terça-feira, 23 de junho de 2020

Introdução ao Livro do Zohar (61)




18. Isso resolve nosso quinto questionamento, que é: Como pode que do Eterno (do Criadoro) possam derivar ações transitórias e supérfluas (concretas, discretas e de alcance limitado)?



Como algo transitório, limitado, baixo e falho pode derivar de algo eterno? Não conseguimos compreender totalmente essas questões porque não sentimos a eternidade de forma alguma. Essa é a medida do quão oposta é a nossa condição.



Entretanto, a dificuldade permanece. Somente compreenderemos o que Baal HaSulam está dizendo quando a eternidade começar a brilhar sobre nós, vinda de Cima. Isso acontecerá pouco a pouco, na medida em que recebermos a Luz Circundante que cria o universo completo e perfeito ao nosso redor, e que gera essa imagem em nosso olho mental. Só então começaremos a compreender essa contradição: como a impecável eternidade e perfeição, isenta de qualquer traço limitador, contraste, ou oposição, e na qual todos os pontos são perfeitos, eternos e contínuos, pode vir de uma fonte onde ações e estados são efêmeros, passageiros e baixos.



Compreendemos que, de fato, estamos em um estado merecedor da Sua Eternidade, ou seja, que mesmo agora somos seres eternos e perfeitos.



A única coisa que nos impede de sentir a eternidade é a casca que nos encobre, que é a nossa intenção egoísta impura. Somos como um campo magnético que reflete tudo o que projetamos para fora. Quando pararmos de fluir para dentro e conseguirmos inverter a corrente para fora, no mesmo instante sentiremos a eternidade e a perfeição na qual de fato estamos. Precisamos apenas neutralizar a casca.



Nossa eternidade precisa que a casca egoísta do corpo nos seja dada apenas para um trabalho transitório e supérfluo (a fim de transformá-lo em altruísmo e expandi-lo de um ponto a um círculo, ou seja, ao nível do Criador), pois se ele tivesse permanecido eterno, nós continuaríamos separados da Árvore das Vidas por toda a eternidade.



Como foi dito no item 13, a forma do nosso corpo, que é o desejo de receber só para si mesmo (com a intenção do nosso próprio prazer), não se encontra presente no Pensamento da Criação, pois lá somos formados no terceiro estado (como ponto de partida), mas que (para nós) só aparece no segundo estado (para que possamos adquiri-lo por nós mesmos no terceiro estado).



Isso não deve ser considerado um paradoxo ou algo antinatural. Estamos, de fato, no terceiro estado, existimos no segundo apenas nas nossas sensações subjetivas para que as corrijamos e que correspondam à verdadeira realidade.



Não devemos ponderar (não há questionamento) sobre o estado dos outros seres do mundo (eles não nos afetam), já que o homem é o centro da Criação.



Achamos que o homem não pode ser o centro da Criação, pois estamos perdidos, mesmo nesse planeta. Vivemos em uma fina camada do planeta, ajustada a um vulcão oscilante, fumegante e em erupção. Estamos em um Universo gigantesco, dependendo de uma pequena estrela chamada "Sol".



Se nos compararmos no que diz respeito à natureza dos minerais ou vegetais, tão abundantes, sem dúvida parecerá que somos uma pequena minoria insignificante. O mesmo pode ser dito em relação à natureza animal, que é milhares de vezes mais numerosa.



Se existimos nesse planeta como animais, totalmente desconectados e afastados do Mundo Superior e sem aceitar sobre nós o propósito da Criação, naturalmente nos tornamos minúsculas frações no espaço e neste mundo. Mas se passamos a adquirir os atributos do Mundo Superior, nos tornamos senhores do universo. Durante o processo de ascensão ao Mundo Superior, começamos a absorvê-lo em nós mesmos até o ponto do Infinito.



Ocorre que sem a conexão com o Mundo Superior realmente somos insignificantes. E, na verdade, essa é a nossa força. Na medida em que adquirimos essas Forças Superiores, que são a Luz que controla, cria, sustenta e a tudo preenche, e na medida em que nos apropriamos dessa Luz, nos elevaremos a um nível mais alto que toda a natureza.



Não devemos ponderar sobre o estado dos outros seres do mundo, já que o homem (aquele que recebe o Mundo Superior) é o centro da Criação.



Todas as outras criações (mineral, vegetal e animal) não têm valor em si mesmas, mas sim no quanto elas podem direcionar a humanidade à sua completude. Todas elas dependem de nós, do quanto somos capazes de atraí-las para nós com o objetivo da nossa ascensão.



Ao iniciar a ascensão espiritual, a pessoa descobre uma incrível interdependência em que cada traço interior seu não é, de fato, seu, mas sim o reflexo de uma natureza externa. Minha natureza animal contém toda a natureza que está ao meu redor. Meu degrau vegetal é mais interno, ou seja, é um reflexo mais elevado de toda a natureza vegetal. Meus desejos minerais são um reflexo mais elevado de todo o Universo, de toda a natureza mineral.



Uma vez descoberta tal interdependência, eu passo a utilizar a natureza através da percepção que tenho dela e, por consequência, compreendo sua linguagem e sensações. Essa é a razão por que dizem que os cabalistas compreendem a linguagem dos pássaros e animais, e sentem e compreendem tudo à sua volta.



Depois, enquanto subimos aos Mundos Superiores, descobrimos dentro de nós toda a natureza que nos circunda nas nossas novas qualidades. E nossos vasos internos, nossa percepção do mundo ao redor, se tornam incompletos. Como resultado, somos separados e desligados do nosso entorno.



A ausência da tela, que produz a segunda restrição, cria uma divisão entre os mundos interiores e os mundos exteriores. As partes do Partzuf foram criadas partindo da mais interna até a mais externa.



Assim que a tela geral e definitiva é criada, tudo se junta em uma estrutura de Dez Sefirot, e todo o nosso mundo estará contido em todos e cada um de nós. Então, nos uniremos em uma alma única, nos tornando Adão, o único Adão (Adam HaRishon), que abrange tudo dentro de si.



Portanto, não precisamos perguntar sobre o restante da natureza, pois ela depende unicamente de nós mesmos. Assim, descobrimos o quão mal a influenciamos. À medida que nos corrigirmos espiritualmente, descobriremos mudanças positivas incríveis na natureza ao nosso redor. Não precisaremos de qualquer engenharia genética para sermos capazes de nos sustentar. A natureza, por si mesma, criará em nós tudo o que precisarmos.



Mas continuemos a estudar "A Introdução ao Livro do Zohar", do qual já examinamos atentamente os três primeiros pontos. Aqui, Baal HaSulam aborda a quarta questão.

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