quinta-feira, 21 de março de 2019

Naassê Venishmá (2)



Primeiro, a Luz envolve (Ohr Makif); depois, a Luz preenche (Ohr Pnimi).



Mas o que é a Luz, ou que Luz é essa?



Na ausência de um termo melhor, os cabalistas chamam a Essência Divina de Luz, Ohr, no original hebraico.



Não há termo melhor que Ohr para expressar o remmez (indício) da Essência do Ayin, mas traduzir por Luz, em português, é muito problemático, já que Luz se opõe a escuridão, gerando uma incômoda dicotomia. A Essência Divina é, também, escuridão, porque Nele Luz e Trevas são uma coisa só. A Ohr é uma imanência transcendente e uma transcendência imanente, simultaneamente. Platão chamou a isso de Phytourgós, aquilo que faz o que é vir a ser. Seu aluno Aristóteles, menos místico e mais pragmático, chamou aquilo de Energuéia, que deu origem, em português, à palavra energia, mais neutra e não necessariamente luminosa.



Ohr, Luz, Energia, Brilho (Bahir), Esplendor (Zohar), Radiância, Potência, Escuridão...



Luz, corpúsculo de onda, limitada a uma velocidade de quase trezentos mil quilômetros por segundo, não define o que os cabalistas recebem em seus Kelim (Vasos) corrigidos. Oneg (Prazer) talvez fosse uma definição melhor para Luz, manifestação da Essência Divina.



Como expressar o inexprimível? Como definir o indefinível?



A Experiência Mística é tão imanente e pessoal que não pode ser explicada, e é tão transcendente e universal que não pode ser compartilhada.



No limite da compreensão humana, podemos apenas dizer que a Luz Circundante (Ohr Makif) envolve; e que a Luz Interna (Ohr Pnimi) preenche.



E o resto é prazer.

segunda-feira, 18 de março de 2019

Guerei Tzedek (1)


  

Dezoito convertidos ao judaísmo que você deveria conhecer




Batya



Mais conhecida como Bityah, ela aparece na Tora simplesmente como a filha do faraó que encontrou o bebê Moshê flutuando no Rio Nilo e levou-o ao palácio para criá-lo como um príncipe egípcio. Segundo o Talmud, Batya tinha ido ao rio para se purificar da idolatria da casa de seu pai e converter-se à religião judaica. Uma mulher justa, seu próprio nome significa “filha de D’us”, e a tradição nos diz que ela estava entre os poucos seletos que entraram no Jardim do Éden (Paraíso) sem passar pela morte.





Yitro



Um sacerdote instruído que tinha explorado todas as divindades conhecidas pelo homens na época, Yitro, sogro de Moshê, juntou-se aos israelitas no deserto, proclamando: “Agora eu sei que D’us é maior que todos os deuses”. Quando ele viu que Moshê estava tentando por si mesmo aconselhar todo o povo no deserto, ele entendeu que a situação era difícil e o encorajou a designar juízes para ajudá-lo [daqui originou-se a estrutura dos tribunais e julgamento por juízes e suas instâncias]. Ele é mencionado por sete nomes diferentes no decorrer da Escritura.





Rahab



Os sábios nos dizem que Rahab era excepcionalmente bela. Quando o povo de Israel se preparava para entrar na Terra Prometida, enviaram dois exploradores para inspecionar a cidade de Jericó. Rahab, que é descrita como uma zoná – que pode ser traduzido como “meretriz” ou “estalajadeira” – abrigou os enviados e os ajudou a fugirem da captura, e como recompensa pela sua bondade ela e sua família foram poupadas da destruição da cidade. Após se converter, Rahab casou-se com Joshua, e sua união produziu lideres como Yirmiyahu e Yechezekel.





Ruth



Princesa moabita que ficou viúva de seu marido judeu, Ruth seguiu fielmente sua ex-sogra até Bethlehem na Judéia, com a famosa expressão: “Onde quer que você vá, eu irei; e onde te abrigares, eu me abrigarei; teu povo será meu povo, e teu D’us meu D’us”. Sua devoção foi percebida por Boaz, um líder piedoso e rico. Como é descrito no Livro de Ruth, os dois se casaram, e seu bisneto foi ninguém menos que o Rei David. Ruth é considerada com uma convertida exemplar, e sua história é lida em Shavuot, o dia quando todos nos convertemos no Sinai.





Obadia, o profeta



Obadia é o autor do minúsculo Livro de Obadia, que possui apenas 21 versos. Embora a escritura nos conte pouco sobre sua linhagem, os sábios explicam que D’us escolheu Obadia para dar a profecia sobre o supremo triunfo de Israel sobre Edom porque ele era um edomita convertido. Um ministro do perverso Rei Ahab e da Rainha Jezebel, Obadia é descrito como alguém que “temia muito a D’us”. Quando Jezebel organizou sua campanha para exterminar os profetas de D’us, Obadia corajosamente escondeu 100 profetas em cavernas e gastou todo seu dinheiro para alimentá-los e sustentá-los. Sua esposa foi a mulher para quem Elisha realizou o milagre do óleo que continuou brotando, em seu mérito.





Shemayah e Avtalyon



Descendentes de Sennacherib, da Assíria, esses dois eruditos atuaram ao mesmo tempo como presidente e chefe de justiça do Sanhedrin – a Suprema Corte, em Jerusalém. Os registros são escassos, e é possível que eles fossem os filhos de convertidos em vez de eles próprios os convertidos. Apesar disso, é claro que suas realizações de Torá foram amplamente reconhecidas e muito valorizadas. Em um Yom Kipur enormes multidões se reuniram ao redor deles e isso despertou a inveja do sumo sacerdote, que zombou da humilde origem deles. Eles não ficaram passivos e responderam sabiamente.

Shemayah ensinava: “Ame o trabalho, despreze o domínio sobre os outros, e evite intimidade com o governo.

O ensinamento mais conhecido de Avtalyon: “Eruditos, sejam cuidadosos com suas palavras, pois vocês podem ser exilados a um local habitado por maus elementos [que irão distorcer suas palavras para adequar aos seus propósitos negativos]. Os discípulos que vieram depois de vocês irão então beber dessas águas más e ser destruídos, e o Nome do Céu será profanado”.





Ben Bag Bag e Ben Hey Hey



Na geração após Shemayah e Avtalyon, encontramos outro par de convertidos conhecidos como Ben Bag Bag e Ben Hey Hey. Presumivelmente por causa do perigo envolvido em converter-se ao Judaísmo na época, seus nomes na verdade eram códigos para suas verdadeiras identidades. Hey é a letra hebraica que foi adicionada aos nomes de Avraham e Sarah. Assim Ben [“filho de”] hey hey confere ao convertido o status como um filho de Avraham e Sarah. Bag bag leva o código um pouco além, pois bag é soletrado beit e gimmel, que juntas têm o mesmo valor numérico que hey. Alternativamente, Bag Bag pode ser um acrônimo para Ben gueir uben guiyoret (“o filho de um convertido e uma convertida”). Qualquer que seja o motivo para seu nome, Rabi Yochanan Ben Bag Bag era conhecido por ser fluente em todas as áreas da Torá, e Ben Hey Hey era famoso por conversar com Hillel.





Rainha Helena de Adiabene



Helena (ou Hilni, como era conhecida em hebraico) foi a rainha de um pequeno país idólatra. Ela e seus filhos ouviram falar sobre o Judaísmo e aceitaram as crenças judaicas como suas. Seus sete filhos se esforçaram em Torá e se tornaram excelentes eruditos. Quando um foi para a guerra, ela prometeu ser uma Nazir por sete anos. Viajou a Jerusalém para levar os sacrifícios exigidos, e ficou. Era extraordinariamente generosa com o povo judeu em Jerusalém e com os cofres do Templo, doando muitos vasos de ouro.





Rei Monobaz



O Rei Monobaz (ou Munbaz) II, filho de Helena, seguiu o exemplo de sua mãe, partilhando livremente sua riqueza, até mesmo esvaziando seus cofres reais durante períodos de fome em Jerusalém. Quando seus parentes reclamaram, “Seus pais preservaram aquilo que receberam e até acrescentaram, enquanto você simplesmente desperdiça tudo!”, ele respondeu calmamente: “Sim, meus pais juntaram fortunas aqui, mas eu juntei uma fortuna no céu”.





Rabi Yochanan Ben Torta



Rabi Yochanan Ben Torta foi um dos grandes sábios e líderes na geração que viveu durante a destruição de Jerusalém. Como ele entrou no Judaísmo? Certa vez ele comprou uma vaca de um judeu. A vaca trabalhava a semana inteira, mas se recusava a trabalhar no Shabat. Ao aprender sobre o conceito do Shabat, ele ficou tão impressionado que se converteu ao Judaísmo e se destacou em seus estudos.





Onkelos



Em sua edição padrão dos Cinco Livros de Moshê com comentário, pode-se ver a tradução de Onkelos à esquerda do texto principal em hebraico.
Onkelos foi sobrinho do imperador romano Adriano. Bem preparado nas culturas grega e romana, ele se afastou da riqueza e do poder de sua família e se converteu ao Judaísmo. Notando que o aramaico estava se tornando rapidamente o idioma dominante do povo judeu, Onkelos transcreveu uma fiel tradução aramaica da Torá, que foi impressa desde então em toda edição padrão.





O Kuzari



Uma das obras filosóficas mais importantes de todos os tempos foi escrita por Rabi Yehudah Halevi, um erudito e poeta judeu que viveu na Espanha. Conhecido como o Kuzari, o livro é formado ao redor de conversas teóricas de um rei Khazar que estava procurando a “verdadeira fé”. Ele cita um sábio judeu e representantes de outras religiões, e no decorrer de suas conversações se torna convencido de que o Judaísmo é a verdade, decidindo enfim se converter.

Embora o livro certamente não seja uma narrativa histórica de uma verdadeira conversa (ou séries de conversas), reflete uma verdade histórica. Havia um reino de Khazares, cuja nobreza tinha se convertido ao Judaísmo. Pouco se sabe sobre eles com absoluta certeza.





Outro Obadia



Johannes, filho de Dreux, nascido numa família normanda nobre ao sul da Itália, estava a caminho do sacerdócio cristão quando ouviu falar do arcebispo de Bari se convertendo ao Judaísmo. No ano 1102, seguindo um sonho impressionante, ele começou a explorar o Judaísmo, e logo determinou que as profecias na Torá não podiam ser entendidas da maneira como os cristãos geralmente as interpretavam. Mesmo enquanto judeus estavam sendo abatidos pelos cruzados, dos quais alguns eram membros de sua própria família, ele decidiu se juntar ao povo judeu, adotando o nome Obadia. Vários dos seus escritos foram preservados na guenizá do Cairo, incluindo fragmentos de sua autobiografia e um hino que ele compôs para ser entoado em Shavuot em homenagem a Moshê.





Mais Outro Obadia?


Na mesma época encontramos evidências de outro Obadia, que se converteu do Islã ao Judaísmo. Ele poderia dizer as partes da prece que se referem a Avraham, Yitschac e Yacov como seus antepassados? Poderia ele agradecer a D’us por ter “nos” tirado do Egito ou agradecer a Ele por não ter feito dele um não-judeu – todas as partes da liturgia de prece padrão? Maimônides respondeu a suas cartas, assegurando que ele poderia. Como um total membro da nação judaica, Obadia era tanto um descendente de nossos patriarcas, e herdeiro de uma tradição majestosa, como qualquer outro judeu.





Moshe Ben Avraham



Nascido em Nikolsburg ou Praga (ambas atualmente na República Tcheca), Moshe foi um impressor no início do século 18 que trabalhou em muitos livros judaicos importantes em Amsterdam, onde tinha se convertido ao Judaísmo. Ele escreveu Tolaot Moshê, que se acredita ser o primeiro livro yidiche de geografia. Eli inclui seções das Dez Tribos, o Jardim do Éden, África, Groenlândia, as Américas, Europa e Ásia, e conclui com um capítulo sobre a era messiânica.





Lord George Gordon



Nascido numa família nobre escocesa em Londres em 1751, Lord George Gordon foi abençoado com um forte senso de justiça. Ficava aborrecido pelo tratamento dos escravos nas Américas quando esteve na Jamaica na Marinha Real, e decidiu entrar na política. Como membro do Parlamento envolveu-se nas questões da Guerra da Independência Americana, e foi acusado (e mais tarde absolvido) de traição após liderar uma marcha através de Londres para petição ao Parlamento sobre o assunto. Depois disso, suas opiniões religiosas vieram à tona, e ele começou a se encontrar com judeus e estudar a Torá. Embora seu pedido inicial tenha sido negado, ele por fim se converteu ao Judaísmo, adotou o nome Yisrael e juntou-se à comunidade judaica de Birmingham. Com uma barba longa e tradicional roupa judaica, ele se devotava à Torá, mitsvot e caridade. Ele foi preso uma segunda vez porque o governo estava ressentido pelo seu abandono anterior. Sua família se envolveu e conseguiu arranjar para ele uma dieta casher, observar os Shabatot e os feriados, e tocar violino para outros prisioneiros. Para demonstrar simchá (alegria) em face da adversidade, ele fazia festas em sua grande cela para quem quisesse comparecer, e pessoas de todas as esferas da vida se tornaram interessadas em sua conversão e na Torá como resultado. Mesmo quando sua sentença terminou, recusaram a sua libertação. Contraiu tifo e faleceu na prisão aos 42 anos.





 Avraham ben Avraham



Perto do túmulo do Gaon de Vilna estão os restos mortais de Avraham ben Avraham, que se converteu ao Judaísmo no Século 18. Um membro legendário da nobre família Potocki, ele viajou secretamente a Amsterdam para se converter de acordo com a tradição, e então devotou muitos anos ao estudo de Torá. Ele foi delatado pelas autoridades enquanto morava perto de Vilna e, após recusar-se a renunciar a sua fé judaica, foi queimado na estaca pela Igreja Católica Romana no feriado de Shavuot.





Warder Cresson



Nascido numa família Quaker na Filadélfia em 1798, Warder Cresson foi escolhido como o primeiro cônsul americano em Jerusalém. Quando chegou à Terra Santa, porém, ele descobriu que sua nomeação tinha sido rescindida. Mas ele estava tão interessado pela comunidade judaica que resolveu se converter. Voltou à Filadélfia para resolver seus negócios antes de mudar para a Terra Santa permanentemente. Sua esposa e família tentaram detê-lo, alegando que ele estava insano e precisava ser internado. Num julgamento amplamente divulgado ele foi considerado como estando com a mente sã, e logo fez a viagem para Jerusalém novamente. Ali ele se casou com uma mulher sefaradita chamada Rachel Modelano (ele e sua primeira esposa tinham se divorciado), e viveu como um judeu sefaradita sob o nome de Michael Boaz Yisrael até seu falecimento em 1860.





A Família na Porta ao Lado

O mundo judaico contemporâneo está profundamente enriquecido pela presença de milhares de sinceros convertidos ao Judaísmo – homens e mulheres de um caleidoscópio de origens que decidiram se juntar ao povo judeu. Invariavelmente foi uma longa jornada que provavelmente incluiu muita busca na alma, conflito, dúvida, e uma grande dose de fé e convicção. Pode ser a mulher sentada ao seu lado na sinagoga, o professor de hebraico de seu filho, ou a família da mesma rua. Os guerei tsedek (justos convertidos) são parte integrante da mishpachá judaica (família) e se você mesmo é um guer tsedek, estendemos-lhe os nossos cumprimentos: bem-vindo a bordo! Estamos felizes por estar conosco.

(Fonte: Ministério da Educação de Israel)

sexta-feira, 15 de março de 2019

Hamashbir (4)


Sobre traduções

Como todos sabem, o Pai Nosso é uma oração que teria sido feita por Jesus, um judeu que andou pela Galiléia há uns dois mil anos. A tradução dessa oração contém muitos erros, e que eu imagino que tenham sido propositais. Gregg Braden, em seu livro O Efeito Isaías, faz observações muito interessantes sobre essa questão: “Um exemplo de como a aproximação (em casos de tradução) pode alterar sutilmente uma tradução bem-intencionada são as palavras aramaicas para a primeira linha do Pai Nosso. Em inglês, lê-se: “Our Father which art in heaven” (em Português: “Pai Nosso que estás no céu”). No “original aramaico”, prossegue Braden, “a mesma frase é constituída de duas palavras: Abwoon d´bwashmaya. Não existem palavras exatas em inglês (e nem em português) para essas duas palavras do aramaico. Aos tradutores, restou criar engenhosas associações de palavras inglesas que se aproximassem do significado original. Uma amostra dessas aproximações é ilustrada pelas seguintes traduções possíveis do Pai Nosso: “Ó, Aquele que cria! Pai e Mãe do Cosmo”; “Ó, Tu! Respiração vital de tudo”; “Nome dos Nomes, nossa pequena identidade se desenrola dentro de ti”; “Ó, Radiante: Tu brilhas dentro de nós”. Todas essas traduções das palavras originais são válidas e cada uma expressa um sentimento diferente para a intenção do texto original.”



Como afirmo em sala de aula, o aramaico é uma das línguas mais poéticas que existem. Imagino que, no futuro, muitos irão estudar e recuperar essa língua morta. Menos armas e mais poesia, para a Era do Mashiach.

quarta-feira, 13 de março de 2019

Nevuah (4)



“Quando você ouvir que os russos capturaram a Criméia, deve saber que o tempo do Mashiach começou, que seus passos já são ouvidos. E quando você ouvir que os russos chegaram na cidade de Constantinopla (atual Istambul), você deve colocar suas roupas de Shabat e não tirá-las mais porque significa que o Mashiach deve chegar a qualquer minuto”.



Vilna Gaon (1720-1797)

quinta-feira, 7 de março de 2019

Mocha de Ilaah (6)


Tabernáculo



Tudo, na Kabbalah, é mais simples do que parece...



Hashem quis habitar na realidade, e por isso estamos aqui, na dimensão do tempo, do espaço e do movimento, que é a dimensão de Malchut, ou Assyiá. Jocosamente, digo em sala de aula que “D´us quis tomar uma cerveja gelada e por isso nos criou”.



Para um religioso, o que digo é um anátema. Para um cabalista, é uma verdade profunda, de dimensões cósmicas.



Fomos acostumados, e manipulados, pelas autoridades religiosas, a pensar na queda de Adão e Eva (que maravilhosa alegoria de Chochmá e Biná) como uma tragédia. Mas foi, sob o ponto de vista da Kabbalah, uma brachá, uma benção, o começo da redenção da matéria. O Tikun ha Olam (a reparação do mundo) é trabalho nosso, que está se desenvolvendo em três fases históricas bem distintas: Tohu e Bohu (caos e confusão), Torah (instrução pela Luz) e Mashiach (a revelação do Criador às Suas criaturas neste mundo). Sem esse Tikun ha Olam, sem essa purificação do espaço material, o Criador, a Essência Transcendente, não teria como habitar na realidade. Ou, como dizemos na internalidade de nosso grupo de kabbalah, a Shekinat não teria um lugar digno para habitar, já que a Arca da Aliança está ocultada desde antes da destruição do primeiro Templo, destruição feita por Nabucodonossor, Imperador da Babilônia, e seu general Nevuzaradan, 410 anos depois de sua construção pelo Rei Salomão.



Tudo o que precisamos fazer como cabalistas é “ajeitar a casa”, é “limpar o ambiente”, é perfumar o Mishkan para que a profecia do Monte Sinai se torne realidade mais uma vez, quando Hashem ordenou a Moisés: “Prepara para Mim um Mishkan (Tabernáculo) e Eu habitarei no meio deles”. No meio deles, dos que lá se encontravam, dentro das almas. E ainda tem gente que pensa que D´us habita em sinagogas, igrejas, mesquitas e santuários de outras crenças.    

quarta-feira, 6 de março de 2019

Otiot (3)


O significado da Letra Beit



A letra beit, da palavra “casa”, refere-se à casa de D’us: “Minha casa será uma Casa de Oração para todos os povos”. O Midrash afirma que a motivação Divina para a criação foi que o Santo, Bendito seja, desejava uma morada nos mundos inferiores. A concretização deste desejo começou com a criação do homem, uma alma Divina investida em um corpo físico, e prosseguiu com a multiplicação do homem, para “conquistar” o mundo todo e torná-lo o reino de D’us.



A Torá precede a descrição detalhada do Tabernáculo e seus utensílios com a declaração de seu propósito fundamental: “E eles farão para Mim um Santuário e Eu habitarei dentro deles.” Não “dele”, explicam os Sábios, mas “deles” — em cada cabalista. “Habitar dentro deles” é, essencialmente, a revelação da Divindade sobre o povo de Israel — sempre presente, mas frequentemente “obscurecida”, como na época do exílio e da destruição do Templo. A santidade inata do povo de Israel, o “santuário de D’us”, quando revelada e conectada à da terra de Israel faz a Terra Santa se expandir e, eventualmente, abranger toda a terra (mundo inferior): “A terra de Israel se expandirá, no futuro, sobre todas os lugares da terra.”



Beit é numericamente igual à palavra ta’avá, que significa “desejo” ou “paixão” (412). De um modo geral, “ta’avá” denota uma característica humana negativa. Entretanto, em diversos lugares, “ta’avá” indica a paixão positiva do tzadik, o homem justo. Uma passagem em Provérbios afirma: “Ele cumprirá a paixão do tzadik”, e uma segunda diz: “As paixões dos tzadikim são somente boas.” A “ta’avá” de D’us, o “Tzadik do mundo” está totalmente acima da razão e da lógica. Neste nível, não se pergunta “por que”. Como expressou Rabi Shneur Zalman de Liadi: “Sobre a paixão, não pode haver pergunta”. Assim como D’us é a essência do bem, também Sua paixão é “somente bem”.



“Com quem o Santo, Bendito seja, Se aconselhou sobre criar ou não o mundo? Com as almas dos tzadikim”. As “almas dos tzadikim” referem-se a todas as almas judias e dos justos das nações, como é dito: “Todo Seu povo é de tzadikim.” A conotação de D’us como o “Tzadik do mundo” se refere à origem e união absoluta da alma do cabalista em Sua própria Essência. Quando a alma desce para se investir na consciência finita e na vivência de um corpo aparentemente mundano, sua tarefa é tornar-se o tzadik aqui embaixo, emulando verdadeiramente sua Fonte, o “Tzadik Acima”. Isto é alcançado através do refinamento e purificação da paixão, ta’avá, para que ela se torne “somente bem”.



O “Tzadik Acima” habita na Casa construída para Ele pelo tzadik aqui embaixo. Aqui, a paixão mais profunda do Criador se concretiza. O beit grande, a primeira letra da Torá e o começo da Criação, expressa este propósito fundamental, como é dito: “A última ação é a primeira a surgir no pensamento”. Na primeira palavra da Torá, Bereishit, as três letras “serviçais” — o prefixo beit e as duas letras sufixas, yud e tav — formam bayit, “casa” (equivalente à soletração total da letra beit). A raiz de “bereishit”, rosh, significa “cabeça”. Assim, a permutação mais “natural” de bereishit é lida como: rosh bayit, “a cabeça da casa”. Uma troca das letras de rosh forma osher, “alegria”. Quando o tzadik atrai D’us, a “Cabeça”, para dentro de Sua Casa, esta se torna uma casa de alegria verdadeira e eterna.



Trazer a “Cabeça” para habitar em Sua “Casa” aqui embaixo, em verdadeira alegria, é o segredo de brachá, “bênção”, que começa com a letra beit. Nossos Sábios ensinam que o “grande beit” inicia a Criação — e a Torá como um todo — com o poder da bênção. D’us abençoa Sua criação, a qual Ele criou com o atributo da bondade, o atributo de Avraham (Abraão). Avraham recebe subsequentemente o poder da bênção, o “grande beit” da Criação, como é dito: “E você será [aquele que concede] bênção.” Posteriormente, no momento de sua circuncisão, lhe foi concedido o “pequeno hei” da Criação, o poder de atrair para baixo e manifestar a bênção Divina da alegria no mais ínfimo detalhe da realidade.



A Bênção Sacerdotal é composta de três versículos. O número de palavras aumenta na ordem de 3, 5 e 7, sempre com a mesma diferença de dois, beit. O número de letras aumenta na ordem de 15, 20 e 25, sempre com a mesma diferença de cinco, hei. As palavras representam uma consciência total, ou ampla, enquanto as letras representam uma consciência particular, ou pequena. O poder de abençoar “totalmente” é o poder da letra beit, como é dito: “E repleto com a bênção de D’us.” O poder de atrair a bênção para o mais ínfimo detalhe da realidade pertence ao hei.



Este serviço de Avraham, e de todos os judeus e justos das nações depois dele, leva à concretização da intenção primordial da Criação, a compreensão do poder de bênção de Israel, de que o domínio do Rei (a “Cabeça da Casa”) se expande para abranger toda a realidade, e, portanto, conceder verdadeira alegria a todos.



FORMA

Três vavs conectados com uma abertura à esquerda, o “lado norte”.



Mundos

“O mal começa pelo norte”.

A habilidade do homem de escolher entre o bem e o mal.

Os três traços de caráter positivos da alma animal e a má inclinação. A abertura do lado norte simboliza o atributo da coragem.



Almas

A abertura do lado norte simboliza o “temor ao céu”.

“Tudo está nas mãos do céu, exceto o temor ao céu”.

Mashiach fechará o lado aberto — a integração do livre-arbítrio e a Onisciência.

Falar Torá — revelar a faísca interior de Mashiach.



Divindade

Lados Fechados — revelação Divina — “Você” — em mente, coração e ação.

Lado Aberto — ocultação Divina — “Ele” — no coração encoberto — a escuridão acima da luz.



NOME

Casa



Mundos

Uma casa física.

A “casa” metafísica da pessoa — seu relacionamento com a realidade.

Toda a Criação é uma “casa” em relação a D’us.

O prazer supraconsciente — “Um homem sem uma casa não é um homem”.



Almas

O aspecto feminino da alma representado pela casa.

“A casa de um homem é a sua esposa”.

A alma como uma casa para D’us — a filha do sacerdote.

O poder da gestação.



Divindade

O desejo de D’us de fazer uma morada para Si nos mundos inferiores.

A Casa da Imanência e a Casa da Transcendência.



NÚMERO

Dois



Mundos

O início da pluralidade revelada.

A natureza dualística da Criação.

Complexidade hierárquica.



Almas

A alma descrita como a “subordinada do Rei”.

Yossef: o efeito Prisma — a revelação da mente.

Mordechai: o efeito Temporal — a revelação do coração.



Divindade

O Próprio poder Divino de conter duas oposições.

Ocultação da essência Divina e revelação de Sua luz.

Ocultação e revelação da luz em estados de consciência baixos e elevados.

A Torá começa com um beit grande.

O Nome Havayeh e o Nome Elokim.

“Os dois companheiros que nunca se separam”.


Shamati (127)

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