quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Shamati (7)



7. O que significa dizer que o hábito se transforma numa segunda natureza?


Quando nos acostumamos com alguma coisa, essa coisa se nos converte numa segunda natureza. Por isso, não existe nada que o homem possa sentir como não sendo sua própria realidade. Isso quer dizer que, embora alguém não tenha sensação alguma em determinada coisa, ainda assim poderá vir a senti-la se se acostumar com ela.



É preciso entender que existe uma diferença entre o Criador e as criaturas no que concerne às sensações. Para as criaturas existe “aquilo que elas percebem” e “aquilo que é percebido”, ou, o que é a mesma coisa, aquele que alcança e aquilo que foi alcançado. Isto significa que temos alguém que sente e que está conectado com certa realidade.



Sem dúvida, uma realidade sem alguém que a perceba é o Criador em si. Nele “não existe pensamento nem sensação alguma”. Isto não é assim em relação a uma pessoa: sua existência como um todo existe somente por meio da sua própria sensação de realidade. Inclusive, a validez da sensação de realidade é comprovada apenas por aqueles que a percebem.



Noutras palavras, aquilo que o “perceptor” experimenta ou sente é o que ele próprio considera verdadeiro. Se alguém experimenta algo amargo em determinada circunstância, isto é, que se sente mal na situação em que se encontra e se sofre por causa desse estado, então essa pessoa é considerada malvada no que diz respeito ao Trabalho, já que condena o Criador, pois Ele é chamado Bom e Benfeitor porque doa somente bondade ao mundo. No entanto, ainda assim, com respeito às sensações dessa pessoa, ela sente que recebeu o contrário, isto é, que a situação em que ela se encontra é ruim.



Por isso devemos compreender o que disseram os nossos Sábios (Talmud, Berachot 61): “O mundo foi criado somente para os totalmente malvados ou para os totalmente justos”. Isto quer dizer que alguém pode, já seja, provar e sentir o bom sabor do mundo, e assim justificar o Criador e dizer que Deus doa somente bondade ao mundo, ou provar e sentir o gosto amargo do mundo, e, então, ser malvado porque está condenando o Criador.



Resulta que tudo é medido de acordo com a sensação da pessoa. Não obstante, todas essas sensações não guardam relação alguma com o Criador, tal como está escrito no “Poema da Unificação”: “Assim como ela é tu sempre serás, nem escassez e nem excessos em ti haverá”.



Para concluir, todos os mundos e todas as mudanças de estado existem somente no que diz respeito aos receptores, na exata medida em que a pessoa os adquire.


segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Hillulot (7)


Rabi Yehudah Loew de Praga


Talmudista, Cabalista, Rabino Chefe de Praga. Criador do Golem.


18 de Elul | 29/08/2018



Nascido em: Posen, Polônia, 1525

Falecido em: Praga, Bohemia

Mais conhecido como Maharal, uma abreviação de Moreinu Harav Loew.



O Maharal nasceu na noite do Seder de Pessach, em uma distinta família de rabinos cuja ancestralidade remonta ao Rei David. Era o mais jovem de quatro irmãos justos. O Maharal casou-se com Pearl na idade “tardia” de 32 anos e teve cinco meninas e um menino, que recebeu o nome do pai do Maharal, Betzalel.



Em 1553, foi eleito rabino de Nikolsburg e da Província de Moravia, onde residiu durante os 20 anos seguintes. Em 1573, mudou-se para Praga, onde fundou uma yeshivá e tornou-se mentor de muitos alunos excelentes. O mais proeminente deles é o Rabi Lipman Heller, autor do Tosefot Yomtov, sobre a Mishná. Em 1592, o Maharal aceitou a posição de rabino em Posen, retornando à Praga em 1598 para servir como rabino chefe.



Foi um escritor prolífico. Suas obras incluem Tiferet Yisrael, sobre a grandeza da Torá e mitzvot; Netivot Olam, sobre ética; Be’er Hagolah, um comentário sobre os dizeres rabínicos; Netzach Yisrael, sobre exílio e redenção; Ohr Chadash, sobre o Livro de Esther; Ner Mitzvah, sobre Chanukah; Gevurot Hashem, sobre o Êxodo. As obras do Maharal revelam sua ilustre personalidade de profundo pensador, que penetra os mistérios da Criação e da metafísica, ocultando temas cabalísticos em vestimentas filosóficas. Sua abordagem única do pensamento judaico influenciou as ideologias do Chassidismo e do Mussar.



O Maharal criticava os métodos educacionais da sua época, em que os meninos eram educados desde muito cedo, e insistia que as crianças deveriam ser ensinadas de acordo com sua maturidade intelectual. Portanto, nem o Talmud e muito menos o Tosafot deveriam ser ensinados antes de a criança ser mentalmente capaz de compreender integralmente o que está aprendendo. Ele recomendava que o sistema proposto no Pirkei Avot deveria ser seguido.



O Maharal era um líder forte na sua comunidade, e tornou-se personagem de muitas lendas, nas quais aparece como defensor da comunidade judaica de Praga contra todos os seus inimigos, sendo auxiliado por um Golem, um autômato criado por ele e a quem deu vida colocando palavras sagradas na sua boca.



Sua companhia e conselho eram procurados por reis e membros da nobreza, o que gerou e coloriu muitas lendas.



A sinagoga do Maharal, Altneu Schul, existe ainda hoje e é preservada como um santuário pelas autoridades municipais de Praga que, em 1917, erigiram uma estátua em sua homenagem. No mundo da Torá, o Maharal continua vivo nas suas obras, que são uma fonte permanente de Sabedoria e inspiração.



Livros sobre o Maharal:

Maharal: Padrões Emergentes (Inglês)

O Golem de Praga (Inglês)

O Maharal de Praga (Inglês)

HaMaharal Mi-Prague (Hebraico)



Que o mérito do tzadik Rabi Yehudah Loew, O Maharal de Praga, proteja a todos nós, Amém.


quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Emanações de Chochmá (8)


  

O castigo por uma transgressão (ou iniqüidade, como prefiro chamar) não é uma punição, mas o não-recebimento de uma determinada mitzvá (uma mitzvá é uma qualidade ou midot do Criador).



O mal (ou transgressão) foi criado pelo Criador, para que pudéssemos exercer o livre-arbítrio. Sucumbir ao mal (desejo de receber somente para si mesmo) é ser escravo da própria natureza, ou do Nashach (Serpente).



Por isso, na estatuária antiga, esculpidas em épocas em que os povos ainda tinham Sabedoria, o herói (ou tzadik) tem sempre o pé sobre a cabeça da Serpente subjugada. O herói (o tzadik) triunfa sobre o seu desejo de receber somente para si mesmo, enquanto que o escravo (o rachá), fracassa.



Cumprir uma mitzvá é uma libertação do desejo de receber somente para si mesmo. Ao cumprirmos uma mitzvá doamos a Elohim, nosso Criador. Com isso, com nossos atos, nossas palavras e nossos pensamentos iluminamos os Mundos Superiores. Como conseqüência por esse Avodat Hashem, e como resultado direto da Lei das Raízes e dos Ramos (ensinada por Moisés, no deserto), o Superior doa ao inferior, inundando-o de Shefa. Ou Manah. Manah significa para aqueles que sabem, e somente para aqueles que sabem, Man Hu.

sábado, 18 de agosto de 2018

Mocha de Ilaah (5)



Compreender algo é o início da compaixão.



Como um marido, ou um pai, pode compreender uma filha ou uma esposa se ele não compreender que durante o período mensal chamado TPM o cérebro da filha ou a esposa ficam inundados de sangue? E que essa inundação sanguínea provoca uma alteração de consciência que provoca uma alteração de comportamento?



Se a mitzvá “Ama o teu próximo como a ti mesmo” for seguida à risca, o marido compreenderá a filha ou a esposa e não reagirá diante da agitação, agressividade e confusão mental característicos desse período das mulheres...



Sempre que nos colocamos nos “sapatos do outro” somos capazes de compreender porquê o outro age da forma que age. Colocar-se nos “sapatos do outro” está além da filosofia, da arte e da ciência. Colocar-se nos “sapatos do outro” é um exercício de humildade, de sabedoria e de santidade.



Kabbalah não precisava chamar-se Kabbalah, a arte de receber. Podia chamar-se a “Arte de se colocar nos sapatos do outro”.  

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Glossário de Termos Cabalísticos (6)


Fana il Fana



Expressão árabe, que significa a extinção da extinção. No Sufismo, que é a kabbalah do islamismo, esse termo alude à dissolução da consciência individual na experiência última em Barba Longa, Grande Rosto ou Arik Anpin na Raiz Negativa Eternamente Existente da Árvore da Vida. Corresponde ao Nirvakalpa Samadhi no sistema de ioga indu e ao Satori no sistema do Zen budismo.



Attainment somente recomendável para cabalistas de altíssimo nível. Em aula, cito sempre a história dos quatro rabinos-cabalistas que entraram no Pardes. O primeiro, morreu; o segundo, enlouqueceu; o terceiro, apostasiou. E o quarto chamava-se Rabi Akiva, que entrou em paz e que saiu em paz.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Sodot ha Beit (3)



A tendência de um principiante em estudos de Kabbalah é a de pensar, ou imaginar, que Guevurá (a quinta Sefirá) seja algo negativo. Depende. E esse é mais um dos Segredos da Letra Beit, de Bereshit.



São duas árvores. Ou uma.



A que o nosso ego percebe, e que se chama Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal; e a que a nossa alma percebe, e que se chama Árvore da Vida.



É uma única árvore, mas que pode ser percebida de duas formas. No Aleph, é uma; no Beit, são duas. No Universo da Unidade (Echad), as árvores se fundem. No Universo da Dualidade, elas estão divididas.



Não escreverei aqui sobre a Guevurá da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, que o mundo está repleto dela, mas da Guevurá da Árvore da Vida, que impede o excessivo expansionismo de Chessed.



A Guevurá determina: dez por cento dos meus recebimentos devem ser direcionados à doação. Uso esse exemplo do uso de Guevurá que é o mais prático e o mais fácil de realizar. Penso em algo mais sofisticado: na soma geral do equilíbrio sefirótico preciso ter nove porções de compaixão e uma de rigor.



Se tenho dez (em dez) porções de compaixão, sou um pateta. Se tenho duas (em dez) porções de rigor, começo a me transformar num tirano. Pense naquele funcionário que sempre rouba tempo, saindo mais cedo do trabalho. Ou naquele mendigo que sempre bate na tua casa em pleno Shabat.



É a Guevurá que me diz quando devo parar de beber vinho; é a Guevurá que me diz que não devo exagerar em meus estudos de Torah, e que devo dedicar algumas horas do meu dia ao sono e à restauração de minhas forças físicas.



Guevurá é contenção, limitação, organização, educação. Sem um lampejo de Guevurá, Sigmund Freud não teria ensinado que educar é reprimir.



Sei que ninguém, no estado a que chegamos, e no estado em que chegamos, aceita a boa Guevurá. No entanto, a má Guevurá lançará sobre todos nós a desordem, a barbárie e o caos.



Como sempre, desde o Gan Eden, apresenta-se diante de nós o Livre Arbítrio, também chamado de Nashach (o Serpente). Qual das Guevurot escolheremos?


domingo, 12 de agosto de 2018

Shamati (6)


6. O que significa “apoio na Torah” durante o trabalho
(Escutei em 1944)


Quando se estuda a Torah e se deseja que todos os atos sejam praticados com o fim de doar, deve-se obter sempre apoio na Torah. O apoio é considerado como o sustento, que é amor, temor, contentamento, energia etc. E tudo isto deve ser extraído da Torah. Em outras palavras, a Torah deve levar a um determinado resultado.



No entanto, quando se estuda a Torah e não se obtém estes resultados, este estudo não é considerado Torah. A razão disto é que a Torah trata da Luz vestida na Torah, conforme disseram nossos sábios: “Eu criei a inclinação ao mal, e Criei a Torah como tempero”. Isto se refere à Luz que está na Torah, já que esta Luz é a que reforma.



Também devemos saber que a Torah se divide em dois discernimentos: 


1) Torah;


2) Mitzvah.



Com efeito, é impossível compreender estes dois discernimentos antes que nos seja concedido caminhar pelo caminho de Deus, conforme a premissa que diz: “O conselho do Senhor é para aqueles que O temem”. Isto é assim porque quando nos encontramos no estado de preparação para entrar no Palácio do Rei é impossível compreender o caminho da verdade.



Não obstante, é possível formular um exemplo a respeito do contrário, já que até mesmo uma pessoa que se encontra no período de preparação pode atingir certo grau de entendimento. Pois nossos sábios dizem (Talmud, Sutá 21): “Rabi Yosef disse: ‘Uma mitzvah protege e salva quando é praticada... A Torah protege e salva tanto quando é praticada como quando não é’”.



O fato é que a expressão “quando é praticada” se refere ao momento em que a pessoa tem certa quantidade de luz. Essa luz que a pessoa obtém pode ser usada somente enquanto se encontra dentro dela, pois neste momento ela sente contentamento por causa dessa Luz que brilha em seu interior. Isto é compreendido como uma mitzvah, ou seja, ainda que a pessoa não tenha recebido recompensa com a Torah, ela tem como resultado uma vida de Kedushá (Santidade) concedida pela Luz.



O mesmo não ocorre com a Torah. Quando a pessoa alcança algum meio para realizar o seu trabalho (estudo), ela pode usar este meio que tenha atingido, inclusive quando não o esteja praticando, ou seja, ainda quando não disponha da Luz. Isto se deve a que somente a luminescência afastou-se dela, mas ela pode utilizar o meio que alcançou no trabalho mesmo quando a luminosidade tenha lhe abandonado.



Porém, deve-se ter claro que uma mitzvah, quando é praticada, é maior que a Torah quando não está sendo praticada. A expressão “Quando é praticada” significa que a pessoa está recebendo a Luz neste momento; é isto que se quer dizer com “praticada”; ou seja, quando a pessoa recebe a Luz em si.



Portanto, quando a pessoa já tem a Luz, uma (a prática da) mitzvah é mais importante que a (o estudo da) Torah quando a pessoa não tem Luz; em outras palavras, quando não há vitalidade na Torah. Por um lado, a Torah é importante porque é possível usar o meio que se tenha atingido através dela. Por outro, ela carece da força chamada “Luz”. Em um tempo de (cumprimento de) mitzvah a pessoa recebe a vitalidade que chamamos “Luz”. Por isto, neste sentido, uma mitzvah é mais importante.



Assim, quando a pessoa está carente de sustento, é considerada “malvada”. A razão para isto é que em tal estado de carência a pessoa não pode dizer que o Criador dirige o mundo como “Bom e Benfeitor”. E por isto é chamada de “malvada”, já que condena o seu Criador ao sentir que carece de vitalidade e que não tem nada com o que regozijar-se para poder agradecer ao Criador por haver-lhe proporcionado prazer e deleite.



A pessoa pode dizer que acredita que o Criador dirige Sua Providência até os demais de maneira benévola, pois sabe que o caminho da Torah é uma sensação que se percebe nas entranhas. Se ela mesma não percebe o prazer e o deleite, como pode convencer-se de que os demais os percebem?



Se a pessoa realmente acreditasse que a Providência se revela como benevolente ao próximo, esta certeza deveria proporcionar-lhe prazer e deleite, por entender que o Criador guia o mundo na direção do prazer e do deleite. Se não sentimos vitalidade e regozijo, qual seria o benefício de dizer que Ele vela pelo seu próximo com benevolência?



O mais importante é o que a pessoa sente em seu próprio corpo, seja bom ou ruim. Ela desfruta do prazer de seu amigo somente se desfruta do benefício que traz prazer ao amigo. Em outras palavras, aprendemos que com a sensação do corpo, as razões não importam. O único que importa é se a pessoa se sente bem.



Neste estado, a pessoa declara que o Criador é “Bom e Benfeitor”. Se a pessoa se sente mal, não pode declarar que o Criador se comporta consigo de uma maneira benevolente. Deste modo, precisamente se a pessoa sente prazer com a felicidade de seu amigo, e se essa sensação exalta o seu espírito e essa alegria a faz torcer pelo bem estar de seu amigo, somente então pode sustentar que o Criador é um bom mentor.



Se a pessoa não tem alegria, se sente mal. Neste caso, como pode dizer que o Criador é benevolente? Por isso, um estado em que a pessoa não possui vitalidade nem regozijo é considerado um estado em que ela não sente amor pelo Criador nem tem a capacidade de justificar-Lhe e de ser feliz, como seria de se esperar de alguém que é honrado por servir a um Rei tão importante e grandioso.



É preciso saber que a Luz Superior se encontra em um estado de completo repouso, e toda a expansão dos Nomes Sagrados ocorre através dos inferiores. Em outras palavras, todos os Nomes que a Luz Superior têm provém do alcance dos inferiores. Isto significa que a Luz Superior é nomeada de acordo com a forma com a qual a pessoa a alcança, ou seja, de acordo com sua sensação.



Quando a pessoa não sente que o Criador lhe dá algo, que nome pode Lhe dar, se não recebe nada Dele? Ao contrário, quando a pessoa crê no Criador, ela diz que cada um dos estados que sente provém Dele. Neste estado, a pessoa nomeia o Criador de acordo com as suas próprias sensações.



Se a pessoa se sente feliz no estado em que se encontra, declara que o Criador é chamado “Benevolente”, já que isso é o que ela sente, que recebe o bem Dele. Neste estado, a pessoa é chamada de tzadik ou tzadika (homem justo ou mulher justa), porque o tatzdik justifica o seu Criador.



No entanto, não existe um estado intermediário em que a pessoa afirme sentir-se tanto bem quanto mal. A pessoa pode estar feliz ou infeliz, mas não tem ambos os estados ao mesmo tempo.



Nossos sábios escreveram (Talmud, Berachot 61): “O mundo não foi criado nem para os totalmente maus, nem para os totalmente justos”. A razão para isto é que não existe uma realidade tal em que a pessoa se sinta bem e mal ao mesmo tempo.



Quando nossos sábios disseram que há caminhos intermediários, se referiram a respeito das criaturas, que possuem discernimento de tempo, que podem conceber um meio termo entre dois tempos, um depois do outro; e assim temos aprendido que existem ascensos e descensos. Estes são dois momentos: em um, a pessoa é malvada, e em outro, é justa. Mas não é possível que ela possa sentir-se bem e mal simultaneamente, em um mesmo momento.



Disto se depreende que quando os sábios afirmaram que a Torah era mais importante que uma mitzvah se referiam precisamente ao momento em que esta não é colocada em prática; ou seja, quando a pessoa não tem vitalidade. Então a Torah é mais importante que uma mitzvah sem vitalidade.



A causa disto é que a pessoa não pode obter nada de uma mitzvah sem vitalidade, mas com a Torah ela ainda conserva um sentido de trabalho, daquilo que havia recebido enquanto a praticava. Ainda que não haja mais vitalidade, essa noção que ela havia recebido permanece na pessoa, e ela pode utilizá-la. Existe um tempo em que uma mitzvah importa mais que a Torah; ou seja, quando há vitalidade na mitzvah e não há vitalidade na Torah.



Desta forma, quando não está sendo praticada, ou quando a pessoa não obtém vitalidade nem regozijo com o trabalho, não há outro conselho que não o de rezar. Não obstante, durante a reza a pessoa deve saber que é malvada por não perceber o deleite e o prazer implícitos no mundo, ainda que faça todo tipo de raciocínios para crer que o Criador somente outorga o bem.



Apesar disto, nem todos os pensamentos que a pessoa tem são verdadeiros no caminho do trabalho. Durante o trabalho, se o pensamento leva à ação, ou em outras palavras, a uma sensação que vem das entranhas de tal forma que estas sentem que o Criador é Benevolente, os órgãos deveriam obter vitalidade e regozijo disto. Se a pessoa não possui vitalidade, para que servem todos os raciocínios se agora os órgãos não amam o Criador devido a que ele lhes dá Sua Shefa (abundância)?



Assim, a pessoa deve saber que se não obtém vitalidade nem regozijo do trabalho é um sinal de que é malvada, porque é infeliz. Todos os raciocínios que realize serão falsos se não conduzirem a uma ação; ou seja, a uma sensação nos órgãos sobre o amor que se sente pelo Criador, porque Ele outorga deleite e prazer às criaturas.


(Tradução de Clarissa Porto Alegre Schmidt)

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Acherim Omerim (2)


Fofoca: a rede informal do ódio



A fofoca, ou a transmissão mal-intencionada de informações, é uma das redes mais importantes de preservação e transporte do rancor.

A fofoca assume 3 diferentes formas e veste 3 tipos de pessoas:

1.    Rechil ou repassador de histórias;

2.    Lashon há-rá ou má-língua;

3.    Há-motsi shem rá ou caluniador.

*

1.    O repassador de histórias, ou segundo o Talmude, o sombra da má-língua, faz o repasse involuntário de informações comprometidas com interesses escusos.

A mais nociva das fofocas é exatamente a produzida pelo repassador de histórias. Sua natureza enquadra-se na categoria dos perversos. Usando uma falsa imparcialidade, o repassador de histórias dissimula os seus próprios interesses. Passa adiante fatos que deixa para os seus ouvintes julgarem. Exatamente a conveniênciade repassar essas informações num determinado momento, e de uma determinada forma, potencializa a manutenção de ódios e rixas. E ele deixa de ser suspeito de possuir qualquer interesse no que conta.

Este elemento subliminar faz com que o ouvinte da fofoca assimile a informação infectada com rancor e ódio e acredite, ingenuamente, depois de decodificá-la, que é seu o julgamento que, na verdade, já estava embutido na própria informação recebida. 

No trecho conhecido como Kedoshim (sagrados), o Levítico (19:16) recomenda: “Não andarás repassando histórias entre teu povo”.

A maioria das pessoas desconhece o poder destrutivo do repasse de histórias, que é a mais nociva e endêmica espécie de fofoca. Vestida de falsa ingenuidade e boa intenção, assemelha-se a uma maçã envenenada.

Mas a fofoca depende de quem se presta a ouvi-la.  Assim, há que se ter cuidado não só em não repassá-la, mas também em recusar-se a ouvi-la.

O ShaareiTeshuva diz: “Saiba que aquele que escuta uma afirmação maldosa é tão perverso quanto aquele que a transmite. Até mesmo se o ouvinte apenas volta seu rosto em direção ao fofoqueiro, e dá a impressão de lhe estar prestando atenção, ajuda a propagar a intriga e encoraja-o a prosseguir com sua malícia”.

Com sabedoria e disciplina é possível romper essa rede organizada de rancor e ódio coletivos. Em primeiro lugar, é preciso perceber que a sua eficácia está nas artimanhas sutis com que ela desvia energia de nosso discurso e comportamento, logrando-nos constantemente. Somos, então, hospedeiros, receptáculos do rancor. Os embustes da intriga não estão na essência do que é dito, mas na forma com que isso é transmitido.

Mesmo a lisonja e o elogiopodem conter tanto veneno quanto blasfêmia. A adulação é uma incitação à inveja. Tanto o que expressa o elogio tanto os que o ouvem sentem-se seduzidos pelo desejo de diminuir aquele a quem se destina a lisonja. Às vezes, através do louvor, abrimos caminho para a malícia.

*

2.    O caluniador é o caso simples de alguém que propaga uma mentira em relação a outra pessoa. Ele assume o desejo de difamar alguém que, segundo seus próprios princípios, “merece ser difamado”. Justifica a si mesmo dizendo que não se pode deixar passar uma oportunidade de “denunciar aqueles que agem erroneamente”. Está na categoria de um nada, pois sua mentira é a saída e o recurso que reabilitará aquele que é caluniado. Uma vez desmascarada a sua mentira, a reputação do caluniado será restaurada imediatamente. No que tange à malícia, o intento do caluniador é infinitamente menos sutil do que o intento do má-língua.

*

3.    O má-língua transmite uma informação verdadeira, porém com a única intenção de difamar. Ele se utiliza da verdade como instrumento para agravar uma intriga, sofisticando a sua malícia. No momento em que aquilo que diz pode ser verificado e comprovado, o intuito subjetivo da intriga tem um potencial maior de propagar o rancor.



O má-língua assume a posição de tolo. Seu desejo de difamar é neutralizável por qualquer pessoa que tenha um mínimo de senso críticoe que consiga questionar os interesses que teriam levado alguém a relatar tais fatos a outras pessoas.



(Texto elaborado por CK, com base em A cabala da Inveja, de Nilton Bonder).

Shamati (127)

    127. A diferença entre o núcleo central, a essência e a abundância agregada ( Su cot Inter 4, Tav - Shin - Guimel , 30 de setembro d...