quinta-feira, 18 de junho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (59)




16. Mas o que está dito acima não deve nos fazer concluir que não temos livre arbítrio por sermos compelidos à chegar ao terceiro estado, pois ele tem sua raiz no primeiro.



Parece-nos lógico que se o primeiro, o segundo e o terceiro estado existem, podemos questionar “Onde está nosso livre arbítrio?”, ou “Somos apenas marionetes 'vagando' do primeiro estado ao terceiro sem nem questionar sobre isso?” Não! Nós temos livre arbítrio. Mas então como ele se manifesta?



A questão é que o Criador preparou para nós dois caminhos no segundo estado.



Isso significa que há dois caminhos pelos quais proceder a partir do primeiro estado para chegar ao segundo: um curto e um longo.



1.    O Caminho da Torá e Mandamentos



Um Mandamento (Mitzva) é um ato cuja intenção é corrigir um desejo. Quando corrigimos determinado desejo egoísta, o ato próprio de correção é a Mitzva. Em outras palavras, o ato de correção é o que o Criador comandou: Corrigir o uso egoísta de um desejo para altruísta.



A Luz faz isso. A Luz é a “Torá” (da palavra hebraica “Ohr” - Luz). Há muitos tipos de Luzes, tais como a Luz Chassadim (Misericórdia), a Luz Hochmá (Sabedoria), a Luz AB SAG, a Luz que desce, a que sobe, a Luz Circundante e a Luz NaRaNHaY. Entretanto, a Torá é a Luz Geral que desce de Cima.



Aprendemos que a correção é realizada pelo Caminho da Torá e Mitzvot (ações influenciadas pela Luz). Esse caminho é chamado de Caminho da Torá ou Caminho da Luz.



2.  O Caminho do Sofrimento



O sofrimento refina o corpo e, por fim, nos compele a transformar nosso desejo de receber (egoísta) em desejo de doar e de fundir-se com o Criador. Nossos sábios disseram: “Se te arrependes (ou seja, se segues o Caminho da Torá), então tudo bem, mas se não, colocarei sobre ti um rei terrível, e ele te fará arrepender-te” (aludindo ao Faraó).



Em outras palavras, sofrimentos terríveis nos levarão a compreender, apesar de tudo, que só progredimos espiritualmente. A mera evolução da tecnologia, ética ou qualquer outro campo acabará por nos degradar cada vez mais a cada geração.



Está escrito: “Por bem ou por mal. Se tiveres mérito, te apressarei (te levarei ao terceiro estado), caso contrário, o farás pela dor e sofrimentos”. Isso significa que ao observar a Torá e os Mandamentos, apressamos a nossa correção e, assim, não precisamos que uma agonia extrema e um tempo prolongado nos levem à correção (com a ajuda da Luz, através da Torá e dos Mandamentos). Se não for pelo Caminho da Torá e dos Mandamentos, nossa correção se completará de qualquer modo pelo Caminho do Sofrimento, que será lançado sobre nós. O Caminho do Sofrimento inclui as punições das almas no Inferno.



O que é, de fato, o “Inferno”? Em uma palavra, o Inferno é o sentimento de absoluta baixeza, insignificância e pequenez dos atributos egoístas em comparação com a Luz Superior e a Perfeição. É a diferença entre o Altíssimo e eu. Esse é o contraste entre as sensações egoístas e as sublimes sensações altruístas. O Inferno é um abismo infinito e terrível que é sentido entre esses dois estados.



De qualquer forma, o Fim da Correção (isto é, o terceiro estado) é uma obrigação a todos nós e é determinado pelo primeiro estado. Nossa escolha recai somente entre o Caminho do Sofrimento e o Caminho da Torá e dos Mandamentos.



Assim, clarificamos como os três estados das almas estão conectados um ao outro e necessitam da existência um do outro.



Não é totalmente correto dizer que existem apenas dois caminhos, a saber, o Caminho da Torá e o Caminho do Sofrimento. Na verdade, é impossível ser corrigido pelo caminho do sofrimento. Somente a Luz corrige. Aprendemos isso nas quatro fases da Luz Direta: A Luz gera o desejo de receber, isto é, Behina Aleph, e então ela desperta o desejo de doar em Behina Aleph, o que produz o Behina Bet. Depois disso, a Luz continua a agir no desejo de doar do Behina Bet e cria o Behina Gimel, depois o Behina Dalet e assim por diante.



A Luz afeta as Reshimot em todos os Mundos. Ela eleva e rebaixa, corrige e evolui. Portanto, é impossível ser corrigido pelo sofrimento. A única coisa que se pode alcançar pela dor é a percepção da necessidade de correção. Tanto podemos sofrer quanto despertar rapidamente (antes que desgraças piores recaiam sobre nós) e, através dos estudos e de um grupo, nos expor à influência da Luz Circundante.



Devemos recuperar nossa visão antes de penetrar a verdadeira angústia, pois, no fim, ainda teremos que voltar ao ponto de partida. Podemos tanto ser inteligentes e fazer o que devemos fazer quanto esperar até que os sofrimentos nos levem a fazer o mesmo. Não há outra saída. Portanto, nosso livre arbítrio reside em estarmos atentos e aproveitar as oportunidades que nos são dadas.



Essa é a nossa única escolha. Precisamos perceber rapidamente o que devemos fazer e, nesse caso, nosso trajeto será tranquilo, confortável e calmo. Nós saberemos e ansiaremos a tudo o que nos aguarda. Assim, e de forma constante, cada vez mais receberemos coisas boas, teremos sentimentos agradáveis, e atrairemos a Luz Circundante sobre nós.



Em geral, nos enganamos na interpretação do conceito de livre arbítrio. O percebemos como a habilidade de fazer as coisas livremente. Contudo, nada é livre! Recebemos um desejo com o qual trabalhar, e podemos fazê-lo tanto da forma correta quanto da errada.



Meus desejos são pré-instalados em mim e posso utilizá-los da mesma forma como se encontram: corrompidos. Isso significa que eu não os inspeciono visando o Propósito da Criação sem, antes, verificar o que eu devo fazer com eles, o que o Criador quer de mim. Essa condição é chamada de “Viver neste mundo”. Em outras palavras: Eu escolho um caminho lento e doloroso.



Entretanto, existe outro caminho. Eu posso examinar meus desejos, compará-los com o futuro, com meu estado corrigido, saber que forma eles devem assumir e, dessa forma, tentar atrair a Luz Circundante. Essa Luz corrigirá e igualará meus desejos ao Criador para que eu possa senti-Lo.



Essa é a diferença entre uma existência sem sentido nos desejos deste mundo, abaixo da Machsom, e uma existência em contato com o Mundo Superior, desejando-o e igualando meus desejos com os do Mundo Superior. Essa é a manifestação do nosso livre arbítrio.




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