terça-feira, 31 de março de 2020

Mocha de Ilaah (9)




Nas Teses sobre o conceito de História (1940), Walter Benjamin conta o causo do Turco, um autômato (uma espécie de robô primitivo) que jogava xadrez e que impressionava as massas ignaras, que iam vê-lo, abismadas.



Gosto das palavras derivadas de abyssimus, baixo Latim, superlativo de abyssus, que derivou do grego abussos, e que em português resultou em abismo. Gosto tanto que escrevi um romance que se chama A face do abismo. Parece que muitos de nós, nesse momento de pandemia, estamos olhando, mais uma vez, para a face do abismo, da mesma forma que olhava Elohym para a face das águas, enquanto seu espírito flanava sobre o abismo. Se eu ainda estivesse na Academia, escreveria um texto sobre Elohym como o primeiro flaneur, para arrecadar uns pontinhos para o Lattes. Walter Benjamin teria se divertido com esse texto, ele que também não suportava as tolas exigências acadêmicas.



Pessoas abismadas são pessoas que supõem que existam coisas insondáveis, misteriosas. Prefiro chamá-las de tolas.



Pois, na historieta de Benjamin os tolos ficavam abismados com o Turco, o autômato jogador de xadrez. Até que um não-tolo descobriu que embaixo da mesa da máquina escondia-se um anão corcunda, que era o manipulador das peças do tabuleiro e o verdadeiro responsável pelos impressionantes resultados do jogo.



Walter Benjamin, um dos meus teóricos de literatura preferidos, deriva da história um remmez magnífico:



1)    O autômato representa o pensamento materialista;



2)    O anão corcunda é o pensamento teológico.



Para operar, o teólogo precisa se esconder, envergonhadamente, embaixo da mesa.



Por isso, depois de ser um autômato por alguns anos na Universidade, resolvi revelar a minha verdadeira identidade de anão corcunda.


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