quinta-feira, 30 de abril de 2020

Hitbonenut (1)




1


Introdução



O Rabi de Berditchev viu um homem que caminhava

 com pressa pela rua, sem olhar para a direta ou para a esquerda.

“Por que tens tanta pressa?”,  perguntou.   

“Vou atrás do meu sustento”, replicou o homem.

“E como sabes que o teu sustento corre na tua frente, de tal modo

 que tens que correr atrás dele? Talvez ele esteja atrás de ti

 e tudo o que precisas fazer é parar de correr…”.







Crise de Percepção



Fritjof Capra, em seu livro “O ponto de mutação”, afirma: “Nossa sociedade se encontra numa crise sem precedentes: podemos ler sobre as suas diversas manifestações todos os dias nos jornais, mas ela é, esencialmente, uma crise de percepção. Estamos tratando de aplicar conceitos de uma visão antiquada (mecanicista) a uma realidade que já não pode ser entendida nesses termos.”[1]



No começo, meditar pode ser uma tarefa árdua. O fato de se permanecer imóvel, com os olhos fechados durante um certo tempo, pode ser difícil. Manter a concentração prolongada requer um grande esforço. Os conflitos psicológicos não resolvidos tendem a emergir assim que a atenção se volta para dentro. Excitação e emoção se alternam com uma tranquilidade profunda. Nossos níveis de percepção estão insensibilizados e deformados e escapam do nosso autocontrole. É por ese motivo que o treinamento da mente e o intento de exercer um controle mais efetivo sobre nosso próprio autocontrole é uma tarefa tão complexa, mas vale a pena todo ese esforço.





Meditação e liberdade



O ego é uma série de pensamentos que definem o nosso Universo. É como uma casa construída de pensamentos. Através das suas janelas, podemos ver o Universo. Nessa casa, estamos seguros, mas, porque temos medo de sair dela, transforma-se numa prisão. O medo é a perda de identidade. Quando abandonamos os nossos pensamentos, temos a sensação de que estamos morrendo. No entanto, somos infinitamente mais que isso. Nosso ego, ao invés de ser uma prisão, pode ser uma base de lançamento para a libertação. Nesse sentido, a meditação é um êxtase, é um sair de si mesmo, e é um íntase, um sair para dentro de si mesmo.



A maioria das pessoas não podem escapar dessa visão encaixotada do ego, pois se identificam completamente com seus pensamentos. São incapazes de separar a percepção pura dos pensamentos que são seus objetos. A meditação liberta a percepção. O caminho da libertação passa pelo desapego dos velhos hábitos do ego. Ou seja, é preciso fluir para além dos limites do ego, até fundir-se com o Universo.





Meditar, para quê?



A meditação favorece o bem-estar psicológico e a sensibilidade perceptiva. Reduz a ansiedade, produz um incremento da autoconfiança e da autoestima, facilita a autorrealização e a lucidez, diminui o stress, os medos, as fobias e, também, os hábitos negativos e os vícios. Paralelamente, o meditador mais avançado identifica-se cada vez mais com o calmo observador ou testemunha de suas próprias experiências do que com as experiências em si. Também aumenta a sua compreensão intelectual e a sua criatividade. A meditação tem efeitos metabólicos significativos. Por outro lado, modifica os níveis hormonais e favorece a circulação sanguínea. No que diz respeito ao cérebro, experimentos científicos demonstraram ritmos cerebrais mais lentos e melhor sincronizados, com predomínio de ondas alfa (8-13 ciclos por segundo). Nos praticantes mais avançados as ondas podem chegar a theta (4-7 ciclos por segundo). Os meditadores demonstram um aumento das habilidades localizadas no hemisfério direito e também uma maior flexibilidade na translação de um lado para o outro do cerebro.



A meditação propicia um maior interesse pelas vivências mais subjetivas e uma abertura maior para experiências que estão fora da normalidade. Quem medita parece menos suscetível a perturbações psicológicas graves e se mostra mais aberto ao reconhecimento das suas próprias características pessoais desfavoráveis. Por isso, a meditação é terapêutica. Toda e qualquer mudança pessoal começa pelo reconhecimento dos próprios defeitos.





Acusações contra a meditação



Circula a acusação de que a meditação é o resultado de uma sintomatología narcisista. Outros afirmam que é uma atitude escapista ou egocêntrica, e que, o indivíduo, ao ir para dentro de si mesmo, simplesmente ignora os problemas reais do mundo “real”, problemas que estão “aí fora”. No entanto, é completamente o oposto disso. A meditação, longe de ser uma retirada narcisista ou um isolamento interno, é simplemente “a continuação natural do processo evolutivo”, quando uma nova interiorização nos leva ainda mais longe, em direção a uma maior amplitude de horizontes.



Maior evolução significa maior profundidade e maior autonomia relativa. Também implica maior interiorização e menor narcisismo. Quanto mais interiorizada é uma pessoa, se torna menos egocêntrica. Toda interiorização reverte numa maior percepção da realidade em sua totalidade.





Em que consiste a meditação?



Basicamente, existem duas categorías de meditação: uma é a da concentração (transe) e a outra é a da visão interior (intuição).



Na meditação de concentração colocamos o acento no  adestramento da mente, enfocando-a fixamente num objeto determinado. Pode ser um mantra, uma respiração, a chama de uma vela e etc.



A concentração é a unificaçao da mente, a unidirecionalidade do pensamento.



A corrente do pensamento é normalmente errática e dispersiva. O objetivo da concentração é enfocar o fluir dos pensamentos, fixando a mente num único objeto, no tema da meditação.


Finalmente penetramos o objeto e somos totalmente absorvidos por ele.



No começo, a unidirecionalidade é ocasional e esporádica. A mente oscila entre o objeto da meditação e os pensamentos, sentimentos e sensações que a distraem.



A meditação de concentração requer previamente uma purificação psicológica, a qual significa a poda de pensamentos que distraem nossa concentração. A pureza é a base psicológica da concentração.



A segunda categoria de meditação, a de visão interior, trabalha melhor com a vivência do presente. Não intenta apartar a mente do transcurso da experiência para enfocá-la sobre um só objeto e criar estados diferentes, senão que cultiva a atenção e a percepção do fluir que momento a momento vai configurando nossa vida.



A essência da atenção, segundo o monge budista Nyanaponika Thera, é “a percepção clara e exclusiva do que realmente acontece conozco e com o que acontece dentro de nós mesmos nos momentos sucessivos da percepção”.[2]







A iluminação



Quando se medita pode ocorrer a visão de uma luz brilhante, arrebatamento, paz, tranquilidade, devoção, vigor, felicidade, agudeza perceptiva, rápida e clara, lucidez, atenção intensa, equanimidade, apego a esses fenômenos e etc.



Esses acontecimentos detalhados aqui são marcos ao longo do  caminho e não do destino final, o que não significa que devamos ignorá-los e que não devamos nos deter neles. A meditação como caminho na busca da iluminação pessoal transcende todas as categorias de emoções e sensações.



A partir daqui torna-se difícil explicar racionalmente as experiências místicas, sem confundi-las ou diminui-las, apenas podemos descrevê-las beirando o poético e o intuitivo. Por fim, o caminho de comprensão da meditação é a própria experiência sensível.



Existem muitas técnicas de meditação. Cada pessoa deve encontrar aquela em que se sente mais confortável. Algumas são mais complexas que outras. Também existem aquelas que não levam a resultado algum. O importante é começar pelo básico, aprender a relaxar, a colocar-se em posturas corretas, aprender a concentrar-se, a respirar adequadamente, a purificar-se de pensamentos e emoções negativas, a desenvolver a capacidade de atenção e de auto-observação, e a não claudicar nessa grande empresa interior.



O objetivo prático da meditação é parar de pensar e abandonar a dispersão. Isso é assim porque o pensamento requer sempre a polaridade, enquanto que a meditação, em seu sentido correto, é a superação da polaridade e da dispersão. A superação se dá através da trascendência e da unificação.



A intuição é uma forma de percepção pura, sem dispersão e que conduz a um absoluto (Dvekut, Ruach Hakodesh, Samádhi, Nirvana  etc.). A mente se alimenta da dispersão, da fragmentação e da separação. Isso é a consequência de estarmos imersos num mundo de tempo e de espaço, mas não devemos esquecer a dimensão do sagrado, que é a Unidade.





Benefícios fisiológicos da meditação



Os efeitos gerais da meditação são, no plano físico, reforço do sistema imunológico, harmonização e sincronização das funções orgánicas, homeostase corpo-mente, sedação neurológica, estabilização da tensão arterial, incremento da vitalidade, da agilidade, da flexibilidade, aperfeiçoamento da postura corporal, estabilização dos batimentos cardíacos, melhora do sono, maior longevidade, melhor peristaltismo intestinal e, por consequência, diminuição de constipação.



A meditação também produz mudanças nos padrões das ondas mentais, chegando-se a ritmos alfa. Produz dimimuição do índice metabólico, dimunuição do consumo de oxigênio em cerca de vinte por cento e liberação de dióxido de carbono. Produz, também, mudanças no ritmo cardíaco em até trinta por cento.



A meditação produz um estado de relaxamento profundo, que diminui a ansiedade e as perturbações emocionais. Diminui a pressão sanguínea e elimina problemas de insônia.





Espectro das ondas cerebrais



Onda
Frequência
Características
Beta
13 a 28
Mente funcionando ativamente com os 5 sentidos (tensão)
Alfa
8 a 13
Sensação de relaxamento, bem-estar e paz interior
Theta
4 a 7
Estados de ânimo criativos e resolução de problemas (sono)
Delta
2 a 4
Sono profundo





Contam-se às centenas os estudos realizados em inúmeras universidades ao redor do mundo sobre os efeitos fisiológicos, psicológicos e sociológicos da meditação. E todos esses estudos mostram resultados positivos. Esses efeitos produzem uma menor necessidade de atenção médica ambulatória, uma maior longevidade, uma menor incidência de doenças em geral, além de melhorias em doenças cardivasculares, redução de quedas físicas e grande redução de gastos em saúde pública.





Benefícios emocionais e mentais



No plano emocional, a meditação produz equilibrio e serenidade, bom humor, coragem, tolerancia e paz interior, autoconfiança, satisfação, paciencia, simplicidade e estabilidade.



No plano mental, a meditação aumenta a capacidade de atenção e concentração, a memória, a comunicação e a inteligência.





Benefícios no comportamento social



A meditação aumenta a autoestima, melhora o rendimento laboral, diminui os conflitos no trabalho, melhora as relações familiares e diminui os índices de acidentes em geral.



A consciência transcendental é o nível fundamental da existência, é um campo de criatividade infinito, é o campo unificado de todas as leis da natureza. Ao melhorarmos o nível básico da existencia, melhoramos todos os aspectos da vida.





Benefícios espirituais



No plano espiritual, a meditação incrementa a consciência de unidade, aumenta a ação compassiva, a intuição, o poder de resolução e realização, aumenta os limites pessoais e amplia a libertade interior.



[1] O ponto de mutação. Fritjof Capra, Cultrix: São Paulo, 1986. .

[2] Nyanatiloka, Mahathera (Antom Gueth, 1878 - 1957), El Camino de la Atención: El Corazón de la Meditacion budista”.


Nenhum comentário:

Shamati (127)

    127. A diferença entre o núcleo central, a essência e a abundância agregada ( Su cot Inter 4, Tav - Shin - Guimel , 30 de setembro d...