Cinco sentidos, quase seis
A percepção humana é limitada. Tu e eu, na realidade, não
podemos sentir ou imaginar nada fora de nossa percepção. Mediante um honesto
autoexame, e com a ajuda dos livros cabalísticos, poderás começar a descobrir
que estás aprisionado dentro de ti mesmo. Dado que só percebes com os teus
cinco sentidos, somente compreendes as coisas que existem no interior. Mais
ainda, o que sentes é apenas um fragmento do que existe no mundo, o fragmento
que conhecemos como “nosso mundo”. Reconhecer essa limitação é o primeiro passo
para a compreensão da verdadeira percepção.
Alguma vez pensaste que raramente tua mão sente que tem cinco
dedos? Provavelmente, não. Apesar de que podes ampliar os limites dos teus cinco
sentidos, na realidade não és capaz de imaginar de quais percepções careces. É
impossível reconhecer uma realidade verdadeira porque não é algo cuja ausência
sintas, assim como não podes sentir a ausência de um sexto dedo.
Dado que a imaginação é produto dos cinco sentidos, os
cabalistas sugerem que não consegues visualizar um objeto ou criatura que não
te seja familiar por mais criativo que sejas. Pensa no ilustrador de livros
infantis mais interessante ou no pintor mais abstrato que conheces. Seus desenhos
assemelham-se de alguma forma ao mundo físico? Tenta imaginar a coisa mais
tresloucada possível, algo que ninguém mais conheça. Continua sendo algo que ninguém conhece ou ao
menos algo que não se pode decifrar a partir de experiências da realidade
cotidiana?
Não importa o quanto evoluímos, eu e tu, em termos
técnicos, nunca poderemos nos liberar dos limites de nossos cinco sentidos. No
entanto, alguns indivíduos adquiriram um sentido adicional que lhes permite
perceber uma realidade mais ampla. Ainda vivem em nosso mundo, mas estenderam
os limites de sua percepção para incluir todo o espectro da criação. Essas
pessoas são chamadas de cabalistas.
Ir além dos cinco sentidos não acontece de modo literal. É
mais uma forma de descrever um nível mais alto de percepção através do qual
compreendemos a interconexão de tudo e o lugar que ocupamos nessa realidade
interconectada. Sabemos que formamos parte de uma dança da realidade e suas
implicações. O fato de se chamar de “sexto sentido” a essa habilidade é apenas
uma maneira conveniente, dentro do contexto da Kabbalah, de expressar essa
habilidade que transcende a percepção convencional.
Palavras do coração: Nossos cinco sentidos e nossa imaginação oferecem as
revelações das ações da Essência, mas não a Essência em si. Por exemplo, o
sentido da visão somente nos oferece sombras da Essência visível, conforme
essas sombras se formam em oposição à luz. (Do “Prefácio ao Livro do Zohar”,
de Yehuda Ashlag).
Como os cabalistas, eu e tu recebemos sensações dos objetos
externos. Não obstante, dado que teus sentidos internos não têm as mesmas
qualidades que esses objetos, na realidade não percebes o objeto em si mesmo.
Tu percebes somente essa parte do objeto que coincide com as qualidades que já
existem em teu interior. Para uma percepção completa de qualquer coisa, primeiro precisas estar completo em teu
interior. Noutras palavras, deves estar consciente de todas as formas da
realidade que possam existir e que existem em ti, e então tua imagem da
realidade estará completa.
Experiências diferentes levam as pessoas a interpretar as
mesmas percepções de maneiras muito distintas. Todos nós fazemos isso, e talvez
não sejamos conscientes de que os demais talvez não compartilhem, em absoluto,
das nossas interpretações. O que pensamos que é “objetivo” é “subjetivo” por
completo, baseando-nos no que aprendemos e no que já experimentamos.
Então, como adquirimos esse sexto sentido que engrandece e
amplia nossa capacidade para perceber e interpretar o mundo além da realidade
convencional? Ele de fato já existe em nós mesmos, mas está oculto.
Indubitavelmente, contamos com a capacidade de buscar e de encontrar esse
sentido em nosso interior e de desfrutar de seus benefícios.
Assim como a retina ajusta seu campo de ação às ondas de luz
visível, tu deves aprender a ajustar teu campo de ação às ondas do Criador,
conhecidas na Kabbalah como “Sua Forma”. Mediante o estudo, podes aprender a
ser como o Criador e a construir o sexto sentido. Começas a conhecer os Seus
pensamentos sobre ti e Seu plano no que te diz respeito.
Inclusive, antes mesmo de começar a cultivar o sexto sentido,
embora estando ainda cego diante do Criador, podes buscar uma maneira de sair
da escuridão com a ajuda de três elementos: um mestre, um livro e um grupo de
companheiros de estudos (No capítulo 16, falaremos mais sobre isso). Com o
tempo, através da persistência e do estudo, perceberás um pequeno raio de luz,
uma débil percepção do mundo do Criador. Na Kabbalah, esse mundo se chama Mundo
Superior. Ao estudar e desenvolver o sexto sentido, pouco a pouco começarás
a sentir e a compreender o Mundo Superior.
Definição: O Mundo Superior é o mundo do espírito, o desconhecido, o mundo que
conduz à semelhança de forma com o Criador. O mundo inferior, por seu lado, é o
mundo físico, o da realidade cotidiana. Ao ganhar acesso paulatino ao Mundo
Superior nos tornamos conscientes do que antes estava oculto e a natureza do
espírito começa a revelar-se. A Kabbalah nos ajuda a lograr essa consciência.