terça-feira, 30 de junho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (66)




24. Dessa forma, a essência do corpo é somente o desejo de receber para si mesmo em todas as suas manifestações e em todas as suas aquisições. Tudo o que ele consegue tem o propósito de satisfazer seu desejo depravado de receber e que, por sua vez, foi criado apenas para ser destruído e extinto do mundo (Baal HaSulam refere-se à intenção para si mesmo), para que se alcance o terceiro estado ao Fim da Correção.



Por isso (nossa intenção egoísta) é fatal e claramente imperfeita, pois todas as suas aquisições são insípidas, como uma sombra que não deixa vestígios da sua passagem.



Isso pode ser comparado a nossa própria experiência neste mundo. Já vivemos aqui por algumas décadas, mas onde estão todas essas conquistas e prazeres que tínhamos há pouco tempo atrás? Todos eles desaparecem, e a pessoa fica sem nada no fim da sua vida.



Por que eles não se acumulam em nós? Por que não sentimos uma satisfação maior a cada vez? Por que, sob a perspectiva do nosso estado egoísta, sempre precisamos perder o estado anterior de forma a adquirir uma nova satisfação?



A questão é que essa é a lei das forças impuras chamadas Klipot. Elas não podem receber mais que uma pequena faísca de luz e, portanto, não são capazes de obter a satisfação seguinte antes de terem consumido sua pequena porção anterior.



Essa é a essência da nossa vida: exalar e inalar, esvaziamento e preenchimento. Isso continua da mesma forma, como pequenas vibrações de onda: para cima e para baixo, para cima e para baixo. Além do mais, a nossa vida inteira é feita de tais períodos de contínuo esvaziamento e preenchimento.



Baal HaSulam diz:



Por isso que ele é mortal e claramente imperfeito, já que todas as suas aquisições são insípidas, como uma sombra que não deixa vestígios da sua passagem.



Ao mesmo tempo, a essência da alma é apenas o desejo de doar. Todas as suas manifestações e aquisições são preenchidas pelo desejo que já existe no estado eterno 1 e no futuro estado 3.



O que significa o segundo estado intermediário? Ele é o ponto de partida do qual posso receber meu verdadeiro estado 3. Na verdade, nós já estamos nesse estado. Precisamos apenas senti-lo. Assim, nosso avanço gradual em direção ao terceiro estado e sua lenta manifestação representam os estágios do Caminho pelo qual devemos passar.



Nada novo acontece no mundo. Meus olhos começam a se abrir e, pouco a pouco, eu revelo o Infinito nas minhas sensações. Se a pessoa se afina dessa maneira, acabará por senti-lo.



Tentem se afinar a essa ideia: existimos no mundo do Infinito, do qual percebemos apenas um minúsculo fragmento. Só nos resta descobri-lo. É isso o que Baal HaSulam diz. Assim, o véu se erguerá, junto com todas as suas manifestações, e o Mundo Eterno e Infinito aparecerá.



Mas o que deve desaparecer? Por "véu" quero dizer nosso corpo egoísta, que está destinado a morrer, ser enterrado e desaparecer completamente. O corpo egoísta é a nossa intenção de receber para nós mesmos.



Pelo contrário, a libertação do corpo não corrigido torna a alma mais forte, de forma que ela possa elevar-se até o Paraíso (Gan Eden).



O Paraíso, ou Gan Eden, é a Malchut do Mundo de Atzilut que adquire as propriedades de Biná.



Assim, clarificamos que a eternidade da alma não depende do conhecimento que ela possui, como pensam os filósofos. A eternidade da alma está na sua essência, ou seja, no seu desejo de doar.



A alma é eterna, ela é o desejo de receber criado inicialmente com a intenção pelo Criador.



O conhecimento que a alma obtém é sua recompensa, e não sua representação.



O verdadeiro conhecimento é a Ohr Hochma que preenche as intenções corrigidas.


segunda-feira, 29 de junho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (65)




22. Esses três tipos de desejo predominam em cada homem, mas cada um os combina em diferentes proporções. Todas as diferenças entre as pessoas surgem a partir disso. Falando sobre as propriedades materiais, pode-se traçar uma analogia em relação às propriedades espirituais, de acordo com o seu valor espiritual.



23. Assim, as almas das pessoas que possuem revestimento espiritual na Luz Refletida (Ohr Hozer), que elas recebem dos Mundos Superiores e da qual descendem, recebem apenas o desejo de doar, a intenção pelo Criador. Essa é a essência da alma. Depois de ser revestida em um corpo humano, ela carrega em si as necessidades, pensamentos e o intelecto direcionados à doação, a agradar o Criador conforme o valor do desejo da sua alma.



Baal HaSulam diz que à medida que avançamos e trabalhamos em contato com o Criador, começamos a compreender o Criador e penetrar no Infinito e Perfeição. Recebemos a verdadeira criação, libertando-nos da nossa existência presente e nos elevamos acima do nível da vida e da morte. Entretanto, continuamos a trabalhar com os nossos desejos, utilizando-os com a intenção pelo Criador. Os mesmos desejos permanecem, mas adquirem a direção oposta.



Além disso, com a mudança na direção do desejo, eles certamente recebem uma satisfação diferente.


sexta-feira, 26 de junho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (64)




21. Não seja confundido pelos filósofos que dizem que a essência da alma é uma substância da mente, que ela só existe através dos conceitos que aprende e que dela derivam e, portanto, estes são sua essência. A questão da continuidade da alma depois da morte do corpo depende apenas de quantos conceitos ela adquiriu, até que, na ausência de tais conceitos, nada mais exista para continuar.



A filosofia afirma que a existência do homem depende do conhecimento que ele tem da natureza.



O que esse conhecimento engloba? Ele engloba apenas um entendimento do que existe fora de mim. Primeiro, esse conhecimento é absoluto? Mesmo através de pesquisas, nós entendemos que o mundo que sentimos ao nosso redor não é nada mais que o resultado da nossa percepção subjetiva. Se tivéssemos sentidos diferentes, perceberíamos o mundo de forma totalmente diferente, não como ar, corpos sólidos ou líquidos, ou como os estados gasoso e plasmático da matéria. O mundo teria um grau de densidade completamente diferente, além de outras qualidades perceptíveis.



O modo como o mundo existe ao nosso redor é meramente uma consequência dos nossos estados interiores. Por isso que o postulado filosófico de que a vida do homem depende da sua percepção do mundo externo contradiz essencialmente a opinião da Cabalá.



É também inaceitável pelo coração, e qualquer um que já tenha tentado adquirir certo conhecimento sabe e sente, que a mente em si mesma é uma posse, não o possuidor.



Mesmo assim, como já dissemos, toda a substância da criação recuperada, tanto a substância dos objetos espirituais como a substância dos objetos corporais, nada mais é senão o desejo de receber.



A nossa essência é o desejo de receber. Além disso, qualquer diferença entre uma e outra essência reside nos seus respectivos desejos de receber que geram diferentes necessidades no interior de cada essência, o que, por sua vez, cria certos pensamentos e conhecimentos que bastam para satisfazer suas necessidades. Portanto, os desejos são o verdadeiro centro do que quer que esteja dentro de nós. Nossa mente é criada para satisfazer esses desejos. Nossa essência não é a mente, mas o desejo de receber.



Da mesma forma que os desejos humanos diferem-se uns dos outros, assim também ocorre com suas necessidades, pensamentos e ideias. Por exemplo, naqueles cujo desejo de receber está limitado aos desejos bestiais, todas as suas necessidades, pensamentos e ideias são condicionados à satisfação desses desejos.



As pessoas diferem apenas na combinação de seus desejos. Além disso, não podemos fazer nada em relação às pessoas. Não conseguimos afetá-las de fora para dentro, independente da intensidade da pressão que exercemos sobre elas. De certa forma, devemos encontrar um modo indireto de apressar o seu desenvolvimento e transição do nível animal ao humano e do humano ao espiritual. A menos que os desejos da pessoa mudem, não seremos capazes de lhes dar nada que esteja em desarmonia com seus desejos, pois sua essência é um desejo. O nível atual de desenvolvimento dos seus desejos constitui o seu verdadeiro estado.



Em cada um de nós há cinco níveis de desejo: mineral, vegetal, animal, humano e espiritual. Zero, um, dois, três, quatro e cinco tipos de desejo (ou cinco tipo de Dargot Aviut), cinco tipos de ego. É assim que a pessoa evolui. Entretanto, se a pessoa alcança um nível onde ela passa dos desejos humanos para os desejos espirituais, surge um ponto em seu coração e ela começa a sentir alguma coisa. Esse ponto é o início do desejo espiritual, enquanto o seu fim é a semelhança com o Criador. Esse é o caminho da correção.



Os desejos evoluem naturalmente até o nível espiritual, enquanto que o desenvolvimento do ponto no coração pode seguir tanto o Caminho da Torá quanto o Caminho do Sofrimento. Vivemos em uma sociedade onde cada um tem seus próprios desejos. Como consequência, cada pessoa está em determinado nível de desenvolvimento: mineral, vegetal, animal, humano ou espiritual.



Quando as pessoas chegam a nós, devemos determinar se elas já alcançaram o nível mínimo necessário. Em outras palavras: O ponto no coração já despertou nelas? Se sim, então essa é a minha sociedade, meu grupo. Eu busco tais pessoas a fim de gerar certa força ao meu redor que me auxilia a avançar na direção correta. Algumas pessoas vêm à nós com seus desejos apenas nos níveis mineral, vegetal, animal e humano. Os desejos humanos incluem o desejo por honra, riqueza, fama e conhecimento. Qualquer desejo abaixo deste nível é considerado natural.



Portanto, as pessoas cujo nível de desejo está abaixo do nível do ponto no coração nunca nos compreenderão. Apesar disso, à medida que atraímos a Luz Circundante sobre nós, pouco a pouco também as elevamos. Nos últimos tempos, cada vez mais pessoas vêm à nós com uma maior prontidão interior em seguir o nosso material a um ritmo cada vez mais rápido.



Mas até que os desejos da pessoa mudem, ela não conseguirá compreender nada. Em outras palavras: todos compreendem apenas através do ponto em seus desejos. Aquele que alcançou determinado nível, deseja apenas preencher os desejos deste nível específico. Ele não se interessa nem pelos desejos abaixo do seu nível, pois ele já os superou, nem compreende os desejos que estão acima do seu nível, pois ele os percebe como irreais.



Por exemplo, se pegarmos uma pessoa que mora em uma cidade pequena e lhe contarmos como é bom escrever música, pintar e descobrir os segredos da natureza, se ela não tiver tais desejos, ela simplesmente não nos compreenderá. Da mesma forma, uma pessoa comum não deseja ser milionária. Portanto, cada um de nós age somente a partir do nível de desejo que já está desenvolvido; assim, devemos nos relacionar de forma correspondente. Por isso Baal HaSulam diz que a coisa mais importante não é o conhecimento ou os pensamentos humanos, mas os desejos. A única coisa que podemos fazer pelas pessoas, e por nós mesmos, é estimular uma rápida evolução dos desejos. Isso conduzirá o mundo a um estado perfeito de forma rápida e indolor.



Por exemplo, aqueles cujo desejo de receber está limitado ao prazer do tipo animal, suas necessidades, pensamentos e intenções estão direcionados à satisfação desse desejo na sua forma animal. Mesmo que ele utilize sua razão e conhecimentos humanos para esse objetivo (na verdade, já é hora de eles crescerem), sua mente é como a mente de um animal, já que ele é escravo do seu desejo animal e o serve conforme.



Às vezes, vemos indivíduos influentes e muito autoconfiantes que, aparentemente, sabem pelo que estão vivendo. Entretanto, apesar da sua autoconfiança e compreensão, quais são os seus verdadeiros desejos? Na verdade, eles apenas desejam conseguir algo na vida e se contentar com aquilo.



Por outro lado, aqueles cujo desejo de receber exige um grande número de prazeres humanos como honra e poder (controle) sobre os outros, o que não ocorre aos desejos do tipo animal, suas principais necessidades, pensamentos e conhecimento se dirigem apenas para a satisfação desses desejos tanto quanto possível. De novo, aqueles que têm o desejo de receber geralmente utilizam todas as suas necessidades, pensamentos e conhecimento somente para preencher a totalidade desse desejo.



A mente, os pensamentos e o conhecimento têm como propósito servir aos desejos, satisfazê-los.


quinta-feira, 25 de junho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (63)




20. Com toda investigação que fizemos até agora, podemos então responder à primeira pergunta: “O que é a nossa essência?”, pois esta é a essência de todos os reinos da Criação, que representam nada mais nada menos que o desejo de receber.



Ocorre que somos um “desejo de receber prazer” criado pelo Criador.



Mas não do modo como nos é apresentado no segundo estado (na sua condição não corrigida, oposta à perfeição, e posterior a todos os estágios de descida dos Mundos e Sefirot), sob a forma de um desejo de receber para si mesmo (desejo egoísta), mas sim como se apresenta no primeiro estado, na sua forma eterna no Mundo do Infinito, a de um desejo de doar para agradar o Criador.



Mesmo que na realidade ainda não tenhamos alcançado o terceiro estado (nas nossas sensações) e ainda estejamos dentro dos limites do tempo (isto é, ainda galgando os níveis de correção), isso de forma alguma diminui a nossa essência (a pergunta é “o que é a nossa essência”. Estar em um estado de imperfeição não diminui a nossa essência interior), pois o nosso terceiro estado (futuro) é garantido pela presença do primeiro estado. Aquele que o receberá no futuro é semelhante àquele que já o recebeu (se ele sabe exatamente o que recebeu e está absolutamente confiante em relação ao seu estado futuro).



Se tivermos “fé”, isto é, um desejo de doar não egoísta, então sentiremos previamente o nosso terceiro estado. Ele já estará brilhando sobre nós de longe, mesmo em nossos estados não corrigidos, na medida em que a Ohr Makif (a Luz Circundante) brilhar sobre nós.



Nesse caso, não teremos nenhum problema e não sentiremos nenhuma imperfeição, mesmo no segundo estado, pois receberemos a luminosidade do nosso terceiro estado posterior. É como uma pessoa que, com todas as responsabilidades e tarefas que deve realizar durante o dia, espera ansiosamente pelo fim do dia, quando então receberá algo extraordinário e maravilhoso. Vivemos na antecipação do fim do dia. Confiamos que será algo realmente especial, empolgante e esclarecedor, e o dia inteiro muda completamente. Por quê? Porque isso somente acontecerá ao fim do dia. Assim, antecipamos sobre nós esse estado futuro. Portanto, se pudermos ver uma parcela do nosso próximo estado (o que somente é possível com a Luz Refletida), ele já brilhará sobre nós hoje, e sentiremos como se já estivéssemos nessa Luz.



É muito frequente que quando a pessoa é controlada pelos seus desejos egoístas a antecipação de um estado melhor seja muito mais poderosa do que quando ele é alcançado de fato. Isso ocorre porque a antecipação é causada pela Luz Circundante, não limitada pelos nossos Kelim, desejos. Ela é ilimitada porque recebemos essa Luz de longe e não de dentro dos nossos Kelim, ela vem de fora e nos circunda. Ela é semelhante à Luz do Infinito e, portanto, a antecipação desse estado é sempre muito melhor e excitante que sua sensação real.



Por isso, mesmo agora podemos viver no terceiro estado (ainda que estejamos no segundo) ao receber a sua luminosidade, mas isso só é possível se tivermos Luz Refletida. Baal HaSulam diz que, por mais que não tenhamos alcançado o terceiro estado e ainda estejamos limitados pelas barreiras do tempo, nossa essência de modo algum é diminuída por isso, pois o terceiro estado futuro nos é garantido pelo primeiro estado atual. E aquele que receberá no futuro é semelhante àquele que já o recebeu.



O fator temporal torna-se um problema quando a pessoa tem dúvidas (isto é, quando lhe falta fé) se conseguirá cumprir tudo o que deve cumprir neste período de tempo. Uma vez que a pessoa alcança tal estado quando não tem mais dúvidas, é como se ela já estivesse no terceiro estado.



Então, qual é a nossa tarefa hoje? Qual é a coisa mais importante a fazer? Precisamos imediatamente sentir o Infinito, a Eternidade, o estado de recebimento e onipresença absolutos. Com isso, a vida e a morte do corpo tornam-se irrelevantes. Tudo depende de adquirirmos as qualidades de Biná (fé). Assim que isso ocorre, a Luz do terceiro estado brilha sobre nós.



O corpo mau (nossos desejos não corrigidos) que recebemos no presente não diminui a nossa essência, pois o corpo, com tudo o que adquiriu, desaparecerá junto com a sua fonte - o sistema de Forças Impuras. O corpo que desaparece é semelhante àquele que já desapareceu, como se nunca tivesse existido.



É assim que o Criador se apresenta a partir do nível seguinte, e se nos elevamos acima desse nível e olhamos à nossa frente, então o egoísmo desaparece e o estado perfeito começa a brilhar sobre nós.



Entretanto, a essência da alma vestida no corpo é apenas o desejo de doar, que tem sua raiz no sistema dos quatro mundos puros: Atzilut, Beriá, Yetzirá e Assiyá. Esse desejo é eterno, pois ele é a propriedade da Fonte da Vida. Ele é invariável e, por isso, eterno.



O Criador criou, de cima para baixo, o desejo de receber prazer. Esse desejo de receber é o desejo de senti-Lo. Se o Criador é a Luz, então o desejo de receber é o desejo de sentir essa Luz.



Esse desejo não é bom nem ruim, mas é a essência da Criação. Devido à quebra dos vasos, ele recebeu de Biná a intenção de como utilizar esse desejo: apenas para si mesmo ou pelo Criador. Essa superestrutura aparece acima do desejo. Portanto, existem: o desejo, a Luz ou a Fonte da Luz (o Criador), e as intenções de como utilizar esse desejo. E isso é tudo.


quarta-feira, 24 de junho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (62)




19. Se o Criador é bondoso e deseja apenas o bem, como é possível que, de modo intencional, Ele tenha criado Suas criaturas para sofrerem e penarem durante as suas vidas?



É dito que todo esse sofrimento está pré-determinado no nosso primeiro estado, no qual nossa eternidade perfeita será alcançada a partir do terceiro estado futuro, que nos obriga a seguir o caminho da Torá ou o do Sofrimento para conseguirmos alcançar a eternidade no terceiro estado.



Sobre o que Baal HaSulam está falando?



Digamos que o primeiro estado gerado pelo Criador, o estado do Infinito, é totalmente preenchido pela Luz, e isso é Malchut. No segundo estado, Malchut realiza um Tzimtzum, fica vazia, é gradativamente preenchida pela Luz e faz correções, o que, por fim, a leva ao terceiro estado, quando Malchut volta a ser totalmente preenchida pela Luz.



Esse terceiro estado é equivalente ao primeiro, a única diferença entre eles é que o terceiro estado é alcançado pela própria Malchut. O primeiro estado é criado de uma forma externa pelo Criador, a partir da Luz Circundante chamada Ohr Sovev. O terceiro estado - o mundo do Infinito - é alcançado pela correção da própria Malchut, que absorve todas as propriedades anteriores. Elas tornam-se propriedades de Malchut, que preenche todo o volume do Infinito ao atrair a Luz Externa.



Não é o Criador que governa e preenche o Mundo do Infinito, mas sim Malchut, que preenche esse vazio a partir do interior do seu próprio desejo. Vamos examinar como esses três estados pré-determinam um ao outro.



É possível passar do primeiro estado ao segundo e, depois, do segundo ao terceiro da seguinte maneira: Avançamos do primeiro estado ao segundo a partir da descida dos chamados níveis de descenso (Mundos, Partzufim e Sefirot). Esse processo geralmente é descrito como um desdobramento de cima para baixo, do Mundo do Infinito até o nosso Mundo. A passagem do segundo estado ao terceiro engloba os níveis de ascensão (correção) das Almas. Naturalmente, não existimos entre o primeiro e o segundo estados, pois nesse estágio ainda não há seres criados. O caminho da Criação começa entre o segundo estado e o terceiro.



Há dois Caminhos: “O Caminho da Torá e o Caminho do Sofrimento”. A única diferença está no tempo. Do início ao fim de cada Caminho, preciso passar por um determinado número de níveis. A cada vez, enquanto atravesso de um nível a outro, preciso sentir o mal e a corrupção do meu estado atual, assim como a perfeição que espero alcançar no próximo nível. Posso avaliar a corrupção do meu nível atual e a perfeição do nível futuro tanto sob a influência do meu grupo, livros e Rav, ou sob a influência das dificuldades que enfrentarei. Essas dificuldades agem devagar e tem distanciamento temporal, portanto, prolongam minha passagem pelo Caminho do Sofrimento.



Entretanto, com o auxílio dos livros, do Rav e do meu grupo, posso perceber rapidamente a corrupção da minha condição atual e a perfeição do estado seguinte, o que permite que eu siga em frente por minha própria vontade. Isto é, o Caminho em si não significa apenas escapar de um estado ruim para um melhor por necessidade, mas sim, passar para um estado de recebimento e elevação. O próprio Caminho torna-se uma ascensão, e o tempo em que ficamos em cada estado será literalmente reduzido ao mínimo. Eis a diferença entre o Caminho da Torá (Luz) e o caminho do Sofrimento.



Só com a ajuda de uma fonte externa auto-criada é que se pode avançar ao longo do Caminho da Torá ao invés do Caminho do Sofrimento. Eu mesmo crio o meu grupo; o grupo é o mais importante. Somente através do meu elemento complementar, ao mudar o fator natural de influência sobre mim, a partir da influência do meu grupo, começo a me movimentar muito mais rápido. Esse é o fator mais importante à nossa disposição. Nossos estudos não nos garantem nenhum avanço. A essência do que estudamos gera forças ao nosso redor que nos influenciam a avançar mais rápido que as forças naturais que movem o restante da humanidade. Essa é a razão por que nos reunimos, por que estudamos e por que tentamos entender o motivo pelo qual os cabalistas, que já receberam isso, nos instruem sobre como acelerar nosso desenvolvimento, nossa travessia do segundo estado ao terceiro.



Portanto, Baal HaSulam diz que todo sofrimento é sentido apenas na Klipá do nosso corpo (ou seja, nos nossos desejos ainda não corrigidos), criado unicamente para morrer e ser enterrado.



Isso significa que devemos enterrar esses desejos com o objetivo de não utilizá-los. Esses desejos não utilizados pelo homem são considerados mortos.



Isso indica que o desejo de receber (o desejo egoísta de tudo possuir, de nos satisfazer) foi criado apenas para que a forma na qual ele existe, a sua forma inicial, seja destruída, eliminada e transformada em desejo de doar. O sofrimento apenas nos é dado para percebermos como o desejo de receber é insignificante e prejudicial.



Em outras palavras, há um objetivo no sofrimento, uma certa causalidade, e as pessoas que tentam seguir o caminho correto substituem o sofrimento corporal (do seu egoísmo não satisfeito) por sofrimentos motivados.



Quando o mundo inteiro concordar em se libertar e aniquilar o desejo de receber para si mesmo, todos terão apenas o desejo de doar aos outros. Essa transformação acontecerá sob a influência de um grande sofrimento, sobre o qual Baal HaSulam escreve no seu artigo “A Última Geração”, e o qual os profetas antigos previram, apontando a nossa época como o início desse período.



Quando o mundo inteiro concordar em se libertar e aniquilar seus desejos egoístas, quando escolher o desejo de doar, isso extinguirá o mal do mundo e todos terão uma vida plena e saudável, pois cada um terá suas necessidades supridas e será cuidado pelo mundo todo. Entretanto, quando todos desejam apenas receber para si mesmos, isso se torna a causa de sofrimentos, atrocidades e guerras, dos quais não podemos escapar. Esse desejo enfraquece o corpo com doenças e dor.

Ou seja, em todos os níveis, o sofrimento é determinado pelo nosso egoísmo comum. Naturalmente, à medida que a humanidade evolui, esse sofrimento aumentará tanto a ponto de ser tão insuportável que todos desejarão extinguir seu próprio egoísmo só para deixar de sofrer. Por isso ele é chamado de Caminho do Sofrimento. Imagine quanto sofrimento cada pessoa, e a humanidade como um todo, terá que passar para desejar, voluntariamente, se livrar do egoísmo como fonte do sofrimento. Quanto do seu próprio mal cada um terá que enxergar? Apenas imagine que futuro horrível nos espera em tal situação.



Por outro lado, ao atrair a Luz Superior para este Mundo, até os nossos pequenos grupos aliviam o sofrimento das pessoas, mesmo que elas não considerem a Cabalá como um método para alcançar a felicidade. Nós lhes fornecemos fatores interiores subconscientes que as ajudam a encontrar rapidamente as respostas certas às suas questões sobre o sofrimento. Vemos como um novato chega a um grupo e, sem saber ou compreender o que o grupo está fazendo, rapidamente se adapta ao que está sendo ensinado.



Aqueles que estudam há muito tempo levaram meses ou anos para alcançar este nível, enquanto que os novatos assimilam rapidamente. Isso ocorre porque abrimos o caminho para eles. Da mesma forma, cada geração que estiver empenhada no trabalho espiritual influencia as gerações seguintes.



Portanto, não devemos pensar nos grandes sofrimentos que nos aguardam. Ao aumentarmos o número de pessoas que estudam Cabalá, ajudamos o mundo a alcançar mais rapidamente a Revelação do Mal. Num futuro próximo, a humanidade compreenderá claramente que o egoísmo é a fonte de todo o mal. Tudo o que precisaremos fazer é mostrar-lhes que existe um modo de transformar todo esse mal em bem.



Assim, podemos ver que todo o sofrimento do nosso mundo existe apenas para abrir os nossos olhos, nos impulsionar a deixar de lado o egoísmo do nosso corpo e, com isso, receber a forma perfeita do desejo de doar. O Caminho do Sofrimento é muito eficaz em nos direcionar para esta condição desejada.



Ou seja, quanto antes a pessoa perceber o motivo do seu sofrimento, mais cedo seu grupo poderá lhe ajudar e mais rápido ela receberá o Mundo Superior, a Eternidade, Perfeição e Sabedoria.



Saiba que os mandamentos que se referem às relações entre as pessoas são mais importantes que aqueles que se referem à relação do homem com o Criador, pois dar aos outros leva à doação para o Criador.



Isto é, onde e como posso revelar o mal? O que ele é e qual o seu objetivo? Posso compreendê-lo mais rapidamente ao trabalhar com meus amigos em um grupo.



Por isso se diz que as relações entre as pessoas são mais eficazes em revelar o mal que as relações entre o homem e o Criador. Já que a relação do homem com o Criador está oculta dele, ele pode imaginá-la das mais variadas formas, mas nenhum de nós saberá com certeza até que nossos olhos sejam abertos e possamos ver nossa verdadeira relação com o Criador.



Ao mesmo tempo, as relações entre os membros de um grupo, sejam elas entre oponentes antagonistas ou entre verdadeiros amigos rumando a um objetivo comum, com todas as concordâncias e discordâncias entre eles - tudo isso constitui um ambiente de teste, um laboratório no qual a pessoa pode rapidamente descobrir a razão para os seus terríveis estados. Ela compreenderá como fazer as mudanças necessárias através das quais poderá receber o Mundo Superior.



É exatamente por isso que recebemos este mundo e a nossa vida entre outras pessoas. Uma grande sociedade é propositadamente criada em torno de cada um de nós. Por outro lado, cada um de nós tem a oportunidade de criar uma pequena sociedade na qual possa trabalhar em suas mudanças interiores. Já temos tudo isso, então precisamos apenas alcançá-las.


terça-feira, 23 de junho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (61)




18. Isso resolve nosso quinto questionamento, que é: Como pode que do Eterno (do Criadoro) possam derivar ações transitórias e supérfluas (concretas, discretas e de alcance limitado)?



Como algo transitório, limitado, baixo e falho pode derivar de algo eterno? Não conseguimos compreender totalmente essas questões porque não sentimos a eternidade de forma alguma. Essa é a medida do quão oposta é a nossa condição.



Entretanto, a dificuldade permanece. Somente compreenderemos o que Baal HaSulam está dizendo quando a eternidade começar a brilhar sobre nós, vinda de Cima. Isso acontecerá pouco a pouco, na medida em que recebermos a Luz Circundante que cria o universo completo e perfeito ao nosso redor, e que gera essa imagem em nosso olho mental. Só então começaremos a compreender essa contradição: como a impecável eternidade e perfeição, isenta de qualquer traço limitador, contraste, ou oposição, e na qual todos os pontos são perfeitos, eternos e contínuos, pode vir de uma fonte onde ações e estados são efêmeros, passageiros e baixos.



Compreendemos que, de fato, estamos em um estado merecedor da Sua Eternidade, ou seja, que mesmo agora somos seres eternos e perfeitos.



A única coisa que nos impede de sentir a eternidade é a casca que nos encobre, que é a nossa intenção egoísta impura. Somos como um campo magnético que reflete tudo o que projetamos para fora. Quando pararmos de fluir para dentro e conseguirmos inverter a corrente para fora, no mesmo instante sentiremos a eternidade e a perfeição na qual de fato estamos. Precisamos apenas neutralizar a casca.



Nossa eternidade precisa que a casca egoísta do corpo nos seja dada apenas para um trabalho transitório e supérfluo (a fim de transformá-lo em altruísmo e expandi-lo de um ponto a um círculo, ou seja, ao nível do Criador), pois se ele tivesse permanecido eterno, nós continuaríamos separados da Árvore das Vidas por toda a eternidade.



Como foi dito no item 13, a forma do nosso corpo, que é o desejo de receber só para si mesmo (com a intenção do nosso próprio prazer), não se encontra presente no Pensamento da Criação, pois lá somos formados no terceiro estado (como ponto de partida), mas que (para nós) só aparece no segundo estado (para que possamos adquiri-lo por nós mesmos no terceiro estado).



Isso não deve ser considerado um paradoxo ou algo antinatural. Estamos, de fato, no terceiro estado, existimos no segundo apenas nas nossas sensações subjetivas para que as corrijamos e que correspondam à verdadeira realidade.



Não devemos ponderar (não há questionamento) sobre o estado dos outros seres do mundo (eles não nos afetam), já que o homem é o centro da Criação.



Achamos que o homem não pode ser o centro da Criação, pois estamos perdidos, mesmo nesse planeta. Vivemos em uma fina camada do planeta, ajustada a um vulcão oscilante, fumegante e em erupção. Estamos em um Universo gigantesco, dependendo de uma pequena estrela chamada "Sol".



Se nos compararmos no que diz respeito à natureza dos minerais ou vegetais, tão abundantes, sem dúvida parecerá que somos uma pequena minoria insignificante. O mesmo pode ser dito em relação à natureza animal, que é milhares de vezes mais numerosa.



Se existimos nesse planeta como animais, totalmente desconectados e afastados do Mundo Superior e sem aceitar sobre nós o propósito da Criação, naturalmente nos tornamos minúsculas frações no espaço e neste mundo. Mas se passamos a adquirir os atributos do Mundo Superior, nos tornamos senhores do universo. Durante o processo de ascensão ao Mundo Superior, começamos a absorvê-lo em nós mesmos até o ponto do Infinito.



Ocorre que sem a conexão com o Mundo Superior realmente somos insignificantes. E, na verdade, essa é a nossa força. Na medida em que adquirimos essas Forças Superiores, que são a Luz que controla, cria, sustenta e a tudo preenche, e na medida em que nos apropriamos dessa Luz, nos elevaremos a um nível mais alto que toda a natureza.



Não devemos ponderar sobre o estado dos outros seres do mundo, já que o homem (aquele que recebe o Mundo Superior) é o centro da Criação.



Todas as outras criações (mineral, vegetal e animal) não têm valor em si mesmas, mas sim no quanto elas podem direcionar a humanidade à sua completude. Todas elas dependem de nós, do quanto somos capazes de atraí-las para nós com o objetivo da nossa ascensão.



Ao iniciar a ascensão espiritual, a pessoa descobre uma incrível interdependência em que cada traço interior seu não é, de fato, seu, mas sim o reflexo de uma natureza externa. Minha natureza animal contém toda a natureza que está ao meu redor. Meu degrau vegetal é mais interno, ou seja, é um reflexo mais elevado de toda a natureza vegetal. Meus desejos minerais são um reflexo mais elevado de todo o Universo, de toda a natureza mineral.



Uma vez descoberta tal interdependência, eu passo a utilizar a natureza através da percepção que tenho dela e, por consequência, compreendo sua linguagem e sensações. Essa é a razão por que dizem que os cabalistas compreendem a linguagem dos pássaros e animais, e sentem e compreendem tudo à sua volta.



Depois, enquanto subimos aos Mundos Superiores, descobrimos dentro de nós toda a natureza que nos circunda nas nossas novas qualidades. E nossos vasos internos, nossa percepção do mundo ao redor, se tornam incompletos. Como resultado, somos separados e desligados do nosso entorno.



A ausência da tela, que produz a segunda restrição, cria uma divisão entre os mundos interiores e os mundos exteriores. As partes do Partzuf foram criadas partindo da mais interna até a mais externa.



Assim que a tela geral e definitiva é criada, tudo se junta em uma estrutura de Dez Sefirot, e todo o nosso mundo estará contido em todos e cada um de nós. Então, nos uniremos em uma alma única, nos tornando Adão, o único Adão (Adam HaRishon), que abrange tudo dentro de si.



Portanto, não precisamos perguntar sobre o restante da natureza, pois ela depende unicamente de nós mesmos. Assim, descobrimos o quão mal a influenciamos. À medida que nos corrigirmos espiritualmente, descobriremos mudanças positivas incríveis na natureza ao nosso redor. Não precisaremos de qualquer engenharia genética para sermos capazes de nos sustentar. A natureza, por si mesma, criará em nós tudo o que precisarmos.



Mas continuemos a estudar "A Introdução ao Livro do Zohar", do qual já examinamos atentamente os três primeiros pontos. Aqui, Baal HaSulam aborda a quarta questão.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (60)




17. Com tudo isso, compreendemos o terceiro questionamento: Quando examinamos a nós mesmos, descobrimos que somos tão corruptos e baixos quanto achávamos que éramos…



Não há razão para explicar a cada um o que se é. O significado de não conhecermos totalmente o nosso self é que ainda precisamos passar por um período de Revelação do Mal (do nosso mal). Então veremos que todos os nossos desejos e intenções dedicam-se apenas ao nosso próprio benefício, que somos capazes de desistir de tudo para satisfazer até o desejo mais inconsequente sem nos importar com o que acontece ao nosso redor. Esse é o sentido da baixeza, da oposição ao Criador.



Quando examinamos a nós mesmos, descobrimos que somos tão corruptos e desprezíveis quanto achávamos que éramos. Entretanto, quando observamos o Criador, devemos ser semelhantes a Ele como se nos tornássemos o Criador que nos criou, já que não há nada mais elevado que Ele. Isso ocorre porque a natureza Daquele Que É Perfeito é realizar atos perfeitos.



Como o imperfeito poderia criar algo perfeito? Ou, o contrário: Como o imperfeito pode ser emanado do que é Perfeito? Isso é impossível, pois o Criador é perfeito, mas Ele criou algo imperfeito, o que significa que essa imperfeição já existia Nele.



Agora podemos compreender que o nosso corpo com todos os seus desejos egoístas insignificantes não é o nosso corpo verdadeiro (mas sim o que recebemos das forças impuras). Nosso corpo verdadeiro, eterno e perfeito (corrigido) já existe no terceiro estado.



Os pensamentos e desejos impuros que recebemos da linha esquerda (chamado de “corpo impuro”), nos são dados com a única finalidade de serem corrigidos. Enquanto evoluímos por meio dos nossos desejos corrigidos, como se fossem degraus de uma escada, nós avançamos ao terceiro estado. É lá que recebemos nossa forma completa, a da recepção a fim de doar. Todos os 620 desejos impuros que recebemos devem ser transformados em um corpo puro e perfeito.



Assim, o primeiro estado (no qual Malchut é apenas um ponto) necessita que recebamos uma casca impura e repulsiva (a Klipá, o Desejo de Receber), a do desejo egoísta. O segundo estado nos separa do Criador (nós não o sentimos, pois esse estado encobre todos os nossos sentimentos) de forma que possamos corrigir o desejo egoísta a fim de recebermos nosso corpo eterno no terceiro estado. Não é preciso lutar furiosamente contra ele (contra esse corpo repulsivo), pois o nosso trabalho não pode ser feito senão em um corpo tão transitório e descartável quanto o nosso (nesses desejos egoístas abomináveis)...



Precisamos de algo com o qual trabalhar. A menos que tenhamos tais desejos, o que mais teríamos para corrigir? Devemos compreender um pouco as ações do Criador. Por que precisamos dessa metamorfose? Por que precisamos passar por todas essas fases de correções? Não poderíamos ter sido poupados dessa correção forçada? De fato poderíamos, mas então permaneceríamos como um ponto, um mero feto dentro do Criador.



Quando examinamos os 620 desejos, que são opostos ao Criador, os corrigimos e os tornamos semelhantes a Ele, então nos tornamos iguais ao Criador. Isso ocorre porque Ele criou esses 620 desejos pelo Seu Próprio desejo de doar. Quando os corrigimos, nos tornamos semelhantes a Sua doação e adquirimos as propriedades necessárias: intenção, poder e sabedoria. Compreendemos o que ocorre dentro do Criador Ele Mesmo e nos tornamos iguais a Ele.



Portanto, é impossível receber esses 620 desejos já corrigidos. Se este fosse o caso, não seríamos capazes de aceitá-los em nós mesmos sem transformá-los de negativos a positivos até que se tornassem semelhantes ao Criador.



Dessa forma, já estamos em um estado perfeito, correspondente ao Criador Perfeito que nos criou no segundo estado (não importa que esse segundo estado seja baixo, pois não somos isso). Já que o nosso corpo morrerá, e já que ele está aqui somente pelo tempo que for necessário para alcançar a sua forma eterna, ele não pode nos causar danos.



O Criador nos deu um corpo baixo, repulsivo e egoísta ao nos lançar na negatividade infinitesimal. Ele o fez para que tivéssemos um meio de evoluir. Por esse motivo, essas propriedades foram criadas artificialmente. Na verdade, elas são um reflexo invertido das Suas qualidades, o que nos permite deixá-las semelhantes ao Criador.



Se as invertemos de egoístas para altruístas, as intenções passadas definham, morrem e desaparecem, abrindo espaço para que intenções altruístas surjam no seu lugar. Portanto, esse corpo está aqui somente pelo tempo necessário da sua anulação e recepção da sua forma Eterna.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (59)




16. Mas o que está dito acima não deve nos fazer concluir que não temos livre arbítrio por sermos compelidos à chegar ao terceiro estado, pois ele tem sua raiz no primeiro.



Parece-nos lógico que se o primeiro, o segundo e o terceiro estado existem, podemos questionar “Onde está nosso livre arbítrio?”, ou “Somos apenas marionetes 'vagando' do primeiro estado ao terceiro sem nem questionar sobre isso?” Não! Nós temos livre arbítrio. Mas então como ele se manifesta?



A questão é que o Criador preparou para nós dois caminhos no segundo estado.



Isso significa que há dois caminhos pelos quais proceder a partir do primeiro estado para chegar ao segundo: um curto e um longo.



1.    O Caminho da Torá e Mandamentos



Um Mandamento (Mitzva) é um ato cuja intenção é corrigir um desejo. Quando corrigimos determinado desejo egoísta, o ato próprio de correção é a Mitzva. Em outras palavras, o ato de correção é o que o Criador comandou: Corrigir o uso egoísta de um desejo para altruísta.



A Luz faz isso. A Luz é a “Torá” (da palavra hebraica “Ohr” - Luz). Há muitos tipos de Luzes, tais como a Luz Chassadim (Misericórdia), a Luz Hochmá (Sabedoria), a Luz AB SAG, a Luz que desce, a que sobe, a Luz Circundante e a Luz NaRaNHaY. Entretanto, a Torá é a Luz Geral que desce de Cima.



Aprendemos que a correção é realizada pelo Caminho da Torá e Mitzvot (ações influenciadas pela Luz). Esse caminho é chamado de Caminho da Torá ou Caminho da Luz.



2.  O Caminho do Sofrimento



O sofrimento refina o corpo e, por fim, nos compele a transformar nosso desejo de receber (egoísta) em desejo de doar e de fundir-se com o Criador. Nossos sábios disseram: “Se te arrependes (ou seja, se segues o Caminho da Torá), então tudo bem, mas se não, colocarei sobre ti um rei terrível, e ele te fará arrepender-te” (aludindo ao Faraó).



Em outras palavras, sofrimentos terríveis nos levarão a compreender, apesar de tudo, que só progredimos espiritualmente. A mera evolução da tecnologia, ética ou qualquer outro campo acabará por nos degradar cada vez mais a cada geração.



Está escrito: “Por bem ou por mal. Se tiveres mérito, te apressarei (te levarei ao terceiro estado), caso contrário, o farás pela dor e sofrimentos”. Isso significa que ao observar a Torá e os Mandamentos, apressamos a nossa correção e, assim, não precisamos que uma agonia extrema e um tempo prolongado nos levem à correção (com a ajuda da Luz, através da Torá e dos Mandamentos). Se não for pelo Caminho da Torá e dos Mandamentos, nossa correção se completará de qualquer modo pelo Caminho do Sofrimento, que será lançado sobre nós. O Caminho do Sofrimento inclui as punições das almas no Inferno.



O que é, de fato, o “Inferno”? Em uma palavra, o Inferno é o sentimento de absoluta baixeza, insignificância e pequenez dos atributos egoístas em comparação com a Luz Superior e a Perfeição. É a diferença entre o Altíssimo e eu. Esse é o contraste entre as sensações egoístas e as sublimes sensações altruístas. O Inferno é um abismo infinito e terrível que é sentido entre esses dois estados.



De qualquer forma, o Fim da Correção (isto é, o terceiro estado) é uma obrigação a todos nós e é determinado pelo primeiro estado. Nossa escolha recai somente entre o Caminho do Sofrimento e o Caminho da Torá e dos Mandamentos.



Assim, clarificamos como os três estados das almas estão conectados um ao outro e necessitam da existência um do outro.



Não é totalmente correto dizer que existem apenas dois caminhos, a saber, o Caminho da Torá e o Caminho do Sofrimento. Na verdade, é impossível ser corrigido pelo caminho do sofrimento. Somente a Luz corrige. Aprendemos isso nas quatro fases da Luz Direta: A Luz gera o desejo de receber, isto é, Behina Aleph, e então ela desperta o desejo de doar em Behina Aleph, o que produz o Behina Bet. Depois disso, a Luz continua a agir no desejo de doar do Behina Bet e cria o Behina Gimel, depois o Behina Dalet e assim por diante.



A Luz afeta as Reshimot em todos os Mundos. Ela eleva e rebaixa, corrige e evolui. Portanto, é impossível ser corrigido pelo sofrimento. A única coisa que se pode alcançar pela dor é a percepção da necessidade de correção. Tanto podemos sofrer quanto despertar rapidamente (antes que desgraças piores recaiam sobre nós) e, através dos estudos e de um grupo, nos expor à influência da Luz Circundante.



Devemos recuperar nossa visão antes de penetrar a verdadeira angústia, pois, no fim, ainda teremos que voltar ao ponto de partida. Podemos tanto ser inteligentes e fazer o que devemos fazer quanto esperar até que os sofrimentos nos levem a fazer o mesmo. Não há outra saída. Portanto, nosso livre arbítrio reside em estarmos atentos e aproveitar as oportunidades que nos são dadas.



Essa é a nossa única escolha. Precisamos perceber rapidamente o que devemos fazer e, nesse caso, nosso trajeto será tranquilo, confortável e calmo. Nós saberemos e ansiaremos a tudo o que nos aguarda. Assim, e de forma constante, cada vez mais receberemos coisas boas, teremos sentimentos agradáveis, e atrairemos a Luz Circundante sobre nós.



Em geral, nos enganamos na interpretação do conceito de livre arbítrio. O percebemos como a habilidade de fazer as coisas livremente. Contudo, nada é livre! Recebemos um desejo com o qual trabalhar, e podemos fazê-lo tanto da forma correta quanto da errada.



Meus desejos são pré-instalados em mim e posso utilizá-los da mesma forma como se encontram: corrompidos. Isso significa que eu não os inspeciono visando o Propósito da Criação sem, antes, verificar o que eu devo fazer com eles, o que o Criador quer de mim. Essa condição é chamada de “Viver neste mundo”. Em outras palavras: Eu escolho um caminho lento e doloroso.



Entretanto, existe outro caminho. Eu posso examinar meus desejos, compará-los com o futuro, com meu estado corrigido, saber que forma eles devem assumir e, dessa forma, tentar atrair a Luz Circundante. Essa Luz corrigirá e igualará meus desejos ao Criador para que eu possa senti-Lo.



Essa é a diferença entre uma existência sem sentido nos desejos deste mundo, abaixo da Machsom, e uma existência em contato com o Mundo Superior, desejando-o e igualando meus desejos com os do Mundo Superior. Essa é a manifestação do nosso livre arbítrio.




Shamati (127)

    127. A diferença entre o núcleo central, a essência e a abundância agregada ( Su cot Inter 4, Tav - Shin - Guimel , 30 de setembro d...