2020: O ano que mudou as nossas vidas
Por que essa pandemia é diferente de todas as pandemias que
já existiram?
A luta pela sobrevivência da humanidade sempre foi a luta
contra as bactérias e os vírus. Somos feitos de bactérias e vírus, pois incorporamos
os patôgenos e os forçamos a trabalhar a favor do nosso organismo. A palavra organismo
deriva de órgão, do grego Organon, instrumento ou utensílio. Somente
depois do século XVII, passou a ser usado para órgãos do corpo humano. Nas igrejas antigas, alguns órgãos ainda tocam.
E o que é um órgão,
hoje? É uma parte de um ser organizado.
Meio tautológico. Ou seja, órgão é algo (sistema) que precisa funcionar
colaborativamente, sob pena de perecer. O órgão cardíaco não pode funcionar
sozinho, precisa do sangue, que precisa dos pulmões...
Trilhões de bactérias e vírus compõem o nosso organismo, chamado corpo. E todos trabalham para o bem
comum. Quando não fazem isso, matam o hospedeiro.
E aí eles próprios morrem. Por isso, os vírus e as bactérias tratam de diminuir
sua própria letalidade. Ou seja, eles se submetem, eles deixam de ser egoístas.
E essa é a grande lição da natureza (gemátria
86), que também chamamos de Elohim (Criador).
Somos todos bactérias e vírus. Somos todos iguais. Mas nosso organismo tem algo em desequilíbrio com
a natureza, que é o ego, que nos leva a acabar com os
estoques de comida, de álcool gel, de máscaras sanitárias.
Nas outras pandemias não havia a interconectividade que temos hoje. Nem nos transportes, nem nas
comunicações. Em semanas, esse novo vírus infectou milhões de pessoas, numa
velocidade sem precedentes.
A Internet, com suas redes sociais, que se tornou um campo de
batalha, uma legítima rede de ódio mútuo,
pode se tornar agora uma grande rede de solidariedade
e de compaixão.
No meu Grupo Kadosh,
grupo de estudo e de prática da mais antiga ciência da Humanidade, a Kabbalah,
existem todos os tipos de pessoas, de motorista de aplicativo e padeiro e
filósofo, psiquiatra, médico, advogado, professor universitário e muitas outras
profissões. Com a quarentena, muitos
deles ficarão sem sustento, por que não cumpriram a regra de separar a Kapará. Se vivêssemos em 1919,
morreríamos de fome, mais do que pelo vírus.
Eu estou de quarentena rigorosa, mas trabalhando a todo
vapor. Dou aulas por videoconferência para oito grupos de Estudos Avançados de
Kabbalah, todos os dias, exceto nos shabatot, que eu respeito.
Eu a Marta dispensamos a Dona Eva, para que ela fique em casa
e se proteja. E nos proteja. Mas ela receberá seu salário integral todos os
meses, porque eu continuarei a receber as mensalidades dos meus alunos. Por isso,
essa pandemia é diferente de todas as outras. Se eu sobreviver, talvez escreva
um novo livro, que se chamará 2020: O ano que mudou as nossas vidas.
Sim, o Corona (Keter, em hebraico, que agora está
funcionando como Karet, morte) vai
ensinar solidariedade e compaixão à toda a Humanidade.
Observem, e usem como exemplo, o que acabei de produzir na
internalidade de meu grupo.
Uma dentista precisou fechar seu consultório, mas ela não tem
reservas em dinheiro para alimentar os filhos. Pedi que ela me mandasse os seus
dados bancários e depositei-lhe um valor correspondente a duas limpezas dentárias (profilaxia), que ela
fará no futuro, quando puder voltar a
trabalhar manualmente. E incentivei aos meus alunos e alunas que fizessem o
mesmo. Os filhos da dentista não ficarão sem comida. E ninguém precisou dar
esmola para ninguém. Apenas investimos na verdadeira bolsa de valores do futuro.
Keter (corona, coroa) é a Sefirá do Pensamento Puro, da
Criatividade, da Inovação. Depois dessa pandemia, quando vírus já estiver incorporado
ao nosso próprio organismo, nossas
vidas e nossos valores serão outros. O
egoísmo de alguns poucos vai voltar, mas estaremos mais resistentes para
combatê-lo e domá-lo.