quinta-feira, 28 de abril de 2022

Shamati (19)

  

19. O que é “O Criador Odeia os Corpos” no Trabalho?

(Ouvi em Tav-Shin-Guímel, 1942-1943, Jerusalém)

 

O Zohar diz que o Criador odeia os corpos. Ele diz que devemos interpretar isso como uma referência ao desejo de receber, chamado Guf [corpo]. O Criador criou o Seu mundo para a Sua glória, como está escrito: “Todos que são chamados pelo Meu Nome, pela Minha glória, Eu os criei, os formei e também os fiz”.

 

Portanto, isso contradiz o argumento do corpo de que tudo é para ele, apenas para seu próprio benefício. O Criador diz o oposto, que tudo deveria ser em consideração ao Criador. É por isso que os nossos sábios dizem que o Criador disse “ele e Eu não podemos habitar na mesma morada”.

 

Segue-se que a principal fonte de separação que impede a Dvekut [adesão] com o Criador é o desejo de receber. Isso fica aparente quando chega o mal, ou seja, quando o desejo de receber para si mesmo vem e pergunta: “Por que você quer trabalhar pelo Criador?” Nós achamos que esse desejo fala com as pessoas, achamos que ele quer entender com o seu intelecto. No entanto, isso não é verdade, já que ele não pergunta para quem o indivíduo está trabalhando. Certamente, esse é um argumento racional, de forma que esse argumento desperta em uma pessoa sensata.

 

Em vez disso, o argumento do perverso é uma questão corporal. Ou seja, ele pergunta: “O que é esse trabalho?” Em outras palavras, o que você vai ganhar pelo esforço que está fazendo? Isso significa que ele pergunta: “Se você não está trabalhando para o seu próprio benefício, o que o corpo, chamado de ‘desejo de receber para si mesmo’, ganha com isso?”

 

Já que esse é um argumento corporal, a única resposta é uma resposta corporal, que é “Ele escondeu os dentes, e se ele não estivesse lá, ele não teria sido redimido”. Por quê? Porque o desejo de receber para si mesmo não tem redenção, mesmo no tempo da redenção, já que a redenção virá quando todos os recebimentos entrarem nos vasos de doação e não nos vasos de recepção.

 

O desejo de receber para si mesmo deve sempre permanecer em déficit, pois satisfazê-lo é a própria morte. A razão é que, como dito acima, a criação foi primariamente para a Sua glória (e essa é uma resposta para o que está escrito, que o Seu desejo é fazer o bem às Suas criatura e não a Si mesmo).

 

A interpretação será de que a essência da Criação é revelar a todos que o propósito da Criação é fazer o bem às Suas criaturas. Isso ocorre especificamente quando o indivíduo diz que ele nasceu para honrar o Criador. Nesse momento, nesses vasos, aparece o propósito da Criação, que é fazer o bem às Suas criaturas.

 

Por essa razão, o indivíduo deve sempre examinar a si mesmo, o propósito do seu trabalho, e averiguar se o Criador recebe contentamento em todas as suas ações, porque busca a equivalência de forma com o Criador. Isso é chamado “todas as suas ações serão pelo Criador”, pois o indivíduo quer que o Criador desfrute de tudo que ele faz, como está escrito “Trazer contentamento ao seu Fazedor”.

 

Além disso, o indivíduo precisa se conduzir com o desejo de receber e se dirigir a ele, dizendo: “Eu já decidi que não quero receber qualquer prazer para que você desfrute, pois com o seu desejo eu sou forçado a me separar do Criador, já que a disparidade de forma causa separação e distância do Criador.”

 

Como não consegue se libertar do poder do desejo de receber, a esperança do indivíduo deveria ser o fato de que ele está em um perpétuo processo de subidas e descidas. Consequentemente, ele espera pelo Criador, espera que Ele o recompense com a abertura dos seus olhos e com a força para superar e trabalhar apenas pelo bem do Criador. É como está escrito: “Uma eu pedi ao Criador; por ela eu vou procurar.” “Ela” significa a Shechiná [Divindade]. E o indivíduo pede “que eu possa habitar na morada do Senhor por todos os dias da minha vida”.

 

A morada do Senhor é a Shechiná. E agora podemos entender o que os nossos sábios disseram sobre o verso “e tomará para você no primeiro dia”, o primeiro a contabilizar as iniquidades. Devemos entender por que há regozijo se há lugar para contabilizar as iniquidades aqui. Devemos saber, ele disse, que há uma questão de importância no trabalho quando há contato entre o indivíduo e o Criador.

 

Isso significa que o indivíduo sente que precisa do Criador, pois, no estado de labor, ele vê que ninguém no mundo pode salvá-lo do estado em que está, exceto o Criador. Então, ele vê que “não há ninguém além Dele” que possa salvá-lo do estado em que está e do qual não consegue escapar.

 

Isso é chamado de "ter contato próximo com o Criador". Se o indivíduo sabe apreciar esse contato, então acredita que está aderido ao Criador e todos os seus pensamentos são sobre o Criador. Dessa forma, Ele o ajudará, porque senão o indivíduo vê que está perdido.

 

De forma inversa, aquele que é recompensado com Providência Particular e vê que o Criador faz tudo, como está escrito “apenas Ele faz e fará todos os atos”, esse indivíduo não tem nada a adicionar e, de toda forma, não há espaço para orar pela ajuda do Criador, pois ele vê que o Criador faz tudo mesmo sem a sua oração.

 

Portanto, neste momento, não há espaço para realizar bons atos, pois o indivíduo vê que, mesmo sem ele, tudo é feito pelo Criador. Assim, o indivíduo não tem necessidade da ajuda do Criador para nada. Nesse estado, ele não tem contato com o Criador e não necessita Dele na medida de estar perdido sem a Sua ajuda.

 

Assim, o indivíduo não tem o contato que tinha com o Criador durante o trabalho. Ele disse que é como uma pessoa suspensa entre a vida e a morte, que pede para seu amigo salvá-la. Como ele pede para seu amigo? Ele certamente tenta pedir para que seu amigo tenha misericórdia dele e o salve da morte com todo o poder à sua disposição. Ele certamente nunca esquece de pedir ao seu amigo, pois ele vê que, se não fizer isso, perderá a vida.

 

No entanto, aquele que pede luxos ao seu amigo, coisas não necessárias, esse suplicante não está tão ligado ao seu amigo a ponto de que a sua mente não se distraia de pedir o que quer receber. Percebe-se que, com coisas não relacionadas à salvação da vida, o suplicante não se torna tão ligado ao doador.

 

Portanto, quando o indivíduo sente que deve pedir ao Criador que lhe salve da morte, do estado de “os perversos na sua vida são chamados ‘morte’”, o contato entre a pessoa e o Criador é próximo. Por essa razão, para os justos, um lugar de trabalho é necessitar a ajuda do Criador. Caso contrário, ele está perdido. É isso que os justos almejam: um lugar para trabalhar de forma que tenham contato próximo com o Criador.

 

Assim, se o Criador dá espaço para o trabalho, esses justos ficam muito felizes. É por isso que eles disseram “o primeiro a contabilizar as iniquidades”. Para eles, é motivo de alegria ter um lugar para o trabalho, ou seja, tornar-se necessitado do Criador e poder entrar em contato próximo com Ele. Isto é assim porque ninguém pode vir ao Palácio do Rei sem um propósito.

 

Esse é o significado do verso “e tomará para você”. Ele especifica “para você” pois tudo está nas mãos dos céus, com exceção do temor aos céus. Em outras palavras, o Criador pode dar a luz em abundância porque Ele a tem. Mas, na escuridão, no lugar da falta, esse não é Seu domínio.

 

Devido à regra de que o temor aos céus existe apenas a partir de um lugar de falta – e um lugar de falta é chamado “o desejo de receber” –, isso significa que, apenas então, há um lugar para o trabalho. Em quê? No que há resistência.

 

O corpo chega e pergunta: “O que é o trabalho?” E o indivíduo não tem nada a responder a essa questão. Então, ele deve assumir o fardo do reino dos céus acima da razão, como um boi ou um burro aceitam uma carga, sem qualquer argumento. “Em vez disso, Ele disse e Sua vontade foi feita. Isso é chamado “para você”, ou seja, esse trabalho pertence precisamente a você, e não a Mim. É o trabalho que o seu desejo de receber requer”.

 

Contudo, se o Criador fornece alguma iluminação de cima, o desejo de receber se rende e se anula como uma vela perante uma tocha. Então, o indivíduo não tem qualquer trabalho, pois ele não tem mais necessidade de tomar sobre si, coercitivamente, o fardo do reino dos céus – como um boi ou um burro com uma carga, como está escrito: “Você que ama o Senhor, odeia o mal”.

 

Isso significa que o amor do Criador se estende apenas a partir do lugar do mal. Em outras palavras, na medida em que o indivíduo tem ódio pelo mal, quando ele vê o quanto o desejo de receber lhe obstrui de alcançar a completude do objetivo, nessa medida ele necessita que o amor do Criador lhe seja transmitido. Se um indivíduo sente que ele tem mal, ele não pode receber o amor do Criador, pois ele não o necessita, já que tem satisfação no trabalho.

 

Como dissemos, o indivíduo não deve se irar quando tem trabalho com o desejo de receber, no sentido de que isso lhe obstrui no trabalho. O indivíduo certamente ficaria mais satisfeito se o desejo de receber desaparecesse do corpo, pois ele não traria perguntas à pessoa e não a obstruiria no trabalho de observar a Torá e as Mitzvot [mandamentos].

 

Contudo, o indivíduo deve acreditar que as obstruções do desejo de receber são enviadas de cima. É concedida de cima ao indivíduo a força para descobrir o desejo de receber, porque há espaço para o trabalho precisamente quando o desejo de receber desperta.

 

Então, o indivíduo tem contato próximo com o Criador para que lhe ajude a transformar o desejo de receber em trabalho com a intenção de doar. O indivíduo deve acreditar que disso se estende o contentamento ao Criador, da sua oração a Ele a fim de aproximá-lo na forma de Dvekut [adesão], chamada de “equivalência de forma”, discernida da anulação do desejo de receber para que seja com a intenção de doar. Sobre isso, o Criador diz: “Meus filhos me venceram”. Ou seja, Eu lhe dei o desejo de receber e, ao invés disso, você Me pede o desejo de doar.

 

Agora podemos interpretar o que é trazido na Guemará (Hulin p. 7): “O Rabino Pinchás ben Yair estava a caminho para resgatar os prisioneiros. Ele se deparou com o rio Ginai. Ele disse ao rio: “Divida sua água e eu passarei através de você.” O rio lhe disse: “Você fará a vontade do seu Criador, e eu farei a vontade do meu Criador. Você talvez faça, e talvez não faça, a vontade do seu Criador, enquanto eu certamente farei.”

 

Sobre o significado disso, o rabino disse que falou ao rio – ou seja, ao desejo de receber –que o deixasse atravessá-lo para alcançar o nível de fazer a vontade do Criador, de fazer tudo a fim de doar contentamento ao seu Fazedor. O rio, o desejo de receber, respondeu que o Criador o criou com essa natureza de querer receber deleite e prazer. E, portanto, ele não quer mudar a natureza com que o Criador o criou.

 

O Rabino Pinchás ben Yair travou guerra contra ele, pois queria invertê-lo para um desejo de doar. Isso é considerado travar guerra contra a criação que o Criador criou na natureza, chamada “desejo de receber” – criado pelo Criador, que é o todo da criação, chamado “existência a partir da ausência”.

 

Devemos saber que, durante o trabalho, quando o desejo de receber chega para uma pessoa com seus argumentos, nenhum argumento ou racionalização vai ajudar. Apesar de a pessoa pensar que são apenas argumentos, isso não a ajudará a derrotar o seu mal.

 

Ao invés disso, como está escrito, “Ele escondeu seus dentes”. Isso significa avançar apenas por meio de ações, e não por argumentos. É considerado que o indivíduo deve adicionar poderes coercitivamente. Esse é o significado do que os nossos sábios disseram: “Ele é coagido até que diga ‘eu quero’”. Em outras palavras, pela persistência, o hábito se torna uma segunda natureza.

 

O indivíduo deve tentar, especialmente, ter um forte desejo por obter o desejo de doar e por superar o desejo de receber. Um forte desejo é medido pelo incremento dos descansos intermediários e das pausas, ou seja, dos intervalos de tempo entre cada superação.

 

Às vezes, o indivíduo recebe uma interrupção no meio, um descenso. Esse descenso pode ser uma interrupção por um minuto, uma hora, um dia ou um mês. Depois, ele retoma o trabalho de superar o desejo de receber e as tentativas de alcançar o desejo de doar. Um forte desejo significa que a interrupção não dura muito tempo e ele é imediatamente despertado de novo para o trabalho.

 

É como uma pessoa que quer quebrar uma grande pedra. Ela pega um grande martelo e bate muitas vezes, o dia inteiro, mas de forma leve. Em outras palavras, ela não martela a pedra com um só golpe, mas baixa o grande martelo lentamente e sem força. Depois, a pessoa reclama que o trabalho de quebrar a pedra não é para ela, que só um homem muito forte para ser capaz de quebrar essa grande rocha. A pessoa diz que não nasceu com poderes tamanhos para ser capaz de quebrar a pedra.

 

No entanto, se o indivíduo levanta o seu martelo e atinge a pedra com um grande golpe – não lentamente, mas com um grande esforço –, a pedra imediatamente se rende a ele e quebra. Esse é o significado de “como um forte martelo que esmaga a pedra”.

 

Da mesma forma, no trabalho sagrado de levar os vasos de recepção à Kedushá [santidade], temos um forte martelo – as palavras da Torá, que nos dão bons conselhos. Porém, se o trabalho não é consistente, se há longos intervalos no meio, o indivíduo escapa da jornada e diz que não feito para isso, que esse trabalho requer alguém nascido com habilidades especiais. Mesmo assim, o indivíduo deveria acreditar que qualquer um pode atingir o objetivo, e deveria sempre tentar aumentar seus esforços para superar, pois então ele pode quebrar a pedra em pouco tempo.

 

Também devemos saber que há uma condição rigorosa para o esforço de fazer contato com o Criador: o esforço deve ser na forma de ornamento. O ornamento simboliza algo que é importante para uma pessoa. A pessoa não pode trabalhar com alegria se o trabalho não lhe é importante. Portanto, a pessoa deve se regozijar por ter agora contato com o Criador.

 

Essa questão é representada pelo Etrog (cidra). Sobre isso, está escrito que é “uma fruta de árvore cítrica”(em hebraico, cítrico é Hadar, proveniente de Hidur, que é beleza). Está escrito que o Etrog deveria estar limpo “acima do seu nariz”. É sabido que há aqui três distinções: a) ornamento, b) perfume, c) sabor.

 

O sabor significa que as Luzes são derramadas de cima para baixo, abaixo do [boca], onde há o palato e o sabor. Isso significa que as Luzes vêm em vasos de recepção.

 

O perfume significa que as Luzes vêm de baixo para cima. Isso significa que as Luzes vêm em vasos de doação, na forma de receber e não de doar abaixo do palato e da garganta. Isso é discernido como “e ele sentirá o cheiro do temor ao Criador”, dito sobre o Messias. É sabido que o perfume é atribuído ao nariz.

 

O ornamento implica beleza e formosura, distinguida como acima do nariz do indivíduo, sem cheiro. Significa que não há sabor ou cheio ali. Portanto, o que há ali para que o indivíduo possa suportar? Há apenas o ornamento nele, e é isso o que o sustenta.

 

Sobre o Etrog, vemos que o ornamento se coloca nele precisamente antes que esteja adequado para comer. Contudo, quando está pronto para comer, o ornamento não está mais lá.

 

Isto se refere ao “trabalho de primeiro contar as iniquidades”. Significa precisamente que, quando o indivíduo trabalha sob a forma de “tomarás”, que é o trabalho durante a aceitação do fardo do Reino dos Céus, e que é quando o corpo resiste, justamente aí há espaço para a alegria do ornamento.

 

Isto significa que o ornamento se faz visível durante o trabalho. Ou seja, se há alegria a partir do trabalho é porque o indivíduo considera esse trabalho um ornamento e não uma vergonha.

 

Em outras palavras, às vezes o indivíduo despreza o trabalho de assumir o fardo do Reino dos Céus, o qual é um tempo de uma sensação de escuridão. É quando ele vê que ninguém além do Criador pode salvá-lo do estado em que está. Então, ele assume para si o Reino dos Céus acima da razão, como um boi aceita o fardo e como um burro aceita a carga.

 

O indivíduo deveria se alegrar, pois agora tem algo a dar para o Criador, e o Criador aprecia isso. Mas nem sempre a pessoa tem a força para dizer que esse é um trabalho belo, chamado de “ornamento”, e assim despreza o trabalho.

 

É uma condição pesada a pessoa se habilitar a dizer que escolhe esse trabalho acima do trabalho de purificação, significando que ela não sente o gosto da escuridão durante o trabalho, mas, de repente, a pessoa sente sim o sabor do trabalho. Significa, então, que o indivíduo não precisa trabalhar com o desejo de receber para concordar em assumir o Reino dos Céus acima da razão.

 

Se ele supera a si mesmo e pode dizer que esse trabalho é prazeroso, pois agora ele observa a Mitz[mandamento] da fé acima da razão e aceita esse trabalho como beleza e ornamento, então isso é chamado “uma alegria da Mitzvá”.

 

Esse é o significado de a oração ser mais importante que a resposta à oração, pois na oração há um lugar para o trabalho e a pessoa que necessita do Criador aguarda a misericórdia dos céus. Nesse momento, o indivíduo tem um verdadeiro contato com o Criador e está no Palácio do Rei. No entanto, quando a oração é atendida, o indivíduo já deixou o Palácio do Rei, pois já recebeu o que havia pedido e então saiu.

 

Portanto, devemos entender o verso: “Seus óleos têm uma boa fragrância; seu nome é como óleo derramado.” Óleo é chamado de “a Luz Superior” quando flui. “Derramado” significa durante a cessação da abundância. Nesse momento, o perfume do óleo permanece. (Perfume significa que, apesar de tudo, um Reshimo [reminiscência] do que ele teve permanece. Ornamento, no entanto, é chamado assim em um lugar onde não há nenhuma firmeza, onde nem o Reshimo brilha.)

 

Esse é o significado de Atik e AA. Durante a expansão, a abundância é chamada AA, que é Chochmá [sabedoria], e significa Providência Aberta. Atik vem da palavra [hebraica] VaYe’atek [separação], e significa a saída da Luz. Em outras palavras, Atik não brilha e isso é chamado “ocultação”.

 

Esse é o momento da rejeição às vestimentas, o qual é o tempo da recepção da coroa do Rei, considerada Malchut [reino] das Luzes, o Reino dos Céus.

 

Sobre isso está escrito no Zohar: “A Shechiná [Divindade] disse ao Rabino Shimon, ‘não há lugar para se esconder de você’ (ou seja, não há lugar onde Eu possa Me esconder de você)”. Isso significa que mesmo na maior ocultação, na verdade, ele ainda toma para si o fardo do Reino dos Céus com grande alegria.

 

A razão para isso é que ele segue uma linha de desejo de doar e, portanto, doa o que tem nas mãos. Se o Criador lhe dá mais, ele doa mais. E se ele não tem nada para doar, coloca-se em pé e chora como uma garça para que o Criador lhe salve da água maligna. Por isso, dessa maneira, também, ele tem contato com o Criador.

 

A razão para esse discernimento ser chamado Atik, já que Atik é o nível mais elevado, é que o quanto mais longe se está da vestimenta, mais alto se está. O indivíduo pode sentir mesmo na coisa mais abstrata, chamada “o zero absoluto”, pois lá a mão do homem não alcança.

 

Isso significa que o desejo de receber pode agarrar apenas em um lugar onde há alguma expansão da Luz. Antes de purificar os seus Kelim [vasos] para não manchar a Luz, o indivíduo é incapaz de receber a Luz na forma de expansão dos Kelim. Apenas quando o indivíduo marcha no caminho da doação, em um local onde o desejo de receber não está presente, seja na mente ou no coração, ali a Luz pode vir em perfeição absoluta. Então, ele recebe a Luz numa sensação em que ele pode sentir a exaltação da Luz Superior.

 

No entanto, quando o indivíduo não corrigiu os Kelim para trabalhar a fim de doar, a Luz deve ser restrita quando se expande e só deve brilhar de acordo com a pureza dos Kelim. Assim, nesse momento, a Luz parece estar em absoluta pequenez. Portanto, quando a Luz é abstraída das vestimentas dos Kelim, a Luz pode brilhar em absoluta perfeição e clareza, sem quaisquer restrições pelo bem do inferior.

 

Portanto, a importância do trabalho ocorre precisamente quando o indivíduo chega a um estado de zero, quando ele vê que anula toda a sua existência e o seu ser, pois então o desejo de receber não tem nenhum poder. Apenas então o indivíduo entra na Kedushá.

 

Devemos saber que “Deus criou um oposto ao outro”. Isso significa que tanto quanto há revelação na Kedushá, nesta mesma medida a Sitra Achra [outro lado] desperta. Em outras palavras, quando o indivíduo reivindica “é tudo meu”, no sentido de que o seu corpo inteiro pertence à Kedushá, também a Sitra Achra argumenta contra ele, dizendo que o seu corpo inteiro deveria servir à Sitra Achra.

 

 

Assim, o indivíduo deve saber que quando o seu corpo afirma pertencer à Sitra Achra e clama com toda sua força as famosas perguntas de “Quem?” e “O Quê?”, é um sinal de que o indivíduo está andando no caminho da verdade e que a sua única intenção é levar contentamento ao seu Fazedor. Portanto, o trabalho primário se dá precisamente nesse estado.

 

O indivíduo deve saber que isso é um sinal de que seu trabalho atinge o alvo. O sinal é que ele luta e envia suas flechas à cabeça da serpente, pois ela grita e argumenta com “O Quê?” e “Quem?” – ou seja, “O que é esse trabalho para você?”, O que você vai ganhar por trabalhar apenas para o Criador e não para si mesmo? E o argumento de “Quem” significa a reclamação do Faraó, que disse: “Quem é o Senhor para que eu obedeça à Sua voz?”.

 

O argumento de “Quem” parece ser racional. Normalmente, quando uma pessoa recebe ordens de trabalhar para alguém, ela pergunta “Para quem?”. Assim, quando o corpo reclama “Quem é o Senhor para que eu obedeça à Sua voz?”, este é um argumento racional.

 

Contudo, de acordo com a regra de que o intelecto não é um objeto em si, mas um espelho do que se encontra nos sentidos, assim se parece na mente. Isso é o significado de “Os filhos de Dan: Hushim”. Ou seja, a mente julga apenas de acordo com o que os sentidos lhe permitem escrutinizar, e imagina algumas invenções e táticas para se adequar às demandas dos sentidos.

 

Em outras palavras, o que os sentidos demandam a mente tenta prover. No entanto, a mente em si não tem necessidades para si mesma. Assim, se há demanda por doação nos sentidos, a mente opera de acordo com a linha da doação e não faz perguntas, pois está meramente servindo aos sentidos.

 

A mente é como uma pessoa que se olha no espelho para ver se está suja. E em todos os lugares em que o espelho mostra que está suja, a pessoa se lava e se limpa, pois o espelho mostrou-lhe que há coisas feias a serem limpas no seu rosto.

 

No entanto, o mais difícil é saber o que é considerado feio. É o desejo de receber, a demanda do corpo para que tudo seja para ele mesmo, ou a coisa feia é o desejo de doar, o qual o corpo não tolera? A mente não pode escrutinizar isso, assim como o espelho não pode dizer o que é feio e o que é bonito; em vez disso, tudo depende dos sentidos, e apenas os sentidos determinam isso.

 

Dessa forma, quando o indivíduo se acostumar a trabalhar coercitivamente, a trabalhar na doação, a mente também operará pelas linhas da doação. Nesse momento, quando os sentidos já se acostumaram ao trabalho na doação, é impossível que a mente faça a pergunta “Quem?”.

 

Em outras palavras, os sentidos não perguntam mais: “O que é esse trabalho?”, pois eles já estão trabalhando a fim de doar e, naturalmente, a mente não faz a pergunta “Quem?”.

 

Você percebe que o trabalho primário está em “O que é esse trabalho para você?”. E o que o indivíduo ouve quando o corpo pergunta “Quem?” é porque o corpo não quer se degradar tanto. É por isso que ele faz a pergunta “Quem?”. Ele parece estar fazendo uma pergunta racional, mas a verdade é que, como dissemos acima, o trabalho primário está em “O Quê?”.

 

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