domingo, 22 de julho de 2018

Kisse Shel Eliahu (5)


Pela mira do fuzil


Em Netânya, enquanto ouvíamos os estouros de interceptação de mísseis lançados da Síria sobre Israel, ouvi, na presença de outras 42 pessoas (ah, os mistérios e segredos do 42...), alunos e alunas do Grupo Kadosh, na sala de reuniões do hotel, a mais linda, impactante e transformadora frase da minha vida.



Rabbi Joseph Saltoun, que foi soldado israelense na juventude, e que participou de duas guerras, disse:



“Eu tinha me acostumado a ver os palestinos pela mira do meu fuzil. Depois que me tornei cabalista, eu comecei a ver o fuzil pelo lado deles...”



Diz o Talmud que precisamos colocar os pés nos sapatos do outro, pois só então seremos capazes de sentir o outro. Sem essa alteridade, a compaixão não é possível.



Por que não fazemos nós mesmos essa ação?



Nesse momento em que todos os povos da Terra entrarão em grande turbulência, nesse momento em que a decisão do Knesset de Israel vai abalar as mentes e os corações, e vai colocar gasolina no incêndio de um novo antissemitismo, precisamos recordar que, em 1948, Israel não reclamou da criação do Estado da Palestina. Aceitou. Mas os ingleses vetaram a criação do outro estado, e permitiram somente a criação do Estado de Israel. Agora, Israel é um estado totalmente judaico, com o hebraico como língua oficial, com Jerusalém como sua capital indivisível.



Retornando à frase do Saulton. É preciso coragem para um judeu, e rabino, dizer o que ele disse diante de quase meia centena de pessoas naquela praia em Israel. Sim, nos falta coragem para vestirmos o sapato dos outros. Falta coragem aos rabinos, falta coragem aos mulás, falta coragem aos padres, falta coragem aos pastores, falta coragem aos pais de santo e aos líderes religiosos de todas as religiões e credos.



O Criador não distingue entre as suas criaturas. Não foi ele quem criou as religiões. No Monte Sinal, a humanidade recebeu um Livro de Instruções, para uso e benefício de todos os seres humanos. O Daat (conhecimento) ali exposto foi selado, porque a humanidade ainda não estava madura para a sua Revelação. Em 163 da Era Comum, Shimon Bar Yochai quebrou o selamento na obra Sefer Ha Zohar. E, desde então, cabalistas judeus, cristãos e muçulmanos estão ensinando aos outros seres humanos como conectar-se, como operar as energias espirituais para a produção de transformações positivas na realidade tangível. A Kabbalah não apenas nos aproxima das forças superiores, como produz uma abertura mental enriquecedora que nos traz sabedoria, altruísmo e paz interior.



Para criar uma nação, e mais tarde um estado, Moisés transformou a Chochmá Nistará (Sabedoria Secreta) em uma religião, chamada Judaísmo. Com o mesmo propósito, o Imperador Constantino criou o Cristianismo. Com objetivo idêntico, Maomé criou o Islamismo. Muito sangue já foi derramado por conta dessa busca de identidade cultural e desejo de pertencimento ideológico. É chegada a hora de o judaísmo, o cristianismo e o islamismo fazerem como faz o cabalista Joseph Saltoun: parar de ver o outro pela mira de um fuzil.


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