terça-feira, 22 de novembro de 2022

Shamati (59)

  

59. Sobre a vara e a serpente

(Ouvi em 13 de Adar, Tav-Shin-Het, 23 de fevereiro de 1948)

 

Então Moisés respondeu, dizendo: Mas eles não acreditarão em mim” etc. “E o Eterno disse para ele: ‘Que é isso em tua mão?’ - e disse: “Uma vara”. E Ele disse: ‘Jogue-a ao chão”… E virou uma cobra, e Moisés fugiu de sua face” (Êxodo 4:1-3).

 

Devemos interpretar que não há mais do que dois degraus, ou Kedushá (Santidade) ou Sitra Achra (Outro Lado). Não há estado intermediário, mas a mesma vara se torna uma serpente se jogada ao chão.

 

A fim de entender isso, vamos primeiro trazer as palavras dos nossos sábios, de que Ele havia colocado a Sua Shechiná em árvores e pedras. Árvores e pedras são chamadas coisas de importância inferior, e especificamente desta maneira Ele colocou a Sua Shechiná. Esse é o significado da pergunta “Que é isso em tua mão?”.

 

Uma “mão” significa alcançar (attainment), a partir das palavras “se uma mão alcança”. Uma “vara” significa que todas as obtenções estão construídas no discernimento de importância inferior, o qual é a fé acima da razão.

 

A fé é considerada como tendo importância inferior, e como humildade. O indivíduo aprecia as coisas que se vestem dentro da razão. Contudo, se a mente do indivíduo não alcança isso, mas resiste, então ele deve dizer que a fé é de importância superior a sua mente. Segue-se que nesse momento ele rebaixa sua mente e diz que a fé é mais importante que sua mente, que aquilo que ele compreende através da razão resiste ao caminho do Criador. Isso é assim por que todos os conceitos que contradizem o caminho do Criador não têm nenhum valor.

 

Ao contrário: “Que eles têm olhos, mas não veem, têm ouvidos, mas não ouvem”. Significa que a pessoa precisa anular tudo o que ouve e vê e isso é chamado “ir acima da razão”. E, assim, isso tudo parece algo inferior e pequeno.

 

No entanto, em relação ao Criador a fé não é considerada algo pequeno, pois quem não tem nenhuma outra escolha a não ser tomar o caminho da fé considera a fé como algo pequeno. Contudo, o Criador poderia ter colocado a Sua Shechiná em algo que não fosse árvores e pedras, mas Ele escolheu esse caminho, chamado de fé, especificamente. Ele deve tê-lo escolhido porque é melhor e mais bem-sucedido. Podemos ver que para Ele a fé não é considerada como sendo de importância inferior. Ao contrário, esse caminho especificamente tem muitos méritos, mas aparece como insignificante aos olhos das criaturas.

 

Se a vara é jogada ao chão e o indivíduo quer trabalhar com um discernimento mais elevado, ou seja, dentro da razão, degradando o discernimento acima da razão, e esse trabalho lhe parece baixo, então a Torá e o seu trabalho imediatamente se trasformam numa serpente. Esse é o significado da serpente primordial, e esse é o significado de “Quem for orgulho, o Criador lhe diz, ‘ele e eu não podemos viver na mesma morada’”.

 

A razão disso, como já dissemos, é que Ele colocou a Sua Shechiná em árvores e pedras. Portanto, se o indivíduo joga o discernimento da vara ao chão, e se eleva para trabalhar com um atributo mais elevado, isso já é uma serpente. Não há meio termo. Ou é uma serpente ou é Kedushá, pois toda a Torá e o trabalho que o indivíduo teve a partir do discernimento da vara entrou agora para o discernimento da serpente.

 

É sabido que a Sitra Achra não tem luzes. Portanto, também na corporalidade o desejo de receber tem apenas deficiências, mas não a satisfação do preenchimento. E o vaso de recepção permanece para sempre em déficit, sem preenchimento, porque aquele que tem cem quer duzentos e assim sucessivamente. E, dessa forma, o indivíduo morre sem ter sequer a metade do que desejava.

 

Isso vem de raízes superiores. A raiz da Klipá (casca) é o vaso de recepção, e isso não tem correção alguma durante os seis mil anos, que é o tempo estipulado para a correção da humanidade. Sobre os vasos de recepção se realiza o tzimtzum (restrição) e desse modo esses vasos ficam sem Luz e Abundância.

 

É por isso que eles seduzem o indivíduo a atrair a Luz para o seu nível. E as luzes que o indivíduo recebe por estar aderido à Kedushá, já que a abundância brilha na Kedushá, quando os vasos seduzem a pessoa a atrair abundância ao seu estado presente, são recebidos pelos vasos de recepçõa. Assim, esses vasos têm domínio sobre a pessoa, ou seja, eles lhe dão satisfação no estado em que está para que não se mova dali.

 

Portanto, o indivíduo não pode avançar por meio desse domínio, pois ele não tem necessidade de um nível mais alto. E já que não tem necessidade, ele não pode se mover desse lugar, nem mesmo fazer um pequeno movimento.

 

Nesse estado, a pessoa é incapaz de discernir se está avançando na Kedushá ou ao contrário. E isso acontece porque a Sitra Achra lhe dá poder para trabalhar com mais força já que agora ele está dentro do âmbito da razão e isso lhe permite trabalhar num estado que não considera inferior. E assim o indivíduo permanece sob a autoridade da Sitra Achra.

 

Para que uma pessoa não permaneça sob a autoridade da Sitra Achra, o Criador criou uma correção segundo a qual se alguém deixa o discernimento da vara cai imediatamente no discernimento da serpente. A pessoa cai imediatamente num estado de fracasso e não tem poder nem força para evoluir, a menos que opte outra vez pelo discernimento da fé, chamado humildade.

 

Segue-se que os fracassos em si levam o indivíduo a tomar sobre si, mais uma vez, o discernimento da vara, o qual é o discernimento da fé acima da razão. Esse é o significado do que Moisés disse: “Mas se eles não acreditarem em mim e nem ouvirem a minha voz?” Significa que as pessoas não desejam assumer o caminho do trabalho da fé acima da razão.

 

Nesse estado, o Criador lhe disse: “O que é isso em tua mão?” “Uma vara”. “Atire-a ao chão”, e então, prontamente, “ela se transformou numa serpente”. Significa que não há estado intermediário entre a vara e a serpente. É melhor saber se o indivíduo está em Kedushá ou em Sitra Achra.

 

Acontece que, em qualquer caso, a pessoa não tem nenhuma opção senão assumir o discernimento da fé acima da razão, chamado “uma vara”. Essa vara deve estar na mão; a vara não deve ser jogada. Esse é o significado do verso “a vara de Aarão… floresceu” (Números 17:23).

 

Significa que todos os frutos que a pessoa conseguiu no serviço ao Criador foi baseado especificamente na vara de Aarão. Isso significa que Ele queria nos enviar um sinal para sabermos se estamos andando no caminho da verdade ou não. Ele nos deu como um sinal para se saber apenas a base do trabalho, ou seja, sobre qual base o indivíduo está trabalhando. Se a base de um indivíduo é a vara, ela é Kedushá, e se a base é dentro da razão, esse não é o caminho para atingir a Kedushá.

 

Contudo, no trabalho em si, ou seja, na Torá e na oração, não há distinção entre aquele que serve a Ele e aquele que não serve a Ele. Isso é assim porque ali está ao contrário: Se a base está dentro da razão, ou seja, baseada em saber e receber, o corpo fornece combustível para o trabalho, e o indivíduo pode rezar e estudar de forma mais persistente e com entusiasmo, já que tem como base a razão.

 

Porém, quando o indivíduo toma o caminho da Kedushá, cuja base é a doação e a fé, ele precisa de muita preparação para que a Kedushá venha a brilhar para ele. Sem preparação, o corpo não fornece ao indivíduo a força para trabalhar, e ele deve sempre se esforçar extensivamente, pois a raiz do homem é a recepção e dentro da razão.

 

Portanto, se o seu trabalho está baseado nas coisas terrenas, ele pode ficar sempre bem. Mas se a base do trabalho está no discernimento da doação e acima da razão, ele precisa de esforços eternos para que não caia na sua raiz de recepção e dentro da razão.

 

O indivíduo não deve se distrair nem por um minuto, ou ele cairá na rua raiz mundana, chamada “pó”, como está escrito: “Pois tu és pó e ao pó hás de retornar” (Gênesis 3:19). E isso foi após o pecado da Árvore do Conhecimento. 

 

O indivíduo verifica se está avançando na Kedushá ou ao contrário, já que outro deus é estéril e não produz fruto. O Zohar nos dá esse sinal, de que especificamente na base da fé, chamada “uma vara”, são transmitidas ao indivíduo a fecundidade e a multiplicação na Torá. Esse é o significado de a vara de Aarão…floresceu: O florescimento e o crescimento vêm especificamente por meio da vara.

 

Portanto, assim como o indivíduo levanta da cama todos os dias e se lava para purificar o corpo da sujeira do corpo, ele também deveria se lavar da sujeira da Klipá, para verificar por si mesmo se a sua qualidade de vara está em completude.

 

Essa deve ser uma verificação perpétua, e se o indivíduo se distrai dela, ele cai imediatamente na autoridade da Sitra Achra, chamada “receber para si mesmo”. Ele imediatamente se torna escravo dela, pois sabe-se que a Luz faz o Kli. Portanto, por mais que o indivíduo trabalhe a fim de receber, nessa medida ele precisa apenas de um desejo de receber para si mesmo e se distancia das questões relacionadas à doação.

 

Agora podemos entender as palavras dos nossos sábios: “Seja muito, muito humilde.” O que é essa preocupação exagerada que diz “muito, muito”? É porque o indivíduo se torna carente de pessoas ao ter sido homenageado uma vez. Primeiro, ele recebe a honra não porque queria aproveitá-la, mas por outras razões, como a glória da Torá etc. Ele tem certeza desse escrutínio, já que ele sabe a respeito de si mesmo que não tem desejo por nenhum tipo de honra.

 

Segue-se que é razoável pensar que lhe é permitido receber a honra. Porém, ainda é proibido receber, pois a Luz faz o Kli. Portanto, depois de ter recebido a honra, ele se torna carente da honra, ele já está em seu domínio, e é difícil se libertar da honra.

 

Através disso, o indivíduo adquire a sua própria realidade, e agora é difícil se anular perante o Criador, pois por meio da honra ele se tornou uma entidade separada, e a fim de obter a Dvekut (Adesão) o indivíduo deve anular completamente a sua realidade, por isso o “muito, muito”. “Muito” quer dizer que é proibido receber honra para si mesmo, e o outro “muito” quer dizer que mesmo quando a intenção não é para si mesmo ainda assim é proibido receber.

 

Nenhum comentário:

Shamati (130)

    130. Tiberias dos nossos sábios, boa é a sua visão (Ouvi em 1 º de Adar, Tav - Shin - Zayin , 21 de fevereiro de 1947, em uma via...