7. O que significa
dizer que o hábito se transforma numa segunda natureza?
Quando nos acostumamos com alguma coisa, essa coisa se nos
converte numa segunda natureza. Por isso, não existe nada que o homem possa
sentir como não sendo sua própria realidade. Isso quer dizer que, embora alguém
não tenha sensação alguma em determinada coisa, ainda assim poderá vir a
senti-la se se acostumar com ela.
É preciso entender que existe uma diferença entre o Criador e
as criaturas no que concerne às sensações. Para as criaturas existe “aquilo que
elas percebem” e “aquilo que é percebido”, ou, o que é a mesma coisa, aquele
que alcança e aquilo que foi alcançado. Isto significa que temos alguém que
sente e que está conectado com certa realidade.
Sem dúvida, uma realidade sem alguém que a perceba é o
Criador em si. Nele “não existe pensamento nem sensação alguma”. Isto não é
assim em relação a uma pessoa: sua existência como um todo existe somente por
meio da sua própria sensação de realidade. Inclusive, a validez da sensação de
realidade é comprovada apenas por aqueles que a percebem.
Noutras palavras, aquilo que o “perceptor” experimenta ou
sente é o que ele próprio considera verdadeiro. Se alguém experimenta algo
amargo em determinada circunstância, isto é, que se sente mal na situação em
que se encontra e se sofre por causa desse estado, então essa pessoa é
considerada malvada no que diz
respeito ao Trabalho, já que condena o Criador, pois Ele é chamado Bom e
Benfeitor porque doa somente bondade ao mundo. No entanto, ainda assim, com
respeito às sensações dessa pessoa, ela sente que recebeu o contrário, isto é,
que a situação em que ela se encontra é ruim.
Por isso devemos compreender o que disseram os nossos Sábios
(Talmud, Berachot 61): “O mundo foi
criado somente para os totalmente malvados ou para os totalmente justos”. Isto
quer dizer que alguém pode, já seja, provar e sentir o bom sabor do mundo, e
assim justificar o Criador e dizer que Deus doa somente bondade ao mundo, ou
provar e sentir o gosto amargo do mundo, e, então, ser malvado porque está
condenando o Criador.
Resulta que tudo é medido de acordo com a sensação da pessoa.
Não obstante, todas essas sensações não guardam relação alguma com o Criador,
tal como está escrito no “Poema da Unificação”: “Assim como ela é tu sempre
serás, nem escassez e nem excessos em ti haverá”.
Para concluir, todos os mundos e todas as mudanças de estado
existem somente no que diz respeito aos receptores, na exata medida em que a
pessoa os adquire.
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