quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Mocha de Ilaah (11)

 

As meditações cabalísticas de Shalom Sharabi

(Ariel Bar Tzadok)

 

O Rashash (acrônimo de Rabi Shalom Sharabi) organizou as kavanot de Isaac Lúria de forma precisa, acrescentando o que lhe foi ordenado diretamente por Elyahu Hanavi (profeta Elias). De acordo com a tradição sefaradita, antes de sua morte, o Ari disse aos seus alunos que se eles tivessem mérito ele voltaria ao Gilgul e continuaria a ensiná-los. Nossos sábios dizem que o Ari cumpriu a sua promessa e reencarnou como Rashash.

 

O Rashash foi respeitado como líder comunitário muito além do confinado círculo dos cabalistas. Como são todos os cabalistas sefaraditas, ele foi mestre em curas e milagres. O episódio mais famoso sobre as habilidades e poderes de Rashash ocorreu num Shabat.

 

Um membro de seu grupo engoliu acidentalmente uma poção de veneno e ficou à beira da morte. Seus colegas correram para pedir socorro ao Rav Sharabi. Ele chamou um Sofer Stam (um escriba de Torah) e instruiu-o a escrever um número específico de Nomes Divinos num pergaminho, e esse pergaminho foi dobrado e engolido pelo doente. Como era uma questão de vida ou morte, Sharabi violou o Shabat (Pikuah Nefesh Doheh HaShabat, um caso de vida ou morte supera a observância do Shabat). Logo depois de engolir o pergaminho, o aluno se recuperou. O texto que Shlomo Sharabi usou para salvá-lo ainda é usado hoje em dia pelos cabalistas.

 

A maior contribuição de Rashash é o seu livro Nahar Shalom, que detalha segredos das meditações e kavanot. Esse texto foi recebido tão bem pelos cabalistas que hoje em dia é publicado como a parte III do Etz Chaim, do rabi Chaim Vital. Outra grande contribuição do Rashash é o seu Sidur, conhecido como Sidur HaRashash. Esse Livro de Orações tornou-se um padrão de Sidur cabalístico, usado tanto por cabalistas sefaraditas quanto por cabalistas asquenazitas.

 

Muitos judeus, hoje em dia, inclusive os religiosos, não têm a menor idéia da vastidão cabalística das kavanot que subjazem às orações e que são exatamente essas kavanot que dão às orações o seu poder e significado. São as kavanot (através das orações) que fazem com que as orações sejam ouvidas Acima. É por essa razão que quando rezamos, recitamos a L´Shem Yichud, que conclui com as palavras “L´Shem Kol Yisrael” (em nome de toda Israel), o que significa que quando fazemos as nossas orações não o fazemos como indivíduos, mas como parte de uma nação. Assim, quando as orações dos cabalistas sobem, as nossas orações sobem com as deles.

 

Em alguns sistemas, hoje em dia, se decidiu que não é necessário rezar com kavanot, afirmando-se que não se precisa disso porque se sabe o que as kavanot significam, e que é necessário apenas rezar com o significado correto. Essas pessoas realmente não fazem idéia de como a Shefa realmente desce, e quando eu perguntei a alguns desses “entendidos” que me explicassem conceitos básicos das kavanot (por exemplo, como fazer descer a Shefa na palavra “Baruch” em qualquer benção) eles foram completamente incapazes de fazê-lo. Eles me ofereceram explicações de mussar e de chassidut, mas não de kabbalah, e por isso eles não são capazes de fazer os Yichudim apropriados Acima.

 

Não é fácil aprender a fazer kavanot. Um requisito básico para isso é ter conhecimento completo de todo o sistema do Arizal. E ainda assim, a pessoa precisa estudar muito o Shaarei Kavanot (especialmente o Sexto Portão, do Chaim Vital, que reúne os ensinamentos do Ari), e precisa conhecer também o Sidur HaRashash. Embora seja um empreendimento difícil, ainda assim não é impossível. Muitas pessoas, inclusive os Baalei Teshuvá estão estudando com sucesso o sistema de Rav Sharabi hoje em dia.

 

 

Entendendo as Kavanot

 

Kavanot não são apenas meditações cabalísticas sobre o significado dos conceitos gerais expressos nas orações. Na verdade, as kavanot têm mais a ver com as letras das orações do que com as palavras. As kavanot são o poder subjacente de cada palavra e de cada letra de uma oração. A oração, conjugada com as kavanot, é o canal específico através do qual a energia de Hashem, que se chama Shefa, é canalizada para a Terra.

 

Shefa é uma energia real, não é algo simbólico. É o poder que é usado pelos profetas e pelos cabalistas, e que os habilita a atuarem com as mais altas leis da natureza metafísica (milagres). A Shefa, a fim de ser recebida, precisa ser canalizada desde a sua fonte, através de um caminho apropriado, e precisa, no final do processo, repousar sobre um objeto específico, ser ou coisa, de tal forma que a sua energia (da Shefa) ali se manifeste. Neste aspecto, a Shefa é algo parecido com a energia elétrica. Eletricidade é algo que está no ar, embora nessa forma nós não podemos usá-la para fazer funcionar os utensílios elétricos. Primeiro, a energia precisa ser produzida e armazenada, para só depois ser distribuída. Ela então viajará por um intrincado sistema de fios e de estações-de-força até chegar em nossas casas. E lá, dentro da casa, o aparelho que vai usá-la precisará estar conectado à tomada. Ainda assim a energia elétrica não fluirá enquanto não autorizarmos o a aparelho a recebê-la, ligando-o. A canalização da Shefa opera do mesmo modo.

 

A Shefa existe, primordialmente em Ayin Sof, que é o estado absolutamente desconhecido de D´us. Ela está armazenada em Adam Kadmon, que é o padrão genérico do Universo Supernal de D´us (Keter, no Partzuf de Ática Kadisha, Arik Anpin e Zeir Anpin). De lá, a Shefa precisa ser canalizada corretamente através dos caminhos completos e apropriados através de todos os níveis objetivos e subjetivos dos planos espiritual (Atzilut), mental (Beriá), verbo-emocional (Yetzirá) e físico (Assyiá) a fim de ser recebida aqui, no mundo material, para a realização da função para a qual foi puxada para baixo. Mitzvot e orações são os veículos escolhidos para isso. Kavanot são as formas espirituais de comunicação, e as nossas mitzvot diárias e as nossas orações fornecem o “sistema de fiação” para que a Shefa seja puxada para baixo e aproveitada em nossas vidas. Assim, cada ação nossa, cada letra e cada palavra das nossas orações, é um código que representa o tipo, a direção, a intensidade e o fluxo da Shefa. Por essa razão, por exemplo, quando recitamos uma benção, agradecemos a Hashem com uma fórmula específica. Por exemplo, nós recitamos: “Baruch Atah Hashem Elokeinu Melech HaOlam”, que significa “Abençoado és Tu, Hashem, nosso D´us, Rei do Universo”. Essa frase é um código secreto, em que cada letra representa uma multidão de coisas, com significados múltiplos. O “Sistema de fiação espiritual” é o caminho que a Shefa toma desde a sua fonte em Ayin Sof, o Absoluto, através das Sefirot, que são os filtros de Hashem, até a Terra, os nossos corpos e as nossas vidas. O poder que movimenta a Shefa são as nossas intenções, os nossos pensamentos, os nossos desejos, ou seja, as nossas kavanot. Esse é o segredo do verdadeiro poder espiritual e que complementa a observância das mitzvot.

 

A função da canalização da Shefa é imaginar o seu movimento em nosso “olho da mente” e ativar essa visão, fazendo-a real, pelo poder e pela conexão que temos com o “Desejo Supremo”. Em cada uma das palavras que recitamos nas orações cabalísticas, existe um código específico sobre o nível em que estamos, que tipo específico de Shefa está sendo direcionado, pronto para ser “colhido” e movimentado pela próxima palavra da oração. Os Nomes Divinos listados dentro de cada palavra da oração não são Nomes (ou palavras mágicas) para serem recitados, mas são “sinalizações” através do caminho que a Shefa toma no descenso ou no ascenso. Os Nomes Divinos são usados da mesma forma como se usam as fórmulas matemáticas para se expressarem as leis e os conceitos da física. Portanto, olhar para os Nomes Sagrados como se eles fossem símbolos de uma Realidade Superior é um sério e grave erro.

(Tradução de Charles Kiefer)


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