Malchut, ao expulsar toda a Luz em TA, decide recebê-la com a ajuda de uma “tela”. A Luz Direta chega até ela e a pressiona, desejando entrar. Malchut recusa-se a receber a Luz, lembrando-se da vergonha ardente que sentiu quando a Luz a preenchia. A recusa em receber a Luz implica em refleti-la com a ajuda da tela. Essa Luz é chamada de "Ohr Hozer" (Luz Refletida). A própria reflexão é chamada de "Haka'a" (um impacto) da Luz sobre a tela.
A reflexão do prazer (Luz) ocorre no interior do homem com a ajuda
da intenção de receber esse prazer apenas pelo Criador. Ele calcula o quanto
pode receber para agradar ao Criador. Ele veste, por assim dizer, o prazer que
deseja receber na intenção de doar ao Criador, isto é, receber, sentir prazer
pelo Criador.
A ação de vestir a Luz Direta na Luz Refletida permite à Malchut, após o TA, expandir e receber uma porção da Luz. Isso significa que, nesse
ponto, ela torna-se semelhante ao Criador ao unificar-se com Ele. O Propósito
da Criação é preencher por completo Malchut
com a Luz do Criador. Dessa forma, toda recepção da Luz será equivalente à
doação e será a plena unificação de toda a criação com o Criador.
Ao direcionar o prazer que recebe à essa intenção (a Luz
Refletida), Malchut anuncia que
deseja sentir esse prazer apenas porque, ao fazê-lo, leva contentamento ao
Criador. Nesse caso, a recepção é igual à doação, uma vez que o significado
dessa ação é determinado pela intenção do Kli
e não pela direção mecânica da ação, para dentro ou para fora. O prazer sentido
nesse caso será duplo: o de receber a Luz e o de doá-la ao Criador.
Rabi Ashlag ilustra essa situação maravilhosamente com o exemplo
da relação entre um convidado e seu anfitrião: ao receber prazer do anfitrião,
o convidado modifica-o e o transforma em doação. Ele visita o anfitrião, que
sabe exatamente o que ele mais gosta. O convidado senta-se na frente do
anfitrião e este dispõe para ele todos os seus pratos preferidos na quantidade
exata do seu apetite.
Se o convidado não tivesse visto o doador, o anfitrião, teria se
lançado sobre todas as iguarias sem qualquer constrangimento e sem deixar
sobrar nada, já que essas iguarias são exatamente o que ele deseja. Entretanto,
o anfitrião, sentado em sua frente, o constrange, e assim o convidado recusa-se
a comer. O anfitrião insiste explicando o quanto Ele deseja agradar o
convidado, dar-lhe satisfação.
Por fim, ao tentar incentivar o convidado a comer, o anfitrião diz
que a recusa do convidado Lhe causa sofrimento. Somente percebendo que ao
degustar da refeição ele dará prazer ao anfitrião, tornando-se então um doador
ao invés de um receptor, ou seja, tornando-se igual ao anfitrião em suas
intenções e propriedades, por fim ele aceita comer.
Se ocorrer a situação em que o anfitrião deseja satisfazer o
convidado dispondo diversas iguarias à sua frente e o convidado, em troca,
come-as com a intenção de dar prazer ao anfitrião, assim satisfazendo-se, essa
condição é chamada de interação por impacto (Zivug de Haka'a). Entretanto, isso só pode ocorrer depois de o
convidado ter rejeitado por completo o prazer.
O convidado só aceita a refeição quando tem certeza de que ele
agrada o anfitrião ao recebê-la, como se fizesse um favor a ele. Ele recebe
apenas na medida da sua capacidade de não pensar no seu próprio prazer, mas sim
no prazer do anfitrião, em outras palavras, do Criador.
Assim, por que precisamos de todos os prazeres do nosso mundo se
eles têm origem no sofrimento? Assim que um desejo é satisfeito, o prazer é
"extinguido" e desaparece.
O prazer só é sentido quando há um ardente "desejo de
receber" esse prazer. Através da correção dos nossos desejos,
acrescentando a eles a intenção "pelo prazer do Criador", podemos
desfrutar infinitamente, sem sentir "fome" antes de receber prazer.
Podemos receber um enorme prazer ao levar contentamento ao Criador através do
constante aumento, em nós mesmos, da sensação da Sua Grandeza.
Uma vez que o Criador é eterno e infinito, nós, ao sentirmos Sua
Grandeza, criamos em nós mesmos o Kli
eterno e infinito - a fome por Ele. Assim, podemos sentir prazer eterna e
infinitamente. No Mundo Espiritual, qualquer recepção de prazer gera um desejo
ainda maior de "receber" esse prazer, e isso continua eternamente.
A satisfação torna-se equivalente à doação: o homem doa, vê o
quanto o Criador sente prazer, e adquire um desejo ainda maior de
"doar". Entretanto, o prazer em doar deve também ser altruísta, isto
é, com o propósito de doar e não com o propósito de receber prazer por isso. Do
contrário, será uma doação para auto-satisfação, assim como quando doamos
enquanto buscamos nossos próprios objetivos.
A Cabalá ensina ao homem como receber prazer da Luz com a intenção
pelo Criador. Se o homem puder restringir todos os prazeres deste mundo, ele
será capaz de sentir, instantaneamente, o Mundo Espiritual. Então, o homem cai
sob a influência das forças espiritualmente impuras. Pouco a pouco, elas lhe
proporcionam um egoísmo espiritual adicional. Então o homem constrói uma nova
tela sobre esse egoísmo com a ajuda das forças puras e, assim, pode receber uma
nova porção de Luz, que corresponde à medida do egoísmo corrigido por ele.
Dessa forma, o homem sempre tem o livre arbítrio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário