A Kabbalah é um culto
A palavra culto, segundo o American Heritage
Dictionary, provem do Latim cultus, que significa “adoração” e
deriva do particípio passado de colere, “cultivar”. Sem dúvida, em
nossos tempos, o termo culto adquiriu uma conotação negativa que, ainda
de acordo com esse dicionário, significa uma “religião ou seita religiosa que
em geral se considera extremista ou falsa, na qual seus seguidores vivem de
maneira não convencional sob a liderança de um guia autoritário e carismático”.
É possível que existam muitos grupos espirituais no mundo que
pratiquem várias cerimônias aparentemente relacionadas com a Kabbalah. No
entanto, esses grupos não estão relacionados com esta. A Kabbalah não inclui
cerimônias nem rituais, tampouco contem o elemento de adoração presente no
significado latino da palavra culto. Logo, a Kabbalah não é um culto,
mas um modo de compreender nossa natureza humana e espiritual.
Observe que, na busca por satisfação espiritual, algumas pessoas
selecionaram alguns elementos da Kabbalah e os incorporaram ao seu sistema de
crenças. Uma pessoa pode acreditar que se acerca da verdade, ou da Fonte, ou da
Eternidade, mas tudo isso não passa de uma ilusão sob o ponto de vista da
Kabbalah. Esses sistemas de crenças tendem a basear-se na direção de um
indivíduo ou de um grupo muito fechado.
Na verdade, todas as religiões baseiam-se num certo profeta,
uma pessoa que se conectou com a espiritualidade e fez circular seus
conhecimentos entre a população. Todas, tanto o judaísmo como qualquer outra
religião, começaram com uma pessoa que revelou a sublime verdade. O Criador
apareceu diante desse profeta, o fundador. Os livros cabalísticos, por outro
lado, descrevem o que sente uma pessoa que experimenta este mundo e o mundo
superior simultaneamente. O autor descreve as suas experiências num mundo que
os outros não sentem, e, assim, abre esse mundo para que os demais possam
sentir por si mesmos.
Esta é a razão porque um mestre cabalista não vincula os
estudantes a si mesmo. Em lugar disso, ele mostra o livro, o grupo e lhes diz
que estudem. Tu descobrirás o Criador no teu Interior. Na Kabbalah, um profeta
não é uma pessoa, mas um nível que existe dentro de cada um de nós. Tudo o que
o mestre faz é ajudar-nos a encontrar esse profeta em nosso interior.
A Kabbalah entende que nós somos seres humanos, com todas as
fragilidades e fortalezas que isso sugere. Contudo, ela também nos recorda que
temos a capacidade de transcender a realidade cotidiana para entrarmos em
contato com a nossa natureza espiritual. Noutras palavras, ajuda-nos a
aproveitar ao máximo a nossa humanidade para benefício de todos.
Portanto, a Sabedoria da Kabbalah é um método para alcançar o
Criador que está disponível a todos. Em grande medida, é como um “programa de
computador aberto”, sem reservas de direitos autorais, próprio do mundo
moderno, e que está disponível para que todos o utilizem e o modifiquem de
acordo com suas próprias necessidades. A Kabbalah permite a qualquer pessoa a
aceder por si mesma, sem mediador algum, a um contato espiritual com o Criador.
Nos Livros cabalísticos, as pessoas que alcançaram a
percepção espiritual descrevem o processo que seguiram, passo a passo, de tal
modo que os leitores possam segui-los e lograr esses objetivos por si mesmos.
De fato, existe uma força especial nos livros cabalísticos: qualquer pessoa que
os estude sob a direção de um mestre adequado pode alcançar o mesmo grau
espiritual que alcançou o autor do livro. Tua conexão espiritual com o Criador
baseia-se em teus próprios descobrimentos a respeito Dele, e não na liderança
carismática de quem encabeça um culto qualquer.
No caminho: Eis aqui uma boa pergunta para fazeres a ti mesmo. O que
pensarias de uma pessoa que se aproximasse de ti e te dissesse: “Não podes
usar, encontrar, comunicar-te de forma alguma com o Criador. O Criador é uma
marca registrada e eu tenho todos os direitos dessa marca”.