Pela mira do fuzil
Em Netânya,
enquanto ouvíamos os estouros de interceptação de mísseis lançados da Síria
sobre Israel, ouvi, na presença de outras 42
pessoas (ah, os mistérios e segredos do 42...),
alunos e alunas do Grupo Kadosh, na
sala de reuniões do hotel, a mais linda, impactante e transformadora frase da
minha vida.
Rabbi Joseph Saltoun, que foi soldado israelense na
juventude, e que participou de duas guerras, disse:
“Eu tinha me acostumado a ver os palestinos pela mira do meu
fuzil. Depois que me tornei cabalista, eu comecei a ver o fuzil pelo lado
deles...”
Diz o Talmud que
precisamos colocar os pés nos sapatos do outro, pois só então seremos capazes
de sentir o outro. Sem essa
alteridade, a compaixão não é possível.
Por que não fazemos nós mesmos essa ação?
Nesse momento em que todos os povos da Terra entrarão em grande
turbulência, nesse momento em que a decisão do Knesset de Israel vai abalar as mentes e os corações, e vai colocar
gasolina no incêndio de um novo antissemitismo, precisamos recordar que, em
1948, Israel não reclamou da criação do Estado da Palestina. Aceitou. Mas os
ingleses vetaram a criação do outro estado, e permitiram somente a criação do
Estado de Israel. Agora, Israel é um estado totalmente judaico, com o hebraico
como língua oficial, com Jerusalém como sua
capital indivisível.
Retornando à frase do Saulton. É preciso coragem para um
judeu, e rabino, dizer o que ele disse diante de quase meia centena de pessoas naquela
praia em Israel. Sim, nos falta coragem para vestirmos o sapato dos outros.
Falta coragem aos rabinos, falta coragem aos mulás, falta coragem aos padres,
falta coragem aos pastores, falta coragem aos pais de santo e aos líderes
religiosos de todas as religiões e credos.
O Criador não distingue entre as suas criaturas. Não foi ele
quem criou as religiões. No Monte Sinal, a humanidade recebeu um Livro de Instruções, para uso e
benefício de todos os seres humanos. O Daat
(conhecimento) ali exposto foi selado,
porque a humanidade ainda não estava madura para a sua Revelação. Em 163 da Era Comum, Shimon Bar Yochai quebrou o selamento na obra Sefer Ha
Zohar. E, desde então, cabalistas judeus, cristãos e muçulmanos estão
ensinando aos outros seres humanos como conectar-se, como operar as energias
espirituais para a produção de transformações positivas na realidade tangível.
A Kabbalah não apenas nos aproxima
das forças superiores, como produz uma abertura mental enriquecedora que nos
traz sabedoria, altruísmo e paz interior.
Para criar uma nação, e mais tarde um estado, Moisés
transformou a Chochmá Nistará (Sabedoria
Secreta) em uma religião, chamada Judaísmo. Com o mesmo propósito, o Imperador Constantino
criou o Cristianismo. Com objetivo idêntico, Maomé criou o Islamismo. Muito
sangue já foi derramado por conta dessa busca de identidade cultural e desejo de
pertencimento ideológico. É chegada
a hora de o judaísmo, o cristianismo e o islamismo fazerem como faz o cabalista
Joseph Saltoun: parar de ver o outro
pela mira de um fuzil.
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