sexta-feira, 29 de maio de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (51)




8. Com isso, chegamos à compreensão do terceiro questionamento. Nós nos perguntamos como é possível que as almas sejam uma parte do Criador, como uma pedra retirada de uma rocha. Não há diferença entre eles exceto que um é uma "parte", e outro é o "todo". Isso parece estranho: uma coisa é dizer que a pedra retirada da rocha é separada dela por um machado criado para este fim, mas pode-se dizer o mesmo sobre a Essência do Criador? Além disso, com o quê as almas foram separadas da Sua Essência e subtraídas do Criador a fim de se tornarem criaturas? Com o que foi dito acima, compreendemos claramente que, assim como um machado corta e divide em dois um objeto físico, também a mudança espiritual de forma divide a Essência em dois.



Se uma determinada propriedade minha começa a mudar em relação às outras propriedades, esse atributo modificado passa a afastar-se do seu original instantaneamente (na exata medida da inconsistência entre eles) e pode, inclusive, tornar-se oposto a ele. É dessa forma que as almas são separadas do Criador.



Ou seja, originalmente, o Criador criou um desejo e o preencheu Consigo Mesmo, ao que ele começou a afastar-se cada vez mais do Criador, até tornar-se completamente oposto a Ele.



Por exemplo, quando duas pessoas se amam, dizemos que elas se unem como um só corpo. Quando duas pessoas se odeiam, dizemos que elas se encontram tão distantes uma da outra como o Leste do Oeste. Entretanto, nesse caso, a questão não se refere à distância espacial.



Definimos as pessoas em nosso mundo como estando perto ou longe umas das outras pela proximidade dos seus corpos físicos. Por outro lado, podemos falar sobre afinidade ou estranhamento entre as almas.



Aqui, a questão se refere à equivalência de propriedades, quando cada qual ama o que a outra ama e odeia o que a outra odeia (isto é, se elas relacionam-se com todas as suas qualidades da mesma forma), elas tornam-se amantes (semelhantes em suas propriedades) e unem-se uma com a outra. Se existe a mesma mudança de forma entre elas, significando que uma ama aquilo que a outra odeia, então, na mesma medida em que diferem em forma, elas tornam-se distantes e odeiam-se mutuamente. E se elas forem, por exemplo, opostas em forma, isto é, tudo o que é adorado por uma é odiado pela outra, e tudo o que esta adora é odiado por aquela, diz-se que elas encontram-se tão distantes entre si como o Leste do Oeste, ou seja, de uma ponta a outra.



Não há uma única propriedade comum que as conectaria. Nenhum contato é possível a menos que essas propriedades coincidam minimamente. Às vezes, as pessoas brigam, e depois fazem as pazes. Dessa forma, elas testam o contato entre elas e compartilham várias propriedades, tanto semelhantes como diferentes.



Se elas forem opostas, não existe a menor possibilidade de contato. Assim é o nosso contraste inicial em relação ao Criador.



A Revelação do Criador dentro de nós é o objetivo dos nossos estudos.


quinta-feira, 28 de maio de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (50)




7. Uma vez aprendido isso, conseguimos compreender o segundo questionamento na sua totalidade, e com total clareza. Pois aprendemos o que é a realidade em que podemos basear decisões claras, a qual não é parte da Sua Essência, mas constitui uma nova Criação. Agora que sabemos com certeza que o Pensamento da Criação é doar às Suas criaturas, Ele inevitavelmente criou uma escala para o desejo de receber a abundância e o prazer que Ele havia planejado doar a elas. Assim, podemos ver que o desejo de receber certamente não era parte da Sua Essência antes de Ter Criado as almas, pois Ele não pode receber de ninguém. Ele criou algo novo, ausente Nele.



Paralelo a isso, nós compreendemos, de acordo com o Pensamento da Criação, que não foi necessário criar nada mais que o desejo de receber. Para essa nova criação, basta Ele preencher todo o Plano - doar prazer a alguém (caso esse alguém exista como um desejo de receber prazer). Já que o desejo do Criador é doar prazer, Ele necessita de um desejo de receber prazer. Ocorre que nós representamos esse desejo.

Entretanto, qualquer preenchimento do Pensamento da Criação, isto é, todos os benefícios que Ele planejou nos dar, derivam diretamente da Sua Essência. Eles são emanados do seu Primeiríssimo Pensamento - criar seres e doar prazer a eles.



Ele não precisa recriá-los, uma vez que eles já foram extraídos do enorme desejo de receber contido nas almas. Assim, vemos claramente que toda a questão da nova criação, do princípio ao fim, é somente o “desejo de receber”.



Isso é tudo o que podemos imaginar, exceto o prazer percebido, isto é, o Criador Ele Mesmo. Consequentemente, todas as coisas ou qualquer um sobre o qual viermos a falar, em qualquer nível de desenvolvimento (mineral, vegetal, animal e humano), sejam campos, corpos, emanações, espíritos ou qualquer coisa que exista em nosso mundo e em todos os outros (desde pequeninos insetos a gigantescas galáxias), seja informação, força, plasma ou qualquer outra forma de criação - tudo isso foi criado e constitui nada mais que um desejo de receber prazer.



Não há nada igual no Criador; Ele criou tudo a partir do nada, Ele sustenta e preenche tudo. Nossa vida não é nada além de um preenchimento microscópico do Criador. Somos preenchidos por um bilionésimo da Luz do Criador e a chamamos de nossa vida.



Se O percebemos mais claramente, então estamos sentindo-O e não Sua Emanação. Dessa forma, nos definimos como estando no Mundo Espiritual. Ou seja, tudo o que ocorre em nós é resultado da nossa impressão do Criador. Não devemos nos esquecer disso, pois nossa vida, pensamentos e tudo o que há de bom ou ruim em nossa mente e coração nada mais são que a impressão do Criador.



Portanto, se desejamos mudar o nosso estado, precisamos mudar somente a nossa conexão com Ele, alcançar outro nível de contato com Ele.


quarta-feira, 27 de maio de 2020

Shamati (19)








Que significa “O Criador aborrece os corpos”, no trabalho?



(Escutei em 1943, em Jerusalém)



O Sagrado Zohar declara que o Criador aborrece os corpos. Devemos interpretar que isto é o desejo de receber, que é chamado Guf (corpo). O Criador criou o Seu mundo em Sua glória, segundo está escrito: “Todo aquele que é chamado por Meu nome a quem Eu criei para a Minha glória, Eu que o formei, Eu que o fiz”.



Portanto, isto se opõe ao argumento que é sustentado pelo corpo e que diz que tudo é para ele, para o seu próprio benefício, enquanto que o Criador disse o contrário: Que tudo deve ser para o benefício Dele. Por isso, explicaram nossos sábios que o Criador disse: “Ele e Eu não podemos habitar a mesma morada”.



Então, resulta que o principal agente separador que nos impede de estarmos aderidos ao Criador é o desejo de receber. Isto se torna palpável quando o mal vem, ou seja, quando vem o desejo de receber e questiona deste modo: Por que desejas trabalhar em benefício do Criador? Nós entendemos que ele fala como fazem os humanos, e que deseja entender com o intelecto. No entanto, isto não é certo, já que não se pergunta para quem está trabalhando. Este é, certamente, um argumento racional que se desperta em quem faz uso do intelecto.



Ao contrário, o argumento dos malvados é um questionamento físico, pois pergunta o seguinte: O que buscas com este trabalho? Em outras palavras, que proveito obterás em troca do esforço que estás realizando? Com isto quer dizer: Se não estás trabalhando para ti mesmo, que ganhará de tudo isso o corpo, chamado de “o desejo de receber para si mesmo”?



Dado que se trata de um argumento corporal (físico), a única resposta válida também deve ser corporal: “Desgastou seus dentes, e por não haver estado ali, não havia sido redimido”. Por quê? Porque o desejo de receber para si próprio não obtém redenção, nem sequer no tempo da redenção. Isto se deve a que esta chegará quando todas os recebimentos penetrem nos Kelim (vasos) de outorgamento, e não nos Kelim de recepção.



O desejo de receber para si mesmo deve permanecer sempre carente, já que o fato de preencher o desejo de receber representa a verdadeira morte. A razão disto é que a criação principalmente é para a Sua glória, e isto é uma resposta ao que está escrito: Que o Seu desejo é de fazer o bem às Suas criaturas, e não a Si mesmo.



A interpretação disto é que a essência da Criação é revelar a todos que o seu propósito é fazer o bem às Suas criaturas. Concretamente, quando a pessoa declara haver nascido para honrar o Criador. Neste momento, nesses vasos se manifesta o propósito da Criação: Fazer o bem às Suas criaturas.



Em razão disto, a pessoa simplesmente deve examinar a si própria e analisar o propósito do seu trabalho, ou seja, se o Criador recebe satisfação de cada ação que ela executa, porque deseja alcançar a equivalência de forma. A isto se chama: “Todas as tuas ações serão para o Criador”. E quer dizer que a pessoa deseja que o Criador desfrute qualquer coisa que a pessoa faça, tal como está escrito: “Para deleitar ao seu Criador”.



Ademais, a pessoa necessita conduzir-se com o desejo de receber, e dizer-lhe: “Já decidi que não quero receber mais prazer porque tu desejas desfrutar. Isso porque é pelo teu desejo que me vejo forçado a separar-me do Criador, já que a disparidade de forma provoca separação e distanciamento Dele.”

Devido a que a pessoa não pode liberar-se da dominação do desejo de receber, sua esperança deve estar centrada em poder experimentar estados de ascensos e descensos de maneira permanente. Deste modo, a pessoa aguarda pelo Criador para pedir que Ele lhe abra os olhos e que possa ter a força de sobrepor-se e trabalhar somente para o benefício Dele. Isto é o que está escrito: “Uma coisa eu tenho pedido ao Senhor, e esta buscarei”. Quando disse “esta” se refere à Sagrada Shekiná (Divindade). E a pessoa pede (Salmos 27:4): “Que eu habite na casa do Senhor todos os dias de minha vida”.



A casa do Senhor é a Sagrada Shekiná. E agora podemos compreender o que nossos sábios disseram sobre o versículo “E tomareis o primeiro dia”; isto é, o primeiro na contagem das iniquidades. Devemos entender por que existe regozijo se há lugar para uma contagem de iniquidades. Tem-se dito que devemos saber que existe uma questão de importância no trabalho, quando há um contato entre o indivíduo e o Criador.



Isto quer dizer que a pessoa sente que necessita do Criador, posto que no estado de trabalho vê que não há ninguém no mundo que possa salvá-lo do estado em que se encontra, a não ser e somente o Criador. Então vê que: “Não existe ninguém além Dele” que possa salvá-la do estado em que se encontra e do qual não pode escapar.



A isto se chama ter um contato estreito com o Criador. E a pessoa não sabe apreciar este contato, ou seja, deve crer que se encontra em adesão com Ele quando todos os seus pensamentos estiverem concentrados no Criador, e que então Ele a ajudará. Do contrário, a pessoa sentirá que está perdida.



Sem embargo, quem obtém a Providência particular e vê que é o Criador que faz tudo, segundo está escrito na frase “Somente Ele é quem realiza e realizará tudo”, como é natural, não tem nada em que aderir, e em todo caso, não lhe sobra espaço para elevar uma oração pedindo ajuda ao Criador. Isto é assim porque descobre que, ainda que sem sua oração, o Criador de qualquer maneira faz tudo.



Não obstante, alguém agraciado com a Providência particular vê que é o Criador quem faz tudo, como está escrito: “Ele, e somente Ele, faz e fará todas as ações”, e obviamente não tem nada que aderir. E, em qualquer caso, não vê que havia lugar para pedir pela ajuda do Criador. Isto ocorre assim porque a pessoa vê que, ainda que sem a sua oração, é o Criador que faz tudo.



Portanto, neste momento a pessoa não encontra um espaço que lhe permita realizar boas ações, já que descobre que tudo é realizado pelo Criador, sem a sua participação. Assim, neste estado a pessoa não necessita do Criador para que o ajude em nada. Por conseguinte, neste momento a pessoa não tem contato com Ele, não sente necessidade Dele como para ver-se perdida se não recebe Sua ajuda.



Então resulta que não possui o contato que tinha com Ele durante o trabalho e esforço. Diz-se que isso é comparável a uma pessoa que se encontra entre a vida e a morte, e que pede a seu amigo que lhe salve. De que forma pede ao seu amigo? Trata de pedir-lhe que seu amigo se apiede dela e lhe salve da morte com todos os meios que estiverem ao seu alcance. E, seguramente, nunca esquece de implorar a seu amigo, pois do contrário, vê que perderá sua vida.



No entanto, quando alguém pede a seu amigo coisas luxuosas que não são necessárias, significa que o pedido não está tanto na adesão – para que seu amigo lhe dê o que pede – até o ponto em que sua mente não se desvie do pedido. Vemos, assim, que com aquelas coisas que não são de vida ou morte o solicitante não se encontra tão aderido com o outorgante.



Deste modo, quando a pessoa sente que deveria pedir ao Criador que lhe salve da morte, do estado de “os malvados em suas vidas se consideram mortos”, o contato entre a pessoa e o Criador é mais próximo. Por esta razão, para os homens justos um lugar de trabalho consiste em necessitar a ajuda do Criador; do contrário, se encontrará perdido. Isto é o que anseiam os justos: Um lugar onde trabalhar para estar em contato e em proximidade com o Criador.



Disto se depreende que se o Criador dá lugar para o trabalho, os justos sentem grande regozijo. Por isto eles disseram: “Primeiro para a contagem das iniquidades”. Para eles é um regozijo ter um lugar para trabalhar, ou seja, que agora estão necessitados do Criador e podem entrar em contato com Ele. Isto é assim porque não se pode vir ao Palácio do Rei a menos que seja por algum propósito.



Este é o significado de “E tomarás”, porque “tudo se encontra nas mãos de Deus, exceto o temor a Deus”. Dito de outra forma, o Criador pode dar Luz em abundância, porque isto é o que Ele tem. Mas a escuridão e a carência, não estão sob o seu domínio.



Devido a existência de uma regra que diz que existe temor de Deus somente a partir de um estado de carência – e o estado de carência é o desejo de receber – significa que somente ali existe um lugar para trabalhar. Onde? Justo ali onde se apresenta esta resistência.



O corpo vem e pergunta: “Que significa este trabalho?” E a pessoa não tem como responder a esta pergunta. Logo, ela deve assumir o fardo do Reino dos Céus por cima da razão “como um boi com seu jugo, e como um asno com sua carga”; ou seja, sem discutir. Em troca, Ele disse, e Sua vontade foi cumprida. A isto se chama “tu”, em outras palavras, que este trabalho, o trabalho que o teu desejo de receber necessita, pertence somente a ti, e não mais a Mim. É dizer, um trabalho obrigado pelo desejo de receber.



Não obstante, se o Criador lhe proporciona certa iluminação de Cima a alguém, o desejo de receber se rende e se anula como uma vela frente a uma tocha. Desta forma, a pessoa já não tem trabalho algum, posto que já não precisa aceitar sobre si a carga do Reino do Céu de forma coagida “como um boi com o seu jugo e como um asno com sua carga”, como está escrito em “os que amam ao Senhor, aborrecem ao mal”. Isto quer dizer que o amor de Deus se estende somente a partir de um lugar onde haja maldade. Em outras palavras, na proporção em que a pessoa despreze o mal, e veja de que forma o desejo de receber lhe molesta em seu intento de alcançar e completar sua missão, nesta mesma medida necessita obter o amor de Deus.



Entretanto, se a pessoa não sente que tem maldade, não pode ter garantias de que obtenha o amor de Deus, porque não sente necessidade disto, pois já alcançou satisfação do seu trabalho.



Como já dissemos, a pessoa não tem que sentir asco quando tem dificuldades com o desejo de receber que obstrui o seu trabalho. Certamente, a pessoa estaria mais satisfeita se o desejo de receber tivesse estado ausente do corpo, e não suscitasse todos esses questionamentos, obstaculizando o seu trabalho de observar a Torá e as Mitzvot (preceitos).



Mas a pessoa deve sentir que os obstáculos do desejo de receber em seu trabalho lhe são enviados desde Cima. Ela recebe a força para descobrir o desejo de receber desde Cima, porque existe lugar para trabalhar precisamente ali onde é despertado o desejo de receber.



Então, a pessoa chega a estar em contato próximo com o Criador para poder transformar o desejo de receber em um desejo com o fim de outorgar. E deve estar convencida de que através disto ela faz chegar satisfação do Criador, desde a sua prece a Ele, para acercar-se Dele por meio da adesão, que se chama equivalência de forma, a qual se discerne como a anulação do desejo de receber para que este seja com o fim de outorgar. A respeito disso, disse o Criador: “Meus filhos me venceram”. Ou seja, lhes foi dado o desejo de receber, e vocês Me pedem, em troca, que lhes dê o desejo de outorgar.



Agora podemos interpretar o que se menciona na Guemará (Julin, p. 7): “Quando Rabí Pinjas Ben Yair foi redimir os cativos, encontrou-se com ele rio Guinaí (nome do rio) e disse a Guinaí: “Divide tuas águas e eu passarei através de ti”. Este lhe respondeu: “Farás a vontade do teu Criador, e eu farei a vontade do meu. Quem sabe tu o faças, quem sabe não; enquanto que eu certamente o farei”.



Ele explicou que o significado disto é que ele disse ao rio, que representa o desejo de receber, que lhe permitisse atravessá-lo e atingir o grau de fazer a vontade de Deus, que quer dizer fazer tudo com o fim de outorgar satisfação ao seu Criador. O rio, que é o desejo de receber, respondeu que, já que o Criador lhe havia criado com essa natureza de receber prazer e deleite, não desejava modificar sua natureza com a qual Ele o havia criado.



Rabí Pinjas Ben Yair declarou-lhe guerra, ou seja, quis converte-lo em desejo de outorgar. A isto se chama “declarar guerra à Criação” que o Criador criou na natureza, chamada desejo de receber, e que compreende a criação inteira, definida como “existência a partir da ausência”.



A pessoa deve saber que durante o trabalho, quando o desejo de receber se dirige a ela com todo tipo de argumentação, não há argumento nem raciocínios de nenhum tipo que possam servir. Apesar de que a pessoa pense que são argumentos justificados, isto não ajudará a vencer o seu próprio ego.



Pelo contrário, está escrito: “Ele desgastou seus dentes”. Isto implica avançar somete por meio de ações, e não de argumentos. Quer dizer que a pessoa deve aumentar seu poder pela força. Este é o sentido do que escreveram nossos sábios: “Está coagido até que disse ‘Eu quero’”. Dito de outro modo, por meio da persistência, o hábito se torna uma segunda natureza.



A pessoa deve tentar, especificamente, ter um forte desejo de obter a vontade de outorgar e de se sobrepor ao desejo de receber. Ao falar de um forte desejo quer dizer que este é medido de acordo com a proliferação das pausas e dos descansos intermediários; isto é, das suspensões entre cada realização ou superação.



Às vezes, no meio do processo, a pessoa recebe uma suspensão, ou seja, um descenso. Este descenso pode consistir em uma suspensão de um minuto, uma hora, um dia ou um mês. Depois, a pessoa retoma o trabalho de transcender o desejo de receber, e os intentos de alcançar o desejo de outorgar. Quando fala de um forte desejo, quer dizer que a suspensão não lhe leva a um período largo de tempo, mas que imediatamente é despertado para continuar o seu trabalho.



É parecido a uma pessoa que tenta romper uma grande rocha. Ela pega um grande machado e golpeia muitas vezes durante o dia inteiro. Mas os golpes não são contundentes. Ou seja, não realiza cada golpe com grande impulso, mas baixa o machado lentamente. Logo se queixa dizendo que esta tarefa de romper a rocha não é para ela, e que somente um herói poderia ter a habilidade de romper esta grande rocha. Diz que não nasceu com tal poder de romper uma rocha.



Sem embargo, quem levantar este grande machado e golpear a rocha com um grande impulso, ou seja, não lentamente, mas com um grande esforço, conseguirá que a rocha se renda diante dele e se rompa. A isto se refere a frase: “Como um martelo romperá a rocha em pedaços”.



Da mesma maneira, no trabalho sagrado, cujo propósito é levar os Kelim (vasos) de recepção até a Kedushá (santidade), também temos um grande martelo. É dizer, as palavras da Torá, que nos dá bons conselhos. Mas se a observância da Torá não é constante, mas com largas pausas, a pessoa termina abandonando o trabalho e declarando que não foi feita para isto, e que este trabalho requer alguém que tenha nascido com alguma destreza especial. Não obstante, ela deve crer que qualquer pessoa pode alcançar a meta, ainda que sempre deva tratar de incrementar os esforços que realiza para superar os obstáculos. Deste modo, poderá romper a rocha em curto tempo.



Também devemos saber que aqui existe uma condição muito dura em relação ao esforço para entrar em contato com o Criador: o esforço deve estar sob a forma de ornamento. O ornamento simboliza algo que é importante para a pessoa. A pessoa não pode trabalhar com alegria se o trabalho carece de importância para ela. Portanto, ela deve sentir regozijo por agora ter contato com o Criador.



Este assunto se encontra representado no Etrog ou cidra, que é o fruto de uma árvore de cítricos (em hebraico, cítrico é Hadar, proveniente de Hidur que é beleza). Está escrito que este deve estar limpo “por cima de seu nariz”. É sabido que aqui há três discernimentos: a) ornamento b) fragrância, c) sabor.



O sabor implica que as Luzes descem desde Cima até abaixo, ou seja, debaixo de Pe (boca), onde estão o paladar e o gosto. Isto significa que as Luzes entram nos vasos de recepção.



A fragrância significa que as Luzes chegam desde baixo para Cima, quer dizer que entram nos vasos de outorgamento, em forma de recepção e não de outorgamento, embaixo do paladar e da garganta. Isto se discerne como o ditado sobre o Messias: “E ele aspirará no temor de Deus”. Sabe-se que o aroma é atribuído ao nariz.



O embelezamento implica beleza ou ornamento, e a pessoa o discerne para além de sua narina, pois ele não tem fragrância. Isto significa que aqui não há sabor nem olfato envolvidos. Portanto, o que existe ali por meio do qual se possa subsistir? Somente o ornamento nele, e isto é tudo que o detém.   



No limão vemos que a beleza se manifesta precisamente antes de estar apto para ser comido. Mas quando está pronto para ser comido, já não existe mais beleza nele.



Isto se refere ao trabalho de primeiro contar as iniquidades. Significa que precisamente quando a pessoa trabalha sob a forma de “deveis”, que é o trabalho durante a aceitação da carga do Reino dos Céus, e que é quando o corpo resiste, justamente ali há lugar para o regozijo do embelezamento.



Isto quer dizer que durante este trabalho o ornamento se faz visível, ou seja, que se regozija de seu trabalho porque o considera belo e não uma desonra.



Em outras palavras, às vezes a pessoa deprecia este trabalho de assumir a carga do Reino dos Céus, que é um tempo de sensação de escuridão, em que descobre que ninguém pode salvá-lo do seu estado presente, a não ser o Criador. Então aceita o Reino dos Céus por cima da razão “tal como um boi com seu jugo e qual um asno com sua carga”.



A pessoa deve alegrar-se agora de ter algo que dar ao Criador, e Ele desfruta porque ela tem algo para dar-lhe. Mas a pessoa nem sempre tem a força para dizer que este é um trabalho atraente, chamado embelezamento; e, às vezes, termina depreciando este trabalho.



Esta é uma condição muito difícil para que a pessoa possa dizer que escolhe este trabalho antes que o trabalho neutro, (de branqueamento) isto é, que não percebe o sabor da escuridão (ocultação) durante o trabalho, mas que logo sente o gosto do trabalho. Significa que então já não necessita trabalhar para que o desejo de receber aceite assumir o Reino dos Céus por cima da razão.



Se a pessoa consegue superar-se e afirmar que o trabalho é agradável quando se cumpre a Mitzvá (preceito) da fé por cima da razão, e aceita este trabalho com beleza e elegância, isto se chama “o regozijo na Mitzvá”.



Isto quer dizer que a oração é mais importante que a resposta à mesma. Isto se deve a que na oração a pessoa tem lugar para trabalhar, e necessita do Criador. Ou seja, espera a graça do Céu. Então se encontra em verdadeiro contato com o Criador, e desta forma está no Palácio do Rei. Mas quando a oração recebe resposta, já saiu do Palácio do Rei, posto que já conseguiu o que havia pedido, e já partiu.



De acordo com isto, devemos entender o seguinte versículo: “Dos teus óleos emergem deliciosa fragrância; teu nome é como óleo derramado.” O óleo recebe o nome da “Luz Superior”, quando flui. Quando diz “derramado” significa a cessação da abundância. Então permanece a fragrância do óleo (“fragrância” significa que ficou uma Reshimó (reminiscência) do que antes tinha). Enquanto que o ornamento, por outro lado, aparece em um lugar desprovido de qualquer identificação, onde nem sequer brilha uma Reshimó.



Este é o sentido de Átik e AA (Arich Anpin). Durante o período de expansão da abundância recebe o nome de AA, que é Chochmá, (Sabedoria), ou seja, a Providência manifesta. Átik vem da palavra VaYeatek (separação). Em outras palavras, se refere à saída da Luz. Dito de outro modo, não brilha. E isto recebe o nome de Ocultação.



Este é o tempo de rechaço às vestimentas, que também é o tempo da recepção da coroa do Rei, que recebe o nome de Malchut (Reino) de Luzes, a qual é considerada como o Reino do Céu.



Sobre este assunto está escrito no sagrado Zohar: “A Sagrada Shekiná disse a Rabi Shimon ‘não há onde esconder-se de ti’”. Isto quer dizer que mesmo na maior das ocultações que exista na realidade, aceitará sobre si a carga do Reino do Céu com grande alegria.



A razão disto é que uma orientação marcada pelo desejo de outorgar, e assim dá o que tem em suas mãos. Se o Criador lhe dá mais, ele dá mais. E se não tem nada para dar, fica parado como um guindaste e chora diante do Criador para que Ele lhe salve das águas do mal. Assim, também deste modo está em contato com o Criador.



Sendo Átik o grau mais alto, este discernimento recebe o nome de Átik pelo motivo de que quanto mais longe de ser visto algo se encontre mais alto está. A pessoa pode ver isto na coisa mais abstrata, que é o zero absoluto, porque ali não chega a mão do homem.



Isto significa que o desejo de receber pode aferrar-se somente ali onde haja certo grau de expansão da Luz. Antes que a pessoa possa purificar seus Kelin (vasos) de modo que não manche a Luz, não é apto para que a Luz se expanda até ela e entre em seus Kelim. Somente quando a pessoa marcha pelo caminho da doação, seja por meio de sua mente ou de seu coração, por um lugar onde o desejo de receber não está presente, ali a Luz poderá chegar em total perfeição. Nesse caso a Luz chega à pessoa sob uma sensação em que se pode sentir a sublimidade da Luz Superior.



Não obstante, enquanto a pessoa não tenha corrigido seus Kelim para que eles estejam sintonizados com o fim de outorgar, e quando a Luz chega em forma de expansão, a Luz deve restringir-se e brilhar somente de acordo com a pureza dos Kelim. Portanto, nesse momento a Luz aparenta estar completamente diminuída. Assim, quando a Luz se abstrai de vestir os Kelim, Ela pode brilhar em todo o seu esplendor e claridade, sem nenhum tipo de restrição relativamente ao interior.



Disto se depreende que a importância do trabalho surge precisamente quando a pessoa chega a um estado de zero, ou seja, quando vê que anula o seu ser e sua existência por completo, pois ali o desejo de receber não tem domínio algum. Somente então a pessoa entra na Kedushá.



Devemos saber que “Deus fez um em oposição a outro”. Isto significa que na mesma medida da revelação que exista em Kedushá se despertará a Sitra Acha. Em outras palavras, quando a pessoa reclama “é tudo meu”, ou seja, quando o corpo inteiro pertence à Kedushá, a Sitra Acha também argumenta contra, sustentando que o corpo inteiro deveria lhe servir.



Portanto, a pessoa deve saber que quando vê que o corpo reclama pertencer a Sitra Acha, e grita a plenos pulmões as famosas perguntas “quem” e “que”, é um sinal de estar recorrendo ao caminho da verdade, isto é, que sua única intenção consiste em satisfazer ao seu Criador. Desta forma, o principal trabalho se encontra precisamente neste estado.



Deve-se saber que é um sinal de que este trabalho está acertando o alvo. O sinal indica que está lutando e que atira suas fechas à cabeça da serpente, que argumenta e reclama sobre o “que” e o “quem”, no sentido de “O que este serviço significa para vocês?” Em outras palavras “o que ganharão por trabalhar somente pelo Criador e não para vocês mesmos?” E o questionamento de “quem” implica que é o Faraó quem reclama e diz: “Quem é o Senhor para que eu lhe obedeça?”.



Parece como se o “quem” fosse um argumento racional. É normal que quando se diz que a pessoa vai trabalhar para alguém, se pergunte para quem. Portanto, quando o corpo questiona: “Quem é o Senhor para que eu lhe obedeça?”, se trata de um questionamento racional.



Entretanto, de acordo com a máxima, podemos sustentar que a razão não é um objeto em si, mas é um espelho através do qual aquilo que se encontra presente nos sentidos também está na mente. E este é o sentido de “E os filhos de Dan: Hushin (sentidos)”. Isto quer dizer que a mente julga somente de acordo com o que os sentidos lhe permitem escutar e na medida em que lhe permitam conceber e inventar todo tipo de aparatos e estruturas mentais que se encaixem com a exigência dos sentidos.



Dito de outro modo, a mente trata de conceder seus desejos aos sentidos, de acordo com o que estes demandem. Não obstante, a mente não tem necessidade alguma de si mesma, seja qual for a demanda. Então, se surge nos sentidos um desejo pelo atributo de doação a mente opera de acordo com uma diretriz em benefício do outorgamento, sem formular perguntas, pois estas se encontram meramente a serviço dos sentidos.



A mente se parece a quem está olhando no espelho para ver se está sujo. E em todos aqueles lugares em que o espelho lhe mostra que estão sujos a pessoa pode lavar-se e limpar-se, porque é o espelho que ensina que em seu rosto existem coisas feias que devem ser limpas.



Sem embargo, o mais difícil de tudo é saber o que é que se considera feiura. Talvez seja o desejo de receber que venha a ser a exigência que o corpo requer para realizar tudo para si próprio? Ou é, ao contrário, o desejo de outorgar aquela feiura que o corpo não pode tolerar?  A mente não consegue analisar, pois ela é como o espelho, que não pode determinar o que é feiura e o que é beleza, porque tudo depende dos sentidos, e somente estes podem determiná-los.



Então, quando a pessoa se habitua a trabalhar de forma coagida, para chegar a trabalhar em favor da doação, a mente também opera seguindo diretrizes de outorgamento. Nesse momento, quando os sentidos já tenham se acostumado a trabalhar para doar é impossível que a mente faça a pergunta “quem”.



Em outras palavras, os sentidos não perguntam mais “o que significa este ato para você?”. E o que a pessoa ouve, ou seja, quando o corpo pergunta “quem”, se deve a que o corpo não deseja desagradar-se desta maneira. Por esta razão pergunta “quem”, que é como se estivesse fazendo uma pergunta racional, mas o certo é que é, como já dissemos antes, o trabalho principal radica no “que”. (CPAS)


segunda-feira, 25 de maio de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (49)




6. Nossos sábios dizem: “O Criador criou o mundo por nenhuma outra razão além de doar prazer para Suas criaturas” (isto é, os sábios que alcançam o Criador e conhecem Seus Pensamentos). É sobre isso que devemos pôr nossa mente e coração, pois este é o objetivo final do Ato da Criação do Mundo.



Baal Ha Sulam diz que esta única frase “O Criador criou o mundo para doar prazer às Suas criaturas” contém o Pensamento, o Ato e o Fim da Criação. Aparentemente é por isso que ele sugere que deveríamos refletir sobre ela. Mas o que ele realmente quer dizer é que, no princípio, no meio e no fim de todas as ações que ocorrem no mundo, por mais nobre ou cruel que elas possam parecer, em todos os seus níveis e em todas as suas combinações, elas seguem um único objetivo: Doar prazer às criaturas. Não há outro motivo em nenhuma das ações do Criador.



Além disso, devemos ter em mente que, uma vez que o Pensamento da Criação é doar às Suas criaturas, Ele precisou criar nas almas um grande desejo de receber aquilo que Ele Quer doar. Pois a medida de todo prazer depende da medida do desejo de receber este prazer. Quanto maior for o desejo de receber, maior o prazer, e quanto menor o desejo, menor o prazer na recepção.



Sabemos disso com base na nossa própria experiência nesse mundo. Eu posso me sentar em uma mesa maravilhosamente preparada com as iguarias mais requintadas, mas somente usufruo dela na exata medida do meu desejo. Portanto, dizemos que a Luz do Criador preenche toda a Criação. Nós estamos imersos nesse oceano de Luz, e devemos senti-lo apenas no nosso desejo por essa Luz, pela sua propriedade, pelo prazer de doar.



É muito natural que se ainda não sentimos nada significa que ainda não temos o desejo pela Luz da Doação. Entretanto, o Criador pré-instalou em nós um enorme desejo de receber prazer e que se encaixa perfeitamente ao Seu desejo de doar.



Portanto, o Pensamento da Criação em si requer que exista nas almas a presença de um enorme desejo de receber, adequado ao imenso prazer que o Criador desejou doar a elas. Pois o enorme prazer e o enorme desejo de receber devem andar lado a lado.


domingo, 24 de maio de 2020

Inbtrodução ao Livro do Zohar (48)




5. Portanto, o senso comum… (Baal Ha Sulam nos diz isso a partir do nível que ele atingiu) ordena que compreendamos o oposto daquilo que parece estar na superfície… (o que pode ser visto a olho nu) e decide que somos criaturas realmente nobres e dignas…



De fato, somos tão elevados e tão importantes que podemos governar todo o nosso mundo e os Mundos Espirituais, que estão em harmonia absoluta com o Criador, em completa união com Ele. Nós estamos, verdadeiramente, nesse estado, mas sentimos somente uma pequena parte dele chamada "esse mundo". Na realidade, estamos, nesse momento, em um estado perfeito e elevado.



Não há limites para a nossa imensurável importância; na verdade, somos dignos do nosso Fazedor. Pois se quisermos encontrar defeitos nos nossos corpos, então por trás de todas as desculpas que nos dermos, as críticas sempre cairão sobre o Criador que criou a nós e à nossa natureza. Pois está claro que Ele nos criou.



Ele também conhece todos os ramos que provém da nossa natureza, bem como os atributos que Ele criou em nós. Como já foi dito: devemos observar o fim da ação, só então seremos capazes de compreender o todo. Como diz o ditado: "Não mostre ao tolo um trabalho incompleto".



Devido às nossas aulas, você verá as respostas a todas as perguntas e questionamentos. Tudo o que lhe resta fazer é percebê-las. E espero que este seja o resultado do nosso estudo. O que é necessário para que isso ocorra? Eu repito, de forma alguma a Cabalá deve ser considerada uma ciência qualquer. Embora a Cabalá seja uma ciência, ela instrui o aluno em como corrigir-se e alcançar a eternidade e perfeição.



Por isso que o trabalho do intelecto é insuficiente. É preciso que o aluno deseje profundamente as suas próprias mudanças e esteja no nível em que Baal Ha Sulam está. Afinal, ele nos ensina deste alto nível.



Pergunta: Eu percebo meus defeitos e tento corrigi-los. Eu recorro ao Criador, o Único que pode fazê-lo. Eu compreendo o método. A pergunta é: Como posso acelerar o processo?



Tudo o que você faz está correto e, por falar nisso, na verdade você não faz nada. Por quê? Porque em algum momento, sob a influência do sofrimento e do recolhimento, você sentiu a necessidade de recorrer ao Criador.



Nosso problema reside em encurtar o tempo. Na cadeia de eventos pelos quais precisamos passar, nós podemos apenas controlar o tempo. Tudo o que podemos fazer é acelerar o processo com a ajuda de um grupo. Você precisa de uma força adicional para recorrer ao Criador a fim de que Ele o corrija ainda mais intensamente.



Essa força adicional pode vir de amigos seus que tenham o mesmo objetivo e concordem em interagir com você a fim de unir forças e recorrer ao Criador. Esse é o único modo e, sem ele, você não poderá acelerar o seu desenvolvimento.



No fim, a realização de todas as nossas ações culmina em uma única coisa: Como tornar o nosso grupo mais direto, sério e intenso. Empenhe-se em fazer seus amigos do grupo serem como lutadores, que estão sempre prontos a defender uma ideia, em direção ao Objetivo. Você então verá por quantos estados você passará em um único dia, e você terá forças para fazê-lo. Em apenas algumas semanas, você não se reconhecerá. Você terá alcançado níveis muito mais altos.



Isso depende de todos os grupos e de cada grupo em separado. Cada grupo receberá tanto quanto empenhar-se em todo o processo.



Pergunta: Posso ver o degrau seguinte?



Eu posso vê-lo, mas apenas de uma forma em que vê-lo não me afetará negativamente, impedindo que o deseje egoisticamente, para mim mesmo. Como posso aceitar o nível espiritual seguinte a fim de receber a força necessária e o método de correção para que ele não obstrua minha ascensão pessoal? Eu desejo que ele permaneça em mim, como minhas propriedades, como se eu criasse esse próximo nível dentro de mim mesmo. Afinal, eu preciso me tornar semelhante ao Criador, e essa semelhança implica em me recriar no próximo nível, dando à luz a mim mesmo.



Para este fim, eu preciso obter o material necessário para o meu nascimento, que se encontra no nível seguinte. Isso se refere aos desejos e à força necessária para transformá-los em propriedades de doação. Eu ainda sou muito pequeno, mas obtenho minha forma espiritual. Eu apenas obtenho isso do AHP de um nível mais alto. Assim, percebemos o AHP do nível mais alto em diferentes variações: Ora luminoso, ora desprovido de Luz. Deveríamos nos agarrar a isso, pois esse é o nosso Criador. É assim que nós O enxergamos. Deveríamos nos agarrar a Ele constantemente, como uma sanguessuga, indiferente do quão bom ou ruim, repulsivo ou atraente Ele pareça em nossas sensações. Nós deveríamos simplesmente nos grudar a Ele todo o tempo.



Um grupo pode ter um papel muito importante nisso. Ele sempre me lembra o que eu preciso fazer. Eu preciso de um grupo-despertador. Se o seu grupo estiver constantemente pensando nisso, você sempre se lembrará do objetivo e o desejará. Dessa forma, você se agarra ao AHP de um nível mais alto tão rapidamente que ele o impulsionará contra a sua vontade.



Não há uma outra alternativa. Nossa tarefa principal é superar esse primeiro nível, pois alcançá-lo significa cruzar a Maschom. Depois disso, nós já começamos a sentir o Criador. Esse é um tipo bem diferente de trabalho.



Somente o trabalho em grupo pode ser eficaz, quando todos os seus membros se esforçam constantemente a permanecer nesse nível mais alto. Não importa como imaginamos que ele seja. É preciso que estejamos obcecados pelo Criador, somente isso nos levará ao Objetivo.



Pergunta: Por que o Criador perfeito precisou criar algo? Foi para alcançar uma perfeição ainda maior?



Ele o fez para doar.



Pergunta: Como podemos enxergar o nosso estado seguinte? Sem isso, não podemos ascender, mas mesmo assim não conseguimos vê-lo!



Nós precisamos aceitá-lo sem vê-lo porque ele vem do Criador e não porque nós o vemos e gostamos. Em outras palavras, devemos aceitá-lo em nossos vasos de doação, com a intenção "pelo Criador", pois assim Ele Deseja. Nós precisamos pedir a força de aceitá-lo sem vê-lo.



Pergunta: Meu próximo nível é oposto a mim. Isso significa que o que posso "ver nessa vida" é apenas uma pequena parte do nível mais próximo das minhas propriedades? Do contrário, ele me afastaria, não atrairia…



É exatamente por isso que a revelação do AHP de um nível mais alto é definida como uma queda espiritual. Se a pessoa percebe isso, ela imediatamente reúne forças para dominar esse AHP.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (47)




4. Para compreender essas perguntas e questionamentos, é preciso começar pelo fim, ou seja, observando o propósito da Criação. Pois nada pode ser entendido na metade do processo, apenas no final.



Esse critério é essencial. Se desejamos compreender alguma coisa precisamos ter certeza do seu desfecho final. Entretanto, como podemos saber isso? No nosso mundo, nós não sabemos nada de antemão. Poderíamos nos prejudicar se soubéssemos, primeiro, os resultados? Como poderíamos fazer qualquer coisa sem premeditar algum benefício?



O nosso problema é que nunca sabemos previamente o fim de nada. A única coisa que sabemos nesse nosso pequeno mundo animal é aconselhar nossos filhos: "Faça isso, não faça aquilo". Entretanto, eles não nos ouvem. Na nossa vida, não conseguimos enxergar o final do próximo nível, nem suas consequências. Geralmente agimos sem ouvir os outros, e nossos filhos também não nos ouvem, embora saibamos justamente a resposta certa. Além disso, a humanidade toda faz exatamente a mesma coisa.



Como é possível concordar com esse pensamento do Baal Ha Sulam: “Para compreender essas perguntas e questionamentos, é preciso começar pelo fim da ação, isto é, o propósito da criação”. O propósito é o resultado pelo qual a Criação foi criada.



Pois nada pode ser compreendido na metade do processo, apenas no final.



Isso é verdade. O Criador olha para nós do “extremo fim da Criação” e não do seu início.



Ele concebe tudo em relação a nós e nos leva para perto Dele. Essa é uma estratégia perfeita. Somos incapazes de fazer isso em nosso mundo. Seria maravilhoso se soubéssemos com antecedência os resultados do que fazemos agora e, a partir disso, pudéssemos corrigir ou melhorar. Mas como podemos alcançar isso?



O Estudo das Dez Sefirot descreve esse processo da seguinte forma: Nosso avanço espiritual depende de uma condição chamada "Olamcha Tireh be Hayecha" (literalmente: “Tu verás teu Mundo durante a tua vida”).



Está escrito “verás”, não “receberás”. Mesmo neste nível, a pessoa pode ver o Mundo Vindouro (seu estado futuro) à distância. Quando isso acontece, ela pode justificar seu caminho, receber energia, compreensão e força para elevar-se acima dos seus desejos egoístas, adquirir o “desejo de doar” e trabalhar na sua correção.



“Prever o propósito da Criação” e planejar suas ações e seus passos, a partir desse nível, é uma condição obrigatória. Sem isso, nunca faremos qualquer ação correta e nossa vida espiritual será exatamente igual à nossa vida neste mundo. E a vida espiritual não tolera esse tipo de coisa.



Cada vez que se está em uma posição inicial, a pessoa é obrigada a ascender ao próximo estado “mais um”, ao próximo nível. Eu não tenho nem ideia de como fazer isso e também não sei qual será minha condição em relação a esse nível. Eu preciso vê-lo com antecedência (1) e, depois disso, decidir quais serão minhas ações (2). Somente assim posso trabalhar nisso (3). Esse é o único modo de fazer as coisas certas.



Se começo a agir sem conhecer o meu próximo estado, essas ações sempre serão falaciosas, pois no nível em que me encontro agora, com meu raciocínio e conhecimento, eu não consigo nem imaginar o que existe no próximo nível, pois ele está acima do meu nível atual. No início, tudo o que possuo dentro de mim é oposto a esse nível porque, aqui, eu sou um grande egoísta. Lá eu serei um grande altruísta, mas eu não desejo isso de forma alguma.



Com base nos pré-requisitos, princípios e desejos que possuo em mim, eu sou incapaz de imaginar meu futuro. Ele é tão oposto a mim que é impossível até imaginar como é estar lá. Minha natureza não me permite fazer isso. Entretanto, mesmo se permitisse, eu não o desejaria, eu me distanciaria disso.



É por isso que, de alguma forma, é preciso enxergar o próximo nível. É preciso compreendê-lo e aceitá-lo dentro de mim. Eu devo pedir ao Criador que Ele me ajude de Cima, que me dê Ohr Makif a fim de que, na minha terceira ação, eu possa ascender a um nível mais alto.



Se fizer isso, eu avançarei nos Mundos Espirituais da mesma forma que faço em nosso mundo: Falhando o tempo todo nas minhas tentativas. Cada próximo passo meu deve ser menos efetivo que o anterior. Ao invés de ascender, eu caio cada vez mais. Portanto, Baal Ha Sulam escreve:



Deve-se começar pelo fim, ou seja, observando o propósito da Criação. Pois nada pode ser entendido na metade do processo, apenas na sua conclusão. Além disso, está claro que não há ação sem um propósito, pois só os loucos agem despropositadamente.



As pessoas sempre agem por algum motivo, então se eu desejo avançar espiritualmente, esse deve ser o meu motivador. Eu preciso adquirir uma nova força, um novo modo de pensar, além de novas propriedades, que ainda não possuo. Sou incapaz de avançar com as minhas propriedades atuais.



Eu sei que existem "sabichões" que desdenham o método da Cabalá (pois acham que conhecem métodos melhores) dizendo que o Criador criou a realidade, mas depois a deixou à mercê do destino, e que devido à mesquinhez das criaturas não seria adequado ao elevado Criador cuidar das suas vidinhas insignificantes. Tivesse o Criador nos abandonado aqui, nós nunca seríamos capazes de ascender ao próximo nível. Por quê?



De fato, eles falam sem conhecimento, pois não é possível comentar sobre nossa insignificância e baixeza sem antes considerarmos que nos desenvolvemos com toda a nossa natureza maculada. Mas enquanto consideramos que o Criador, que é perfeito em cada aspecto, foi quem criou e desenhou nossos corpos (propriedades), com todos os seus atributos admiráveis e desprezíveis, certamente que da mão de um trabalhador perfeito não pode surgir um ato imperfeito, já que cada ato certifica quem o faz. Que culpa tem uma vestimenta ruim se foi um mau costureiro que a fez?



É claro que a culpa é do costureiro. Se temos propriedades más, fica claro para nós que a culpa é do Criador. Aqui, Baal Ha Sulam nos apresenta uma parábola do Talmud (Ta'anit 20).



Essa é uma história do Rabi Elazar, filho do Rabi Shimon, que esteve diante do mais feio dos homens…



Rabi Shimon escreveu O Livro do Zohar. Seu filho estava em um nível acima do de Rabi Shimon. Ao alcançar o nível do seu pai, ele encontrou em si mesmo um nível ainda mais baixo e ainda mais feio do que todos os que já havia encontrado. Ele era tão feio que não pôde evitar de dizer (de si mesmo): "Tu é muito feio!" E o homem respondeu: "Vá e diga ao meu fazedor: 'que feio é esse instrumento que fizeste'".



Se tu tens alguma rixa com qualquer uma das tuas propriedades, volta-te ao Criador. Ele é Quem as criou e é Ele quem pode corrigi-las.



Dessa forma, aqueles que dizem que pela nossa insignificância e baixeza não é adequado que Ele cuide de nós e, por isso, ele nos abandonou, nada mais fazem além de demonstrar publicamente a sua ignorância. Tente imaginar: Você conheceu alguém que criou criaturas apenas para que elas sofressem e agonizassem por toda a sua vida, como ocorre conosco. E não bastasse isso, ele ainda dá as costas a elas, sem nem querer cuidar delas ou ajudá-las um pouco. Quão desprezível e baixo você pensaria que ele é? Pode uma coisa dessas ser dita sobre Ele?



O paradoxo que temos aqui permanece um paradoxo.


Shamati (127)

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