4. Para compreender essas
perguntas e questionamentos, é preciso começar pelo fim, ou seja, observando o
propósito da Criação. Pois nada pode ser entendido na metade do processo,
apenas no final.
Esse critério é essencial. Se desejamos compreender alguma coisa
precisamos ter certeza do seu desfecho final. Entretanto, como podemos saber
isso? No nosso mundo, nós não sabemos nada de antemão. Poderíamos nos
prejudicar se soubéssemos, primeiro, os resultados? Como poderíamos fazer
qualquer coisa sem premeditar algum benefício?
O nosso problema é que nunca sabemos previamente o fim de nada. A
única coisa que sabemos nesse nosso pequeno mundo animal é aconselhar nossos
filhos: "Faça isso, não faça aquilo". Entretanto, eles não nos ouvem.
Na nossa vida, não conseguimos enxergar o final do próximo nível, nem suas
consequências. Geralmente agimos sem ouvir os outros, e nossos filhos também
não nos ouvem, embora saibamos justamente a resposta certa. Além disso, a
humanidade toda faz exatamente a mesma coisa.
Como é possível concordar com esse pensamento do Baal Ha Sulam: “Para
compreender essas perguntas e questionamentos, é preciso começar pelo fim da
ação, isto é, o propósito da criação”. O propósito é o resultado pelo qual a
Criação foi criada.
Pois nada pode ser compreendido na
metade do processo, apenas no final.
Isso é verdade. O Criador olha para nós do “extremo fim da Criação”
e não do seu início.
Ele concebe tudo em relação a nós e nos leva para perto Dele. Essa
é uma estratégia perfeita. Somos incapazes de fazer isso em nosso mundo. Seria
maravilhoso se soubéssemos com antecedência os resultados do que fazemos agora
e, a partir disso, pudéssemos corrigir ou melhorar. Mas como podemos alcançar
isso?
O Estudo das Dez Sefirot descreve esse processo da
seguinte forma: Nosso avanço espiritual depende de uma condição chamada
"Olamcha Tireh be Hayecha" (literalmente: “Tu verás teu Mundo durante
a tua vida”).
Está escrito “verás”, não “receberás”. Mesmo neste nível, a pessoa
pode ver o Mundo Vindouro (seu estado futuro) à distância. Quando isso
acontece, ela pode justificar seu caminho, receber energia, compreensão e força
para elevar-se acima dos seus desejos egoístas, adquirir o “desejo de doar” e
trabalhar na sua correção.
“Prever o propósito da Criação” e planejar suas ações e seus
passos, a partir desse nível, é uma condição obrigatória. Sem isso, nunca
faremos qualquer ação correta e nossa vida espiritual será exatamente igual à
nossa vida neste mundo. E a vida espiritual não tolera esse tipo de coisa.
Cada vez que se está em uma posição inicial, a pessoa é obrigada a
ascender ao próximo estado “mais um”, ao próximo nível. Eu não tenho nem ideia
de como fazer isso e também não sei qual será minha condição em relação a esse
nível. Eu preciso vê-lo com antecedência (1) e, depois disso, decidir quais
serão minhas ações (2). Somente assim posso trabalhar nisso (3). Esse é o único
modo de fazer as coisas certas.
Se começo a agir sem conhecer o meu próximo estado, essas ações
sempre serão falaciosas, pois no nível em que me encontro agora, com meu
raciocínio e conhecimento, eu não consigo nem imaginar o que existe no próximo
nível, pois ele está acima do meu nível atual. No início, tudo o que possuo
dentro de mim é oposto a esse nível porque, aqui, eu sou um grande egoísta. Lá
eu serei um grande altruísta, mas eu não desejo isso de forma alguma.
Com base nos pré-requisitos, princípios e desejos que possuo em
mim, eu sou incapaz de imaginar meu futuro. Ele é tão oposto a mim que é
impossível até imaginar como é estar lá. Minha natureza não me permite fazer
isso. Entretanto, mesmo se permitisse, eu não o desejaria, eu me distanciaria
disso.
É por isso que, de alguma forma, é preciso enxergar o próximo
nível. É preciso compreendê-lo e aceitá-lo dentro de mim. Eu devo pedir ao
Criador que Ele me ajude de Cima, que me dê Ohr
Makif a fim de que, na minha terceira ação, eu possa ascender a um nível
mais alto.
Se fizer isso, eu avançarei nos Mundos Espirituais da mesma forma
que faço em nosso mundo: Falhando o tempo todo nas minhas tentativas. Cada
próximo passo meu deve ser menos efetivo que o anterior. Ao invés de ascender,
eu caio cada vez mais. Portanto, Baal Ha Sulam escreve:
Deve-se começar pelo fim, ou seja,
observando o propósito da Criação. Pois nada pode ser entendido na metade do
processo, apenas na sua conclusão. Além disso, está claro que não há ação sem
um propósito, pois só os loucos agem despropositadamente.
As pessoas sempre agem por algum motivo, então se eu desejo
avançar espiritualmente, esse deve ser o meu motivador. Eu preciso adquirir uma
nova força, um novo modo de pensar, além de novas propriedades, que ainda não
possuo. Sou incapaz de avançar com as minhas propriedades atuais.
Eu sei que existem "sabichões" que desdenham o método da
Cabalá (pois acham que conhecem métodos melhores) dizendo que o Criador criou a
realidade, mas depois a deixou à mercê do destino, e que devido à mesquinhez das criaturas não seria adequado ao elevado
Criador cuidar das suas vidinhas insignificantes. Tivesse o Criador nos
abandonado aqui, nós nunca seríamos capazes de ascender ao próximo nível. Por
quê?
De fato, eles falam sem
conhecimento, pois não é possível comentar sobre nossa insignificância e
baixeza sem antes considerarmos que nos desenvolvemos com toda a nossa natureza
maculada. Mas enquanto consideramos que o Criador, que é perfeito em cada
aspecto, foi quem criou e desenhou nossos corpos (propriedades), com todos os
seus atributos admiráveis e desprezíveis, certamente que da mão de um
trabalhador perfeito não pode surgir um ato imperfeito, já que cada ato
certifica quem o faz. Que culpa tem uma vestimenta ruim se foi um mau
costureiro que a fez?
É claro que a culpa é do costureiro. Se temos propriedades más,
fica claro para nós que a culpa é do Criador. Aqui, Baal Ha Sulam nos apresenta
uma parábola do Talmud (Ta'anit 20).
Essa é uma história do Rabi
Elazar, filho do Rabi Shimon, que esteve diante do mais feio dos homens…
Rabi Shimon escreveu O Livro
do Zohar. Seu filho estava em um nível acima do de Rabi Shimon. Ao alcançar
o nível do seu pai, ele encontrou em si mesmo um nível ainda mais baixo e ainda
mais feio do que todos os que já havia encontrado. Ele era tão feio que não
pôde evitar de dizer (de si mesmo): "Tu
é muito feio!" E o homem respondeu: "Vá e diga ao meu fazedor: 'que
feio é esse instrumento que fizeste'".
Se tu tens alguma rixa com qualquer uma das tuas propriedades,
volta-te ao Criador. Ele é Quem as criou e é Ele quem pode corrigi-las.
Dessa forma, aqueles que dizem que
pela nossa insignificância e baixeza não é adequado que Ele cuide de nós e, por
isso, ele nos abandonou, nada mais fazem além de demonstrar publicamente a sua
ignorância. Tente imaginar: Você conheceu alguém que criou criaturas apenas
para que elas sofressem e agonizassem por toda a sua vida, como ocorre conosco.
E não bastasse isso, ele ainda dá as costas a elas, sem nem querer cuidar delas
ou ajudá-las um pouco. Quão desprezível e baixo você pensaria que ele é? Pode
uma coisa dessas ser dita sobre Ele?
O paradoxo que temos aqui permanece um paradoxo.
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