18. Isso resolve nosso quinto questionamento,
que é: Como pode que do Eterno (do Criadoro) possam derivar
ações transitórias e supérfluas (concretas, discretas e de alcance
limitado)?
Como algo transitório, limitado, baixo e falho pode derivar de algo
eterno? Não conseguimos compreender totalmente essas questões porque não
sentimos a eternidade de forma alguma. Essa é a medida do quão oposta é a nossa
condição.
Entretanto, a dificuldade permanece. Somente compreenderemos o que
Baal HaSulam está dizendo quando a eternidade começar a brilhar sobre nós,
vinda de Cima. Isso acontecerá pouco a pouco, na medida em que recebermos a Luz
Circundante que cria o universo completo e perfeito ao nosso redor, e que gera
essa imagem em nosso olho mental. Só então começaremos a compreender essa
contradição: como a impecável eternidade e perfeição, isenta de qualquer traço
limitador, contraste, ou oposição, e na qual todos os pontos são perfeitos,
eternos e contínuos, pode vir de uma fonte onde ações e estados são efêmeros,
passageiros e baixos.
Compreendemos que, de fato, estamos em um estado merecedor da Sua
Eternidade, ou seja, que mesmo agora somos seres eternos e perfeitos.
A única coisa
que nos impede de sentir a eternidade é a casca que nos encobre, que é a nossa
intenção egoísta impura. Somos como um campo magnético que reflete tudo o que
projetamos para fora. Quando pararmos de fluir para dentro e conseguirmos
inverter a corrente para fora, no mesmo instante sentiremos a eternidade e a
perfeição na qual de fato estamos. Precisamos apenas neutralizar a casca.
Nossa eternidade precisa que a casca egoísta
do corpo nos seja dada apenas para um trabalho transitório e supérfluo (a fim de transformá-lo em altruísmo e
expandi-lo de um ponto a um círculo, ou seja, ao nível do Criador), pois se ele tivesse permanecido eterno,
nós continuaríamos separados da Árvore das Vidas por toda a eternidade.
Como foi dito no item 13, a forma do nosso
corpo, que é o desejo de receber só para si mesmo (com a intenção do nosso próprio prazer), não se encontra presente no Pensamento da
Criação, pois lá somos formados no terceiro estado (como ponto de partida), mas que (para nós) só aparece no segundo estado (para que possamos adquiri-lo por nós
mesmos no terceiro estado).
Isso não deve ser considerado um paradoxo ou algo antinatural.
Estamos, de fato, no terceiro estado, existimos no segundo apenas nas nossas
sensações subjetivas para que as corrijamos e que correspondam à verdadeira
realidade.
Não devemos ponderar (não há questionamento) sobre o estado dos outros seres do mundo (eles não nos afetam), já que o homem é o centro da Criação.
Achamos que o homem não pode ser o centro da Criação, pois estamos
perdidos, mesmo nesse planeta. Vivemos em uma fina camada do planeta, ajustada
a um vulcão oscilante, fumegante e em erupção. Estamos em um Universo
gigantesco, dependendo de uma pequena estrela chamada "Sol".
Se nos compararmos no que diz respeito à natureza dos minerais ou
vegetais, tão abundantes, sem dúvida parecerá que somos uma pequena minoria
insignificante. O mesmo pode ser dito em relação à natureza animal, que é
milhares de vezes mais numerosa.
Se existimos nesse planeta como animais, totalmente desconectados e
afastados do Mundo Superior e sem aceitar sobre nós o propósito da Criação,
naturalmente nos tornamos minúsculas frações no espaço e neste mundo. Mas se
passamos a adquirir os atributos do Mundo Superior, nos tornamos senhores do
universo. Durante o processo de ascensão ao Mundo Superior, começamos a
absorvê-lo em nós mesmos até o ponto do Infinito.
Ocorre que sem a conexão com o Mundo Superior realmente somos
insignificantes. E, na verdade, essa é a nossa força. Na medida em que
adquirimos essas Forças Superiores, que são a Luz que controla, cria, sustenta
e a tudo preenche, e na medida em que nos apropriamos dessa Luz, nos elevaremos
a um nível mais alto que toda a natureza.
Não devemos ponderar sobre o estado dos outros
seres do mundo, já que o homem (aquele que recebe o Mundo Superior) é o centro da Criação.
Todas as outras criações (mineral, vegetal e animal) não têm valor em si mesmas, mas sim no
quanto elas podem direcionar a humanidade à sua completude. Todas elas
dependem de nós, do quanto somos capazes de atraí-las para nós com o objetivo
da nossa ascensão.
Ao iniciar a ascensão espiritual, a pessoa descobre uma incrível
interdependência em que cada traço interior seu não é, de fato, seu, mas sim o
reflexo de uma natureza externa. Minha natureza animal contém toda a natureza
que está ao meu redor. Meu degrau vegetal é mais interno, ou seja, é um reflexo
mais elevado de toda a natureza vegetal. Meus desejos minerais são um reflexo
mais elevado de todo o Universo, de toda a natureza mineral.
Uma vez descoberta tal interdependência, eu passo a utilizar a
natureza através da percepção que tenho dela e, por consequência, compreendo
sua linguagem e sensações. Essa é a razão por que dizem que os cabalistas compreendem
a linguagem dos pássaros e animais, e sentem e compreendem tudo à sua volta.
Depois, enquanto subimos aos Mundos Superiores, descobrimos dentro de
nós toda a natureza que nos circunda nas nossas novas qualidades. E nossos
vasos internos, nossa percepção do mundo ao redor, se tornam incompletos. Como
resultado, somos separados e desligados do nosso entorno.
A ausência da tela, que produz a segunda restrição, cria uma divisão
entre os mundos interiores e os mundos exteriores. As partes do Partzuf foram
criadas partindo da mais interna até a mais externa.
Assim que a tela geral e definitiva é criada, tudo se junta em uma
estrutura de Dez Sefirot, e todo o nosso mundo estará contido em todos e cada
um de nós. Então, nos uniremos em uma alma única, nos tornando Adão, o único
Adão (Adam HaRishon), que abrange tudo dentro de si.
Portanto, não precisamos perguntar sobre o restante da natureza, pois
ela depende unicamente de nós mesmos. Assim, descobrimos o quão mal a
influenciamos. À medida que nos corrigirmos espiritualmente, descobriremos
mudanças positivas incríveis na natureza ao nosso redor. Não precisaremos de
qualquer engenharia genética para sermos capazes de nos sustentar. A natureza,
por si mesma, criará em nós tudo o que precisarmos.
Mas continuemos a estudar "A Introdução ao Livro do Zohar",
do qual já examinamos atentamente os três primeiros pontos. Aqui, Baal HaSulam
aborda a quarta questão.
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