Na segunda de manhã, dia 21, fomos ao Museu de Israel, para
vermos os Manuscritos do Mar Mort
Em seguida, fomos ao Monte das Oliveiras. Dali, se pode ver o
Portão do Mashiach. Um invasor poderoso
de alguma época passada mandou fechar essa entrada da cidade velha e
transformou a ladeira do Vale de Kidron
em uma lixeira, para impedir a entrada do Redentor. No cemitério que fica no
Monte das Oliveiras estão todos enterrados com os pés voltados para o Monte do
Templo. Quando os mortos ressurgirem, diz o mito, já se levantarão de frente
para o Santo dos Santos (a Rocha do Monte Moriá). Esses mortos serão os
primeiros a ressuscitar.
Um velho árabe inteligente puxa um burro por ali, pedindo
esmolas.
(Estou escrevendo esse texto na companhia do Gerson Mainardi.
Estamos sentados na sacada do Hotel Prima Kings, na Rua Ramban (não confundir
com Rambam), tomando uma cerveja. Terminamos o nosso trabalho espiritual aqui na
Terra Santa e sairemos de Israel amanhã).
Levei o Rabino Saltoun e alguns membros do Kadosh (éramos 17
pessoas) para visitarmos o Instituto do
Templo, na Cidade Velha. Há três anos estive no Instituto, e a minha
impressão sobre esse assunto da construção do III Templo se aprofundou, mas não
mudou em essência. Defini o que senti, depois da visita, com a frase: “O noivo
está pronto, mas a noiva não veio para o casamento”. Em outro momento, vou
elaborar melhor o que eu quero dizer com isso.
E, à noite, vivemos uma experiência muito impactante. Depois
da janta, retornamos à Cidade Velha e entramos nos Túneis do Rei Salomão. Quase um quilômetro costeando o Muro Externo
do Monte do Templo, metros abaixo do chão, cercados pela história dos romanos, dos
cruzados, dos bizantinos, do império otomano. No final do percurso, encontramos
a Rocha, a Rocha que está embaixo do Domo
da Roca. Uma pedra diferente. O Yesod
da Terra. A Fundação do Mundo. A pedra em que Adão e Eva fizeram o primeiro
altar de adoração a Elohim. A pedra
onde Abraão amarrou Isaac. A Pedra
onde Jacob sonhou com os Anjos subindo e descendo a Sulam (Escada Espiritual). A Pedra que é o Santo dos Santos (Kadosh de Kadoshim) e em torno da qual
estava construído o Primeiro e o Segundo Templos. A Pedra de onde pode emanar a
Geula, a redenção do mundo, a Pedra
que pode trazer a destruição do mundo. Indescritível o perfume que senti ao
fazer um Ana Bekoach com a mão
esquerda espalmada contra essa pedra sagrada. Nela, sim, há santidade, e não no
Muro das Lamentações, que não passa
de um muro externo do complexo extraordinário que era o Templo. Desde que
fundei o grupo Kadosh eu afirmo que as pessoas estão rezando no muro errado.
Como disse o Saltoun, se o Papa, o Ayatolá, o Rabino-Chefe, o presidente do
Sanhedrin; se os líderes religiosos de todas as religiões do mundo se dessem as
mãos ao redor dessa Rocha, construiríamos um mundo melhor, de tolerância
(ninguém precisa mudar de religião para fazer uma conexão com o Criador) e de ajuda
mútua (Arvut).
Hoje, na terça-feira, fomos para Hebron, onde descansam os
patriarcas e as matriarcas. E lá fizemos o trabalho espiritual para o qual
fomos escolhidos, fizemos o trabalho que nem judeus e palestinos conseguem
fazer. Foi para isso que viemos a
esta terra, abençoada e amaldiçoada ao mesmo tempo. Abençoada pelo Criador e
amaldiçoada por grande parte dos seres humanos. Foi para isso
que entramos no Santuário construído por Herodes.
Explico.
Esse Santuário de
Macpella (onde estão Abraão e Sara, Isaac e Rebeca, Jacó e Lia) fica na
fronteira de Israel e Palestina. Abraão e Sara e Jacó e Lia estão no lado
israelense. Isaac e Rebeca estão no lado palestino, divididos pela política,
pela insanidade, pela serpente. No lado israelense fizemos os nossos Yichudim, unindo as almas de Abraão,
Jacó, Sara e Lia. Mas Isaac e Rebeca ficaram de fora. Assumi o comando do
grupo, a pedido do Rabino Saltoun e fui conversar com os guardas da fronteira
da Palestina. Disse-lhes que éramos do Brasil e que queríamos muito visitar
também o patriarca e a matriarca do lado da terra deles. Eles me perguntaram: “Existe
algum judeu com vocês?”. Eu apenas disse que éramos brasileiros. Ele insistiu. Repeti
que éramos brasileiros. As metralhadoras ficaram abaixadas e eles nos deram dez
minutos de visitação. Um minuto para cada Sefirot,
pensei. E entramos na Palestina. E foi incrível, foi indescritível. Na frente
dos Santuários de Isaac e Rebeca, dentro da Mesquita, existe uma fenda, uma
fissura, um buraco que penetra profundamente o solo e que é a entrada do Gan Éden. Os guardas do Santuário permitiram
que olhássemos pela escotilha. Todos nós olhamos o local em que entraram os
corpos de Abraão, Isaac e Jacó, menos o rabino. Olhamos com a inocência de Adão
e Eva no Paraíso, antes da enganação do Serpente. Lá na fenda, enrodilhado em
si mesmo, está o Serpente, guardando a entrada do Gan Éden, o Nachash que se
transformará no Mashiach. Posso
elaborar melhor em grupo fechado.
No caminho de retorno, fomos visitar Bethlehem (Belém) e a Igreja
da Natividade. Vimos o local do nascimento de Jesus e o local da manjedoura.
Essa cidade também está dividida entre Israel e Palestina. No início, o rabino foi
impedido de entrar nesses locais sagrados para o cristianismo, mas depois ele
conseguiu se unir ao grupo. Acho que ele esqueceu a kipá na cabeça e os palestinos implicaram com ele.
No meio do caminho, tinha um muro. Um muro altíssimo. Um muro
que separa israelenses e palestinos, um muro de ignorância, um muro de
politicagem, um muro de ódios e preconceitos, e, na margem desse muro, no lado
israelense, repousa Rachel, a amada de Jacó, que morreu em trabalho de parto
nesse local. Diante do seu Santuário, fizemos Yichudim, exercícios cabalísticos, e recebemos maravilhosos
perfumes.
Dentro do ônibus, Vera Teixeira Aguiar, que recebeu a cura de
uma doença agressiva depois que a convidei a fazer parte do Grupo Kadosh, leu o
poema de Camões em homenagem à Rachel, um dos mais belos sonetos da língua portuguesa.
Do muro, viemos diretamente a Jerusalém e fomos visitar o
Santuário de Baal Ha Sulam. Lá, na
presença do mestre, o maior cabalista do século vinte, cantamos, fizemos os nossos
exercícios cabalísticos e comemoramos o aniversário da Denise, que veio do Rio
de Janeiro para juntar-se conosco nessa peregrinação.
Agora, estamos prontos para regressar aos nossos países
(Brasil e Suíça), às nossas cidades, aos nossos familiares e amigos.
Levo uma grande e inolvidável certeza ao final dessa viagem:
no Gan Éden, as almas de Abraão,
Isaac e Jacó, Sara, Rebeca, Lia e Rachel estão felizes, porque através do Grupo
Kadosh, através do Saltoun e de seus convidados, voltaram a se encontrar aqui
na Terra, em Hebron e no caminho cercado de altos muros e muitas metralhadoras.
Como disse um escritor uruguaio que já traduzi (e publiquei)
no Brasil, Juan Jose Morosoli, “nós só começamos a viajar depois que voltamos
para casa”.
Amanhã, começa, de fato, a nossa viagem, e o nosso Trabalho
Espiritual no Brasil.