivesse morrendo, deixando de
existir. Por isso, ela deseja receber ao menos um pouco da Luz do Criador. O
prazer na recepção da Luz é chamado de "Ohr Chochmá", enquanto que o prazer na doação é chamado de
"Ohr Chassadim".
A fase dois (Biná)
deseja doar, mas descobre que não possui nada para doar, por isso ela sente que
"morre" sem Ohr Chochmá.
Então, decide receber um pouco de Ohr
Chochmá.
Isso é o que constitui a terceira fase, Behina Guímel (3). Nessa fase, existem dois desejos diferentes no
vaso: O "desejo de receber" e o "desejo de doar". Mas o
"desejo de doar" prevalece. Apesar do fato de não haver nada para
doar ao Criador, ainda assim, o "desejo de doar" existe. Esse desejo
é preenchido pela Luz de Chassadim.
Ele também possui um pouco da Luz de Chochmá,
que preenche o "desejo de receber".
Pouco a pouco, a quarta fase (Malchut)
nasce a partir da terceira. O "desejo de receber" se fortalece e
expulsa o "desejo de doar. Depois, o "desejo de receber"
permanece como único desejo. Portanto, essa fase é chamada de "Malchut", isto é, o Reino do
Desejo, o desejo de absorver tudo, todo o prazer (Ohr Chochmá).
Essa fase é a finalização da Criação e, uma vez que ela recebe
tudo de forma infinita e ilimitada, ela é chamada de "o Mundo do
Infinito".
Estas são as quatro fases da Luz Direta que emana do Criador. O
restante da Criação, todos os Mundos, Anjos, Sefirot, Almas - tudo - é apenas uma parte de Malchut. Já que Malchut
deseja ser como as fases que a precedem, toda a criação torna-se um reflexo
dessas 4 fases.
Para compreender isso, para explicar como essas quatro fases se refletem
em cada um dos Mundos e como isso afeta o nosso mundo ou como nós, ao trabalhar
de forma ativa e com o auxílio das respostas de Cima, podemos afetá-los e nos
associar ao processo geral de todo o Universo, existe a Ciência chamada Kabbalah, e este é o seu propósito. E o
nosso objetivo é compreendê-la na sua totalidade.