19. Se o Criador é bondoso e
deseja apenas o bem, como é possível que, de modo intencional, Ele tenha criado
Suas criaturas para sofrerem e penarem durante as suas vidas?
É dito que todo esse sofrimento
está pré-determinado no nosso primeiro estado, no qual nossa eternidade
perfeita será alcançada a partir do terceiro estado futuro, que nos obriga a
seguir o caminho da Torá ou o do Sofrimento para conseguirmos alcançar a
eternidade no terceiro estado.
Sobre o que Baal HaSulam está falando?
Digamos que o primeiro estado gerado pelo Criador, o estado do
Infinito, é totalmente preenchido pela Luz, e isso é Malchut. No segundo
estado, Malchut realiza um Tzimtzum, fica vazia, é gradativamente preenchida
pela Luz e faz correções, o que, por fim, a leva ao terceiro estado, quando
Malchut volta a ser totalmente preenchida pela Luz.
Esse terceiro estado é equivalente ao primeiro, a única diferença
entre eles é que o terceiro estado é alcançado pela própria Malchut. O primeiro
estado é criado de uma forma externa pelo Criador, a partir da Luz Circundante
chamada Ohr Sovev. O terceiro estado - o mundo do Infinito - é alcançado pela
correção da própria Malchut, que absorve todas as propriedades anteriores. Elas
tornam-se propriedades de Malchut, que preenche todo o volume do Infinito ao
atrair a Luz Externa.
Não é o Criador que governa e preenche o Mundo do Infinito, mas
sim Malchut, que preenche esse vazio a partir do interior do seu próprio
desejo. Vamos examinar como esses três estados pré-determinam um ao outro.
É possível passar do primeiro estado ao segundo e, depois, do
segundo ao terceiro da seguinte maneira: Avançamos do primeiro estado ao
segundo a partir da descida dos chamados níveis de descenso (Mundos, Partzufim
e Sefirot). Esse processo geralmente é descrito como um desdobramento de cima
para baixo, do Mundo do Infinito até o nosso Mundo. A passagem do segundo
estado ao terceiro engloba os níveis de ascensão (correção) das Almas.
Naturalmente, não existimos entre o primeiro e o segundo estados, pois nesse
estágio ainda não há seres criados. O caminho da Criação começa entre o segundo
estado e o terceiro.
Há dois Caminhos: “O Caminho da Torá e o Caminho do Sofrimento”. A
única diferença está no tempo. Do início ao fim de cada Caminho, preciso passar
por um determinado número de níveis. A cada vez, enquanto atravesso de um nível
a outro, preciso sentir o mal e a corrupção do meu estado atual, assim como a perfeição
que espero alcançar no próximo nível. Posso avaliar a corrupção do meu nível
atual e a perfeição do nível futuro tanto sob a influência do meu grupo, livros
e Rav, ou sob a influência das dificuldades que enfrentarei. Essas dificuldades
agem devagar e tem distanciamento temporal, portanto, prolongam minha passagem
pelo Caminho do Sofrimento.
Entretanto, com o auxílio dos livros, do Rav e do meu grupo, posso
perceber rapidamente a corrupção da minha condição atual e a perfeição do
estado seguinte, o que permite que eu siga em frente por minha própria vontade.
Isto é, o Caminho em si não significa apenas escapar de um estado ruim para um
melhor por necessidade, mas sim, passar para um estado de recebimento e
elevação. O próprio Caminho torna-se uma ascensão, e o tempo em que ficamos em
cada estado será literalmente reduzido ao mínimo. Eis a diferença entre o
Caminho da Torá (Luz) e o caminho do Sofrimento.
Só com a ajuda de uma fonte externa auto-criada é que se pode avançar
ao longo do Caminho da Torá ao invés do Caminho do Sofrimento. Eu mesmo crio o
meu grupo; o grupo é o mais importante. Somente através do meu elemento
complementar, ao mudar o fator natural de influência sobre mim, a partir da
influência do meu grupo, começo a me movimentar muito mais rápido. Esse é o
fator mais importante à nossa disposição. Nossos estudos não nos garantem
nenhum avanço. A essência do que estudamos gera forças ao nosso redor que nos
influenciam a avançar mais rápido que as forças naturais que movem o restante
da humanidade. Essa é a razão por que nos reunimos, por que estudamos e por que
tentamos entender o motivo pelo qual os cabalistas, que já receberam isso, nos
instruem sobre como acelerar nosso desenvolvimento, nossa travessia do segundo
estado ao terceiro.
Portanto, Baal HaSulam diz que todo
sofrimento é sentido apenas na Klipá do nosso corpo (ou seja, nos nossos
desejos ainda não corrigidos), criado
unicamente para morrer e ser enterrado.
Isso significa que devemos enterrar esses desejos com o objetivo
de não utilizá-los. Esses desejos não utilizados pelo homem são considerados
mortos.
Isso indica que o desejo de
receber (o
desejo egoísta de tudo possuir, de nos satisfazer) foi criado apenas para que a forma na qual ele existe, a sua forma
inicial, seja destruída, eliminada e transformada em desejo de doar. O
sofrimento apenas nos é dado para percebermos como o desejo de receber é
insignificante e prejudicial.
Em outras palavras, há um objetivo no sofrimento, uma certa
causalidade, e as pessoas que tentam seguir o caminho correto substituem o
sofrimento corporal (do seu egoísmo não satisfeito) por sofrimentos motivados.
Quando o mundo inteiro concordar
em se libertar e aniquilar o desejo de receber para si mesmo, todos terão
apenas o desejo de doar aos outros. Essa transformação acontecerá sob a influência de um grande
sofrimento, sobre o qual Baal HaSulam escreve no seu artigo “A Última Geração”,
e o qual os profetas antigos previram, apontando a nossa época como o início
desse período.
Quando o mundo inteiro concordar em se libertar e aniquilar seus
desejos egoístas, quando escolher o desejo de doar, isso extinguirá o mal do
mundo e todos terão uma vida plena e saudável, pois cada um terá suas
necessidades supridas e será cuidado pelo mundo todo. Entretanto, quando todos
desejam apenas receber para si mesmos, isso se torna a causa de sofrimentos,
atrocidades e guerras, dos quais não podemos escapar. Esse desejo enfraquece o
corpo com doenças e dor.
Ou seja, em todos os níveis, o sofrimento é determinado pelo nosso
egoísmo comum. Naturalmente, à medida que a humanidade evolui, esse sofrimento
aumentará tanto a ponto de ser tão insuportável que todos desejarão extinguir
seu próprio egoísmo só para deixar de sofrer. Por isso ele é chamado de Caminho
do Sofrimento. Imagine quanto sofrimento cada pessoa, e a humanidade como um
todo, terá que passar para desejar, voluntariamente, se livrar do egoísmo como
fonte do sofrimento. Quanto do seu próprio mal cada um terá que enxergar?
Apenas imagine que futuro horrível nos espera em tal situação.
Por outro lado, ao atrair a Luz Superior para este Mundo, até os
nossos pequenos grupos aliviam o sofrimento das pessoas, mesmo que elas não
considerem a Cabalá como um método para alcançar a felicidade. Nós lhes
fornecemos fatores interiores subconscientes que as ajudam a encontrar
rapidamente as respostas certas às suas questões sobre o sofrimento. Vemos como
um novato chega a um grupo e, sem saber ou compreender o que o grupo está
fazendo, rapidamente se adapta ao que está sendo ensinado.
Aqueles que estudam há muito tempo levaram meses ou anos para
alcançar este nível, enquanto que os novatos assimilam rapidamente. Isso ocorre
porque abrimos o caminho para eles. Da mesma forma, cada geração que estiver
empenhada no trabalho espiritual influencia as gerações seguintes.
Portanto, não devemos pensar nos grandes sofrimentos que nos
aguardam. Ao aumentarmos o número de pessoas que estudam Cabalá, ajudamos o
mundo a alcançar mais rapidamente a Revelação do Mal. Num futuro próximo, a
humanidade compreenderá claramente que o egoísmo é a fonte de todo o mal. Tudo
o que precisaremos fazer é mostrar-lhes que existe um modo de transformar todo
esse mal em bem.
Assim, podemos ver que todo o
sofrimento do nosso mundo existe apenas para abrir os nossos olhos, nos
impulsionar a deixar de lado o egoísmo do nosso corpo e, com isso, receber a
forma perfeita do desejo de doar. O Caminho do Sofrimento é muito eficaz em nos
direcionar para esta condição desejada.
Ou seja, quanto antes a pessoa perceber o motivo do seu
sofrimento, mais cedo seu grupo poderá lhe ajudar e mais rápido ela receberá o
Mundo Superior, a Eternidade, Perfeição e Sabedoria.
Saiba que os mandamentos que se
referem às relações entre as pessoas são mais importantes que aqueles que se
referem à relação do homem com o Criador, pois dar aos outros leva à doação
para o Criador.
Isto é, onde e como posso revelar o mal? O que ele é e qual o seu
objetivo? Posso compreendê-lo mais rapidamente ao trabalhar com meus amigos em
um grupo.
Por isso se diz que as relações entre as pessoas são mais eficazes
em revelar o mal que as relações entre o homem e o Criador. Já que a relação do
homem com o Criador está oculta dele, ele pode imaginá-la das mais variadas
formas, mas nenhum de nós saberá com certeza até que nossos olhos sejam abertos
e possamos ver nossa verdadeira relação com o Criador.
Ao mesmo tempo, as relações entre os membros de um grupo, sejam
elas entre oponentes antagonistas ou entre verdadeiros amigos rumando a um
objetivo comum, com todas as concordâncias e discordâncias entre eles - tudo
isso constitui um ambiente de teste, um laboratório no qual a pessoa pode
rapidamente descobrir a razão para os seus terríveis estados. Ela compreenderá
como fazer as mudanças necessárias através das quais poderá receber o Mundo
Superior.
É exatamente por isso que recebemos este mundo e a nossa vida
entre outras pessoas. Uma grande sociedade é propositadamente criada em torno
de cada um de nós. Por outro lado, cada um de nós tem a oportunidade de criar
uma pequena sociedade na qual possa trabalhar em suas mudanças interiores. Já
temos tudo isso, então precisamos apenas alcançá-las.